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Pequcno quc. por sua vcz. no número seguinte, apreciado. Depois de duas reprovações segu: itril. LlrLr \,, _

lhc dcdica uma da sua autoria. Também Pad Zé natricula-se na Sorbonne. cm Paris. para pr,, ..foaltlfrr\a lil
lhc dedica um «enigma tipográfico» (n." 7). guir os estudos. O episódio da documcnr.,
Pllrli[ (lo PrL']r
pedida no consulado. então chefiado por Er. ' .,rhrc lr LrrlL.,-
\'ld] clú Pni t?itl do Síhir
Oll
Queirós. dá azo a uma carta a Albcno de . trlrlar. I'rr r , .
(NoÍrRE 1967. 1982: 126-135) de exccpir Lr lri itlLLJrrl,,
NOBRE, António (1867-1900). Nascido qualidadc. excrrplar do alto nível estilisrri .,,r lLr, \r
nunra familia de comcrciantcs c proprictários correspondência que abundantemente Nobr! 'r.'. ll rrrlrlLLrLi .
rurais do Alto Douro. António Pereira Nobre duziu ao longo da.ua cuna vida: c.tc cn. . .io .!ril: t,r .i
escreve os versos mais antigos que se lhe conhe- c. aliás. relevantissirno para sc conheccrc" . itn ISL)S iL
c(lll ao\ quIl,/e ano:. c lug,.r rlcpot. pantctpa cm scu\ gosto\ litelarro. e dtlstico:. poi\ (' .
- rtllrilr, lLtLl,, r
cfómcras revistas literárias no Porto. som scu alérn cle elenrentos pertinentcs para a bio.-- 'r.. rll(lraiLi\.
irmâo Augusto. Júlio Brandão c outros. Em l8E8 inÍbrmaçôes sobre autores lidos e pessorlr'. .lLr. tlnLLr 1,,.
inicia estudos de Direito em Coimbra. en idade conhccidos. Intenompidos os cstudos por d ' . alt)\it fa\ L\l
tardia para o habitual na época; Alberto de dades monetárias. pâssa o ano lectivo clc . ..i,, Llo lrr,' .
Oliveira (1873-19,10). amigo e companhciro dc -9J na casa da familia no Seixo. regrcs:l: ...1.1t1,. lt tl lt' .
versos, pol cxcmplo. entra cour quinze anos: Pa s para sc licenciar em Dezembro de Il,)i .lll(lalll Llllrll
outros contemporâneos de Coimbra sào Eugénio 1894 Íàz concurso para cônsul, mas nào eh- . , fl\n\ lf L
de Castro (1868-1944) c Camilo Pessanha (nasci- oclrpar o lo.lo quc lhe é atribuido t Pr',,ro" .. . '- ,, ]iiI.L ]

do também em 1867. como Nobrc c Raul aqui se inicia urr calvário de doença que o ... (r\ lr\)( jti i
Brandilo). Vâsco dâ Rocha e Castro. Agostinho de panhará alé ao fim: constipaçôes succsr \,, j/,r,.
Canrpos e António Homem de Melo (que haveria pulmôcs atacados acabarão por levar ao dr..- ,, \ Lr Lt tjr..
dt'ser.pai do poeta Pcdlo Honcm dc Melo). tico de tuberculose. Procura mclhoras errr , . .,.1, iL (
E lclcrantc ntcncronar cstcs nomes porque a rios suiços. na casa famitiar do Seixo i,LL - .r Lilll r'll1.1'
geraçào dc (oin1bÍa. mais trrde dita de 90. sc iflnào Augusto na Foz. na zona saloia pl - t.L'ltlt\, ,

cn\ol\cu cm a\cnturas Iltqriirias. nonrcadalrente Lisboa. e em viagens que a mcdicina dr - . t,,,,..


aqLrcl.r. de quc tcrros rcfi.to nr5 rc\ i\lJ. pensava aiudarem os docntes do peito Ídc:- -::, r, atl
Boheniq Notu c Os /a.ça/rnri.rsos. publicaçires tlântico. até aos Estados Unidosl em l3q\ ','i l'i, --.
juvenis conr un Iado jocoso. trocando galharde- dia na Madeira, e ainda viagem por buli . .i.L ..1r.
tes entrs grupos rivais mas o riso cobre polé- regressar aos sanatórios alpinos). Cada r.. .-,,r,i..
rricas acerca de tipos de verso. de rilmo ou de iiaco. passa os últimos meses de no\ o ( - ..i .rl
acentuaçâo (como a importante querela sobre a Seixo e a Foz, no Pono. onde acaba por '
técnica do alexandrino trimetro). revelando co- Estes elementos biográficos são relc\irn:.. ....
nhc, irncnttl actualrzaJu do quc .c lazia ru pocsia duas razões: primciro. porque se trata d!'r,
lranccsa costânea. De lacto. inovaçôes poéticas curso comurr a nuitas outras penonaliduil-.
trazidas por Vitor Hugo e pelos poetas sirrbolis- les anos finiiiecularcs. quando
'e dr.i,,r
tas lianco-belgas chcgavam a Coimbra através de tratamento para o bacilo de Koch: sc!1. '. .1.'.
fe\ilH.. pennitindo ros joren. ponugue'er crtar sobretudo. para contrariar a ideia ds qL.,
ver.o' de Lrlbrgue. \ rclló-Crrlfin c outro.: a i.tu (1892. 1." ed.. e 1898.2.'ed.) e «o livlo nr., .

acrescem as direcçôes temáticas que os poetas te quc há cm Portugal» (verso de Mc»rr)r'r,r.


lirncólbnu. estio a d(.cnlrrr. num rnor irnento cado em cinta das sucessivas edições Llu L
que alastra pela Europa o Sirnbolismo. Tavarcs Maftins). pois Íiri escrito por um r.
-
Durante os anos lectivos passados em Coimbra, loso ora os poenas que cornpõcnr L

António Nobre panicipa nas rcvistas, e torna-se taÍÍo na edítb pt inLep.{ como na 2.'. li)rirr'
conhccido por cxtravagâncias de dândi (traje aca- tos antcs das manifestaçôes da tisica. A dL,,
démico ressuscitando peças caidas em desuso: quc no livro se fàla é <<da Alma», muilo dc
acessórios que mais tarde Alberto de Oliveira poética simbolista e finissecular. cm quc .
descreveria como da sua «idade do lerro» creve: alguns poemas cotn marcas expcnr--
botões de punho e alfinctc de gravata leitos de r'isiveis são mesmo bastante anteriorcs ir ..
pregos retorcidos), que os lentes parecem não ter l." edição sirva de exemplo Crtr/r/r,
-
NOBRI

-r/r/. que Nobre publicou em 1883 na


:onuense A Mocidade de Hoje, poema to
rartir do próprio titulo, se nota já um tra-
.,bre a linguagem que os modernismos
- :rrtar Em vida, Nobre editou apenas um
o já aludido Só, publicado em 1892 em
:.rr Léon Vanier (editor de Verlaine.
'rc. Rirnbaud e outIos. como se lê na con-
,*
h
Jo Só); revista profundamente esta edi-
cm 1898 a segunda, consolidando uma
, xluito autoconsciente e autocriticat as ffi
-lXI
-r:.
radicais, mostram um trabalho poético
do. tanto nos cortes e acrescentos. como
.iiosa revisào dos poemas, acentuando a
L
.,cào do livro como edificação complexa ra

ffi
.uicito, através da ordenaçào em secçôes
::rtituem uma biografia mitico-simbólica,
': rersos tecnicamente perfeitos. Postu-
:.'r'iram a luz Despedidas (1895-1899),
ro os poemas escritos depois da primeira
:o Só. e Prímeiros Ver,ços (1882-1889):há
.,rios volumes de cartas, de que deve dar-
'.rgoc à Corresponcléncía (196712.' ed.
J Jumentada. lq82t edirada por Cui- {ntón io Nobre por António Carneiro. I g I I
Jc Castilho. Considere-se ainda Alicercet.
lL Livro dc Apnntaneutoç. que Mário
cditou em 1983, escritos em que é possi- pentassílabos; na segunda voz. quintilhas partidas
,r /iel'i processos depois muito trabalha- em disticos e teÍcetos de ritmo e verso inegulares)
-.0 da terceira pessoa para se referir ao ea, e de Íbrmas poéticas. indo do poema longo ao
-ic como personagem, já marcada por um soneto. ao poema paradramático (2." painel de
: dandismo e de narcisismo; as listas, pre- Males de Anto) ou ao rimancc (Os Catuleú.os).
Jo as ladainhas e as metáforas em cascata A esta ductilidade de processos subjaz o conheci-
r cm cena os auxiliarcs de memória que mento múltiplo da tradiçào: Nobre leu bem
m ao sábio uso da hipotipose e da apóstro- Camôes lirico e épico, Carrett (presta-lhe homena-
rando tudo o que foi e não volta mais; a gem, como a Júlio Dinis, em l/iagens na Mhho
rda estesia das emoções, dada retorica- ?Zlrza), Joào de Deus e Antero ou Junqueiro; conhe-
,cla distanciaçào entre o sujeito que escre- ce bem, igualmente, o romanceiro e diversas for-
nratéria escrita. Costuma aliás dizer-sc. mas de poesia popular. sacra ou profana reja-se
mcnte, que a poesia de Nobre é simples, a presença das ladainhas. das litanias e das cançôc.
:làcil mas tal só pode pensar-se se não de cmbalar E é devedor da lmitação de Cristo e da
r,.1c'rar a literatura como trabalho poótico, Bíblia em gcral (daí vem a glosa do melancólico
Çào retórica e poética de efeitos. Basta ubí sunt?; aí aprande a emulaçào entre Anto e uma
\er. na esteira das experimentações de figura cristica. tratada com a tintagem crepuscular
lc. o muito elaborado uso do alexandrino. da mclancolia), como da religião popular (cf.
cular nos poemas em quc ele altema com o Lusítânia no Bairut Ldllro, I, e pas.§,,r,). Além dos
rbo ou com versos mais curtos: ou então poeras franceser do Simbolismo. Iidos em pnmeira
c na variedade de estrofes (em diversos mâo com os compaúeiros de Coimbra. leu algurn
criando um efeito coral, de duas vozes que Shakespeare: ao iongo do Só encontramos Lear.
ndem em eco; por exemplo, ,4rtórlo; na Macbeth e sobretudo Hamlet, o principc da melan-
roz. quadras altemando endecassilabos e colia. cuja alma mais profunda só ele mesmo vê;
\OCT'EIR,\

«Nleses depois. num cemitério». segundo painel de ainda pelo saber de vcrsos tão trabalhados quc o
.lldlcs de Anto. começa por ser um pastichc da ccna incautos os tomam por Íàceis. o Só teria que s.
de Hamlet com o coveiro: e há um muito simbolis- valorizado pelos Modemistasl tcmos disso pro\ x
ta Lnrun de OLlio {de que Saaiu /r'rn é rrriaçàu. claras. Sá-Carneiro compôe a sua figura de poct
curnbinando a rnatnz shakespeariana corr o rirran. como um dándi cntediado muito prórrrr,',:
ce recolhido por Garrett).
Sri é um iivro dc c/ tr.r/e, no sentido da nlais
\obre. e dedrca-lhe o poema,4rlo tern /rr,1,,
de Oilr?). rctrato cubista do autor daquela iróni.
G
avançada estesia simbolista: reside porrentura ai Cunção da Felit'idade que faz pensar r'
muito do que lcvou ao interesse dos de Orpheu Carunguejolu. Pessoa. por seu lado. tcstcmunh..
pelo poeta de PuriuhLr. De facto. António Nobre .ua admiruÇào nurnr peça cenlral da hislorir.
Í'oi. na sua obra maior. antecessor dos modemis- ca do poeta da «Tisica d'Alma» (Mules dc.1t
t
lr\ ern di\ersos arp(clo§: anles de mais. criott I) ,Par,l a Vemória de Anrónio \obrc,, rp.
para si mesmo um nome c. mais. uma persorar cado cm A Golera.5-6, 25-2-1915): na sua hr.
o intervalo entre a vida e o sujeito represcntado daJe. c*tr: tcrto elcgraco conÇentra lof
complexifica-se a partir da criaçào de um a/lel centrais da poética de Pessoa e dos de OrTrlrt r,
1
-

ego. António. também dito Anto. cssc nome a l9l5: a consciôncia da lingua como material l'
caminho do pseudónimo. entre o erl adulto que se mático. o to crepuscular. a inÍància como p.,
gem onirica e perdida. a ingcnuidailc n:
vê como outro na infância ou na sua obscura face
lunar. herói épico rnas também anti-herói. fcrido caeiriana. um exilio mais metaÍisico quc rr
í-,,7 //,v,12
ou derrotado colno o errante «lusiada. coitado». tristeza visceral. muito antiga e senr,
assumindo as ilores do mundo como uma figura Rcconhcccr cm Nobrc a raiz c a súrlull l, \4a\ \!.J.1
clistica. Na sua face frágil. o sujeito acolhe-se a sào os de Orpleii. afirmada naquele l.r:
unra nriticl màc ou anra. ou cria uma amada «Quando ele nasceu. nascsmos lodos n..
ideal. tào «purinha» que mais parece erguer-se l0l )dotextode Pe'soa.ei' urna eridêrr..: .
num castelo de areia ou de nuvens: por sua vez. a huje: ma. dizi-lo crn lQl5. i..u.irn. r.*,.'
amada espelha as «meninas dc Portugal». crgucn-
do o estandaÍc épic0 a partir do lri\ial quotidiano BIBL.: CrNrRA. Luís Filipe Liidley,(] Rr,,,,
quc Anto \'ô com a tristeza dos melancólicos. ou de Ántónio Nobrc, etJ. Pâulâ Morào, Lisboa, I\-(

ffi
aludindo à matriz deceptiva dc Bcmardim Ribei'
MoRÀo. Paulâ. O Só dc A tó b Nahrc Li'tn
Àbmí. Lisboa. Câminho. l99l: José (xÍ,
ru r cl. Vr'l,/a,,,',4/u( u e 1,.i.\ \l/, I para lern:ll i/lr,'
PERETRÁ.

AnlÍitia Noht'. húeto e Destilo. Porto. Ed"'


paraiso perdido da inlància c o pcrfil solar de urn tim.2000.
eri que cada vez nrais mergulha no poÇo de um
Narciso decadcnte (como se lê em versos de
lvlales dc Anto). Sonetos há que antccipam clara-
mente o infantilismo dândi de Sá-Cameiro (lcia- NOGUEIRÁ, Madalena ( 1861-l9li
-se o n." 3: «Na praia lá da Boa Nova. um dia.,1 da de urna familia açoriana. a rnàe J.' I
/ Edifiquci (foi esse o grande mâl) /Alto Cas- Varia Vadalcna Pinheiro Nogueiru
telo,,). oLr o Sa-Clrnciro e o Pessoa intericict,.r- Angra do Herorsmo. em l0-12-llt l. n,.,
nistas (soneto l3: «Falhei na Vida. Zutl Ideais ano\ \eio de \e/ para o Conlrnenlc. Ir'
caidos!»). ou a encenação do sujeito cindido que merro no Pono e depois em Lisboa.,,r J.
tào cara Íbi ao Orpheu. cspraiando-se na tela da director-geral no Ministério do Rcin,
:ncmória conro em air.\rl.inia no Bairxt Luli inrulglnnente culta para a sua epor.'
,,,: n!{lc frocrnl hi urn passo de Inler.erci,)ni\rno um colegio rnglô. na capital e domin.rr...
puro. quando. na sccçào I. se procede ao inventá- Jo inglê.. a lingua francesa. As.rdLr ,
Iio do que foi e já nào é. e se interrompc a ladai- livros. também escrevia vcrsos (No(,
nha corr um vcrso dc outro mundo: «O lugar de 3l-32). Casou, ern 5-9-i887. com JoaqL.
Rotdão.t vlla de Perolita.ll Al,Jeta t)c Gonçohe.;.' bra Pessoa. de quem teve Femando c L.
.I1e.r/i.'o.§d./ / Engenheiros medindo a estrada com filho. Jorge ( 1893-1894), falecido mcn,

ffi$***
.

a Íita... i Agua fresquinha da.4rroiosal». Qucr ,neses após a morte precoce do pai. Enr .i

ocla. temática". quer pelas técnica. pocricas. quer casou. em segundas núpcias. corr o,

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