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DIVINAS AVENTURAS
HISTÓRIAS DA MITOLOGIA GREGA.
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DE UMA LONGA
HISTÓRIA FAÇAMOS UMA PEQ!JENA
Se alguém lhe disser que existem povos superiores a outros, DUVIDE. O que
existem são povos DIFERENTES entre si, com desejos e intenções variadas. Na ver-
dade, a maioria das nações faz de tudo um pouco, mas determinados aspectos
recebem mais ênfase: algumas apostam na tecnologia, outras nos rituais; algu-
mas investem tudo no comércio, outras se especializam na análise das plantas;
e outras, ainda, "nascem com o desejo de cultura". Os gregos tinham uma
"queda" pela cultura e por isso mesmo a desenvolveram até não mais poder: no
teatro, na arte, mas sobretudo na religião e em seus mitos.
Você sabe o que é ser politeísta?Significaacreditar em muitos deuses. E é isso
que faziam os povos gregos.Julgavamque seus deuses eram os senhores do céu e
da terra e que habitavam em um monte Olímpico, que depois recebeu o nome
de Olimpo. Por outro lado, essesdeuses eram todos antropomorfos, ou seja, tinha~
forma humana, sentimentos, virtudes, mas também carregavam suas fraquezas.
E era com eles e entre eles que se desenvolviam mitos e mais mitos. E o que é
um mito? Imagine uma bela história. Pense agora num enredo cheio de cenas
fantásticas. Essassituações aparentemente desligadas da sua vida dialogam não
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com sua experiência imediata, mas com os seus problemas e com suas inquie-
tações mais profundas. E tem mais: repare que essa mesma história faria sentido
para todo o seu grupo de amigos. Pois o mito é quase isso, com a diferença de
que ele é sempre coletivo. Cada povo tem suas próprias contradições e, em vez de
só se lamentar, acaba criando. Pois é, a humanidade não se contenta apenas em
sobreviver,gostamos de pensar sobre a realidade, imaginar e criar símbolos.
Mas assim como nas histórias que você lê - as quais trazem heróis fortes ou
fracos,pessoas inteligentes e poderosas e outras tão desfavorecidas-, também nos
mitos gregos as personagens se repetem, e guardam uma clara divisão de áreas de
atuação.Vocêverá como existe uma hierarquia entre essesdeuses e cada um à sua
maneira cumpre funções definidas: Zeus era o senhor todo-poderoso do céu e
da terra. A ele, seguiam-se Hera, irmã e mulher de Zeus; Peboou Apoio, deus do
Sol e protetor das artes; Ares, deus da guerra; Hefaísto, ferreiro dos deuses;
Hermes,o mensageiro do Olimpo e deus do comércio; Posêidon,deus do mar;
PalasAtena, deusa da sabedoria; Afrodite, deusa do amor e da beleza; Deméter,
deusa da agricultura; Ártemis, deusa da caça; Héstia,deusa do fogo; Dioniso,deus
do vinho; e Hades, soberano das profundezas. Além dessas personagens, havia
ainda os heróis e as Musas, que eram considerados divindades menores, mas
nem por isso desempenhavam papéis menos importantes nos enredos.
São muitos nomes e variadas as histórias que revelam como entender a
mitologia grega, é como adentrar um recinto que tem várias portas: todas levam
ao lugar certo - o mito está sempre onde deve estar -, mas são diferentes os
lugaresa que se pode chegar.
Seu desafio de agora em diante não é tão fácil como parece. Afinal, a estru-
tura dos mitos não segue a mesma linguagem do nosso dia-a-dia. Não tem
seqüência, às vezes até parece não ter lógica, e guarda uma moral diferente
daquela a que estamos acostumados. Mas, tal qual a lembrança desorganizada
dos nossos sonhos, que mal-e-mal reconhecemos pela manhã, assim são os
mitos:falam mesmo quando parece que nada dizem. É só se deixar levar.
Mitos são bons para pensar. Iluminam nossa história pessoal e coletiva,
nossosmedos e desejos e conversam sobre eles por meio de imagens e de ale-
gorias.Os mitos gregos, ao falar de si próprios, falam muito de nós mesmos.
Afinal,nosso mundo também está cheio de mocinhos e vilões que fazem parte
da televisão e do cinema mas estão também na imaginação de cada um, e,
muitasvezes, até parece que moram bem embaixo dos nossos travesseiros.
Vamosao convite.Agora que você já conhece tantos heróis e tantos conceitos,
levetudo na bagageme é só embarcar nessaviagem.Sozinho ou acompanhado você
verácomo a história grega pode ser, ao mesmo tempo, tão antiga e tão moderna.
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No LABIRINTOSECRETO
DOS MITOS GREGOS
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ATENA
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as pequenas asas, de ouro. Seu olhar era tão poderoso que transformava ho-
mens em estátuas de pedra. Para vencê-Ia seria necessária muita força, agili-
dade e toda a proteção do mundo.
Quando me contaram que Perseu havia se oferecido para enfrentar a
fera, admirei sua coragem e resolvi ajudá-Io. Assim que a luta entre ambos
foi marcada, tive uma idéia: chamei à minha presença Hermes, meu irmão,
o mensageiro dos deuses, e juntos nos revelamos a Perseu. Nós lhe dissemos
que precisávamos estar ao seu lado durante a luta e que, caso desejasse a
vitória, deveria obedecer às nossas ordens.
Primeiro lhe pedimos que procurasse as ninfas, as jovens mágicas dos
lagos e rios, pois elas o amavam e fabricariam uma arma especial para ele.
Perseu obedeceu, e das lindas ninfas ganhou sandálias aladas, uma sacola
mágica e um capacete que lhe conferiu o poder da invisibilidade.
Hermes, achando que Perseu necessitava de mais uma arma, ofereceu-
lhe uma lança, leve e cortante como a minha. Quanto a mim, resolvi acom-
panhá-Io pessoalmente e lutar ao seu lado caso fosse preciso.
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No dia do combate, desci até a gruta do monstro e me escondi num
canto. O lugar era repugnante. A fera exalava um cheiro horrível, o ar esta-
va úmido e pesado, por todos os lados eu via estátuas de pedras, na verdade
os corpos dos guerreiros assassinados por Medusa e suas irmãs.
A entrada de Perseu foi inesquecível. Ele rasgou os céus como uma
águia. Rapidamente aplicou um golpe certeiro no monstro e cortou uma de
suas cabeças. Sangue verde espalhou-se por toda a caverna, e as duas cabeças
restantes começaram a urrar. Ainda voando, Perseu afastou-se e, em segui-
da, apontou sua lança contra a segunda cabeça. Ela também caiu por terra.
Só que, qua~do isso aconteceu, uma das patas do monstro o atingiu e Per-
seu perdeu o equilíbrio. Seu capacete despencou no chão e ele imediata-
mente se tornou visível.
- Ah! Jovem atrevido! - gritou a Medusa com sua voz grossa e tene-
brosa. No ar, Perseu voava em círculos, mantendo-se de costas para o mons-
tro. Ele sabia que, caso a fitasse nos olhos, se transformaria numa estátua.
- Agora você não me escapa!
Percebi que precisava entrar em cena. Lembrei-me de que tinha um escu-
do comigo. Gritei:
- Perseu! Apanhe o escudo, proteja-se!
Recuperando as forças Perseu agarrou meu escudo no ar. Ele havia sido
forjado pelas ninfas. Sua superfície brilhava com a limpidez das águas e
refletia imagens como um espelho. Empunhando-o, Perseu desafiou a fera:
- Olhe para mim, criatura medonha!
Quando ela percebeu o truque, era tarde demais. Perseu levantou o escu-
do na altura da cabeça do monstro. Assim que Medusa olhou para a própria
imagem refletida em sua superfície polida, sentiu o corpo todo enrijecer-se
e transformar-se numa gigantesca estátua acinzentada.
Perseu desceu ao solo e eu o amparei. Ele se recostou contra a parede e,
ao seu lado, presenciei uma das mais belas cenas de minha longa vida de
deusa. Do sangue verde e viscoso das horríveis górgonas saiu uma luz
dourada e brilhante que aos poucos foi tomando forma. Lentamente foram
surgindo os contornos de um maravilhoso cavalo alado.
O magnífico animal aproximou-se de nós e abaixou a cabeça, balan-
çando a crina ondulante e prateada como se nos cumprimentasse. O nome
Pégaso estampou-se em minha mente e eu o acariciei. Em seguida, Perseu
montou no dorso do animal para que este o levasse até seu rei. Perseu pro-
metera entregar-lhe a cabeça cortada de Medusa.
E que espanto meu jovem amigo causaria ao mostrar aos gregos seu
luminoso animal e seu novo escudo, com a face tenebrosa de Medusa eter-
namente marcada em sua superfície mágica!
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H ERME S
Quando nasci, senti que atavam meus pequenos braços e pernas pen-
sando que assim eu dormiria tranqüilo em meu berço. Mas sempre detestei
a imobilidade. Deus do vôo e das viagens, não suportava ficar preso um
minuto sequer. Assim que me vi sozinho, me debati até libertar-me das
ataduras. HERMES
Fugi de meu quarto e corri para os campos, onde meu irmão ApoIo cui- Deus das
dava de um rebanho de gado. Lembro-me muito bem da sensação indes- invenções e
critívelde liberdade que experimentei ao deslizar pelos prados verdes com da criatividade
o vento acariciando meu rosto e balançando meus cabelos. Amo a veloci- Protege a escrita,
dade, a rapidez, deus algum jamais foi capaz de movimentar-se com a as viagens
mesma agilidade que eu. e a música.
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Quando ApoIo me viu, pareceu feliz. Brincamos um pouco e me diverti
bastante. Ele me ensinou o nome dos animais, seus hábitos, os segredos do
ofício de pastor. Fiquei encantado com seus animais. Eu os desejei para
mim. Mas não queria roubá-los de meu irmão, como disseram mais tarde.
O problema é que ApoIo sempre foi um deus distraído. E quando Hime-
neu, seu melhor amigo, veio visitá-lo, ele simplesmente se esqueceu de uma
parte do rebanho. Eu não podia deixá-l os daquele jeito: os pobres animais
se perderiam pelo pasto, e foi por isso que resolvi levá-los comigo. Reuni
doze vacas, cem novilhas e um touro.
Prendi um galhinho na cauda de cada animal e conduzi o rebanho
através da Grécia até chegarmos a Pilos. Lá, sacrifiquei dois animais de meu
rebanho e fiz uma oferenda de doze partes de carne de vaca para os outros
deuses do Olimpo. Em seguida, guardei cuidadosamente meu rebanho num
local seguro, pedi aos deuses que eu havia homenageado que o protegessem
e regressei à gruta de Cilene, o monte onde nasci.
Quando cheguei, à entrada da caverna encontrei uma pequena tartaru-
ga. Ela me fitou nos olhos e disse:
- Hermes, olhe bem para mim. Trago na alma a melodia da música. Não
quero viver para sempre como um simples animal. Se você me tirar a vida,
prometo que lhe darei em troca os mais belos sons que já se ouviram na Terra.
Obedeci à pequena tartaruga e a matei. Joguei suas entranhas fora, lavei
seu casco e, por algumas horas, eu não soube o que devia fazer. Aquele casco
vazio não produzia som algum. Por que será que a tartarugazinha havia me
pedido que a sacrificasse?
Adormeci com seu casco no colo. Não me recordo bem como surgiu a
idéia. Não sei se foi de meus sonhos. Mas quando despertei eu sabia muito
bem o que deveria fazer. Apanhei as cordas que fizera com as tripas das
vacas que eu havia sacrificado. Depois as amarrei no casco da tartaruga, esti-
cando-as com toda a minha força. Ao tocá-Ias com os dedos para me certi-
ficar de que estavam bem atadas, percebi que produziam sons maravilho-
sos. A pequena tartaruga havia se transformado num instrumento musical.
Finalmente eu compreendia seu pedido. Chamei esse instrumento de lira e
me pus a tocá-lo por horas a fio. Anos depois, os homens inventaram um
outro tipo de lira que vocês, pequenos amigos, já devem ter visto em algum
lugar. No lugar do casco da tartaruga puseram uma barra torcida em forma
de U e nela esticaram as cordas. Não sei muito bem por quê, mas as ima-
gens de anjinhos que os homens começaram a pintar sempre os mostravam
sentados em nuvens tocando minha lira.
Mas agora voltemos a nossa história. Meu irmão ApoIo, que me busca-
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ApOLO
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invencível. Pensei que perderia a vida e não seria capaz de salvar nossa mãe.
Foi então que Ártemis resolveu ajudar-me. E nosso plano foi o seguinte...
- ApoIo, sei que você ama a paz, a ordem, a sabedoria, mas, para vencer
um monstro tão destrutivo quanto Píton, é preciso usar de astúcia e fazer da
surpresa a melhor arma! - disse-me Ártemis quando nos encontramos
para decidir como salvar a vida de nossa mãe.
Observando seu belo rosto iluminado pelo lua~, era-me difícil acreditar
que minha pequena irmã pudesse ser uma guerreira tão formidável, já que
eu, mesmo menino, preferia a companhia das musas, a poesia e os cantos
às lutas, corridas e perseguições.
Olhei para o arco prateado de Ártemis e percebi que ele trazia a cur-
vatura da lua brilhando no céu. Se eu era adorado pelos homens, minha
irmã era venerada pelas crianças e animais, os quais protegia.
Vendo que eu continuava calado e pensativo, Ártemis prosseguiu:
- ApoIo, agora você terá que agir como um guerreiro. Apanhe o arco e
flecha que ganhou de nosso pai.
Vários animais ficavam ao redor de Ártemis sempre que ela sentava numa
clareira da floresta. Uma grande ursa parda aproximou-se de sua protetora e
montou guarda às costas dela. E foi exatamente essa ursa quem me deu a idéia.
- Ártemis, o dragão tem dois trunfos: a força física e o poder de anteci-
par o futuro. Pois então devemos transformá-l os em desvantagens. Quem é
forte, nem sempre se preocupa em ser rápido; quem se habitua a adivinhar
o futuro, muitas vezes se esquece do presente.
Minha irmã sor,riu diante do que eu dizia, aproximou-se e completou
meu pensamento:
- Nossas flechas são rápidas e posso tomá-Ias invisíveis. Nós o atacare-
mos à noite, quando a lua estiver sob ,meu comando. Mas como fazer para
que ele não adivinhe nosso plano?
- É simples, querida. Veja sua imensa amiga ursa. Quando ela deseja o
mel, tem que enfrentar as abelhas, não é? É por isso que a ursa a ama tanto.
Sabe que você, a deusa da natureza, pode pedir às abelhas que lhe cedam
uma parte de seu mel, não é? Pois bem, quero que envie .suas abelhas até a
sala do oráculo. Elas devem ser numerosas para que possam impedir a visão
das águas que refletem as cenas do futuro. Píton ficará
completamente desorientado. Ele esqueceu como se
raciocina.
Atacamos na noite seguinte, noite de lua cheia. Não havia tempo a
perder. Entramo~ separadamente no esconderijo da fera. Era parte de nossa
estratégia levar o monstro a pensar que enfrentaria apenas um adversário.
Quando Píton me avistou, minúsculo, aos seus pés, empunhando
somente um arco munido de uma flecha, soltou uma gargalhada maligna.
Arrastando o corpo acinzentado em minha direção, ergueu as garras
enormes no ar. Foi nesse instante que Ánemis surgiu do lado esquerdo do
dragão, envolta numa luz tão forte que ele cambaleou e recuou, assustado.
Acertei-lhe uma flecha no olho direito, e sua cauda cheia de escamas
começou a bater para cima e para baixo. Ánemis o atingiu no olho esquer-
do, dando-me tempo de preparar outra flecha. Eu o ataquei novamente,
mirando a garganta e depois o coração. O monstro despencou no chão de
seu esconderijo.
A terra estremeceu e o solo se abriu para que ele encontrasse um refúgio.
Era Hera, a deusa do ciúme, que vinha em auxílio da criatura. Mas eu o
persegui até o centro da Terra e o matei para que nem nossa mãe nem os
habitantes do monte Parnaso corressem mais perigo.
Quando regressei à superfície, encontrei minha irmã ao lado do orácu-
lo. Pela primeira vez fitamos as águas que refletiam o futuro e nelas vimos
a face de nosso pai. Zeus nos cumprimentou pela vitória e ordenou que
todo ano eu preparasse um banquete e jogos para celebrar o fim da tirania
do monstro contra os habitantes do monte. Assim surgiram as festas de
Delfos, com os jogos e competições em minha homenagem. Mais tarde,
essas festas foram chamadas de Olimpíadas e dedicadas a Zeus. Embora
respeite meu pai, jamais compreendi bem por que fui deixado de lado.
Afinal, sou o deus da beleza física.
Lembro-me que, no início, as Olimpíadas eram uma data especial para
os gregos. E havi~ de tudo nas festas: danças, poesia, música e competições
esportivas. Mas o tempo me fez justiça, pois, quando foram criadas as Olim-
píadas modernas, no ano de 1896, as festas se transformaram numa cele-
bração do esporte. E agora, séculos depois, vocês, humanos, ainda conti-
nuam a me alegrar com suas magníficas Olimpíadas, de que participam
todos os países do mundo. Também me alegro ao perceber minha grande
influência entre os jovens, que cada vez mais se interessam pela saúde
do corpo, pelos esportes, pela emoção de superar a si próprios. Saibam
que zelo. por todos os esportistas, seja qual for sua idade, capacidade ou
nacionalidade.
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ARTEMIS
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RAPTADA POR UM GIGANTE Deusa da Lua
Protege as
- Isso é um ultraje! - gritou Zeus, irado. - Dois garotos declarando montanhas, os
guerra contra nós, os deuses do Olimpo! Conte-me, Hermes, quero saber animais selvagens
como tudo começou! e as crianças.
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Hermes, meu meio-irmão, que exercia a função de mensageiro dos
deuses, explicou a nosso pai que Posêidon, o deus dos mares, tivera dois fi-
lhos com uma humana. A jovem, muito bela, conquistara Posêidon indo
tomar banho de mar todas as noites. Os dois jovens que nasceram de sua
união tinham uma estranha aparência, dezesseis metros de altura e uma
força descomunal.
Desobedientes e insolentes, os jovens simplesmente decidiram que con-
quistariam o Olimpo. Construíram uma escada enorme que os levaria ao
reino oculto nas nuvens e declararam que, caso os deuses desobedecessem
a eles, fariam o mar desaparecer da Terra.
E sabem qual era o maior desejo dos dois gigantes? Casar-se com deu-
sas! Um deles desejava casar-se com Hera e outro comigo! Fiquei furiosa
também! Ninguém jamais tentara me obrigar a nada. Meu pai sempre havia
permitido que eu vivesse como quisesse e apenas casasse se um dia sentisse
vontade.
Percebendo que Zeus estava perturbado demais para resolver a situ-
ação, reuni meus animais numa clareira da floresta e sentei-me para pen-
sar. Cercada por meus amados amigos, me senti melhor. Fechei os olhos e
invoquei a luz do luar. Assim que a lua me cobriu com seus raios
poderosos, fui envolta por muita paz, e quando abri os olhos tive uma feliz
surpresa!
Hécata, a deusa da magia, minha prima preferida, estava parada diante
de mim. Belíssima, os olhos imensos e negros, os cabelos esvoaçantes, o
sorriso translúcido, Hécata é uma deusa muito poderosa. Pode transfor-
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mar-se no animal que quiser, é capaz de quebrar a barreira dos tempos,
inventar poções mágicas que dão juventude aos idosos e paixão àqueles
que desconhecem o amor.
- Você está correndo grande perigo, minha prima - ela foi logo dizen-
do -, mas creio que posso ajudá-Ia. Responda: qual é o animal de corrida
mais rápida que conhece?
- Uma corça - respondi.
- É nisso que você se transformará! E essa será a perdição daqueles dois
presunçosos! - ela afirmou, enquanto tirava de sua bolsa de couro suas
H ÉCATA ervas encantadas. '
Deusa da magia Nunca pensei que um animal pudesse enxergar tantas coisas diferentes!
e das artes Transformada em corça, eu saltava com facilidade e leveza inimagináveis
divinatórias para qualquer ser, divino ou humano. Para mim, que tanto amo os animais,
Protege as ter me tomado um deles era uma experiência sem igual.
mulheres e as Muitos dias se passaram até que os gigantes viessem à minha floresta
crianças. raptar-me. Chegaram durante a noite. Caminhavam e gritavam chamando
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por mim. Pisoteavam animais e arrancavam as árvores em seu caminho.
Senti muita raiva do desrespeito de ambos pela natureza.
Observando-os melhor, notei que, embora estivessem sempre juntos,
não se davam bem. Nervosos, eram grosseiros e ríspidos quando conver-
savam entre si. Isso me deu uma idéia, e agi rapidamente. De um salto me
pus na frente de um deles. Atraí sua atenção fazendo movimentos estra-
nhos no solo.
- Que animalzinho interessante! - disse o gigante, enquanto se abai-
xava para apanhar-me.
Permiti que me levantasse no ar. Enfeitiçada por Hécata, eu havia me
transformado num animal mágico. Era capaz de voar, e nada de mau iria
me acontecer.
O outro logo se aproximou para ver o que estava acontecendo.
- O que é isso na sua mão? Me dê esse animalzinho! Também quero
brincar com ele.
O gigante que me segurava afastou-se com suas passadas largas e gritou:
- Saia, vá embora! O bichinho é só meu! Cansei dessa brincadeira de
casar com deusas. Quero ficar um pouco aqui, com ele em minha mão.
O outro deu-lhe um tapa no rosto com tamanha força que o gigante
caiu. Quando isso aconteceu, o solo se abalou e várias árvores desabaram.
Saltei de sua mão, retomei minha forma humana e escondi-me atrás de uma
pedra para observar a cena.
- Está vendo? O bichinho fugiu! E por sua culpa! Estou tão cansado de
você! - gritou o gigante para o irmão.
A resposta do outro foi um soco. E assim se atracaram numa luta mortal,
destruindo tudo o que estivesse no seu caminho. Seus berros eram ensurde-
cedores. Lutando, caindo, rolando no chão, ambos chegaram à praia.
Saí de meu esconderijo para ver melhor. Mal eles entraram nas águas, já
coloridas pelo sol, uma onda gigantesca formou-se, veio crescendo e
engoliu os dois irmãos.
Que sorte!, pensei. De onde surgira a onda? O mar parecia tão tranqüi-
lo! Quando o vagalhão se aproximou das águas rasas, avistei Posêidon, o
deus do mar. Montado em imensos cavalos-marinhos, as longas barbas
brancas, o olhar enfurecido, o tridente nas mãos; o deus dos mares tinha me
salvado e eu lhe seria 'eternamente grata.
- Voltem já para casa! - ele gritou. - Nunca mais vocês tornarão a per-
turbar a vida da terra! Ficarão presos em meu palácio até o final dos tempos!
Tudo voltou a ser como antes. Menos o mar. Porque, até hoje, formam-
se grandes ondas, e eu me lembro de Posêidon e do dia em que os dois
gigantes foram condenados a desaparecer no fundo das águas.
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apaixonamos pelo mesmo lugar: a cidade de Acrópole. Levamos nossa dispu-
ta ao conselho dos deuses. Zeus e seus divinos companheiros foram injus-
tos: declararam que Atena seria a protetora da cidade, pois havia plantado
uma palmeira naquelas terras, garantindo assim seu direito de deusa.
Ofendido, injuriado, perdi a cabeça. Inundei todas as planícies das re-
dondezas de Acrópole das mais altas ondas que pude criar, destruindo tudo
o que estivesse entre mim e a cidade que eu tanto desejava. Foi nesse dia que
Atena se declarou minha inimiga, e essa foi minha perdição.
Alguns anos mais tarde, apaixonei-me por uma bela jovem. Olhos acin-
zentados, cabelos encaracolados, Medusa era a mulher mais linda que eu
havia conhecido. Sei que agora seu nome inspira horror e que seu rosto só
é lembrado com as feições deformadas de um monstro, mas nem sempre
foi assim. Como já lhes disse, Medusa era belíssima. Apaixonei-me por ela
quando veio banhar-se em minhas ondas à luz doce do luar. Meu amor foi
correspondido, e nossa união trouxe-me profunda felicidade.
Foi então que Atena surgiu para castigar-me pelas mortes que eu tinha
provocado em suas terras. Desceu do Olimpo, dirigiu-se à caverna à beira do
mar onde eu me encontrava com minha formosa amada e exigiu que eu a
abandonasse. Nossa discussão foi violenta, e Atena ergueu sua lança mági-
ca para atingir-me. Medusa se pôs entre nós, tentando me defender.
Esquecendo-se de sua bondade natural, Atena fez um gesto mágico e a
transformou num enorme dragão de três cabeças. A mais horrível das
cabeças pertencia a Medusa. Seus belos olhos negros tomaram-se armas
mortais, pois quem os fitasse se converteria em estátua no mesmo instante.
Totalmente desesperado, voltei para meu reino. Chamei Hécata, a deusa
da magia, e implorei-lhe que tentasse quebrar aquele encanto. Mas os pode-
res de Atena eram insuperáveis. Vendo-me tão triste e só, Hécata consolou-
me dizendo que Medusa e eu teríamos um filho. Seu nome seria Pégaso e
ele nasceria mesmo que sua mãe morresse. Pégaso teria a forma de um cava-
lo alado e seria uma criatura da luz, cuja missão era fazer o bem e trazer a
felicidade aos homens. Seu nascimento seria a prova de que o amor produz
sempre um bom fruto, mesmo que seja um amor impossível.
Quando Perseu, o jovem protegido de Atena, declarou que mataria mi-
nha amada, tentei fazer de tudo para impedi-l o, mas, como vocês talvez já
saibam, jamais consegui vencer a deusa da sabedoria. Ela ensinou Perseu a
usar o escudo da invencibilidade, e juntos aniquilaram minha amada, como
se ela não passasse de um monstro desprezível.
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GAlA
Aliás, tive doze filhos. Cronos, o deus do tempo, é meu caçula. Houve
uma época em que ele reinou sobre o mundo. Mas, infelizmente, Cronos
não soube usar seus poderes e transformou-se num temível tirano. Tolerei
seus atos o máximo que pude. Porém, quando ele tentou matar Zeus, fui
obrigada a agir...
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cia das águas e aos poucos notei que a cena ali estampada mostrava o
pequeno como o futuro senhor do universo.
Certa de que Cronos ficaria feliz em saber que seu poder seria herdado
pelo próprio filho, comuniquei-lhe o que o destino lhe traria. Cronos enfu-
receu-se. Fez as horas começarem a correr e os homens a envelhecer. Para
ele, desfrutar de um poder eterno era mais importante do que a vida de
Zeus.
Tentando proteger a vida de meu neto, voltei ao lago mágico para desco-
brir o segredo do futuro. Ao fitar novamente as águas prateadas, percebi que
o futuro está sempre em movimento e que o gênio que as habitava era uma
espécie de conselheiro indicando-me as escolhas possíveis. A primeira cena
mostrava a morte do pequeno Zeus. Afastei-me das águas, revoltada. De-
pois, reuni toda a minha coragem e as observei mais uma vez. A segunda
cena refletia minha imagem dentro de uma gruta. Foi então que fiquei
sabendo o que deveria fazer.
- Réia, entregue seu bebê para mim imediatamente. Cronos não pode
vê-Io -, fui dizendo assim que entrei no palácio de meu filho.
Chorando, a bela Réia passou-me a criança envolta num lindo tecido
branco. Eu o abracei com todo o carinho. Auxiliada por meu companheiro
Urano, corri até a gruta secreta e escondi o menino num cantinho acon-
chegante. Chamei uma ninfa para cuidar bem dele.
Quando regressei ao palácio de Cronos, encontrei todos em polvorosa.
- Onde está meu filho? -, gritava o deus do tempo, andando de um
lado para o outro.
Seu comportamento deu-me a certeza de que, infelizmente, meu filho
havia enlouquecido. Obedecendo ao conselho das águas mágicas do futuro,
entreguei a Cronos uma pedra do tamanho de um bebê envolta no mesmo
tecido que Réia usara para cobrir a criança. Cronos transformou-se num
gigante imenso e no mesmo instante engoliu o pacote inteiro. Convencido
de que havia destruído o próprio filho, a quem via como um rival, o deus
do tempo partiu para a terra, alegre e satisfeito.
Zeus cresceu em segredo e muito amado por todos os que o conheciam.
Quando se tomou um jovem, ganhou suas armas principais: o raio, a tem-
pestade e os trovões. Ele sabia que no futuro teria que enfrentar o próprio
pai. Para exercitar-se, montava nas nuvens, provocando as chuvas e fazendo
raios cortarem os céus. No início, os humanos assustaram-se muito. Bem,
para dizer a verdade, até hoje seus pequenos filhos temem as brincadeiras
de Zeus. Foi esse o motivo por que meu neto permitiu que os humanos
descobrissem uma parte do poder dos raios e o usassem em benefício
próprio. Mas isso já não pertence às histórias do início dos tempos...
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ZEUS
Para mim, é difícil explicar o que significa ser o deus dos deuses. Ter
o poder supremo da decisão, determinar os destinos das criaturas do uni-
verso, manter a ordem e a justiça na terra e nos céus.
Amo o conhecimento, as luzes, a filosofia, as artes da cura e as grandes
cidades. Amo também as mulheres. Jamais resisto aos seus encantos. Sou
casado com Hera, deusa belíssima, protetora dos casamentos. Porém, em-
bora eu a queira profundamente, continuo me apaixonando por lindas
jovens. Foi desses amores proibidos por Hera que nasceram Atena, Apolo'e
Ártemis, por exemplo. Os ciúmes de minha mulher sempre me causaram
inúmeros problemas e passei grande parte da vida protegendo os filhos
nascidos de meus romances proibidos. Hera nunca aceitou minha principal
missão divina que é fertilizar os seres, gerar criaturas excepcionais, aproxi-
mar os humanos dos deuses, criar jovens semideuses de talentos insupe-
ráveis. Além disso, ela jamais compreendeu a solidão de quem tem o poder
supremo e é responsável por todos os atos do universo.
Portanto, minha vida tem sido marcada pelas desavenças com Hera e pela
disputa com meu próprio pai, Cronos, o impiedoso deus do tempo...
Fui criado por ninfas, no interior de uma gruta secreta, longe dos olhos
de meu pai. Alimentado com mel e leite, fui muito amado por minhas do-
ces protetoras.
Cresci desfrutando da beleza da natureza, caminhando pelos campos e
praias, nadando em águas salgadas. Mas chegou o momento em que senti
que precisava finalmente enfrentar meu próprio pai. Chamei Métis, a deusa ZEUS
da prudência, para que ela me aconselhasse. Como poderia conquistar o Deus dos céus
poder que me fora destinado? Como poderia tornar-me o deus dos deuses, Protege a ordem
o senhor supremo do universo? e a justiça.
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A cada um de nós, filhos e adversários de Cronos, foi entregue uma arma
especial. Eu recebi os raios e trovões; Hades, meu valente irmão, recebeu um
capacete mágico que o tomava invisível; e Posêidon, o magnífico deus dos
mares, recebeu seu poderoso. tridente cujo golpe rompia terras e águas. E
assim, munidos de novos poderes, enfim triunfamos.
Após nossa vitória, repartimos o universo. Hades decidiu reinar nos
mundos subterrâneos e secretos, Posêidon, no universo marinho, e a mim
foram dados os céus e o trono de senhor do universo.
Fui encarregado ainda de governar o destino dos homens. À porta de
meu palácio, tenho dois enormes jarros. Um deles contém os bens da vida,
e o outro, os males. Ao longo da existência de meus súditos humanos, espa-
lho um pouco do conteúdo de cada um dos jarros. Infelizmente, já me des-
cuidei al~mas vezes; em conseqüência disso, certas pessoas foram premia-
das com uma vida de alegrias, e outras, com uma vida de tristezas. Mas
tenho sido mais cauteloso ultimamente. E também generoso. Em especial
parc:lcom vocês, que agora me ouvem confessar esses segredos.
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L. I /
...
CRONOS
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o
excepcional; sua sensibilidade e criatividade, magníficas. Permiti que ele
descobrisse como sou relativo, como também ordeno as leis do espaço.
Afinal, sou filho de Urano, deus do cosmos.
Meus problemas com Zeus iniciaram-se antes de ele nascer. Quando
Caia, minha mãe, a deusa capaz de prever o futuro, afirmou que um de
meus filhos me mataria e tomaria meu lugar, enlouqueci. Acreditei total-
mente em suas palavras. E esse foi, na verdade, meu grande erro. Não perce-
bi que o futuro pode ser modificado.
Engoli todos os meus filhos. Não os matei: apenas mantive-os presos
dentro de mim. Minha era não havia terminado. Eu ainda tinha muito o
que fazer.
Quando Zeus veio à luz, Caia o escondeu de mim. Depois o criou e o
preparou para enfrentar-me. Assim, iludido mais uma vez por minha mãe,
que na verdade controlava a todos nós, fui vencido e aprisionado.
Passei séculos acorrentado. No mundo, tudo acontecia com muita lenti-
dão. A vida na terra era marcada pela falsa lógica dos dias, horas e noites.
Até que, inesperadamente, Zeus me libertou.
- Percebi que era jovem demais para reinar sozinho sobre o universo,
meu pai - disse, ao soltar minhas correntes. - Quero que venha comigo.
Tenho muito o que aprender.
Mudamo-nos para a ilha da Felicidade e, no mundo terrestre, teve início
a era de ouro.
Nossos súditos humanos não tinham preocupação alguma, viviam sem
trabalhar e alimentavam-se unicamente de frutos silvestres e de mel, sacian-
do a sede com leite de cabra. Tendo o tempo mais uma vez sob meu contro-
le, ordenei que as horas parassem de passar e a humanidade deixasse de
envelhecer. Foi a era da eterna juventude. Todos dançavam e se divertiam
muito, e a morte não passava de uma boa noite de sono.
Infelizmente, a humanidade não soube ser feliz por muito tempo. E co-
meçaram a surgir homens de outra natureza, os homens da era de prata.
Briguentos, inquietos, desafiavam meus súditos para lutas e depressa os
matavam.
Por isso, antes que meus queridos súditos desaparecessem completa-
mente da face da terra, transformei-os em espíritos. Depois mandei que se
ocultassem no fundo das grutas, no coração das florestas e no centro das
montanhas. E até hoje eles vivem, oferecendo sua proteção aos seres de
alma alegre, aos humanos que, como eles, amam a natureza e a felicidade.
Mas sei que um dia a era de ouro voltará.
Deuses e homens viverão em harmonia com o universo. O tempo se
desdobrará e todos os medos desaparecerão. Para que isso aconteça, porém,
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é preciso acreditar na força da vida e confiar em nós, os eternos protetores
da humanidade.
Será que vocês, humanos, conquistarão a felicidade, finalmente?
Isso, meus amigos, só o tempo dirá!
Mas uma coisa eu posso lhes contar. Nossa era não acabou! Estamos em
todo lugar. Continuamos a falar entre nós, a brigar entre nós, a inventar
novas versões de nossas aventuras, a invadir a imaginação das crianças e dos
adultos para que nossas histórias nunca tenham um fim! E estou certo de
que, se vocês olharem ao redor, prestando bastante atenção, logo reconhe-
cerão a força mítica de nossa presença...
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Gostou do livro?
Quer poder lê-lo sempre?
Peça de presente aos seus pais!
Um beijo,
Professora Femanda