Você está na página 1de 198

Apoio Pòs-Ut/CAPES/PRPq/PROEX/FALE/UFMG/Fapemig

Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração - CBMM


TRUIIERS A
trupe de tradução de teatro antigo
apresenta

Μ ΕΔΕΙΑ
de

ευιατΐΐδες
D IR E Ç Ã O E C O O R D EN A Ç Ã O G ER A L
T E R E Z A V IR G ÍN IA R IB E IR O B A R B O SA

/E
Ateliê Editorial
C o p y r ig h t © 2 0 1 3 b y T e re z a V ir g ín ia R i b e i r o B a r h o s a ( t r a d u ç ã o )

Direitos reservados e protegidos pela Lei tj.âro de 19 de fevereiro de 1998. É proi


bida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (c i p )


(Câmara Brasileira do Livro. SB, Brasil)
Euripides
M ê d e ia /de Euripides; direção e coordenação
geral Tereza Virgínia Ribeiro; tradução Trupersa
(Trupe de tradução de teatro antigo), -
São Paulo: Ateliê Editorial, 2013.

ISBN 978-85-74*0-658-7
Título original: Medeia.
Bibliografia.

1. íeatro grego I, Barbosa, Tereza Virgínia


Ribeiro,

13-0 76 8 8 C D D -882,01 *1

índices para catálogo sistemático:


1. Teatro: Literatura grega antiga 88z.cn

Direitos reservados à
Atbliê E d i t o r i a l
Estrada da Aldeia de Carapicuíba, 897
06709-300 - Granja Viana - Cotia - SP
Telefax; (11) 4612-9666
www.atelie.cotn.br / contato@atelie.coni,br

2013

Printed in Brazil
Foi feito 0 depósito legal
S UM A R I O

Medeia da T ru p ersa : U m a E x p e riên cia de T ra d u çã o em C e n a -


Olimar Flores-Júnior............................................................. 7

P refá c io .........................................................................................Ί3

M e d e i a ..................................................................................................... 41

R ad io n ov ela B asead a n a Argonáutica d e A p o lô n io d e R o d es e


na Medeia d e E u r i p i d e s ...................... i 5S
A m o r, A b ism a d o A m o r ......................................................... 155

Capítulo 1 ......................................................................... !5õ


Capítulo 2..............................................................................*05
Capítulo 3 .................................................................... · 173
Capítulo ........................................................................... t83

F icha T écn ica d e M e d e i a ..........................................................

B ib lio g ra fia . 195


M E D E I A DA T R U P E R S A : UMA
E X P E R I Ê N C I A DE T R A D U Ç Ã O
EM CENA

O lim a r F lo res-Jú n io r
Faculdade de Letras
Universidade Federal de Minas Gerais

O mito é bem conhecido; M edeia é a m ulher que, hábil em m a­


gia e encantos, mas sucumbindo ela mesma ao encanto da paixão,
com ete em seu nom e uma série de atrocidades - dentre elas o fratri-
cídio - para acom panhar o amado em uma terra estrangeira; mais
tarde, traída e forçada ao exílio em vista da conveniência e das a m ­
bições do marido, mata os próprios filhos para purgar no sofrim ento
deste hom em que é o pai das crianças o ultraje da rejeição e a dor do
abandono. Todavia a tragédia de Euripides, com o aliás toda tragé­
dia, dá à m onstruosidade dos crim es perpetrados em seu entrecho
uma outra dimensão, na medida em que recupera neles o resultado
do jogo com plexo das forças que subjugam o homem, cada homem
e cada m ulher, no curso de sua existência; são forças que, conquanto
possam ser obra de um deus, parecem nascer do hom em , im previ­
síveis, imponderáveis e insidiosas, e que o hom em só controla - se
é que ele as controla - ao preço do próprio dilaceram ento, que não
raro coloca em perspectiva a hierarquia dos valores. Assim, face ao
drama do herói dilacerado - no caso, uma heroína o espectador
se surpreende a si mesmo dilacerado e, preso na tensão entre terror
e piedade (com o já observava Aristóteles), frui o impasse do ju lg a­

7
s MEDE) A

mento; se a tragédia em seu efeito próprio depende inteiram ente


da consciência de uma ficção plantada na mais profunda realidade
da n ostra res cigitur (segundo o calque latino lembrado por Albin
Lesky), ela então, de alguma maneira, nos acusa e nos designa, a nós
que estamos instalados na distancia da platéia, com o cúmplices e
juizes do crime que ela põe em cena,
Mas debruçar-se sobre as contingências e vicissitudes do ser
hum ano não é privilégio da tragédia. O mundo em que o homem
habita e o m undo que nele habita, com a instabilidade que permeia
um e outro fazendo vacilar crença e m oral, ocupam não só o espaço
da cena, com o fornece, por exemplo, o material que move o discur­
so filosófico ou a explicação da história. O próprio da tragédia não
é portanto o qu ê, mas o com o. A meio cam inho entre a experiên­
cia em primeira pessoa e a reflexão objetiva projetada em exemplos
abstratos, a tragédia revela, na atualidade do espetáculo, uma outra
ordem de th e o r ia ■
. contem plando a tram a que se oferece aos seus
olhos e ouvidos, o espectador sofre uma dor que só é sua na medida
em que é de outro e pode assim ter dela uma com preensão que o
simplesmente vivido não comporta. Na aisthesis do teatro, através
de uma “subjetividade por procuração” fundada pelo pacto ficcional
e operada pela ação das personagens, o espectador engaja sua p ró ­
pria verdade com o uma síntese possível da verdade do grupo a que
ele pertence.
Nesse sentido, uma peça de teatro - de teatro grego em parti­
cular tendo em seu horizonte a expectativa mesma desse engaja­
m ento, é o produto de uma carpintaria complexa: a lenda heróica ou
a saga dos deuses que com põem os mitos tradicionais, funcionando
com o o depositário da identidade de todo um povo, é a matéria -
-prima onde geralmente tudo tem seu princípio; m atéria plástica
que recebe sua torm a a partir das intenções de um poeta para em
seguida passar pela voz e pelo gesto dos atores e do coro e atingir
enfim, no espaço de um edifício público, um grupo de espectadores
que reagem sim ultaneam ente, no foro de sua sensibilidade e expe-
M E D E I A DA T R U P E R S A 1 UMA E X P E R I Ê N C I A DE T R A D U Ç A O EM C E N A 9

ricncia próprias, à trama objetiva do palco. Ainda que - se não pelo


método, ao menos por princípio - nenhum a arte possa ser o resulta­
do de um solepsismo radical, o teatro, de um ponto ao outro de sua
cadeia de significação, e em todas as suas cam adas, é antes de tudo
ii nr fenôm eno coletivo.
É justam ente no âmbito do esforço de recuperar esse traço
maior do teatro grego, através da tradução da M e d eia de Euripides
que ora vem à luz, que se inscreve o trabalho da Trupersa, grupo que
uniu num a empresa com um jovens de orientação acadêm ica à gente
do teatro, sob a coordenação experiente de Tere 2 a V irgínia Ribeiro
Barbosa, professora de língua e literatura gregas da Faculdade de
Letras da Universidade Federal de M inas Gerais1, que contou ainda,
sobretudo para os aspectos propriam ente cênicos do projeto, com a
colaboração da não m enos experiente atriz e diretora Andreia Ga-
ravello (que aliás desempenha o papel de M edeia na montagem da
peça). Trata-se sem dúvida de um grupo heterogêneo e, em alguma
medida heteróclito que, no entanto, sem com prom eter a unidade
formal do estilo e do registro linguístico do produto acabado, sou­
be fazer da diversidade um elo forte e enriquecedor no desenvolvi­
m ento de um trabalho cuja originalidade repousa precisam ente na
tentativa ideal de abordar o fenôm eno antigo pelo prism a de seu elã
fundador. Apenas por isso, essa nova tradução de M ed eia já m erece
ser saudada.
Na base desse laboratório - e o term o parece se adequar ple­
nam ente aos fins e ao método do projeto - estão uma constatação
e, solidária a ela, uma hipótese. A constatação: a grande m aioria
- se não a totalidade - das traduções do teatro grego em língua
brasileira parecem visar antes o texto escrito, ou seja, a form a fixa
que na sua origem m ais rem ota estava inteiram ente subordinada i.

i. Para lima amostragem de seus muitos trabalhos, veja-se o recente Sófodes, Os Icn éu tas,
os Sátiros R astréadórés. Fragmentos de nm drama satírico reconstruído para a contem-
poraneidade com base nos aparatos de Stefan Radt e Hugh Lloyd-jone* com tradução e
comentário der Tereza Virgínia Barbosa, Belo Horizonte* Editora UFMG, 20 12.
10
M E D EIA

ao d r a m a , à a ç ã o ; a hipótese que se segue a essa constatação iden-


tiík a -se com a possibilidade vislum brada de que um texto teatral
traduzido, ainda que texto escrito, guarde as m arcas do m ovim en ­
to da cena original, ou que pelo m enos o favoreça. A crescente-se
a isso o dado de que a grande m aioria das traduções tenham por
trás de seu texto final a mão de um único tradutor, e o que em
principio não seria mais do que um detalhe anódino e circu n stan ­
cial adquire, no caso da tragédia grega, uma m aior relevância. Na
verdade, em tais condições, a tragédia se aproxim a perigosam ente
do diálogo filosófico, reavivando uma simpatia que nem sem pre
foi pacífica: não terá sitio nm m ero acaso o fato de que, a tom ar
por certos testem unhos com o o de D iógenes Laércto, Platão tenha
sido poeta de tragédias antes de se “converter” à filosofia e tenha,
após essa “conversão”, subm etido as propriedades da arte m im éti-
ca por excelência ao crivo de uma crítica rigorosa; por outro lado,
Aristóteles, o mais ilustre dentre os alunos de Platão, observa o
caráter em inentem ente filosófico da tragédia, no que - sublinha o
estagirita - ela é superior à história por dizer esta o que aconteceu,
e aquela o que pode acontecer segundo as regras da verossim ilhan­
ça e da necessidade.
No intuito de restituir o próprio da tragédia, a M ed eia da Tru-
persa substituiu a figura de um único tradutor que sozinho com u ­
nica o poeta antigo com seu novo público e que sozinho decide as
íorm as da porosídade que devem conduzir um texto determinado
à sua versão traduzida, por um colégio de tradutores que explora a
matriz de uma história bem conhecida alargando o espectro de sua
recepção e de suas possibilidades interpretativas através de uma es­
pécie dc “convergência de sensibilidades m últiplas”. Logo, no lugar
de algo próxim o de um exercício filosófico individualizado, o que se
tem ao fim do processo é o resultado de uma experiência plural e,
em certo sentido, catártica, que por antecipação im prim e no novo
texto os efeitos que e!e deverá produzir em cena. E, de fato, no caso
dessa nova e inovadora com panhia o projeto da Iradução saiu do pa-
MEDEIA DA T R U F E R S A : UMA EXPERIÊN CIA DE TRA D U ÇA o EM CENA 11

pel c ganhou a cena, e a cena é, nesse sentido, o espaço de verificação


das virtudes do texto (re)escrito.
Pelo princípio mesmo de sua proposta, a empreitada não podia
ser coisa fácil, A tragédia grega que hoje goza da reputação de arte
difícil, reservada a uma m inoria dita - e que se diz - esclarecida,
uma arte cujo pleno entendim ento parece sempre reclam ar alguma
erudição, era na Atenas do século v a.C. um espetáculo para gran­
de público. Para ele concorriam largos subsídios do estado e a sua
produção mobilizava o conjunto dos cidadãos; muito mais do que
uma opção de lazer esporádico, que se opõe à regularidade neces­
sária das atividades produtivas, o teatro, realizado no contexto de
grandes festivais de caráter religioso, era em sua origem uma expe­
riência cívica, de caráter propriam ente político: com o já se escreveu,
na G récia de Esquilo, Sófocles e Euripides, a cada peça encenada é a
cidade inteira que se fazia teatro. P or outro lado, seria um equívoco
definir a tragédia grega com o uma “arte popular”, no sentido que
em prestamos hoje a esse term o. Se a com édia (e em alguma medida
o drama satírico), em vista m esm o dos efeitos a que visa, incorpora
em sua trama a atualidade e os elem entos de um quotidiano mais
prosaico e com ezinho, a tragédia preserva em sua fatura a solenida­
de dos temas e dos personagens que dão substância ao seu enredo.
Nesse contexto, a ação e a palavra dos reis e dos heróis, memória
atemporal de uma outra época, bem com o a presença de deuses e
semideuses, ganham vida com o artificio de certas formas poéticas e
de uma dicção que, sem obliterar a inteligibilidade imediata da cena,
não corresponde inteiram ente aos m eios da com unicação habitual
O p ath o s da tragédia se constrói portanto, também no registro da
linguagem, entre estranham ento e participação.
Está posto o problema: com o traduzir (e representar) uma tra­
gédia grega quando se quer traduzir não apenas os temas universais
que ela evoca mas também a sua m a n eira de tratá-los? Com o in ­
terpelar a sensibilidade moderna com um material antigo no breve
tempo de um drama que, com o a própria vida, não perm ite voltar
Ιϊ MEDEIA

a uma página virada nem tam pouco consultar uma nota explicati­
va? Com o garantir a fruição espontânea de um objeto preservando
nele aqueles elem entos que parecem nos escapar e se refugiar num
outro mundo, num mundo de uma alteridade aparentemente já in ­
transponível, sem dissipar a carga de sentidos que lhe è própria? São
questões que o projeto da Trupersa levanta e tenta responder com
esta M ed eia. Um pouco indiferentes ao juízo do especialista e à o p i­
nião do erudito, o acerto dessa resposta, sua pertinência e eficácia,
apenas pela experiência direta do texto, no papel ou no palco, se
deixarão julgar.
Por fim, considerando que o que se nos oferece aqui é apenas
uma de um repertório de trinta e duas tragédias gregas conservadas
integralm ente (e de outras tantas comédias, convém lem brar), per­
m anece aberto diante da Trupersa um vasto terreno a ser explorado,
de muitas e diferentes possibilidades.
PREFACIO

A ntes q u e eu co loq u e a m á sca ra e a tragédia c o m e c e ...

Esta tradução da M ed eia de Euripides é fruto de três anos de


convivência bastante próxim a entre a Pós-Graduação em Estudos
Literários da Faculdade de Letras da Universidade Federal de M inas
Gerais (Fale-UFMG) e a Pós-Graduação em Estudos da Tradução da
Centro de C om unicação e Expressão Universidade Federal de Santa
Catarina ( p g e t - u f s c ). A aproximação dos dois programas de pós-
-graduação foi proporcionada pelo Programa Nacional de Coopera­
ção Acadêmica, m antido pela Coordenação de Aperfeiçoam ento de
Nível Superior (Capes). Com a pesquisa realizada, temos, enfim, a
satisfação de oferecer para os leitores o que cham am os de "tradução
brasileira coletiva funcional e cênica” de teatro grego clássico. Um
produto cu jo diferencial explicaremos com detalhe.
Até o momento - e excluídas as adaptações violentas que m odi­
ficam, reescrevem e mutilam os textos antigos o teatro grego, em
todo o território brasileiro, vem sendo dedicado a uma elite intelec­
tual de acadêmicos e artistas selecionados. As razões são muitas e en ­
tre elas destacamos a que julgamos ser a mais pesada na escolha dos

13
14 MEDEIA

atores, diretores e encenadores: a tradução erudita e sofisticada que


fhes chega às mãos não se adequa à encenação para o grande público.
De fato, o que temos traduzido, embora de excelente qualidade
acadêmica e mesmo artística, exige leitura delicada, lenta, cuidadosa
e dedicada. Seu enfoque é quase exclusivamente linguístico. São tex­
tos para se apreciar na solidão e não mais no meio de muitos, em um
estádio ou em um grande teatro aberto como aqueles que se veem em
ruínas na Grécia. E quando ocorre serem estes textos oralizados no flu­
xo contínuo da encenação, o entendimento do léxico, a assimilação da
sintaxe complexa e a projeção de uma encenação hierática, sobretudo
se pensarmos que o público não pode reler ou rever a cena nem resol­
ver a angústia dos termos obscuros deixados para trás durante o espe­
táculo, quando ocorre serem eles encenados, o ato de comunicação e
a cumplicidade do espectador com o ator simplesmente não acontece.
Não se condene, contudo, a tendência vigente. Tais traduções
foram feitas por e para um público diferenciado: os helenistas e es­
tudiosos de teatro preocupados com os rigores acadêmicos, a fide­
lidade histórica, os requintes filológicos e as discussões filosóficas.
Sem dúvida, assim como estão, estas traduções ensinam muito e é
com elas que todos aprendemos o nosso grego para poder traduzir.
Mas acrescente-se: desde sempre a tradição nos estudos clássicos
para o teatro privilegia o texto e vê a sua espetacularização como
possibilidade remota. Tal posicionamento supõe um contentamen­
to por obter equívalências semânticas bem-sucedidas e sofisticadas
soluções tradutórias entre o grego e o português as quais, porém,
não almejam ver a palavra corporifkada saltando do papel. Há ainda
um entrave e, para relatá-lo tomamos palavras da comparativista e
pesquisadora de tradução Susan Bassnett:

No que respeita aos estudos tradutológícos orientados para os modos


literários, se é certo que a maior parte se centra nos problemas envolvidos
na tradução de poesia lírica, também é verdade que os textos dramáticos
têm sido muito esquecidos. Há muito poucos dados sobre os problemas es-
PREFÁCIO 15

pecüicos da tradução de textos dramáticos e os testemunhos dos tradutores


que o fazem deixam muitas vezes pensar que a metodologia usada no pro­
cesso de tradução é a mesma tom que são abordados os textos narrativos.
E, todavia, mesmo uma reflexão superficial sobre 0 assunto é suficiente
para mostrar que o texto dramático não pode ser traduzido como uni texto
narrativo. Para começar a leitura de um texto dramático é diferente. Ele é
lido como algo incom pleto e não como uma entidade inteiramente acabada,
pois é só no espetáculo teatral que todo o potencial do texto é atualizado.
O que coloca ao tradutor um problema central: traduzir 0 texto como um
texto puramente literário ou tentar traduzi-lo na sua fu n ção de mais um
elemento de outro sistema mais complexo1.

Pois bem, leitores e estudiosos da teoria de Bassnett, resolvemos


encarar de frente a incompletude e a função do texto trágico grego.
E quando falo “nós", falo em nome da trupc de tradução e ence­
nação Trupersa. Nós pleiteamos e sonhamos ver 0 teatro chegar a
muitos. Por isso nossa pespectiva é outra. Traduzimos para o teatro,
encenamos e queremos encenar M edeia - com o texto grego tradu­
zido na íntegra em todos os seus detalhes gramaticais - nas regiões
mais carentes do país, queremos falar para todas as gentes brasi­
leiras; aliás, em parte essa meta vem sendo cumprida: já estamos
encenando, pois o texto, antes de se fixar no papel, foi testado em
parques e praças da periferia de Belo Horizonte sempre com público
heterogêneo e, segundo alguns, despreparado para textos eruditos;
depois em faculdades e universidades, desde a ufmg até aquelas em­
brenhadas nos mais remotos lugares de Minas Gerais, Até agora,
íelizmente, o texto agradou. Sim; 0 texto foi traduzido diretamente
do grego c tornou-sc acessível para todos. Para isso, seguimos, de
perto, todas as pegadas de Euripides; usamos as mesmas roupagens,
metáforas, hipérboles, quiasmos enfim, guardamos suas preciosi­
dades para oferecê-las a todos, em português. O nosso processo de

I, Susan Bassnett, Estu dos d e T r a d u ç a o : F u n d am en tos d e u m a D iscip iin a, trad, Vmna de


Campos Figueiredo, Lisboa, Fundarão Calouste Gulbenkian, .2 0 0 3 , pp, Ítf9 -l 9 0 ,
lo MEDEIA

manipulação atçve-se não somente aos recursos linguísticos, esti­


lísticos e literários, mas à escolha lexical, ao uso dos arcaísmos e ao
aproveitamento de intertextualidades pertinentes para uma elocu­
ção atualizada dos atores.

ούκ dm μεν μοι παΐδες, οιtia Óè χθόνα


φεύγοντας ήμάς καί σπανίζοντας φίλον;
ταΰτ’ έννοηθεϊσ’ ήσθόμην αβουλίαν
πολλην εχουσα καί μάχην θυμουμένη.

Crianças? Já. não tenho? E não sei que somos


fugidos da terra e precisamos de amigos?
Aí, pensei e percebí a insensatez que tenho...
tão d escu id a d a... por nada tão desalm ada.

A intertextual idade, claramente costurada na tradução dos ver­


sos 882-883, provoca no ouvinte uma sensação de conforto. Ele es­
cuta o lugar da brasilidade e o lugar do estranho ao mesmo tempo;
lembra-se de Tom Jobim e de Vinícíns de Moraes, vê que estamos
no mesmo barco; todos, brasileiros ou gregos, temos nossos mo­
mentos de insensatez no amor. O ouvinte, assim, prevê que vem por
aí uma tempestade, que Medeia há de fazer Jasão chorar de dor, pois
foi ele quem, primeiro, semeou o vento e, por isso, colherá a gran­
de tormenta. Afinal, tudo o que aparece em M edeia acontece ainda
hoje, nos moldes de Agamben em seu renomado ensaio 0 Q u e Ê
o C on tem po râ n eo ?1A estratégia da intertextualidade visou a nossa
tentativa de realizar um teatro que fosse popular e elitista para to­
dos. O leitor poderá observar outras mais imperceptíveis, com a do
v. 414, “A minha vida há de ser gloriosa. Famas vão rolar!”, quando,
de Jeve, nos remetemos à marchinha carnavalesca As Á guas Vão Ro-

■*Giorgio Agiimbi'ii, O Qw É o C on tem p orâ n eo? E O utros E n saios, trad Vinícius Nicastro
MímÉsko, Chapecó/SC Argos, 2009, pp. £7-73,
PREFACIO 17

lar3,de teor perfeitamente adequado para o contexto dionisíaco da


hybris. Neste sentido, também quebramos a primazia do texto escri­
to - que afirma uma única leitura como a maneira certa de repre­
sentar- e introduzimos uma interpretação imiscuída da brasilidade
da canção popular.
Igualmente recuperamos falas de poetas queridos, um deles foi
Mario Quintana4 e com ele traduzimos os versos 934-940, abaixo.

έπε'ι τυράννοις γης μ ’ άποστεϊλαι δοκεϊ


κάμοί τάδ’ εσύ λφστα, γιγνώσκω καλώς,
μήτ’ έμττοδών σοι μήτε κοιράνοις χθονός
ναίειν: δοκώ yap δυσμενής είναι δόμοις
ημείς μέν εκ γης τήσδ’ άτταροϋμεν φυγή,
παΐδες δ’ όπως αν έκτραφώσι αή χέρι,
αίτοϋ Κρέοντα τήνδε μή φεύγειν χθόνα.

Já pros tiranos está resolvido: devo ir daqui da terra


- para mim, também isso é o melhor; eu sei, não
vou atravan car 0 teu cam in ho, nem a terra
dos chefes habitar; pelo ieito, sou rival da casa real.
Nós, desta terra, partímos em fuga, mas
os meninos, para que sejam criados por tua mão,
pede a Creonte: não sejam banidos deste chão!

Homenagens à parte, voltemos à nossa metodologia. Intencio-


nalmente ensaiamos todo o tempo numa escola que abrigou, tem­
porariamente, menores infratores. Nosso trabalho, no princípio, foi
insuportável. As crianças fugiam das classes, interrompiam os ato-

3, "As. águas vão rolar: /Garrafa cheia eu não quero ver sobrar,/Eu passo a mào na saca, saca,
saca-rolha/E bebo ate me afogar Deixa as águas rolar!/Se a polícia por isso me preuder/E
na última hora ine soltar,/Eu pego a saca, saca, sâCâ-rolhd/E bebo até me afogar./De-íicd as
águas rolar!M
4. Cf, Mário Quintana, C a d ern o H; M ário Quintana* Tania Franco Carvalhal (ed,),Sâo Paulo,
Editora Globo, 2 0 0 6 , p, 1 0 7 : “Hoeminha do contra/ Todos esses que aí estão/ atravancando
o meu caminho>/eles passarão,,. /eu passarinho!”

Μ Ε Π Ε IA

res, entravam correndo na saia de ensaio, atrapalhavam, macaquea-


vairt cenas. Ouvíamos batidas na porta todo o tempo; uns alunos
se faziam espias delicados, outros, mais atrevidos, soltavam gritos
assustadores e inesperados nas janelas. Com o tempo, porém, al­
guns deles pediram para assistir aos ensaios. Atualmente, muitos já
sabem trechos do texto euripidiano de cor. Essa novidade deu-nos
ímpeto dionisíaco e por isso me dispus a talar, em nom e do grupo,
sobre o processo, com o foi c onde ele nos levou.
Entendemos o texto teatral com o uma com posição de palavra
propriamente dita e de execução cênica - de autoria diversa e m últi­
pla - que pode, inclusive, contradizer o registro da expressão escrita
no m om ento de representação. Pelo m enos é o que dem onstra Sallie
Goetsch na análise da montagem da tetraíogia Les A trides produzi­
da pelo Théâlre du Soleil ε dirigida por Ariane M nouchkine5. Nessa
montagem, segundo Goetsch, M nouchkine, engajada em propósi­
tos essencialm ente feministas, enfrenta o um grupo de peças viris e
másculas e sucumbe ao m achismo do seu autor. Goetsch se decep­
ciona com isso.
Náo vímos o espetáculo, infelizmente, mas nos parece inte­
ressante que a própria critica com ente seus desapontamentos e, ao
fazê-lo, deixe m anifestos alguns pontos fracos em sua argum enta­
ção, por exemplo, o incôm odo pelo fato de que, apesar de Esquilo
inform ar que as Erínias eram figuras fem ininas, a diretora M nouch­
kine - contra toda expectativa - tenha optado por delinear esses v in ­
gadores com o seres “perturbadoram ente assexuados”. O ponto de
interesse é que a eliminação da sexualidade (que, para a helenista,
parece ser antifem inista), para nós soa com o libertária. Afinal, por
que esses entes tão execráveis deveríam manter-se sempre fem ini­
nos? Enfim, não vamos discutir o espetáculo aqui. O exemplo serviu

5- Vencedora da 39‘ edição da Bienal de Veneia, 2007 com o prêmio “Leão de Ouro” pelo
conjunto de sua obra.
PREFACIO 19

som ente para m arcar que o texto pode surgir em cena a partir de
uma “traição *1 do autor pelo diretor6.
Neste ponto, a terminologia metafórica “fidelidade e traição”
para o processo de tradução cabe bem. Realmente, em tempos em que
o modelo já está ultrapassado, o jogo humano que se reflete em todas
as instâncias da vida e do qual não se foge alarga-se. Sabemos que to­
dos traímos e que, igualmente, todos somos fiéis. Resta saber a quem,
quando e por que traímos e somos fiéis. A consciência do ato, a sua
transparência nos justificará. A oscilação de um sentido interpretado
(garantido ou traído), contudo, é guardada por um núcleo essencial (0
qual é controlado frouxamente pela escritura muda ou pela situação
motivadora da ação). Mas é preciso admitir: o texto escrito é apenas
um dos componentes do teatro a ser encenado e ainda assim, para o
texto escrito - se ele for bem escrito - não há uma só maneira certa de
ler. É fato, a partitura teatral tem a mutabilidade como um dos seus
constituintes básicos; cercear possibilidades e estabelecei- fetiches sub­
juga e mutila o alcance do conjunto escrito. Pensando assim, não só é
impossível congelar o texto teatral com o também é inaceitável sacra-
lizá-lo a ponto de bloquear a imaginação cênica de modo a obliterar
a beleza poética focalizando somente as questões filológicas, sintag-
máticas e sintáticas. “A tradução é muito mais do que a substituição
de elementos lexicais e gramaticais entre línguas", “ela pertence mais
propriamente à sem iótica”7. Os diálogos (e monólogos) que se desen­
volvem em cena são fruto do espaço, do tempo e estão, por sua vez,
integrados a situações extralinguist teas8. Se, nos dizeres de Bassnett, a
tradução é um processo semiótico9, então a tradução de teatro o é à
potência máxima. No teatro, os sentidos migram.

6. Same Goetsch, Playing Against the Test, “Les Atrides” and the History of Reading Aeschy­
lus, The D ram a Review, vol, 38, no 3 (Autumn, 1994), pp. 76 e 85.
7. Susan Bassnett. op, dt„ pp. 5 4 e 3 5 , respectivamente.
Id e m , p. 191,
9, l-lipotesede Jin I^v^jj^WiiSusaii Bassnett, p,7 1 .
20
MEDEIA

Num pako, o ator e o encenador terrain de decidir como interpretar


a expressão com base no seu conceito de encenação bem como do sentido
global e da estrutura da peça. A interpretação seria expressa através da in­
flexão da voz10*.

O poder do ator é inegável. O s artifícios que ele tem para dar


vitalidade e vigor às suas próprias intenções, independentem ente
do texto escrito, nos levam a supor uma neutralidade quase total
da partitura. Sejam os francos; precisamos libertar os personagens
gregos, deixando-os falar para todos e deixando todos falarem por
eles; só assim veremos a sua novidade escondida. “A tradução tem
um papel crucial a desempenhar ao contribuir para melhorar a co m ­
preensão de um mundo cada vez mais fragm entado”11. E o que pode
ser lido nas brechas das frases, que sugestões o texto propõe na sua
incompletude é m atéria de interpretação multífacetada, passível de
captura de diferentes modos nas diferentes idades, nos diferentes
gêneros e nas múltiplas culturas, daí a necessidade do m últiplo na
leitura, na interpretação e na realização do jogo teatral.
Portanto, para nós, o texto teatral não é de um só, nunca, nem
mesmo quando e se foi escrito por uma única mão, pois, de saída,
não há teatro sem platéia e ainda se houvesse, na interpretação do
ator, toda a intenção fabricada textual mente pelo autor pode ser so­
lapada, pois em cena o ator é rei. Ele é o único dono da palavra quan­
do a cena acontece; em razão disso, estabelecemos que prescindir do
ator na tradução é tem erário (aliás, recorde-se; Ésquilo, Sófocles e
Euripides foram homens de teatro antes de serem poetas). E nós, que
sabemos grego e na grande maioria somos “letrados”, para aliviar a
tensão, nos aliamos às gentes de teatro. Elas podem amenizar o pro­
blema de verter a Antiguidade nos nossos dias por várias estratégias.
As nossas foram advindas da observação de uma prática da equi­

io. Susan Rassnctt, op , cit.·, pr 48,


n . Idem* p. 2.
PREFACIO 21

pe francesa já m encionada antes, a trupe do Théâtre du Soleil. Sim,


confessamos; traduzimos por um processo coletivo o qual acredita­
mos ser, devido ao seu caráter coletivo, um feito altamente criativo.
Fom os inspirados pelo trabalho de Ariane M nouchkine e pela ideia
do processo colaborativo de inspiração político-social. Vestimos a
máscara de um diretor de tradução e representamos o papel de um
organizador de hermenêuticas que pariu um organismo vivo.
Na primeira etapa buscam os trabalhar com jovens pesquisado­
res (graduandos, mestrandos e doutorandos) a fim de garantir para
o texto traduzido frescor, vivacidade e atualidade. Estes novos he-
lenistas {Ana Araújo, Ana C ristina Fonseca dos Santos, Alexandre
Cardoso Nunes Magalhães, Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes,
Douglas Cristiano Silva, Flávia Freitas M oreira, Gustavo Henrique
M ontes Frade, Josiane Félix dos Santos, M aria de Fátima Lanna,
M arina Pelucci Duarte M ortoza, Priscilla Adríane Ferreira Almeida,
Vanessa Ribeiro Brandão), entre os quais se contam também atores,
atrizes, escritores, poetas, cantores e bailarinos, foram introduzidos,
durante o processo de tradução, nas técnicas de atuação e, em du­
plas - observando sem pre que possível a lógica de m anter um re­
presentante do sexo masculino e um do fem inino assumiram os
papéis na peça na categoria que chamam os de atores d e trad u ção.
Obtivemos, assim, uma fala andrógina e individualizada para cada
personagem. O trabalho dos atores foi dirigido pela professora de
grego responsável pela criação do método e pela tradução, Tereza
V irgínia Ribeiro Barbosa, e pela atriz Andreia Garavello. O proce­
dim ento elim inou um problem a grave na transposição da escrita de
teatro em qualquer língua, a dicção particular da personagem forja­
da em bigorna poética que revela som ente, pelo uso das palavras, o
caráter peculiar de cada uma. V oltarem os a esste ponto.
Antes, todavia, pensemos; se admitirm os que Platão tem razão,
na passagem da R epú blica 3923 - 3940, ao propor que o texto teatral é
uma narrativa onde é hábito o autor se esconder sob uma máscara,
p erso n a que atua, personagem, se aceitam os a suposição do filósofo,
21
ΜΕΙίΕΙΑ

então o oculta m ento (camuflagem, simulação, ilusão) é um m eca­


nism o im portante no teatro. Isso nos pareceu muito interessante
e tom am os o mestre com o referência para nossa tradução. D ecidi­
mos: ficaríamos todos escondidos - atores e tradutores - tal com o
postulou Platão; do mesmo modo o tradutor se ocultaria o mais pos­
sível. A própria Medeia, com o personagem, apresenta a técnica do
ocultam ento com fins práticos;

v, 36S-370
δοκϊΐς χάρ αν με τόνδε θωπεύσαΐ ποτέ
εί μή τι κερδαίνουοαν ή τεχνωμένην;
ούδ αν προσεΐπον ούδ ’ αν ήψάμην χεροίν.

Acaso achas que ο bajularia


sem tirar vantagem oll sem tramóia?
Nem falaria com ele. Nem nele tocaria com as mãos.

O trecho citado ocorre logo após a saída de Creonte, quando


M edeia ganha do rei mais um dia de permanência. V ê-se que o dito
da princesa colca não confere com o que ela realmente quis dizer,
todos sabem. Saindo de cena Creonte, sua “m áscara" de indefesa e
vítima é retirada à frente do coro. Situações assim se repetem ao
longo da peça no nível das personagens, que se constituem com o a
palavra do autor oculta em máscaras.
M as em tão profundo grau se enraiza o encobrim ento que ele
chega, inclusive, a atingir o ato de produzir um testo escrito que
finge ser texto oral. Abaixo temos um exemplo:

v. 780-783

παιδας; δέ μείναι τούς ίμούς αίτήσομαί,


ούχ ώς λιποΟσ' άν τιολεμίας εττί χθονός
έχβροΐσι παϊδας τούς εμούς καθοβρίααι.,
άλλ ’ ώς δόλοισι τταίδα βασιλέως κτάνω.
PREFÁCTO 13

Hos meninos, os meus, pedirei que fiquem


não pra largar em terra hostil
com inimigos humilhando os meus meninos
mas é que assim, com ardis, mato a menina do rei!

O trecho, vê-se nos negritos, mostra uma “repetição


ofensiva"12, recurso frequente no discurso oral. M ecanism o fácil
de ser reproduzido, sem dúvida. O seu uso gera um efeito de ora-
Iidade, de prosaísm o no falar; entretanto, exortam os o leitor a o b ­
servar: o uso do vocábulo παϊδα no verso 783 nos leva a perceber
que ele é atribuído am biguam ente tanto à filha de C reonte quanto
à “esposa” de Jasão. A crescente-se que τταΐδα é tam bém 0 mesmo
term o usado para os m eninos de Jasão. O requinte sofista não é e n ­
genho praticável em fala com um ; estam os, sem dúvida, diante de
uma elaborada redação poética. Tem os aqui a prova de um en tre­
cho literário sim ulando-se oral. O s versos são considerados uma
interpolação por causa da repetição13. Nós, ao co n trário , acredi­
tam os ser uma estratégia sutil de escam otação forjada pelo poeta.
E seguindo as pegadas do autor, perseguim os obstinadam ente as
formas de m ostrar - em texto escrito - os diversos registros e a
oralidade (com suas aglutinações, repetições, uso dos pronom es
e sintaxe truncada) m arcas que julgam os essenciais para colocar a
escritura num nível de acessibilidade quase im ediato. Não obstan ­
te, preservam os a sofisticação da escritura euripidiana. E não nos
esqueçam os, tudo é ilusão: o escrito se m ascara de orai; o oculto
se m ascara de revelado e, por tais engenhos, o ocuítam ento que
se deu na Antiguidade, por parte do autor, julgam os, foi respeita­
do. Ademais, a tradução foi assinada por uni organism o múltiplo,
m isturado e enorm e, a Trupersa, e com isso exibim os a cam ufla­
gem do tradutor.

li. Euripides, M ed ea, Comentário de Denys L. Pagc(ed.), Oxford, Clarendon Press, 1 9 6 1 , p. 12 9 .


13. Euripide, M édée, Édition, introduction et commentaíre de Kribcrt Flacdière, Paris, Presses
Universitairesde France, 1 9 7 0 .
14
m e d e ia

Particuiarm ente, vaie notar ainda que, na tragédia grega, a esca-


raotagem vai além da máscara. C om apenas três atores permitidos
(excetuando, é claro, o coro), utilizava-se o artifício das máscaras,
que possibilitava sem grande dificuldade a permuta de personagens
variados em poucos corpos, o que, por sua vez, admitia a con tin ­
gência de um só hom em fazer o papel de algoz e vítima no mesmo
espetáculo e, nesse caso, para a voz, traço de identidade mais óbvio,
esperava-se, naturalm ente, que ela fosse tam bém m ascarada nas di­
versas form as possíveis14.
Provavelm ente a estratégia de um indivíduo representar mais de
um papel na m esm a peça seria um resquício da tradição hom érica
que atribuía falas para papéis variados, em discurso direto e form u­
lar, pela perform ance de um só rapsodo. Contudo, entre Hom ero
e o teatro há um a diferença notável: na poesia hom érica um m es­
mo texto aplicava-se a diferentes papéis. P or exemplo, uma mesma
sentença pode ser atribuída ao Atrida e ao Laertida. Isso significa
que a fala não os distingue, eles não têm nem um vocabulário nem
uma sintaxe própria, O que os diferencia não são as afirmações a eles
concedidas, mas a voz (modalizada, modificada ou alterada) que os
anuncia e os epítetos que os qualificam 156.
Registre-se, portanto: se os rapsodos cantam com uma única
voz (ainda que im postada de diferentes m odos), no teatro, 0 ator e
sua voz erigem - juntam ente e sobretudo com o texto - a diferen­
ça de um papel . Insistim os: as diferenças das personagens, com a
escrita particularizada para cada uma, foram antes garantidas nas

14. MarkPattien, “Actor and Character in Greek Tragedy", T heatre Jo u rn a l, v o l 41 n 3 1 9 8 9


p 317.
15 - Jennifer Wise, D tu nysn, w rites; T he In v en tion o f T heatre in A n cien t G reece, fthacVLondon,
Cornell University Press, 1 9 9 8 , p. 4 8 .
i6. G. Capone, L 'A n e S cen ica d egh A ttori T r a g id G reet, Padova. Casa Editrice Dolt, 1935, p.
19 , postuJa a apuração na técnica vocal, quer para falar continuamente numfôlego só ( e ir a i
a p o tã d e n , ap n eu stí), quer para uma redlaçãosimptes ( k a la b g é ) , uma dicção melodramáti­
ca (p arak y ttn b g é) ou um canto (m élos). A importância da voz pata o h y p okriíés é, segundo
o estudioso italiano, inquestionável.
PREFACED ϊ 5

palavras cio autor, o que m ostra a im portância do testo conferido


a cada função-papel. Dessa forma, os textos das personagens têm
marcas particulares para cada uma, eles m esm os se apresentam
com o personagens feitas de letras, palavras, sintaxe: “espírito e le­
tra”. Pois bem , usamos com o meta procurar respeitar estes registros.
Em M e d eia , por exemplo, m antivem os para o pedagogo as suas ex­
pressões de controle do ouvinte, Ele fala com cacoetes lexicais e por
este modo particular de falar, ele segura o interlocutor com freio e
rédea curtos. No grego, a repetição e o controle do ouvinte se dão,
por exemplo, com o pronom e demostrativo neutro - τό δ ε / isto -
colocado com o última palavra de um verso. Com o nem sempre foi
viável m anter o pronom e demonstrativo na frase (traduzim o-lo, no
verso 73 por um advérbio), recuperamos o cacoete lexical pela repe­
tição da interjeição h ã , no final da frase. V ejam os (w . 61-62 e 67 ss.
respecti va mente):

Παιδαγωγός
é μωρός, εί χρή δεσπότας tmelv τόδε:
ώς ούδέν οΐδε των νεωτέρων κακών.

Παιδαγωγός
ήκουσά του λέγοντος, οΰ δοκών κλύειν,
πεσσούς προσελθών, ένθα δή παλαίτεροι
θάοσουσι, σεμνόν άμφ'ι Πειρήνης ϋδωρ,
ώς τούσδε παϊδας γης έλιτν Κορινθίας
σύν μητρί μέλλοι τήσδε κοίρανος χθονός
Κρέων. ό μέντοι μύθος εΐ σαιρής οδε
ούκ οίδα: βουλοίμην 6 ’ αν ούκ είναι τόδε.

Παιδαγωγός ν. 85
τις 6 ’ ούχ'ι θνητών; άρτι γιγνώσκεις τόδε,
ώς πας τις αυτόν τοι> ττέλας μάλλον φιλεϊ,
[οί μεν δικαίως, οΐ δε καί κέρδους χάριν]
εί τούσδε γ ’ εύνής οϋνεκ’ οΰ στέργει πατήρ;
26 MED r IA

Pedagogo
Que tonta - se convém dizer isto dos patrões, foi? -
não sabe nada das desgraças mais recentes.

Pedagogo
Escutei por ai, sem parecer que ouvia,
quando ia pra praça dos jogos, onde os bem veihos se
sentam, ao redor da santa fonte Pirene,
que essas crianças, dessa terra coríntia,
com a mãe, o rei Creonte vai expulsar
pra longe. Se a história é certa,
isso não sçí. Queria que não fosse assim, h ãf

Pedagoga
E qual dos mortais não?! Só agora sabes isto, h ã 7
Que todo mundo ama a si mais do que ao próximo,
[uns com justiça, outros por vantagem] se è mesmo que,
por causa da cama, o pai não gosta inais destes.

Retornem os à questão dos atores versáteis com base nos rap-


sodos hom éricos; claram ente os profissionais do teatro, à época,
estavam bem treinados para em itir o canto para suas personagens
de form a distinta por m eio da modificação de uma única voz. De
qualquer m odo, entretanto, se não fosse possível um registro mais
agudo ou grave, uma languidez ou rispidez, havia a garantia de um
texto apropriado e diverso para cada papel17. V eja-se, então, a im ­
portância de traduções que preservem as marcas sutis das diferenças
entre as personagens, ainda que admitamos que o texto dram ático
não seja autônom o e que o ator tenha uma participação basilar na
construção da personagem cênica.
Neste raciocínio, as amas são construídas pelas palavras que
elas proferem com o amas, os reis com o reis {com o uso do plural

17 . Mark Damen» op. cí'f,bp, 322,


PREFÁCIO 17

m ajestático e tudo mais), os mensageiros com o mensageiros. Isso


foi im portante para nós. Em M ed eia os velhos haveríam de falar
com o velhos criados ou velhos reis; sutilezas preciosas registradas
na língua de origem nos dirigiram e foram elas que estabeleceram as
diferenças. As amas, expressando-se com o mulheres nervosas, inde­
cisas, pragmáticas, agradecidas ao pouco que a vida lhe deu, servi­
ram -se de sintaxe suspensa, reticências, contradições, aglutinações.
V ejam os um exemplo (v. 185);

δράσω τ ά δ ά τ ά ρ φόβος εί πείσω


δέσποιναν έμήν:
μόχθου δέ χάριν τήνδ ’ έπιδώσω.
άποταυροΰται δμωσΐν, όταν τις
μύθον προφέρων πέλας όρμηθ[ή.
σκαιοΰς δέ λέγων κούδέν τι σοφούς
τούς πρόσθε βροτοϋς ούκ άν άμάρτοις,
οϊτινες ύμνους έπι μεν θαλίαις
έπί τ ’ εϊλαπίναις καί παρά δείπνοις
ηΰροντο βίω τερπνός άκοάς:
στ ογιους δέ βροτών οΐιδείς λύπας
ηϋρετο μούση και πολυχόρδοις
ψδαϊς παόειν, έξ ών θάνατοι
δειναί τε τύχαι σφάλλουσί δόμους,
καίτοί τάδε μεν κέρδος άκεΐσθαι
μολπαΐσι βροτούς; ΐνα δ ’ εϋδειπνοι
δαϊτες, τί μάτην τείνουσι βοήν;
το παρόν γάρ έχει τέρψιν άφ' αυτού
δαιτός πλήρωμα βροτοϊσιν.

Farei isso! Mas periga eu não convencer


minha senhora...
Farei esse ingrato favor; mesmo
com aquele olhar de leoa parida, a mirada de touro
pros escravos, quando um - pra dizer palavra - chega
perto... Pra quem diz “sinistro e nada sábio são os
28 M EDEIA

antigos” não posso dizer que erra.,,


Uns, hinos pra festas e mais banquetes
e ainda jantares pra vida, uns,
descobriram prazenteiras canções,
mas pra aliviar tristeza cruel nenhum
vivente descobriu - nem co’a Musa, nem
na harmonia das cordas - encantos.
É com isso que os mortos e as sortes terríveis
derrubam as casas. Mesmo assim, vantagem é cuidar
destas coisas com melodias. Pra isso, boas festas...
convidados... Por que aprumar um grito pra nada? O
presente tem sua própria alegria,
Cmesa cheia pros viventes!

N o trecho, a ama simula uma “indeterm inada determ inação”,


tanto pelo m odo hesitante de falar quanto pela lacuna profícua
para preenchim entos visuais e corporais de sua hesitação. E nqu an­
to se m ostra oscilante, ela, ao m esm o tempo, faz ver os perigos que
vai enfrentar ao exortar sua senhora a sair de casa. A fala se con s­
trói, a princípio, com uma assertiva seguida de adversativa: “farei
isso, m a s ...” (v. 185); 0 procedim ento se repete indicando o valor
da ação que o su jeito falante realizará: “darei esse ingrato favor” e,
ainda, esse su jeito enunciador de realizações acrescenta, para tal,
as dificuldades pelas quais passará: o olhar de M edeia com o leoa
e touro. Atitude típica de alguém que quer valorizar seu trabalho,
que fará o que lhe fo i ordenado sob 0 peso de toda incerteza de su­
cesso e que, assim, procura garantir de antem ão 0 perdão para seu
fracasso. A ama m ostra sua a p a r ia pelo discurso e igual mente pelo
com p ortam ento cênico, ou seja, a d u b ita tio é uma rubrica para a
cena. O bserve-se, porém , que Euripides usou dois verbos diferen­
tes, no futuro δράσω/ farei e έπιδώ σω/darei. Um problem a surgiu.
No português, o verbo dar (nossa opção por ser mais enxuto e por
isso m ais im ediato, mais dram ático) aqui seria bítransitivo, “dar
algo a alguém ”. Esse alguém não aparece no texto. Nossa solução
PREFÁCIO 29

foi; repetir o verbo “fazer” que, em nosso entender, reproduziu,


pela repetição, a insistência por forjar uma decisão tomada sem
convicção.
E o coro? Como talaria o coro? O que temos neste coro de Eu­
ripides? Ora, são mulheres e deviam se portar como mulheres (as
que cuidam da cozinha, das notícias domésticas - e da casa real em
litígio -, das dores femininas}; são, pois, mulheres, mas mulheres de
um porto, o porto de Corinto, ou seja, das seriam aquelas que esta­
vam disponíveis para os marinheiros recém-chegados, submetidas a
eles, ávidas por notícias de outras terras. Cantam em coro, mas nâo
são coesas em seus pensamentos.

Χορός w. 131 e ss.


έκλυον tpüjvciv, Εκλυον δέ βοάν
τΰς δυοτάνον
ΚολχΙδος: οόδέπω ήπιος;
άλλ' ώ γεραιά, λέξον. άττ’ άμφιπόλου
γάρ έα ω μελάθρου βοαν
έκλυον, ουδέ συνήδομαι, ώ γΰναι, άλγεσι
δώματος, έπεί μοι φιλία κέκραται.

Χορός w. 173 e ss.


πώς αν ές οψιν τάν άμετέραν
ίλθοι μύθων τ ’ αύδαθέντων
δέξαιτ’ όμφάν,
εϊ πως βαρύθυμον όρ-
γάν και λ ήμα φρενών μεθείη;
μήτοιτόγ' έμόν πρόθυ­
μον φίλοισιν άπέστω.
άλλα βασά νιν
δεύρο πόρευοον οί­
κων εξω; φίλα καί τάδ’ αΰδα,
σπεύσασά τι πριν κακώσαι
τούς έσω:
πένθος γάρ μεγάλως τοδ’ όρμάται.
MEDEIA

Χορός v. 636
στέργοι ôé με σωφροσΰνα, δώρημα κάλλιστον θεών;

Coro
Ouvi voz... F.u ouvi um berro
da desgraçada colca, E
não foi nada brando...
Mas me conta, 6 velha: saiu das portas duplas,
de dentro do palacete... Um grito
eu ouvi! Não me alegro não, ó mulher, com as
dores desta casa. Tempera mais doce.

Coro
- Como ela há de chegar à nossa
vista e receber a voz
das palavras ditas?
- Se esse ânimo pesado, o impulso e o
propósito ela pudesse do peito dispor!
- Por certo, meu zelo não deixa...
não deixa os amigos.
- Mas anda!
E a ela, traga aqui,
- Que de casa saia fora! Esta voz é amiga.
Apressa-te, antes que malfaça
aos de dentro:
este luto transborda.

Coro
Seja eu amada com o tempero dos deuses, mais belo dom!

Da mesma forma os mensageiros, estes precursores da “impren­


sa marrom” tal como os delineia Euripides, deveríam pular para fora
das palavras do texto e se materializar. Ei-los afoitos, rápidos, exage­
rados e interessados em vantagens18. Em M edeia o texto do άγγελος

i8> Para a tradução da fala do mensageiro valemo-nús do estudo dâ Irene J. F. De )orig> N a r r a ­


t i v e i n D r a m a : t h e Arf o f t h e E u r i p i d e a n M e s s e n g e r - s p e e c h , Leiden* E, j, Briíl* 199L
PREFÁCIO 31

é bastante longo. A narrativa contínua, 94 versos em primeira pes­


soa (isto é, um relato onde 0 narrador presencia os fatos elencados),
foi mantida. Na peça M edeia, o discurso do mensageiro é apresenta­
do sempre pela primeira pessoa do plural, exceto nos últimos versos
de sua fala. O detalhe é interessante e mostra 0 tom majestático que
o informante quer apresentar em seu enunciado. A narrativa dire­
cionada para informar e imprimir no público (e nas personagens da
peça) um efeito terrível é eficaz. A pessoa que descreve a morte dos
reis é confiável, sabe das coisas por vê-las, como um servidor seja
na casa de Creorite seja como ele fora, anteriormente, na casa de
Medeia. O dado é importante, pois durante sua fala - por interesse
ou por amizade - ele é cúmplice da antiga senhora e busca provocar
nela sentimentos de regozijo. Ao fim, faz-se de conselheiro. Desse
modo, a personagem que informa tem controle total da situação,
direciona 0 sentimento de seus ouvintes (v, 1167 - que visão terrível
de ver/ãeivòv ήν θέαμ' ϊδεϊν; w, Π76-77 - vozeria estridente/μέγαν
κωκυτόν); o tom moralista no encerramento da fala nos autorizou
a fazer uma interpolação no verso 1224. Repetimos o provérbio bem
conhecido: a volta do castigo [no lom bo de q u em dá], No geral, por
conseguinte, a fala do mensageiro é valorizada pur meio de um certo
empolamento grosseiro e do uso de frases de efeito. Coloca-se como
uma cena à parte do jogo teatral e pudemos presenciar várias ve­
zes que a encenação do mensageiro, no meio da peça, foi espetáculo
particular que arrancou palmas do público.
Mas não trataremos das personagens uma a uma; digamos so­
mente que o marido desertor devia se transformar em apaixonado
enrustido para terminar como um triste abandonado, a irritadiça
Medeia passava de mortal traída a deusa poderosa com discurso fir­
me e autoritário, Creonte e Egeu seriam instrumentos para Medeia
arquitetar seus planos.
Além disso, para efetivar a tradução de um mundo antigo, todos
e todas deveríam falar como estrangeiros arcaicos de um mundo re­
moto (porque grego antigo) que, sem embargo, habitam um mundo
32 MEDEIA

muito próximo {porque mítico e eterno). Mas como Aristóteles (R e­


tórica, 3,1404) afirmou que na tragédia, texto de dicção elevada, Euri­
pides teria utilizado a linguagem de todos os dias, essa referência nos
manteve atentos19. Vestimos o disfarce textual para dizer o sublime
ora de modo excelso ora de forma banal, para estar no ponto máximo
de tensão entre o oral e 0 escrito, o poético e o prosaico. Os arcaísmos
próprios da linguagem trágica, se não foram recuperados no momen­
to exato de sua ocorrência, foram preservados e retirados da música,
das interjeições e dos ditos populares. A interjeição “ar’Tarre” {da­
tada por Houaiís como sendo de 1502), por exemplo, utilizada por
Guimarães Rosa10, (w. 901 e 1280) serviu-nos para recuperar o ãpa,
partícula interrogativa épica de impaciência; outros termos emprega­
dos, como “permeio”, no verso 820, ou ainda “merencória” (v. 1114},
tomado da velha Aquarela B rasileira composta por Ary Barroso em
1939 garantiram para a tradução um efeito de antiguidade.

αρ', ώ τέκν’, οΰτω και πολύν (ώντες χρόνον

Ίάλαιν', ώς αρ' ήσθα πέτρος ή σίδαρος

ιτιά: περισσοί πάντες ούν μέσιρ λόγοι,.

πώς ουν λύει προς τοΐς άλλοις


τήνδ’ ετι λύπην άνιαροτάτην

Ara! ôÔ crianças, que assim seja por muito tempo.

19 .De fato, 0 iambo é mais coloquial dos metros. Prova disso é usarmos mais iambos na con­
versa uns com os outros c raramenle - apenas quando fugimos do tom coloquial - os hexâ-
metros (1449a 23-28) (Aristóteles, P o ética , tradução e comentários de Ana Maria Valente,
Lisboa, Fundação Caiouste Gulhenkian, 2007).
ao. João Guimarães Rosa, G ra n d e S ertão; V eredas , Rio de janeiro, Editcua JoséOlynipio, 1976,
pp. 70 e 144 respectivamente: “Aí Z é Bebelo reparou emmim: -Professor, a r a v iv ai Sempre
a gente tem de se avistar..,"; E “Arre que de nio desconfiava, não percebia!” [gualmente.
na p. 134: "P erm eiú com quantos, removido no estatuto deles, com uns poucos me acompa-
nheirei, daqueles jagunços, conforme que os anjos-da-guarda”.
HÉUB

rREFACIO 33

Infeliz! Como?! Arrel Foste pedra ou ferro?

Deixa pra lá! Todo permeio agora é inútil!

Como então se livrar, entre outras, de


mais esta tão meren cúria dor.

A M arca do A ntigo na Nossa C ultura Dilacerada: ο σπ αρ αγμό ς

É claro que, depois da tradução das duplas d e atores de tradução


e levadas em consideração as idiossincrasias de cada papel, ao dire-
Lor de tradução cumpria a harmonização do léxico, da sintaxe, do
Lom de cada papel. Este diretor agiu, por alguns momentos, tal qual
maestro que afina, controla e harmoniza, segundo critérios próprios,
todos os resultados já ordenados que o levaram a agir, efetivamente,
como um d iretor d e tradução.
Concluída a tradução, o texto foi submetido à atriz regente An­
dreia Garavello, também leitora da língua grega, para uma primei­
ra avaliação c, a partir daí, recomeçou todo o processo: tradutores
ouviam seus textos pela boca de outrem e com surpresas - ora fe­
lizes ora enfurecidos - faziam eles mesmos, conjuntamente com a
atriz, os ajustes necessários para a encenação. Nesta etapa o texto
foi posto à prova do concreto antes de ser adotado no cotidiano da
preparação dos atores profissionais.
Ajustes feitos, o texto traduzido foi entregue para memoriza­
ção e encenação aos atores d e fa to . Este foi o momento mais críti­
co: a ocasião de se verificar a qualidade de palco para cada verso.
Quantas palavras pesavam, mal soavam, arrastavam-se no chão!
Quantas modificações a cena exigiu! Quantas contendas entre
todos! A tores d e tradução e atores de cen a buscavam seu estrela­
to. Nunca se ouviu tanto a palavra “meu"! E, todavia, nada soava
como se supunha ter sido traduzido. Assustados, sofremos, ama-
mo-nos e odiamo-nos.

i
34 M E D EIA

Do ponto de vista intririsecamente coletivo do ritual religioso,


social e político dedicado ao deus Dioniso, levar os atores-tradu-
tores e atores d e cena de uma cultura personalista como a nossa
ao exercício tradutório conjunto foi um gesto de crueldade, pura
om ofagia. Tivemos que intensificar o papel/função do diretor dc
tradução, que passou a agir não mais como um regente, mas como
um sacerdote cruel na prática do sacrifício. A severidade se ins­
taurou pela intervenção drástica no texto dos tradutores/atores.
Apavorados, cheios de medo (φόβος) vímos a cor do dilaceramen-
to rituaf dionisíaco. Os versos foram desconstraídos, mutilados,
reintegrados: uma bacanal! Nada do resultado anterior foi man­
tido integralmente; o diretor de tradução, professor de língua e
literatura grega, com técnicas inspiradas nas teorias literárias de
desconstrução, alteridade, estranhamento e hospitalidade realizou
o sparagrnósl σπαραγμός (dilaeeramento ritual) de forma que fos­
se possível desintegrar, despedaçar as personalidades na tradução
coletiva. Que voz nenhuma sobressaísse nem fosse identificada! A
decisão final competiu aos atores d e cena.
Pensamos que este foi um processo para alcançar uma elocu­
ção trágica sob o patronato de Dioniso, o deus da exuberância e da
ausência, da vida, da destruição e da morte. Por isso guardamos na
tradução ambas as facetas desse deus, a privação e a exuberância.
Cenas cômicas e cenas trágicas lá estão, como o autor determinou
pela presença de alguns marcadores: as ironias, os usos linguísti­
cos, as lacunas, tudo pronto para ser preenchido por outros mar­
cadores, os não linguísticos, visto que, se existe apenas um desses
elementos, o texto não se completa. Decerto, o texto teatral exige o
concurso ativo e criativo de muitos na sua produção, realização e
espetacularização.
Procuramos flexibilizar o vocabulário suavizando □ erudição
acadêmica dos reccm-formados tradutores, objetivando a clareza.
Mas não abolimos o estranhamento poético, guaidamo-tu na sin­
taxe invertida de alguns trechos que são mais bem entendidos se
PREFÁCIO 35

verbalizados em alta voz; ousamos em cena adotar palavras supos­


tamente inadequadas (palavrões, por exemplo) e por ambiguidades
maldosas, não criadas, mas preservadas. Mantivemos, porém, a be­
leza sem ambiguidades da segunda pessoa - a qual não impedia em
nada o entendimento, mesmo para pessoas com pouca escolarida­
de; preservamos arcaísmos recuperados da música popular e dos
falares de outras regiões do pais mais preservadas da urbanidade.
Além do já citado “merencório”, surgiram termos como “palpi­
tar”, “pejo”, “sorvedouro” e “entojado” - polêmicos para os jovens,
evocadores para os mais velhos; modulamos os tons, marcamos os
ritmos, encenamos o texto, várias vezes. As metáforas, hipérboles,
metonímias, em resumo, as figuras de linguagem foram uma ob­
sessão. Todas, exceto aquelas que nos escaparam, foram mantidas,
julgamo-las direções para a cena, jogo de esconde-esconde cheio de
surpresas. Ê que o teatro quer ocultar e fazer ver por todos os meios
possíveis e impossíveis. Em tudo isso, a técnica é simples: o poeta
é um exp ert na "fabricação de imagens” (em grego: eidolopoíesis/
είδωλοττοίησις21) que têm poder de manifestar, ao mesmo tempo,
uma presença real e uma irremediável ausência daquilo que se pre­
tendeu representar22. Imagens que revelam e que escondem. Estas
imagens, nomeadas como visões, seriam produzidas na própria
poesia e não somente na cena. Mas, ao traduzir, como notá-las no
texto grego? isso também é simples. Bastou-nos procurar o alicerce
sobre o qual se assentariam as estruturas do poema, ou, em outros
termos, a terra em que se plantaram palavras para se fazer brotar
imagens, a gleba das palavras metáforas.
Aristóteles (R etórica, 1410 b), em uma obra dedicada à eloquência,
pondera que este modo de falar por meio de metáforas é, para todos,12

11. Platão, A R epú blica, tradução e notas do Μ. H. da Rocha Pereira, Lisboa, Hundaçâo Calouste
Gulbenkian, 1983, O trecho a que nos referimos é R epú blica* 599a7; a ideia se repete no
diálogo Sofista, 265-bI.
1 2 . Cf. J-P. Vernant, “The Birth of Images”, em: Froma L Zeitlin íorg.K M ortals a n d Im m o r ta l
Princeton, University Press, 1991, pp, 164-185. Apassagema que nos referímos está na p, 1Ó8.
36 M EDEIA

natural e agradável, pois tem a serventia de, antes de qualquer outra


coisa, ensinar de maneira visual, rápida, eficaz e, ainda mais, sem ob­
viedade, guardando a sensação de estranhamento. Mais à frente, nessa
mesma obra, Retórica, 1412a, o filósofo de Kstagira esclarece que “é
forçoso que as metáforas provenham de coisas apropriadas, mas não
óbvias, tal como na filosofia é próprio do espírito sagaz estabelecer a
semelhança com entidades muito diferentes”1314 ; por esta mecânica o
poeta insere no discurso o demento surpresa que, por sua vez, gera o
prazer, pois o texto construído por metáforas é mais encantador.
No mesmo tratado o discípulo de Platão acrescenta que para
ele a metáfora é o estratagema de linguagem de onde derivam mui­
tas outras formas de transferência (tradução) de sentido (Retórica
1412a). Importante para nós ao pensarmos em nosso tema de pes­
quisa, a tradução, é que, para Aristóteles, a metáfora serve para “dis­
por ‘o objeto diante dos olhos’ (Retórica, 1411b)" de muitos modos,
de substanciação, de processo e de resultado24.
Resta-tios oportunamente avisar que quase nunca trabalhamos
a métrica; não criamos neologismos, nem tentamos recuperar a so­
noridade grega. Aqui nossa tradução foidomesticadora; nossos sons
são brasileiros e amiúde recolhidos, como dissemos, em poetas de
nossa língua. Por algumas ocasiões homenageamos nossos colegas
professores e tradutores primorosos em suas saborosas, acertadas e
inspirado ras traduções: Jaa Torrano, Mário da Gama Kury, Irajano
Vieira e Maria Helena da Rocha Pereira.

13 . Aristóteles, R etórica, tradução e notas de Manuel Alexandre Iuní0 1 ; Paulo Farmhouse


Alberto; Abei do Nascimento Pena, Lisboa, Imprenso Nacioml/Casa da Moeda. 199B.
Texto grego da Aristotle. Aes W tetorica, W. D, Ross (ed.l, Oxford, Clarendon Press. 1559:
0 εϊ 6 έ μίταφέρειν, καθότι ep εϊρηται πρότερον, and οικεία™ καί μή ιρανερών, οίον καί έν φιλ
CKTOípiç Γό 51,:-ι:)·. 1 .1 εν πολύ ίιιεχουσι θεωρόν 1 ".': οχ10
14 . Idem , texto grego da Aristotle, Are R h etorica:
λίγω δή npò ò μμάΐιο v raOTa noiELv όσα ένεργοΟντα ση μα ivtr, οίον τον άγοβών áv5po ιράvm
είν α ι τετρά γα τνον μετιχιρορά, ( άμφια γ α ρ τ έ λ ε ιά ), ά λ λ ο ΐ οιγμαίνει εν έρ γ εια ν ; ά λλα τ ό άν
θ ο ϋ σ α ν Ε χ ο ν το ς τήν α κ μ ή ν " εν έρ γ εια ,κ α ί τ ό ' ο έ 5 ' ώ σ π ερ αιρετόν” ελ ε ύ θ ε ρ ο ν έν έρ γ ειο , κα
ί “ττούντεΰθεν ο υ ν Έ λ λ η ν ε ς ά ξ α ν τ ες north*:’’ (Hur. ΙΑ. ν. SO) TO ά ξ α ν τ ες εν έρ γ εια καί μ αταφ ο
ρ ά : τ α χ ύ γ ά ρ λ έγ ει.
PREFACTO 37

A tônica foi criar uma trad u ção fu n cio n a l cên ica. Os vazios m a­
terializam a fragmentação {sparagm ós) dionisíaca interna que leva
a uma sucessão de ações e pensam entos às vezes concluídos e al­
gumas outras vezes nitidamente incondusos. Inserim os o pronom e
pessoal de primeira pessoa para recuperar os particípios, evitamos
perífrases, mesóclises, formas oblíquas dos pronomes e gerúndios
que materializam ações extendídas, organizações mentais refletidas
e prolongadas no português. Deixamos as lacunas, preservadas por
reticências e frases curtas e suspensas! elas serão preenchidas em
cena com gestos e outros signos. Tentam os adequar a imediatici-
dade planejada traduzindo, por exemplo, o futuro (formas conden­
sadas e de ritm o curto na fala antiga) e, em momentos, também o
particípio pelo presente histórico, artifício im perioso para recuperar
o fluxo im ediato e im pactante da tragédia.
D escobrim os coisas inusitadas, particularidades que talvez
não sejam imagináveis hoje. P or exem plo, falando de m ães e filhos,
após a tradução notam os que nessa peça não há - uma vez sequer
- o registro da palavra fiiho/υΐός; curioso, n ão ?23 Vocês diríam que
talvez a palavra não existisse ou não fosse de uso com um à época.
Inform o, porém , que C hantraine não confirm a essa hipótese26. A
palavra existia e era de uso com um , exceto para os trágicos. In-

15 . Das peças de Euripides, vamos encontrar o termo somente em T r o ia n a s, w. 987 e 747;


v. 539; 110 F r a g m e n te 424; O restes, 1689.
R esox,
z6. Traduzimos e transcrevemos trechos do Pierre Chantraine, D/ítíonuíre Ê ty m olog iq u e d e
ia L an g u e G recq u e (pp. 1153-1154): “υίός: 'filho' (Horn., itm .-att. etc.), também Oóe (aí.),
forma mais arcaica υίι>, (lacrem., cretense) c ύυς (inrer. at.) e üç contrato (itud.); acus. uióv
(Cretanse), υϊα (Horn.), niter (Horn., raro), usualmente uíòv (Horn, jm i.-a t. etc); gen. dièoç
(Horn..)™.-fl/.), yloç (Horn., Lessálio), ι>ιί)ος (poetas hclcnístícos e tardios), υιού (Corcíra
século VI a.C., O d 22,238 .jtm .-iit. etc.); dat. uíéi, uíõ ey[i (Hom.). uieie οίψ(jo n .-a t.); nom.
pl. uiéec;, ιιίες e uitiç (Hom.), ultK e uioi (jon.-at.)·. ίιιήΐς (poetas hclenisticos e tardios); acus.
uitivq (Crera), υίεας e ytac (Hom.),íiu, e i - i ( , v gen. oitev (Hom,), 1 1 - e lif,'-
(jott.-aí.)·, dat. iiítíu! e uíoToi (Hom.), niÉtrte υίοϊς (jo n .-a t.), Como se vê a palavra per­
corre terttos antigos e tardios de regiões diversas, Chantraine continua 0 verbete afirmando
que “a palavra υιός ‘hiho’ é corrente no átíco, rara n.s trágicos, ela compete com Raie que
t atestada somente em Heródoto". Há um registro de seu uso no dimínutívo, vífiiov, em
V espas de Aristófanes (v. 1356), umhápax; o ático utiliza, para ddiminutive, mais frequen­
temente a forma ürôoüc
3# M EDEIA

crível, não? C om o m atar o que não existe? Nessa perspectiva, de


fato, M edeia não m ata seus filhos, ela m ata todos os correlatos que
determ inam a relação m atriz e filial: os herdeiros, a prole, os re ­
bentos, frutos, crias, a estirpe, os d escen d en tes... Essa p articulari­
dade do texto em questão nos leyou a repensar a cultura antiga, as
relações fam iliares, a narrativa teatral e m esm o a construção poé­
tica da tragédia. Pelo m esm o m otivo, evitamos, o mais possível,
o uso do vocábulo “filho”. Não conseguim os, contudo, elim iná-lo
totalm ente. P or fim, nossa opção pendeu sempre por palavras de
im pacto, de corpo, estranham ento, distanciam ento, m assa cênica,
fem inilidade; nos moldes que em prega A ristófanes no ag ó n entre
Esquilo e Euripides em Rãs. Havia uma preocupação de ajustar
cada term o ao contexto poético e cultural do texto grego,
M as não paramos por aí. Ao fim do espetáculo, tal com o faziam
os gregos, para exorcizar a dor gerada, na esteira dos antigos que in­
tegravam ao festival de tragédias espetáculos de drama satírico e de
comédia, inserim os uma paródia - de autoria de Ana C ristina Fon­
seca dos Santos e A ndreia Garavello - da peça euripidiana. A peça
côm ica, intitulada 0 L a d o O bscuro d o A m or, foi escrita e gravada
com o uma radionovela da Trupersa e foi publicada pelos C a d ern os
V iva V oz da Faculdade de Letras da Universidade Federal de M inas
Gerais. N o fina) deste volum e publica-se uma nova versão da mesma
obra, com trechos revistos e acrescidos pela direção de tradução sob
o título A m or, A b ism a d o A m or. Assim, de ruínas do trágico con s­
truím os o riso. A nossa intenção: dom esticar a d or e regenerar, pelo
riso e pelo rebaixam ento, a alegria. Detalhes sobre o processo ficarão
para outra etapa. Cabe somente recordar que o drama satírico foi
durante cerca de 150 anos parte integrante dos festivais de tragédia e
que os gregos não se propunham a oferecer para seus espectadores
espetáculos trágicos sem desconstrui-Ios pelo riso27. Assim sendo, a

27. Bemd Seidensticker, “Dithyramb* Comedy and SarypPIay", em Justina Gregory (ed.)* Λ
Oxford, Blackwell, 2005, p. 44,
C om p an ion d o G reek T ragedy,
PREFÁCIO 39

postura dionisíaca dos rituais antigos, com a inclusão de nossa pa­


ródia, se conserva.
Finalm ente, esperamos que a Trupersa - Raça Dourada de G re­
gos Brasílicos - possa oferecer não somente este texto, mas muitas
outras peças para ocuparem as praças do vasto Brasil afora! Agra­
decemos a todos pela oportunidade. À Capes, ao Pós-Lit-Fale-
- ü f m g , ao Program a Artista Visitante da u f m g , à p g e t - u f s c . A o s

integrantes, colaboradores, leitores, apoiadores e espectadores da


Trupersa, aos colegas e amigos A ntônio Orlando D ourado Lopes,
Jacyntho Lins Brandão, Leda M artins, M arcos Antônio Alexandre,
O lim ar Flores Júnior {consultor e revisor eleito pelos participantes
da Trupersa) e Teodoro Rennó Assunção por seu apoio, suas críti­
cas e sugestões sempre muito bem -vindas. Por ora, que se inicie o
espetáculo de leitura!
ΜΕΔΕΙΑ
MEDEIA
42

Τ ροφ ός
Ε ϊθ ’ ω φ ελ ’ Ά ργους μή δ ια π τ ά σ θ α ι σ κ ά φ ο ς
Κ όλχω ν έ ς α ία ν κ ν α ν έ α ς Σ ν μ π λ η γ ά δα ς,
μη S' έν ν άπ αισ ι Π ηλίον π εσεϊν π ο τέ
τμ η θ είσ α πεύκη , μ η δ ' έρ ετ μ ώ σ α ι χ έ ρ α ς
5 ά ν δ ρ ω ν ά ρ ισ τ έ ω ν oi rò π ά γ χ ρ ν σ ο ν Βέρος
Π ελ ία μετήλθον. ο ν γ ά ρ ã v δ έ σ π ο ιν ' έμή
Μ ή δ εια π ύ ρ γ ο υ ς γη ς έ π λ ε ν α ' Ίω λ κ ια ς
έρ ω τι θυμ όν έ κ π λ α γ ε ισ ’ Ίά σ ο ν ος:
ο ύ δ ’ α ν κ τ α ν εΐν π ε ίσ α σ α Π ελ ίά δ α ς κ ό ρ α ς
ιο π α τ έ ρ α κ ατώ κ ει τή ν δε γην Κ οριν θ ίαν
<φ ίλω ν τ ε τω ν π ριν ά μ π λ α κ ο υ σ α καί πάτρας
καί π ριν μ εν είχε κ ά ν θ ά δ ' ον μ εμ π τόν β ίον>
ξόν ά ν δ ρ ί κ α ί τέκνοισιν, ά ν δ ά ν ο ν σ α μ εν
φ ν γ ά ς π ο λ ίτ α ις ών ά φ ΐκ ετο χ θ ό ν α
αντφ τε π ά ν τ α ξ ν μ φ έρ ο υ σ ' Ί&σονι:
ή π ερ μ εγίσ τη γίγ νεται σω τηρία,
ij ό τ α ν γυνή π ρ ο ς ά ν δ ρ α μ ή διχοστατή .
ν ν ν δ ’ έχ θ ρ ά π ά ν τα , κ α ί ν ο σ εί τά φ ίλτατα,
π ρ ο δ ο ν ς γ ά ρ α υ τ ο ύ τ έκ ν α δεσπ ότη · τ ’ έμήν
γ ά μ οις Ίά σ ω ν β α σ ιλ ικ ο ις εύ ν ά ζ ετ at,
γή μ ας Κ ρ έο ν το ς π α ιδ \ ός α ίσ ν μ ν ά χ θονός.
2ο Μ ή δεια δ ’ ή δ ύ σ τη ν ο ς ή τιμ ασμ ένη
β ο α μ εν όρκου ς, ά ν α κ α λ ε ι δε δ εξ ιά ς
πίστιν μεγίστην, κ α ί θ εού ς μ α ρ τ ύ ρ ετ α ι
ο ϊα ς αμ οιβ ή ς έ ξ Ί ά σ ο ν ο ς κυρεί.
κ είτα ι δ ’ ά ο ίτ ο ς , σ ώ μ ’ ύφ εϊσ' άλγη δόοιν,
2$ toν π ά ν τ α σ υ ν τή κ ο ν σ α δ α κ ρ ν ο ις χ ρ ό ν ο ν
έπ εί π ρ ο ς ά ν δ ρ ό ς ή σ θ ε τ ' ήδικημένη,
ο ν τ ' δμμ ’ έ π α ίρ ο ν σ ’ ον τ ’ ά π α λ λ ά σ σ ο ν σ α γης
π ρό σ ω π ον ; ώ ς δ έ π έτρ ο ς ή θ α λ ά σ σ ιο ς
κλ νδω ν ά κ ο ύ ει νουθ ετού μ ενη φίλων,
30 ήν μή π ο τ έ σ τ ρ έψ α σ α π ά λ λ ε ν κ ο ν δ έρ η ν
αύ τή π ρ ο ς α υ τ ή ν π α τ έ ρ ’ άπ οιμ ώ ξη φίλον
κ α ί γ α ϊα ν ο ικ ο ν ς θ ’, ον ς π ρ ο δ ο ν σ ' άφ ΐκ ετο
43

ΑΜΑ
Pudera ο casco da nau Argos nunca ter batido asas pra terra
colca de rochas sombrias e m oventes...
Pudera, nos vales do Pélion, nunca ter caído cedro, cortado pra
aumentar com remos as mãos dos melhores homens, os que
5 trouxeram a capa de puro ouro para Pélias... Aí, quem sabe,
m inha senhora
Medeia não tinha varado terra lolca, muralha coríntia;
de amor ferida no p e ito ... por Jasão!
Nem tinha instigado as filhas de Pélias a matar o pai.
jo Nem vivia nesta terra de C orinto com m arido e filhos.
<e não tinha - primeiro - enganado os amigos nem os
conterrâneos, com certeza não tinha ali pcjosa vida>
Fugitiva, benfazeja pros cidadãos dessa terra;
ela favorecia Jasão em tudo.
E isto é a grande segurança:
que a mulher do marido não discorde,
y Mas agora tudo é ódio. Padece pelo que mais ama.
Claro! O traidor de seus próprios filhos
e de m inha patroa, Jasão, deita e rola
na cama real: casou com a filha de Creonte,
o que comanda a região.
20 E Medeia, a infeliz desonrada,
grita as juras, invoca a mão direita
- o grande pacto - e pros deuses dá
provas de que paga ganhou de Jasão.
E jaz, em jeju m , corpo entregue às dores,
25 derretida em lágrimas todo o tempo,
desde que se viu enganada pelo homem.
Não ergue o olho, nem tira a cara da terra;
é com o rocha ou onda de mar,
que escuta aborrecida os conselhos dos amigos.
50 Vez em quando vira pescoço branquinho e,
prela mesma, lastima o pai querido
e a terra e a casa, coisas que, traindo, largou
44

μ ε τ ' ά ν δ ρ ό ς ος σψε νυν ά τ ιμ ά σ α ς έχει,


εγ ν ω κ ΐ δ ’ ή τάλαινα. σ υ μ φ ο ρ ά ς νπο
35 ο ίο ν π α τ ρ ώ α ς μ ή ά π ο λ ε ίπ ε σ θ α ι χθονός.
σ τ ν γ ε ΐ δέ π α ϊδ α ς ο ν δ ' ό ρ ώ σ ’ εύ φ ρ αίν ετα ι.
δ έ δ ο ικ α δ ’ α υ τή ν μή τι β ο ν λ εύ σ η νέον:
β α ρ ε ία γ ά ρ φρήν, ο ύ δ ' ά ν έ ξ ε τ α ι κ α κ ώ ς
π ά σ χ ο ν α ’ (έγ ώ δ α τή νδε) δ ειμ α ίν ω τ έ νιν
4ο μή θ η κ τον ό σ η φ ά σ γ α ν ο ν δι ’ ή π ατο ς
[σιγή δ ό μ ο υ ς ε ί σ β ά σ ’, ÍV’ ε σ ψ ω τ α ι λέχος,}
ή κα/ τυ ρ ά ν ν ο υ ς τόν τε γ ή μ α ντα κτάνη
κ ά π ειτ α μείζω σ υ μ φ ορ άν λ ά β μ τινά.
δεινή γ ά ρ : οϋ τοι ρ α δ ιω ς γε σ υ μ β ο λ ώ ν
45 έχ θ ρ α ν τις α υ τ ή κ α λ λ ίν ικ ο ς ά σ ετα ι.
άλΑ ’ οί'& π α ϊδ ε ς έ κ τρόχω ν π επ χ ν μ έν οι
στείχονσι, μ η τρός ο ύ δ έν εν νοούμ ενοι
κ α κ ώ ν : νέα γ ά ρ φ ρον είς υ ύ κ ά λ γ εΐν φιλεί.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
π α λ α ιό ν οϊκω ν κ τή μ α δεσ π οίνη ς έμής,
50 τί π ρ ο ς π ύ λαισ ι τ ή ν δ ' ά γ ο υ σ ’ έρη μ ίαν
εσ τη κ α ς, α υ τ ή θρ εομ έν η σ α ν τή κ α κ ά ;
πώ ς σ ου μόνη Μ ή δεια λ είπ εσ θ α ι θέλει;

Τ ροφ ός
τέκ ν ω ν ο π α δ έ π ρέσβν τών Ίάσονος,
χ ρ η ο τοϊσ ι δ ο ό λ ο ις ζνμ φ ορά τ ά δ εσ π ο τ ώ ν
55 κακώς ττίτνοντα, κ α ι φ ρένω ν ά ν θ ά π τ ε τ α ι.
έγώ γ ά ρ ές τ ο ν τ ’ έ κ β έ β η κ ' άλ γ η δόνος
(όσθ ’ ίμ ερός μ ’ ύπ ή λθ ε γή τε κ ού ρα ν ω
λέβαι μ ο λ ο ν σ η δ εύ ρ ο δεσπ οίνη ς τύχας.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
ο ϋ π ω γ ά ρ ή τ ά λ α ιν α π α ύ ε τ α ι γόων;
45

com um homem que agora a desonrou.


A infeliz aprendeu na desgraça
35 o que é abandonar a terra pátria.
Abomina os filhos e nem lhe agrada vê-los.
Temo que ela planeje algo novo:
é que um coração pesado, que sofre, não
resistirá nada, <conheço ela!> e tem o que ela
40 empurre uma espada afiada contra o fígado
[ou - na calada, entrando em casa, onde
está arrumada a cama] - mate o tirano
que se casou e aí lhe venha uma desgraça maior.
E ela é terrível: não vai ser fácil
45 quem caiu no ódio dela cantar triunfante.
Mas estas crianças, acabada a correría,
vão para a mãe sem saberem de seus males:
mente jovem não gosta de sofrer.

PEDAGOGO
0 prata velha da casa! Serva de m inha patroa,
50 por que ficas nos portões, carregada de solidão,
chorando sobre ti mesma os próprios males?
Com o assitn?! M edeia está só e te quer longe?

AMA
Idoso com panheiro dos m eninos de jasão,
pra um bom servo a desgraceira dos senhores
55 desaba com força e abate os corações.
Assim eu cheguei numa tal dor, que me veio
o desejo de - pra terra e pro céu - vir aqui
dizer a sorte da senhora.

PEDAGOGO
Então, a infeliz não desistiu dos gemidos?
Τ ροφ ός
ζηλώ σ ’: έν ά ρ χ ή π ή ρ α κ ο ύ δ έπ ω μέσοι.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
ώ μώ ρος, ι ί χ ρ ή δ ε σ π ό τ α ς είπ εϊν τάδ ε:
ώ ς ον δέν ο ΐδε τών ν εω τέρω ν κακώ ν.

Τ ροφ ός
τί δ ' εστιν, ώ γ εραιέ; μ ή φ θονεί φ ράσαι.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
ονδέν: μ ετέγ ν ω ν κ α ί τά π ρ ό σ θ ' είρημένα.

Τ ροφ ός
μή, π ρ ο ς γενείον, κ ρ ύ π τ ε σ ν ν δ ο υ λ ο ν σέθεν:
σιγήν γάρ, εί χρή, τώ ν δ ε Θήσομαι πέρι.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
ή κ ο ν σ ά τον λ έγ ον το ς, ο ν δ ο κ ώ ν κλύειν,
π εσ σ ο ύ ς προσελθώ ν, έν θ α δή π α λ α ίτερ ο ι
θ ά σ σου σι, σεμ νόν άμφι Π ειρήνης ύδωρ,
ώ ς τ ο ύ σ δ ε π α ϊδ α ς γης έλάν Κ ορινθίας
σ υ ν μ η τρί μ έλ λ ο ι τή σ δ ε κ ο ίρ α ν ο ς χ ό ο ν ό ς
Κρέων. ό μ έντοι μ ύ θ ος ει σ αφ ή ς δ δ ε
ον κ ο ϊδ α : β ο ν λ ο ίμ η ν δ ’ άν ού κ είναι τάδε.

Τ ροφ ός
κ α ι τ α ΰ τ ’ Ίά σ ω ν π α ϊδ α ς έξ α ν έξετ α ι
π ά σ χ ο ν τα ς, ει κ α ί μ η τρί δ ια φ ο ρ ά ν έχει;

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
π α λ α ιά καιν ώ ν λ ε ίπ ε τ α ι κη δενμάτω ν,
κ ο ύ κ ε σ τ ’ εκ είν ο ς τ ο ϊσ δ ε δώ μ ασιν φίλος.
47

ΑΜΑ
ou Te invejo; a coisa só com eçou e nem chegou ao m e io ...

PEDAGOGO
Que tonta - se convém dizer isto dos patrões, hã? -
não sabe nada das desgraças mais recentes.

AMA
Que é, ô velho? Não recuses contar.

PEDAGOGO
Nada; aliás, já até me arrependí do que disse.

AMA
05 Pelo teu queixo, não faças m istério pra tua com panheira de
servidão: guardo isso em silêncio, se for preciso.

PEDAGOGO
Escutei por aí, sem parecer que ouvia,
quando ia pra praça dos jogos, onde os bem velhos se sentam,
ao redor da santa fonte Pirene,
/í> que essas crianças, dessa terra coríntia,
com a m ãe, o rei Creonte vai expulsar
pra longe. Se a história é certa,
isso não sei. Q ueria que assim não fosse, hã?

AMA
E com o Jasão suporta ver os íilhos sofrerem tal?
75 A briga dele não é com a mãe?

PEDAGOGO
As velhas pelas novas! As alianças são deixadas
e aquele não é am igo desta casa.
48

Τ ροφ ός
ά π ω λ ό μ ε σ θ ’ &ρ \ εί κ α κ ό ν π ρο σ οίσ ο μ εν
νεον π α λ αιω , πριν τ σ δ ' έξη ντλη κέναι.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
So ά τ ά ρ σύ γ ο ύ γ ά ρ κ α ιρ ό ς είδέν α ι τάδ ε
δέση οιναν, η σύχ αζε κ α ι σ ίγ α λόγον.

Τ ροφ ός
ώ τέκ ν ά κ ο ν ε θ ’ ο ϊο ς εις νμ ά ς π α τή ρ;
δλΰ ιτο μέν μ ή: δ εσ π ό τ η ς γ ά ρ έ σ τ ’ έμ ός:
&τάρ κ α κ ό ς γ ’ ώ ν έ ς φ ίλ ο υ ς ά λ ίσ κ ετ α ι.

Π α ιδ α γ ω γ ό ς
85 τις δ ’ ονχι θνητώ ν; άρ τι γιγνώ σκεις τάδε,
ώ ς π α ς τις α υ τ ό ν τοΰ π έ λ α ς μ ά λ λ ο ν φιλεϊ,
[οί μ εν δικαίω ς, οι δ ε κ α ι κ έρ δ ο υ ς χ ά ριν ]
εί τ ο ν σ δ έ γ ’ εύ ν ή ς ο ΰ ν ε κ ’ ο ύ σ τέργ ει π α τή ρ;

Τ ροφ ός
ϊτ ε ν γ ά ρ εσ ται, δ ω μ ά τω ν ’έ σω, τέκνα,
90 σν δ ’ ώ ς μ ά λ ισ τ α τ ο ύ σ δ ’ έρ η μ ώ σ α ς έχε
κ α ι μή π έλ α ζ ε μητρι δνσθνμ ονμ ένη .
ήδη γ ά ρ είδο ν δμ μ α νιν ταύ ροιιμ ένη ν
τ ο ϊ σ δ ώ ς τι δ ρ α σ είο ν σ α ν : ο υ δ έ π α ύ σ ετα ι
χόλον, σ άφ ’ ο ϊδα , πριν κατασκή ψ ιχί τινι.
95 εχ θ ρ ο ύ ς γε μέντοι, μή φίλους, δ ρ ά σ ε ιέ τι.

Μ ή δ εια
ίώ,
δύστανος ê jw μ ε λ έ α τ ε πόνων,
ίώ μ οί μοι, π ώ ς άν όλοίμ αν;
49

ΑΜΑ
Ara! Estam os perdidos, se o novo mal
som a com o antigo, antes dele acabar.

PEDAGOGO
8o Mas tu, ó, ainda não é hora da patroa saber
disto, hã? Fica quieta e segura a língua!

AMA
Ô meninos, escutai como é vosso pai!
Não que m orra - é meu senhor -
mas sendo mau pros am igos... é culpado...

PEDAGOGO
8j E qual dos mortais não?! Só agora sabes isto, hã?
Que todo mundo ama a si mais do que ao próximo,
[uns com justiça, outros por vantagem] se é m esm o que, por
causa da cama, o pai não gosta mais destes.

AMA
Ide! Que seja pra bem ! Pra dentro de casa, crianças!
go E lu, guarda-os bem longe, o mais possível
e não te achegues da mãe entojada.
F, que já vi o olhar dela: toureira
- prestes aqui, com o q u e ... Matutando algo. E não vai acabar
com a sanha - vê bem - antes de atacar alguém. Que faça isso!
95 Mas contra os rivais, não contra os amigos!

MEDEIA
ilh ...! ôÔ eu!
Infeliz! Sofro em vão!
ilh ...! ô Ô ...! m m ôl, mmoi, com o queria morrer!
50

Τ ροφ ός
τ ό δ ' έκεινο, φίλοι π α ΐδ ες : μ ή τη ρ
κ ιν εί κ ραδ ία ν , κινεί 6 έ γσΑον.
ιοο σπεύδετε θ ά σ σ ο ν δ ώ μ α τ ο ς είσω
κ α ι μή π ε λ ά σ η τ ' ά ρ μ α τ ο ς έγ γνς
μ η δε π ρ ο σ έ λ θ η τ άΑΑά φ ν λ ά σ σ ε σ θ ’
ά γ ρ ιο ν ή θος σ τ υ γ ερ ά ν τ ε φύσιν
φ ρενός α ν θ ά δ ο ν ς .
ws ιτε ννν, χ ώ ρ ε ΐθ ' ώ ς τάχ ο ς εϊσω :
δ ή λ ο ν ά π ' άρχή ς έξ α φ ό μ εν ο ν
νέφ ος οίμω γής ώ ς τ ά χ ’ αν ά ψ ει
μείζονι θνμώ: τΐ π ο τ ’ έρ γ ά σ ε τ α ι
μ εγ α λ ό σ π λ α γ χ ν ο ς δ ν σ κ α τ ά π α ν σ τ ο ς
no ψνχή δηχ Ο άσα κακοϊσιν;

Μ ή δ ε ια
α ία ς
έπ α θ ο ν τλάμ ω ν επ α θ ο ν μ εγ άλ ω ν
ά ξ ι ' όδνρμ ώ ν, ώ κ α τ ά ρ α τ ο ι
π α ΐδ ε ς ο λ ο ια θ ε σ τ ν γ ερ ά ς μ α τρ ό ς
συ ν π ατρί, κ α ι π ά ς δ ό μ ο ς êppoi.
I
Τ ροφ ός
ιΐ 5 ίώ μ ο ί μοι, ίώ τλήμων.
τί δ έ σοι π α ΐδ ε ς π α τ ρ ό ς ά μ τιλ ακ ια ς
μ ετέχ ουσ ι; τί τ ο ύ σ δ ’ εχθεις; οϊμοι,
τ έκ ν α , μ ή τι ττάθη θ' ώς όπ εραλγώ .
δ ειν ά τυ ρ άν ν ω ν λ ή μ α τ α κ α ί πω ς
|ι 12 0 ό λ ίγ ! ά ρ χ ό μ εν ο ς πολλά κρατούντες
χ α λ ε π ώ ς ό ρ γ ά ς μ ετα β ά λ λ ο υ σ ιν .
τό y à p είθ ίσ θ α ι ζήν έ π ’ ισοισιν
κ ρεϊσ σον: έμ οϊ γ ο ν ν έπ ί μή μ εγ ά λ ο ις
I όχ ν ρώ ς τ ’ εϊη κ αταγ η ρ άσ κ ειν .
l1 12 $ τω ν γ ά ρ μ έτρ ιω ν π ρ ώ τ α μ εν είπεϊν

I
r-

AMA
É isso aí, filhos queridos! A m ãe...
no coração palpita! A zanga palpita!
loo Apressai-vos, rápido, pra dentro de casa,
e não chegai junto do seu olhar!
Nem passai perto, mas vigiai!
G ênio d ifícil... Natureza odienta
de peito arrogante!
ws Ide agora! Correi, ligeiro, pra dentro!
‘Stá claro o co m eço ... Suspensa, a nuvem de
lágrimas ferverá logo com maior calor!
E então, que farão as furibundas
e enorm es entranhas!?
no A alma mordida pelo mal!?

MEDEIA
Aiai!
Desgraça! Sofri, sofri grandes e
m erecidos pesares. Ô malditos - que morram -
filhos da mãe odiada!
Com o pai e toda a casa desapareçam!

AMA
iJ5 iôÔ, mãe! lômôi, desgraçada!
E por que - pra ti - os filhos entram na culpa
do pai? Por que odeia estes? Ô i eu!
C om o me dói, meninos! Que não sofram!
Vontades terríveis de tiranos!
i 2o Q uão pouco se dom inam ! São muito mandões; e
que dificuldade é acalmarem o rancor...
Pois acostumar a viver entre iguais
é o melhor! E eu quero mais é,
sem grandezas, na dureza envelhecer...
125 Pois então! Pra vencer, que se diga antes
51

το όν ομ α ν ικ ά , χ ρ ή σ θ α ΐ τε μ α κ ρ ώ
λ φ σ τ α βροτοϊσιν; τά 0“' ν π ε ρ β ά λ λ ο ν τ '
ο ν δ έ ν α κ α ιρ ό ν δ ν ν α τ α ι θνητοϊς,
μ είζονς δ ’ &τας, ό τ α ν όργισθμ
iso δ αίμ ω ν οϊκοις, άπ έδω κεν.

Χ ορός
ίκ λ ν ο ν ψωνάν, έκ λ ν ον δέ β ο ά ν
τάς δνστάνον
Κ ολχίδος: ού δ έπ ω ήπιος;
ΐ3 5 άΑΑ ’ ώ γ ερ α ιά , Αέξον. ά π ' άμ ψ ιπόλυυ
γ ά ρ εσ ω μ ε λ ά θ ρ ο ν β ο ά ν
έκλνον, ο υ δ έ σ ννή δομ αι, ώ yvvca, άλ γεσι
δ ώ μ ατο ς, έπ εί μ οι φ ιλία κ έκ ρ α τ α ι.

Τ ρνφύς
ού κ είσϊ δόμ οι: φ ρ ο ύ δ α τ ά δ ’ ήδη.
ΐ 40 ròv μέν γ ά ρ έχει λ έ κ τ ρ α τυράννω ν,
ή δ ' έν θ α λ ά μ ο ις τή κει β ιοτή ν
δέσ π οιν α, φίλων ο ύ δ εν ό ς ο ύ δ έν
π α ρ α θ α λ π ο μ έ ν η φ ρέν α μ ύθοις.

Μήδεια
αίαι,
δ ιά μ ο ν κ ε φ α λ ά ς φ λ όζ ο ύ ρ α ν ία
14 5 β αίη : τ ί δ έ μοι (ήν έτι κέρ δος;
φεν φεν: θ α ν ά τ ω κ α τ α λ ν σ α ίμ α ν
β ιο τ ά ν σ τ υ γ ερ ό ν π ρολ ιπ οϋ σ α.

Χ ορός
ιτιές, ώ Ζ εν κ α ι γ ά κ α ί φώς,
ά χ ά ν ο ια ν ά δ ύ σ τ α ν ο ς
iso μ έλ π ει νύμφα;
τις σ ο ί π ο τ έ τάς ά π λ ά -
το υ κ η ίτας έ ρ ο ς , ώ μ α τ α ία ;
o nome da Cautela! Usar dele é muito
m elhor pros vivos: exageros dão vantagem
nenhuma pros mortais.
A cegueira maior é quando,
130 irritado, um dem ônio visita a ca sa ...

CORO
Ouvi v o z ... Eu ouvi um berro
da desgraçada colca. E
não foi nada brand o...
135 Mas me conta, ô velha: saiu das portas duplas,
de dentro do p alacete... Um grito
eu ouvi! Não me alegro não, ô mulher, com as
dores desta casa. Tempera mais doce.

AMA
Casa? Não há! Agora desgraçou tudo!
14 0 É assim: um tem a cama dos tiranos,
a outra derrete a vida nos lençóis, a senhora.
Não há, dos amigos, nenhum.
Nem um coração aquecido com p alavras...

MEDEIA

Aiali!
Atravesse a minha cabeça a chama celeste!
145 O que eu ganho ainda estando viva?
Phu! Que na morte me perca!
Que uma vida de desgraça abandone!

CORO
Ouça Zeus! Terra e l u z ...
em que tom canta
iso a desgraçada ninfa!
Que desejo é esse, em ti,
do leito fatal, louca!?
54

σ π εν σ ει θ α ν ά τ ο υ τ ελ ε υ ­
τ ά : μ η δέν τ ά δ ε λίσσον.
155 £ί’ α ό ς πύσις
κ α ιν ά λέχη σεβί-
ζει, κείνω τ ά δ ε μή χ α ΐ)άσ σον :
Ζ ευς σοι τ ά δ ε σννδική σει.
μ ή λ ία ν
τ ά κ ο ν δν ρ ομ έν α σόν εννάταν.

Μ ή δ εια
ι6 ο ώ μ ε γ ά λ α Θέμι κ α ι πότνι ’ Ά ρτεμι,
λ ε ύ σ ο εθ ’ â πάσχω , μ ε γ ά λ ο ις δ ρ κ ο ις
έν δ η α α μ έν α τον κ α τ ά ρ α τ ο ν
πόσιν: δν π ο τ ' έγ ώ νύμφοιν τ ' έ α ίδ ο ιμ '
α ύ τ ο ϊς μ ελ ά θ ρ ο ις διακ ν α ιομ έν ου ς,
i 6s ο Γ έμ ε π ρ ά σ θ εν ιο λ μ ώ σ άδικεϊν.
ώ π ά τερ, ώ πόλις, ών κ ά σ ιν α ισ χ ρ ώ ς
τον έμ όν κ τ ε ίν α σ 1 άπ ενάσ θ η ν .

Τ ρ οφ ός
κλιί^β 1 υ ίά λέγει κ&πιβο&ται
Θ έμιν ε ν κ τ α ία ν Ζ ηνός, ό ς όρ κω ν
ι-o θν η τοΐς τ α μ ία ς νενόμ ισται;
ον κ έσ τιν 'όπως εν τινι μ ικ ρ ω
δ έσ π ο ιν α χ ό λ ο ν κ α τ α π α ν σ ει.

Χ ορός
π ω ς ά ν έ ς οψ ιν τάν ά μ ετ έρ α ν
έλ θ ο ι μ ύ θω ν τ' α ύ δ α θ έν τ ω ν
J75 δ έ ξ α ιτ ' όμφάν,
ε ΐ πω ς β α ρ ν θ ν μ ο ν όρ-
γάν καί λ ή μ α φ ρένω ν μ εθ εί η;
μ ή τοι τό γ ’ έμ όν π ρ ό θ υ ­
μ ο ν φ ίλοισιν άπ έσ τω .
ι8 ο άλΑά β ά σ ά νιν
Tens pressa do fim? Da morte?
Nada assim suplique.
155 Se o teu esposo
venera estas camas frescas,
não te aflijas!
Zeus, disto, te fará justiça.
Lacrimosa demais!
Pelo teu homem, não te amofines!

MEDEIA
160 O grande Têmis e soberana Artemis,
vede 0 que sofro,
atrelada ao marido por juras solenes.
Que eu possa ver algum dia o maldito
e a noiva arruinados no palacete deles.
165 Eles, antes, tiveram a coragem de me ultrajar.
O pai, ÔO pátria, que me expulsastes pela vergonha
de ter matado meu irmão!

AMA

Escutai de que modo faia e urra...


Têmis sagrada e Zeus das juras,
170 o dito juiz pros mortais,
não é com pouco
que a senhora acalma a zanga...

CORO

- Como ela há de chegar à nossa


vista e receber a voz
175 das palavras ditas?
- Se esse ânimo pesado, o impulso e o
propósito ela pudesse do peito dispor!
- Por certo, meu zelo não deixa...
não deixa os amigos.
j So - M as anda!
δ εύ ρ ο π ό ρ ευ σ ον ο ί­
κω ν εξω: φ ίλα κ α ί τ ά δ ’ α ν δα,
σ π ε ν σ α σ ά τι ηρίν κ α κ ώ σ α ι
τού ς έσω :
π έν θ ο ς γ ά ρ μ ε γ ά λ ω ς τ ό δ ' ό ρ μ ιϊτ α τ

Τ ροφ ός
δ ρ ά σ ω τ ά δ ά τ ά ρ φ όβ ος εϊ πείσω
δ έσ π ο ιν α ν έμήν:
μ ό χ θ ο ν δέ χ ά ρ ιν τ ή ν δ ’ έπιδώ σω .
κ α ιτ ο ί τ ο κ ά δ ο ς δ έρ γ μ α λ εαίν η ς
ά π ο τ α ν ρ ο ν τ α ι δμαισίν, ό τ α ν τις
μ ύ θον π ρο φ έρ ω ν π έ λ α ς όρμηθή.
σ κ α ιο ύ ς δ ε λ έγ ω ν κ ο ν δ έν τι σοφ ούς
του ς π ρ ό σ θ ε β ρ ο τ ο ν ς σ ύ κ αν ά μ ά ρ τ ο ις,
οϊτινες νμ νονς έπί μέν θ α λ ια ις
επ ί τ ’ είλ α π ίν α ις κ α ί π α ρ ά δείπ ν οις
η ν ρο ν το β ίω τ ερ π ν ά ς ά κ ο ά ς ;
σ τν γ ίο ν ς δ έ β ρ ο τ ώ ν ο ν δ εϊς λ ύ π α ς
η ϋ ρετο μ ο ύ σ ι; κ α ί π ολνχόρδοις
φ δ α ϊς π α ύ ε tv, ι ξ ώ ν θ ά ν α το ι
δ ειν α ι τε τύ χαι σ φ άλ λ ου σ ι δ όμ ο υ ς.
καίτσι τ ά δ ε μ έν κ έρ δ ο ς ά κ ε ισ θ α ι
μ ολ π α ΐσ ι β ρ ο τ ο ν ς: ίνα δ ’ εΰ δ ειπ ν οι
δαιτες, τί μ ά τ η ν τείνονσι β οή ν;
το π α ρ ό ν yàp ίχ ει τέρψ ιν άφ ’ α ύ τ ο ύ
δ α ιτ ό ς π λ ή ρ ω μ α βροτοΐσιν.

Χ ορός
ΐα χ ά ν ά ιο ν π ολ ύ σ τον ον
γόων, λ ιγ ν ρ ά δ ’ α χ ε α μ ο γ ερ ά
β ο α τον έν λ έχει π ρ ο δ ό τ α ν κακόννμ φ ον:
θ εοκ λ ν τει δ ’ ά δ ικ α < π άθη >
π α θ ο ν σ α τάν Ζ ηνός όρ-
κ ία ν Θέμιν, & νιν εβ α σ ε ν
57

ΐ Ε a ela, traga aqui.


' - Que de casa saia fora! Esta voz é amiga.
I Apressa-te, antes que malfaça
I aos de dentro:
I este luto transborda.

' a m a

Farei isso! Mas periga eu não convencer


JS5 minha senhora,..
Farei esse ingrato favor; mesmo
com aquele olhar de leoa parida,
a mirada de touro pros escravos, quando um
- pra dizer palavra - chega perto...
t9o Pra quem diz “sinistro e nada sábio são os antigos”
não posso dizer que erra...
Uns, hinos pra festas e mais banquetes
e ainda jantares pra vida, uns,
descobriram prazenteiras canções,
195 mas pra aliviar tristeza cruel nenhum
vivente descobriu - nem coa Musa, nem
11a harmonia das cordas - encantos.
É com isso que os mortos e as sortes terríveis
derrubam as casas. Mesmo assim, vantagem é cuidar destas
200 coisas com melodias. Pra isso. boas festas... convidados... Por
que aprumar um grito
pra nada? O presente tem sua própria alegria,
é mesa cheia pros víventes!

CORO
205 Um choro, ouví! Triste... Tão gemido...
Uma agonia dara e doída reclama
na cama o esposo ruim... Infiel.
Injustiça sofreu e aos deuses exora
a promessa de Zeus,
Têmís, a que lhe fez andar
5*

210 Έ λ λ ά δ ’ ές ά ν τ ίπ ο ρ ο ν
Ôt' ά λ α ννχιον έφ ’ ά λ μ ν ρ ά ν
Π όν τον κλ>]<5’ ά π έρα το ν .

Μ ή $ εια
Κ ορινθ ία/ γ υ ν α ίκ ες , έξή λ θ ον δόμ ω ν
315 μ ή μ ο ί τι μ έ μ ψ η σ θ oJS a γ ά ρ π ο λ λ ο ύ ς β ρ ο τ ώ ν
σεμ νού ς γεγώ τας, τού ς μ έν όμ μ άτω ν &πο,
τ ο ύ ς S ' έ ν θ υ ρ α ίο ις : οί δ ’ ά ψ ’ ή ούχου π ο δ ό ς
όιίσκλειαν έκ τ ή σ α ν τ ο κ α ι ραθυ μ ίαν,
δίκη γ ά ρ ο ν κ έ ν εσ τ ’ έν όψ θαλ μ οις βροτώ ν,
220 ο σ τις πριν ά ν δ ρ ό ς σ π λ ά γ χ ν ο ν έκ μ α θ εΐν σ αφ ώ ς
στν γει δ εδορκώ ς, ού δ έν ήδικημ ένος.
χ ρ ή δ έ ξένον μ έν κ ά ρ τ α π ροσ χ ω ρεϊν πόλει:
ο ύ δ ’ «στον ή νεσ ' ο σ τ ις α υ θ ά δ η ς γεγώ ς
π ικρός π ολ ίταις έσ τίν ά μ α θ ΐα ς ϋπο.
225 έμοι δ ' α ε λ π τ ο ν π ρ ά γ μ α προσπειτον τ ά δ ε
ψυχήν δ ιέ φ θ α ρ κ ’: οϊχομ αι δ έ κ α ι β ίου
χ ά ριν μ εθ εισ α κ α τ θ α ν ειν χρήζω, φ ίλ α ε
έν φ γ ά ρ ήν μοι π ά ν τα , ριγ νώ σκω καλώς,
230 κ ά κ ισ τ ο ς ά ν δ ρ ώ ν έκβ έβ η χ ’ ον μ ά ς πόσις.
π ά ν τω ν δ ’ ο σ ' ε σ τ ' έμ ψ υχα κ α ί γνώμην έ^ε/
γ ν ν α ϊκ ές έσ μ εν ά θ λ ιώ τ α τ ο ν φ υτόν:
&ς π ρ ώ τ α μ έν δει χ ρ η μ ά τω ν υ π ερ β ολ ή
πόσιν πρίασθοα, δ εσ π ότη ν τε σώματος
λ α β εϊν : κ α κ ό ν γ ά ρ τ ο ν τ ’ έ’ τ ’ ά λ γ ιο ν κακόν.
235 κ ά ν τ ω δ ’ ά γ ω ν μ έγιστος, ή κ α κ ό ν λ α β εϊν
ή χ ρ η σ τ ό ν : ο ν γ ά ρ ευκλεείς ά π α λ λ α γ α ι
γ νναιξίν ον δ ’ ο ιόν τ ’ ά ν ή ν α σ θ α ι π ό σ α ,
ές καινά 6 ’ ήθη κ α ί νόμ ους άψ ιγμένην
δ ε ϊμ ά ν τ ιν είναι, μή μ α θ ο ν σ α ν ο ϊκ οθ εν ;
240 δ π ω ς ά ρ ισ τ α χ ρ ή σ ετ α ι ξννευνέτμ.
κ&ν μ έν τ ά δ ’ ήμΐν έκ π ον ο υ μ έν α ισ ιν εύ
π ό σ ις ξννοική μή β ία ψ έρω ν ζυγόν,
ζη λ ω τός αιώ ν : εί δ έ μή, θανεϊν χρεώ ν.
59

no pela Hélade... Para o outro lado


do mar ... Da noite... Para o salino...
Sorvedouro vazante sem fim.

MEDEIA
Mulheres de Corinto, eu saí de casa;
215 Não me censure ninguém. Sei que muitos mortais
ficam reservados - uns longe dos olhos, outros às portas e
quem fica quieto ganha
má fama, é um fraco. Nào há
justiça nos olhos dos mortais: antes de
220 conhecerem bem o interior de alguém,
só de olhar já odeiam quem nada fez. Ao
forasteiro só cabe achegar-se muito à cidade;
ao de dentro que, arrogante, por estupidez
é cruel com os cidadãos, não aprovo.
2Λ5 Sobre mim, porém, esta coisa inesperada desabou
e arrasou rninh’ alma. Vou embora, perdí a
graça na vida e quero morrer, amigas!
Aquele que era tudo para mim, sei bem,
230 me saiu o pior dos homens, meu marido!
De tudo que é vivo e tem vontade,
mulheres somos as mais lamentáveis criaturas.
Primeiro, a preço exorbitante, é preciso
comprar um marido, um déspota de corpo
tomar: da desgraceira a mais dolorosa desgraça.
233 E a maior batalha é esta: conseguir um imprestável
ou um bom, é que o divórcio náo é bem visto pras mulheres e
nem o tal marido podem recusar.
Aí, ao se deparar com novos costumes e leis,
é preciso ser adivinha: não se aprende em casa
240 como melhor servir o companheiro. E se,
lida acabada, a nós o marido leva bem,
sem violência, aí, no cabresto, a vida
é invejável, Se não, é útil morrer.
6o

άνήρ 5 ’, ΰταν τοίς ένδον άχθηται ξννών,


2^5 έξω μολών έπαυσε καρδίαν &σης
[ή πρός φίλον πν’ ή πρός ήλικα τραπείς];
ήμιν δ ’ άνάγκη προς μίαν ψυχήν βλέπειν.
λέγονσι δ' ήμάς ώς άκίνδννον βίον
ζώμεν κ ατ’ οϊκονς, οί δε μάρνανται δορϊ,
2$ο κακώς φρονονντες; ώς τρις αν παρ ’ άσπίδα
στήναι θέλοιμ ’ άν μάλλον ή τεκειν άπαξ.
άΑλ ’ ον γάρ αυτός προς σέ κ&μ ’ ήκει Aóyoç;
σοί μένπόλις θ ’ ήι5’ έστ'ι και πατρόςδόμοι
βίον τ ’ δνησις καί φίλων συνουσία,
I 2$5 έγώ <5’ έρημος άπολις ού σ' υβρίζομαι
προς άνδρός, έκ γης βαρβάρου λελησμένη,
ού μητέρ ονκ αδελφόν, ούχΐ συγγενή
μεθορμίσασθαι τήσδ ’ εχοναα συμφοράς,
τοσοϋτον ούν σον τνγχάνειν βονλήσομαι,
26ο ήν μοι πόρος τις μηχανή τ ’ έξενρεθή
πόσιν δίκην τωνδ ’ άνπτείσασθαι κακών
[τόνδόντα γ ’ αντω θνγατέρ' ή τ ’ έγήματο],
σιγάν, γυνή γάρ ταΑΛα μέν φόβον πλέα
κακή τ ’ ές αλκήν και σίδηρον είσοράν:
265 όταν δ ’ ές εννήν ήδικημένη κνρή,
ονκ Ιστιν άλλη φρήν μιαιφονωτέρα.

Χορός
δράσω τάδ ένδικα>ς γάρ έκτείση πόσιν,
Μήδεια, πενθεΐν δ ’ οϋ σε θαυμάζω τύχας.
όρώ δε και Κρέοντα, τήσδ’ άνακτα γης,
Μ 370 στείχοντα, καινών άγγελον βουλευμάτων.

Κρέων
σέ την σκυθρωπόν καί πόσει θνμονμένην,
Μήδει άνειπον τήσδε γης έξω περάν
φνγάδα, Ααβονσαν δισσά σνν σαντή τέκνα,
και μή τι μέλλειν: ώς έγώ βραβενς λόγον

I

Mas o homem, quatido se irrita com os de casa,


245 sai e fora faz cessar o fastio do coração
[seja com um amigo, seja com um colega].
Já nós somos obrigadas a mirar uma só alma.
E dizem que nós vivemos uma vida segura,
em casa, e eles guerreiam com suas lanças.
250 Bobagem! Como queria junto do escudo
três vezes lutar a parir uma só vez!
Mas uma mesma história para mim e para ti não dá.
Tu tens essa cidade, a casa do pai,
vantagens na vida e a companhia de amigos;
255 já eu, solitária e sem pátria, afrontada
pelo marido, arrastada da terra bárbara,
sem mãe, sem irmão, sem família,
de porto em porto busco refúgio dessas desgraças.
Então, o que eu queria de ti é isto: se eu tiver alguma chance e
260 encontrar um meio engenhoso de,
com justiça, fazer meu marido pagar por esses males...
[e também 0 tal presentinho... A menina com quem casou]
Não conteis nada! Mulher é cheia de medo,
fraca para ver batalha e ferro,
265 mas quando acontece ser, na cama, injuriada,
aí não existe outra mente mais sanguinária.

CORO
Isso farei, pois é justo dar troco ao marido,
Medeia. E lamento, não admiro tua sorte.
Mas vejo chegando Creonte, desta terra o rei
2/0 e dos novos planos 0 mensageiro.

CREONTE
Por ti, a tenebrosa, a com o marido irritada...
Por ti, Medeia, ordenei que passes longe desta terra
fugida, levando comigo os dois filhos
e ... sem demorar! Como eu decido a questão,
62

2/5 τ ο ν δ ' είμί, κ ο ύ κ ά π ειμ ι π ρ ό ς δ όμ ο υ ς η άλ ιν


πριν ã v σε γ α ία ς τερμ όνω ν εξω β άλ ω .

Μήδεκχ
α ία ϊ: 7τανώλης ή τ ά λ α ιν ’ ά π ό λ λ ν μ α ι:
έχ θροί γ ά ρ έξιάσι π ά ν τ α $ή κάλω ν,
κ ον κ έσ τ ιν ά τ η ς εύ π ρ ό σ ο ισ τ ο ς εκβ ασις.
2 So έρ ή σ ο μ αι δέ κ α ί κ α κ ώ ς π ά σ χ ο υ σ ’ δμω ς:
τίνος μ ’ εκ α τι γης ά π ο σ τ έλ λ εις , Κ ρέον;

Κ ρ έω ν
δ έ δ ο ικ ά ο ' (ο ν δ έν δει π α ραμ π ίσ χ ειν λ ό γ ου ς)
μή μ ο ί τι δ ρ ά σ η ς π α ϊ δ ’ ά ν ή κ εσ τ ο ν κακόν,
σ υ μ β ά λ λ ετ α ι 6έ π ο λ λ ά τον δ ε δ είγ μ ατα:
2%5 σοφ ή π έφ ν κ ας και κ α κ ώ ν π ο λ λ ώ ν ΐδρις,
λ ν π ή 6 έ λ έκ τ ρ ω ν ά ν δ ρ ο ς έστερημ ένη.
κλνω δ ' ά π ειλ εϊν σ ’, ώ ς ά π α γ γ έ λ λ ο ν σ ί μ οι,
τον δ ό ν τ α και γ ή μ α ν τα κ α ι γαμ ουμ ένη ν
δ ρ ά σ ειν τι. τ α ν τ ’ ού ν πριν π α θ εϊν φ υλάγομ αι.
29ο κρεϊσσον Sé μοι ννν π ρ ό ς σ ’ά π εχ θ έσ θ α ι, γύναι,
ή μ α λ θ α κ ισ θ έν θ ’ ύ σ τερ ον μ εταστένειν.

Μ ή δ εια
φευ φευ.
ο ύ ννν μ ε π ρ ώ το ν άΑΛά π ο λ λ ά κ ις, Κρέον,
έβ λ α ψ ε δ ό ξ α μ ε γ ά λ α τ ’ ε ϊρ γ α σ τ α ι κ α κ ά ,
χ ρ ή δ ’ ο ΰ π ο θ ' ίίστις άρ τίφ ρω ν πέφ νκ ’ ά ν ή ρ
295 π α ΐδ α ς π ερισσώ ς έκ δ ιδ ά σ κ εσ θ α ι σοφ ούς:
χο,ιρϊς γ ά ρ άλ λ η ς ής έχ ονσ ιν α ρ γ ία ς
φ θ όν ο ν π ρ ο ς α σ τ ώ ν ά λ φ ά ν ο ν σ ι δυσμενή,
σ κ α ιο ισ ι μ έν γ ά ρ κ α ιν ά π ροσφ έρω ν σοφ ά
δ όξεις α χ ρ είο ς κ ον σοφ ός π εφ υ κέναι:
30 0 τώ ν δ ’ α ν δ ο κ ο ν ν τω ν είδέν α ι τι ποικ ίλον
κρείσ σω ν νομ ισ θείς έν π όλει λ ο π ρ ό ς φ αν ή.
6i

275 é isto. E não estarei de volta ao palácio sem


antes te jogar fora dos limites da terra.

MEDEIA
Aiai! Arruinada! Coinpletamente destruída!
Os inimigos já içaram todas as velas
e não há porto seguro contra a ruína.
2 S0 Mas.., Perguntarei, ainda que sofra muito:
Por que me expulsas dessa terra, Creonte?

CREONTE
Medo de ti - não preciso embaralhar palavras -
dc que não causes à minha filha incurável mal.
Muita coisa junta motiva isto:
28s tua sábia natura, uma perícia pra muitos males...
e um doer-se quando privada das cobertas do homem.
Ouço-te ameaçar a noiva, o donatário dela e o noivo -
contaram pra mim - tramas algo fazer...
Disso, sem dúvida, antes me protejo.
290 Melhor, pra mim, molestar-te, agora, mulher,
que amolecer e depois choramingar.

MEDEIA
Phu! Phu!
Não é de agora. Muitas vezes, Creonte,
a fama me trava e me faz muito mal.
Um homem, esperto de nascença, nunca deve
295 nutrir crias sábias demais,
pois, fora a fama de vadios que levam,
ganham a inveja e hostilidade dos cidadãos.
É que aos broncos, quando trazes um novo saber,
pareces inútil, não uni sábio nato;
3oo e mais, se te acham superior porque julgas
sutilezas saber e, na cidade, ofensivo te mostras.
64

έγ ώ δ έ κ α ύ τ ή τή σ δ ε κοινω νω τύχης:
σοφή γ ά ρ οϋ οα, τοις μ έν εϊμ ’ έπίφ θονος,
[το ις δ ’ ήσυχαία, τοις δ έ θ α τ έρ ο υ τρόπ ον,
3os τοϊς δ ’ α ν π ρ ο σ ά ν τη ς: d p i <5’ ο ν κ ά γ α ν σοφή]
σ ν δ ’ α ν φοβή με: μή τί π λ η μ μ ελ ές πάθη ς;
ον χ ώ δ ’ έχει pot, μή τρέσμ ς ημάς, Κ ρέον,
ω σ τ ’ ές τ υ ρ ά ν ν ο υ ς ά ν δ ρ α ς έξ αμ αρτάν ειν .
σν γ ά ρ τί μ ’ ή δίκη κας; έξ έδ ο ν κόρη ν
.310 οται σε θυμ ός ήγεν, ά λ λ ’ έρ ό ν π όσιν
μ ισώ : σν S', ο ϊρ α ι, σ ω ψ ρ ο ν ώ ν έ δ ρ α ς τάδε,
κ α ι νυ ν rt> μέν σόν ον φ θονώ χ«Αώ< εχ αν:
ννμ φ εύ ετ εύ π ρ ά σ σ ο ιτ ε: τή ν δε δέ χ θ ό ν α
έ&τέ μ ’ οίκ εϊν κ α ι γ ά ρ ήδικημ ένοι
Ms σ ιγη σόμ εσθα, κ ρ εισ σ ό ν ω ν νικώμενοι.

Κ ρ έω ν
λ έγ εις ά κ ο ν σ α ι μ α λ θ ά κ άΑΑ ' έσω φ ρενώ ν
ό ρ ρ ω δ ία μ ο ι μή τι β ον λ εν σ η ς κακόν,
τοσ ω δε δ ' ή σσον ή π ά ρ ο ς π έ π ο ιθ ά σοι;
γυνή γ ά ρ οξύθυμ ος, ώ ς δ ’ α ν τ ω ς άνή ρ,
32ο ρ ά ω ν φ υ λ ά σ σ εις ή σιω π η λ ός σοφή.
άΑΑ ’ εξ ιθ ' ώς τάχ ιστα, μ ή λ ό γ ο υ ς λέγε:
ώ ς τ α ν τ ’ ά ρ α ρ ε , κ ού κ έχ εις τέχνην δ π ω ς
μ ενεϊς ταχρ ’ ήμϊν ο ύ σ α δυσμ ενή ς έμοί,

Μ ή δ εια
μή, π ρ ο ς σ ε γ ο ν ά τω ν τής τε ν εο γά μ ου κόρης.

Κ ρ έω ν
3^5 λ ό γ ο υ ς ά ν α λ ο ϊς : ον γ ά ρ αν π είσ α ις π οτέ.

Μ ή δ εια
άΑΑ ' ίζεΑάς μ ε κ ο ν δ έν α ίδ έσ μ λιτάς;
65

Eu mesma compartilho dessa sorte;


Porque sou sábia, há quem me ache odiosa.
[Há quem me ache tranquila, há quem o contrário, há
305 até quem me ache áspera. E eu nem tão sábia sou assim]
E tu ainda temes que eu te faça sofrer algo fora de tom?
Não penses assim de m im ... de nós - sem medo, Creonte! -
como prejudicar homens que são reis!
Em que tu foste injusto comigo? Casaste a moça
310 com quem teu coração mandou. Mas o meu marido,
ele eu odeio! E tu, creio, foste sensato.
Mesmo agora, não invejo, que tudo te vá bem:
faz 0 casamento - que bem ajas!, mas, nesta terra,
deixa que eu more nela! Mesmo injustiçada
315 silenciamos, fomos vencidas pelos mais fortes.

CREONTE
Falas doçuras de ouvir, mas no fundo,
me dá horror que trames algum mal.
Por tais coisas fio menos em ti;
és mulher, impulsiva, tal qual macho,
320 porém, é mais fácil vigiar um sábio calado.
Então, ligeiro! Sai sem falar palavra.
Isto agrada. E não terás manhas pra
ficar entre nós sendo hostil a mim.

MEDEIA
Não! Aos teus joelhos! Pela moça, a nova noiva!

CREONTE
325 Perdes palavras: não convencerás jamais.

MEDEIA
Então me expulsas e não respeitas minhas preces?!
6<5

Κ ρ έω ν
φιλώ γ ά ρ ον σε μ ά λ λ ο ν ή δ όμ ο υ ς έμούς.

Μ ή δ εια
ώ πατρίς, ω ς σ ο υ κ ά ρ τ α νυν μ ν είαν έχω.

Κ ρ έω ν
πλήν γ ά ρ τέκνων έμ οιγ ε φ ίλ τα τον πολύ.

Μ ή δ εια
33 0 φεν φεν, β ρ ο τ ο ϊς έρ ω τες ώ ς κ α κ ό ν μ έρα.

Κ ρ έω ν
όπ ω ς αν, οίμ αι, κ α ί π α ρ α σ τ ώ σ ιν τύχαι.

Μ ή δ εια
Ζεν, μή λ ά θ ο ι σε τώ ν δ ' δ ς α ίτιο ς κακών.

Κ ρ έω ν
έ ρ π ώ μ α τ α ϊα , κ α ί μ ’ ά π ά λ λ α ξ ο ν πόνων.

Μ ή δ εια
π ο ν ον μ εν ήμεις κον πόνω ν κεχ ρή μ εθ α.

Κ ρ έω ν
335 τ ά χ ’ έ ξ ο π α δ ώ ν χ ε ιρ ό ς ώ σθή ση β ία .

Μ ή δ εια
μή δ ή τ α τον τό γ α λ λ ά σ ’ ά ν τ ο μ α ι, Κρέον.

Κ ρ έω ν
δχλον π α ρέξεις, ώς εο ικ α ς , ώ γύναι.
67

CREONTE
Não te amo mais do que meu palácio...

MEDEIA
Ô terra natal, com o agora tenho nítida memória de ti!

CREONTE
.este é o m aior am or para mim, depois da prole.

MEDEIA

33° Phu! Aos m o rta is... Que grande mal são os amores!

CREONTE
Penso que as sortes tam bém ajudam ...

MEDEIA
Zeus, não te esqueças do culpado dessa desgraça!

CREONTE
Vai, ô louca, e m e liberta de pelejas!

MEDEIA
Pelejamos nós! E de pelejas, não carecíamos disso!

CREONTE

335 Serás expulsa, com o vês, pelo povo, mulher!

MEDEIA
Isso não, por favor! Te imploro, Creonte!

CREONTE
Farás confusão, com o é de costume, ô mulher.

I
Μ ή δ ε ια
φ ε ν ξ ο ν μ ε θ ο ν τονθ ’ ίκ έτεν σ α σον τνχεϊν.

Κ ρέω ν

τί Sai β ιάζμ κ ον κ ά π α λ λ ά σ σ μ χερός;

Μ ή δ εια
mo μ ία ν μ ε μ εϊναι τή ν δ ’ ί α σ ο ν η μ έραν
καί ξν μ π ερ ά ν α ι ψ ρ ο ν τ ίδ ' ή φ ενξούμεθα,
παισίν τ ' α φ ο ρ μ ή ν τοϊς έμοϊς, έπεί π α τ ή ρ
ο ύ δέν π ρ ο τιμ ά , μ η χ α ν ή σ α σ θ α ί τινα.
ο ϊκ τ ιρ ε δ ’ α ύ το ύ ς: καί <τύ τοι παίδιον π α τ ή ρ
345 π έφ ν κ α ς; εϊκός δέ σφιν εΰνοιάν σ ’ εχειν.
τον μ ου γ ά ρ ο ν μ οι φ ροντίς, ei φ ενξούμεθα,
κείνου ς δ έ κ λ α ίω σ υ μ φ ορ ά κεχρη μένους.

Κ ρ έω ν
ή κ ισ τα τούμ όν λήμ ’ εφ ν τ υ ρ αν ν ικ ό ν ;
α ίδ ο ν μ εν ο ς δ έ π ο λ λ ά 5ή δ ιέφ θ ορ α :
35° κ α ί νυν ό ρ ώ μ εν έξαμ αρ τάν ω ν , γνναι,
όμ ω ς δ έ τεύξη τονδε, π ρονννέπ ω δ έ σοι,
d σ ' ή 'πιοΰσα λ α μ π ά ς ο φ ετ α ι θ εόν
κ α ί π α ϊδ α ς εν τό ς τή σδ ε τερ μ όν ω ν χ θ ο ν ός,
Θανή: λ έ λ ε κ τ α ι μ ύ θ ο ς ά ψ εν δ ή ς δδε.
335 νϋν S εί μ ένειν δει, μίμν ’ έφ ’ ήμ έ ρ α ν μ ίαν:
ον γ ά ρ τι δ ρ ά σ εις δεινόν ώ ν φ όβ ος μ ’ έχει.

Χ ορός
[δ ν σ τ α ν ε γύ ναι,]
φεϋ φεΰ, μ ε λ έα τω ν σώ ν άχέων.
π ο ϊ π ο τ έ τρέψ μ; τίν α π ρ ο ξεν ιά ν
36ο ή δόμ ον ή χθόνα αω τή ρα κακώ ν
έξενρή σεις; ώ ς εις ά π ο ρ ό ν σε κ λ ύ δ ω ν α θεός,
Μ ή δεια, κ α κ ώ ν έπ όρενσ εν.
69

MEDEIA
Escapamos... Não era isso que te supliquei.

CREONTE
Mas quê! De novo, nem forçada, desapareces deste chão!

MEDEIA
340 Mas me deixa ficar só mais este único dia,
para organizar a cabeça quanto ao exílio
e a segurança dos meus meninos, já que o pai
pretere não preparar nada para 05 filhos.
Tem dó! Tu também és pai! Tens teus
.Ϊ45 filhos! Por isso mesmo, tem boa vontade!
A preocupação não é por mim, é se escapamos!
E choro por estes, os fadados à desgraça!

CREONTE
Minha ordem muito pouco foi tirânica,
acanhado muitas vezes me apaguei;
.iso também agora me vejo errar, mulher.
Contudo terás isso, Mas te previno,
se alguém te vir sorver a chama luminosa do deus
e os filhos dentro dos limites deste chão,
morrerás: esta palavra foi dita sem mentira.
355 [e agora, se carece ficar, fica só um dia;
e que não faças terrores dos quais tenho medo],

CORO
Mulher! Infeliz!
Arre! Inútil por dores tão tuas!
Por onde, enfim, vagarás? Qual estrangeira
i6o casa, qual chão redentor de males
acharás? Como uni deus te embarcou,
Medeia, nessa onda ínfinda de males?
70

Μ ή δ εια
κ α κ ώ ς π έ π ρ α κ τ α ι π α ν τα χ ή : τις ά ν τ ε ρ εΐ;
3 &s ά λ λ ’ οϋ τι τα ύ τη τ α ν τ α , μ ή δ ο κ ειτ έ πω,
ί τ ' ε ι ο ’ ά γ ώ ν ες τοϊς νεω στι ννμφ ίοις
κ α ί τοϊαι κ η δεν σ ασ ιν ο ν σμικρο'ι πόνοι,
δ ο κ εϊς y à p ã v με τόν δ ε θ ω π εν σ α ί π οτέ
ει μή τι κ ερ δ α ίν ο ν σ α ν ή τεχνω μένην;
370 ο ν δ ’ αν π ρο σ εϊπ σ ν ο ν δ ' &ν ή ψ άμ ηνχεροίν.
ό δ ' ές τ ο σ ο ν τ ο ν μ ω ρ ία ς άφ ίκετο,
ώ σ τ ', έξόν α ύ τ φ τα μ ’ έλ εϊν β ο υ λ ε ύ μ α τ α
γης έκ β α λ ό ν τ ι, τ ή ν δ ’ έφ ήκεν η μ έραν
μ είν α ί μ \ εν ή τρεις τών έμ ώ ν εχ θρώ ν ν εκ ρ ού ς
375 θήσω, π α τ έ ρ α τε κ α ι κόρη ν πόσιν τ' έμον.
π ο λ λ ά ς δ ’ έχ ο ν ο α θ α ν ά σ ιμ ο υ ς α ύ το ίς όδονς,
ον κ οίδ ’ ό π ο ια π ρ ώ το ν έγχειρω, φίλαι:
π ό τερ ο ν νφ άψ ω δ ώ μ α νυμ φ ικόν πυρ'ι,
[ή θ η κ τό ν ώ σ ω φ ά σ γ α ν ο ν δι ’ ή π ατο ς,]
38ο σιγή δ ό μ ν ε ς έσβ& σ tv ’ εσ τ ρ ω τ α ι λέχος;
ά λ λ ’ εν τ/ μοι π ρ ό σ α ν τ ες ; ε ί Αηφ θή σομ αι
δόμ ο υ ς ύ π ερ β α ίν ο ν σ α κ α ι τεχνωμένη,
θ α ν ο ν σ α θή σω τοϊς έμ οις έχ θροϊς γέλων.
κ ρ ά τ ισ τ α τη ν ευθείαν, ή π εφ ν κ αμ εν
383 σοφ οί μ ά λ ισ τ α , φ α ρ μ ά κ ο ις α ν τ ο ν ς έΑεΓν.
εϊέν: κ α ι δή τεθ ν ά σ ι: τις μ ε δ έξ ετ α ι πόλις;
τις γην α σ ν λ ο ν κ α ι δ ό μ ο υ ς εχ εγγ ύους
ξέν ο ς π α ρ α σ χ ώ ν β ύ σ ε τ α ι το ν μ ό ν δ έμ α ς;
ο ύ κ ε σ τ ι. μ είν α σ ’ ούν ίτ ι ομ ικ ρόν χρόνον,
ιρο ήν μέν τις ήμΐν π ύ ργ ο ς ά σ φ α λ ή ς φανμ,
ΑΑΑίι» μ ένει μι τ ό ν δ ε κ α ι σιγή φόνον:
ήν 6 ’ έξ ελ α ύ ν η ξν μ φ ορ ά μ ’ αμ ήχανος,
α ύ τ ή ξίφ ος λ α β ο ΰ σ α , κ εί μ έλλω θανεϊν,
κτεν ώ σφε, τόλ μ η ς δ ’ εϊμι π ρ ο ς τ ό καρτεράν.
395 ο ν γ ό ρ μ ά την δ έσ π ο ιν α ν ήν έγ ώ σ έβ ω
μ ά λ ισ τ α π ά ν τω ν κ α ι ξννεργ όν είλόμην,
'ΕκάτηV, μ νχ οις ν α ίο ν σ α ν εσ τ ία ς έμής,
71

MEDEIA
‘Stá feito! Maldade pra todo lado. Quem vai negar?
)6s Mas de modo algum, penseis que ficará assim.
Ainda há lutas com os novos noivos
e penas nada pequenas para estes nubentes.
Acaso achas que o bajularia
sem tirar vantagem ou sem tramóia?
j7o Nem falaria com ele. Nem nele tocaria com as mãos.
Mas ele chegou a tal nível de loucura,
que quando foi possível barrar meus planos
da terra me banindo, deixou passar este dia para
eu ficar. Nele três dos meus inimigos deitarei
37$ mortos: o pai, a moça e o marido, o meu.
Tenho, muitas rotas, mortais para eles,
não sei de qual primeiro lanço mão, amigas.
Uma: lumino a casa dos noivinhos com o fogo;
duas: afiado punhal atravesso pelo fígado,
380 entrando em silêncio na casa, onde se estende a cama.
Porém um único problema há: se eu for pega
invadindo o palácio e tramando,
sou morta e faço rir meus inimigos.
Superior é a via direta, para a qual peritas
363 nascemos: pegá-los com venenos.
Eia! Mas, e aí? Mortos, que cidade me acolherá?
Que estrangeiro guardará meu corpo,
oferecerá por asilo terra e palácio seguro?
Não há. Então, para que alguém surja como
3$0 torre sólida, pouco tempo ainda me resta.
É isto, na tramóia levo, na calada, esse crime.
Se as circunstâncias me deixarem sem saída,
eu mesma pego a espada, na bica da morte,
e mato! Da audácia vou ao extremo.
395 Não! Pela soberana que eu reverencio
mais do que todos, e que tomei como cúmplice,
Hécate, que habita no seio do meu lar,
χαίρουν τις ταύ ρο ν ά λ γ ν ν ε ϊ κ έα ρ .
π ικ ρ ο ύ ς δ εγώ σ(ρίν κ α ι χ υ γ ρ ο ν ς θήσω γάμ ονς,
π ικ ρ ό ν δ έ KfjSoç κ α '( ψ ν γΧ ς έ μ ά ς χθονός.
άΛλ ε ϊα φ είδου μηβρν £’)ν έπ ίσ τα σ ο α ,
Μ ή δ εια, βοι>λ.£$ο ν σ α ^ τεχ ν ω μ έν η :
Ερπ ές to & ívóv; ν;ιν χγ(ρν ευψ υχίας,
ό ρ φ ς â π ά σ χ εις . 0ρ γ έχ ω τ α β ε ϊ σ ' όφ λεϊν
τ ο ΐς Σ ισ ν φ ε ίο ις τ ο ϊσ δ ’ Ί ά σ ο ν ο ς γάμοις,
γ ε γ ώ σ αν έσθλο,ς παΤρ ό ς Ή λ ίο ν τ ’ άπ ο.
έπ ι& τασ αι δ έ: Τζρ^ς δ έ καί π εφ ύ κ α μ εν
γ υ ν αίκ ες, ές μέ\, £σ μχ - ρ μ η χ α ν ώ τ α τ α ι,
κ α κ ώ ν δ έ πάντ(ον τέκ τ ο ν ε ς σ ο φ ώ τα τα ι.

Χ ορός

ά ν ω π ο τα μ ώ ν i^pQVχ ω ρ ο ν σ ι π α γ α ί,
κ α ί δ ικ ά κ α ί π<χΧ,Ύα πχ χ ιν τ ρ έ φ ε τ α ι :
ά ν δ ρ ά σ ι μ έν δ ό \ ιαι β ον χ α ξ θ ε ώ ν δ ’
ο ν κ έ τ ι π ίστις &ραρ£ν
τάν δ έμ ά ν ει^κχείαν εχειν β ιο τ ά ν σ τρέψ ου σι φ άμ αι
έρ χ ετ α ι τιμ ά γ ν Χ,α ικ είφ γένει:
ο ύ κ έ τ ι δ υ σ κ έ λ α ρ 0ί·
ψ ά μ α γ υ ν α ίκ α ς

μ ο ν σ α ι δ έ π α λ ο ι ^ εν^ ν χ ή ξ ο ν σ · άο ιδ ώ ν
τ ά ν έμ ά ν ν μ ν εΰ α α ( άπ κττοσ νναν.
° ύ γ ά ρ έν ά μ ε τ ρ α γ νώ μ α λ ύ ρ α ς
iomxfít θ έοπ ιν
Φ οίβος ά γ ή τ ω ρ ^ εχ έ ων: έπ εί άν τ ά χ η σ ' ά ν ύμνον
Αρσένιον γ έ ν ν α . μ αΚρ^ς § * α ΐώ ν έχει
π ο λ λ ά μ έν ά μ ε τ ρ ρ α ν
ά ν δ ρ ώ ν τ £ μ ο ϊρ ν ς ν ε ίπεΙν
σν δ έκ μέν ο ΐ κ : ^ , πΆτρ ίω ν επ λ εν σ α ς
μ α ιν ο μ εν α K p a B g a Αιδνμονς ό ρ ίσ α σ α Π ό ν ­
τον π έτρ α ς : επ ί ^ ξ έν α
ν αίειςχ θ σ ν ί. τάς- ά γ ά ν _
73

nenhum dos que agora riem vai ferir meu coração.


Amargas para ambos —e deploráveis —eu, essas bodas, farei.
jfOQ Amarga tarefa também é a minha fuga desta terra.
Mas, vai! Nada evites do que sabes,
Medeia! Planeja e trama! Caminha
para o terrível! Agora é batalha de coragem.
Olha o que sofres... não precisas te condenar ao riso
405 da laia de Sísifo e pelas bodas de Jasão,
Ês nascida de um pai nobre e do Sol!
Tu sabes! E mais, somos nascidas
mulheres: para nobrezas, ínfimas,
mas as mais hábeis artesãs de todos os males.

corto
410 Contra as fontes, rios sagrados avançam,
revira a justiça e tudo o mais.
Nos homens dolosos planos, a fé
nos deuses não mais agrada.
A minha vida há de ser gloriosa. Famas vão rolar!
Virá a honra para a raça mulheril:
e não mais essa dissonante
420 fama tangerá as mulheres,

Nos velhos cantores, as Musas cessarão


o hinear de minha descrença.
Sim, em nossa cabeça, o canto
425 divino de lira Febo, o regente de sons
desafmou. Mas soará um hino:
contra canto do tipo masculino...
F. longa vida se há de ter para muito dizer
430 da sorte, da nossa e da deles, os homens!
E tu, que navegaste da casa pátria
de coração desvairada, que cortaste duplas
435 pedras de mar: sobre um chão
estranho habitas, do leito
74

δ ρ ο ν κ ο ιτά ς ό λ έ σ α σ α λέκτρον,
τ ά λ α ιν α , φ ν γ ά ς δ ε χ ώ ­
ρ α ς ά τιμ ο ς έλαύνη .
β έ β α κ ε δ ' όρ κ ω ν χ άρις, ο ύ δ ' ε τ ’ α ιδ ώ ς
4 40 ΈΑΛάόι τ α μ ε γ ά λ α μένει, α ιθ έ ρ ια δ ’ άν έ-
π τα. σοί Ô’ ο ύ τ ε π α τ ρ ό ς δόμ οι,
δ ν σ τα ν ε, μ εθ ο ρ μ ίσ α-
σ θ α ι μόχθω ν η άρα , σώ ν τ ε λ έκ τρ ω ν
&λλα β α σ ίλ ε ια κρείσ-
445 οω ν δόμ οισιν έη έο τ α .

Ι ά σ ιο ν
ού νϋ ν κ α τ εϊδ ο ν π ρώ τον ά λ λ ά π ο λ λ ά κ ις
τ ρ α χ εΐα ν οργή ν ώ ς ά μ ή χ αν ο ν κακόν,
σοί γ ά ρ π α ρ ό ν γή ν τή ν δε κ α ι δ όμ ο υ ς έχειν
κού ψ ω ς φ ερονση κ ρεισ σόνω ν β ο υ λ ε ύ μ α τ α Λ
45ο λ ό γ ω ν μ α τ α ίω ν ο ΰ ν ε κ 1 έκ π εσ ή χθονός.
κ ά μ ο ί μ εν ο ν δ έν π ρ ά γ μ α : μή π α ύ σ η π οτέ
λ έ γ ο ν σ ’ ϊ ά σ ο ν " ώ ς κ ά κ ισ τ ό ς έ σ τ ' άνήρ.
& δ ’ ές τ υ ρ ά ν ν ο υ ς έ σ τ ί σοι λελ εγ μ ένα ,
π α ν κ έρ δ ο ς ήγοϋ ζημιονμένη φυγή.
455 κ ά γ ώ μ εν ixki β α σ ιλ έω ν θυμ ονμ ένω ν
ό ρ γ ά ς ά ψ β ρ ο υ ν κ α ί σ ’ έβ ονλ όμ η ν μένειν:
σ ν δ ' ο ύ κ ά ν ίεις μ ω ρ ία ς , λ έγ ο ν σ ' ά ε ί
κ α κ ώ ς τυ ρ ά ν ν ο υ ς: τ ο ιγ ά ρ έκ π εσ ή χθονός,
όμ ω ς δέ κ ά κ τώ ν δ ’ ο ύ κ ά π ε φ η κ ώ ς ψίλοις
46ο ήκω, τό σ ό ν δ έ π ρο σ κ οπ ο ν μ εν ος, γύναι,
ώς μ ή τ ' άχ ρή μ ω ν σ υ ν τέκ ν ο ισ ιν έκ π έσ η ς
μ ή τ ’ εν δεή ς τον: πόλλ ’ έφ έλ κ ετα ι φυγή
κ α κ ά ξνν α υ τή , κ α ι γ ά ρ εί ο ύ μ ε στυγεϊς,
ού κ αν δν ν αίμ η ν σοί κ α κ ώ ς φ ρονεϊν ποτέ.

Μ ή δ εια
465 ώ π α γ κ ά κ ισ τ ε, τού το γ ά ρ σ ’ είπείν εχω
γλώ σση μ έγ ια τ ο ν εις α ν α ν δ ρ ία ν κακόν,
75

sem macho, cama arruinada,


miserável, fugitiva e desonrada
és levada de tua terra.
Foi-se a graça do juramento, nada de vergonha
440 na grande Grécia fica, etérea voou.
E tu nem a casa do pai,
infeliz, tens
para ancorar as cargas do teu leito,
e uma outra rainha
445 em tua casa se impôs.

JASÃO
Não foi essa a primeira vez. Várias vezes notei
que um modo rude é um mal sem meios.
Estava à tua disposição ter esse chão e essa casa,
se suportasses com leveza as decisões dos mais fortes.
450 Por palavras vãs estás sendo banida da terra.
Pra mim, isso não é nada. Não cessarias jamais
de dizer que Jasão é o pior dos homens. Já
as coisas que por ti são ditas dos tiranos...
Toma por lucro seres punida só com o exílio.
455 Eu aqui sempre aplacava a ira dos coléricos
reis, queria que permanecesses, mas
tu não te afastavas da loucura, falando sempre
mal dos tiranos. Por isso serás banida da terra.
Mas eu ainda não chcguei ao ponto de abandonar
460 os que quero bem e provídencio-te isto, mulher:
sem nada não serás exilada com as crianças,
nem precisando de algo. Muitas coisas ruins o exílio
traz consigo. Enquanto tu me abominas,
eu não seria jamais capaz de te querer mal.

MEDEIA
465 Ô ruindade cara! É isso o que minha língua
tem a dizer de pior sobre tua enorme covardia.
7*

ήλθες π ρ ο ς ή μάς, ή λθες έχ θ ισ τος γεγώ ς;


[θ εο ΐς τε κάμο'ι π α ν τ ί τ ’ α ν θ ρ ώ π ω ν γ ίν ει]
ο ϋ τ ο ι θ ρ ά σ ο ς τ ό δ ’ έσ τιν ο ύ δ ’ εντολμ ία,
470 φ ίλους κ α κ ώ ς δ ρ ά σ α ν τ * εν α ν τ ίο ν βλέπειν,
άλλ ’ ή μ εγ ίσ τη τω ν έν ά ν θ ρ ώ π ο ις νόσω ν
πασώ ν, ά ν α ίδ ει ’. ε ν δ ’ έπ ο ίη σ α ς ρ ο λ ώ ν :
έγώ τε γ ά ρ λ έ ζ α σ α κ ον φ ιαθ ή σ ο μ αι
ψυχήν κ α κ ώ ς σε κ α ι σύ λύ π η ση κλνων,
475 έκ τών 5έ π ρώ τω ν π ρώ τον ά ρ ζ ο μ α ι λέγειν:
έσ ω σ ά σ ’, ώ ς ϊσ α σ ιν Έ λ λ ή ν ω ν όσοι
ταυ τον σ υ ν εισ έβ η σ αν Ά ργ ω ο ν σκάφ ος,
π εμ φ θέντα τα ύ ρ ω ν π ν ρ π ν άω ν επ ισ τά τη ν
ζεύγλαισι κ α ί σ π ερ ο ν ν τ α θ α ν ά σ ιμ ο ν γνην:
48ο δ ρ ά κ ο ν τ α θ δ ς π ά γ χ ρ ν σ ο ν άμ π έχ ω ν δ έρ ο ς
σ π είρ α ις έσ ω ζε π ο λ ν π λ ό κ ο ις α ν π ν ο ς ών,
κ τ είν α σ ’ ά ν έσ χ ο ν σοι φ ά ο ς σωτήριον,
αυ τή δ έ π α τ έ ρ α κ α ί δόμ ο υ ς π ροδού σ" έμ ον ς
τήν Π η λιώ τιν εις Ίω λ κόν ίκόμην
48 s σνν σοί, π ρ ό θ υ μ ο ς μ ά λ λ ο ν ή σ οφ ω τέρα:
Π ελ ία ν r ’ ά π ίκ τ ε ιν ώ σ π ερ ά λ μ ισ τον θανεϊν,
π α ίδ ω ν ν π ' αύ τοϋ , π ά ν τ α τ ’ έξεϊλ ον δόμον,
κ α ί τ α ν θ ’ ύ φ 1 ημών, ώ κ ά κ ισ τ ’ άνδρώ ν, π α θ ώ ν
π ρ ο ν δ ω κ α ς ημάς, καινά <5 ’ έκτή σ ω λέχη,
49° π α ίδ ω ν γεγώ τω ν: εί γ ά ρ ή σ θ ’ ά π α ις έτι,
σ ν γ γ ν ώ σ τ ’ αν ήν σοι τ ο ΰ δ ’ έρ α σ θ ή ν α ι λέχονς.
ό ρ κ ω ν δ έ φ ρούδη πίστις, ο ν δ ’ έχω μ α θ είν
εί θ εο ύ ς νομίζεις τού ς τ ό τ ’ ο ύ κ άρχειν ετι
ή κ α ιν ά κ εϊσ θ α ι θέσμι ’ ά ν θ ρ ώ π ο ις τά ννν,
495 έ π εί σ ν ν ο ιο θ ά γ 1 εις ε μ ' ο ύ κ έν ο ρ κ ο ς ών.
φ ευ δ εξ ιά χειρ, ής σν πόλλ ' έλ α μ β ά ν υ ν
κ α ι των δ ε γονάτω ν, ώ ς μ ά τη ν κ εχ ρ ώ σ μ εθ α
κ α κ ο ύ π ρ ο ς ά ν δ ρ ό ς, έ λ π ίδ α ιν δ ’ ήμάρτομεν,
άγ", ώς φιλώ γ ά ρ ύντι σοι κοινώ σ ομ αι
soo (δ ο κ ο ϋ σ α μέν τί π ρ ο ς γ ε σ ο υ π ρ ά ξειν κ αλ ώ ς;
όμ ω ς S', έρ ω τη θ εις γ ά ρ αισχ ίω ν φ ανή):
ννν π σ ϊ τρ ά π ω μ α ι; π ά τ ε ρ α π ρ ό ς π α τρ ό ς δόμους,
77

Vieste até nós, vieste, mesmo sendo odiado?


[Pelos deuses, por m im e por toda a raça humana]
Com certeza, isto não é coragem e nem ousadia,
470 fazer o mal a um amigo e ainda olhar na cara,
É de todas a maior das doenças humanas,
canalhice. Mas que bom que vieste:
eu te maldizendo vou aliviar a aima,
enquanto tu vais sofrer, escutando.
475 Começo a dizer do comecinho;
te salvei, como sabem todos os gregos que
contigo embarcaram no navio Argo,
enviado para pôr no jugo os touros que sopram
fogo e para semear a terra da morte.
480 E 0 dragão que rodeava e guardava o velo de ouro,
todo em enroladas espirais, sempre em vigília,
eu matei, erguendo para ti a luz salvadora.
E eu mesma, meu pai e minha casa traindo,
vim para lolco, aos pés do Monte Pélion,
4S5 contigo! Mais dedicada do que esperta...
E matei Pélias, de mais doloroso morrer,
pelas próprias filhas e retomei o palácio.
E isso por nós! Ô pior dos homens,
nos traíste e arrumaste um novo leito,
490 mesmo tendo filhos! Se não tivesses filhos, era
perdoável o desejo por tal cama. Foi-se a fé
nas juras e não tenlio como saber nem
se deitam novos ritos entre os homens.
Mas tu sabes bem: não cumpriste as juras que me fizeste.
495 Phu! Mão direita que tu muitas vezes pegavas!
e estes joelhos! Como em vão fomos usadas
por um homem mau, Erramos pela esperança.
Mas vá! Como amigo conversarei contigo:
devo esperar que tu faças algo de bom?
500 Que seja! As perguntas te fazem parecer ainda pior.
Agora, pra onde me viro? Pra morada paterna,
que abandonei por ti junto co’a pátria, vindo pra cá?
78

ο ν ς σοι π ρ ο δ ο ν σ α κ α ί π ά τ ρ α ν άφ ικόμ η ν;
ή π ρ ο ς τ α λ α ίν α ς Π ελ ιά δ α ς ; κ α λ ώ ς γ ’ άν ού ν
$05 δ έξ α ιν τ ό μ ’ ΰϊκΰις ώ ν π α τ έ ρ α κ α τέκ τα ν ον .
έχει γ ά ρ ο ιπ ω : τοϊς μ έν ο ϊκ ο θ εν φίλοις
έχ θ ρ ά κ α θ έ σ τ η χ ο ν ς δ έ μ ’ ο ύ κ έχρή ν κ α κ ώ ς
δράν, σοι χ ά ρ ιν φ έρ ο ν σ α π ο λ εμ ίου ς έχω.
το ιγ ά ρ μ ε π ο λ λ α ις μ α κ αρία ν 'Ε λ λ η ν ίδω ν
5 ΐο εθ η κ α ς α ν τ ί τώ νδε: θ α υ μ α σ τ ό ν δ έ σε
έχω πόσιν κ α ί π ιστόν ή τ ά λ α ιν ' έγώ,
d ψ εόζομ αί γ ε γ α ϊα ν εκβ εβ λη μ ένη ,
φίλων έρημ ος, σ υ ν τέκ ν οις μ όνη μ όνοις:
κ α λ ό ν γ ’ ό ν ειδ ο ς τω νεωστ'ι ννμφίω,
sis π τω χ ού ς ά λ ά σ θ α ι π α ϊδ α ς ή τ ’ έσ ω σ ά σε.
ώ Ζεϋ, τί δή χ ρ υ σ ο ύ μέν δ ς κ ίβ δη λ ος η
τεκμή ρι ’ άν θ ρ ώ π ο ισ ιν ώ π α σ α ς σαφή,
ά ν δ ρ ώ ν 6 ’ οτω χ ρ ή τόν κ α κ ό ν δ ιειδέν αι
ο ύ δ εις χ α ρ α κ τ ή ρ έμ π έφ ν κε σώ μ ατμ

Χ ορός
520 δεινή τις ο ρ γή καί δνσ ία το ς πέλει,
ό τα ν φίλοι φ ϊλοισι σ υ μ β ά λ ω σ ’ ίριν.

Ίάσω ν

δ ει μ \ ώ ς εοικε, μ ή κ α κ ό ν φνναι λέγειν,


άλλ ’ ώ σ τε ναός κείνον οίακοστρόφ ον
ά κρ ο ισ ι λ α ίφ ο ν ς κ ρα σ π έδ ο ις ύπ εκδ ρα μ ειν
525 τή ν σήν στάμαργον, ώ γύναι, γ λ ω σ σ α λ γ ία ν
έγ ώ Ô έπειδή καί λ ία ν πυργοΐς χάριν,
Κ ύ π ριν νομίζω τής έμής ν α ν κ λ η ρ ία ς
σ ώ τ ειρ α ν είναι θεώ ν τε κάνθρώ τκνν μόνην,
σοί 5 ’ εστι μέν νους λ επ τ ό ς — ά λ λ ’ επ ίφ θονος
550 λ ό γ ο ς διελθεΐν, ώ ς'Έ ρως σ ’ ή ν ά γ κ α σ εν
τ ό ξ ο ις άφ ύ κ τοις τού μ όν έκ σ ώ σ α ι δέμας,
ά λ λ ’ ού κ ά κ ρ ιβ ώ ς α υ τ ό θ ή σ ομ α ι λίαν:
òm f γ ά ρ ο ν ν ώ ν η σ α ς ο ύ κακώς έχει.
73

Ou pras infelizes filhas de Pélías? Que bele2a!


Me receberíam no palácio, eu que matei o pai delas...
50j Ainda tem isto: aos amigos de minha casa
me mostro hostil, eles pra quem
eu não precisava fazer mal,
graças a ti, por ti levada, tenho inimigos,
É verdade que, muitas vezes, me fizeste feliz
510 no lugar dessas gregas. E aí? Te tenho como marido
maravilhoso e confiável, eu a desgraçada,
eu deixarei a terra, banida,
de amigos vazia e apenas com crianças, -
bela afronta para o novo noivo - apenas
515 mendigos a vagar, os meninos c a que te salvou!
ÔÕ Zeus, por que do ouro que é falso
claros e seguros sinais há pros homens,
mas de machos quando é preciso discernir um mau,
marca no corpo não há?

CORO

520 Um terrível c incurável amargor chega quando


amantes contra amantes em brigas se lançam,

fA S A O

É preciso, parece, que o meu falar não brote mal,


que, como zeloso timoneiro de navio,
pelas beiradas dos panos, eu me esquive
3^5 do teu falatório, mulher, de tua língua nervosa.
Por mim, já que tanto exaltas tuas graças,
declaro: dentre deuses e homens, Afrodite é
a única salvadora desta minha “vida à deriva”,
Juízo fino é 0 teu, mas corre por aí um odioso
jj0 discurso... de como o Amor te forçou,
com seus dardos invencíveis, a salvar minha pele.
Mas não colocarei isso com tanto rigor.
Pelo modo como outrora me ajudaste, não és má.

μείζω γ ε μ έν το ι τ ή ς έ μ ή ς σ ω τη ρ ία ς
535 εΐλ η φ α ς ή δ έδ ω κ α ς, ώ ς έγώ ψράσω.
πρώ τον μ εν Έ λ λ ά δ ’ ά ν τϊ β α ρ β ά ρ ο υ χ θ ο ν ό ς
γοααν κ α το ικ είς κ α ί δίκην έπ ίσ τασ α ι
ν ό μο ις τε χ ρ ή σ θ α ι μ ή π ρ ο ς ισχύος χάριν:
π ά ν τ ε ς δέ σ η σ θ ο ν τ ’ ο ΰ σ α ν 'Έ λ λ η ν ες σοφ ήν
540 καί δ ό ξα ν έσχες: εί δ έ γ η ς έ π ' έσχάτοις
δροισιν ώκεις, ονκ α ν ή ν λ ό γ ο ς σέθεν.
εϊη δ ’ εμοιγε μ ή τ ε χ ρ υ σ ό ς εν δόμοις
μ ή τ Ό ρψ έω ς κ ά λ λ ιο ν ύμνήσαι μ έλ ο ς,
ε ϊ μ ή 'πϊσημος ή τύχη γένοιτό μοι.
το σ α ν τα μ έν σοι τώ ν έμώ ν πόνω ν πέρι
ελεξ : ά μ ιλ λ α ν γ α ρ σν π ρ ο ύ θ η κ α ς λόγω ν.
& δ ές γ ά μ ο ν ς μοι β α σ ιλ ικ ο ύ ς ώνείδισας,
έν τώ δ ε δείξω π ρ ώ τ α μ εν σοφ ός γερώς,
έπ ειτα σώφρων, e l m σοι μ έ ρ α ς φίλος
55° και π α ισ ι το ϊς εμοισιν — ά λ λ ' έχ ’ ήσυχος,
επεί μ ετ έσ τ η ν δεΰρ Ίω λ κ ία ς χ θ ο ν ό ς
π ο λ λ ά ς έφ έλκω ν σ υ μ φ ο ρ ά ς α μήχ α ν ο υ ς,
τί τοϋδ ά ν εϋ ρη μ η νρ ο ν εύ τνχέστεραν
ή π α ϊδ α γ ή μ α ι β α σ ιλ έ α ς φ υ γ ά ς ρ εγ ώ ς;
555 ούχ, μ σν κνίζμ, σόν μ έν έχθαίρω ν λέχος
κ α ιν ή ς δέ ν ύ μ φ η ς ίμέρφ π ε π λ η γ μ έν ο ς
ο ύ δ ’ εις ά μ ιλ λ α ν π ο λύ τεκν ο ν σ π ο υ δ ή ν έχων:
α λ ις γ ά ρ ο ΐ γ εγ ώ τες ο ν δε μ έμ φ ο μ α ι;
άΛΛ ώς, το μ έ ν μ έ γ ιστόν, οίκοι μ ε ν καλώς
56 ° καί μ η σ π ανιζοίμεσ θ α, γιγνώ σκω ν δτι
π έ ν η τ α φεύγει π α ς τις εκπ ο δ ώ ν φίλον,
π α ΐδ α ς δ έ θ ρ έ ψ α ιμ ' ά ξίω ς δ ό μ ω ν έμώ ν
σ π είρ α ς τ α δελφ ο ύ ς τοισιν έ κ σέθεν τέκνοις
ές τα ύ τ ό θείην, κ αι ξ υ ν α ρ τ ή σ α ς γένος
56s εύδοαμονοίην. σοί τε γ ά ρ π α ίδ ω ν τί δει;
έμσ ί τε λύει τοϊσι μ έ λ λ ο ν σ ιν τέκνοις
τά ζ ώ ν τ ’ όνήσ αι. μ ώ ν β ε β ο ν λ ε υ μ α ι κ α κ ώ ς;
ονδ’ άν σν φ αίης, ε ϊ σε μ ή κνίζοι λέχος.
αλλ ες το σ οντον η κ εθ ώ σ τ ’ ό ρ θσ νμ ένη ς

Mas, de qualquer forma, pela minha salvação


53.5 mais recebeste do que deste, isto eu vou provar:
em primeiro lugar, em vez de chão bárbaro
habitas a terra grega, conheces a justiça,
fazes uso das leis, não do favor da força.
Todos os gregos notam tua sábia essência,
540 tens fama. Se os limites finais da terra
habitasses, não haveria palavra sobre ti.
Eu por mim, aceitava nem ter ouro em casa,
nem canção mais bela que a de Orfêu cantar,
se um marcado destino não me tivesse chegado,
Tais coisas sobre os meus sofrimentos
falei pra ti só porque fizeste um embate verbal.
As coisas que reprovaste pelo meu casamento real,
aqui mostrarei: fui antes de tudo sábio,
depois prudente e por fim um grande amigo
550 para ti e para meus meninos. Quieta! Tranquila!
Quando vim da terra de Iolco para cá,
mil desgraças despencando, sem solução,
que achado achei mais feliz do que esse de casar
com a filha do rei? eu, um exilado?
555 Não foi rechaçando tua cama - o que te corta -
pelo desejo de nova noiva, que fui atingido!
Nem tenho pressa por um monte de crias,
já as que nasceram são suficientes, não reclamo.
Mas como - o melhor - viveriamos? Ao máximo,
5<ío e não precisados? Então, eu, sabendo que
todo amigo, qualquer um, foge para longe de um pobre,
desejei criar dignamente os meninos da minha casa.
Aí, semeio irmãos para tuas crianças
e na mesma os ponho todos. E, reunida a família,
565 seremos felizes. Pra que precisas de crianças?
Pra mim resolve tudo, com os frutos que virão
os que vivem lucram, Então?! Calculei mal?
Nada dirías, se não tivesse arranhado tua cama.
A tal ponto chegais, mulheres, que
82

57ο εύνή ς γ υ ν α ίκ ες π ά ν τ ' ξχειν νομίζετε,


ήν δ ’ α ν γένηται ξν μ φ ορ ά τις ές λέχος,
τά λ ψ σ τ α κ α ι κ ά λ λ ισ τ α π ο λ εμ ιώ τ α τ α
τίθεσ θε, χ ρ ή ν τ ά ρ ’ α λ λ ο θ έν π σ θ εν β ρ ο τ ο ν ς
π α ϊδ α ς τεκ ν ο ν σ θ α ι, θήλυ S ’ ο ν κ είναι γένος:
575 χ ο ϋ τω ς α ν ον κ ήν ovSèv ά ν θ ρ ώ ιϊο ις κακόν.

Χ ορός
Θάσον, εύ μέν τ ο ν σ δ ’ έκ ό σ μ η σ α ς λόγου ς:
όμ ω ς δ ' εμ οιγε, κεί π α ρ ά γνώ μην έρώ,
δ ο κ εις π ρ ο δ ο ν ς οή ν ά λ ο χ ο ν ον δ ίκ α ια δράν.

Μ ή δ εια
ή π ο λ λ ά π ολ λ οίς είμι δ ιά φ ο ρ ο ς β ρ ο τ ά ν :
58ο έμ οί γ ά ρ δ σ τ ις ά δ ικ ο ς ών σ οφ ός λ έ γ εω
π έφ νκε, π λ είσ τη ν ζη μίαν όφ λ ισ κ άν ει:
γλώ σσΐ] γ ά ρ αύχώ ν τ ά δ ι κ ’ εύ π ερισ τελ εΐν
τολ μ ά π α νονργ ειν: έ σ τ ι S ’ ο ύ κ ά γ α ν σοφός,
ώ ς κ α ί σύ: μή ννν εις εμ ■ευσχή μω ν γένι]
585 λ έγ ειν τε δεινός, εν γ ά ρ έκτεν ει σ ’ έπ ος:
χρήν σ', εϊπ ερ ή σ θ α μ ή κ α κ ό ς, π ε ίσ α ν τ ά μ ε
γ α μ εϊν γ ά μ ον τόν δ ', ά λ λ α μή σιγή φίλων.

Ίάσω ν
κ α λ ώ ς γ ’ αν, οίμ αι, τ φ δ * ύ π η ρέτεις λόγω ,
ε ϊσ ο ι γ ά μ ον κιχτειπον, ήτις ο ν δ έ νΰν
$90 τ ο λ μ ά ς μ ε θ ίίν α ι κ α ρ δ ία ς μ έ γ α ν χόλον.

Μ ή δ εια
ον τ ο ν τ ό σ ’ εϊχεν, ώΑλά β ά ρ β α ρ ο ν λ έ χ ο ς
π ρ ο ς γ ή ρ α ς ο ύ κ έν δ ο ξ ο ν έ ξ έβ α ιν έ σοι.

Ίάσων
εύ ννν τ ό δ ' ϊΰθι, μή γ υ ν α ίκ α ς ο ν ν εκ α
83

$γο com uma cama arrumada julgais tudo ter.


Mas se, algum infortúnio pra cama acontece,
a coisa mais desejável e mais bela vira a mais hostil.
Preciso era mesmo que os viventes de outro modo
crianças gerassem e que não houvesse raça feminina.
575 Só assim não havería mal nenhum para a humanidade.

CORO
jasão... Nestas palavras caprichaste bem,
no entanto, ainda assim, eu retuto o argumento: és
tu quem traíste e não pareces fazer justiça a tua esposa.

MEDEIA
E. Muito - e de muitos mortais - sou diferente.
5S0 Pra mim, quem é injusto mas se faz hábil
no falar, castigo maior merece
porque contorna a injustiça com a língua, blefa
e manobra com ousadia. É sábio, mas não o bastante.
Nem tu,,. Agorinha, a falar não me dás
5S5 impressão boa, de terrível. Uma palavra te derruba:
tu deverías, se não fosse mau, ter me convencido
a aceitar esse casamento, antes de se calar para os amigos.

JASÃO
Muito bem ficarias nessa conversa, eu sei,
se te contasse do casamento. Logo tu a que não
590 deixas ir do coração esse grande am argo r,

MEDEIA
Não foi isso! Foi que na velhice
a cama bárbara acaba em má reputação.

ja sã o

Agora sabe bem isto: não foi por mulher


84

γ ή μ α ί με λ ε κ τ ρ α β α σ ιλ έ ω ν α νυν έχω,
595 άλλ ώ σ π ερ ειπ ον κ α ί σ ά ρ α ς , σ ω σ α ι θέλω ν
σέ, κ α ί τέκ ν ο ισ ι τοΐς έμ οϊς ό μ ο σ π ό ρ ο υ ς
φ ϋ σαι τ υ ρ ά ν ν ο υ ς π α ϊδ α ς , ερ υ μ α δώ μασιν.

Μ ή δ ε ια
μή μοι γένοιτο λυ π ρύς εύ δ α ίμ ω ν β ίος
μ η δ ” ό λ β ο ς ό σ η ς τήν έμήν κνίζσι φ ρένα.

Ίάσω ν
6 οο οισθ ’ ώ ς μ ετεύ ξμ κ α ί σ ο φ ω τ έ ρ α φανη;
τ ά χ ρ η σ τ ά μή σοι λ ν σ ρ ά φ α ίν εσ θ α ί ποτέ,
μ η δ ’ ευ τυ χ ο ύ σ α δυστυ χή ς είναι δοκειν.

Μ ή δ ε ια
ν β ρ ιζ ’, έπ ειδ ή σοι μεν έ ο τ ’ ά π οσ τροφ ή ,
έγώ δ ’ έρ η μ ο ς τή νδε φ ενξοϋ μ αι χ θ όν α .

Ίάσω ν
60 s α υ τ ή rá<$ ’ εϊλον : μ η δέν ’ άλλον αίτιώ .

Μ ή δ εια
τί δ ρ ώ σ α ; μ ώ ν γ α μ ο ν σ α κ α ι π ρ ο δ ο ύ σ ά σε;

Ίάσω ν
ά ρ ά ς τ ν ρ ά ν ν ο ις ά ν σ σ ίο ν ς άρω μένη .

Μ ή δ εια
κ α ι σοις ά ρ α ία γ ’ ο ν σ α τ υ λ ώ ν ω δόμοις.

Ίάσω ν
ώ ς ο ν κρινοϋμοιι τώ νδέ σοι τ ά πλ είονα,
6 ιο άλλ *) ε ϊ τι jδού λ η π αισ ιν ή σ αυ τή φυγής
85

que me líguei ao leito real, este que agora tenho,


59j e sim, tal como falei antes, para te proteger
e pelas minhas crias, com mesmo sangue,
gerar meninos reis, salvaguarda da casa.

MEDEIA
Que não seja para mim uma boa vida triste,
e nem a riqueza arranhe o m eu coração,

JASÃO

iíco Sabes que mudarás e parecerás m ais sábia!


Um dia a vantagem não te parecerá penosa.
Tens sorte, não te faças de sem sorte ,,.

MEDEIA
É, me insultai Enquanto tu tens nm refúgio,
eu vazia sou banida dessa terra.

JASÃO
tíoj Isso tu mesma escolheste: não culpa ninguém.

MF.DEIA
O que eu fiz? Acaso me casei e te traí?

JASÃO
Pragas ímpias contra os tiranos praguejaste!

MEDEIA

E acabo sendo uma praga pra sua casa.

JASÃO
Deste jeito não continuo mais discutindo,
áio Mas, se queres algo pras crianças ou pra ti mesma
προσωφέλημα χρημάτων έμών λαβΐΐν,
λέγ'; ώς έτοιμος άψθόνω δούναι χέρι
ξένοις τε πέμπειν σύμβολ o iδράσονσί σ ’ εν,
καί ταντα μη θέλονσα μωρανείς, γύναι:
6κ λήξασα S ’ οργής κερδανεϊς άμείνονα.

Μήδεια
οϋτ ' άνξένοισι τσΐσι σοις χρησαίμεθ ’ αν
οϋτΎαν τι δεξιχίμεσθα, μηδ’ ήμϊν δίδον:
κακόν γάρ άνδρός δώρ ' δνησιν ούκ έχει.

Ίάσων
άΛΛ ’ ονν έγώ μέν δαίμονας μαρτύρομαι
620 ώς πάνθ ’ νπονργείν σοί τε καί τέκνοις θέλω:
σοί δ ’ ούκ άρέσκει τ ά γ ά θ άΛΑ ’ ανθαδία
φίλους άπωθή: τοιγάρ άλγννή πλέον.

Μήδεια
χώρεν ττόθω γάρ τής νεοδμήτον κόρης
αίρή χρονίζων δωμάτων έζώπιος.
625 νύμφεν ίσως γάρ — σύν θεφ δ ’ είρήσεται —
γαμείς τοιοντον ώστε θρηνεϊσθαι γάμον.

Χορός
έρωτες υπέρ μέν άγαν έλθόντες ούκ ευδοξίαν
ονδ' άρετ&ν παρέδωκαν άνδράσιν: εί δ 1ίίλις ελθοι 6$ο
Κόπρις, ούκ άλλα θεός εϋχαρις όντως,
μήποτ', ώ δέσποιν', έπ ’ έμο'ιχρυσέων
τόξων άψείης ίμέρω
635 χρίσασ’ άψυκτο ν oiστον.

στέργοι δέ με σωψροσννα, δώρημα κάΑλιστον θεών:


μηδέποτ' άμφιλόγονς όργάς άκόρεστά τε νείκη
6^ο θυμόν έκπλήξασ ’ έτέροις έπϊ λέκτροις
87

no exílio: receber uma ajuda de minhas posses,


fala. Estou pronto pra ceder com mão generosa
e dar aval pros estrangeiros, eles vão te Lratar bem.
Se não quiseres isso, serás uma tonta, mulher!
610 No que cessas a rudeza, ganharás mais.

MEDEIA
Não precisaremos destes seus estrangeiros,
nem nada receberemos. Não nos dês nada!
Os presentes de um homem mau não têm serventia.

JASÂO
Mas então as divindades tomo por testemunha
620 de que em tudo quero ajudar: a ti e também às crianças.
Mas o que é bom não te satisfaz e com arrogância
afastas os amigos. Por isso sofrerás muito.

MEDEIA
Vai! O desejo pela moça recém-domada
te pegou e perdes tempo fora do palácio,
62$ Casa! Talvez - se um deus disser -
entras num casório de que te arrependerás.

CORO
Amores demais, demasiados, nem virtude nem renome aos
630 homens garantem quando chegam. Se ao menos comedida
Afrodite - outro deus não há tão gracioso - chegasse!
Jamais, senhora, sobre mim, do dourado
arco descarregue, crismada de paixão
635 certeira flecha.

Seja eu amada com o tempero dos deuses, mais belo dom!


Que jamais contestados arroubos vençam um íntimo
640 atordoado. Que sobre outras camas
S3

προσβάλοι δεινά Κύπρις, άπτολέμονς δ ’


εννάς σφίζονσ’ όξνψρων
κρίνοι λέχη γυναικών.

645 ώ πατρίς, ώ δώματα, μή


δήτ ’ απολις γενοίμαν
τον αμηχανίας εχονσα
δυσπέρατον αίώ,
οίκτρότατόν <γ ’ > άχέων.
6§ο θανάτω θίχνάτω πάρος δαμείην
άμέραν τάν δ ’ έξαννσασα: μό­
χθων δ ’ ούκ άλλος νπερθεν ή
γάς πατρίας στέρεσθαι.

εϊδομεν, ούκ έξ έτέρων


&55 μύθον εχω φράσασθαι:
σέ γ άρ ον πόλις, ον φίλων τις
οικτίρει παθονσαν
δεινότατον παθέων.
αχάριστος δ λ ο ιθ ’ ύτω π ά ρ εσ η ν
66ο μ ή φίλους τιμάν κ α θ α ρ ό ν άν οι­
ξαν τα κλμδα φρένων: έμοί
μεν φίλος ο ν π ο τ ' εσται.

Αίγεύς
Μήδεια, χαΐρε: τον δε γάρ προοίμιον
κάλλιαν ονδείς σίδε προσφωνειν φίλους.

Μήδεια
66s ώ χ α ιρ ε κ α ί σύ, π α ϊ σ οφ ού Π ανδίονος,
Αίγεϋ. πόθεν γης τ ή σ δ ' έτπστρωφά πέδον;

Αίγεύς
Φοίβον παλαιόν έκλυτων χρηστήριον.
89

se lance, terrível, Afro dite. E que honrados sejam


os lençóis sem brigas e que, aguda,
possa ela julgar os leitos das mulheres.

&4S Ó pátria! Õ domínios meus! Que eu não


seja sem terra, forasteira
que só tem falta de recursos,
uma vida destituída e
um mais pobre lamento. Neste dia,
050 pela morte, morte, fosse
eu antes executada. Das misérias
não há outra mais alta que
da terra pátria ser privada.

Vimos! Não é por palavra


65; de outros que tenho o meu frasear:
pois nem cidade nem amigo algum
se compadeceu de ti, doída em
dores as mais sofridas.
Pereça o desgraçado que convive
660 com o amigo sem o honrar, depois
de abertas as trancas de um peito justo.
Este, pra mim, amigo não é.

EG EU
Medeia, viva! Ninguém conhece cumprimento
mais belo do que este para saudar os amigos!

MEDEIA
605 Ô Egeut filho do sábio Pandíyn!
Viva! Rodas o chão desta terra vindo de onde?

EGEU
Deixei o velho oráculo de Febo.
90

Μ ή δίΐΛ
τί δ ’ όμ φ α λ όν γης θ εσ π ιφ δ ά ν έσ τ ά λ η ς ;

Α ίγ εύ ς
π α ίδω ν ερ ευ ν ώ ν σ π έρ μ ’ ό π ω ς γ έν οιτό μοι.

Μ ή δ ε ια
6γο π ρ ο ς θεών, α π α ις γ ά ρ δ εΰ ρ ’ ά ε ι τείνεις βΐον-,

Α ίγ εύ ς
ά π α ιδ έ ς έσ μ εν δ α ίμ ο ν α ς τίνος τύχη.

Μ ή δ ε ια
δ ά μ α ρ τ ο ς ο ν σ η ς ή λ έχ ο ν ς ά π ε ιρ ο ς ών;

Α ίγ εύ ς
ο ν κ έσ μ έν εννής αζν γ ες γαμήλιου,

Μ ή δ ε ια
τί δ ή τ α Φ οίβος ε ϊπ έ α ο ι π α ίδ ω ν πέρι;

Α ίγ εύ ς
675 οο φ ώ τερ ’ ή κ α τ ’ ά ν δ ρ α σ υ μ β α λ εΐν έπη.

Μ ή δ ε ια
θέμις μ εν η μ άς χ ρ η σ μ ό ν είδ έν α ι θεού;

Α ίγ εύ ς
μ ά λ ισ τ έπ εί τοι κ α ι σοφ ή ς δ ειται φρενός.

Μ ή δ ε ια
τ ί δ ή τ ' εχ ρη σ ε; λέξαν, εί θέμ ις κλύειν.
MEDEIA
E por que foste ao oráculo no umbigo do mundo?

EGEU
Perguntei com o conseguiría sem ear filhos.

MEDEIA
Pelos deuses! Até hoje estendes a vida sempre sem crias?

EGEU
Sem crias somos! Acaso da divindade,

MEDEIA
Tens esposa ou és inexperiente na cama?

EG EU

Livre do leito conjugal não so m o s...

MEDEIA
Então, o que Febo te disse em relação aos meninos?

EGEU

Palavras sábias demais pra hom em entender.

MEDEIA
É perm itido que eu saiba o oráculo do deus?

EGEU

Claro! Mas, olha, é certo, exige sagacidade!

MEDEIA
Então qual foi a resposta? Dize! Se for perm itido escutar...
32

Α ίγ εν ς
άσκον με τον -προύχοντα μή λύοαι πό8α...

Μήδεια
68ο πριν& ν τ ί δ ρ ά σ η ς ή τίν ’ έζίκη χ θ όν α ;

Αιγεύς
πριν αν π α τ ρ ώ α ν α ύ θ ις έ σ τ ία ν μόλω.

Μ ή δ εια
σύ δ ’ ώ ς τ ίχ ρή ζιο ν τή ν δε ν α ν σ τ ο λ εϊς χ θ ό ν α ;

Α ίγ εν ς
Π ιτθεύς τις ίσ τ ι, γης ά ν α ξ Τροζηνίας.

Μ ή δ εια
παΐς, ώς λέγουσι, Πέλοττος, ευσεβέστατος.

Αίγεύς
68 $ τού τω θ εού μ ά ν τ ε ν μ α κ οιν ώ σ αι θέλω.

Μ ή δ ε ια
σοφός γάρ άνήρ και τριβών τά τοιάδε.

Αίγεύς
κ ά μ ο ί γε π ά ν τω ν φ ίλ τατος δορνζένω ν.

Μ ή δ ε ια
ά λ λ ’ εύ τν χ οίη ς κ α ι τύχοις όσ ω ν έράς.

Α ίγ εν ς
τί γ ά ρ σόν ϋμμα χ ρ ώ ς τ ε σ ν ν τ έ τ η χ ' δ δ ε;
93

EGEU
Não liberar o cam bito que sai do saco.

MEDEIA
Ú80 Até que tenhas feito o quê? O u até chegares aonde?

EGEU
Até voltar à casa paterna.

MEDEIA
F tu navegas para cá em busca do quê?

EGEU
Há um certo Piteu, rei da terra de Trezena.

MEDEIA
O filho de Pélops. Dizem que é muitíssimo piedoso.

EGEU
685 Q uero lhe contar o oráculo do deus.

M EDEIA
O homem é sábio e tem experiência nessas questões.

EGEU
E para m im é o mais querido aliado de todos.

MEDEIA
Então boa sorte! E que consigas tudo o que desejas!

EGEU
Mas por que essa cara e esses olhos?
94

Μ ή δ ε ια

6<χ> Α ίγεϋ, κάκ ισ τό ς έσ τί μ οι π ά ν τω ν πόσις.

Α ΐγ ε ύ ς

τί φ ής; σ α φ ώ ς μοι σ ά ς φρ&σον δυσ θυμίας.

Μ ή δ ε ια

ά δ ικ ε ϊ μ ’ Ίάσ ω ν ούδέν έ ζ έμ ο ΰ παθώ ν.

Α ΐγ ε ύ ς

τί χ ρ ή μ α δ ρ ά σ α ς ; φ ράζε μ ο ι σαφέστερου.

Μ ή δ ε ια

γ ν ν α ΐκ ’ έ φ ' ή μΐν δεσ πότιν δ ό μ ω ν έχει.

Α ΐγ ε ύ ς

695 οϋ π ο ν τ ε τ ό λ μ η κ ' έργον αΐσχιστον τόδε;

Μ ή δ ε ια

σ ά φ ' ίσ θ ': Άτιμοι δ ’ έσμέν οί προ τον φίλοι.

Α ΐγ ε ύ ς

πό τερο ν έρα σ θείς ή σον έχ θ α ίρ ω ν λέχος;

Μ ή δ ε ια

μ έ γ α ν γ ’ τρ ω τά; π ισ τός ο ύ κ εφν φίλοις.

Α ΐγ ε ύ ς

ϊτω νυν, εΐπερ, ώ ς λέγεις, έστίν κακός.

Μ ή δ ε ια

7 οο ά ν δ ρ ώ ν τυ ρ ά ν ν ω ν κ ή δ ο ς ή ρ ά σ θ η λαβειν.
9S

MEDEIA
690 Egeu, tenho 0 pior m arido de todos.

EGEU
Quê? Dize pra m im bem claro os teus desalentos.

MEDEIA
Jasão só me maltrata e de m im não sofreu nada!

EGEU
Mas fez o quê? Explica direitinho.

MEDEIA
Ele põe uma mulher, acima de mim, com o senhora da casa.

EGEU
695 Não! E teve coragem de agir dessa form a tão vergonhosa?

MEDEIA
Sabe bem: nós, os amores do passado, som os desprezados.

EGEU
Das duas uma: um amor ou ódio de tua c a m a ...

MEDEIA
Um grande amor! Ele não é mais confiável para os amigos.

EGEU
Então deixa ele ir, se é assim tão ruim quanto dizes!

MEDEIA
700 Ele anseia ligar-se - por aliança - com gente dos tiranos.
" Γ "1 I' l l l i ' t f n l M ifilT Π Ιττ Π Ι Γ Ί ........ . ................. μι I Ι Ι Ν Ι Ι Β Ι Ι Ι Μ Μ Ι Ι ^ ·

Α ίγ ε ν ς

δίδωοι δ ’ α,ύτή) τις; π έ ρ α ιν έ μ ο ι λόγον.

Μ ή δ ε ια

Κρέω ν, ο ς άρχει τή σ δ ε γ η ς Κ ορινθίας.

Α ίγ ε ύ ς

σ υ γ γ ν ω σ τά μ έ ν τ & ρ ' ή ν σε λ ν π εϊσ θ α ι, γύναι.

Μ ή δ ε ια

ο λ ω λ α : κ α ι π ρ ό ς γ ’ έξε λ α ν ν ο μ α ι χθονός.

Α ίγ ε ύ ς

705 π ρ ό ς τον; τόδ ’ άΑΑο κ αινό ν α ό λ έγ εις κακόν.

Μ ή δ ε ια

Κ ρέω ν μ ’ ελαύνει φ ν γ ά δ α γ η ς Κ ορινθίας.

Α ίγ ε ύ ς

έ ά δ ’ Ίάσ ω ν ; ονδέ τα ϋ τ ’ έπ ήν εσ α .

Μ ή δ ε ια

λ ό γ ω μ έ ν ονχί, καρτερείν δέ β ο ύ λ ε τ α ι.
«ΛΑ ‘ ά ν τ ο μ α ί σε τήσδε π ρ ό ς γεν ειά δα ς
7ΐο γο νά τω ν τε τώ ν σώ ν ικεσία τε γίγνομαι,
οϊκτιρον ΰ 'ϊκ τφ ό ν μ ε τή ν δνσδικιμονά
κ α ί μ ή μ 1 έρ η μ ο ν έκπ εσ ο ύσ α ν είσίδμς,
δ έξα ι δε χ ώ ρ α κ α ί δ σ μ ο ις εφέστιον,
ό ν τω ς ερ ω ς σοί π ρ ό ς θεών τελεσφ όρος
7ΐ5 γένοιτο π α ίδ ω ν κ α υ τό ς ό λ β ιο ς θάνοις.
εύ ρ η μ α 8 ' ούκ α ϊσ θ ’ οίον η ϋ ρ η κ α ς τάδε:
π α υ σ ω γέ σ ' δ ν τ ’ ά π α ιβ α κ α ί π α ίδ ω ν γ ο ν ά ς
σ π είρ α ! σε θ ή σ ω : το ιά δ ‘ ο ιδα φ ά ρ μα κ α.
97

EGEU
Quem lhe ofereceu uma? Term ina de contar.

MEDEIA
Creonte, o que governa esta Corinto.

EGEU
É, m ulher... é compreensível teu sofrimento.

MEDEIA
Acabou! Ele ainda me expulsa dessa terra!

EGEU

7 os Quem? Cada hora uma coisa ruim nova!

MEDEIA
Creonte! Está me banindo de Corinto. Exilada!

EGEU
E Jasão permite? Tsso eu não aprovo.

MEDEIA
No dito, não; ele, com paciência, aguarda o que quer.
M as te imploro, por esta tua barba
7jo e por teus joelhos! Eu suplico!
Tem piedade, piedade de m im que sou desgraçada
e não tne vejas com o desolada e decaída!
Recebe-m e com o hóspede em tua terra, no teu lar.
Assim, teu desejo será realizado pelos deuses!
715 Crianças hajam para ti! E tu m orrerás feliz!
Nào sabes ainda que achado fizeste!
Acabarei com tua falta de filhos e de filhos
te farei semear gerações! Conheço bons remédios!
9S

Α ίγ ε ύ ς

π ο λ λ ώ ν εκατι τή νδ ε σαι δούναι χάριν,


720 γύναι, π ρόθυ μός είμι, π ρ ώ τ α μ έν θεών,
έπ ειτα π α ίδ ω ν ώ ν έ π α γ γ έ λ λ μ γ ο ν ά ς:
ές τοντο γ ά ρ δ η φ ρούδος ειμι π ά ς εγώ.
ον τ α δ ’ έχει μ ο ι: σον μ έ ν έ λ θ ο ύ σ η ς χ θ όνα,
π ε φ ά α ο μ α ί σον προξενεϊν δίκ αιος ών.
725 τοσόνδε μέντοι αοι π ρ ο σ ημα ίν ω , γύναι:
έκ τή σ δ ε μ έν γ η ς ον σ ’ άγειν β ο ν λ ή σ ο μ α ι,
α ν τ ή δ ' έά νπ ερ εις έ μ ο ν ς ε λ θ η ς δ όμους,
μ εν εϊς ά σ ν λ ο ς κον σε μ ή μ εθ ώ τινι.
έκ τήσ δ ε δ ' α ν τ ή γ ης ά π α λ λ ά σ σ ο ν π ό δ α :
730 α ν α ίτ ιο ς γάρ καί ζένοις είναι θέλω,

Μ ή δ ε ια
έσται τ ά δ άΑΑά πίσ τις εί γένοιτό μ ο ι
τούτων, εχοιμ ’ α ν π ά ν τ α π ρ ο ς σέθεν καΑώ<,

Α ίγ εύ ς
μ ώ ν ον π έπ ο ιθ α ς; ή τι σοι τό δυσχερές;

Μ ή δ ε ια

π έπ ο ιθ α : Π ελίο υ δ ’ έχθρύς έσ τί μοι δ ό μο ς


735 Κ ρ έω ν τε. τούτοις δ ’ όρκίοισι μ έν ζνγείς
ά γο υ σ ιν ού μ εθ εί ’ &ν έκ γ α ία ς εμέ:
λ ό γ ο ις δέ σ ν μ β ά ς και θεώ ν ά ν ώ μ ο το ς
φ ίλ ο ς γένοι ’ α ν κ ά π ι κ η ρ ν κ εΰ μ α σ ι ν
τάχ ‘ άν πίθοιο: τ ά μ ά μ εν γάρ ασθενή,
74ο τοϊς δ ' ό λ β ο ς έστί καί δ ό μ ο ς τυραννικός.

Α ίγ ε ύ ς

π σ λ λ ή ν έδειξας έν λ ό γ ο ις π ρ ο μη θ ία ν:
άλΑ , εί δο κεϊ σοι, δράν τ ά δ " ονκ άφ ϊσ τα μα ι.
έμ ο ί τ ε γ ά ρ τ ά δ ' έστίν α σ φ α λ έσ τερ α ,
99

EGEU
Por muitos motivos te farei este favor;
720 de bom grado, mulher. Prim eiro, pelos deuses,
e depois pelos filhos que anuncias que nascerão.
Estou agora todo voltado para isso.
Para m im é assim; vem para minha terra
que tentarei te hospedar com justiça.
7*5 [SÓ quero deixar bem claro, mulher:
desta terra não planejo te levar.
Mas se tu mesma fores ao meu palácio,
terás asilo e nunca te entregarei!]
Tu m esm a afasta o pé desta terra.
73 « Não quero que meus hóspedes me culpem.

MEDEIA
Assim será. Mas se eu tivesse garantia
disso, ficaria completam ente bem contigo.

EGEU

Não acreditas em mim? Qual o problema?

MEDEIA
Confio. Mas a casa de Peleu é m inha inimiga e também
735 Creonte. Mas, comprom etido com um juram ento,
não m e abandonarias aos que me carregam para além desta
terra; com binado só com palavras, sem juram ento pelos
deuses, poderías virar amigo deles, por uma demanda oficial.
Logo concordarias. Eu sou fraca!
740 Eles têm riqueza e realeza!

EGEU
M ostras, mulher, muita prudência;
Se é o que achas melhor, não me recuso.
Para m im é até mais seguro:
I

ιοο

σκήψ ίν T t v ' έχ θ ρ ο ϊς σοΐς εχ ο ν τ α δεικννναι,


745 το σόν τ ’ α ρ α ρ ε μ ά λ λ ο ν : έξη γ οϋ θεούς,

Μ ή δ εια
δμ νυ π έόο ν Γης π α τ έ ρ α θ ’Ή λ ιο ν πατρός
τον μ ου θεώ ν τε σ υ ν ή θ ε ις & παν γένος.

Α Ιγ εύ ς
τι χρήμα, δ ρ ά σ ειν ή τί μή δ ρ άσ ειν ; λέγε.

Μ ή δ ε ια
μ ή τ ’ α ύ τ ό ς έ κ γή ς αή ς έμ ’ έκ β α λ εϊν ποτέ,
750 μ ή τ ώΑΑος ή ν τις τών έμ ω ν εχ θρώ ν άγειν
χρήζμ, μ εθή σ ειν ζώ ν έκ ο υ σ ίω τρόπω.

Α ίγ ιν ς
ομνυμι Γ α ϊα ν Ή λ ιο ν θ ' ά γ ν ό ν σέΛώς
θ εο ύ ς τ ε π ά ν τ α ς έμ μ ενεϊν & σον κλύω.

Μ ή δ ε ια
ά ρ κ ε ϊ: τί δ ’ δ ρ κ φ τ ώ δ ε μ ή 'μμένων πάθοις;

Α ίγ εν ς
75J à τοϊσι δ υ σ σ εβ ο ϋ σ ι γίγ νεται βροτών.

Μ ή δ εια
χ αίρινν π ο ρ εν ο ν : π ά ν τ α γ ά ρ καΑώς ιχει.
κ ά γ ώ π άλιν σή ν ώ ς τάχ ιστ ’ άφ ίξο μ ας
π ρ ά ξ α σ ’ & μ έλ λ ω κ α ί τ ν χ ο ν σ ’ ã βούλομαι.

Χ ορός
άΑΑΛ σ ’ ό Μ α ία ς π ο μ π α ίο ς ά ν α ξ
γόο π ε λ ά σ ε ιε δ όμ οις ών τ ’ επ ίν οιαν
101

ganho um pretexto para mostrar a teus inimigos


745 e o teu lado fica mais firme. Indica os deuses.

MEDEIA
Jura pelo chão da Terra e pelo Sol, pai
do meu pai! Invoca toda a raça dos deuses!

EGF.U
Fazer ou não fazer o quê? Fala,

MEDEIA
Nunca tu me expulsarás da tua terra.
750 Nunca, se algum outro inimigo meu quiser me carregar,
permitirás de boa vontade enquanto estiveres vivo!

EGEU
Juro pela Terra e pela sagrada luz do Sol,
por todos os deuses, manter-me fiel ao que ouvir de tí.

MEDEIA
É suficiente, 1 o que sofrerias se faltasses com o juramento?

EG EU
755 O que sucede aos mortais que cometem impiedade.

MEDEIA
Segue feliz! Está tudo bem!
Eu logo chegarei em tua cidade, se
faço o que devo e consigo o que quero.

CORO
Então! Que o deus, filho de Maia,
760 seja teu guia, rei! Que te leve pra casa!
102

σ π εύ δ εις κ α τ έχ ω ν π ρ ά ξεια ς, έπ εί
γ εν ν α ίο ς άνήρ,
Λίγεν, n a p ' έμ οί δ εδ ό κ η σ at.

Μ ή δ εια
ώ Ζ εν Δ ίκη τε Ζ η ν ό ςΉ λ ίο ν τ ε φως,
7 új ννν κ αλ λ ίν ικο ι τω ν έμ ώ ν έχθρών, φ ίλat,
γ εν η σ ό μ εσ θ α κείς ό δ ό ν β φ ή κ α μ ε ν ,
νυν έλ π ίς εχ θ ρο ύ ς τού ς έμ ον ς τείσ ειν δίκην,
ον το ς γ ά ρ άν ή ρ ή μ ά λ ισ τ ' έκ ά μ ν ομ εν
λ ψ ή ν π έψ α ν τα ι τώ ν έμ ώ ν β ου λ ευ μ ά τω ν :
jjo έκ τ ο ΰ δ ’ ά ν α ψ ό μ εσ θ α πρν μ νή τη ν καλώ ν,
μ ο λ ό ν τες ά σ τ υ κ α ι π ό λ ισ μ α Π α λ λ ά δ α ς ,
ήδη δ έ π ά ν τ α τ ά μ ά σοι β ο υ λ εύ μ α τ α
λέξω : δέχ ον δ ε μή π ρ ο ς η δονή ν λόγου ς,
π έμ ψ ασ ' έμ ώ ν τιν' οίκ ετώ ν Ί ά σ ο ν α
77S ές δψιν έλ θ εϊν τη ν έμήν αίτή σ ομ αι.
μ ο λ όν τι δ ' α ύ τ ώ μ α λ θ α κ ο ύ ς λέ£ω λόγου ς,
ώ ς κ α ι δ ο κ ε ϊ μ οι τ α ν τ ά κ α ι κ α λ ώ ς γαμ ει
γ ά μ ο υ ς τυ ρ ά ν ν ω ν ο ν ς π ρ ο δ ο ύ ς η μ άς έχει,
κ α ί ξύμψ ορ ’ είναι κ α ί κ α λ ώ ς εγνω σμένα.
780 π α ϊδ α ς δ έ μ εϊν αι τού ς έμ ονς αίτή σ ομ αι,
ον χ ώ ς λ m o v e ’ ά ν π ο λ έμ ια ς επί χ θ ο ν δ ς
εχ θροϊσ ι π α ϊδ α ς τού ς έμ ον ς κ αθ ν β ρ ίσ α ι,
ά λ λ ' ώ ς δόλ ο ισ ι π α ϊδ α β α σ ιλ έ ω ς κτάνω .
πέμψ ω γ ά ρ α υ τ ο ύ ς δ ώ ρ ’ έχ ο ν τ α ς έν χ εροίν,
785 [νύμφη φ έροντας, τή ν δε μή φ νγειν χ θ ό ν α ,]
λ ε π τ ό ν τε π έπ λ ο ν καί π λ ό κ ο ν χ ρ υ σ ή λ α το ν ;
κ ά ν π ερ λ α β ο ν σ α κ όσ μ ον άμ φ ιθή χρ οΐ,
κακώς όλείταΗ π α ς θ ' δ ς ά ν θίγη κόρης:
το ιο ϊσ δ ε χ ρ ίσ ω φ α ρ μ ά κ ο ις δω ρή μ ατα,
έ ν τ α ϋ θ α μ έν το ι τ ό ν δ ' α π α λ λ ά σ σ ω λόγον,
ώ μ ω βα δ ’ ο ίον ερ γ ο ν ε σ τ ’ έρ γ α σ τ έ ο ν
τ ο ύ ν τ εν θ εν ήμιν: τ έκ ν α γ ά ρ κ α τ α κ τ εν ώ
τ&μ ο ν τις εσ τ ιν δ σ τ ις έξ α φ ή σ ετ α ι:

111

ι
103

Que possas, os teus cuidados, realizar. Pois


homem de bem,
Egeu, te considero.

MEDEIA
ôÔ Zeus, Justiça de Zeus e luz do Sol!
765 Agora belas vitórias sobre meus inimigos,
queridas, teremos! É a rota que trilhamos.
Agora tenho chance de justiça. Os inimigos vão pagar.
Este homem surgiu como um porto
pros meus planos, o que mais me preocupava.
770 Nele atracaremos bem nossa popa,
indo à cidade de Atenas, à vila de Palas.
Já te conto todos os meus planos.
Recebe o desprazer destas palavras;
mandamos um dos meus domésticos a Jasão;
775 que venha me ver, pedirei.
Quando chegar, lhe direi palavras ternas:
que acho justo tais coisas e que está tudo bem,
as bodas tirânicas, essa traição conosco,
que acho adequado e entendo tudo muito bem.
/So E pedirei que os meus meninos possam ficar
e que não sejam insultados por inimigos
enquanto vou abandonada pra terra hostil,
e aí, assim, com ardis, mato a filha do rei.
Eu os enviarei com presentes nas mãos
785 pra noiva, uma desculpa pra não fugir desta terra:
um manto fino e uma coroa trançada de ouro.
Se ela pegar o enfeite e cíngir a pele,
acaba mal. Ela e todo aquele que tocar a jovem:
banharei os presentes com aqueles venenos!
Assunto encerrado.
Lamento fazer esse trabalho, a partir daí
vamos ter que matar os meninos,
os meus. Não há ninguém para os salvar.
104

δ ό μ ο ν τι π ά ν τ α σ ν γ χ έα σ ’ Ί ά σ ο ν ο ς
795 ίζειμ ι γ α ίας, φ ιλ τάτω ν π α ίδ ω ν φ όνον
φ εύ γ ο ν ο α κa i τ λ α σ ' έρ γ ο ν άν οσ ιώ τατον .
ο ν γ ά ρ γ ε λ ά σ θ α ι τλη τόν έ ξ εχθρών, φίλαι.
ϊτω : τϊ μοί ζην κ έρ δ ο ς; ο ύ τ ε pot π α τρ ϊς
ο ϋ τ ’ ο ϊκ ο ς εσ τιν ο ϋ τ ' α π ο σ τ ρ ο φ ή κακώ ν.
Soo ή μ ά ρ τα ν ο ν τ ό θ ' ή ν ίκ ' έξελ ίμ π α ν ον
δ όμ ο υ ς π α τρ ώ ο υ ς, ά ν δ ρ ό ς Έ λ λ η ν ο ς λόγοις
π εισ θ είσ δ ς ήμΐν σνν θεώ τ ε ίσ α δίκην,
ο ϋ τ ’ έζ έμ ον γ ά ρ π α ϊδ α ς ό ψ ετ α ί π ο τέ
ζ ώ ν τ α ς τ ο λ ο ιπ ό ν ο ν τ ε τής νεοζνγον
Soj νύμφης τεκνώ σει π α ϊδ έπ εϊ κ α κ ή ν κ α κ ώ ς
θ α ν εΐν σ φ ' ά ν ά γ κ η τοϊς έμ οϊσι φ αρμ άκ οις,
μ η δ ΐίς μ ε φ αύλ η ν κ ά ο θ εν ή νομιζέτω
μ η δ ’ ήσνχαίαν, ά λ λ α θ α τ έρ ο ν τρόπου,
β α ρ ε ΐα ν έχ θροϊς κ α ί φ ίλοισιν ευμενή:
8ιο τώ ν γ ά ρ τοιον τω ν ε υ κ λ εέσ τ α τ ο ς βίος.

Χ ορός
έπ είπ ερ ήμϊν τ ό ν δ ’ έκ ο ίν ω σ α ς λόγον,
σέ τ ’ ώ φ ελεΐν θ έ λ ο ν σ α κ α ί νόμ οις β ρ ο τ ώ ν
ζ ν λ λ α μ β ά ν ο υ σ α δ ρ ά ν σ ' ά π εν ν έπ ω τάδ ε.

Μ ή δ ε ια
ο ν κ εσ τ ιν ά λ λ ω ς : σοί δ έ συ γγνώ μ η λέγειν
Sis τ ά δ ' έστί, μή π άσχ ονσ αν, ώ ς εγώ, κακώ ς.

Χ ορός
άΑΑά κ τ α ν εΐν σόν σ π έρ μ α τολμήσεις, γύναι;

Μ ή δ ε ια
ο ΰ τω γ ά ρ ã v μ ά λ ισ τ α δηχθείη πόσις.
I 10 5

Quan tio tiver borrado toda a casa de Jasão,


795 vou embora dessa terra, pra fugir do crime dos
meninos que amo, eu que ouso a obra mais profana.
Não suporto, amigas, ser motivo de riso pros inimigos,
Vamos! Que ganho em viver? Não tenho pátria,
nem casa, nem refúgio contra os males.
Soo Errei então quando abandonei
o palácio paterno persuadida pela lábia do grego.
Que, pelo deus, se nos pague 0 que é justo!
Ele não mais verá meus meninos
vivos daqui pra frente, nem com a noiva
Í05 recém-casada terá crias e é preciso que a horrenda
morra de morte horrível com meus venenos.
Que ninguém me considere tola e fraca,
nem resignada, mas, de outro modo,
pesada para os inimigos e leve para os amigos.
810 Tem mais fama a rada de quem é assim.

CORO
Depois que nos contaste este plano,
desejando te ajudar e cumprindo as leis dos vivos
suplico: não faças tal coisa.

MEDEIA
Não tem outro jeito. Te perdoo por dizer
Sij essas coisas, não sofres tanto como eu.

CORO
Mas ousarás matar tua semente, mulher?

MEDEIA
Assim mais forte mordo meu marido!
ιο 6

Χ ορός
σίι δ ' ά ν γ έν οιό γ ' ά θ λ ιω τ ά τ η γυνή.

Μ ή δ εια
ϊτΐύ: περισ σ οί π ά ν τες ον ν μ έσω λόγοι.
820 άλλ ’ ε ΐα χ ώ ρει κ α ι κ ό μ ιζ ’ Ί ά σ ο ν α
ές π ά ν τ α γ ά ρ δή σοι τά π ισ τ ά χ ρ ώ μ εθ α
λ έξη ς δ έ μ η δ έν των έμ οί δεδογμ ένω ν,
εϊπ ερ φ ρονείς εΰ δ εσ π ό τ α ις γυνή τ' εφνς.

Χ ορός
Έ ρεχ θ είδαι το π α λ α ιό ν όλβιοι
825 κ α ί θεώ ν π α ιδ ες μ α κ άρω ν , ίερ ά ς
χ ώ ρ α ς ά π ο ρ θ ή τ ο ν τ ’ &πο} φ ερβόμ ενοι
κ λ ε ιν ο τ ά τ α ν σοφιαν> a k i Stà λ α μ π ρ ο τ ά τ ο ν
$50 β α ίν ο ν τ ες ά β ρ ω ς α ίθ έ ρ ο ς , ένθα π ο θ ' ά γ ν ά ς
έ ν ν έ α Π ιερ ίδα ς Μ ού σ ας λ έγ ον σ ι
ξ α ν θ ά ν Α ρμ ονίαν φ ντεΰ σαί:

855 τον κ α λ λ ιν ά ο ν τ' επί Κ η φ ισού ρ ο α ϊς


ràv Κ ύπριν κλή ζονσιν ά φ ν σ σ α μ έν α ν
χ ώ ρ α ς κ α τ α π ν ε ν σ α ι μ έτρ ιου ς αν έμ ω ν
840 α έ ρ α ς ή δν π νάονς: α'ιεί S' έπ ιβ α λ λ ο μ έν α ν
χ α ίτ α ισ ιν ευ ώ δ η ρ ο δ έω ν π λ ό κ ο ν ά ν θ έω ν
τα Σ οφ ία π α ρ έδ ρ ο ν ς π έμ π ειν“Ε ρω τας,
84 5 π α ν τ ο ία ς ά ρ ε τ α ς ζννεργσύς.

πώ ς ο ύ ν ιερώ ν π ο τα μ ώ ν
ή π ό λ ις ή θεώ ν
π ό μ π ψ ό ς σε χ ώ ρ α
τ ά ν π α ιδ ο λ έ τ ε φ α ν έ-
850 ζει, τ ά ν ον χ όσίαν, μ ετ ’ αστών;
σ κ έψ α ι τ εκ έω ν π λ α -
yàv, σ κ έψ α ι φ όνον ο ϊο ν aiprj.
μή, π ρ ο ς γ ο ν ά τ ω ν σε πάν-
107

CORO
E tu te tornarias então, a mais miserável das mulheres.

MEDEIA
Deixa pra lá! Todo permeio agora é inútil!
&2 o Mas, ó, vai e traze Jasâo,
pois para todo assunto de confiança recorremos a ti.
Não contes nada do que planejei,
se entendes bem tua senhora e és mulher.

CORO
Os filhos felizes de Erecteu foram outrora
&5 filhos dos deuses bem-aventurados,
por sagrado e inviolado chão nutridos
com notável Sensatez desde sempre, caminham
830 macio pelo mais brilhante céu. Lá onde dizem que,
puras, as nove Musas Piéridas
fizeram brotar a loura Harmonia.

835 E pela bela corrente que escorre do rio


louvam a cípria Afrodite, que fecundou
o chão a soprar ventos temperados:
840 brisas de hálito doce sempre lançando
nos cabelos o aroma das rosas, guirlanda florida...
Ela os amores, ajudantes da Sensatez, solta,
845 para em toda parte a virtude provocar.

Mas como a cidade


dos rios santos, chão abrigo
dos deuses, a ti, a infanticida,
abrigará?
850 A facínora das cidades?
Imagina os golpes nas crianças,
imagina que chacina construída!
Não! Aos teus pés! Nunca!
ιο 8

τ α π ά ν τω ς ίκετενομεν,
«55 τ έκ ν α φ ονεύσης.
π όθεν θ ρ ά σ ο ς ή φ ρενός ή
χειρί ΤτέκνωνΤ οέθ εν
κ α ρ δ ία τε λήψή
δ είν α ν π ρ ο σ ά γ ο ν σ α τόλ-
86ο μ αν; πώ ς S' ά ρ μ α τ α π ρ ο σ β α λ ο ν σ α
τέκ ν οις ά δ α κ ρ υ ν μ ο ί­
ρ α ν αχ ή σ εις φόνον; ο ν δ ν ν άσ ιγ
π α ίδ ω ν ίκ ετά ν πιτνόν-
των, τ έγ ζ α ι χ έ ρ α φ οινίαν
86s τλάμ ονι θνμφ.

Ίά σ ω ν
ήκίο κ ελ εν σ θ είς: κ α ι yàp ο ϋ σ α δυσμ ενή ς
ο ν τ ά ν ά μ ά ρ τ ο ις τ ο ν δ έ γ ώΛΑ ’ άκ ού σομ ατ.
τι χ ρ ή μ α β ού λ μ κ α ιν ό ν έ ξ έμοϋ, γύ ναι;

Μ ή δ εια
Ίάσον, α ϊτ ό ν μ α ί σ ε τω ν είρη μ ένω ν
870 σ υ γ γ ν ώ μ ο ν ' είν αι: τ ά ς S ’ εμ ά ς ό ρ γ ά ς φ έρειν
εΐκ ός σ ’, έπ ει νώ ν π όλ λ ’ ν π ε ίρ γ α σ τ α ι φίλα,
εγ ώ δ ’ έμ α ν τ ή δ ιά λ ό γ ω ν άφ ικόμ η ν
κ ά λ ο ιδ ο ρ η σ α : Σ χετλία, τϊ μ α ίν ο μ α ι
κ α ί δ ν σ μ εν α ίν ω τοΐσι β ου λ εύ σ υ σ ιν εύ,
875 έχ θ ρ ά δ έ γ α ία ς κ οιρ ά ν ο ις κ α θ ίσ τ α μ α ι
ΐΐόσ ει θ ’, ος ήμιν δ ρ ά τά σ ν μ φ ο ρ ώ τα τα ,
γ ή ρ α ς τύ ρ α ν ν ο ν κ α ι κ α σ ιγ ν ή το ν ς τέκ νοις
έρ ο ϊς φ ατενώ ν; ού κ ά π α λ λ α χ θ ή σ ο μ α ι
θν μ οϋ — τί π άσχ ω ; — θεώ ν π οριζόντω ν καΑα'ς;
SSo ού κ είσι μ έν μοι π α ΐδες, ο ιδ α δ έ χ θ ό ν α
φ εύ γ ον τας η μ άς κ α ί σ π α ν ίζ ο ν τ α ς φίλων;
τ α ϋ τ ' έ ν ν ο η θ ε ϊσ ’ ή σ θόμ η ν α β ο υ λ ία ν
πολλή ν έχ ο ν σ α κ α ί μ ά τη ν θυμο νμένη.
ννν ον ν επ α ιν ώ σω φ ρονεΐν τέ μοι δοκ εΐς
109

Por tudo te imploramos:


S55 não chacines as crianças!
Donde a coragem do peito
para prender na mão
os frutos teus e ao coração
terrores resoluta trazer?
Six) E como lançar enxutos
os olhos na prole?
Terás a sina do crime? Não poderás!
Das crianças caídas implorando...
a mão manchada de sangue...
865 nas entranhas... perenes...

JASÃO
Venho por chamado e mesmo com a rixa
que tens não erraste nisso, te ouvirei.
O que mais queres de mim, mulher?

MEDEIA
jasão, pelo que disse, peço-te:
870 me perdoes. Minha sanha convém aturar
depois de nós dois tanto amor vivermos.
Eu, por mim mesmo ao bom senso cheguei
e me xinguei: “ Tonta! Fiquei louca?
Destratei quem só me queria bem!
87; E, rival da terra, me arvoro contra os chefes
e o marido, que fez o mais conveniente para nós;
casar com a princesa e gerar irmãos
para os meus frutos?! Não vou me Livrar
da raiva? Que sofro? São bons os arranjos divinos.
880 Crianças? Já não tenho? E não sei que somos
fugidos da terra e precisamos de amigos?”
Aí, pensei e percebí a insensatez que tenho
tão descuidada por nada tão desalmada.
Mas agora aprovo tudo: me pareces ter razão
110

88; κ ή δο ς τ ό δ ' ήμ tv π ροσ λ αβ ώ ν, έγ ώ 5 ’ αφρων,


U ΧΡΨ’ μ ετείν α ι τώ ν δ ε τώ ν β ο υ λ ευ μ ά τ ω ν
κ α ί ξυ μ π εραινειν κ α ί π α ρ ε σ τ ά ν α ι λ έχει
νύμφη τε κ η δ εύ ο ν σ α ν ή δ εσ θ α ι σέθεν.
άΑΑ ' έσμ έν ο ϊό ν έαμεν, ον κ έρώ κακόν,
ί'9ΰ γ υ ν αίκ ες: ο ϋ χ ο ν ν χ ρ ή ν σ ’ ό μ ο ιο ν σ θ α ι φύαιν,
ο ύ δ ' ά ν τιτείν ειν ν ή π ι' ά ν τ ϊ νηπίων,
π α ριέμ εσ θ χ , κ α ί φ α μ εν κ α κ ώ ς ψ ρονεϊν
τότ άΑΑ * άμ ειν ο ν νυν β εβ ο ν λ ευ μ α ι τ ά δ ε ,
ώ τέκνα τέκ ν α , δεύρο, λ ε ίπ ε τ ε σ τέγ α ς,
895 έβ έλθετ', ά σ π ά σ α σ θ ε κ α ί π ρ ο σ είπ α τ ε
π α τ έ ρ α μ ε θ ’ ημών κ α ί δ ια λ λ ά χ θ η θ ' ά μ α
τής π ρ ό σ θ εν εχ θ ρ α ς ές φ ίλους μητριές μ έτα.
σ π ο ν δ α ι γ ά ρ ήμίν κ α ί μ εθ έσ τ η κ εν χόλος,
λ ά β ε σ θ ε χ ειρ ό ς δ εξιάς: οϊμοι, κ α κ ώ ν
9 οο ώς εν ν ο ο ύ μ α ι δή τι τώ ν κεκρνμμένω ν.
ά ρ ώ τέκν ον τω κ α ί π ο λ ν ν ζώ ντες χ ρ ό ν ο ν
φίλην ό ρ έ ζ ε τ ’ ω λένη ν; τ ά λ α ιν ’ έγώ,
ώς α ρ τ ίδ α κ ρ ύ ς είμι κ α ί φ όβον πλέα.
χ ρ ό ν φ δέ νεϊκος π α τρ ύ ς έβ αιρου μ ένη
90 s δψιν τ έρ ειν α ν τ ή ν δ 1 επ λ η σ α δακρύω ν.

Χ ορός
κ ά μ ο ι κ α τ ' δ α σ ώ ν χ λ ω ρ όν ώ ρμήθη δ άκ ρυ :
κ α ί μή π ρ ο β α ίη μ ειζον ή τ ό νυ ν κακόν.

Ίάσω ν
αινώ , γ ό ν α ς τ ά $ ο ύ δ ' έκ εϊν α μ έμ φ ομ αι:
εικ ό ς γ ά ρ ό ρ γ ά ς θήλυ π ο ιεϊσ θ α ι γένος
9 ΐο γ ά μ ο ν Τ παρεμ πολώ ντοςΤ ά λ λ σ ίο ν πόσει.
ά λ λ ’ ές τό Αώον σδν μ εθ έσ τη κ εν κέαρ,
έγ ν ω ς δ έ τήν νικώ ααν, ά λ λ ά τώ χ ρόνφ ,
β ου λ ή ν : γ ν ν α ικ ό ς έρ γ α τ α ν τ α σώ φ ρονος.
νμϊν δέ, π α ΐδ ες , ο ν κ άφ ρ ον τίσ τω ς π ατι)ρ
9ΐ5 πολλή ν εθ η κ ε σ υ ν θ εο ις σω τη ρίαν:
Ill

883 ao propor alianças para nós. Eu fui a fraca


que devia fazer parte dos planos
e me unir a ti, ficar ao lado da cama cuidando
da noiva e ter satisfação por ti.
Enfim, somos o que somos, não direi ruins,
890 mas mulheres. Então, não deves imitar meu gênio,
nem pagar criancice com criancice.
Deixa! Falo até; naquela hora
pensei errado. Mas agora planejei melhor isso;
ó, crianças! crianças! Aqui! Saí de casa!
895 Vinde para fora! Abraçai e falai
com o pai, conosco, e, assim, trocai
frente aos amigos a rixa antiga da mãe.
São tréguas! Por nós, a raiva está longe.
Pegai a mão direita. - Ô ruindade.
? oú Como pensar em alguma tramóia! -
Ara! ôÔ crianças, que assim seja por muito tempo,
de braços abertos, vivereis!
Desgraçada eu! Quão lacrimosa estou,
cheia de medo. Mas em tempo findou a rixa com o pai
ços - esta cena de ternura me enche de lágrimas!

coro

Também dos meus olhos brota pranto molhado.


Que não venha mal maior que este agora!

JASÃO
Alegro, mulher, com isso, nem condeno o de antes.
Ê normal na raça feminina rancor
910 contra o marido - afinal outras bodas escondí.
Mas teu coração mudou para melhor;
reconheceste, em tempo, a decisão acertada.
Isso é coisa de mulher sensata.
Pra vós, crianças, não sem usar a cabeça, o pai
915 por ajuda dos deuses, trouxe imensa salvação!
112

οίμ αι γ ά ρ υμάς τή σδ ε γης Κ ο ριν θ ίας


τ ά π ρ ώ τ ’ εσ εσ θ α ι συν κ ασ ιγ ν ή τοις έτι.
«Αλ ’ α,νξάνεσϋε: τ ά λ λ α 5 ‘ έξ ερ γ ά ζ ετ α ι
π α τ ή ρ τε m l θ εώ ν ό σ η ς έστ'ιν ευμενής.
920 ϊδοιμι δ ’ ύμ&ς ευ τρ α φ είς ή βη ς τέλ ο ς
μ ο λ όν τα ς, εχ θρώ ν τω ν έμ ώ ν υ π έρ τερου ς,
αυτή , τΐ χ λ ω ροϊς δ α κ ρ ΰ ο ις τέγ γ εις κόρας,
σ τ ρ έψ α σ α λ ευ κή ν εμ π αλ ιν π α ρ η ίδ α ;
κ ον κ άσ μ έν η τό ν δ ’ έί, έμ οΰ δέχη λόγον ;

Μ ή δ εια
925 ούδέν. τέκ ν ω ν τώνδ ’ εν νοού μ ενη πέρι.

Ίά σ ω ν
θ ά ρ σ ει νυν: ευ γ ά ρ τώ ν δ ε θή σομ αι πέρι.

Μ ή δ εια
δ ρ ά σ ω τ ά δ ’: οϋ τοι σ ο ις ά π ισ τ ή σ ω λόγοις:
γυνή δ έ θήλυ κ ά π ί δ α κ ρ ύ ο ις εφι>.

Ίάσω ν
τι δή, τ ά λ α ιν α , τ ο ισ δ ’ έπ ισ τέν εις τέκνοις;

Μ ή δ εια
950 ετ ικ τ ο ν α υ τ ο ύ ς : ζήν δ ’ ό τ ’ έζη νχον τέκ να,
έσ ή λ θ έ μ 1 ο ίκ το ς e i γ εν ή α εται τάδε.
άΑλ ' ώ ν π ερ ο ν ν εκ ’ εις έμ ού ς ή κεις λ όγου ς,
τ ά μ έν λ έλ εκ τ α ι, τών δ ' έγ ώ μ νη οθή σομ αι.
έπ εϊ τ υ ρ ά ν ν ο ις γ η ς μ ’ ά π ο σ τ ε ϊλ α ι δ ο κ ε ϊ
935 κάμ οι τ ά δ ’ έστι Χ ωστά, γιγνώ σκω καΑώι;,
μ ή τ ’ έμ π ο δ ώ ν σο'ι μ ή τ ε κ ο ιρ ά ν ο ις χ θ ο ν ό ς
ν α ίειν : δ οκ ώ γ ά ρ δυσμ ενή ς είναι δ όμ οις
ήμεϊς μέν έκ γη ς τ ή σ δ ’ ά π α ρ ο ϋ μ εν φυγή,
ii3

Acredito que dessa terra coríntia, vós


os primeiros sereis e aind a.,, com irmãos!
M as... crescei! O resto resolverá o pai - e
os deuses - o que for propício.
920 Que vos possa ver bem crescidos chegar até o fim
da m ocidade mais fortes que os meus inimigos.
Mas vê e sta ,., por que lavas as pupilas
com frias lágrimas e viras o branco rosto?
Não recebes com satisfação estas palavras?

MEDEIA
92; Nada! Estou pensando na p ro le... esta aq u i...

[ASÂO
Ânimo, agora! Vou cuidar bem destes aqui.

MEDEIA
Farei isto! Não vou desconfiar m ais das tuas palavras.
A mulher se faz fêm ea é pelas lágrimas.

JASÃO
Q u eê... infeliz! Gem es p or estes brotos?

MEDEIA
930 Eu os pari! Quando pedias: “que viva a prole”,
me bateu uma angústia, será mesmo?
Mas pelo que vens conversar comigo,
uns já foram ditos, os outros, recordarei agora:
Já pros tiranos está resolvido: devo ir daqui da terra -
93j para mim, também isto é o melhor, eu sei não
vou atrav an car 0 teu cam in ho, nem a terra
dos chefes habitar; pelo jeito, sou rival da casa real.
Nós, desta terra, partimos em fuga, mas
“ 4

π α ϊδ ε ς δ ' δ π ω ς &ν έκ τ ρ α φ ώ α ι ΰή χέρι,


940 α ϊτό ν Κ ρ έ ο ν τ α τ ή ν δ ε μ ή φ εύγειν χ θ άνα.

Ίάσω ν
ο ύ κ ο ι δ ’ ã v d πείσαιμι, π ε φ ά σ θ α ι δ ε χρή.

Μ ή δ εια
σύ δ ’ άΑΛά σήν κ έλ εν α ο ν ά ν τ ε σ θ α ι π α τρ ό ς
γ υ ν α ίκ α π α ίδ α ς τή ν δε μή φ εύγειν χ θ όνα.

Ίάσω ν
μ ά λ ισ τ α , κ α ί πείσειν γε δ οξ ά ζ ω σ φ ' έγώ,

Μ ή δ εια
945 ε'ιττερ γ υ ν α ικ ώ ν < γ'> έσ τι τών «ΑΑων μία.
σνλλή ψ ομ αι δ ε τ ο υ δ έ σοι κ ά γ ώ η όνον:
πέμψω γ ά ρ αυ τή δ ώ ρ ’ & κ α λ λ ισ τ εύ ετ α ι
τών νϋν έν άνθρώ ποισιν, ο ι δ ’ έγώ, π ολ ύ
[λ επ τό ν τ ε π έπ λ ο ν κ α ι π λ ό κ ο ν χ ρ ν σ ή λ α τ ο ν ]
950 π α ϊδ α ς φ έροντας. άΑλ ’ δ σ ο ν τάχ ος χ ρ εώ ν
κόσμ ον κσμίζειν δ εύ ρ ο π ρ ο σ π ό λ ω ν τινά.
ευ δ α ιμ ον ή σ ει δ ’ ούχ Βν, «ΑΛΑ μ νρία,
ά ν δ ρ ό ς τ ’ ά ρ ίσ τ ο ν σαν τ ν χ ο ϋ σ ' όμ ευ ν έτο υ
κ εκ τη μ έν η τ ε κ όσ μ ον ον π ο θ ’Ή λ ιος
955 π α τ ρ ό ς π α τ ή ρ δίδω σιν έκ γ όν οισ ιν οίς.
λ ά ζ υ σ θ ε φ ερ ν ά ς τά σ δε, π αίδες, ές χ έ ρ α ς
κ α ί τή τυ ρ ά ν ν ω μ α κ α ρ ία νύμφμ δ ό τ ε
φ έροντες. ο ϋ τοι δ ώ ρ α μ εμ π τ ά δ έξεται.

Ίάσω ν
τ ί δ ’, ώ μ α τ α ία , τώ νδε σ ά ς κ ε ν ο ις χ έ ρ α ς ;
96ο δ ο κ εϊς σ π ανίζειν δ ώ μ α β α σ ιλ εία ν π έπ λ ω ν ;
δ ο κ εϊς δ έ χ ρ υ σ ό ν ; σώ ζε, μ ή δ ίδο ν τάδε.

I
ii5

os m eninos, para que sejam criados por tua mão,


940 pede a Creonte: não sejam banidos deste chão!

JASÃO
Não sei se o convenço; é preciso tentar.

MEDEIA
E ntão... tu, a ela, tua mulher, manda pedir
ao pai não serem os m eninos banidos deste chão.

JASÃO
Claro. E acho m esm o que vou convencê-la.

MEDEIA
945 Ê, se ela é uma mulher com o todas as ou tras...
Tomarei então contigo, tam bém eu, essa peleja;
mandarei para ela presentes os que muito
mais belos existem agora pros homens!
Já vejo: fino vestido e tiara de ouro!
950 As crianças levarão. Rápido! Preciso de
um dos servos pra cuidar do enfeite.
Se alegrará não uma, mas mil vezes:
achou em ti um excelente hom em , e amante,
e mais, possui um enfeite que o Sol, pai do
95; meu pai, costuma dar aos seus descendentes.
Tomai nas mãos estes mimos, meninos, e levai,
dai à bem -aventurada noiva do rei.
Sim, presentes n ão desprezíveis receberá.

JASÃO
E por que ficas, de m ãos vazias, ô louca?
960 Achas que 0 palácio real está sem roupas,
sem ouro, achas? Guarda! Não dês isto.

είπερ γάρ ημάς άξιοι λόγον τίνος


γυνή, προθήσει χρημάτων, σάφ' οΙ8 ' έγώ.

Μήδεια
μή μοι σύ: πείθειν δώρα καί θεούς λόγος:
96$ χρνσός δε κρείσσων μνρίων λόγων βροτοϊς.
κείνης ό δαίμων /κείνα νυν αϋζει θεός,
νέα τύραννε//: τών δ ' έμών παίδων φνγάς
ψνχής αν άλλαξαίμεθ ον χρυσού μόνον,
άλΛ ', ώ τέκν είσελθόντε πλουσίους δόμους
970 πατρός νέαν γυναίκα, δεσπότιν δ' έμήν,
ικετεύει', έζαιτεϊσθε μή φνγεΐν χθόνα,
κόσμον διδόντες: τοϋδε yàp μάλιστα δει,
ές χειρ ’ εκείνην δώρα δέξασθαι τάδε,
ΐθ ' ώς τάχιστα: μητρί 5 ’ ών èpã τυχεΐν
97$ ενάγγελοι γένοισθε πράξαντες καλώς.

Χορός
νυν έλπίδες ούκέτι μοι παίδων ζόας,
ούκέτι: ατείχουαι γάρ ές φόνον ήδη,
δέξεται νύμφα χρνσέων άναδεσμάν
δέξεται δύστανος ήταν.·
çSo ξανθά δ ’ άμφ'ι κόμα θήσει τόν Άιδα
κόσμον αυτά χεροϊν.

πείσει χάρις άμβρόσιός τ ’ αύγά πέπλον


χρνσότενκτόν τε στέφανον περιθέαθαι:
98$ νερτέροις δ ' ήδη πάρα νίγιφοκομήσει.
τοΐον εις ερκος πεσεϊται
καί μοίραν θανάτου δύστανος: άταν δ ’
σύχ ύπεκφενξεται.

990 συ δ', ά τάλαν, ώ κακόννμφε


κηδεμών τυράννων,
παισιν ον κατειδώς
nr

Se por nós, consideração tem a mulher,


na frente dos bens nos coloca, isso sei.

M E D E IA

Nem vem! Um dito há: “presentes comovem deuses”,


965 e pros mortais: “o ouro vale mais que mil palavras”
A índole é dela, o deus só aumenta. Ela tem
reinado novo. O exílio dos meus meninos
por uma vida mudamos e não só pelo ouro,
Mas, filhotes, entrai pelo rico palácio,
970 do pai; à nova mulher - à minha senhora -
implorai, pedi que não sejais banidos da terra,
dando enfeites, mas isso é o mais importante:
que ela, em mãos, receba estes presentes.
Ide o mais rápido! Para mãe atingir o alvo,
575 sede bons mensageiros, agi bem!

CORO
Agora pra mim esperanças de vida pr’as crianças
não há - não mais! Já marcham para a morte.
A noiva receberá dourados adereços.
Receberá, infeliz, um castigo. Na cabeleira brilhosa colocará,
980 com as próprias mãos,
o adorno infernal!

O charme imortal, seduz! E também o brilho...


a túnica de ouro, tecida, coroa para usar...
985 Paramentada noiva será para os lá debaixo!
Em tal rede cairá
e por um fatal destino, desgraçada:
da ruína não escapará.

990 E tu, ô irresponsável, ò mal· casado,


Amigo de tiranos
Aos filhos... não sabes...
ό λ εθ ρ ο ν βίοη χ π ρ ο σ ά γ εις ά λ ό χ φ τε
σά σ τυ γ ερ ό ν Θ άνατον,
995 δύστανε, μοίρας όσον παροίχμ.

μεταστένομαι δέ σόν άλγος,


ώ τάλαινα παίδων
μάτερ, ά φονεύσεις
τέκνα νυμφιδίων ενεκεν λεχέων, &
woo σοι προλιπών άνόμως
«ΑΑα ζ ν ν ο ικ εϊ π όσις σννεννω .

Παιδαγωγός
δέσποινάφεΐνται παϊδες οΐδε σοι φυγής,
και δώρα νύμφη βααιλίς άσμένη χεροϊν
ιοο$ έδέήατ ειρήνη δέ τάκεϊθεν τέκνοtç
êa : τ ί σ υ γ χ ν θ εϊσ ’ έσ τ η κ α ς ήνίκ ’ εύτνχεΐς;
[ τί ση ν εσ τ ρ ε φ α ς εμ π α λ ιν π α ρ η ίδ α
κσΰκ άσ μ ένη τ ό ν δ ’ έ ξ έμ ον δέχη λ ό γ ον ;}

Μήδεια
α ’ιαϊ.

Παιδαγωγός
τάδ ’ ού ξννωδά τοϊσιν έξηγρελμένοις.

Μήδεια
αίαϊμάλ' αύθις.

Παιδαγωγός,
μών τιν ’ άγρέλλων τύχην
ιοιο ονκ οίδα, δόήης δ ' εσφάλην εόαγγέλον;

Μήδεια
ή γ γ ειλ ας οι' ή γ γ ειλ ας; ο ύ σ έμ έμ ψ ο μ α ι.
119

um flagelo na alma... preparas


morte odiosa a tua nova esposa.
995 Infeliz! Que destino terrível cruzarás.

Choro por tua dor,


Ô desgraçada mãe
de filhos que sangrarás.
Uma prole por uma cama nupcial
1000 que teu marido, violando as leis,
divide com outra.

PEDAGOGO

Patroa, livraram estes teus meninos do exílio!


E os presentes a princesa noiva, contente, com as duas mãos,
J005 recebeu. Paz! Nas coisas e pras crianças!
Eia! Por que estás perturbada, quando és feliz?
Quê?! Viras o rosto para trás
e recebe descontente, de mim, esta notícia?

MEDEIA

Aiaiii.

PEDAGOGO

Isso não combina com as coisas anunciadas.

MEDEIA
Aiai ainda e de novo!

PEDAGOGO

Será que anunciei alguma desgraça?


ioiô Não sei... da fama de arauto, escorreguei?

M E D E IA

Disseste o que disseste. A culpa não é tua.


120

Παιδαγωγός
γι' δαι κατηφές όμμα καί δακρνρροεϊς;

Μήδεια
πολλή μ ’ ανάγκη, πρέσβυ: ταντα γάρ θεοί
κάγώ κακώς φρονονσ’ έμηχανησάμ ην.

Παιδαγωγός
ιοίs θάρσίΊ: κάτει τοι και σύ προς τέκνων hi.

Μήδεια
«ΑΑους κατάζω πρόσθεν ή τάΑαιν ’ έγώ.

Παιδαγωγός
οντρι μόνη σύ σών άπεζνγης τέκνων:
κονφως ψέρειν χρή θνητόν όντα συμφοράς.

Μήδεια
δράοω τάδ ’. άλλά βαίνε δωμάτων εσω
ιο2ο και παισί πόρσνν ’ οϊα χρή καθ' ημέραν,
ώ τέκνα τέκνα, σφών μέν εστι $ή πόλις
καί δώμ έν ώ λιπόντες άθλιαν έμέ
οίκήσετ ’ αϊεϊ μητρός έστερημένοι:
έγώ δ ’ ές άλλην yatav εϊμι 0ή ψνγάς,
W2S πριν σφφν όνάσθαι κάπιδεϊν ενδαίμονας,
πριν λουτρά καί γυναίκα καί γαμήλιους
εύνάς άγήλαι λαμπάδας τ ’ άνασχεθεϊν.
ώ δυστάλαινα τής έμής ανθαδίας.
άλλως άρ ’ υμάς, ώ τέκν έζεθρεψάμην,
ιο β ο άλλως Ô ’ έμόχθονν και κατεξάνθην πόνοις,
στερράς ένεγκοϋσ’ έν τόκοι ς άλγηδόνας.
ή μήν ποθ ’ ή δύστηνος ειχον έλπίδας
πολΧάς έν νμιν, γηροβοσκ ήσειν τ ’ έμέ
και κατθανουσαν χερσϊν εν περιατελεϊν,
121

PEDAGOGO
Por que a vista baixa? Derram as lágrimas?

MEDEIA
É muita precisão, velho. O s deuses e eu,
com más intenções, planejamos tudo isso.

PEDAGOGO
1015 Coragem! Voltarás ainda! Sim, por teus frutos!

MEDEIA
Antes arrastarei outros. Desgraçada que sou!

PEDAGOGO
Não és só tu que te separas dos frutos: é preciso,
m ortal sendo, aceitar o azar com leveza.

MEDEIA
farei isso. M as vai para dentro de casa
1020 e prepara pras crianças as coisas de cada dia.
Ô, prole, prole! A cidade é vossa! D e ambos!
E tam bém a casa, onde m e deixais vencida.
Vivereis, pra sempre privados de mãe.
Já e u .,. irei para outra terra, exilada
1025 antes de tê-los desfrutado, de vê-los felizes,
antes dos banhos, esposa e cam a
nupcial e de levar a tocha do casamento.
Ô teim osia desgraçada esta minha!
M eninos, vos criei à toa.
1030 A toa sofri, me acabei em trabalhos,
Suportei no parto d o res... excruciantes.
A mísera, sim, tive um dia esperanças em vós.
Muitas! D e n a velhice cuidarem de m im e^quando m orresse,
de, com as mãos, me enterrarem ."77"“"
1- 1
v-
122

1035 ζηλωτόν άνθρωποισί: ννν $ ’ δλωλε $ή


γλυκεία φροντίς. σψων γάρ έστερημένη
λνπρόν διάζχο βίοτον αλγεινόν r ’ έμόν.
υμείς δέ μητέρ' ονκέτ ’ όμμασιν φίλοις
ιο4ο σψεσθ ές άλΑο σχήμ' άποστάντες βίου.
φεϋ φευ: τί προσδέρκεσθέ μ ’ ομμασιν, τέκνα;
τί προαγελάτε τον πανύστατον γέλων;
údat: τί δράσω; καρδία γάρ οιχεται,
γυναίκες, ομμα φαιδρόν ώς είδον τέκνων,
ούκ άν δνναίμην: χαιρετώ βουλεύματα
104$ ™ πρόσθεν; άξω παίδας έκ γαίας έμούς.
τί δεϊ με πατέρα τώνδε τοϊς τούτων κακοίς
λυπούσαν αυτήν 5<ς τόσα κτάσθαι κακά;
ον δήτ’ έγωγε: χαιρετώ βουλεύματα.
1050 ΚίΧίτοι τί πάοχω; βούλομαι γέλωτ' όφλεϊν
εχθρούς μεθείσα τούς έμούς άζημίονς;
τολμητέον τάδ'; άλΑά τής έμής κάκης
το καί προσέσθαι μαλθακούς λόγους φρενί.
χωράτε, παϊδες, ές δόμους, οτψ δέ μή
θέμις mxpdvíxi τοϊς έμοϊσι θνμασιν,
loss αντχϋ μελήσει: χεϊρα δ ’ ον διαφθερω.
[&ά. μή δήτα, θυμέ, μή σύ γ ' έργάση τάδε:
εασον αυτούς, ώ roAtrv, φείσαι τέκνων:
έκΐιμ εθ’ ημών ζώντες εύφρανονσίσε.
μά τούς παρ ’ Άιδμ νερτέρονς άλάστορας,
ιο6ο σντοι ποτ ’ εσται το ν6' όπως έχθροίς έγώ
παίδας παρήσω τούς έμούς καθύβρισαν
πάντως σφ ’ ανάγκη κατθανείν: έπεί δε χρή,
ήμείς κτενοϋμεν ο'ίπερ έξεφύσαμεν.
ιoés πάντως πέπρακται ταντα κο νκ έ κφεύξε ται.]
και δή 'πϊ κρατί στέφανος, Αν πέπλο ισι δέ
νύμφη τύραννος ολλνται, σάφ ’ οϊδ ’ έγώ.
άΑΑ εϊμι γάρ δή τλημονεστάτην όδόν
καί τούσδε πέμψω τλημονεστέραν ετι.
παίδας πρσσειπείν βούλομαι: δότ ώ τέκνα,
ιο?ο δότ’ άσπάαασθαι μητρί δεξιάν χέρα.
Ιϊ3

loss invejada ροτ tod os,.. Foi-se agora


a doce imaginação. Privada de vós,
sofrida, íevarei uma vida dolorosa e só.
Vós, olhos queridos, - nunca mais - vereis
J040 a mãe. Ireis para um outro m odo de vida.
Phu, phu! Por que me olhais nos olhos, filhos?
Por que o riso de um último sorriso?
Aiai! Que faço? É, o coração baqueou,
mulheres, ele viu - dos filhos - a luz dos olhos.
Não! Podería?! Adeus, planos
1045 de antes! Levarei meus m eninos desta terra.
Por que, carece ferir o pai com esses males
e ter pra m im o dobro da desgraça?
Não mesmo! Adeus plano! Mas o que
jojo mesmo eu sinto? Quero virar chacota?
Deixar meus inim igos impunes?
É preciso onsar! É fraqueza m inha
isto de jogar palavras moles no peito.
Correi, m eninos, pra casa. Quem não
pode assistir os sacrifícios há de
j 055 sc inquietar! Não hei de am aciar a mão!
Ah! Ah! Ai, não, coração! Não faças isso!
D eixa-os, ô desgraçado! Poupa a prole!
Lá, vivendo conosco, eles te farão feliz!
Pelos espíritos do inferno, os vingadores de Hades!
1060 Nunca, m esmo, eu deixarei meus inimigos
maltratarem m eus meninos.
[D e qualquer jeito, eles têm que morrer! É preciso,
Nós os m atarem os, nós, que os geramos!
i oés D e qualquer jeito , está feito e não há fuga. ]
Então de coroa na cabeça, nos vestidos,
a noiva tirana m orre! Vejo tudo claro.
Mas irei pelo cam inho mais sofrido
e m ando-os tam bém , sofrendo mais ainda.
Q uero falar com os meninos. - Dai, brotos,
1070 dai a m ão direita pra saudar a mãe.
124

ώ ψιλτάτη χειρ, ψίλτατσν 5 έ μοι στόμα


και σχήμα και πρόσωττον εύγενές τέκνων,
ενδαιμονοϊτον, άΑΛ ’ έκει: τα δ ’ ενθάδε
πατήρ άψείλετ’. ά γλυκεία προσβολή,
1075 ώ μαλθακός χρώς πνεύμα Θ’ ή Surro ν τέκνων,
χωρεϊτε χωρεϊτ ’: ούκέτ ' είμϊ προσβλέπειν
ο'ία τε ψπρός όμάςΫ άΑΑά νικώμαι κακοϊς.
καί μανθάνω μεν σια τολμήσω κακά,
θυμός δε κρείσσων των έμών βουλευμάτων,
íoSo δσπερ μεγίστων αίτιος κακών βροτοϊς.

Χορός
πολλάκις ήδη διά λεπτοτέρων
μύθων εμολον καί προς άμιλλας
ήλθον μείζονς ή χρή γενεάν
θήλννέρευναν:
was άλλα γάρ εστιν μούσα καί ήμϊν,
ή προσομιλεϊ σοφίας ένεκεν,
πάσαισι μεν ον, παύρον δέ γένος,
<μίαν> έν ττολλαις, ενροις αν ίσως
ονκ άπόμονσον το γυναικών,
logo καί ψημι βροτών οί’πνές ε’ισιν
πάμπαν άπειροι μηδ ’ έφντενσαν
παΐδας προψέρειν εις εύτυχίαν
τών γειναμένων.
οι μέν άτεκνοι δι ' άπειροσύνην
ιο95 ειθ' ήδν βροτοϊς εϊτ' άνιαρόν
παϊδες τελέθονσ ’ ονχι τνχόντες
σοΑΑών μόχθων άπέχοντat:
οϊσι $έ τέκνων εστιν έν οϊκοις
γλυκερόν βλάστημ έσορώ μελέτη
ιιοο κατατρνχαμένονς τον άπαντα χρόνον,
πρώτον μέν όπως θρέψονσι καΑώς
βϊοτόν θ ’ όπόθεν λείψονσι τέκνοις:
έτι δ' έκ τούτων εϊτ’ έπί φλαύροις
125

Que mão mais querida! Que boca mais querida pra mim!
Que feitio e rosto nobre é o da prole!
Sede felizes! Mas lá! A festa daqui
vosso pai levou. O doce enlace!
1075 Ô pele m acia... cheiro bom de menino!
Correi! Correi! Não consigo mais olhar
para vós. Sou vencida pelos males
e sei que o que vou fazer é ruim;
do decidido, porém, a paixão mais forte é.
io&> Isso, sim, é causa dos males maiores pros mortais!

CORO
Passei muitas vezes por capciosas
falas... entrei nas maiores
contendas que coube
ao fem inino inventar...
ioSj Há para nós uma musa também,
que conversa, por sábia que é,
não com todas, mas com poucas.
<Uma> entre muitas, acharias talvez,
não distante das m usas...
íogo Digo mesmo: entre os viventes, os que,
de todo, inexperientes, não geraram
crianças, carregam melhor sorte
que aqueles que as têm.
E os que, por imperícia,
logs - pra bem ou pra mal dos que vivem -
acabam, por sorte, sem prole,
de muita lida se livram.
Há quem , em casa, tem uma
doce floração de botões. O lho pra eles
u oo no cuidado cansados o tempo todo:
primeiro, para bem nutrir a prole
e daí, depois, pra deixar sustento pra eles.
E ainda, depois disso, sejam fracos,
126

εϊτ' έπι χρηστούς


μοχθούσε τόδ ’ έστιν άδηλον,
nos εν 6έ το πάντων λοίσθιον ήδη
πάσιν κατερώ θνητοΐσι κακόν:
καί 6ή γάρ άλις βΐοτόν Θ’ ηνρον
σώμά τ ’ ές ήβην ήλνθε τέκνων
χρηστοί τ ’ έγένοντ’: εί δέ κιφήσιχι
mo δαίμων όντως, φρούδος ές ΆtSov
θάνατος προφέρων σώματα τέκνων,
πώς ούν λύει προς τοίς άΑΛοις
τήνδ’ ετι λύπην άνιαροτάτην
παίδων έ'νεκεν
ιιΐ5 θνητοϊσι θεούς έπιβάλλειν;

Μήδεια
φίλαι, πάλαι τοι προσμένονσα τήν τύχην
καραδοκώ τάκειθεν οΐ προβήσεται.
και δή δέδορκα τόνδε των Ίάσονος
στείχοντ ’ όπαδών: πνεύμα δ ’ ήρεθισμένον
mo δείκνυαν ώς τι καινόν άγγελει κακόν.

Άγγελος
[ώ δεινόν έργον παρανόμως είργασμένη,]
Μήδεια, φεύγε φεύγε, μήτε ναΐαν
λιπονσ ’ άπήνην μήτ' όχον πεβοστιβή.

Μήδεια
τί 5 ’ «ζιόν μοι τήσδε τυγχάνει φυγής;

Άγγελος
uis δλωλεν ή τύραννος άρτίως κόρη
Κρέων θ ’ ό φυσάς φαρμάκων των σων ϋπο.
127

sejam fortes,
penam sem ver.
1105 Mas um mal, último de todos,
pra todos os mortais enuncio:
eis que então, vida bastante tiveram
- corpo e vigor - chegou nos meninos!
Valiosos ficaram! Só que, do nada,
u 10 um deus qualquer assim os arranca pro Hades:
foi a m orte que carrega os corpos da prole.
Com o então se livrar, entre outras, de
mais esta tão m eren cória dor:
a de filhos que
U15 os deuses aos m ortais mandam?!

MEDEIA
Amigas, há muito espero a solução do acaso
e aguardo o que lá se passará.
E n tão ... Vejo agora um dos ajudantes
de Jasão. Ele se aproxima sem fôlego:
1120 parece que anunciará um novo mal.

MENSAGEIRO
Õ obreira de terríveis trabalhos! Ladina!
Medeia, foge! Foge, è não percas nau
nem carro de rodas por terra!

MEDEIA
Que coisa me vem que me valha a fuga?

MENSAGEIRO
1125 Acabou de m orrer a filha do tirano
Creonte, e tam bém o p a i... por teus venenos.
128

Μήδεια
κάά,λιστον είπας μνθον, έν δ ’ εύεργέταις
τό λοιπόν ήδη καί φίλοις έμοΐς εσμ.

Άγγελος
u 3° π φμς; φρονείς μέν ορθά κού μαίνρ, γύναι,
ήτις, τυράννων εστίαν ήκισμένη,
χαίρεις κλνονσα κού φοβή τά τοιάδε;

Μ ή δ εια

έχω τι κάγώ τοίσι οοίς εναντίον


λόγοισιν είπείν: &λλά μή σπέρχου, φίλος,
Αέξον δέ: πώς ώλοντο; δίς τόσον γάρ άν
ιΐ35 τέρψειας ήμάς, εΐ τεθνάσι παγκάκως.

Άγγελος
έπεί τέκνων σων ήλθε δΐπτνχος γονή
σνν πατρί, και παρήλθε νυμφικούς δόμους,
ήσθημεν οϊπερ σοϊς έκάμνομεν κακοϊς
δμώες: δι ’ ώτων δ' εύθνς ήν πολύς λόγος
1240 σέ καί πόσιν σόν νεϊκος έσπεϊσθαι τό πριν,
κννεϊ Ô’ ό μέν τις χ ε ι ρ ό δέ ξανθόν κάρα
παίδων: έγώ δέ καυτός ήδονής ϋπο
στέγας γυναικών σνν τέκνοις &μ ’ έσπόμην.
δέσποινα δ ’ ήν νυν άντι σου θανμάζομεν,
1145 πριν μέν τέκνων σών είσιδεΐν ξννωρΐδα,
πρόθυμον εϊχ ’ όφθαλμόν εις Ίάσονα:
έπειτα μέντοι προνκαλύψατ’ δμματα
λευκήν τ ’ άπέστρεψ ’ έμπαλιν παρηίδα,
παίδων μνσαχθεϊσ’ εισόδους, πόσις δέ σάς
uso όργάς τ ' άφήρει και χόλον νεάνιδος,
λέγων τάδ Ον μή δυσμενής εσμ φίλοις,
παύσμ δε θυμόν καί πάλιν στρέψεις κάρα,
φίλους νομίζουσ ’ ονσπερ άν πόσις σέθεν
δέζιι δέ δώρα και παραιτήση πατρός
12 9

MEDELA.
Belíssima história contaste! Entre meus benfeitores
de agora em diante estarás; aliás, entre m eus amigos!

MENSAGEIRO
n jo Que dizes? Pensas bem? Não endoidastes, mulher? És m esmo
quem flagela o lar dos tiranos!
Ouves essas coisas e te alegras sem temer?

MEDEIA
Tenho algo, eu tam bém, com o resposta
para dizer a tuas palavras. Mas não te afobes, amigo!
Fala: C om o m orreram ? Diverte-nos
113 5 duas vezes mais se morte cruel tiveram!

MENSAGEIRO
Depois que chegaram tuas duas crias
com o pai e adentraram os aposentos ninfeus,
nós, os servos aflitos por teus males,
alegramo-nos. Logo, de escuta, muita conversa h av ia...
114 0 por ti e teu marido, pelas brigas de antes, pelas tréguas!
De nós, um beija a mão, o outro a cabeça dourada
das crianças; eu mesmo, de prazer tomado,
fui, com os meninos, pra junto das mulheres.
E a senhora que agora adm iram os no teu lugar,
1145 antes de enxergar 0 par de filhos,
tinha os olhos de desejo em Jasão;
ao depois, sim, cobriu o olhar,
virou de lado o alvo rosto,
enojada com a entrada dos m eninos. Mas teu marido
uso a agitação e a zanga da m ocinha acalma,
falando assim: “Não maltrates os meus queridos!
Contém a sanha e volta tua face pra eles,
considera amigos os que o marido quer pra ti
aí, recebe os presentes e pede pro pai
Ijt l

φνγάς άφεϊναι παισ'ι τοϊσδ ' έμήν χάριν;


1155
ή δ ’, ώς έσεϊδε κόσμον, ούκ ήνέσχετο,
άλΛ ’ ffvca ’ ιχνδρΐ πάντα, καί πριν έκ δόμων
μακράν άπεΐνω πατέρα και παΐδας σέθεν
λαβονσα πέπλους ποικίλους ήμπέσχετο,
ιι6ο χρνσοΰν τε θεΐσα στέφανον άμφ'ι βοστρύχοις
λαμπρω κατόπτρφ σχηματίζεται κόμην,
άψυχον είκώ προσγελώσα σώματος,
κάπειτ ’ άναστάσ’ έκ θρόνων διέρχεται
στέγας, άβρόν βαίνονσα παλλενκω ποδί,
ιι 65 δώροις ύπερχαίρονσα, πολλά πολλάκις
τένοντ’ ές ορθόν δμμασι σκοπονμένη,
τοννθένδε μέντα δεινόν ήν θέαμ ’ ϊδειν;
χροιάν γάρ άλλάζασα λεχρία πάλιν
χάψει τρέμονσα κώλα και μόλις φθάνει
ajo θρόνοισιν έμπεσονσα μή χαμαί πεσεϊν.
καί τις γεραιά προσπόλων, δόξασά πον
ή Πανός όργάς ή τίνος θεών μολεϊν,
άνωλόλνξε, πριν γ ’ όρά διά στόμα
χωροΰντα Λευκόν άφρόν, όμμάτων τ ’ ίίπο
U75 κόρας στρέφονσαν, αΐμά τ ’ ούκ ένόνχροΐ:
ιϊτ ’ άντίμολπον ήκεν όλολυγής μέγαν
κωκντόν. ευθύς δ ’ ή μεν ές πατρός δόμους
ώρμησεν, ή δε πρός τον άρτίως πόσιν,
φράσουσα νύμφης συμφοράν; άπασα δέ
ιιso στέγη 7ΐνκνοΐσιν έκτύπει δραμήμασιν
ήδη δ ’ έλίσαων κώλον έκπλέθρον δρόμου
ταχύς βαδιστής τερμόνων αν ήπτετο,
ότ' έή άναύδον καί μύσαντος δμματος
δεινόν στενάξασ’ ή τάλαιν ’ ήγείρετο.
nSj διπλονν yàp αυτή πήμ ’ έπεστρατεύετο:
χρυσούς μέν άμφί κρατ'ι κείμενος πλόκος
θαυμαστόν ϊει νάμα παμφάγου πυράς,
πέπλοι δέ λεπτοί, σών τέκνων δωρήματα,
λευκήν εδαπτον σάρκα τής δνσδαίμονος.
ajo φεύγει δ ’ άναστάσ ’ έκ θρόνων πνρονμένη,
131

nss abolir o exílio destes m eninos. .. um favor pra m im ..


E ela, assim que vê o adorno, não se contém!
Então, acordou tudo com seu hom em , e antes que
da casa pai e teus filhos se fossem longe,
tom ou os coloridos panos e se enrolou
116 0 e colocou a coroa de ouro - os cachos dos dois lados;
com o espelho brilhante ajeita a cabeleira,
sorri para a imagem sem vida do corpo.
Então se levanta do trono, atravessa
o quarto, pisando delicado com o alvo pé,
u 6s hipercontente com os presentes, muitas, muitas vezes
de pé, reta, espiava com os olhos.
Porém, daí mesmo, que visão terrível de ver:
a cor muda. Tomba pra trás e
corre. Trem ente nos membros, difícil avança
1J 70 e por pouco chega. Cai nos tronos, pra não cair no chão.
Aí uma velha - das porteiras - acha que
0 furor vinha de Pã ou de um deus qualquer,
grulhou antes mesmo de ver pela boca,
escorrendo, branca espuma e dos olhos,
u fô as pupilas reviradas. Sangue, na pele, não tinha;
Aí chega um contracanto de grulha; vozeria
estridente. Uma direto para o palácio do pai
se enfiou, outra ao recém -casado
contou a desgraça da noiva e toda a
11S0 casa ressoou por muita correría e já ia lá,
quase n a volta final, tocando a linha de chegada
o adeta veloz, quando do silêncio
e dos cerrados olhos, a infeliz acorda. Gem eu
terrível. Dnplas dores m archam contra ela:
11S5 o trançado de ouro ajustado em roda da cabeça assombroso,
escorria de cada lado:
madeixas pasmosas, fluidos de fogo voraz.
E os m antos delicados, presentes dos filhos,
devoravam a carne branca da mofina.
u 9o E ela, ressurreta, foge. Ardente levanta do trono.
132

σειούσα χαίτην κρατά τ ’ άλλοτ’ άλλοσε,


ρΐψαι θέλονσα στέφανον: άΑΑ' άραρότως
σύνδεσμα χρυσός είχε, πυρ S έπεϊ κόμην
ιΐ95 έσεισε, μάλλον δίς τόσως έλάμπετο.
πίτνει 6 ’ ές ούδας συμφορά νικωμένη,
πλήν τψ τεκόντι κάρτα δνσμαθής ίδείν:
οϋτ' όμμάτων yàp δήλος ήν κατάστασις
οϋτ’ εύφνές πρόσωπον, αίμα δ ’ έξ άκρου
έσταζε κρατάς συμπεφνρμένον πνρί,
ΐ2οο σάρκες δ' ά π ’ όστέων ώστε πεύκινου δάκρυ
γνάθσις άδήλοις φαρμάκων άκέρρεον,
δεινόν θέαμα: τάσι δ ’ ήν φόβος θιγειν
νεκρού: τύχην γάρ εϊχομεν διδάσκαλον,
πατήρ δ' ό τλήμων συμφοράς άγνωσίψ
1205 άφνω παρελθών δώμα προσπίτνει νεκρά),
ώμωζε δ ’ εύθνς κοά περιπτνζας χέρας
κυνεϊπροσανδών τοιάδ’; "Ώ“δύστηνε παϊ,
τις σ' ώδ' άτίμως δαιμόνων άπώλεαεν;
τις τον γέροντα τύμβον όρφανόν σέθεν
mo τίθησιν; οίμοι, σννθάνοιμί σοι, τέκνον.
έπεϊ δέ θρήνων καί γόων έπαύσατο,
χρήζων γεραιόν έζαναστήσαι δέμας
7τροσείχεθ’ ώστε κισσός έρνεσιν δάφνης
λεπτοίσι πέπλοις, δεινά δ ’ ήν καλαΐσματα:
«a; ό μέν γάρ ήθελ ' έζαναστήσαι γόνυ,
ή δ ’ άντελάζυτ εί δε προς βίαν &γοι,
σάρκας γεραιάς έσπάρασσ ’ άπ ’ όστέων.
χρόνω δ ’ άπέστη και μεθήχ’ ό δύσμορος
ψυχήν: κακόν γάρ οϋκέτ’ ήν υπέρτερος.
1220 κείνται δέ νεκροί παις τε και γέρων πατήρ
[πέλας, ποθεινή δακρύοισι συμφορά].
καί μοι to μέν σόν εκποδών έστω λόγον:
γνώση γάρ αυτή ζημίας επιστροφήν,
τά θνητά δ ’ ον νυν πρώτον ηγούμαι σκιάν,
U25 ονδ’ άν τρέσας εΐποιμι τους σοφούς βροτών
δοκονντας είναι καί μεριμνητάς λόγων
133

Agita o cabelo e a cabeça pra cá e pra lá,


com o quem quer jo gar longe a coroa: mas firme e
atrelado estava o ouro. O fogo, pelos cabelos,
1195 ia-e-vinha, brilhava duas vezes mais forte,
Aí, vencida n a desgraça, cai no chão
desfigurada de ver de m enos pro pai.
D os olhos, de fato, o feitio visível não era,
nem do rosto hem feito. E 0 sangue do alto
descia - da cabeça marauhado em fogo -
i 2 oo as carnes dos ossos, tal qual choro de pinho,
invisíveis mordidas dos venenos escorriam:
horrorosa visão. Todos tinham pavor de tocar
a defunta: a sorte por maestro tivemos.
O coitado do pai, na ignorância do sucedido,
120S no que entra em casa, cai sobre a morta.
G ritou logo e, no ato, cbs braços enlaça,
beija e clama assim: “ó mísera criança,
que deus sem honra te sacrificou assim?
Q uem me faz velha tum ba privada de ti?
12 10 O i moí! M orresse eu contigo, filha!”
Depois de prantos e choros acalm ou-se
mas, no que procura o velho corpo levantar,
prega assim com o a hera no ramo de loureiro,
finas vestes, triste lnta:
1215 então, ele ia pra levantar o joelho,
ela puxava m a is ... Se tenta com força,
as carnes anciãs despregam dos ossos.
C om tempo, pereceu e, malfadado, entrega
a vida: já não estava mais em cim a do mal,
1220 Estirados defuntos, filha e velho pai
[junto, desgraceira que d am a lágrimas].
E eu, ó, o teu assunto, pra lá da história fique:
pois sabes a volta do castigo [no io m b o d e q u em d á ].
U m a som bra são as coisas dos mortais.
1225 C om o antes não julgo. Sem m edo digo:
“os sábios dos homens e os que se acham
τούτους μεγίστην μωρίαν όφλισκάνειν.
θνητών γάρ ούδείς έστιν ευδαίμων άνήρ:
δλβον δ ’ έπφρνέντοςευτυχέστερος
ΐ23ο άλλον γένοιτ' ã v άλλος, ευδαίμων <5’ άν ον.

Χορός
εοιχ ' ό δαίμων πολλά τήδ * έν ημέρα
κακά ξννάτζτειν ένδίκως Ίάσονι,
[ώ τλήμον, ως σον συμφοράς οίκτίρομεν,
κόρη Κρέοντος, ήτις εΐς'Άιδον δόμους
1235 οϊχη γάμων δκατι των Ίάσονος.]

Μήδεια
φίλοα, δέδοκται τονργον ώς τάχιστό, μοι
ιταιδας κτανΰνση τήσδ * άφορμάσθαι χθονός,
καί μή σχολήν άγουσαν έκδονναι τέκνα
άλλη φονεϋσαι δυσμενέστερα χερί
1240 πάντως σφ ’ άνάγκη κατθανείν: έπει δέ χρή,
ήμείς κτενούμεν οϊπερ έξεφύσαμεν.
άλλ ’ εΓ όπλίζον, καρδία: τί μέλλομεν
τά δεινά κάναγκαϊα μ ή πράσσειν κακά;
άγ \ ώ τάλΰανα χειρ έμή, λαβέ ξίφος,
1245 λ ά β ί ρ π ε πρός βαλβίδα λνπηράν βίον,
καί μή κακισθής μηδ ’ άναμνησθής τέκνων,
ώς φίλταθ ώς έτικτες, άλλά τήνδε γε
λαθον βραχεΐαν ημέραν παίδων σέθεν
κ&πειτα θρηνεί; καί γάρ εΐ κτενεΐς σφ όμως
ΐ2ζο φίλοι γ ’ έφυσαν: δυστυχής Ô’ έγώ γυνή.

Χ ορός
/ώΓά τε καί παμφαής
άκτίς Άλίου, κατίδετ ’ ϊδετε ràv
όλομέναν γυναίκα, πριν φοινίαν
τέκνοις προσβαλεϊνχέρ ’ αντοκτόνον:
1255 οάς γάρ χρνσέας άπό γόνας
135

bons de lábia, estes merecem a enorm e loucura”


Sim, dos mortais, nenhum hom em é feliz:
um, no fausto atolado, talvez mais sortudo fosse
aw que o outro, mas feliz não.

CORO

Foi hoje que o demônio - parece - muita


desgraça, injusta, impôs a fasão
[ô azarada, com o choram os tua desgraça,
filha de Creonte, que foste pr as moradas
12 35 de Hades em razão de bodas com Jasão].

MEDEIA
Queridas, o ato está decidido. Até rápido demais pra mim:
no que mato os meninos, saio fora dessa terra.
Sem fazer nada, não entregarei as crias,
para serem executadas por mão mais hostil,
12 4 0 De todo jeito hão de morrer, carece! Então,
nós m ataremos, nós que os geramos. Mas, eia, coração! Em
guarda! Por que demoramos
pra desgraceira urgente e terrível não cum prir?
Vai, m inha mão danada, pega a espada,
12 4 5 pega, segue até a m eta doída da vida,
não faz mal, não te lembres das crias,
nem quão amados, nem que geraste... Esquece,
só por um curto dia, os teus meninos.
Chora depois! M esmo que os mate, ainda
íj3jp são amores nascidos - que mulher azarada sou!

CORO

Iô Terra - e tam bém raio


fulgente de Sol - mirai e vede a
m ulher perdida, antes que pras crias
a crim inosa mão suicida lance!
1255 D a tua dourada laia ela brotou,
136

εβλαστεν, θεού δ ' αίμα <χαμαι> πίτνειν


φόβος νπ ’ άνέρων.
αλλά vtv, ώ ψάος διογενές, κάτειρ-
γε κατάπανσον, £ξελ ’ οϊκων τάλω-
126ο ναν φονίαν τ ’ Έρινύν νπαλαστόρων.
μάταν μόχθος έρρει τέκνων,
μάταν &ρα γένος φίλιον έτεκες, ώ
κνανεάν λιποΰσα Σνμπληγάδων
πέτραν άξενωτάταν έσβολάν.
i26s δειλαία, τι σοι φρενοβαρής
χόλος προσπίτνει και ζαμενής <φόνον>
φόνος άμείβεται;
χαλεπά γάρ βροτοις ομογενή μιά-
ρματ έπεται δ ’ άμ ’ αντοφόνταις βυνφ-
ΐ27ο δά θεόθεν πίτνοντ ’ έπι δόμοις άχη.

Παϊς
ΐώ μοι.

Χορός
άκονεις βοάν ακούεις τέκνων;
ίώ τλαμον, ώ κακότυχες γύναι.

Παϊς a
οιμοι, τ/ δράσω; not φύγω μητρός χέρας;

Παις β
ούκ οϊδ’, άδελφε φίλτατ'; όλλύμεσθα γάρ.

Χορός
παρέλθω δόμους; άρήξαι φόνον δοκεί μοι τέκνοις
137

e cio deus, o sangue <por terra>


derramou, pavor de mortais.
Mas a ela, oh divina luz! Impede!
Retém! Expulsa da casa a odiosa
não e sanguinária Erínia da vingança.
Em vão a labuta com os filhos se perde
Em vão - ara! - a raça amada que pariste!
Oa! Ela deixou as rochas sombrias,
a pétrea, inóspita passagem ...
1265 M iserável... Por que pra ti no ventre grave,
a ira despencou e vomitas <sangue>
e devolves sangue? Difícil a sujidade nos mortais,
esse sangue aparentado... Vem com d e junto
o g en o cid a... agonias concordes que
12 7 0 dos deuses tom bam sobre as casas.

F IL H O

Ih! Ó moi, moi m ã e ... eu?!

CORO

Ouves um grito? Ouves? Dos meninos!?


Ih! ô mulher de má sorte, à infeliz!

f i l h o 1

Ô quê, pra mim? Que faço? Com o escapo das mãos da mãe?

f il h o 2
Meu querido irm ão .,. não sei! Estam os m ortos, certo?

CIOKO
Entro em casa? Parece preciso salvar as crian ça s...
De in o rte...
138

Παϊς a
12/6 ναι, προς θεών, ά ρ ή ξ α τ έ ν δέοντι γάρ.

Παϊς β
ώς έγγύς ήδη γ ’ έσμέν άρκύων ξίφους.

Χορός
τάλαιν \ ώς ά ρ " ήσθα πέτρος ή σίδαρος, &τις τέκνων
u 8i σν ετεκες Ιχροτον αύτόχεφι μοίρα κτενέϊς.
μίαν δή κλνω μίαν τών πάρος
γνναϊκ ' έν φίλοις χέρα βαλεϊν τέκνοις,
Ίνώ μανεϊσαν έκ θεών, οθ' ή Διάς
1285 δάμαρ νη· έξέπεμψε δωμάτων άλαις:
πίτνειδ' &τάλαιν’ ές αλμαν φόνφ τέκνων δνσσεβεϊ,
άκτής νπερτείνασα πόντιας πόδα,
δνοΐν τε παίδοιν σννθανονσ’ άπόλλνταί.
τίδή τ’ ον γένοιτ’ ανετι δεινόν; ώ γυναικώνλέχος
1291 πολύπονον, οσα βροτυϊς ίρεζας ήδη κακά.

Ίάσων
γυναίκες, αϊ τήσδ ’ έγγύς εστατε στέγης,
άρ ’ έν δόμοισιν ή τά 8είν' είργασμένη
ms Μήδεια τοισίδ ’ ή μεθέστηκεν φυγή;
δεί γάρ νιν ήτοι γης γε κρνφθήναι κάτω
ή πτηνόν άραι σώμ ’ ές αιθέρας βάθος,
εί μή τυράννων δώμασιν δώσει δίκην,
πέηοιθ ’ άποκτείνασα κοψάνους χθονός
13οο άθώος αύτή τώνδε φεύξεσθαι δόμων;
«ΑΛ' ον γάρ αυτής φροντίδ ’ ώς τέκνων έχω:
κείνην μέν ονς εδρασεν έρξσνσιν κακώς,
έμών δέ παίδαιν ήλθον έκσώσιον βίον,
μή μοί Tt δράσωσ ’ σΐ προσήκοντες γένει,
1305 μητρέρον έκπράσσοντες άνόσιον φόνον.
139

F IL H O 1
i27 6 Sim, pelos deuses, salvai! É preciso mesmo!

F IL H O 2
Já estamos perto do fio da fa ca ...

CORO

Infeliz! Como?! Arre! Foste pedra ou ferro? Ou quem ceifa


1 28 1 com a própria mâo os frutos que por sorte gerou?
Uma só, uma mulher só, ouvi que outrora,
lançou mão contra os frutos queridos:
foi Ino, a que os deuses, demente fizeram, quando
i j Sj a mulher de Zeus, a ela enxotou de casa em vagâncias.
e ela, pelo ímpio crim e dos frutos, cai na salsugem, infeliz.
Das faiésias, das alturas de mar, esticou o pé,
m orta, com dois filhos, perece. Que então de mais terrível,
pode haver ainda? Ô muito pelejada cama de mulheres,
iz9i que males já paristes pros mortais!

JA SÃ O

M ulheres próximas de nosso teto,


será que ela, a agente de horrores, M edeia, ainda
7295 está em casa ou já se pôs em fuga?
Ela que se esconda debaixo da terra
ou suba o corpo alado ao denso céu
se n ã o ... ah! Pagará pena ao palácio real!
Assassina de reis, ela acredita que
7300 fugirá impune desta casa?
Eu me im porto com os meninos, com ela não.
Aqueles a quem aquela fez mal, mal farão a ela,
mas eu vim salvar a vida dos meus filhos
para que os parentes próximos não me façam
ms sofrer com o vingança do crim e canalha da mãe.
140

Χορός
ώ τλήμον, ονκ οϊσθ1οΐ κακών έλήλνθας,
Ίάσον: ον γάρ τονσδ ’ αν έψθέγξω λόγους.

Ίάσων
τι δ ’ έστιν; ον πον κάμ' άποκτεϊναι θέλει;

Χορός
παΐδες τεθνάσι χειρϊ μητρώα σέθεν.

Ίάσων
1310 οίμοι, τι λέξεις; ως μ ’ άπωλεσας, γύναι.

Χορός
ώς ονκέτ ’ όντων σών τέκνων φρόντιζε δή.

Ίάσων
πού γάρ νιν έ κ τ ε ιν εντός ή 'ξωθεν δόμων;

Χορός
πνλας άνοίζας σών τέκνων δψμ φόνον.

Ίάσων
χαλάτε κλήδας ώς τάχιστα, πρόσπολοι,
ms έκλνεθ ’ αρμούς, ώς ιδω διπλό νν κακόν,
τούς μεν θανόντας, την δε <δράσασαν τάδε,
φόνον τε παίδων τώνδε> τείσωμαι δίκην.

Μήδεια
τί τάσδι κινείς κάναμοχλενεις πνλας,
νεκρούς έρεννών κάμέ την ε'ψγασμένην;
παϋσαι πόνου τον δ ε ί δ ’ έμοϋ χρείαν ’έχεις,
1320 λέγ εϊ τι βονλη, χειρι δ ’ ον ψαύσεις ποτέ:
I
Hi I
CORO

0 infeliz, não sabes aonde chegaste na desgraça,


Jasão! Pois não ter ias dito essas palavras...

.
JA SA O

Que foi? Acaso queres me matar tam bém? ^

CORO

Teus m enin o s,.. m ortos pela mão da mãe.

JA SÃ O

1310 Ô i m m m ... òí, que dizes? C om o acabaste comigo, mulher!

corto
Pensa nos teus filhos com o gente que já se foi!

ja s ã o

Onde então ela os matou? Dentro ou fora de casa?

CORO

Portas abertas! Verás o sangue dos teus filhos!

JA S Ã O

Tirai as trancas! Porteiros, rápido,


1315 soltai os trincos! Com o? Vejo o duplo mal!
Os m ortos e ela que fez tudo. Ela que
pelo crim e destes m eninos eu farei pagar!

M E P E IA

Pra que forçar a trava e arrom bar a porta?


Tu procuras os m ortos e a mim, a que tudo fez?
Para com isso! Se precisas de m im , fala, se queres,
1320 qualquer coisa, mas não tocarás co’a mão, jam ais! I

I I
142

τοιόν$ ' &χημα πατροςΉλιος πατήρ


δίδωσιν ήμϊν, ερνμα πολέμιας χερός.

Ίάσων
ώ μίσος, ώ μέγιστον έχθίστη γνναί
Θεοίς τε κάμοί παντί τ ’ άνθρώπων γένει,
132$ ήτις τέκνοισι σοϊσιν έμβαλεΐν ξίφος
έτλης τεκονσα κάμ' άπαιδ ’ άπώλεσας.
και ταντα δράσασ’ ήλων τε προσβλέπεις
και γαιαν, ίργον τλάσα δνπσεβέστατσν;
õAoí \ έγώ δέ νϋν φρονώ, τότ’ ον φρονών,
1330 δτ ’ έκ δόμων σε βαρβάρου τ ' από
"Ελλην ’ ές οίκον ήγόμην, κακόν μέγα,
πατρός τε και γης προδότιν ή σ ’ έθρέψατο.
τόν σόν S ’ άλάστορ ’ εις εμ ’ έσκηψαν θεοί:
κτανονσα γάρ δή σόν κάσιν παρέσεων
ws το καλλίπρφρον είσέβης Άργους σκάφος,
ήρξω μέν έκ τοιώνδε: ννμφευθεϊσα δέ
παρ ' àvêpi τφδε καί τεκονοά μοι τέκνα,
εύνής έκατι καί λέχονς σφ ’ άπώλεσας,
ονκ εστιν ήτις τοΰτ’ &ν'Ελληνίς γονή
1340 ετλη ποθ \ ών γε πρόσθεν ήξίονν έγώ
γήμαι ai, κήδος έχθρόν όλέθριόν τ ’ έμοί,
λέαιναν, ον γυναίκα, τής Τνρσηνίδος
Σκνλλης εχονσαν άγριωτέραν φύση·,
άλλ ' ον γάρ αν σε μνρίοις όνείδεσιν
1345 δάκοιμι; rofóvÓ1 έμπέφνκέ σοι θράσος:
ερρ αίσχροποιέ καί τέκνων μιαιφόνε.
έμοϊ δέ τόν έμύν δαίμον ’ αίάζειν πάρα,
I ός ούτε λέκτρων νεογάμων όνήσομαι,
ον παίδας ονς έφυσα κάξεθρεψάμην
ΐ35° έξω προσειπεϊν ζώντας άλλ ’ άπώλεσα,

ι Μήδεια
I μακράν άν έξέτεινα τοισδ' έναντίον
I
I
143

Esse carro o Sol, pai do meu pai,


nos deu: proteção contra a mão inimiga.

JASÃO
Danaçâo! Ô inimiga maior dos deuses, de mim,
de toda a raça humana! 0 mulher!
1325 A que pariu e conseguiu enfiar a espada
nos próprios filhos e me deixou sem prole.
A que depois de fazer tu d o ...
Ainda contemplas o Sol e a terra?!
Depois de praticar o cruel trabalho! Que se foda!
J330 Só agora percebo, não percebí antes,
quando do palácio, do chão bárbaro
te trouxe pra casa grega. Grande desgraça.
Traidora do pai e da terra que te nutriu!
Tua danaçâo os deuses jogaram em mim:
1335 mataste teu irmão, em seu próprio lar
e embarcaste na nau Argos de bela proa.
Começaste assim, depois, casaste e
por este homem aqui, pra mim, geraste filhos,
e por uma cama, um leito, os destruíste.
1340 Nào há mulher grega, nenhuma,
que faria isso, as que eu deixei para trás ao me casar
contigo - aliança inimiga e fatal pra mim,
Leoa! Não mulher, tens a natureza
mais selvagem do que Cila, a etrusca.
1343 Mas nem com dez mil insultos sentirías minha
mordida! Essa arrogância está em ti, enraizada! Some, sem-
-vergonha, suja de sangue... dos meus filhos!
Eu só posso gemer - aiai - um deus qualquer... eu, que nem
gozarei do leito de recém-casado nem posso dar “adeus” aos
1350 filhos que gerei e criei ainda em vida. Perdi.

MEDEIA
Muito me estendería para contrariar *
j.

i
É
144

λόγοιοιν, εί μή Ζ ευ ς π α τ ή ρ ή π ίσ τατα
ο Γ έ ξ έμ οΰ π έπ σ ν θ α ς ο ϊά τ ' ε ι’ ργ άσ ω :
αν Ô' ον κ έμ ελ λ ες τ α μ ' ά τ ιμ ά σ α ς λέχη
ι$ 5 5 τερ π ν όν δ ιά ξ ειν β ίο τ ο ν έγ γ ελ ώ ν έμ οϊ
ο ύ δ ' ή τύ ραν ν ο ς, ο ύ δ ’ δ σοι τφ οσθείς γ ά μ ον ς
Κ ρ έω ν ά ν α τ ε ί τ ή σ δ έ μ ’ έ κ β α λ εϊν χθονός.
π ρ ό ς m i n a κ α ί Λέαιναν, εί β ούλμ , κ ά λ ει
κ α ί Σ κ ύ λ λ α ν ή Τ υρσηνόν ώ κ η σ εν π έ τ ρ α ν :
13 6 0 τή ς σή ς γ ά ρ ώ ζ χ ρ ή ν κ α ρ δ ία ς άνθηψ άμην.

Ίάσων
κ α ύ τ ή γε λνπή κ α ί κ α κ ώ ν κοινω νός ε ί

Μ ή δ εια
σ ά φ ’ ΐσθι; λ ύ α δ ’ άλγος, ήν σν μή 'γγελάς.

Ίάσων
ώ τέκνα, μητρός ώς κακής έκύρσατε.

Μήδεια
ω παϊδες, ώς ώλεσθε πατρώα νόσω.

Ίάσων
1365 οΰτοι νιν ήμή δεξιά γ ’ άπώλεσεν.

Μήδεια
ΑΛΑ ’ νβρις οι τε σοι νεόδμητες γάμοι.

Ίάσων
λέχους σφε κήξίωσας οννεκχ κτανειν;

Μήδεια
σ μ ικ ρ ό ν γ ν ν α ικ ι σ ή μ α r o í τ ’ ε ίν α ι δ ο κ ε ις ;
H5

essas palavras, se Zeus Pai não soubesse


o que recebeste de m im e o que para mim fizeste.
Tu não irás ultrajar a m inha cama,
1.555 nem levar uma boa vida rindo de m im ! Nem princesa,
nem aquele que te arranjou bodas, Creonte,
impune, não me expulsa desse chão!
Por isso, se queres, me cham a de leoa,
de Cila, a tirrênia que mora nas pedras.
J3S0 Poi preciso: contra-ataquei teu coração!

JASÃO
Também tu sofres, és com panheira nas desgraças.

MEDEIA
É claro! Mas a dor me salva, se tu não zombas de mim!

JASÃO
ô , filhos, que mãe horrível recebestes!

m e d e ia

Ó, m eninos, acabastes co’a doença do pai!

JASÃO
j j Sj Não, não foi nossa mão que os destruiu...

MEDEIA
Mas o ultraje das novas bodas consumadas!

JASÃO
E por uma cam a achaste razoável matá-los?

MF.DF.IA
Achas que é d ar pequena pra uma mulher?
14 ή

Ίάοων
ήτις γε σώφρων: σοί $ε πάντ’ έστίν κακά,

Μήδεια
1370 οΓδ' ουκέτ’ doí: το ντο γάρ σε δήζεται.

Ίάσων
oi'S’ εισίν, οϊμοι, σω κάρα μιάστορες.

Μήδεια
ϊσασιν όσης ήρξε πημονής θεοί.

Ιάσιο ν
ίσασι δήτα σήν γ ’ άπάπτνστον φρένα.

Μήδεια
στύγει: ττικράν δέ βάξιν έχθαϊρω σέθεν.

Ίάσων
1375 καί μήν εγώ σήν: ράδιοι 8 ’ άπαλλαγαί.

Μήδεια
πώς ούν; τι δράσω; κάρτα γάρ κάγώ θέλω.

Ίάσων
θάψαί νεκρούς μοι τούσδε καί κλαϋσαι πάρες.

Μήδεια
ον δήτ', έπεί σφας τήδ’ έγώ θάψω χερί,
φέρονσ' ές'Ήρας τέμενος Ακραίας θεού,
1380 ώς μή τις αυτούς πολεμίων καθύβρισή
τύμβους άνασπών: γμ δέ τμδε Σίσυφου
σεμνήν εορτήν καί τέλη προσάψομεν
14?

JASÃO
Sim, se controlada. Pra ti, tudo é mal.

MEDEIA
13 7 0 Esses já não são mais: sentes a mordida, com certeza!

JASÃO
São, sim, ah, são! Ma tua cabeça, vingadores do sangue!

MEDEIA
Sabe deus quem com eçou a briga!

JASÃO
Sabe mesmo! Da tua mente abominável.

MEDEIA
Podes odiar! Detesto esse teu papo azedo.

JASÃO
13 7 5 E eu o teu! Divórcio fácil.

MEDEIA
Sim? Com o? É o que mais quero! O que faço?

JASÃO
Deixa eu enterrar e chorar esses mortos.

MEDEIA
Não, mesmo! Eu, com essa mão, os enterrarei
e levarei ao santuário de Hera, deusa altiva,
080 para que nenhum inimigo viole o túmulo
e os insulte. Nessa terra de Sísifo
promoverei uma festa venerável e rituais
148

το λοιπόν άντί τονδε δνσσεβονς φόνον-


αυτή δέ ycttav εϊμι την ‘Ερεχθέως,
ijâj Αιγεί σννοικήσσνσα τφ Πανδΐανος.
σύ S ', ώσπερ είκός, κατθανή κακός κακώς,
Αργούς κάρα σόν λειψάνω πεπληγμένος,
πίκρας τελευτάς τών έμών γάμων ιδών.

Ίάσων
«ΛΛά σ 1Έριννς όλέσε;ε τέκνων
mo φονιά τ£ Δίκη,

Μήδεια
τις δέ κλύει σοϋ θεός ή δαίμων,
τοΰ ψευδόρκου καί ξειναπάτου;

Ίάσων
φεΰ φεϋ, μνσαρά καί παιδολέτορ.

Μήδεια
στεΐχε προς οϊκονς καί θάπτ ’ άλοχον.

Ίάσων
1395 στείχω, δισσών γ ’ άμορος τέκνων.

Μήδεια
ονπω Θρηνείς: μένε και γήρας.

Ίάσων
ώ τέκνα φίλτατα.

Μήδεια
μητρίγε, aoi δ ’ οϋ.
H í>

- ora em diante - por esse blasfemo crime.


Quanto a mim, irei para a terra de Erecteu,
1385 m orar com Egeu, filho de Pandion.
Quanto a ti, infame, na infâmia morrerás:
com destroços do teu navio Argos na cara enfiados,
vendo a estaca final deste teu casamento comigo!

JASÃO
Que a ti destruam as Erínias dos filhos!
1390 Justiça, pelo sangue!

MEDEIA
Qual deus, qual divindade te escutará?
O perjuro, o que engana os hóspedes?

JASÃO
Phu! Suja! M atadora de crianças!

MEDEIA
Corre pra casa e enterra tua mulher!

JASÃO
139 5 Corro! Infeliz pelos dois filhos!

MEDEIA

Não te lamentes mais: espera ainda a v elh ice...

JASÃO

Oh, filhos tão queridos...

MEDEIA
Pra a mãe! Não pra ti.
150

Ίάσων
κάπειτ' εκανες;

Μήδεια
σέ γε πημαίνονο

Ίάσων
ώμοι, φιλίαν χρμζω στόματος
1400 παίδαιν ό τάλας προστττύί,ασθαι.

Μήδεια
νϋν σφε προσανδάς, νυν άσπάςμ,
tot ’ άπωσάμενος.

Ίάσων
δός μοι τιρός θεών
μαλακού χρωτός ψανσαι τέκνων.

Μήδεια
ούκ έστι: μάτην έπος έρριητατ

Ίάσων
1405 Ζεύ, τάδ' άκούεις ώς άπελαννόμεθ'
οιά τε τιάσχομεν έκ τής μνσαράς
και παιδοφόνον τήσδε λεαίνης;
άΑλ ’ ο πόσον γοΰν πάρα και δύναμαι
τάδε και θρηνώ κάπιθεάζω,
14ΐο μαρτνρόμενος δαίμονας ώς μοι
τέκνα κτεΐνασ ’ άποκωλύεις
ψανσαι τε χεροΐν θάψαι τε νεκρούς,
ονς μήποτ’ εγώ φάσας οφελον
προς σον φθιμένους έπιδέσθαι.
151

JASÃO
Por isso mataste!?

MEDEIA
Pra te hum ilhar...

JASÃO
Ôh, m m m ... ô! queria eu, o mísero, beijar a boca amada cios
1 4 Q0 meninos.

MEDEIA
Agora chamas por eles,
felicita os outrora rechaçados.

JASÃO
D á-me, pelos deuses,
tocar a pele m acia dos 61hos!

MEDEIA
Não dá. Palavras jogadas em vão.

JASÃO
140; Zeus! Ouves isso? Ouves com o somos
rechaçados! Quanto sofremos desta imunda,
infanticida, desta leoa?
Mas, ao menos, quanto m e resta e posso
isso hei de chorar e dam ar aos deuses,
1410 os divinos atestam:
mataste os m eninos e me proíbes de
tocá-los e enterrar os corpos com minhas mãos.
A eles, pudera eu não ter gerado
pra depois vê-los por ti abatid os...
Χορός
1415 πολλών ταμίας Ζευς εν Όλύμπω,
πολλά δ ’ άέλπτως κραίνονσι θεοί:
καί τά δοκηθέντ' ονκ έτελέσθη,
τών δ ’ άδοκήτων πόρον ηνρε θεός,
τοιόνδ’ άπέβη τόδε πράγμα.
153

CORO
1415 De muito é Zeus curador,
muita coisa, pelo avesso, reviram os deuses...
o que se esperava não se cumpriu,
mas um deus achou uma saída do inesperado.
Tal foi, tal é: assim findou esse ato.
Ou

Zeus no O lim po muito distribui


e muito os deuses realizam além da expectativa.
O esperado não se cumpriu
e do inesperado deus achou uma saída.
Assim term ina esse ato.
Ou

De muitas coisas Zeus, no O lim po, é soberano


e muitas vezes os deuses nos assombram com suas façanhas:
não se cumpre o que é desejado
e do inesperado o deus faz o caminho.
Assim term ina a história.
i
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA
A R G O N A U T I C A DE A P O L Ô N I O DE
RO D E S E NA M E D E I A DE E U R I P I D E S

AMOR, ABISMADO ΑΜΟΚ1

Este texto pode ser gravado para ser transm itido em rádio ou
encenado ao vivo, em p e r fo r m a n c e . No caso de encenação, o posi­
cionam ento dos atores/cantores pode ser: três atrizes/cantoras do
lado direito. M icrofone de pedestal; três atores/cantores do lado es­
querdo. M icrofone de pedestal; locutor e locutora (cori-feío & cori-
-feia, representando o sátiro Sileno e a Ninfa Maia) posicionados
atrás de uma pequena mesa com m icrofone no centro do palco.
Sugerimos que o figurino e os adereços remetam para a indu­
m entária grega antiga: túnicas, sapatilhas, perucas ou cabelos pen­
teados. A comédia L isístrata, de Aristófanes, pode oferecer material
rico para isso. Alguns objetos de cena podem ajudar na comicidade:

í. Este texto i a segunda versão do texto piródico para M ed eia intitulado 0 L a d o O bscu ro
d o A m o r . Λ nova versão foi revista e ampliada para publicação com o título o obscubo e
AS7SMAOOΑΜΟΚ- O texto foi escrito por Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andreia Gara-
veüo t Tereza Virginia Ribeiro Barbosa. Agradecemos atodos emespecial a Maria Cecília e
Manuela comseus palpites pitorescos.
155
156 M E D E [A

um punhal, um pente para Jasão, placas para ações da platéia (aplau­


dir, rir, chorar, resmungar etc.), panelas diversas.

C a p ít u l o 1

abertura: T rinta primeiros segundos de A C a v alg ad a d as V alquí-


rlas, de Richard W agner ou A N oite no M on te C alvo, de
Modest Petrovich Mussorgsky ou ainda aquela que a trupe
encenadora julgar melhor.

c o r i - f e io : (O locu tor e a locu tora assu m em ocu ltam en te 0 p a rtid o


d e Ja s ã o e M ed eia, respectivam en te. C o m o sátiro, 0 lo cu ­
tor é lascivo, a locutora, com o, em g e r a l tod a n in fa grega,
é sensual.) Rádio Tebas 877 M hz ac, em seu m om ento
de especial abismada paixão abismai. Sao vinte horas e
25 m inutos de areia na nossa ampulheta. Tem po bom,
tem peratura em elevação. Ao fim da tarde, instabilidade
atm osférica levando a possíveis tempestades tropicais.
Jingle da rádio.

CORI-FEIA: (A lo cu to ra dev e m a rca r certa cu m p licid ad e eró tica com


o locutor; d ev erã o a m b o s co locar-se co m o estereótipos,
m u lh er c a rreg a d a de em o çã o ; h om em , p ra g m ático .) (d e­
sesp erad a ) Tropicais^ Tem pestades tropicais você disse,;
Na Grécia^ O mundo está mesmo virado de cabeça para
baixo. É ou não é queridos ouvintes^ (M ostrar p la c a de
co m a n d o p a r a a p la téia : Êéé!) Boa noite, senhoras e se­
nhores, sátiros e ninfas, bacantes, toda a nobreza terres­
tre, e, claro, os Deuses Olím picos! Esse público m ara­
vilhoso, todos que nos assistem ao vivo, aqui direto do
nosso auditório. (M ostrar p la c a d e ap lau so.) M ais uma
vez temos a honra de lhes oferecer os instantes mais
pungentes da minha, da sua, da nossa Rádio Tebas!
G ONÁt / T/ CA DE A P O L Ô N 1 0 . . . 157
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA AR

co b i -feio: (T om ágil e travesso.) E a Tebas Broadcasting Corpora­


tion, 435 A C m h z , apresenta agora a mais emocionante
temporada cie histórias de C a llian d ra brevipis, o aroma
que desperta em você as forças impetuosas do amor!

c o r i -fe ia : Sim, queridos ouvintes, na alegria de despertar estes


alegres sentimentos, estamos na vossa companhia e des­
frutaremos de minutos apaixonados e irem entes. Que­
remos, em nome do patrocinador deste programa, agra­
decer sua atenção - que será pura emoção.
coíu -feio ; (L ocu tor ag o ra m a is en tu siasm ad o.) E a nossa transmis­
são se dá pela Rádio Tebas, 453 a c m h zantes de Cristo
{dú vida q u an to à v elo cid a d e d a transm issão. E le troca ra
os n ú m eros de m ed id a d u ra n te tod a rad ion ov ela ) única
emissora que agrada a gregos e troianos. Este programa
tem o apoio cultural de:
c o r o s - (can ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes com phU! ( convem
q u e a ex p ressão ‘ com p h " seja fa l a d a p o r ou tra p esso a ou
gru po ou em torn!ritm o diferente, com o um ad en d o, as
vezes a té um p o u co in con ven ien te, de u m a in fo rm a ç ã o
q u e na v erd a d e n ão acrescen ta n ad a).

c o m -feia : A propósito, para você que curte cozinhar, não pense


pequeno, os Frigoríficos Aristophanes com ph sao a
única rede de frigoríficos em que você encontra a nuns
fresquinha carne de rãs (som d e brejo). Nada de carne
de sapo, gia ou batráquio, mas a mais genuína carne de
rãs. Os Frigoríficos Aristophanes com ph há quinhentos
anos só recebem carne de qualidade. Frigoríficos Aristo­
phanes com ph na mesa nossa de todos os dias!

COR1 -FEIO: E, falando em cozinhar, Tebas ainda esta tentando se


esquecer do horripilante caso que ocorreu ano passa­
do - todos devem se recordar -, um caso envolvendo a
15» MEDEIA

princesa Medeia, que se meteu a Cozinheira louca e fez


deliciosa e encantada sopa - ao menos, todos concor­
daram, ao provar a iguaria. Aos ingredientes básicos m-
paríferos ela acrescentou uma criação engenhosa, carne
frita de rei! (muda o tom e mostra a placa ARGHÍ).

cor t-f e ia ; Pasmem os senhores, o banquete foi mesmo a carne de


Pélias frito. Uma calamidade ainda por ser apurada! As
denúncias foram muitas, os amigos devem se lembrar
que a população convidada para o repasto encontrou no
meio da sopa - entre os bagos e os ovos - dentes, dedi-
nhos, e... deixa pra lá, não vamos rememorar as coisas
passadas. Lastimável, porém, é que, como sempre, as
autoridades de Ioico abafaram o caso e, indulgentes e
incompetentes e inconsequentes e negligentes, temendo
os poderes malignos da M aâ cooker, deixaram a mulher
solta, negaram sua extradição e - dizem mais - dizem
que o princês Jasão mexeu o pauzinho para evitar a cap­
tura da individual

co ri - feio : O tema é polêmico, minha querida ninfeta Cori, não há


provas concretas. Sabe-se somente que Medeia, no fes­
tival culinário de Corinto, ganhou o prêmio A Concha
de Ouro do Concurso Anual de Sopa de Carne Nobre.
É, a moça sofisticou. Já foi logo usando carne de rei...
esperta!

co ri - f e ia : Fascinante! Ninguém pode com a raça mulheril!

co ri - feio : A Rádio Tebas denuncia e cobra soluções. Mas 0 que


se passa numa mente criminosa tão vil e traiçoeira, tão
monstruosa (a fa la precisa soar ambígua, pois remete
para M edeia e para a cori-feia)\ Que mistérios, fobias,
medos, psicoses.,.
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A U G O N Á U T IC A DE A P O l . Ó N I O . . . 159

CORI-FEIA.: (M a n ifesta n d o e n fa d o com o p a r c e ir o .) E por que ela


fez o que fez? O lha q u e d e tu do q u e é vivo e tem v o n ­
tade, nós da raça fem inina som os as mais lamentáveis
criaturas2.

CORI-FEIO; Deixa de poesia subversiva, acabam com nosso patrocí­


nio, disso, vai, estamos no a r . . . Sim, queridos ouvintes,
hoje nós nos preparamos para uma jornad a através de
uma história de am or intenso, paixão e crime: a tragédia
da pobre rica princesa M edeia e do princês Jasão! Uma
história que vai tocar até o mais duro coração esparta­
no! Vocês verão - m elhor dizendo, o u virão... - com o
os deuses olím picos, apenas por capricho, fazem o que
querem com os mortais. E tudo com o latrocínio, não,
não, com o patrocínio de:

COROS: Cca n ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes co m p hü !

CORI-FEIO* (A o f a l a r d os p atro cin ad o res, ele sem p re cap rich a.) E


alô, aló, cori-feia! Não se esqueça também de anunciar
que o Frigorífico Aristophanes com ph recomenda que
o churrasquinho de rãs seja regado com o mais suave
e agradável néctar dos sátiros, aperitivo para todas as
horas, maravilha com o churrasquinho de rã, a cachaça
Bode V elho, a bebida, em tem pos pós-m odernos, prefe­
rida de D ioniso e de seus camaradas!

COROS: Co’a Aguardente Bode Velho


Toda m oça fica bela.
C o ’a Aguardente Bode Velho
Todo hom em é martelo.
C o’a Aguardente Bode Velho
Você pode contar,

i, Euripides, M ed eia , w , 231-232.


1Ó0 MEDEIA

Aguardente Bode V elho


Sua amiga na hora H.

c o r i-f c ia ; E atenção, caros ouvintes, a Rádio Tebas orgulhosam en-


te apresenta:

c o a o s : (M ú sica tem a d e E o Vento Levou.) A m or, a b is m a d o


a m o r ! (C oro em p o s iç ã o d e sú plica),

c o R i-F E io : Este, caríssimos, é o instante de pedirmos aos deuses


inspiração. E, ao patrocinador, um gole de Bode Velho!
E esta é pro santo! V ocê, ouvinte, aí na sua casa, coloque
uma garrafa de Bode Velho na mesa, um gole no copo,
erga a mão direita e clam e com igo: O, M usas do Sagrado
M onte, fazei de nossa voz a vossa própria voz. Ó ninfas
da terra e sátiros da floresta, incendiai e arrebatai aos
que vos invocam com vosso furor dionisíaco. Ó Musa
Calíope de bela voz, canta o destino trágico de um amor
construído com tijolos de ódio, ó M elpom ene canta a
argamassa rancorosa que levou à ruína todo um reino,
e o cim ento cium ento que selou para sempre a voz de
tantas infelizes. Canta, ó, Euterpe, M u sa ...

S om d e h a r p a . Voz em eco in terrom p en d o a fa la .

m u sa : (F irm e, m elod io sa e p ro fesso ral. ) Chega de vocativo! Pas­


tores agrestes, vis infâmias e ventres só! Nós sabemos
com o dizer muitas mentiras semelhantes ao fatos, maaa-
a s ... ( m u d a o tom , torn a-se m ais p ra g m ática) temos mais
o que fazer, Vocês mortais, ora sempre pedindo, ora im ­
plorando sempre, é uma lamúria sem ftm. Ó, Musa, can­
ta ... Canta, ó, M usa... Musa canta ó , Ó , canta M usa...
C anta, Musa Ó ... Não importa o lugar das palavras na
frase, a ordem dos sedutores não altera o oviduto, assim
é o grego, mas o sentido é o mesmo: "Chega mais, dona
M usa, manda uma inspiração aí, valeu?”
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Á U T IC A DE APOLÔNIO... l 6t

co ri - feio ; Eu vos peço perdão, 6 Erato, senhora dos versos eró­


ticos! E para vós, todas as M usas divinas que tendes o
O lim po com o morada, peço-vos: insuflai poesia, der­
ramai belas palavras em nossas cabeças, ó altaneiras, ó
excels as...

m usa : (M uito irrita d a.) Chega! V ocê é surdo? Pare já com esse
lenga-lenga! Morada no Olimpo, pois sim! Estamos em
greve, nao vamos mais inspirar ninguém. E você aí em ­
baixo, C ori-feio Sileno, anuncie (em tom d e d esp rezo
z o m b eteiro ) em sua radiozinha: agora nem tem os onde
morar! Um absurdo! Não temos nem mais onde m o ­
rar, com a crise na Grécia levaram nosso m onte para a
Alemanha, nosso tem plo foi para a Inglaterra, enfim, es­
tam os sem pátria. Restava-nos uma ruazinha simpática
num a cidade esplêndida, com um céu luminoso!

c o r i -feio : Ah, sim, Madri!

m u sa : Não, meu caro senhor, o nom e da cidade é Belo H ori­


zonte. Veja que lindo nome, Apoio que o d iga... Pois
que conste de sua pauta de notícias: a prefeitura perm i­
tiu a venda da Rua das Musas, a nossa rua! E tudo por
causa da construção de um hotelzínho barato. N oticie,
por favor, a gramática grega ordena: em Rua das M u­
sas existe uma regência de genitivo bem marcada e Rua
das Musas. (M o stra rp la ca : ch o ra r.) Agora estamos sem

monte, sem rua, sem lenço e sem docum ento. Ó, a mo­


dernidade fragmentou nossa divina m orada, arrancou
nosso cetro. É que “o ouro vale mais que mil palavras” e
foi-se nossa ru a ... A pós-modernidade dirá: Musas sem
terra, sem teto, sem rua, sem aura! Portanto, não nos
peça nada. Acabam os de fundar o M ovim ento das M u­
sas Sem Terra: m m st ! E estamos em greve!
162 Med eia

corí - f e ia : E u concordo, M usa querida. Acho até que nossos patro­


cinadores haverão de apoiar o seu m m tê. E se quiserem
passar um tempinho aqui na Rádio enquanto a turma
organiza um p iqu ete...

m u sa : Não é necessário, cara ninfa! Um amigo nosso, profes­

sor de grego, até nos cedeu um quartinho com vista para


o sh o p p in g ... É o bom Jacy n th in h o ... Antes honrado e
respeitoso para conosco, habitava em nossa rua, hoje,
é clandestino na própria casa - e nós com ele. Mas lá
no quartinho tudo está arrumadinho, sabe? A roupa de
cama é cretense, o ventilador é da m arca Hércules, as
flores da jarra ele escolheu especial mente para n ó s...
Lindos narcisos amarelos. Coitado do jaz, embora por
nós ele corra grande risco, até criou o blog das Musas!

cofii-FEto; Entendo o problema; porém, estamos no ar, madames.


Em meio a tanta desilusão e tristeza, o público precisa
dos nossos versos e 0 presente tem sua própria alegria, é
mesa cheia pros viventes !3 Ó, Polím nia, cante conosco,
senhora dos muitos hinos, ó Musa Erato, minha preferi­
da, v enha...

m u sa : Por Zeus, cale-se! Que coisa m ais chata: ó M usa, can­


ta ... canta ó M u sa ... M usa, M usa. O u você para ou
vamos calar sua voz para sem pre. Seja engenhoso,
m ultiversátil,

cori -f e ia : (feminista) Com o Ulisses, Musa, aquele que deixou a mu­


lher esperando por vinte anos, se aconchegou com Calip­
so numa ilha paradisíaca, dormiu com Circe no Spa Eeia,
passou um tempo com as Sereias, flertou com feácia Nau-
sicaa e voltou pra casa como se nada tivesse acontecido?!

3. I d e m , w, 201-202.
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A U G O N Ú U T r C A D E A P O L Ô N I O . . . 163

m usa : Não, ninfa M a ia, com o o MacGyver. V ocês não têm aí


um fio de microfone, uma fita isolante e um chiclete?
Então contem a história! Das m entiras criem a ficção, da
ficção 0 sonho e a paixão! Vocês são muito hum anos...
M ilhares de anos se passaram e eles continuam os mes­
mos. .. Bebe um gole de Bode Velho, Cori, e vai, com e­
ça logo essa h istó ria... Ah, outra coisa, Ulisses seguiu o
exemplo de Zeus, viu?

coros : Tom ou cachaça hoje? Cachaça Bode Velho. Toda moça


fica bela, todo hom em é martelo.

CORI-FEIO: Ô produção, não mandei rolar o com ercial! Estou pa­


rindo agora a poesia! O que por prim eiro cantar? Por
segundo o que trautear?

c o íu - f e ia : Ô, Sileno C ori-feio querido, o pessoal tá certo, é hora


dos patrocinadores, C o ri...

coro : V em viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal­


dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar:
sauna, piscina, show s e tudo que você precisa para ser fe­
liz. “Não há ó gente, ó não um m ar com o o de Poseidão!
Navegar é preciso, viver, não é preciso!” Yacht, Y acht,
Yacht!

co r i - feio : Estou pronto, tenho já a história elaborada. Sim, caros


ouvintes, agora me lembro! Estavam os Argonautas em
missão para os lados da velha Rússia, terra de bárbaros,
lá nos mares da G eórgia..,

T recho de Georgia on my M ind de Ray C harles.

m usa : Oh, homem, eles não estavam na Rússia...

co r i -feio : Oh, sim. Eu peço perdão, senhora. Na velha u r ss , tal­


vez. ..
164 MEDEIA

MUSA: Não, estúpido. Raça se Sisífo\ sois ventres só, argh. Eles
estavam na Cólquida.

c o r i - γ ε ιο : Pelo tirso das baeantes! É claro. Estavam naquela viagem


que passava pelo M editerrâneo e chegava até o Bósphoros
com ph, o canal da vaca amante de Zeus e seguia até o
Ponto para, de mansinho, aportar na Cólquida.

co r i -f e ia : P o n to evírgula...

m usa : Exatamente, meu caro. P or Zeus, pela vaca Io e pelo


Bósforo, pelo menos ele acertou o lugar. Vam os, irmãs,
o p r o fe Jaça nos espera para o chá.

co r i -fei O: Mas, senhoras, esp erem ... Esperem ... a h istória... Não
m e deixem só à beira do cam inho!

co r i - f e ia : Senhores ouvintes, desculpem-nos. Sem Musas, vamos


pesquisar lia A rgon âu tica do Apolônio pra escrever a
história. E, enquanto as filhas da M em ória tomam seu
chazinho, que tal um cafezinho com A m or-em -p ed a ço s,
hein?

coro : É hora de tomar um cafezinho, quentinho, temperadi-


nho... C a fé Sileno Seleto, fácil de preparar, instantâneo,
forte, quente e delicioso.

co ri - feio : Então, caros amigos, com este agradável cafezinho e, c o ­


mendo os amores por pedaços, desejamos-lhes boa noi­
te, bons sonhos! E embalados por nossas canções, co n ­
tinuem sintonizados na Rádio Tebas, a m elhor emissora
de todos os séculos. Rádio Tebas! 543 mhz ac.

coro : Rádio Tebas!!! 4

4. idem , w . 4 0 5 e 1 3 8 1 .
K A D I O N O V E L A . B A S E A D A NA A E GO WAL T T Í C A D E A P O L Ô N I O . . .

Capítulo 2

a bertu ra : Trinta primeiros segundos de A C a v alg ad a d as V alquí-


rias, de Richard W agner ou A N oite no M on te C alvo, de
Modest Petrovich Mussorgsky o u ,..

CORi-FEio: V ocê está ouvindo agora a Rádio Tebas, que para seu
lar traz os m om entos mais especiais da paixão abismai
de M edeia a princesa colca filha do rei Eeres. São vinte
horas e 25 m inutos de areia na nossa ampulheta. Tem po
instável, tem peratura em elevação. Chuvas e trovoadas
devido a possíveis tempestades tropicais.

cori - feia : Tempestades tropicais^ Alô, amáveis ouvintes! Boa n o i­


te, senhoras e senhores, deuses, sátiros e ninfas! Mais
uma vez temos a honra de lhes oferecer os instantes
mais pungentes da minha, da sua, da nossa Rádio Tebas!
435 mhz a c . Assim continuam os com mais um capítulo
de (trilh a d e E o V ento Levou) A m or, A b ism a d o A m or,
aqui 11a nossa rádio tbc sob 0 patrocínio de C alU andra
brevipis, o aroma que desperta em você as forças im pe­
tuosas do amor! Queremos, em nome do patrocinador
deste programa, agradecer sua atenção - que será pura
em oção, Para você m u lh e T ch eiro sa.,,

CORi-FEiO: ...e gostosa! E por falar em gostosuras, seja sábado, do­


mingo, segunda, terça, quarta quinta ou sexta, dê uma
passadinha pelos Frigoríficos Aristophanes com ph,
onde você encontra a m elhor carne para sua reifeição!

coros : (can ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes!!!

c o R i-F E io : Sim, meus caros ouvintes, a m elhor carne de rã servida


com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzeiro do Sul!
Felicidade total!
16 6 MEDEIA

COROS: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escaldan­


tes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna,
piscina, show s e tudo que você precisa para ser feliz.

coR i-FE io: Não há ó gente, ó não um m ar com o o de Poseidão! N a­


vegar é preciso, viver, não é preciso! iVlas... esta história
de am or e sofrim ento entre Jasão e M edeia ficou inter­
rompida exatamente quando o príncipe Jasão e seus
com panheiros Argon antas estavam de viagem para Cól-
quida, terra da neta do sol, a selvagem Medeia, violenta
com carnes e cozidos - e vocês conhecem a fúria dessa
mulher desprezada - feiticeira, alquimista, a senhora
das especiarias, mestra em mil temperos, a bela e a terrí­
vel princesa Medeia.

c o r i - f e ia : Bem , gente, quando os jovens aportaram , dirigiram -


-se logo para a suntuosa residência do rei Eetes e nos
m agníficos jard ins escutaram , lá de dentro, voz en can ­
tad o ra...

m e d e ia : (M ú sica d e R osan a.) Com o uma d e u s a .v o c ê me m an­


tém, e as coisas que você me diz, me levam a lém ...

coRi-FEiA; Pararam estupefatos, admirados! Que voz solar, que


que nt ura...

co ri - feio ; Sim, M aia, d em a sia d o caliente. A ponto de rom per a


barreira dos dentes do jovem Jasão ...

ja s ã o : Gente boa, confesso que essa voz é boa pra caramba,


em bala legal... Acho que tô dentro e quando eu en trare
a voz me o lh ar...

CORO m ascu lin o : Jasão tá dentro, de certeza, ela vai notar: ele é o
cara, bicho! M oreno alto, bonito e sensual! / Por certo
a solução dos seus problemas/ C arinhoso, com nível
so cia l...
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A E G O M Á U 7 I C A D E A P O L Ô N I O . . . l6;

co r i - feio : E enquanto isso, enquanto ficavam naquela de rapazia­


da pagodeira debaixo da janela e no ja rd im ... Nas a l­
turas do M onte Olimpo, Hera e Atena conspiravam a
favor do m oçoilo protegido, o príncipe íasão.

h er a : Atena, querida filha de Zeus, meu marido, tem o por Ja-


são. Bom rapaz aquele m enino. Perdeu seu reino para
o Pélias, partiu de lolco em aventuras e foi para a Cól-
quida buscar recursos e resgatar o manto de puro ouro
do pai m orto. Carece, querida, encontrar um m eio de
ajudar o menino! Você, deusa estrategista, olhos de c o ­
ruja, que sugere? Com o podemos ajudar jasão a dobrar
o cruel Eetes? C om o podería ele devolver o manto rou­
bado? Ele, um pirata de mares, homem desagradável e
arrogante, s>em fin esse nem noblesse?

a t e n a : Zero Um! C oncordo com você, madrasta. C oncordo em


gênero e núm ero e na primeira declinarão de tem a em
alfa puro. Além do mais, nosso amado príncipe Jasão é
m acho forte, reprodutor sem igual, novilho de primeira!

HERA: É. E você sempre tem boas idéias! Nunca me esqueço do


cavalo de pau na guerra de T r o ia ...

atena: Isso é passado, madrasta. Vam os pensar e cam inhar em


silêncio, em absoluto silên cio ...

h er a : Atena, querida filha de Zeus, meu marido, Jasão já che­


gou aos jardins de E etes...

a t e n a : Psit! Em silêncio, Hera, em silên cio ...

A ten a e H era p isa m em fo lh a s secas, o silên cio é com p leto. D u ran te


a ca m in h ad a , a o fu n d o d eix a -se ro la r o play d e Estrada do Sol d e
T om jobitn .

a t e n a ; Eureka! V am os para a ilha de Chipre, onde nasceu Afro-


dite de olhos espertos e fala doce!
16 8 MEDEIA

Hhr a : Atena, filha querida de Zeus, meu marido, adoraria dar


uma escapadela e vingar as traições cruéis de seu pai,
mas agora não é o m om ento ap ro p riad o ...

atena: Posso continuar com minha estratégia? Afinal, estraté­


gia vem do grego: estratégia e significa a arte de com an­
dar, então, com ando eu! E não term inei nada ainda. O
plano é o seguinte: feitiço contra feitiço, encanto paga
encanto, flecha de am or traz angústia e dor! Direto.
V am os ao Shopping De Milus, lá avançamos e invadi­
mos - para além da Taprobana - chegamos à diretoria
da fábrica, capturamos a P od erosa A fro âite - não tenho
grande apreço por ela, mas, para este caso, é disso que
precisamos. E ela sabe de tudo que é jogo pesado, filtro
de am or, poções mágicas, chazinhos e cartas.

h er a : Pega leve, Atena, a guerra já acabou. M as escuta, Afrodí-


te joga cartas? Então ela joga no trabalho, é? Joga bridge,
será? Por que ela nunca me contou nada? Eu adoro car­
tas: bridge, paciência, truco, p o k er, burro, buraco, copo
d agua. O que uma esposa com o Hera deveria fazer en­
quanto seu marido faz filhos por toda parte, em toda
mulher, se bobear até em árvore? Haja paciência... Em
deusas, em mortais, em princesas, em pastoras, em vaca,
em bezerra, nele m esm o... Vai gostar de fazer filho, viu!
Você deve saber disso bem, não é Atena, é filha da cabe­
ça d ele...

a t e n a : Não gosto que fale assim de meu pai, o grande Zeus. Ele
não é moleque, é caveira! Tenho orgulho de ser sua filha
e olha que nascí da cabeça dele e não da coxa, do pé, da
ch u va...

h er a : E u sei, eu sei. Um a parte pra cada criança. E para m im ,


o que sobra? A m em ória é pras m usas... A chuva pra
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Á U T I C A D E A P O L Ô N I O . . . léÇ)

Perseu... Chifres para E u rop a... A coxa pra D io n iso ...


Evoé pra cá, Evoé pra lá. Vida ativa tem seu pai e, can*
sadn dessa trabalheira toda, ele chega sempre dizendo:
Hoje não, Hera, estou acab ad o ... Desculpe, Hera, tenho
hoje uma terrível dor de cab eça... Entenda, amor, temos
hoje a final de Atenas contra E sp a rta ... E se eu in sisto ...

Som d e raios e trovão.

h er a : Isso aí, ouviu? Raios e trovões. Isso me incomoda tan to ...


Uma só vez, o entendimento de Zeus-porla-égide em bo­
te i... Afrodite me auxiliou e à volta dele esparzimos um
doce e suave torp or... Que noite, Atena, que noite!

c o r i- f e a : A propósito, se você, ouvinte, tem esse tipo de problema


h era d isto ris em casa, se seu marido não é mais o deus
grego por quem seu. coração disparou, se ele passa o d o ­
m ingo de pijama, o cabelo cheira a churrasco e o bafo é
de a lh o .,. Apimente sua cama indo a o ...

c o ro s: (can ta n d o ) D ioniso Sex Shop.

cori - feia : D ioniso Sex Shop onde você vai encontrar tudo que
precisa; algemas, óleo de massagem comestível, lingerie
sexy, velas perfumadas, vibradores e, claro, p h allu s de
todos os tipos e tamanhos. Depois da D ioniso Sex Shop
seu casam ento nunca mais será o mesm o. Ligue 0800
69, meia mole, meia dura.

S om d e telefon e tocan do.

c o r i - f e io : Só um m inuto, Cori, m eu bem . Alô, rádio trc, em que


posso ajudá-la?

o u vin te : blablablablabla........

CORi-FEio: Oh, sim, madame. Eu entendo perfeitamente 0 seu pro­


blema. Sen marido só olha para atrizes de televisão. E
17 0 MEDEIA

nem m esm o beija mais a senhora??! M aníaca? N info o


quê? Oh, não dá conta, é? U m a vergonha, uma lástima.
Um m om ento, princesa.

co r i -e e ia : Querida, nós temos o produto perfeito pra você. É o

novo Batom beijim beijim blaublau sabor cereja. Seu h o­


mem não vai resistir. A senhora pode adquiri-lo facil­
mente na D ioniso Sex Shop bem na esquina de Satírico
com Parreiras.

o u v in t e : blablablablabla........

cori -feio : A senhora não sabe com o chegar lá? É simples. A senho­
ra tem g ps ? Ah, não? De avião, não? Ah, de barco, é?
Rem ando! Não, m ad am e... Produção, solta o play\

CORO: V em viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal­


dantes! Y acht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-m ar:
sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser
feliz.

co r i -feio ; É isso aí, m inha rainha, a senhora pega o Yacht Cruzei­


ro do Sul rumo a Atenas. Lá chegando, desce no Pireu,
pega um ônibus para Delfos, Chegando lá, em Delfos, a
senhora pergunta pelo templo de D ion iso...

o u vin t e : blablablablabla____

co r i - feio : Isso, isso m esm o, ele divide espaço com Apoio, quando

um tira férias, o outro assume o comando. E pra subir a


senhora aluga um burrinho. A mula é mais em co n ta ...
Se não conseguir, tudo bem , dá pra subir a pé.

o u vin te : blablablablabla........

CORI-FEIO: N ão, princesa, é um excelente exercício, a senhora vai


voltar em ótim a forma, seu m arido vai curtir à beça,
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Á L I T I C A D E A P O L Ô N Í O . . . 171

m esm o que a senhora chegue cansadinha, exausta pro


lado dele.

o u vin t e : blablablablabla......

COR3-FEIO: N o templo, num cantinho reservado, recôndito e escu­


ro, adornado com cortinas fucsia e aromas de canela,
som ambiente de m arim bas...

OUVINTE: M a r i m b a ? !

c o r i - f e ia : É, querida, aquele instrum ento feito de pau-santo ou


pau-rosa, pauzinhos que ao serem tocados com baque­
tas produzem um som doce e melodioso. E a senhora
encontrará ninfas adoráveis a seu dispor para ensinar,
entende? Un h erm oso popurri interpretado por extraor­
dinárias n p n fa s...

o u vin t e : blablablablabia........

CORI-FEIO: Testar? Não, não é possível, senhora, lam ento. Sem test-
-drive. Sim, de nada, é sempre um prazer saber que te­
mos ouvintes interessados com o a senhora!

B a ru lh o d e telefon e desligan do,

co ri - f e ia : V oltem os, Sisi, ao O lim po, lembra?

C O R I-F E IO : Sim , caros ouvintes, continuem os nossa história. H era e


Atena, num voo rápido da Oym pic C ondor Airlines, em
um segundo aterrissaram em Chipre.

m ú sica : {U m segundo de El Condor Pasa, a o f i n d o b aru lh o d e h e­


licóptero m esclado com a s falas: hypéroke! katapletikós!
magnifique!)

a t en a : C om andante Hermes, vamos logo para o heliporto da


De M illus Afrodite Factory.

h e r a : Chegamos, Atena. Belo pouso, Hermes, belo pouso.


V I MEDEIA

a t e n a : Vam os, Hera, à diretoria.

m ú sica : { T rilha so n o ra d e M issão Impossível, p assos d e sa lto alto


co rren d o, p orta s a b rin d o e fe c h a n d o , p a r a d a .)

afr o d ite : Zeus! A que devo a honra?! A high society do Olimpo?

h er a : Viem os jo gar bridge, querida.

afr o d ite : Bridge? Truco!

a t e n a : M adrasta, tem dó! Dá um tempo. Quem com anda sou


eu e eu não falei deste tipo de cartas, falava de cartas
sibilinas, por favor, dá um tempo, senhora. Poderosa
Afrodite, renda-se!

afr o d ite : Ares amado, deus da guerra, que loucas! Não entendo

nada. Expliquem -se, vocês estão em meus domínios.

coro fem inino : “E u sei que eu sou/ bonita e gostosa/e sei que você
me/ olha e me quer...”

h e r a : (S ussu rrando.) Venenosa eh, eh, eh, e h ,,.

co r i - feio : Ai que mulher! Não, caros ouvintes, ai que deusa! Que


cintura profunda, que se io s... Ê a beleza, o amor, a b ru ­
ma calorosa do o cean o ...

a fr o d it e : É que nascí da espuma das ondas, meu rapaz, mas, por


favor, não entre em conversa de deusas, sim?

co r i -feio : Claro, claro, senhora dama do grande lago salgado!

cori - f e ia ; Ei, sátiro louco, isso aqui não é a história do Rei Artur.
Guarde seus anacronism os para si, guarde tam bém essa
sua língua nervosa,..

cori -fe io : Perdoem -m e, senhoras. Perdoem -m e, queridos ouvin­


tes, nenhum a analogia seria suficiente. Me empolguei.

afr o d ite : É de praxe, querido, é de praxe... Fica caladinho, vai...


Mas H era vingativa, grande deusa esposa de Zeus, guar-
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A & G O N A U T IC A DE A P O L O N I O . . . 173

díã da fidelidade, a que devo a honra de sua entrada im­


petuosa com a guerreira Atena?

h era e ateh a (ju n tas): É fasão. Jasão precisa de um filtro, um feiti­


ço, uma cartada bem jogada...

a t e n a : É, Apesar de não gostar muito de seus meios, o moço


m erece...

afr o d ite : Hum, bum, merece, Atena, conheço o caso. Sei


bem ... m as... não posso fazer nada. Entrei na pós-
- modernidade... Agora vale o amor self-service: tudo
rapidinho, nada duradouro, nada de grandes, terríveis,
destruidoras paixões, Novas empresas, novos negó­
cios ... Não posso fazer nada.

m ú sic a : (Segundos d a 5a sinfonia d e B eeth ov en , j ° m ovim en tai)

c o m -γ ε ια : Senhores ouvintes, desculpem-nos. Com este clima, sem


o entusiasmos de Afrodite só nos resta fazer unia pausa,
certo? Que tal um cafezinho?

coro : É hora de tomar um cafezinho, quentinho, temperadi-


nho... C a fé Silerio S eleto , fácil de preparar, instantâneo,
forte, quente, delicioso.

c o m - feio : Então, caros amigos, com este agradável cafezinho, de-


sejamos-lhes boa noite! Bons sonhos! E continuem sin­
tonizados na Rádio Tebas, a melhor emissora de todos
os tempos. Rádio Tebas! 543 mhz a c .

C apítulo 3

a b er tu r a : T rin ta primeiros segundos de A C a v alg ad a d as V alquí-


rias, de Richard W agner ou A N oite no M on te C alvo, de
Modest Petrovich Mussorgsky o u ...
174 MEDEIA

cori - feio : Boa noite! Essa é a sua Rádio Tebas, de volta ao seu lar
com os mais estupendos arroubos da paixão abismai de
Medeia. São vinte horas e 25 m inutos de areia na nossa
ampulheta. Tem po chuvoso, tem peratura em elevação.
Tempestades boreais.

cori - fe ia : Boreais^ Estimados ouvintes, hy hi'. Boa noite, deuses,


sátiros e ninfas, senhoras e senhores, ch ild ren 1. A n o s­
sa Rádio Tebas está no ar! 735 mh 2 a c de pura paixão!
Vocês ouvirão hoje o penúltim o capítulo de (trilh a d e E
o Vento Levou) A m or, A b ism a d o A m or, aqui n a nossa
rádio tbc sob o patrocínio de C a llia n á ra brevipis, o a ro ­
m a que desperta em você as forças impetuosas do amor
ferido! Seja você uma m ulher em an en te..,

cori - feio : ...e saborosa! E por falar em sa bo rên cia , seja segunda,
terça quarta quinta ou sexta, sábado e domingo, dê uma
passadinha pelos Frigoríficos Aristophanes, com ph,
onde você encontra a m elhor carne para sua reifeição!
Nada de carne de sapo!

coros; (can ta n d o ) Frigoríficos Aristophanes!!!

coR i-FE io: Sim, meus caros ouvintes, a m elhor carne nova e fresca
servida com a cachaça Bode V elho no Yacht Cruzeiro do
Sul! Felicidade Sobrenatural.

coros ; Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escaldan­


tes! Y acht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar: sauna,
piscina, show s e tudo que você precisa para ser feliz.

co R i-F E io : Lem brem -se, com panheiros de em oções - são tantas


em oções - ; nossa história term inou com a nução da Po­
derosa Afrodite que - parece - mudou 0 feitio de amar,
pós-m odernizou ... O que será de Jasão, meu Zeus? V o l­
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A B G O N Á l / T / C A D E A P O L Ô N I O . . . 175

tará ele para casa? Desvalido, sem recurso, de porto em


porto, à deriva?5

m úsica : ( S eg u n d os d a 5a sinfonia d e B e e th o v e n , i ç m o v im e n to .)

cORi-FEiA: Não, não é possível! Ó pátria! Õ domínios meus! Que


Jasão não seja sem terra, forasteiro que só tem falta de
consolo6.

atena; Pois, claro que não! Eu, Atena, sou pós-antiga, Afrô, e
exijo que você retorne às raízes!

a fr o d it e : Ai, que coisa mais chata, mais cu lt, imagina olhar a vida
toda pra um só rosto7, um só m arido... Mil vezes eu
queria...

heral Aí, Atena, foi seu pai quem ensinou...

a f r o d it e : Mas se for um jogo... hum ... Acho que vou cooperar...


Vou falar com meu anjinho Eros de dardos quentes,..
Talvez, ele se interesse em brincar... Pode ser que use
suas velhas flechas envenenadas de amor ardente... Em
M edeia.... São infalíveis, E ros.... vem na mamãe, bizu-
zu! Ah, e traga suas flechas de amor, meu b eb ê...

coro FEMiNiNO:(CflfJtaM(Í0.) Flechadas de amor, flechadas de


amor, O que fazer com tanto ardor, flechadas de Eros,
flechadas de Eros, você vai ficar louca... Com tantos
esmeros.

c o r i -f e i a : A propósito, se você é uma pessoa sozinha, as Flechadas


de Eros trazem seu verdadeiro amor em três dias, uma
hora e trinta segundos.

coro fem inino : E de joelhos!

5 . Idem, v. 52it.
6. Idem>Yv>645-647.
T. Idem, V, 247.
176 MEDEIA

T elefon e tocan do.

c o r i - f e io : Um instante, querida, tem os uma ligação. Alô? Rádio


Tebas, em que posso ajudá-lo?

o u vin t e : bhblablablabkblabla

c o r i - f e io : Ah, você quer saber se nós tem os regras contra atirar


uma flecha do am or em gente casada? Não, é claro que
não, você sabe: o am or é cego, você pode pedir uma Fle-
chada de Bros para quem você quiser.

o u v in t e : blablablablabkblabla

c o r i - f e io : Senhor, nós não aprovamos o uso de violência. É só uma


flechinha. Nem dói. É com o uma injeção.

o u vin te : blablablablabkblabla

c o r i - f e io : Amostra grátis?! Não, senhor, não temos. Igualmente,


senhor, a Rádio Tebas agradece a sua ligação.
Onde estávamos? Ah, com ela ... a i... Afrodite, Afrô,
m inha fro r...

afrodite : (C h a m a n d o a o longe.) Eros, Eros! Querido! Vem na ma-


mãzinha, pitucucho. Eu tenho aqui uma coisa pra você!

co r i -f e ia : Tristem ente inform o, amigos queridos, infeíizmente,


Eros não ficou m uito feliz em saber que sua m amãe que­
ria que ele flechasse o coração de Medeia. F.le agora não
se liga m uito nesse lance de arco-e-flecha, gosta mais de
surfar na in ternet, e nesse exato m om ento ele estava exa­
tamente curtindo a atualização do seu b f f no Facebook.
Então ele pergunta o que ganha atirando uma Flechada
do A m or em M ed eia...

m ú sic a : (P rim eiros cin co segu n dos d o p rim eiro m ov im en to d a $-


Sinfonia d e B eeth ov en )
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA Af i G ONÁL T T I CA D E A P O L Ô N I O . . 177

HERA: E n tã o ... tu, a ele! Teu m arido Hefesto, manda forjar um


plano!

m ú sic a : (P rim eiros q u a tro segu ndos d o coro d os fe r reiro s d e Ver­


di, em II Trovatore.)

afr o d ite : Hum, me deste uma id eia... Cupido, cu p id in h o... (m a ­


tern a l). Eros (im p era tiv a ), olha menino, tive uma ideia:
vou pedir pra Hefesto pra fazer, pra você, um pom o de
ouro, igual ao do H arry Potter! Eu sei que ele faz, ele faz
tudo que quero, de feiro, de ouro e de prata.

co r i -feio : E foi com essa promessa sedutora, a dourada Afrodite


(su spiro) conseguiu ajudar Hera, Atena e Jasão!

cori - f e ia ; Hã! Então, na Cólquida, onde vive a princesa M ed eia...

coro fem inino : (C an tan d o.) “C om o uma d eu sa ,..”

co r i -feio : Lem brem -se, amigos, Jasão ... Nos jardins esplêndidos
do cruel rei E etes... O uvia... Está tudo pronto: depois
de toda essa divina conversa entre as deusas do O lim po,
nossa Rádio Tebas 242 mhz ac contará 0 clím ax desse
A m or, A b ism a d o A m or. Estam os na Cólquida, senhores
e senhoras, terra de gente bárbara.

co r i -f e ia : V ejam ! O cruel rei Eetes conversando com 0 lindo, gato,


gostoso, jovem , confiante e viril, o p rin ces Jason!

coro m asculino : (C a n ta n d o m ú sica-tem a.) Eu sou sexy de doer,

sou sexy de doer, Tão sexy, yeah!

cori - f e ia : Não consigo ouvi-los!

co ri - feio : Não interessa, Cori Maia, lá vem M ed eia.,, Olha que


coisa mais quente, mais cheia de ra ça ... Pense Medeia,
olhe pro rap az... O destino do am or está ao alcance das
suas m ão s... Sim , ouvintes, M edeia cam inha inocente­
m ente qu and o...
178 MEDEIA

Som de fle c h a atin gin do a lv o .

m e d e ia : Oh! O que está acontecendo com igo? É um ataque do


coração? Ó Afrodite que amas o riso, o que está me
acontecendo?

co ro f e m in in o : (Cflítíando.) "Alô cupido, vê se m e deixa em paz,


Meu coração já não aguenta m ais, Hey, hey, é o fim, Alô
cupido, pra longe de m im !”

c o r i-f e ia : V ai, gente, aum enta o som! Eí-los, já consigo ouvi-los!

JASÃO: E ai, Rei? O que é que tá pegando? Tu é sangue bom, aí. M e


arranja aí a capa de ouro, na moral, e a gente vai em bora de
boaça, mano. Cê não tá fazendo nada com ela m esm o ...

cori - feio : M as não pensem vocês que o príncipe Jasão vai con se­
guir a capa de ouro puro assim tão fácil. Ainda mais com
esse discurso desrespeitoso.

EETES: Ô moleque! Que pensas? Só um valente levará a capa


d o u ro deste país! V alente que tiver coragem para e n ­
frentar provas. E provas es-cal-dan-tes!

ja s ã o : Beleza, véi. M anda ver. V ou pra praia me esquentar.

m ed e ia : Ai de m im , querida Senhora da Lua Negra! Eu conheço


as provas capciosas do meu pai. M eu am or vai morrer,
se eu não ajudar! Ó, Hécate, mas se eu ajudo meu pai
me m ata - e frita! M eu coração diz que eu amo esse m o ­
re n o ... tão másculo! Aí, ροτ que, por que meu coração
dialoga assim com igo ?8

c o R i-F E ro : Rápida com o H erm es, a minha, a sua, a nossa Rádio Te-
bas 248 m h z a c leva vocês, caros ouvintes, à praia, junto
da nave Argos, aumenta o som!

S. Idem , v. 1043.
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA ARGONÁUT1CA » E APOLÔNIO... 179

coro m asculino : Cara, você tá ferrado! As provas do rei são cabu-


losas! Touro-cospe-fogo, d ragão... chi, véi, melou. Não
vai conseguir m esm o.

ja sã o : ( Fingindo chorar.) D e boa, véi. Algo me diz que aquela


filha do rei vai me dar uma força. Sacô o jeito dela! Tá no
jeito, tudo no lugar, h o t girl, cara! E com o diria o Peíeu,
panela velha é que faz com ida boa. E ela tá até gostosi-
nha pra idade dela. E tam b ém ... Eu nunca conhecí m i­
nha mãe.

coro m ascu lin o : Ih, véi, que é isso. Eu já te contei o que aconteceu
com um tal Édipo! Se liga.

c o r i- f e ia : A propósito, se você tem algum problema com o co m ­


plexo de Édipo, complexo de inferioridade, complexo
de superioridade, com plexo da m elhor idade, complexo
de Golgi, núm eros com plexos, venha ao consultório de
psicanálise do Dr. Hipocrates. O único lugar onde você
pode m atar seu pai, sua mãe, seu prim o bem -sucedido,
aquela harpia chata, seu cam elo e até seu vizinho, qual­
quer um que te incomodar. Consultório de Psicanálise
do Dr. Hipocrates: você nunca mais será o mesmo.

T elefon e toca.

co r i -feio : U m instante, querida, tem os mais uma ligação. Alô? R á­

dio Tebas, em que posso ajudar?

o u vin te : blablabiablablablabla

co r i -feio : Ah, entendo, você não tem complexo de Édipo, e n e­


nhum dos complexos mencionados, sei, qual o seu co m ­
plexo então? Complexo do Alemão? Que doença é essa?
Ah, è onde a senhora mora. Entendí, então qual seu pro­
blema? Com plexo de Electricidade? Não se preocupe,
190 MEDEIA

Dr. Hipócrates concerta sua cabeça, não im porta qual ê


o problema.

OUVin Te : blablablablablablabia

cori- feio ; Hã? Seu m inotauro tam bém precisa de ajuda? Ele pensa
que é Cérbero? Ah, isso é mais difícil, é um estudo re­
cente, mas ele pode tentar. D r. H ipocrates, eu ouso d i­
zer, é m elhor que o próprio Freud.

ouvinte : blablablablablablabia

cori -feio : (P ara a Jocu tora. ) Obrigado, sua ligação, ela é muito im ­
portante para nós. O nde estávamos?

co r i -f e ia : Ai de mim, ai de mim! Oi m oi! Que desespero ser sábia

quando a sabedoria nada vale!5 Isso não im porta agora.


Preparem -se! Ela está vindo!

co r i -feio : Sim, ela é o demônio em pessoa, a Princesa Medeia, a


Cozinheira L o u ca...! Gostosona, mas louca, gente!

c o s o fem inino : (C a n ta n d o .} '‘C om o uma d eu sa..., V ocê m e m an­


tém. . e as coisas que você m e diz, me levam além, tão
perto da le n d as,,.15

co r i -feio ; (In terro m p en d o .) c h e g a ! Todo inundo já decorou a


música dela, Coisa irritante, não se pode m ais dizer M e­
d eia...

coro fem in in o : (C an tan d o.) “C om o uma d eu sa,,

cori - feio : (In terro m p en d o.) b a s t a ! Será que estamos falando gre­
go? Lembrem-se: estamos encenando uma tragédia aqui.
Ela já é a cozinheira louca, e já -já será uma M ãe Louca!
O u uma vaca louca? R ê rê. Acho que agora me exced í...
M ed eia... M edeia... M uito bem, onde você estava?9

9- tá e m , W, 292-253.
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N A U T / CA D E A P Q L Ô N I O . . . 1 S1

MEDEIA; Meu am or pode m e levar a qualquer lugar. Por esse


am or eu salvei, traí, matei, piquei, cozinhei, roubei,
usurpei, mas, acim a de tu d o ...

coro fem inino ; ( C a n t a n d o a m ú s ic a d e C a u b y P e ix o to .) “Eu d ei...


eu d e i... nunca pensei em dar assim ..

m e d e ia ; Ei! Q uem deu fui eu!

c o r i- f e io : O h, desculpe. E deu m esmo. Mas, antes disso (ou d e­


pois, não tenho certeza), com seu conhecim ento e suas
poções (lem brem -se: ela é a senhora dos tem peros!) ela
salvou Príncipe Jasão de um destino atroz, capturou o
pom o dourado... Digo, a Capa de O uro, escapou do
ódio de seu pai e ... argh. Não posso dizer isso, todo
mundo sabe, não preciso dizer!

cori - f e ja : Queridos ouvintes, o que d a fez? Eu não sei, eles não


sabem, diga, C o riS i, diga v á ....

cori - feio : Claro que sabem! E se não souberem não digo. Depois
de tantos filmes do H arry Potter, todo mundo sabe que
quando se diz “você-sabe” significa a pior coisa possível!
Ou impossível. N ão, não digo. É um ato indizível!

co r i - f e ia : É dizível, vai, conta! E veja, meu bem , isso NÂo é uma


história do Harry Potter. Eles não sabem o que aconte­
ceu. C onta logo!

co r i -feio : (M ú sica d e fu n d o : The Butcher Boy.) Indizível! Entre­


tanto, o s h o w tem de continuar. Pois bem , M edeia m a­
tou e cortou em pedacinhos seu próprio irmão, Apsirtos
e, para atrasar seu pai, que a perseguia, foi jogando cada
pedaço do corpo do irm ão nas águas do M editerrâneo:
prim eiro um braço, p lo ft, depois o outro, p lo ft , uma per­
na, p lo ft , outra perna, p lo ft , a barriga, p l o j f, e por fim, a
cabeça: stru n eu n c a p lo ft.
lS z MEDEIA

música : (D ois segu n dos d e Aguas de Março d e T om Jo b im .)


cori - feia : A propósito, se você gosta de cozinhar, ou até mesmo
guerrear, vai precisar de algumas ferramentas de corte
e escudo, e não há lugar melhor para adquiri-los do que
no Ferro Velho Hefestos. Lá você encontra tesouras, fa­
cas, machados, punhais, serra elétrica, alicates de cutícu­
la, tudo em ótimo estado por um preço melhor ainda. E
os escudos, então? Já houve até morte por causa de um
deles. Se não acreditam, perguntem a Odisseu-Ulisses,
ah, não, a... Aquiles.
c o r o s: II Trovatore de
(A o fu n d o , co ro d os fe r r e ir o s , d a ó p e r a
V erdi.) Ferro Velho Hefestos! Serrar, cortar, martelar
é o nosso negócio! Até mesmo Odisseu-Ulisses vai
comprar!
coRj-FEtA: Falando em Odisseu-Ulisses, ouvintes, não percam,
amanhã, no mesmo horário de A m or, A b ism a d o A m or,
não percam a nova, espetacular, irressistível radionove­
la O disseu E stá d e V iag em ... A única radionovela com
proporções homéricas jamais produzida desde a crise
grega e o naufrágio de Argos...
Som de p a lm a s n o p o rtã o .

f e it ic e ir a CIRCE: Odisseu! Odisseuuu! Odisseuuuuuuu!


S om d e grilo.

c o k i -f e i o : Não percam mais essa emocionante, apaixonante, nave­


gante novela O disseu Está d e V iagem um patrocínio de:
Frigoríficos Aristophanes!!! Frigoríficos Aristophanes
comphü! Frigoríficos Aristophanes!!!
S om d e grilo.

CORO: Frigoríficos Aristophanes!!! (V o z triu nfante): Com efe!


\
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N A U T 1! CA D E A P O L Ò N I O . . . 183

COKI-FEIO: Naolül!!1 {Seguida d e ra ios e trovões, b aix in h o.) £ com


ph... Até amanhã!

C a p ít u l o 4

a bertu ra : Trinta primeiros segundos de A C a v a lg a d a d a s V alquí-


i
rias, de Richard Wagner ou A N oite no M onte C alvo, de
Modest Petrovich Mussorgsky ou,..
coRi-FEio: Noite escura, amigos... Obscura! Abismai! Essa é a sua
Rádio Tebas, de volta ao seu lar com os mais intempes­
tivos arroubos da paixão abismai de Medeia, São vinte
horas e 25 minutos. Tempo quente, temperatura em ele­
vação. Tempestades passageiras, manhã de sol quente.
cori- feia : Calorão hein, gente! Boa noite, Sol! Boa noite, Hefesto!
Vamos senhoras e senhores, child ren , pela derradeira
vez ouviremos Medeia! A nossa Rádio Tebas está no
ar! 735 m h z ac de paixão efervescente! Vocês ouvirão
hoje o último capítulo de (trilha d e E o Vento Levou).
A m o n A b ism a d o A m or, aqui na nossa rádio t b c sob o
patrocínio de C a llia n ã ra brevipís, o aroma que desperta
em você as forças impetuosas do amor ferido! Para você,
mulher esquentada...
cori - feio : .e queimada! E por falar em q u eim a ç ã o , seja segunda,
terça quarta quinta ou sexta, sábado e domingo, nunca
deixe a sua a melhor carne de rã passar do ponto para a
reifeição!
coros: (C an tan d o!) Frigoríficos Aristophanes!!!
corl- eeia : Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne, nova e fresca
servida ao ponto com a cachaça Bode Velho no Yacht
Cruzeiro do Sul! Feíicidade Sobrenatural.
i&4
MEDEIA

c o ro s: Vem viajar, vem navegar, vem conhecer mares escal­


dantes! Yacht Cruzeiro do Sul felicidade em alto-mar:
sauna, piscina, shows e tudo que você precisa para ser
feliz,
c o iu - felo : Sim, meus caros ouvintes, a melhor carne de rã só pode
ser servida com a cachaça Bode Velho no Yacht Cruzei­
ro do Sul! Felicidade Total. Bode Velho na hora H!
Bem, voltamos, afinal, a história precisa acabar... Enfim,
o Príncipe Jasão casa-se com Medeia, prosseguem
com sua vidinha de casal feliz, e cometem mais crimes
terríveis.
c o e i - f e ia : É. Foram piores que Bonnie and Clyde... queLampiãoe
Maria Bonita...
c o r i - f e io ; E sem jagunçada, sem jagunçada! Depois de matarem
Pélias (in terrom p en d o a c o r i - f e ia : O coitado foi pica­
do, temperado e cozido) o casal, natural mente, fugiu, de
lolco para uma h erd a n ç a do soi para Medeia, cidade à
beira-mar...
c o r i - f e ia : É. Fugiram para a cidade de Corinto. Lá, em Corinto,
finaimente estavam felizes. Tiveram dois filhos e tudo
corria bem, naquele tédio próprio do casamento, mas
estavam felizes, até que:
co ro f e m in in o : (C antando Garota de Ipanema de Tom Jo bim .)
Olha que coisa mais linda/ mais cheia de graça/ é ela
a menina / que vem e que passa/ num doce balanço/ a
caminho do mar”,
c o r i - f e io : Não, caros ouvintes, não se trata de alguma propaganda
de resorts no Rio de Janeiro, Ainda estamos em Corin­
to, onde vive a princesa Creuza, famosa por dançar o
“Créu”, e seu pai, o Rei Creonte.
R A D I O N O V E L A B A S E A D A NA A R G O N Ã U r i C A DE A P O L Ô N I O . . . 1&5

cori-eeia : E o Creonte, também dançava o “Créu''?


CORi-FEio: Não, ele dançava o “kuduro”. E quando Jasão colocou os
olhos nela...
jasão : {C antand o Tin Too Sexy) “Eu sou sexy de doer, Sou sexy
de doer, Tão sexy, aah..
c o r if e u : Basta! Chega de música tema! Todo
{Interro m p en d o .}
mundo já sabe que Jasão é bonitão, gostosão etc. e tal. Se
continuarem eu chamo asbacantes para um jantarzinho
básico. Entenderam?
coki-fe ia : Resultado: Príncipe Jasão seduziu a Princesa Creuza,
famosa por dançar o créu. Claro, caros ouvintes, quem
podería resistir àquele jovem, ambicioso e viril?
cori-feio : Finalmente o Príncipe Jasão conseguiu realizar seu mais
verdadeiro e profundo desejo. Casar com uma mulher
mais jovem? Garantir o futuro dos filhos? Entrar no Big
B rother ? Não, caros ouvintes. Pensem, pensem...

co rj - feia : Sim, pensem, amigos, Jasão casou-se com a princesa


Creuza, famosa por dançar o Créu, pois ela é filha de
Creonte, que por sua vez é o Rei de Corinto. Então...
cori - feio : Podemos concluir que Jasão quer ser o novo Rei de Co­
nn to. Rapaz egoísta e esperto. Esse Jasão, hein? Ô meni­
no danado!
c o r i-feta : Pobre Medeia! Pobres crianças!

cori - feio : É verdade. Que maldade para com eles, não? Deixa­
dos assim, sem proteção paterna e sob as ordens do Rei
Creonte, que logo mandou expulsar Medeia e os filhos
de Corinto. Pobre mulher, sem marido e sem lar.
cori-feia : A propósito, se você já está cansado de morar com sua
mãe, cansado de dividir quarto no pensionato, se você está
|S6 MEDEIA

sem um iar não pode deixar de visitar o Residencial Hés-


tia. Lá você não encontra apenas uma casa, mas um lar.
CORO; (C a nta n d o .) Residencial, residencial, residencial Héstia!
cori - feia : Residencial Héstia: o único onde você pode escolher
uma casa já com o marido dentro. Velho como o Rei
Egeu, é verdade, mas pelo menos não vai espancar você.
Além do mais, a casa é novinha.
medeia : Um ultraje! Uma zombaria. Olho por olho, dente por
dente. Ah, Jasão, agora tu vai ver com quantos paus se
faz uma nau!
cono feminino : (C a n ta n d o .) “Taí, eu fiz tudo pra você gostar de
mim/Ah meu hem, não faz assim comigo não/ você tem,
você tem/ que me dar seu coração”.

cori - feio : (N a rra n d o com o jogo d e futebol .) Preparem-se, caros


ouvintes, para ouvir e sentir o terror e a piedade da pró­
xima cena. Medeia, enlouquecida, trama o ardil ardiloso
ardilosamcnte. Creonte, num erro técnico, deixa Me­
deia ficar mais um dia. Ela prepara o terreno, ajeita o
manto de ouro, mira diretamente seu alvo, apelas pros
deuses, respira fundo e... chuta (a o fu n d o som d e torcida
d e fu te b o l). E balança a rede em Corinto.,. sacudindo a
torcida, num lance individual digno do Fenômeno, Me­
deia marca dois de uma só vez: mata a princesa Creuza
que nunca mais dançará o Créu, e o rei Creonte! (som d e
torcida), Éo fim, é o fim, caros ouvintes...

B arulho de torcida d e fu te b o l

cori - feia : O fim? Ainda não, ouvintes, aos 44 minutos do segundo


tempo, Medeia, completamente tomada, quer realizar o
impossível, o abominável, e prepara a mão e o punhai,
levanta pra dar 0 bote final... Mas, de repente:
RADIONOVELA BA SE A D A NA A R G O N Á V T I C A DE A PO L Ô N IO ... iS?

B a ru lh o de torcida d e fu teb o l.

coros: (C an tan d o.) “Se a criança chorou/ dorme, dorme, meni­


na/ a dor breve passou/ mamãe tem auricedina”.
m e d e ia : Pô, sacanagem. Isso vale cartão vermelho, juiz, Eu sem­
pre comprava esse remédio pra eles. Oh, vem cá na ma­
mãe...
cori - feio : Salvos pelo gongo! Mas, como debaixo de angu tem
torresmo, para o azar do bonitão, eis que aparece, justo
agora, Jasão,
COKü m a sc u lin o E JASÃO: (C an tan d o.) “Meu carro é vermelho/ só
uso espelho prá me pentear...”
m e d e ia : Chega, Jasão. Foi a gota d’água, Acabou, Tudo está aca­
bado,
IASÃO: Mulher enlouquecida! Péssima mãe, e cozinheira tam­
bém. Por Zeus, por quê? Você não era assim. Por que?
medeia : (C a n ta n d o c o m o As Frenéticas) “Você fez de mim uma
hipócrita”
CORO feminino : “Você fez de mim uma cinica”

medeia : “Você fez de mim uma mulher sem lar/ uma marvada..
c o r o e m e d e ia : (A in da ca n tan d o com co reog rafia esfaq u ea n d o .)
“por isso eu sou vingativa,/ vingativa, vingativa, / por
isso eu sou vingativa / e tenho até asco de você....”
cori- feia : Meu Zeus, que vejo! Vejo a mulher malvada com a faca
afiada avançar e cravar a lâmina fundo no coração do
menino! Oh!!!! Zeus pai dos homens e deuses, ela avan­
ça agora para o outro, mira o fígado, oh!!!! Como pôde?
Mas como a cidade dos rios santos, chão abrigo dos deu­
ses, a ti, a infanticida, abrigará? A facínora das cidades?
18 8 MEDETÀ

Imagina os golpes tias crianças, imagina que chacina


construída! Não!10
c o r i - f e io : Faz parte do mito, ninfa Maia. E assim, nesse banho de
sangue, termina nossa novela. Aliás, como terminam to­
das as nossas novelas, tragicamente. E não foi diferente
em A m o r, A bism ado A m o r. Você que perdeu, não perca
a nossa edição em Vale a Pena O uvir de Novo, e não dei­
xe de se inscrever no concurso “Mostre seu Talento”, já
temos milhares de inscrições, Píndaro, Simônides, Ba-
quílides e Esquilo, Você não pode perder essa chance de
entrar para a História aqui, na minha, na sua, na nossa
Rádio Tebas 5 2 ac mhz . Apoio cultural:
c o r o s : {C anta nd o .) Resort e Pousada do Ciclope!
A propósito, se você está estressado e sua família está
cansada também, não deixe de conhecer o Resort do Ci­
clope. Lá você terá as férias com que sempre sonhou:
tranquilidade para você e aventura para as crianças
numa ilha paradisíaca. Resort e Pousada do Ciclope,
onde a única estrela é Ninguém.
c o r i - f e io : Enfim, vamos ficando por aqui, mas deixamos vocês ou­
vindo a Rádio Tebas, na companhia das últimas palavras
de Medeia.
m e d e ia : (C anta nd o A Verdade, d e Jerry A d ria n i) “Que a verda­
de, lhe faz mal, eu sei. / O que ela faz é a mim e não a
ti./ Não, não, ninguém poderá julgar-me, nem mesmo
tu...
c o ro s: Que a verdade é malvada eu sei.
m e d e ia : Meus erros eu fiz ao meu modo e onde estavas tu?

1 0 . Id e m , vv. 846-85.3.
R A D I O N O V E L A J i A S E A D A NA A R C O N À V T I C A DE A P O L Ô N I O . . . 189

c o r o s: Que a verdade é malvada eu sei,

m e d e ia : Vivias penando em mim.

COROS: parápapapa.

m e d e ia : Ficavas contente em ver.

c o ro s: parápapapa.

medeia : Que há muita gente que se enganou a si, sem saber por
q u ê....

to d o s: “Ninguém poderá julgar-m e, nem mesmo tu ...”

cori - feio : Boa noite e bons pesadelos...

coki- eeia : E não se esqueçam, encontram o-nos amanhã, aqui para


novas em oções com a flutuante, molhada, espetacu­
lar, irressistível radionovela O disseu E slá d e V iag em ...
A única radionovela em mar aberto, jam ais produzida
desde a crise grega e o naufrágio de A rg o s,..

Som de p a lm a s n o p o rtã o .

f e it ic e ir a ciRCE: Odisseu! Odísseuuu! Odisseuuuuuuu!

Som d e grilo.

c o r i - f e io ; Nào percam mais essa em ocionante, apaíxonante, nave­


gante novela O disseu E stá d e V iagem um patrocínio de:
Frigoríficos Aristophanes!!! Frigoríficos Aristophanes
com phü! Frigoríficos Aristophanes!!!

S om d e grilo.

coro: Frigoríficos Aristophanes!!! ( V oz triu nfante): Com efe!

c o r i f e io : N ão!!!!!!! (Seguida d e m io s e trovões, b aix in h o .) É com


p h ... Alé amanhã!
t
F I C H A T É C N I C A DE M E D E I A

A T O R E S DE TR A A U Ç Ã O

Μ ΕΔΕΙΑ : Gustavo M ontes Frade, M arina Pclucci Duarte Rlor-


toza
JA SÃ O : Douglas Cristiano Silva
A M A : Ana Araújo, Douglas C ristiano Silva, V anessa Ribeiro
Brandão
Ρ Ε Δ Α ΰ Ο Γ Ο : Priscilla Adriane Ferreira Almeida
X O R O : Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, M aría de Fátima
Lanna
ΕΓΕΙΤ; Flávia Freitas M oreira, G ustavo M ontes Frade, M a ri­
na Pelucci D uarte M ortoza
K R EO N TE: Flávia Freitas M oreira, Gustavo M ontes Frade,
M arina Pelucci Duarte M ortoza
M ENSAFE1RO: Priscilla Adriane Ferreira Almeida, M arina Pe­
lucci Duarte Mortoza
O ILH O S: Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes

AIREÇÀ O DE T R A iU Ç Ã O
Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa
191
192 M E D EIA

A SSISTE N TE S DE AIREÇÃ O D E TRA A U Ç Ã O

Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, M arina Pelucci Duarte


M ortoza

A IREÇÃ O A R TÍST IC A

Andréia Garavello / V inícius Albricker

A SSISTE N TE D E A IREÇÃ O A R TÍST IC A

fosiane dos Santos Félix

R EV IZ Ã O FINAL

ManueAa Ribeiro Barbosa

TEX T O GREGO
EU R IPID ES. M ed ea. David Kovacs (ed.). Cambridge, Harvard
University Press, http://www.perseus.tufls.edu/liopper/text
?doc= Per s eus: text:19 99 .ο 1 .0113

FICH A T É C N IC A D O E SPETÁ C U LO M ED EIA

Elenco:
A ndréia Garavello - Medeia
Guilherm e Colina/ G eison Bezerra da Silva- fasão
Geraldo Peninha - Pedagogo/ Creonte/ Egeu
Gaia Bouchardet - Ama
Alexandra Stella - M ensageiro
Raposa Lopes/ Graziele Sena - Coro
fosiane Félix - Corifeu
fay Barcelos/ Juliana Birchal/ féssica Tam ietti - C oro
Criação musical: Josiane Félix e M arco Fiávio Alvarenga
Preparação vocal: M arco Fiávio Alvarenga
Preparação corporal e coreografias: Dulce Beltrão
Figurinos: Léo Piló
fich a téc n ic a de m ed eia 93

Cenário; Renato M artins e Helvécio Izabel


Produção: Janaina Morse/ Jouberl Silva
Assistência de produção: Carlos Eduardo Gom es

FICH A TÉC N IC A DE O LA D O OBSCURO DO AM OR

( 0 L ado Obscuro d o A m or é a primeira versão do texto paródico


para M edeia. Neste livro, apresentamos esta versão revista e
ampliada para publicação com o título Amor, A bism ado Am or.)

texto - Ana C ristina Fonseca dos Santos, Andreia Garavello,


Tereza V irginia Ribeiro Barbosa
a t o r e s e v o z e s - Ana Cristina Fonseca dos Santos, Andréia
Garavello, Bruno Pontes, Everson Soto, Flávio Gonçalves,
Josiane FélLx dos Santos
a p o io t é c n ic o - C aio Teodoro, Carlos Eduardo de Souza G o ­
mes, Priscilla Adriane Ferreira Almeida, Priscilla G ontijo,
Vanessa Ribeiro Brandão
Aildréia Garavello.
E squ erd a :
Foto de Clara Garavello Baião de Amorim,

A c im a . D a e s q u e r d a p a r a a d ireita , se n tid o h o rá r io :
Alexandre Cardoso Nunes Magalhães, Carlos Eduar­
do de Souza Lima Gomes, Alexandra Stella, Priscilla
Adríane Ferreira Almeida, Gustavo Montes Frade,
Josiarie Félix, Gaia Bouchardet, Jessica Tamietti de
Almeida, Tereza Virginia Ribeiro Barbosa, Maria
de Fátima Lanna, Marina Relutei Duarte Mortoza e
Douglas Cristiano Silva. Foto de Barbara Zanco,
BIBLIOGRAFIA

agambin , Giorgio. O Que É o C o n te m p o r â n e o ? E O u tro s E n s a io s . Tradução de


Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó/sc, Argos, 2009, pp. 57-73.
ARisTÓTni.ES. P o étic a . Tradução e comentários de Ana María Valente. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1007.
______ , P o étic a . Tradução e comentários de Eudoro de Sousa, Lisboa, Impren­
sa /Nacional Casa da Moeda, 1992.
______ , T he P o etic s o f A r is lo tie. Tradução e comentários de Stephen Halliwell.
Chapel Hill, The University of North Carolina Press, 1987.
______ . L a P o é t iq u e . Tradução e notas de Roselyne Dupont-Roc et Jean Lallot.
Paris, Editions du Seuii, 1980.
______ , P o etics. Introdução, comentários e apêndices de D. W. Lucas. Oxford,
Clarendon Press, 1968.
______ . P o etics. Introdução de Gilbert Murray, Tradução de Ingram Bywater.
In: http://www.gutenberg.org/dirs/etesto4/poeti10.txt acesso em novem­
bro de 2008.
Retórica. Tradução e notas de Manuel Alexandre Junior; Paulo
Ar i s t ó t e l e s .
Farmhouse Alberto; Abel do Nascimento Pena. Lisboa, Imprensa Nacio-
nal/Casa da Moeda, 1998.
W. D. Ross (ed.). Oxford, Clarendon Press, 1959.
A R IST O T L E . A r s R h e to r ic a .

BA RBO SA , Tereza Virgínia Ribeiro. “As Rinhas de Galo como Exercício para a

Postura da P e r s o n a Trágica”. B ib lo s , n. v ii , 2009, pp. 245-262

195
196 MEDETA

Herman, Antoine, L a T ra d u c tio n e t la L e ttre o u V A u b e rg e d u L o im a in . Paris,


Editions du Seuil, 199?,
brandão, }. L. A P o é t ic a d o H ip o c e n ta u r o . Belo Horizonte, Editora ufmg, 2001,
______ . “Diegese em República 3921Í”. K r ít c r io u , Belo Horizonte, n, 116, dez.
2007, pp. 351-366.
Capone, G. L ’A r t e S c e n ic a D e g ii A t t o r i T r a g ic i G reet, Padova, Casa Editrice
Dott, 1935.
Chantraine, Pierre, D ic t io n a ir e É ty m a lo g iq u e d e la L a n g u e G re c q u e . Paris,
Editions Klincksieck, 1977,
ttAMEM, Mark. "Actor and Character in Greek Tragedy”. T h e a tre Jo u r n a l, vol.
41, n. 3 ,19S9, pp. 316-340.
Eliot, T. S, "Tradição e Talento Individual”. E n s a io s . São Paulo, Art Editora,
1989, PP- 37-48-
Euripides , F a b u la e . Tomo nr. J. Diggle (ed,). Oxford, Oxford University Press,
1994.
______ . M e d e a . Denys L, Page fed,)· Oxford, Clarendon Press, 1961.
. M e d e ia . Iiitrod., trad, e notas de Μ. H, Rocha Pereira. Coimbra: inic ,

1991.
______ . M e d e ia . Ed. biligue. introd., trad, e notas de Jaa Torrano. São Paulo,
Editora Hucitec, 1991.
______, M e d e ia . Ed. biligue. Introd., trad, e notas de Trajarso Vieira. São Paulo,
Editora 34,2010,
______ . M e d e ia . Trad. Mário Da Gama Gary. Rio de Janeiro, Civilização Bra­
sileira, 1972.
______ . M e d e a , vol. 1. With an English commentary by F. A. paley. Cambrid­
ge, Cambridge University Press, 1857, pp. 65-152.
______ . M e d e a . Introd, com. Apeendice critica de G. B. Camozzi. Milano, So-
cietàEdit. Dan it Aligliieri, 1927.
______ , M i A t t . Introd. e notas de Henri Weil e Georges Dalmeida. Paris, Li­
brai rie Hachette, 1896.
ferracini, Renato. A A r t e d e Não In t e r p r e t a r c o m o P o e s ia C o r p ó r e a d o A to r.

Campinas, Editora Unícamp, 2003.


galard, lean, A B e le z a d o G esto . São Paulo, Edusp, 2008.
GOETSCH, Salíie. "Playing Against the Text: ‘Les Atrides’ and Lhe History of
Reading Aeschylus”. TDR ( T he D r a m a Review), vol. 38, n, 3 (Autumn,
1 9 9 4 ), pp- 7 5 -9 5 -
BIBLIOGRAFIA 197

g u erin ], Andreia. G ê n e r o e T ra d u ç ã o no Zibaldone d e L e o p a r d i. São Paulo,


Edusp; Florianópolis, u fsc /p g e t , 2007, pp. 105-127.
jon es , John. O n A r is to tle a n d G r e e k T ra g e d y . London, Chatto & Windus, 1967.
jo n g , Irene J. F. De. N a r r a t iv e in D r a m a : th e A r t o f the E u r ip id e a n M e ssen g er-
speech . Leiden, E. L Brill, 1991.
krysinski , Wladimir. “The Mimesis of Madness and the Semiotics of the
Text”, Tradução de Raili Mikkanen. S u b S ta n ce, vol. 8, n. 1, ano 2 2 , 1979,
pp. 1-15.
lefey ere, Andre, Traduction lleescritwa y la Manipulation del Canon Lite­
rário. Tradução de Maria Carmen Africa e Rcnnán Alvarez, Salamanca,
Colégio de Espana, 1997, pp. 59-78.
L o r a UX, Nicole. La V o ix E n d e u iílé e . Paris, Editions Gal)imard, 1999,

M NOuCH KiNE, A f ia n e . S a b a t in a F o lh a s e s c . sesc B e le n z in h o , 2 1 / 1 0 / 2 0 1 1, http://


w w w .y o u tu b e. c o m / w a t c h ?fe a t u r e = e n d s c r e e n & N R = 1 & v = y g e J j B q F g q Q

a c e s s o em 12 /0 2 / 2 0 12 ,
ousTiNOFF, Michael. T r a d u ç ã o : H istó ria , T e o ria s e A/étodos, Trad, Marcus
Marciolino. São Paulo, Editorial Parábola, 2011.
pe r m c o y ia n n i - pa leo log ue , H. “The Interjections in Greek Tragedy”. Quti-

d e r n i U r b in a t i d i C u lt u r a C la ssica , vol. 70,11. i, 2002, pp. 49 88.


per ELM a n , Chaim. O I m p é r io R e tó ric o - R e tó r ic a e A r g u m e n t a ç ã o . Porto, Edi­
ções Asa, 1993.
Trad, e notas de Μ. H. da Rocha Pereira. Lisboa, Funda­
p l a t Âo . A R e p ú b lic a .

ção Calouste Gulbenkian, 1983.


QUINTANA, Mário. C a d e r n o H : M á r io Q u in t a n a , Tania Franco Carvalhal (ed.),
São Paulo, Editora Globo, 2006.
r o sa , João Guimarães. G r a n d e S e rtã o : V e re d a s . Rio de Janeiro, Editora José
Olympic, 1976.
sa n c h ez , M. Brioso. “El Vocativo y la Interjección ώ”. H a b is 2, Sevilla, 1971,
pp. 35-48,
s e id e n s t ic k e r , Bernd, Dithyramb, “Comedy and Satyr-Play”, In : Gr e g o r y ,
Justina (ed.). A C o m p a n io n d o G r e e k T r a g e d y . Oxford, Blackwell, 2005,
pp. 38-54,
SOMMER.STEIN, alan h . G r e e k D r a m a a n d D ra m a tis ts . London, Routledge,
2003.
sÓFocLEs, S o p h o c lis F a b u ta e . A n tig o n e . H. I.loyd-Jones e N. G. Wilson (ed.),
Oxford, Oxford University Press, 1990.
lyS MEDEIA

u b e r sf e l d , Anne, P a r a L e r o T ea tro . Trad. José Simões, São Paulo, Perspectiva,


1005.
v en u t i , Lawrence. E s c â n d a lo s d a T ra d u çã o . Trad, Laureano Pelegrin; Lucineia
M. Víllela; Marileide D. Esquerda e Valéria Biondo, Bauru, ed u sc , io o í ,

v ern a n t , J-P. “The Birth of Images”. In . z e it l in , Froma I, (org.) M o r t a ls am i


Im m o rt a l. Princeton, University Press, 1991, pp. 164-185,
WISE, Jennifer. T r a g e d y as “An Augury of a Happy Life”. A r e t h u s a , 41, pp
381-410.
______ , D io n y s u s W rites; th e In v e n tio n o f T h ea tre in A n c ie n t G re e c e . Ithaca/
London, Cornell University Press, 1998.

D i c i o n á r i o s e G r a m á t i c a s

B A tL L Y , A. D ic t io n n a ir e G re c -F ra n ç a is . Paris, Librairie Hachetle, 1952.


c h a n t r a in e , P. I a F o r m a t io n d e s N o tn s e n G r e c An cien . Paris, Librairie An­
tiienne Honoré Campion, 1977.
__________ . M o r p h o lo g ie H is t o riq u e d u G re c . Paris, Editions Kliticksieck, 1975.
crespo , E., C o n t i , L. M A Q u tE iR A , H. S in t a x is d e l g rie g o clâ sico. Madrid, Edito­
rial Credos, 2003.
d ic io n á r io G R E G O -F O R T U G C Ê 5 ( d g p ). Daisi Malhadas, Maria Celeste Conso-
lin Dezotti, Maria Helena de Moura Neves (orgs.J. São Paulo, Ateliê Edito­
rial, 2006.
lidell, H. G. & SCOt T, R. A G r e e k -E n g lis h L e x ic o n . Oxford, Clarendon Press,
1968.
R.AGON, E. G r a m m a ir e G re c q u e . Paris, J. de Gigord, 1982.
GOODWIN, W. W. A G reek G ra m m a r. London, Macmillan and Co., Limited,
19 3 0 .
9

Você também pode gostar