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Copydqht _ Hcdra 20 13

Traduçio@ _ Christian Wcrner


Corpo "dit.orial _ Bruno Cosia, Caio Gagliardi.
Fábio Manlcgari. luri Pereira.
Jorge Sallum. Oliver Tol1e,
R. icardo Manins Valle. Ric<lrdo
Mussc
Aqradeci_nto O presente Inlbalho foi realizado
com apoio do CN PQ. Conselho
Nacional de Desenvolvi mento
Científico c Tecnológico - BrasiL
0 .. 60, _ Dados IlIlemacionais de C~taIUjo;u.,,30 na
Publicaçãu{C1P)
T~ogo nia I Hesíodo. Tr.hl. c imm. Chri,ti:m
Wernrr. - São Pau lo, H,'dn,. 10 1.\.
Hihl iogralia.
IS81\" 97 -885771 :'i·079·';
I. Título 1 . LUt'r'JlUrJ grejo;3. 92·1393
0>0·822
Illdicc pura cm!!ogo siSkm:itico:
I . Tfllllo 2. Lil era tura f!rcga 822

Direitos reserv::ldos cm língua


portuguesa somente para o Brasil

ED ITORA HEDR,\ LTDA. Autor _ H ESlooo

End .. .,.. ço _ Ti tul o _ TE OGONIA


R. Pradique Cout inho. 1139 (subsolo) Orq_niuçio" tra duçio _ C HRI STIAN \V ER NER
05-l-16-011 São Paulo SI' Brasil Sio Paulo _ 20 I 3
T.. la!on.. /I"'" _ +55 II 3097 8~04
E-......\.1 _ editora@hedra.com.br r
Sit." _ www. hedra.eom.br
Foi fe ilo o depósito legal.
hedra
- L
,

Teogonia (em grego IheOROllia: t/WO$ = deus + gellca = ori gem) é


um poema de 1022 vcr.,os hcxfil1lc(ro~ dmílicos que descreve a
origem c a genealogi a dos deuses. Muito do que sabemos soorc u.
antigo~ mitos gregos é graças a esse poema ( I UC. pela narra~'i\o cm
prime_ira pessoa do próprio poeta. sbtcm:uiza e orga niza as
histórias d:l criação do mundo e do nasclmcl1Io dos deuscs. com
ênfase esp"'cial a z...u~ e às suas façanhas até chegar ao poder. t\
invocaç ão das Musas. filhas da Memória. pelo aedo Hcsíodo é o
que lhe dá o conhecimento das coisas pa ~sac.las c presentes c a
pm~ibi1idadc tk cantar cm celebraç~u da irnonalidade dos deuses;
e é a panir daí que silo nnrr;IU:lS 3S pcriptcias que constituem o
surgiment o do universo e de seus deuses primordiais.
Hcsíodo foi Ullll)(lCHI grego an:ai<:o c. as si m como ocorre com
Homero. não é possível provar que ele tcnha n:.almente existido.
Segundo cena tradição. po rém. tcria \'h'ido por vo lta dos anos 75
c 650 a.c. Supõe-se. o panir de passngcns do poema lillba{hQs I'
di(ls, que o pai de Iks íodo tenha nascido no litoral da Ásia c
viajado até a BcÓCia. mm instal:tr-!;C num vilarej o chamado Asem
onde teria na."cido o poeta; supõe-se wrnbém que ele lenh 3. li do UI1
irmão. Per~es . quc teria tentado se apropriar. por meios ilegais. d~
lima pane mai (\r da herança p:ll~rna do que a que lhe !:abia,
exigindo aind a ajud:l de Hesíod o. Aereditll-se qUl' a unica viagem
que Hesfodo tcria realizado len ha sido a C:Uds. com o objctivo de
pan idpilr d{).~ jogos funerários em honra dc Antidama... dos quais
Icria sido o ganh:ldor e recebido um tripé pelo desempenho na
competição dc cantos. Apenas tr~.<; da~ obraS atribuidlls a H e~íod\)
resistiram ao tempo e chega ram às n 05S:IS mão~: ~() elas os
Trabalhos I' dill$. a Tcogonia e O eSClUlo di' HJme/t's .
C hristian W('rner é professor livrl'-oocc nh.- de língua c JiICrJlurll
grega na Faculd<ldc de Letras da Unh'crsidadc de Sào Paulo (USI') .
Publicou . ent re outros, Duas Imghlif/!i grl'g'lS: HtiCf/oo e Troiwras
(Martins Fontes. 2QO..1).
-
INTRODUÇAO 9

Trcp~\'a de ser o mais honesto de todo" ou o mais


danado, no tremeluz, conforme as quantas. Soava no
que falava . anes que falal'a. difcr~nle na aUlorid"dc.
!l1a~ com UTll a autoridade muito wloz.

J. Guimarães Rosa , Grande senão: ,"uedas

FUNDAME NTOS DO POEMA


Junto com Homero. Hesíodo é um poeta grego associado
/lOS sécu los VI I I c V ii 3 . c., período Cnl que, na Grécia Amiga,
'IC sedirncntoll uma série de fenômenos cuhurais e políticos (a
ridade-estado ou a pólis, o oráculo de Delfos como samuário de
[(luas os gregos. os Jogos Olímpicos) que não só marcaram as
~()ciedades gregos nos séculos posteriores. lTlas também respon-
dem pe las primeiras associações que fazemos ao penS:\f nessa
l'ivi lizaçiio. Entre esses fenômenos, deslaca-se o po li teísmo
Wego. ou seja. a base do poema em qucst:lo. Assinalc-sc. porém.
,ksdc agora, que o poema por si só não va le corno uma espécie
de tratado teológico desse fenômeno - muito mais complexo,
IUl que diz respeito a prát icas eultuais e tradições mitológicas,

que a organização sincrónica e diac rônica construída no poema.


Depois de alguns sécu los em q ue. nos tcrritórios onde se
ralavam diferentes diaJetos gregos, a escrita dcixo u de ser usada
laproximadamcnte. do fina l do século XII a. C. até o fina l do IX
ii. C .). a introdução paulati na e a adaptação de um alfabeto de

origem fen íc ia moti vo u a modificação de práticas sociais que a


história e a arqueologia só conseguem reconstruir com muitas
,. grandes lacunas. Assim, não sabemos nem quando nem por
10 I que ()~ poemas de Homero (Ilíada c Odis.~eia) e os de Hcsíooo l urna esfe ra c ultural que podemos chamar de poesia. 111:\S que I II
n:ccberam sua primei ra redação. envolvia também músil;U e dan~a.
Ao celebrar as Musas antes de apresentar o canto que elas
propiciam,2 o poeta também fal a da relação que há entre d e
PERFORMANCE E AUTOR I DADE DO I>TÓprio e essas divindades: pois o valor (de verdade). ou seja.
POETA ii autoridade do canto que aprc.~ota depende dela. Como pode

FalO é que, não só nos séculos VIII-Vila. c.. mas também e11lão um mortal falar de eventos pretensamente reais que não
nos seguintes. poemas mais ou menos Illusicados de Ioda sorte presenciou, !al corno o surgimento do mundo conhecido c de to-
C1"iHll 'Ipresentados oralmen te cm ocasiões específicas. I'árias da~ HS divindades. como dos mortais que com elas dormiram. Se
delas associadas ao calendário religioso ou certas prtllicas po- nno apresentar e fundamenl;"lr sua relação com certa auloridllde
líticas da cidade. No que diz respeito à poesia hesiódica. c ~sc !ransccndcrlte? Nesse sentido. não é mais poss ível. para nós .
comexlo de performance é em larga Illedida desconhcr ido por ,aocr com certeza se algum dia houve um poeta chamado H('-
nós. o que certamente representa empecilho par:! a interpretação I ,iodo. autor do poema que conhecemos. uu se "Hesíodo" teria
do poema que nào deveria ser suhcst imado. j á que a difusão dos ...ido lima autoridade mítica inseparável de uma certa tradição
poemas I>or meio d<l leitura passou II ser mais praticada apenas l)(lética. reencarnllda a cada apresentação do poema. UIl1 pouco
vários séculos depois. Quando. como c por que as primeiras ":01110 o ator que reencarnaria. com uma másc-ara ritual. nas
plateias foram entretidas com a Teo[:(lI/ia c poemas apresenlações teatrais ateni enses no século \' a. c.. as figura s
disso é provável que jam ais tenhamos noticias mais preci sas. II'adicion;li s do mito. Assim. u in iciação no canto. conduzida
Certamen te é significali vo que () narrador da Teugonia pdas Musas. pela qual leria passado o poeta HesfoJo (9-34),
ao co nlriirio do n:trrador dos poem as homéricos - se ,,,,,ne;, lambém faria parte desse contexto mít ico.
no início do poema (mas apenas uma unica vez), no
mesmo em que é narrado seu e ncontro si ngu lar com a I
rdgiosa tradicional4ue çonfcrc autoridade a seu canto e ZEUS
a precisão de seu conteúdo: as Musas. Os primeiros 115 Outro elemento saliente no proêmio é Zeus. Corno soberano
do poema compõem um proelllio, no 4ua1 se celebram .Ios deuses e dos homens. deus responsável pela forma fi nal do
<'\I~ Il\ O (físico e sociopolitico) c- por sua rnanute-nção. não é raro
div indades ( 1- 103) e se demarca c.xplici t:ulIcnte o cm
canil) a seguir ( 104-15), O tfecho se assemelha a uma d e desempenhar algum papel nos hinos aos deuses que conhc-
poético-relig iosa tradicion:ll em v,íri as sociedades antigas: n ·mos. sobretudo nos hinos homéricos maiores. Sua presença
Hl'S~C proémio. porém, é ubíq u,, : ni"io só como pai das Musas e
hino em honra de um deus. que, c m algum momento na
'l' U público primeiro c principal (n1l.0 nessa ordem n:\ sequênci:l
Alltig'l. ganhou uma versão narrativa a partir da tradição épica
s1l.0 os hinos homéricos longos ou médios. O que há de 1 II" poema). llIas também corno o deus particularmente associado
p:lrticu lar nesse hino da l eugol!ül. porém. é que somente ni! pode.r político que, no mundo hum:mo, é exerc ido pel os rei s.
gregos conheceram es~as divindades coletivas responsáveis p'" NAu ~ urp reende . assim. que as Musas estejam assoc iadas não
.,\ 110<; poetas (94-103). mas também aos reis (80----93), figura
, AI ~ m ,k T<'Og,miu ~ Tmball.m i! dilll. UIIl""", poemas fo",m atri buídos ~
desse~. 5Ó Escudo di! lIimdu ~hegou completo :l!~ nós _ J A "' ''mI'gonia e t~ogonia que conJcçam no w~o 116.
12 qlJC. no contexto hesiódko. não repre ~enta um monarca com c emoções represen tadas como descendência de Abi smo silo 113
amplos poderes. mas alguém que age sobretudo na fu nção de cwcutadas ou sentidas pelos descendentes de Terra). Isso ilustra
um juiz (Gagarin. 1992) na es fera pública. O tipo de poder urna constante no poema: o encadeamento das li nhagens entre
real exercido por Zeus no poema. :absol uto c hered itário. não é ' I e também ddas com as histórias que se sucedem mostra um
homólogo àquele dos líderes políticos da época. O rei humano Jl!>ema no qual os catálogos dos deuses nascentes e as narrati vas
é antes de tudo um aristoc rata com prestíg io local que partici pa cm que os deuses estão envolvidos não devem ser separados.
da ad mini strnção da j ustiça . Q ue re is c poetas. porém. são Trata-se de uma articu lação de imagens e ideias que prcssupõc
gurus dissociáve is. isso fic a claro no destaq ue dado a uma tem pora lidade própria. na qual se mesclam o tcmpo da
De qualq uer forma. o proérnio sugere q ue os poetas sflo figu ras lIarrativa genealógica. o tempo da sucessão de um deus· rei e O
hastôlnlc próximas dos reis. tempo da ImITação. É a partir d isso que o leitor deve entender.
por cxemplo. o fato de que um deus às vezes aparece como pcr-
"" nagem no poema antes do narrador mencionar seu nascimento
o A BISMO propriamente dito.
Para chegar a Zeus e o modo como este controla o cosmo.
lema central do poema. Hesíodo inicia do começo. ou seja. de
Abismo (t 16). um espaço vazio CUjil del imitação (;ENEA LOGI AS DI V INAS
(w scquí:ncia. Terra. Nào se trat:t. f.K.lrém. da No poem:l, teogonia e cosmogon ia ~ ão inseparáveis à rnc-
conhccclllos, Illas de uma espaço fís ico 'ainda I I i did<l quc o cspaço se constitui C as genea logias divin as se succ-
ou melhor. marcado pela sua função futu ra: ser o espaço ,!cm . As d ivi ud<ldes que p,, ~s arn pelo poema - Illa i ~ de 300 -
illunção dos deuses respons.ívei s pelo equilfbrio cósmico, ~do de diversos tipos no que diz respei to a cultos e mitos: (I) os
vai do Olimpo ao infero Tártaro. Ames de Terra começar a IlcllSCS do panteão (sobretudo os Olímpicos, como Zeus. Apolo.
suas formas partic ulares (Montanhas e Mar) e das /\lena e Ártemis) . cultuados pela Héladc. mas de uma forma
aparr.:ccrctll. d uas coisas fundamentai s são necessárias: a nmi..; específica que aquela COIll que aparecem no poema (por
scnça de Eras (120). desejo SClll o qual não há geraç:10. e ('.~e m pl o. vi ncu lados a um ceno lugar ou tem plo): (2) deuses
polências que permitem a sucessão temporal. Escuridão. l\fc:'>entes nas histórias míticas. com papel mai or ou menor ne-
Éler e Dia ( 123- 25). lu,. mas que provavelmentc llUnC:l foram exatamente objetos de
Todos os deuses descendem de duas linhagens principais, ,'UIIO (Atlas e, provavelmente. os Titiís); (3) partes do cosmo
de Abi smo e a de TeITa. mas entre elas nilo há nenhuma ,Iiv inizad:ls (Terr:l . Noite. Mo nt<lllhas: alg umas e ram cultU:l-
Os descc nde nte ~ de Abismo são, cm S U ~1 Ill:l ioria, da~J: (4) personificações (eleml!ll tos q ue. para nós. são abstmtos.
essência é negat iv:l (Noite, Morte, Ago nia etc.); vári as IIl ' I .~ lião o eram para os gregos); (5) aqueles sobre os qUlti S
além di~so. expressam ações e emoçôcs que pernlei:ml os II,H,b sabemos fora de Hesfodo. ou seja, podem ser parte de
tos violentos narrados na sucessão de gerações da li nhagem UII) recurso típico dessa tradiçào. que pcmlitiria a "criação" de

Temi (Disputa. Batalhas, Brigas etc.). A linhagem de , ",o. ,hvindades para compor c:u .í1ogos ou expressar características
pon:Ullo. :Itra\'és da descendência de Noite e Disputa. de uma li nhagem.
que a separação entre Terra e Abismo nunca é 10lal (as Essa tipologia. porém. nào deve ser tomada como algo cs-
14 1 tático e invariável. Eras, por exemplo. pode ser P'''''"' o c<)m" tradições - que não revelariam o mesmo conhecimento profundo IS
um deus de cul to ou não . Como j á ilflrmado anteriormente. e inequívoco da realidade por ele dom inado. A filiação du
próprio poema niio é um retrato de 11m3 estrutura rcligiosll Afrodite de Homero - ela é filha de Zeus e de Dione - como
Pelo contrário, e le e sua tradição de veriam ser antes que sueumbe às " provas" dadas nn Teogonia. cuja lógica só tem
como urna tentativa de enqu<ldrar, de dar urna certa forma a espaço para uma Afrodite, a fi lha de Céu.
vivência religiosa que é essencialmente plur:tI no tempo c a surg imento de Afrodite é um dos nascimentos que m3r-
espaço. O lance ,Nu lO incorporado pela tradição é cnm o fim da supremacia de Céu sobre o cosmo inci piente, ou
procurar ap resentar corno um sistema obviamente seja. um momento de crise que a111ecede o equiHbri o cosmo-
é necessariamente variável . lógico verificado ainda hoje pelos ouvintes do poem a no seu
~otidiélno. Depois de Céu. télmbém Crono. deus patriarca deten-
tor do poder soberano. é derrotado; somente Zeus, como rei dos
A FROD ITE deuses e homens. sempre tem sucesso nos confl itos que enfrenta.
Um dos modos do poetu expressar o que cada divindade () que os chamados "mitos de sucessão". fundamentais para o
de específico é u derivação do seu nome e de seus epÍletos. entendimento do poema, têm em comum é que a custração de
construção mais desenvolvida d iz respeito a Afrodite . "'I 0''>< Céu. o nascimellto de Zeus possibilitado pelo truq ue da pedra
quando se narra seu nascimento a partir do esperma de Céu: uplicado por Reia e o combatc de Zeus contra os Ti tlís e, poste-
riormente. Tifeu, guardam diversos graus de semcl hança com
Primei ro da numinosa Cilcra achegou-se. mitos equivalentes Irunsmitidos por oUlras cu lt uras antigas do
e então de lá atingiu o oceânico Chipre. Oriente (babi lónios. hurro-hititas. hebreus etc.). O intercâmbio
E saiu a respeitada. be la deusa. e grama em volta verificado entre essas culturas problemat iza. ass im. a origem ne-
crescia sob os pés esbeltos; a ela Afrodite ~'e ssafiamente nebulosa, mas certantente n:1o helenocêntrica. do
espumogênita e Citereia bel3-coron poema (ou pelo menos de partes dele). A maioria dos in t~ rp retes
chamam deuses e v3rÕes. porque m ncorrla. hoje. que. de Homero e Hesíodo a Platão. não devc ter
na espuma [aphrosl havido nada parecido com um "mi lagre grego" . :linda que não
foi criélda; Citereia, pois alcançou Citera; 1~ )SS amos sempre rastrear com precisão corno teriam ocorrido
cipriogên ita, pois nasceu em (IS diversos casos de intercâmbio emre as cul tu ras orientais e a
Chipre cercado-de-mar; Iu·..:ga.
e ama-sorriso [philolllllledea[,
pois da genitália [medea J surgiu.

Teogonia. 1 TERRA E MONS T ROS


Ora, à medida que o narrador. devido ao encontro que OS mi lOS de sucessão são p<!rmeados por um par de opos-
com as Musas. gara111e estar fala ndo a verdade, ao t(l~ ..:omp1cmemares fundamental na mitologia. vale dizer. na
,
através do próprio nome (aceito em toda a Hélade) do deus. q'" \'ul1Ura grega: "astúcia" e "fo rça". E ele. por exemplo. que
as histórias que ele coma como que estão inscritas na i . nhjaz ii oposição entre os heróis Oclisseu e Aquiles; o primeiro.
verbal mesma do deus, ele confronw. outntS histórias - de 00"''' n u~tUlO por excelência. o segundo, o herói grego mais temido
I ti I pelos troianos devido à sua força. Também é essa as Occaninas (337- 70); e. entre essas últimas. deslacam-sc duas I 17
mostra. cm diversas fáb ulas, animai s mais fracos liguras fem ininas: Estige e Hécate (383-452). Ambas ap:ln.:celll
de.rr0lando os mais fort es ou velozes. No caso da na narraliva. de forma :lIlacrônica. par:J serem cooptadas por
de~dc o início a 1lsIlícia tem a particularidade de ser uma Zeus. cujo nascimento ainda niío ocorreu. Isso se deve, como
tcríst iea essencialmente fe mini na. É de Terra o plano Já foi mencionado aci ma. â lógica própri a do poema. As duas
que permite a derrota de Céu: farsa é fi lha de Noite : e Astúcia divindades fe mini nas não só se opõem â negatividade essencial-
além de Persuasão - é uma das dezenas de fi lhas de Oçeano. mente femi niml dos monStros. mas também preparam a nanati\'<l
Por outro lado. é a TerrJ. que está ligada fi geraçào dos "'~, por vir. Estige mesma e $Cus fil hos antecipam a vitória cósmica
que podemos chamar de monstros (270-335): Équ idna, de Zeus e o no\'o equilíbno que ele vai instaurar e manter. Esse
de Lema. Leilo de Nemeia. Medusa. Pégaso. Cérbcro. '";'''0 equilíbrio. porém. não é resu ltado de uma tábula rasa. mas dã
etc. O que caracteriza tais criaturas como umu coletividade . continuidade ao que já fom equi librado durante a suprem:Jci a
das não se asseme lham nem a deuses. nem aos homens. oe," ,'os de Crono.
animais, mas são sempre seres estranhamente mistos, dotados Hécute. por SUl! vez. é a deusa que permite a pri meira irrup-
assim como S Uflllt1Cc ~tral primeir:J - de um inominável,",, ,,,,, ~'ã o mais substancia l dos humanos no poema. Como o objeti\'o
poder. algo que faz delc-$ se re~ incap:Jzcs de'0'''" "0" do poema ~ revelar c ce lebrar o cosmo e os deuses . é esperada
pe los mona is. ou seja, "impossíve is" (a llu1klwl/o.\"). a posiçiio absolutamente marginal que o gênero humano ocupa
que os vCllcer:un foram certos heróis. homens mui to. cril relação a e les. Os homens e seu modo de vida sào os prota-
em cenas qualidades do que os homens de hoje e que., . II-onistas de out ro poema atribufdo a Hesíodo. Traballros e dias.
disso. fo ram auxi liados por deuses. I ~~o não sign itk.r que. do ponto de vista dos própri os deuses.
Pela lógii.:iI da narrativa. os mo nstros parecem ser lHlHl ou seja. da Teogonia. as C<.lracteríst icas da fronteira que separa
pécie de tentati va mal sucedida de com inuar o i .Icu$es e homens n[io sejam re levantes. Essas aparecem com
do eosmo (Clay. 2003 ). já que. em sua maioria, não têm dan,".l3 em dois episódios que emolduram o nascimento de Zeu s.
ção alguma salvo cOlllribuírCIll para a fama do herói que II celebração de Héeme e a história de Prometeu .
derrotou. Através deles. porém. mostra-se que assim como. r
plano humano, mortais comuns se opõem a heróis, no
deuses se opõem a rnonMros. Alé m di sso. como notou IIERÓIS
Pucc i (cm Mo ntanari. Rcngakos & Tsagalis). algu ns Se aos heróis - esses humanos (mortai s) que estão no meio
geração de Zeus utiliLam. eles próprios. :Jlgu m monstro ,lu caminho entre deuses c ho me ns - é dada uma razào de ser
ohtcr determinado fi m pessoal , o que si naliza que o .llIrJl1te o cat.ílogo de mo nstros. a relação entre Zeus e Hécale.
cósmico cont inua instável. unIU momento do poema em q ue se e nfatiza o equilíbrio cós-
1111,0 resu ltante das responsabilidades diversas atri buídas a cada
,Iru\. revela que esse equilíbrio é indissociável da presença. na
RIOS E OCEAN INAS lC'na, dos homens. A fim de se fi gur.rr o modo de funcionamento
Como que a contrnbnlnnçar o peso negativo desses '"'''''''0 011 universo dos deuses :Jtravés da sequêneia de eventos que a
na sequência n:lsccm duas colctividades bcnfazejas. os Rios . le Il!vou, uti liza-se também um retrato simpl ificado e razoavel-
1~ I mente genérico das práticas culluais humanas. Deuses, '",,"' agente deliberando sozinho. seu poder é imediatamente lig'ldo I 19
c home ns não existem um sem o out ro. O trecho dedicado às esferas da astúc ia e da força. Pur enquanto. sua astúc ia ainda
I-Iécalc. porém. revela também que a vida humana, mais é aquela da mãe e da avó; s ua força. no entanto. cst.1 ligada ao
marc:lda por um certo equilíbrio. é perme3da pelo \Cu primeiro ato como sobcrnno. do ponto de vista da lógica da
por mais que os homens propiciem os deuses. nada garante mUT,niva: a libertação dos Ciclopes (501-6). aqueles que lhe
serão auxi liados por eles. torneccriio os raios e o trovão, alributos que simbolizam se\!
Não possuímos ne nhum testemunho histó rico . I l)!.)der e apontam para sua ligação com o céu.
da ri/ogonia que nponle para a impol1âm:ia cuhual, mesmo O primei ro conflito resolvido por Zeus envolve a astúcia
ape nas local. de I-Iécatc, sugerida pelo destaque que lhe (507- 6 16). Trata ·se do momentO e m que deuses e homens se
no poema. Isso é um fone indicio de que comentadores distingu iram , se separa rmn em definitivo por ocasião de um
Clay (2(X13) estão corretos ao defender que a figura de~~a h:mquete festivo para o qual Prometeu repartiu a carne de um
é usada para se falar de Zeus e da relação entre os homens hoi. Marcam esse evento a origem do sacrifício. a conqu ist:!
os deuses inaugurad a por de. Menos certa é li relação entre do fogo e a criação da mu lher. O tex to não procura dCS('rever
nome de Héc<lle, li maneira como o poeta se refere ao seu ""xle uctulhadamente essa raça human<l que não dominava o fogo,
de lIluação r'se ela quiser" etc.) e- o acaso. Itinda compartilhava da compan hia dos de uses e não conhecia
It reprodução sexual. O na rrador deixa claro que Zeus aceita a
I"cpaniçi'io da carne do boi feita por Prometeu para o banquete
PROMETEU E ZE US Itm vez que ele tinha c m mente males destinados aos homens
O nascimento de Zeu s na rrado logo depois (453- 9 1) é morta is (55 1-52). Os homens. talvez guerreiros gigan tes nas-
evento que permite a asce nsão do terceiro soberano dos I:idos da tc rra (interpretaç:lo possível a partir dos versos 50 c
A :lSlI.k:ia de Terra é a responsável pela castração de- Céu. IK5-87). em conluio corn Prometeu. representam. para Zeus.
nasci me nto dos seus filhos. os T itãs. c a tomada de poder IltUa ameaça que precisa ser dominada antes que seja tarde de-
parte do fi lho mais novo . Cron o:~ De forma homóloga. é lIlab. pois, nesse momento de s ua regê ncia. Zeus ai nda prccis3
aSllícia d:1 esposa de Crono, Reia. auxiliada pelos '0"" 1" 'llsolidar seu poder.
de Céu e Terra. q ue permi te q ue seus filh os vejam a luz OUlro momento fundame ntal da história de Prometeu é a
Sol c que Zeus destrone o pai. Dessa \'e7, porém. há {'fiação da primeira mulher. Ao contrári o do que ocorre cm
verdade ira eompeti\'ào entre as tutos: COlHO todo bom rei, Cro", l'roballlOs e dias. aqui o narrador não informa seu nome (lá.
é previdente. e, aprendendo com o crro de seu pui, decide Ilundor3). Como em todos os eventos que marcam o episódio
todos os fi lhos paridos por sua esposa. Ela. porém, o i III: Prometeu, bem ~ mal estilo ind issociavelmente ligados. Se-
no nascimento de Zeus, de sorte que esse. 3través de urna i IIltudo Vernant ( 1992), os ossos que não podem ser d igeridos
de manobras contadas rapidameme no poema. pode ocupar 1111 divisiio do boi do primeiro sacrifício são encoocnos pc1n
rcgl:ncia do cosmo. Ainda que. pelo menos em parte. '''ssr I!urdura que solta delicioso aroma, ao passo que a carne é disfa r-
momcnlO da na rrativa Zeus não seja representado como \'IK I.I sob o re pelentc cstômago. 4 Os ossos e o aroma da gordura

\ Repare lia imponãncia que gCr:ltm.'mc lêm os tllhos que nascem por
nas tinhngcns do poem3. I A'~ lI1nl~.se qu~ o disfarce _" . conscquenlemcmc. a habitidad .. de 1'l.'COllho:ccr
20 queimada silo um sinal da illlorla lidade divin:1. ao passo É de novo Terra quem <lconsclha ao nelo libertar aqueles que I 21
ficarne deliciosa (o alimento perecível) comida pelos Il;lviam sido presos por Céu e assim mamidos por Crono abaixo
aponta pnra sua mortal idade: a adoção da carne na sua da terra, os Cem-Braços . Trata-se de uma força descomunal que
escondida no estômago do boi. deixa claro que os homens os dois soberanos an teriores acharam por bem simplesmente
escravos de seu próprio estômago c precisam satisfaze-lo se manter paralis<lda. Zeus, porém, consegue convencê-los a serem

qUiserem perecer. \ ClIS aliados e eles se moslram decisivos no combate C01l\ra os

No caso da Mulher, el,l é d:lda aos homens em lroca Titãs, gratos por serem trazidos de volta à luz.
fogo: se o fogo permite que os homens sejam civilizados c I Luz e trevas marcam, corno polaridades, toda a Titanomél-
comam carne crua. a mulher lerá que ser por eles I r I quin . pois os Titãs, uma vez vencidos. ocupam o espaço subter-
caso queiram sobreviver por imcrrnédio de um herdeiro. raneo onde antes estaV<lll1 os Cem-Braços - que agora têm uma
falo, fogo e mulher precisam ser constantemente hlmm, uma função no COSIl10, a de serem os eternos guardas dos
para que o homem não pcrcçn. O sacrincio. o fogo e a deuses outrora poderosos. Essa polaridade também prep::!ra n
mulher. portamo, indicam que há elementos que apontlun '" ~ pisód io segui nte, pois o esforço de Zeus para vencer os Titãs

uma certa presença do divino no seio da vida humana. m:lS çumo qUe co loca o cosmo de volta .10 seu estado inic ial. Terra,
são Ião tênucs como a fumaça que sobe do sacrifício para o ~é u, mar e Tártaro: todos os espaços são atingidos pelo fogo
e tão artificiais quanto os enfeites dil coroa dil primeir<l I dus raios de Zeus, o que repreSellta urna recriaçflo do mundo
COlMa a qual o homem não tem defesa alguma. por meio da força, Nflo é por acaso que Abismo volt..1 ~ cena
noo e 814) e qUe as imagens e sons desse conflito cataclísmico
~ il.o amplificados para o ouvinte por meio de uma imagem que

TITANOMAQUIA remete 11 união primordial entre Terra e Céu (700-5),


Uma vez fin<l lizada a guerra. o narrador nos narra, pela pri -
Após essa separação entre deuses e homens levada a
meira vez, como é a geografia das terras ín feras (72 1-8 19). Não
por Zeus graças à astúcia. a separação seguinte. entre os
Ijue antes nada lá houvessc. Mas. com o aprisionamento dos
da geração de seu pai , os Titãs, e os da sua própria. os I
Titãs, a essa parte do cosmo é confcrida sua estabilidade e Zeus
é conseguida gr<lças II urna suprem'lcia alcançada na esfer:l
pode finalmente aparecer corno o organizador último de todos
força. O episódio conhecido como Ti tanomaquia
II S espaços. É por eSSél razão que de deuses como Sono e Morte
mostra que o cosmo ficou mais complexo que quando sobre
t' Noite e Di::!. cujas funções cósmicas os ligam ao Tártaro. fi -
regia Céu . pois se, para vencer seu pa i, num primeiro <no"",,,, nalmente se fa la mais long:lmente, mais uma vez mostrando de
Zeus COIHOU com pelo menos dois ardis arquitetados pela mãe
que fornl::! po los positivos e negati vos da realidade est[io interli-
pela avó ~ entregar a Crono urna pedr:l no lugar do beb0
lIados. É precisamente por isso que também nesse momento do
e, posteriormelHe, f<lzê-Io vomita r todos os irmãos de Zeus
puema descreve-se a função de Estige. ligada a uma jura divina
com ele lutarão contra os deuses mais velhos - , nu m
lj llC. quando quebrada por um deus, o leva a uma morte vil1ual
momento a astúcia não será suficiente.
por dei'. anos. A ligação entre Estige e Zeus mostra que tam-
hélll o juramento - uma instituição social fundamental também
o que esrá di,f~rçado - rmnhém é do domínio da aShícia). 0, o"so~ (e ""com
da gordura queimada.
rrnre os homens - é illstituído pelo rei dos deuses e homens
22 para bem adm ini strar o mundo divino, onde conAitos não ZEUS E AS ESPOSAS 123
excepcionais. Uma vez derrotada a astuta Terra. que imediatamen te torna·
..c aliada de Z.eus (891). a primeira providência do soberano ê
casar c devorar sua esposa. Astúcia. de sorte que essa gerasse
um deus m,tçho mais forte que ele (886-900). Leonard Muellner
ZEUS E TIF EU (1996) mOStrou como esse episódio arremata todos os conn itos
C uriosamente. porém. Zeus ainda terâ que e nfrentar dinásticos narrados até elllão. Zeus não devora seu primeiro
um con fl ito armado. a luta contra Tifeu (820-80). Por um Itlho ou obriga quc sua esposa o guarde no ventre. mas assi·
como nos dois poemas épicos quc conhecemos. a Ilíada e mlla o elemento femini no em si mesmo. Astúcia·A te na. Com
Odisseia. o maior herói se re vcla qua ndo de rrota um ; '~ :'~ ;'SO. Zeus se torna UIll andfÓgino perfeito, e não um disforme
poderoso com suas próprias müos. Por outro lado, es~ ir cmasculado. A astúcia revela·se mais uma vez essenc ialmente
é. estranhamente. fi lho do próprio T ártaro com Terra. rcm inina. mas para sempre assimilada pelo próprio rei. A filha
fenilidade exacerbada desta tenha gerado um ser pru~, ''';:00 produzida pe lo re i não Só não é um macho - e foram sempre
o novo senhor do cosmo. is..~o não surpreende. pois lovens machos que derrotaram scus pais - . m:lS é uma virgem,
pard:t fl..'rnin ina foi peça fundamental na deposição de Céu uu sejn. um;l deusn que não irá produzir ameaça ao stalll.\· q//o.
Crono; que aquele seja o p'li. isso si m é curioso. pois. até "", PO[ tim . ao ingerir a esposa grávida do primeiro ftlho . ele blo·
momento {Ia narl.lti\'<I. dele apenas se f<llou como um esp<lço. queou n previsão de q ue. depois de Atena. Aslúcia geraria um
como se . pela lóg ic<l d:l Ilurra tiva hesiódica. só agora ele liIho mais forte que o pai . Pela primeira vez. o rei dos deuses
adq uiriuo o estatu to plello d~' divi ndade e precisasse se en,'ol"ll I."llnseguc "desparir"' de forlll<l pcrfeit<l e acabada.
em um conflito que garantisse que sua fonna não se alteraria . E somente agora nasce. de Zeus e várias de suas esposas.
Ti feu. por sua ve;.:. adq u ire, graças ~ lógica da ai II linhagem dos deuses responsáveis pelo que há de bom no

o lugar de fi lho de Zeus. pois o rei <Interior fora deposto W~ 1ll0 (901-17): Norma. Dccêncin, Justiça. Paz. Radiância.

seu filho (sempre lig:ldo 11 Terra). O conAito contra os Alegria. Festa e MUSlIS. notável prole <lntípoda <lOS filho s de
porém. já mostrou que a manipu lação da astúcia e da força, Noite e Di sputa. A últimn esposa de Ze.us, Hera. é aquela que,
grau supcrlalivo cm que o fa;.: Zeus. não deix a espaço para de acordo com n lógica do poema. representa a maior ameaçu a
possibi lid:tde de derrota. mesmo que o adversário também I.c u ~. Mas t:lnto o fil ho mais perigoso que os dois têm ju ntos
muito forte - Tifeu tem cabeças com olhos de onde sai Iluanto aquele que, como que emulando Zeus no caso de Atena.
- c muito astuto - SU;tS cem cabeças produzem lodo tipo Ilcnl tem ~o;d nh a. Hdesto. não represe ntam :ldversários fortes
som. sendo que a metamorfose é U111 elemento mítico ti,,;c ",uficiente contr:l :l filh a que mais se assemelha ao pai e está
do universo d:l aSlúcia. Além disso. esse combme II l1npletamente :tl inhad:t com ele. Atena. senhora da guerra mas
entre a criatura monstruosa e Zeus também permite que llI1nhém da astúci:t (921 - 29).
de rradeiramente. sej a derrotada e esterilizada. O fogo
como que a derrete: de cri:tdora de meta l e artífice
TerT:l como (Iue se trans rorma. g raças ao fogo aniquilador
Zeus, no rnewl que é manipulado por artesãos machos
,,

24 CATÁLOGO DE CASA MENTOS E FILH O S foram in<.:orporadas, sobretudo as de Glenn Most, contrári o a I 2S
É nesse sent ido que se deve entender o longo cat,ílogo um excesso de correçôcs ao texto transmi tido.
(i nilliza o poem::! e que tem t r~~ partes: os casumenlos de O principal problema para o tradutor da Teogonia diz res-
e os filhos deles re.~ultamcs (90 1-29): um catálogo mais ,. bIT" pdto aos nomes das divindades. Não se buscou nenhum tipo de
gente de casamentos divinos (930-61), que revelam. de padronização muito rígida, ou seja. fico u-se e ntre os extremos
sumária. um pantc;'io muito benl organizado c de traduzi r (quase) IOdos os nomes e (q uase) nenhum nome.
harmônico (corno que servi ndo de cpítomc. o casame nto " Ue< De forma geral. os principais critérios foram o bom senso, o
Ares c Afrodite produz. por um lado, os machos Afugentador ~'on hccime n to do leitor e a sonoridade.

Susto. mas, por outro. Harmon ia); c fi nalmcl1It" um catálogo Algo do que se perde na tradução - por exemplo. figuras
deusas que se uniram a mortais (%2- 1020). Ora. com etimológicas - é rccupc-rado nas notas.
fême,as que se unem a machos mortais. o princípio de Por questôcs didáti"as, util izou-se dois tipos de sinais para
por cxcclcncia ao longo do pocm;\ agora desloca-se ao !IIdicar a divisiio de un idades narrativas. O recuo de parágrafo é
dos homens. !TIni s precisamente. ao mundo dos heróis. É equivalente a um novo parágrafo em uma narrati"a em prosa: o
mundo que fil hos scr:io ma is fOl1C5 que os pais, podendo. I ~ l1lal ~ indica uma p:lUsa maior no cOn!cxto de um uma perfor-
III (lII c e or:d. Não é possível saber. entretanto, se tais marcações
limite. o que atest,! Tclégono, fil ho de Circe e Odisseu . I
Para concl ui r, menciono q ue h5 uma discussão sem perp:tss:tram tilis pcrform;mces or:t is do pOema.
sobre o verso em que :l versão "origina l" da 1eogoll ia teri a A Ilumcnlçiio das notas de rodapé em forma de lemas segue
I> nlllllero que ind ica um verso ou um co njunto de versos do
min:ldo. Autores C0l110 Jenny O:Ly e Adri :ln Ke[[y
que os catálogos analisados compõcm um fina l muito pvcma.
ao poema. A ssim . provave lmente somente os quatro o u
vcl mente dois últimos versos fo ram acrescentados ao
um certo momentO de sua tnlll.'iCmissão, para introduzir um 0 " 1"
BIB Li OGRA FI A
pocm:l atribuídO:l Hesíodo. o Cel/rilago das mulheres (obra
chegou a nós através de fragmentos) . que procurava dllr unl ~ "' I I.A N. w. (2006) "Di" ill': jusL
icc and oosmk ordl'r in ea:rl)' G~d.: Epic."
visão geral da idade dos heróis a partir das I,,,,,, , J,'um~ l of l lclkn ic SUldie$ 12ó: 1-35

deuses dormiram por todll ii Grécia. Esse catálogo era, ... NI'>OUU). D. (2U09) " I..cs nOIM <ks dieu~ d~n~ la Théogonie d' Hêsi<:J<k: tly·
me-me. concluído pelo c:Ltá logo de pretendentes de e1eo•• cu mologics et jeux de II'KM S". RC"ue des êludes grecquo 122: 1- 14
casamento redundou no grande cataclisma que foi a guerra ' 11 "ISE, F.: JL,:IlET DI: LA CO~ 1 8E, P.; NOUSSE AU, I', torg.) Le mili~r du my,IJe:
I(I;I,,"S d' I/isiod... Une: Press,c,s Uni'-ersitaires du Seplemrion
Troia, que metonimicamente podia ser pensada. na ..
lItlV~-STONES , G. R.; HAUb OlD. 1. H. CW IO} PI",o lInd He~iod. O.,fonl:
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