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D a c r ít ic a e d o s e u e x e r c íc io V ol.

T rês e n s a io s d e
LITERATURA MEDIEVAL
GALEGO-PORTUGUESA

Leodegário A. de Azevedo Filho


(Professor Titular Emérito da UERJ
e Professor Titular da UFRJ)

Sociedade Brasileira
de Língua e Literatura

E ditora A gora da I lha


X rês vezes premiado pela Academia Brasi
ira de Letras (Prêmio José Veríssimo, de Ensai
Erudição; Prêmio Sflvio Romero, de Crítica Lit
a. e Prêmio Machado de Assis pelo conjunt<
obras). Professor-Visitante em várias univer
ades européias (Portugal, Espanha. França D a CRÍTICA E 1)0 SEU EXERCÍCIO VOL. I
lemanha). sobre a obra de Leodegário A. de ^
jAzevedo Filho, que é Titular Emérito da UERJ,
Titular da UFRJé atual Presidente da Academia f '
js Brasileira de Filologia além de Delegado Perma­
u nente do Brasil junto ao Programa Interamericano ü - -
de Lingüística e Ensino de Idiomas, duas vezes : , .
condecorado pelo Governo de Portugal, assim
; se pronunciou a crítica especializada nacional e &
Ifstrangcira: g
) 1- Nos domínios da crítica textual, em cada
i século, aparece uma edição crítica como a que , '_
Leodegário A. de Azevedo Filho vem fazendo -
da obra lírica de Camões, publicada pela Impren­
sa Nacional - Casa da Moeda, de Lisboa. Antò» - U T
Três ensaios de
nioHouaiss (Brasil). '«ÉS

| 2- Infatigablcchcrchcur. auteurdeplusde ' , ,



literatura m edieval
cinquante ouvrages. de plus nombreux articles - :
et comptes-rendus. rédigés soit en portugais, »
soiten I une queleonque des langues majeures galego-portuguesa
d ’Europe (français. allem and, anglais,
espagnol). Leodegário A. de Azevedo Filho ría
*ul besoin d’être présenté au lecteur. S o » O ^ R
ouvrage est consagré au poète-jongleur gale-^f^J^
go-portugais Pero Meogo, et à ses neuf Ccinti
gas de Amigo, qui figurent aussi bien dans 1 Leodegário A. de Azevedo Filho
Cancioneiro de Ia Vaticane. que dans celui c (Professor Titular Em érito da UERJ
Ia Bibliothèque Nationale de Lisbonne. Rog e Professor Titular da UFRJ)
Bismut (França).

3- Está. pois. de parabéns o professoi


Leodegário A. de Azevedo Filho e a Editora que 2000
se abalançou ao empreendimento. Com a Cole- í ' ,
çâoOskar Nobiling. a filologia brasileira dá um
passo à frente. Sílvio Elia (Brasil). %
Sociedade Brasileira
4- Metódico, profundo, com cl rigor , de Língua e Literatura
filológico y Ia sólida erudición indispensahlea K ’**'**
para una edición crítica de alto nível. Penvjgjf „,
además, há logrado conformar a las exigencia*'- /
dei método filológico, instrumentos valiosísimo*v , A
de la nueva crítica, demostrando qué sutilcat e iflgl
facetas textuales quedan iluminadas cuando es» ^ p *~
, tas herramientas ríuevas se manejan y aplicaí^Ç^
■ com seriedad y sabeduria. Raúl Casta E ditora A gora da I lha
(Argentina).
F ich a c a ta lo g r á fic a

A Z E V E D O F IL H O , L eodegário A. de
T rês en sa io s de lite ra tu ra m edieval g a le g o -p o rtu g u e s a /
L eo d e g á rio A. de A z e v e d o F ilho
72 p á g in a s - R io de Ja n e iro , ju n h o de 2000

E d ito ra Á g o ra d a Ilh a - IS B N 86854


T eo ria lite rá ria CDD - 801
E n sa io s em P o rtu g u ês 869.4

COPYRIGHT: Leodegário A. de Azevedo Filho.


T el.: (0 xx 21) 522-5155

T R Ê S E N S A IO S D E L IT E R A T U R A
M E D IE V A L G A L E G O -P O R T U G U E S A
P ara

Angel M arcos de Dios


Antonio Gil Hernández
Rio de Janeiro, junho de 2000 Carlos C ésar M orán Fraga
José Luís Rodrigues
Juan M. Carrasco
Luísa Trias Folch
M aria do Am paro Tavares M aleval
M aria do Carm o Henriquez Sal ido
M aria Consuelo Cunha Cam pos
N élidaPinon
Editor: Paulo França Nicolás Extrem era Tapia
Reynaldo Valinho Alvarez
E ditora Á gora da I lha Xosé M anuel Dasilva Fernandez
T el.F ax: Oxx 21 - 393-4212
agorailh@ruralrj.com.br
S u m á r io

P rólogo....................................................................................... 7

Algumas achegas para a história da edição crítica de textos


medievais galego-portugueses no Rio de Janeiro......................13

Um a leitura de Pero M eogo............................................ 23

Um a leitura de M artin C odax..........................................43

B ibliografia básica...............................................................57

Principais obras do autor......................................................67


P rólogo

D o século XII aos meados do século XIV, a poesia dos


trovadores medievais galego portugueses foi cultivada na Península
Ibérica. Não apenas na G alizae Portugal, pois a voz dos trovadores
e jograis também se irradiou por Castela, Leão e Aragão. Os tro­
vadores mais antigos, por certo, são D. Sancho 1 (1 1 5 4 - 1211) e
João Soares de Paiva, que nasceu por volta de 1140. Paio Soares
de Taveirós - autor da famosa cantiga da guarvaia, que D. Carolina
Michaèlis de Vasconcelos julgou fosse dedicada à Ribeirinha (D.
Maria Pais, amante de D. Sancho I) e escrita em 1189, na verda­
de, é autor da primeira metade do século XIII. Desfaz-se assim a
difundida hipótese de ser a cantiga da guarvaia a mais antiga
composição poética dos cancioneiros medievais.
Todos os textos dos trovadores medievais galego-portugueses
são apógrafos dos fins do século XIII ou princípios do século
XIV. A poesia lírica occitânica, ao penetrar no domínio galego-
português, já encontrou as deliciosas cantigas de amigo, como
forma nativa da versificação peninsular. Aliás, a linguagem arcai­
ca dos cantares de amigo atesta a sua longa tradição peninsular,
em form a paralelística.
Os textos foram parcialmente transmitidos em forma manus­
crita, pois não havia imprensa na época. Tais textos integram o
acervo ou corpus poético dos trovadores galego-portugueses e fo­
ram conservados nos seguintes códices apógrafos.
CA = Cancioneiro da Ajuda, copiado em Portugal em fins
do século XIII ou princípios do século XIV. Encontra-se na
Biblioteca da Ajuda, em Lisboa. Das suas 310 cantigas, quase
todas são de amor.

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

CV = Cancioneiro da Vaticana. Trata-se do códice 4803 ou de donzela, próprios da lírica medieval galego-portuguesa, foram
da Biblioteca Vaticana, copiado na Itália em fins do século XV ou importadas da lírica occitânica as cantigas de amor, havendo
princípios do século XVI. Entre as suas 1205 cantigas, há compo­ inclusive interpenetração entre os dois gêneros, conforme ensina o
sições de todos os gêneros. tratado métrico fragm entário que precede o Cancioneiro da
CBN = Cancioneiro da Biblioteca Nacional, de Lisboa, antigo Biblioteca Nacional, de Lisboa. Além desses dois gêneros,
Colocci-Brancuti, copiado na Itália em fins do século XV ou distinguindo-se um do outro pela voz feminina ou masculina que
princípios do século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do primeiro fala, há as cantigas de escárnio, que dizem mal de alguém
Conde Paulo Brancuti do Cagli, em Ancona, foi adquirido pela veladamente, e as cantigas de maldizer, que dizem mal de alguém
Biblioteca Nacional, de Lisboa, onde se encontra desde 1924. En­ abertam ente. Tais cantigas podem ser ainda de refrão (com
tre as suas 1664 cantigas, há composições de todos os gêneros. estribilho) ou de meestria (sem estribilho).
M = Apógrafo seiscentista de uma tenção entre Afonso Sanches Sobre as origens dessa poesia lírica, não tem havido acordo
e Vasco Martins de Resende (= CV 27 - CBN 416), que vem à entre os especialistas, nem vamos entrar aqui na longa discussão
folha 25-rda miscelânea Cc 99 da Biblioteca Nacional, de Madri. do problema, muito bem estudado por A. J. da Costa Pimpão, no
P = Outro apógrafo seiscentista da tenção supra, encontrado livro História da literatura portuguesa - Idade Média. Coimbra,
na miscelânea MS 4 19 (= n° 72 da Coleção Azevedo) da Bibliote­ Atlântida, 1959, p. 146; e por M. Rodrigues Lapa, no livro Das
ca Municipal, do Porto. origens da poesia lírica em Portugal na Ulade Média. Lisboa,
PV = Pergaminho Vindel, copiado na Galiza em fins do século Seara Nova, 1929 e, tam bém , no livro Lições de literatura
XIII ou princípios do século XIV. Trata-se das sete cantigas de portuguesa: época medieval, 4a ed. Coimbra Editora, 1956. Em
Martin Codax (= CV 884 - 890 - CBN 1278 -1 2 8 4 ), seis delas resumo, o que se pode dizer é que as diferentes teses existentes (a
acompanhadas de notação musical. Foi descoberto em 1914 pelo arábica, a clássica, a folclórica e a latino-litúrgica) não explicam
livreiro-antiquário espanhol Pedro Vindel. pacificamente a intrincada questão, pelo menos de m odo único.
V.a = Cópias de princípios do século XVI de cinco lais que Em conclusão, a poesia dos trovadores galego-portugueses
também se encontram no CBN. Fazem parte do Cod. Lat. e 7182 se estende, como no início assinalamos, do século XII, quando foi
da Biblioteca Vaticana. fundada a nacionalidade portuguesa, até a primeira metade do século
E = Códice j. b. 2 da Biblioteca do Escoriai. Trata-se do mais XIV. Após a morte de D. Dinis, em 1325, a lírica trovadoresca
completo dos manuscritos das Cantigas de Santa Maria. Além do entrou em declínio. Na realidade, depois do desaparecimento do
texto poético, traz notação musical das cantigas e miniaturas. rei-trovador, em matéria de poesia, o que nos resta é o Cancioneiro
F = Códice II, 1,213 da Biblioteca de Florença, sem qualquer Geral, de Garcia de Resende, com as suas composições coligidas
notação musical. de 1511 a 1516, embora muitas sejam de data anterior. Há, por­
T = Códice da Biblioteca do Escoriai. Apresenta notação tanto, do lirismo trovadoresco ao Cancioneiro Geral, mais ou
musical e miniaturas. menos um século de poesia portuguesa que jamais foi recolhida
Tol. = Códice chamado toledano, por ter sido encontrado na por nenhum copista ou que então se encontra perdida. E o chamado
Biblioteca Capitular de Toledo. Atualmente pertence ü Biblioteca século sem poesia, pois os livros de Trovas de D. Afonso ou de El-
Nacional de Madri, onde está classificado sob o número 10069. Rei, que existiam na biblioteca de D. Duarte, bem assim o livro de
Não apresenta miniaturas. Trovas de D. Dinis, desapareceram. Indiretamente, para o estudo
Sobre as diferentes edições de textos medievais portugueses, desse período, recorre-se ao Cancioneiro de Baena, entre outras
além da bibliografia de Silvio Pellegrini (Repertório bibliográfico fontes castelhanas.
delta prima lirica portoghese, M odena, 1939), consultar: Neste pequeno volume, reunimos apenas três ensaios ligados
Bibliografia de textos medievais portugueses, de Maria Adelaide ao tema, procurando valorizar tais estudos universitários, além de
Valle Cintra. Lisboa, 1960. publicar integralmente os textos de dois grandes jograis galego-
Quaiito aos gêneros cultivados, além dos cantares de amigo portugueses, que são Pero Meogo e Martin Codax. No fim do

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volume, a bibliografia apresentada é apenas básica, pois se trata
de matéria altamente especializada e que envolve centenas de livros
e artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, como se
pode ver no grande Dicionário dei literatura medieval galega e
portuguesa , organização e coordenação de Giulia Lanciani e
Giuseppe Tavani. Lisboa, Caminho, 1993.

gumas achegas para a


história da edição crítica
de textos medievais
galego-portugueses
no Rio de Janeiro
A s raízes histórico-filológicas da edição crítica de textos
medievais galego-portugueses no Rio de Janeiro se encontram, ainda
timidamente, na obra do ilustre historiador Francisco Adolfo de
Vamhagen, como se pode ver em O livro das cantigas do Conde
Barcellos (Madrid, 1849) e Trovas e Cantares de um códice do XIV
século. Assim, antes mesmo da importante edição crítica do
Cancioneiro da Ajuda (1904), levada a cabo pela competência
filológica de D. Carolina Michaèlis de Vasconcelos, o historiador
Vamhagen já havia divulgado textos daquele Códice. E prosseguiu
em seu trabalho pioneiro com a publicação Cancioneirinlio de trovas
antigas de um grande Cancioneiro da Biblioteca do Vaticano
(Vienna, 1870), em sua primeira edição, ainda sem indicação de
autor, e em segunda edição publicada, também em Viena, em 1872.
Outros historiadores deram continuidade ao trabalho de
Vamhagen, tais como Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia e o
Com andante Eugênio de Castro, com o sempre assinalava o
professor Celso Cunha em suas aulas e em seus estudos sobre o
assunto. Mas, sem dúvida, coube ao também historiador José
Honório Rodrigues a organização e a publicação da primeira
bibliografia sobre crítica textual em língua portuguesa, como se
pode ver em sua Teoria da História do Brasil (São Paulo, Editora
Nacional, 5a ed., 1978, em particular a nota 10 da página 382).
As cantigas de D. Joan Garcia de Guilhade, de Oskar
Nobiling, tese de concurso de Doutorado apresentada à Universi­
dade de Bonn, não foram publicadas nem em São Paulo, onde o
notável filólogo lecionou, nem no Rio de Janeiro, mas em Erlangen,
no ano de 1907, já no início do nosso século. A obra bem cedo se
transformou em modelo de edições críticas posteriores, razão pela
qual a Sociedade Brasileira de Língua e Literatura, com sede no
Rio de Janeiro, instituiu a Medalha Oskar Nobiling e planejou a
publicação dos volumes da Coleção Oskar Nobiling, com duas

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego- portuguesa

edições críticas editadas. dação Pró-Memória e o Instituto Nacional do Livro, em 1983), e


O padre Augusto Magne dedicou-se com alto saber ao dos seus trabalhos na Comissão Machado de Assis, em particular
estabelecimento crítico de textos do português arcaico (e também a “Introdução” do romance Memórias póstumas de Brás Cubas,
do português médio), a exemplo de suas edições de A Demanda do que é um primor de exposição teórica de crítica textual, contam-se
Santo Graal, em três volumes, sendo o primeiro e o segundo de ainda várias edições de autores modernos, algumas feitas em
textos e o terceiro um precioso glossário (Rio de Janeiro, MEC/ colaboração, como as de Gonçalves Dias, Lima Barreto e Augusto
INL, 1944). A segunda edição da obra, fac-similare com transcrição dos Anjos. Mas, infelizmente, não chegou a publicar nenhuma
crítica do Códice 2594 da Biblioteca Nacional de Viena, apresentou edição crítica de autor medieval.
2 volumes de texto. (Rio de Janeiro, MEC/INL, 1955, 1970 e um De todos os especialistas até aqui mencionados, muito trabalhou,
terceiro volume de glossário, infelizmente inconcluso, saído em na área específica de trovadores medievais galego-portugueses, o
1967, indo da letra A à letra D). O padre Augusto Magne publicou professor Celso Ferreira da Cunha, outro grande aluno e discípulo
ainda o Livro da Vita Christi3de Ludolfo Cartusiano (Rio de Janeiro, de Sousa da Silveira. Além da publicação do Cancioneiro de Joan
MEC/Casa de Rui Barbosa, 1957 - 1968, apenas a primeira parte Zorro (Rio de Janeiro, 1949) e do Cancioneiro de Martin Codax
do livro, com 61 capítulos); o Boosco deleitoso solitário, vol. I (Rio de Janeiro, 1956, na trilha de Oskar Nobiling, de quem se dizia
(Rio de Janeiro, MEC/INL, 1950); o Castelo perigoso ( Revista discípulo longínquo), deixou ensaios teóricos de alta qualidade
Filológica, IV, n° 15, 1942, pp. 183 - 202; V, n° 18, 1942, pp. 81 científica sobre o regim e dos encontros vocálicos inter- e
- 87); e revista Verbum, II, n° 1, 1945, pp. 116 - 123; 233 - 238; intravocabulares nas cantigas dos trovadores medievais galego-
458 - 469; III (1946), pp. 79 - 89; 191 - 201; 298 - 307). Ao seu portugueses, em sua imensa maioria enfeixados nos Estudos de po­
sábio labor erudito devemos ainda a publicação de Um trovador ética trovadoresca (Rio de Janeiro, MEC/INL, 1961) e Língua e
do período post-dionisiano, don Afonso Sanches (Revista de verso (Rio de Janeiro, São José, 1963; 2a edição, 1968). Indispensá­
Filologia e História, I. Rio de Janeiro, 1931, pp.58-88); e uma vel ainda a leitura do livro A margem da poética trovadoresca (Rio
seleção das Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio (Revista de Janeiro, 1950). Tais trabalhos foram reunidos no magnífico volu­
de Língua Portuguesa, Rio de Janeiro,44: 55 - 110,1926). me intitulado Estudos de versificação portuguesa (séculos XIII a
De Sousa da Silveira, grande teórico da crítica textual brasi­ XVI). Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. Deixou-nos ainda
leira, são bastante conhecidas as suas edições críticas de obras do os volumes: Significância e movência na poesia trovadoresca (Rio
século XVI (Camões, Cristóvão Falcão, Antônio Ferreira), mas de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1958), entre outros estudos esparsos,
não se dedicou especificamente a edições críticas de autores medi­ devidamente relacionados em sua bibliografia pela professora Cilene
evais. O seu exemplo de amor e de respeito ao texto frutificou, pois da Cunha Pereira, na Miscelânea de estudos linguísticos, filológicos
foimou numerosos discípulos, entre os quais Antônio Houaiss, e literários in memoriam Celso Cunha. Rio de Janeiro, Nova Fron­
Celso Ferreira da Cunha, Segismundo Spina, Gladstone Chaves teira, 1995, pp. XXIX a XXXIX. O grande medievalista brasileiro
de Mello, Serafim da Silva Neto, Sílvio Elia. Cleonice Berardinelli, deixou ainda, mas infelizmente inconcluso. um dicionário de crítica
Carlos Henrique da Rocha Lima, Albino de Bem Veiga, Emmanuel textual, de que faz parte o verbete “tipologia dos erros”, publicado
Pereira Filho, Maximiano de Carvalho e Silva, A. J. Chediak, na miscelânea de estudos In memoriam Vandick Londres da Nóbrega
Adriano da Gama Kury, entre vários outros. Como o grande filólogo (Rio de Janeiro, SEPE, 1985, pp. 47-58). Infelizmente, ficou ainda
Antenor Nascentes costumava dizer, para ser discípulo de um por fazer, entre os seus projetos, a esperada História do verso em
Mestre, não se tem que ser ou ter sido necessariamente aluno. O português e a própria História da língua portuguesa no Brasil.
próprio autor deste texto, com a necessária humildade, considera- Postumamente, a IN-CM, de Lisboa, em 1999, publicou: Os Can­
se discípulo de Sousa da Silveira, sem ter sido aluno dele. cioneiros dos Trovadores do Mar, ed. preparada por Elsa Gonçal­
De Antônio Houaiss, além do grande livro teórico Elementos ves, que reúne os Cancioneiros de Paay Gômez Charinho, Joan
de bibliologia (Rio de Janeiro, MEC/INL, 1967, com segunda edi­ Zorro e Martin Codax.
ção fac-similada publ içada pela Hucitec, em convênio com a Fun­ O professor Segismundo Spina. para quem abrimos aqui uma

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

exceção, pois é de São Paulo e não do Rio de Janeiro, é nome que Janeiro, Gernasa, 1974, primeira edição; Rio de Janeiro, Tempo Bra­
não pode ser esquecido, quando se trata de edições de textos sileiro, INL, 1981, segunda edição; e a terceira edição em Santiago
medievais galego-portugueses. Titular da USP, já em 1964 fundava de Compostela, Laiovento, 1995); o volume I da História da literatu­
a Revista Camoniana, hoje em sua segunda série. A sua tese de ra portuguesa dedicado exatamente à Poesia dos trovadores ga­
doutoramento versou sobre os Fenômenos formais da poesia lego-portugueses (Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro/EDUFAL,
primitiva (1950) e a sua tese de Docência Livre tratou da Tópica 1983); Iniciação em crítica textual (Rio de Janeiro, Presença/EDUSP,
no lirismo galego-português (1956), sendo publicada com o se­ 1987), onde também tratamos da edição crítica de textos medievais;
guinte título: Do formalismo estético trovadoresco (São Paulo, Anchieta, A Idade Média e o Barroco (Rio de Janeiro, Gernasa,
USP, 1966). Eis a relação de outras obras de sua autoria: Introdu­ 1966); “Structure et rythme du vers décassy llabe chez D. Joan Garcia
ção à poética clássica (São Paulo, FTD, 1967); Manual de de Guilhade, troubadour do XIII siècle” (Paris, Romania, 89 (3):
versificação românica medieval (Rio de Janeiro, Gernasa, 1971); 289 - 312, 1968) ; A técnica do verso em português (Rio de Janeiro,
A lírica trovadoresco, 2a ed. (Rio de Janeiro, Grifo, 1972); Intro­ Acadêmica, 1971); e “O poema musical de Codax como narrativa”,
dução à edótica, 2a ed., revista e atualizada (São Paulo, Ars Poé- in: Uma visão brasileira da literatura portuguesa (Coimbra,
tica/EDUSP, 1994); Obras-primas do teatro vicentino, 3a ed. (São Almedina, 1973). A propósito da coleção Oskar Nobiling, além da
Paulo, Difel, 1980); Da Idade Média e outras Ulades (São Paulo, nossa edição de As cantigas Pero Meogo, já aqui referida, e da
Conselho Estadual de Cultura, 1964); Iniciação na cultura literária edição de Av cantigas de Pero Mafaldo, de Segismundo Spina,
medieval (Rio de Janeiro, Grifo, 1973); Na madrugada dasformas também já citada aqui, convém fazer referência ao volume de As
poéticas (São Paulo, Atica, 1982); e A Tuba de Calíope (São cantigas de Pero de Veer, obra infelizmente inconclusa com o
Paulo, Brasiliense/EDUSP, 1988), entre outros estudos esparsos, lamentável falecimento do grande lingüista e filólogo brasileiro
como se pode ver na miscelânea Para Segismundo Spina, relação professor Sílvio Elia, editor de Av poesias de Anchieta em português
de “Trabalhos publicados”, pp. 288 - 291. E deixamos para o fim (Rio de Janeiro, Antares/INL, 1983), em colaboração conosco.
a referência à sua edição crítica publicada na Coleção Oskar Outro nome de extraordinário mérito filológico é o do Prof.
Nobiling com o título As Cantigas de Pero Mafaldo (Rio de Janei­ Serafim da Silva Neto, o grande autor da História da língua
ro, Tempo Brasileiro, 1983), a convite nosso. portuguesa, com segunda edição aum entada em 1970, onde
Emmanuel Pereira Filho, precursor da nova metodologia longamente estuda a língua em seu período medieval. A ele devemos
crítica para os estudos relacionados com a lírica de Camões, o excelente volume de Textos medievais portugueses e seus
infelizmente, não se dedicou a edições críticas de autores medievais. problemas (Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa, 1956); A santa
Mas, como teórico de crítica textual, o seu nome tem que ser vida e religiosa conversão de Frei Pedro, de André de Resende
lembrado aqui, necessariamente. Dele é o Tratado da província (Rio de Janeiro, Dois Mundos, 1947); a Bíblia Medieval Portuguesa
do Brasil, em primorosa edição da obra de Pero de Magalhães de (Rio de Janeiro, MEC/INL, 1958); “A mais antiga versão conhecida
Gândavo (Rio de Janeiro, MEC/INL, 1965); e o livro de publicação da Regra de São Bento” ( Revista Brasileira de Filologia, volume
póstuma, em que procuramos reunir a sua obra esparsa, com o 5, tomos I - II, Rio de Janeiro, Acadêmica, 1959/60, pp. 21 - 46; e
título de Estudos de crítica textual (Rio de Janeiro, Gernasa, 1972). Diálogos de São Gregário (Coimbra, Atlântida, 1950). O restan­
Ainda de publicação póstuma: A y Rimas de Camões (Rio de Ja­ te de sua monumental obra pode ser visto no volume de Estudos
neiro, Aguilar/MEC/INL, 1974); e Uma forma provençalesca na Filológicos, miscelânea de ensaios publicada em sua homenagem,
lírica de Camões, sua Tese de Docência Livre, que a morte pre­ sob a nossa organização (Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1967).
matura o impediu de defender. (Rio de Janeiro. Gernasa. 1974). A professora Cleonice Berardinelli. que editou o livro Cantigas
Em seguida, pedimos licença para dizer do nosso próprio de trovadores medievais em português moderno (Rio de Janeiro,
interesse pelas edições críticas de trovadores medievais galego- Organização Simões, 1953), e também o Auto de Antônio Ribeiro
portugueses, já que nos coube criar a Coleção Oskar Nobiling, Chiado, edição crítica com introdução e notas, volume I, em
com a publicação do livro Av Cantigas de Pero Meogo (Rio de colaboração com Ronaldo Menegaz (Rio de Janeiro, INL. 1968),

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

além do ensaio “As cantigas de amigo de Bernal Bonaval”, texto com vários volumes já publicados pela Imprensa Nacional - Casa
inserido no livro Estudos de literatura portuguesa (Lisboa, IN-CM, da Moeda, de Lisboa, e ainda não chegamos ao fim.
1985), no que se refere à critica textual e a obras de erudição, tem-se Em suma, se tais notas ou achegas aqui reunidas, de algum
dedicado mais ao estudo de autores pré-clássicos ou de transição modo, forem úteis aos estudiosos da matéria, já daremos por
entre a Idade Média e o Renascimento, como é o caso de Gil Vicente recompensado o nosso trabalho. E que outros especialistas também
e de sua escola, ver Auto de Vicente Aries Joeira (1963), além da sua se dediquem ao assunto, percorrendo todos os Estados do Brasil,
edição dos Sonetos de Camões (Lisboa/Paris, Centre Culturel para que se possa traçar, um dia, a história - até aqui tão pouco
Portugais, em convênio com a Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980). conhecida! - da crítica textual brasileira, não apenas no que se
A sua considerável obra voltada para a literatura portuguesa, em refere a autores do português arcaico e do português médio, mas
especial a sua edição de textos de Fernando Pessoa, como membro também a escritores do século XVI ao século XX. E há aqui, como
integrante da “Equipa Pessoa”, pode ser apreciada no livro Cleonice, vêem, trabalho para meio mundo...
clara em sua geração, miscelânea de estudos que lhe foi dedicada
em 1995 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Outros especialistas em crítica textual, militantes no Rio de
Janeiro, não se voltaram propriamente para a literatura medieval,
a despeito da importância da obra de cada um deles. Como exem­
plo, citamos o nome de Antônio José Chediak, editor de Carlos de
Laet e grande estudioso do texto poético de Castro Alves ( Tragé­
dia no mar, o navio negreiro. Rio de Janeiro, ABL, 2000); de
Maximiano de Carvalho e Silva, voltado para a edição crítica de
autores do século XIX; Darcy Damasceno, zeloso da obra de Ce­
cília Meireles e editor de Martins Pena e de José de Alencar; Adriano
da Gama Kury, autor de uma excelente edição dos Últimos sone­
tos, de Cruz e Sousa, além de outras obras igualmente importan­
tes; e, sem esgotar a exemplificação, Gladstone Chaves de Melo,
outro experto em crítica textual, voltando o seu interesse para obras
do século XIX em particular, como as de José de Alencar e as de
Camilo Castelo Branco.
Tais achegas, bem o sabemos, não são completas, nem se
propuseram a isso. Há, no Rio de Janeiro, sobretudo no seio das
gerações posteriores à nossa, jovens professores que se dedicam
seriamente a estudos ecdóticos, como é o caso do professor José
Pereira da Silva, investigador dos códices em que se conservam os
textos atribuídos a Gregório de Matos. Há ainda os professores Ál­
varo de Sá e Marina Machado Rodrigues, que se vêm especializan­
do na apuração dos textos líricos de Camões. Aliás, na poesia lírica
de Camões e de Gregório de Matos, sabemos todos, estão os dois
maiores problemas ecdóticos da língua portuguesa de todos os tem­
pos. E bem podemos compreender a tarefa que esses professores
têm à sua frente, pois há algumas décadas nos dedicamos, a bem
dizer diuturnamente, à edição crítica dos textos líricos de Camões,

18 19
U m a leitura
de Pero Meogo
N ã o apenas agradeço o honroso convite que me trouxe mais
uma vez - e já são tantas - a São Paulo, para participar do I
Encontro Internacional de Estudos Medievais, mas sobretudo
cumprimento a USP, a UNICAMP e a UNESP pela feliz iniciativa;
e digo feliz porque o Encontro se volta para a Idade Média, e todos
sabemos que a herança medieval está viva nas origens da própria
C u ltu ra B rasileira. A lém d isso, en tre as esp e cializaç õ es
universitárias que exigem ampla bibliografia e grande lastro de
erudição, logo aparece a literatura dos trovadores galego-
portugueses, irradiada da Galiza para o mundo românico, como
procuramos indicar em pequeno volume específico sobre o assunto,
publicado em 1983, pela Editora Tempo Brasileiro, em convênio
com a Universidade Federal de Alagoas. Ainda nesse sentido, peço
licença para lembrar que a Sociedade Brasileira de Língua e
Literatura, entidade cultural a que tenho a honra de presidir, instituiu
a medalha Oskar Nobiling, como símbolo da própria Coleção Oskar
Nobiling, especificamente destinada à publicação de edições críti­
cas de trovadores galego-portugueses, por essa Coleção já tendo
sido publicado, além do livro de minha autoria As Cantigas de
Pero Meogo ( I a edição, G ernasa, 1974; 2a edição, Tem po
Brasileiro, 1981 e 3a edição, 1995, pela Laiovento, na Galiza), a
edição crítica de As Cantigas de Pero Mafaldo (1983) pelo
competente medievalista brasileiro, que é o Prof. Dr. Segismundo
Spina, Titular da USP. Em preparo, e já com dois capítulos
publicados, um na miscelânea Harry Meyer e outro na miscelânea
Celso Cunha, será de justiça mencionar agora a edição crítica de
As Cantigas de Pero de Veer, também para a coleção Oskar
Nobiling, de autoria do eminente lingiiista e filólogo brasileiro,
que foi o professor Dr. Sílvio Elia. E como estamos num Encontro
voltado para estudos medievais, parece-me ainda de elementar jus­
tiça uma m enção ao lexicógrafo brasileiro Antônio Geraldo da

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L eodecário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

Cunha, pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, já com três puro - a época era de gestação de formas - não raro apresentando
volumes publicados do seu índice do Vocabulário do Português caráter narrativo, quando não dramático, associando-se ainda ao
Medieval, indo até a letra D, devendo o resto da obra a ocupar mais canto e à música. Tal é o caso das 9 (nove) cantigas de Pero Meogo,
de 4 (quatro) volumes. Por fim, entre outras, caberia ainda uma porque nelas se integram e se relacionam os quatro elementos
referência à publicação de textos medievais pela UNESP, campus próprios do gênero narrativo, que são: personagens, tempo, ação e
de Araraquara, sob a presidência de Carlos Alberto lannone, se­ espaço. Aqui, é claro, resisto firmemente à tentação de falar sobre
guindo a metodologia da Coleção professor Oskar Nobiling. isso, pois ocuparia muito tempo. E passo, assim, a considerar o
Quanto à escolha do nome de Oskar Nobiling para a nossa tem a próprio desta palestra, a partir m esm o da conhecida
Coleção de edições críticas de textos medievais, bem se sabe que, observação de que a linguagem poética medieval, de algum modo,
no Brasil, sem considerar algumas experiências anteriores, em geral apresentava o predomínio do símbolo sobre o signo, ao contrário
levadas a termo por historiadores, como foi o caso de Adolfo do português moderno, quando então o signo passou a predominar
Vamhagen, quem deu início à publicação realmente científica de sobre o símbolo, ao menos na visão de Julia Kristeva1. Vejamos,
textos da lírica medieval galego-portuguesa foi o professor Oskar pois, os símbolos que, reiteradamente, aparecem no conjunto de
Nobiling (Hamburgo, 1865 - Bonn, 1912). Naturalizado brasilei­ cantares m edievais do jogral aqui escolhido para estudo e
ro, no ano de 1894 exerceu o magistério aqui mesmo em São Pau­ exemplificação:
lo, no ginásio do Estado, depois denominado Colégio Roosevelt.
Doutorou-se pela Universidade de Bonn, no ano de 1907, com a a) A fonte como símbolo
conhecida tese As Cantigas de D. Joan Garcia de Guilhade,
publicada em Erlangen, na mesma data. A tese foi escrita no Bra­ A fonte é o cenário condutor da narrativa, o lugar do encontro
sil, com imensas dificuldades bibliográficas, como ele próprio o amoroso. Aliás, a entrevista na fonte, onde os namorados se
declara na apresentação do volume. Apesar disso, o trabalho atin­ encontram, constitui um tópico literário que vem da Idade Média
giu alto nível universitário, tendo mesmo servido de modelo a tudo aos nossos dias, pelo menos na canção popular. Alfred Jeanroy
de bom que, no mesmo gênero, aqui se publicou depois dele, a (ORIGINES) tratou do tema em relação à canção francesa (que
exemplo das admiráveis edições - sobretudo As cantigas de Martin ele julgou motivadora da cantiga galego-portuguesa). No caso, a
Codax, 1956 - do grande medievalista brasileiro, que foi o profes­ jovem, pela manhã, levanta e vai à fonte lavar roupas ou buscar
sor Dr. Celso Cunha. Faleceu Oskar Nobiling em plena maturida­ água. Nas cantigas de Pero Meogo, como sabemos, a namorada
de, com apenas 47 anos e com cerca de 17 estudos filológicos vai à fonte para lavar os seus cabelos (garcetas) e uni-los com fios
publicados, como indiquei na minha edição de Pero Meogo. Entre de ouro, numa espécie de ritual amoroso. Naquela, o fim é utilitário,
esses estudos, um magnífico ensaio sobre as vogais nasais em enquanto nesta o fim é poético. Aliás, outros trovadores galego-
português, escrito em alemão, mas já traduzido para a nossa língua portugueses, poeticamente, recorreram ao tema, além do conhecido
e publicado na revista ZA/era, 4( 12): 8 0 - 109. 1974, sob a direção exemplo deD .D inis:
de Evanildo Bechara.
Após a breve e necessária - ainda que incompleta - introdução Fuy eu, madre, lavar meus cabelos
que acabo de ler. volto o meu interesse para o tema específico a la fonte e paguey-me eu d’elos
desta exposição, que é a proposição de uma leitura simbólica para e de mi, louçana.
as cantigas de am igo - ou de donzela, se preferirem - do
extraordinário jogral galego-português. que foi Pero Meogo, para (Joan Soares Coelho, CV -291; CBN - 689)
alguns especialistas Pero Móogo. A propósito, sugiro a leitura de
excelente verbete publicado no Dicionário de Giulia Lanciani e A coincidência temática entre o cantar de amigo galego-por­
G. Tavani, onde se adota a forma Meogo e não Móogo. tuguês e a canção francesa ainda inclui o dado de que a jovem se
Sabe-se que a cantiga de amigo não pertence ao gênero lírico demorou na fonte, sendo então admoestada pela mãe. As razões da

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

demora também são idênticas, havendo apenas a substituição do Método que permitiría demonstrai- que la pintura de Gioto
cervo pelo rouxinol. Tudo isso levou Jeanroy (ORIGINES) a indi­ precedió a la de sus antecessores bizantinos o que las
car, como modelo da cantiga galego-poituguesa, perdidas poesias prosificaciones de novelas caballerescas son anteriores a los
franceses, cuja tradição se estendeu até o século XVI. quando en­ poemas, (op. cit. p. 55).
tão começaram a ser recolhidas por músicos e folcloristas.
Eis a canção citada por Jeanroy (op. cit. p. 201): Na verdade, a canção francesa, que Jeanroy (ORIGINES)
aponta como modelo de cantigas galego-poituguesas, como no caso
Par un matin la belle s 'est levée das de Pero Meogo, colocadas lado a lado, apenas revela que
A prins son scan, du lin du lé, du long de 1’eau estamos diante de cantigas de fonte, como qualquer outra (em âmbito
A prins son seau, à 1’eaii s'en est allée românico) que apresente o encontro de namorados na fonte. Nada
Lei son amy si luy a recontrée mais que isso, pois se perde na noite dos tempos a origem do tema,
Deux ou troisfois sur Vherbe l'a jetée. que Lewis (PMLA) faz remontar aos evangelhos apócrifos, onde
Pucelle estoit, grosse Pa relevée: se lê que a Virgem M aria foi à fonte e lá recebeu a visita do anjo da
- "Hélas, mon Dieu, que dira ma nière?” Anunciação. Frágil e arbitrária, conseqüentemente, é a tese do
- “Vous lui direz: La fontaine est troublée, romanista francês.
Le rossignol a sa queue mouilée,
Mas voltemos ao confronto das cantigas, a francesa com as
- “Maudit soit-il qui ni’a tant abusée.
N ’eust esté lui, jefusse mariée! ” de Pero Meogo. Desde logo, a linguagem da canção francesa, em
relação à linguagem do jogral galego-português, revela o seu
racionalismo pouco poético ou pouco criador. Com efeito, enquanto
(Chanson nouvelles ou airs de Jean Planson; à la
a linguagem de Pero Meogo é uma linguagem rica de sugestões, de
suite de Recueil des chansons cimoureuses de divers
símbolos e de ambiguidades, a linguagem da canção francesa ape­
poetes françoises non encore imprimées. Paris, N. Et
nas mostra um a cena realista e vulgar de sedução, com pormeno­
p. Bonfons, in - 12, 1597 - Réimp. Par Rolland, II, 129).
res de extrema redundância. Queremos dizer: a canção francesa,
exatamente a que Jeanroy (ORIGINES) considerou mais clara e
De início, como já assinalou Eugênio Asensio (PRC), no que
mais completa, reveste-se de comovente pobreza do ponto de vista
foi apoiado por Méndez Ferrín (OCPM), é arriscado e arbitrário
da linguagem poética. Nela, a tradição dos símbolos literários
recorrer a uma canção impressa em 1597, ainda que ela venha de
privilegiou o espírito racionalista ou lógico, em flagrante prejuízo
longa tradição oral, para explicar uma cantiga do século XIII. Como
da qualidade poética do texto. Em Pero Meogo, exatamente ao
é evidente, o contrário é que poderia ser admissível. Mas Jeanroy
contrário, o privilégio do poético resulta da própria ambiguidade
(ORIGINES) vai além, recorrendo à identidade de temas das
do texto e dos símbolos nele introduzidos. Nesse sentido, até parece
composições, sem deixar de indicar a substituição do rouxinol pelo
cervo. Claro está que ninguém pode afirmar, com absoluta que a canção francesa é mera e simples tradução racional dos
cantares galego-portugueses, desfazendo-se assim a suposta e
segurança, que tivesse sido ou não do conhecimento de Pero Meogo
estranha influência... No caso, o inverso é que seria admissível.
a canção francesa, em suas origens remotas. Mas o que se pode
Sobre as origens remotas do tema da fonte, lembra Méndez
dizer, do ponto de vista literário, é que a linguagem poética do
Ferrín (OCPM) que, na época pagã, era costume render-se culto
jogral galego-português é superior à linguagem da canção france­
às fontes, através de oferendas de pão e vinho, em relação mais ou
sa. Com efeito, a última apresenta apenas uma cena de sedução
menos vaga com os ritos de fecundidade. Eugênio Asensio (PRC),
com traços de minucioso realismo. Não obstante, Jeanroy (ORI­
bem antes, já indicava que a fonte é um símbolo complexo de
GINES) pensa que a canção francesa, mais clara e racional, seja
sugestões, entre as quais a idéia de renovação e fecundidade. Ainda
anterior à cantiga galego-portuguesa, que é mais ambígua e suges­
hoje, aliás, são comuns as referências ao tema: a fonte mágica, a
tiva em sua linguagem. A propósito, observa Eugênio Asensio:
fonte do amor, a fonte da juventude, a fonte da vida... Por isso.

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T r ê s e n s a io s d e l it e r a t u r a m e d ie v a l g a l e g o - p o r t u g u e s a

lembra ainda Méndez Ferrín (OCPM) não ser estranho que a E antes, 2,7:
influência religiosa da Idade Média tratasse de imprimir caráter
cristão ao mito pré-cristão. A Bíblia, como se sabe, em particular Conjuno-vos. ó filhas cie Jerusalém pelas gazelas e cer­
nos Salmos e Provérbios, está repleta de símbolos ligados à fonte. ras do campo, que não acordeis nem desperteis o amor, até
A ssim , é p erfeitam en te provável que tenha havido um a que este o queira.
interpenetração semântica entre o conteúdo pagão e o conteúdo
cristão da visão da fonte como origem da vida ou símbolo de Por isso Méndez Ferrín (OCPM) afirma que:
fecundidade. Ou seja: a influência cristã ou bíblica teria,
espiritualmente, redimensionado o mito pagão da fonte, envolvendo ...a comparación do ceiro ao amante é común coa literatura
todos os seus ritos relacionados com o tema da fecundidade. bíblica e que a imaxe da ferida pra simbolizar os males do
amor ten un grande desenrolo eu toda a literatura europea
Mas aqui não se esgota o assunto, pois não é meu propósito
(op. cit. p. 59).
descrever a história do mito. O que foi dito, entretanto, é mais do
que suficiente para a sua compreensão nas cantigas de Pero Meogo.
Na verdade, nas cantigas de Pero Meogo, a imagem do cervo,
Daí a feliz lembrança de Méndez Ferrín (OCPM), retomada por
com todas as suas conotações e policonotações de sexualidade, é um
nós, quando cita São João da Cruz e as origens da sua fonte, que
símbolo que ora substitui o namorado, ora sugere sua presença.
são também as origens da fonte do jogral galego-português: Su
Mas nos parece pouco feliz a tentativa de Filgueira Valverde
origen no lo sé, pites no lo tiene.
(PCV), a partir da insistência da junção de dois elementos (cervo e
Afinal o que importa é a consideração de que, na linguagem
fonte) em querer ligar o tema à influência do Salmo II, 42.1 (A alma
poética de Pero Meogo, a exegese ou hermenêutica é simbólica.
anela por Deus). A nosso ver, o referido Salmo não pode ser a fonte
Uma leitura presa ao nível literal do texto, em posição filológica
literária do tema, por ter caráter apenas místico: “Como deseja o
rígida, seria de todo desastrosa. Ao nível do símbolo é que as cantigas
cervo a água da fonte, assim deseja a minha alma a ti. Deus” . Ora,
devem ser lidas, em toda a sua riqueza de sugestões poéticas, para
nas cantigas de Pero Meogo, o símbolo não esconde as suas conexões
que se nos revele a verdadeira dimensão artística do jogral.
pagãs, opondo-se assim ao sentimento religioso e puro de anseio da
alma por Deus. Se há influência bíblica na constituição do símbolo,
b) O símbolo do cervo
esta se encontra, como acima indicamos, no Cântico dos Cânticos
cio Rei Salomão. Aubrey Bell (MLR) apesar de sua explicação
A imagem do cervo, como símbolo de sexualidade viril, tanto
unilateral ou apenas religiosa, de há muito havia defendido essa tese.
se encontra na mais remota tradição pagã, como na própria Bíblia.
Ainda assim, tal influência naturalmente se mesclou com a própria
Menéndez Pelayo (HHE), a propósito, lembra o perdido opúsculo
tradição pré-cristã ou pagã na Península Ibérica. Por isso, afirma
de São Paciano, Bispo de Barcelona, intitulado Kerhos ou Cerros,
Eugênio Asensio: “El ciervo, símbolo fálico, pertenence a la más
onde era combatido ou costume pagão de se disfarçarem os jovens
típica herencia dei paganismo hispânico", (op. cit. p. 56). Na verda­
com máscaras de cervos nas Kalendas de janeiro, para cometerem
de, portanto, a mais remota origem do símbolo se perde na noite dos
excessos de ordem sexual. Essa tradição pré-cristã, possivelmente,
tempos... E o que interessa, para explicar o mito na linguagem poética
mesclou-se com a própria tradição bíblica, redimensionando-se,
do jogral galego-português, é a compreensão de que o cervo simbo­
em sentido espiritual, o símbolo do cervo.
liza a sexualidade masculina, ao contrário do sentido que hoje tem,
Com efeito, nos Contares de Salomão, 2, 8-9, lê-se:
mesclando-se a tradição pagã com a tradição cristã. Assim, ora su­
gere a presença do namorado, ora se identifica com ele.
O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho da
gazela; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas
janelas, espreitando pelas grades. c) O símbolo do brial rasgado

O vestido (brial) rasgado, como símbolo de perda da virgin-

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dade, nada mais é que um antigo tópico literário, popular e uni­ e) Garcetas
versal, como indica Méndez Ferrín (OCPM). Não se trata, por­
tanto, de nenhuma criação de Pero Meogo. A ruptura do vestido As garcetas (madeixas de cabelo) são um símbolo de virginda­
ou túnica medieval sugere, na própria ação de romper, a perda de. Nas cantigas de Pero Meogo, há duas ações que se incluem no
da virgindade. E a imagem do cervo, evidentemente, simboliza o mesmo campo semântico: volver a água pelo cervo e lavar as garcetas.
agente da ação. Assim, a mesma água que o cervo bebe antes lavou os cabelos da
O brial (vestido ou túnica medieval) era de uso pouco aperta­ namorada, numa clara sugestão de intimidade amorosa.
do, pois, do contrário, seria indecente para o código moral da épo­ A ação se passa num ambiente primitivo e rural em que a
ca. Por isso, o seu rompimento é simbólico. O cervo que volve a fonte é o centro polarizador da narrativa. Em tomo dela, o ambiente
água sugere uma ação de sexualidade viril, em relação à namorada é todo natural, com cervos e cervas sobre prados, nada havendo aí
que lava os cabelos (as garcetas são um símbolo de virgindade), de artificial, pois é pleno o contacto com a natureza. As próprias
volvendo a mesma água. A sexualidade feminina é fecundada pela imagens poéticas sugerem a presença de monteiros, guardas-da-
sexualidade masculina. Motivado por esse símile, o dado realista mata ou caçadores. A fonte está no centro de tudo isso, como cenário
(rompimento do brial) indetermina, simbolicamente, o agente da condutor da narrativa. Eis um esquema:
ação. Queremos dizer: o namorado aparece representado pela
metáfora do cervo, porque não pode estar ao nível da comunica­ Namorado ou A namorada lava
cervo que volve > fonte
ção literal da filha com a mãe. Daí o predomínio da ambigiiidade os cabelos
as águas
na constituição do caráter simbólico da transgressão do código.
Em síntese, o personagem-símbolo, assim constituído, mostra a
supremacia, do ponto de vista da ação, da seqüência alienante
(desidentificação com o código da comunidade) sobre a ação da
Sírrbolo de Síirbolo de Síirbolo de
seqüência reintegrante (identificação com o referido código). sexualidade fecundidade vi ruindade
masculina
d) O baile
Em plano literal, quando a namorada dialoga com a própria
O baile é o símbolo da mentira, para o encontro furtivo na mãe, naturalmente, simula estar de acordo com o código moral da
fonte. A mãe censura a filha por ter rompido o brial num baile. Tal comunidade. Mas, em plano simbólico, ela transgride o código,
foi a desculpa que a filha, certamente, apresentou. No caso, há um entregando-se ao amor do namorado. E quando a filha apresenta,
sentido literal e um sentido simbólico na desculpa da namorada. O como desculpa de sua demora na fonte, o fato de que os cervos do
sentido literal é simulado, pois ela não foi ao baile, mas à fonte, monte volviam a água, a descodificação da mensagem se faz den­
como o refrão da cantiga nos sugere, numa espécie de contraponto tro da própria narrativa. E se faz pelo destinatário, que é a figura
irônico. Em sentido simbólico, baile sugere encontro de namorados, da mãe, representante do Código. Com efeito, a mãe une o plano
como nos indica Jeanroy: literal ao plano simbólico, identificando cervo com namorado, e
acaba por descobrir a mentira da filha: Mentir, mya filha, mentir
Mais c ’est surtout au baI que lesfilies et les garçons por amigo,/nunca vi cervo que volvess’o rio.
peuventse parlerlibrement: aussi le séductions et les dangers O ambiente físico revela um contato direto com a natureza,
du bal font le sujet d'une infmité de chansons. (op. cit. p. inclusive com o mar não muito distante. Realmente, numa das
203) cantigas há a sugestão de que o namorado deixou de ir ao encontro
na fonte, por ter viajado pelo mar. A natureza e a sexualidade se
Há, portanto, conotações e policonotações em torno desse interpenetram ao longo da narrativa. E o ambiente psicológico ou
sím bolo,com o em tomo dos demais. atmosfera espiritual, que envolve as ações, se constitui de valores

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éticos da época, sempre representados pela figura da mãe, através


de um código, que foi transgredido, afinal.
Em conclusão, no cancioneiro de Pero Meogo há uma forma
lírica que se investe de sentido narrativo, através de uma linguagem
poética que deve ser lida em dois planos: o literal (sintagmático) e o
simbólico (paradigmático). Ao nível literal, tendo-se a figurada mãe
como destinatária, desenvolve-se uma função disjuntiva. Trata-se,
por isso, de uma linguagem poética em que o pensamento do símbolo
predomina sobre o pensamento do signo, daí resultando a ambigüi-
dade do texto, sempre rico em múltiplas sugestões simbólicas. Tudo
isso, afinal, responde pela qualidade poética das cantigas, através O b r a s c it a d a s p e l a
das quais se estrutura uma seqüência narrativa com seu ponto ORDEM DE REFERÊNCIA:
culminante na transgressão do Código comunitário. E o desfecho,
unindo-se o plano literal ao plano simbólico, é configurado quando a a) A ZEV ED O FILH O , Leodegário A. de. História da
mãe recusa a desculpa da filha e descobre a mentira, descodi ficando Literatura Portuguesa, Volume I: A poesia dos trovadores galego-
os símbolos integrados na própria narrativa. portugueses. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro/ EDUFAL, 1983;
Na verdade, o inventário dos procedimentos narrativos nos mos­ b) AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de. Aí Cantigas de Pero
tra ser Pero Meogo um longínquo antecipador da própria narrativa Meogo. Rio de Janeiro, Gemasa, 1974; 2a. ed. Rio de Janeiro, Tem­
moderna. Tais procedimentos, em síntese, podem ser indicados assim: po Brasileiro, 1981; e 3“. ed. na Galiza, Espanha, 1995, pela
Laiovento;
a) Relação intrínseca entre o ponto de vista circulante da narrativa c) SPINA, Segismundo. As cantigas de Pero Mafaldo. Rio
e a desestruturação do tempo, que se mostra refratário à visão de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1983;
cronológica da narrativa realista; d) ELIA, Sílvio. As cantigas de Pero de Veer, a sair pela
b) A sugestão sim bólica da linguagem com o elem ento Coleção Oskar Nobiling;
provocador da ambigüidade e não da univocidade de sentidos; e) CUNHA, Antônio Geraldo da. índice do Vocabulário do
c) A criação do narrador fictício (narrador da narrativa) como Português Medieval. Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui
elemento motivador da relação entre ação e personagem; Barbosa, 1986, 1988 e 1994;
d) O contexto como elemento motivador do núcleo simbólico f) NOBILING, Oskar, As cantigas de D. Joan Garcia de
do texto. Guilhade. Erlangen, 1907;
g) CUNHA, Celso. As cantigas de Martin Codax. Rio de
Consequentemente, estamos diante de uma narrativa de ação Janeiro, 1956;
complexa, muito superior à própria narrativa realista. Na verdade. h) LANCIANI, Giulia, TAVANI, Giuseppe. Dicionário da
Pero Meogo não é “um trovador distante, aparentemente desapa­ Literatura Medieval Galega e Portuguesa. Lisboa, Caminho, 1993;
recido em meio aos papéis desbotados do século XIII”, - como i) JEANROY, Alfred. Les origines de la poésie en France au
assinala Eduardo Portella na apresentação da minha edição crítica. Moyen Age. 4a ed. Paris, Honoré & Champion, 1965;
E acrescenta: “Basta que o ângulo de visão - ou perspectiva do j) ASENSIO, Eugênio. Poética y realidad en el cancionero
entendimento - preserve e desenvolva o compromisso com o poético. peninsular de la Edad Media. Madrid, Gredos, 1957 - 2a ed.,
E o poético é a construção denotando a data: é a realização para 1970;
além dos limites do texto”. k) M ÉNDEZ FERRÍN, X. L. O cancioneiro de Pero Meogo.
Vigo, Galáxia, 1966;
Referência bibliográfica: l) LEWIS, Charles B. The origin of weaving songs and the
'KRISTEVA, Julia. Le texte du mnum. The Hague-Paris, Mouton, 1970.

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theme of the girl at the fountain. Publications o f the Modem II


Language Association of America. Baltimore, 37: (2): 141-181,
1922; Por muy fremosa que sanhuda estou
m) MENÉNDEZ PELAYO, H. História de los heterodoxos a meu amigo, que me demandou
espanoles. 2a ed. Madrid, Victoriano Suárez, 1911; que o foss’eu veer
n) F IL G U E IR A V A LV ERD E, X osé. A paisaxe no a la font’, u os cervos van bever.
cancioneiro da Vaticana. La Coruna, Ed. Lar, 1927; e
o) BELL, Aubrey F. G. The hill songs of Pero Meogo. The
Non faç’eu torto de mi lh'assanhar,
modern Language Review. Cambridge, 17: 258-267, 1922.
por s’atreverei de me demandar
que o foss’eu veer
a la font’, u os cervos van bever.
Observação:
Afeyto me ten já por sandia,
Em anexo, as nove cantigas de Pero Meogo, com texto que el non ven, mas envia
estabelecido pelo autor deste volume. que o foss’eu veer
a la font’, u os cervos van bever.

O meu amig’, a que preyto talhey, III


con vosso medo, madre, mentir-lh’ey.
E, se non for, assanhar-s’á. - Tay vay o meu amigo, con amor que lh’eu dey,
come cervo ferido de monteyro d ’el-Rey.
Talhey-lh’eu preyto de o ir veer
ena fonte, u os cervos van bever. Tal vay o meu amigo, madre, com rneu amor,
E, se non for, assanhar-s’á. come cervo ferido de monteyro mayor.

E non ey eu de Ihi mentir sabor, E, se el vay ferido, irá morrer al mar;


mays mentir-lhe’ey, con vosso pavor. si fará meu amigo, se eu d ’el non pensar.
E, se non for, assanhar-s’á.

De lhe mentir nenhum sabor non ey,


-E guardade-vos, filha, cá já m ’eu vi atai
con vosso med’am entir-lh'averey
que se fez coitado, por de min guaanhar.
E, se non for, assanhar-s’á.

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IV VI

Ay, cervos do monte, vin-vos preguntar, Enas verdes ervas,


foy-s’o meu amigu’, e, se alá tardar, vi andadas cervas,
que farey, velidas! meu amigo.

Ay, cervos do monte, vin vo-lo dizer, Enos verdes prados,


foy-s’o meu amigu’, e querria saber, vi os cervos bravos,
que faria, velidas! meu amigo.

E con sabor d ’elhas


lavey myas garcetas,
V meu amigo.

[Levou-s’a louçana,] levou-s’a velida: E con sabor d ’elhos


vay lavar cabelos, na fontana fria. lavey meos cabelos,
Leda dos amores, dos amores leda. meu amigo.

[Levou-s’a velida,] levou-s’a louçana: Des que los lavey,


vay lavar cabelos, na fria fontana. d ’ourolosliey,
Leda dos amores, dos amores leda. meu amigo.

Vay lavar cabelos, na fontana fria: Des que las lavara,


passou seu amigo, que lhi ben queria. d ’ouro las liara,
Leda dos amores, dos amores leda. meu amigo.

Vay lavar cabelos, na fria fontana: D ’ouro los liey


passa seu amigo, que a m uyt’amava. e vos asperey,
Leda dos amores, dos amores leda. meu amigo.

Passa seu amigo, que a muyt’amava: D ’ouro las liara


o cervo do monte volvia a áugua. e vos asperara,
Leda dos amores, dos amores leda. meu amigo.

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego- portuguesa

VII E rompestes i o vestir,


que fezestes a pesar de min:
Preguntar-vos quer’eu, madre, poy’-lo cervo i ven,
que me digades verdade: esta fonte seguide-a ben,
se ousará meu amigo poy’-lo cervo i ven.
ante vós falar comigo.

Poys eu m igu’ey seu mandado, IX


querria saber, de grado:
se ousará meu amigo - Digades, filha, m ya filha velida,
ante vós falar comigo. porque tardastes na fontana fria.
Os amores ey.
Irey, mya madre, a Ia fonte,
u van os cervos do monte: Digades, filha, mya filha louçana,
se ousará meu amigo porque tardastes na fria fontana.
ante vós falar comigo. Os amores ey.

- Tardey, mya madre, na fontana fria,


vm cervos do monte a áugua volvian.
Os amores ey.
Fostes, filha, eno baylar
e rompestes i o brial: Tardey, mya madre, na fria fontana,
poys o namorado i ven, cervos do monte volvian a áugua.
esta fonte seguide-a ben, Os amores ey.
poys o namorado i ven.
- Mentir, mya filha, mentir por amigo,
Fostes, filha, eno loir nunca vi cervo que volvess’o rio.
e rompestes i o vestir: Os amores ey.
poy’-lo o cervo i ven,
esta fonte seguide-a ben, Mentir, mya filha, mentir por amado,
poy’-lo cervo i ven. nunca vi cervo que volvess’o alto.
Os amores ey.
E rompestes i o brial,
que fezestes ao meu pesar: Fontes básicas de consulta:
poy’-lo cervo i ven, a) AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de. As cantigas de Peto
esta fonte seguide-a ben, Meogo, 2aed. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1981. (A primeira edição,
poy'-lo cervo i ven. pela Gemasa, é de 1974); e a terceira é de 1995, pela Laiovento, da
Galiza - Espanha.
b) MENDEZ FERRÍN, X. L. O cancioneiro de Pem Meogo. Vigo,
Galáxia, 1966.

38 39
u MA LEITURA DE
M a r t in C o d a x
N a s sete cantigas de amigo de Martin Codax (ou Codaz),
conforme os apógrafos italianos e conforme o texto do Pergaminho
Vindel, salta aos olhos um a sequência narrativa. Esse trovador-
jogral, ao que tudo indica, acompanhou D. Fernando em suas
expedições guerreiras. As cantigas nos mostram a namorada, que
certamente Codax deixou nos arredores de Vigo, cheia de alegria
pelo retomo do amigo, que não só volta viv’ e sano, mas também
amigo e privado del-Rei. Note-se que, à parte a hipótese de qualquer
presunção do jogral, o rei D. Fernando não apenas “pagabase de
ornes de corte que sabian trovar e cantar e de joglares que sopiesen
bien tocar estrumentos”- com o está na Cron. General (cf. C. A. II,
372, n.° I), mas ele próprio era cultor da poesia. A propósito, veja-
se o texto de gênero sacro, publicado em 1918 por Lopez Aidillo e
Ri vera Manescau, no seu folheto Fernando III, poeta galego-por-
tuguês. Aliás, para José Joaquim Nunes, como antes para Oviedo
y Arce (Elgenuíno ‘Martin Codax’, juglargallegodeisigloXIII,
p. 55, 56 e 57), as sete cantigas de Codax, alterada a ordem dada
pelos copistas, refletem a história dos seus próprios amores, can­
tada pela donzela inspiradora. Eis o que escreveu J. J. Nunes in
Cantigas d ’Amigo, vol. I, p. 201:

Na 6a vemo-la cheia de contentamento por ter, no baile


em que com outras e outros tomava parte no adro da Igreja
de Vigo, encontrado aquele por quem, pela primeira vez,
sente palpitar-lhe o coração. Na 3a convida a irmã a
acompanhá-la ao mesmo local a uma entrevista com ele. Na
4a, 7a e Ia, depois deste ter partido para uma expedição guer­
reira, por ventura organizada por D. Fernando para a con­
quista de Sevilha, ralada de saudades, ora lamenta a sós
consigo a sua ausência, ora dirige-se à praia, a perguntar às
ondas por que tarda o seu amigo, ou se lhe saberão dar nova
dele; na 2a e 5a, finalmente, transbordando de alegria com a

43
L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

notícia recente de que ele volta em breve de perfeita saúde e II


a mais muito apreciado pelo monarca por causa da sua habi­ Una Entrevista
lidade como cantor e músico, declara à mãe o seu propósito (Cántiga III)
de ir esperar em Vigo a nau que o traz e convida todas as
namoradas a partilhar da sua satisfação, acompanhando-a Los enamorados de Vigo van a entrevistarse en el
até lá. mismo lugar sagrado donde por primera vez se juraron
amor. Al afecto, la Enamorada, después de rogar a su
Aliás, muito antes de Oviedo y Arce e de J. J. Nunes, Teodósio hennana que la acompane a ver el espetáculo de las
Vesteiro Torres, in El Heraldo Gallego, de 7 de junho de 1876, já movedizas olas dei Océano, declara ingenuamente a
havia indicado que as sete cantigas de Codax deviam ser consideradas la madre que el verdadero motivo de acudir a aquel
como uma só. Essa idéia deve ter inspirado a Vindel ou a Said sitio es que allí ha de ir su am igo: él la citó, y ella debe
Armesto o subtítulo de POEMA MUSICAL, colocado na página de corre sponderle.
rosto de sua edição do pergaminho trecentista codaciano. E verdade
que D. Carolina Michaélis de Vasconcelos não aceitou esse ponto de
vista, vendo nas cantigas cenas isoladas - e não de evolução m
progressiva, - ora referentes a uma jovem, ora referentes ao próprio Horas Tristes
jogral. Daí a tese em contrário de Oviedo y Arce e J. J. Nunes, em (Cántigas IV, I y VII)
geral seguida por outros intérpretes, ambos colocando-se de um ponto
de vista literário, para concluírem que as cantigas revelam La entrevista aquella era de despedida: el amigo
estreitíssima unidade temática, ao todo formando um só poema. Nem de la Enamorada tenía que partir para luehas tierras y
isso seria novidade alguma, pois outros trovadores, como Nuno empresa tan audaz como la toma de Sevilla (hipotéti­
Femandez, ou Pero Meogo, por nós editado, apresentam idêntico ca, según ya se explico).
processo em suas composições poéticas. Do seguinte modo, Oviedo jC uanto siente la Enamorada, esta forzada
y Arce altera a ordem das cantigas, exatamente como faria depois J. ausência de su amante! - ;Dios mio! - si él supiera qué
J. Nunes, começando pela VI: sola estoy ! si él supiera que no hay para mi otro
esparcimiento sino el de pensar en su amor!; j y eso
que no tengo centinelas que me guarden; j solo vigilian
mis ojos, siempre llorosos...! (Cant. IV).
I ; Tarda tanto en volverei esperado amigo! Un dia
La Conquista dei Galán se acercla la Enamorada e aquella orilla desde donde
(Cántiga VI) miro alejarse la nao que él tripulaba; y pergunta a las
olas si habrán visto el navio en que regresa aquíl por
Una doncellita de Ias cercanias de Vigo açude a quien ella suspira y por quien vive en perenes ansias. -
la bailada de amor con que la gente inoza, campesina Dios mio! - dice - vendrá presto? (Cant. I).
y manirera, celebra en el atrio de la iglesia, égida de Pero la hora deseada no acaba de llegar; la Ena­
aquel fainoso puerto, una fiesta (hipotéticamente, la morada vuelve otra vez al conocido sitio; y de pié, so­
de Santa Maria de Agosto); y allí, cantando y danzando, bre las rocas dei acantilado, su esbelta figura contem­
anticipada gitanilla de Cervantes, conquista su primer pla largo rato aquellas olas que guardan acaso el se­
amor. creto de su diclta; y pregúntalas ingenuamente si saben
cual será el motivo porque tarda tanto en regresar su
amante, no estando ella a su lado. (Cant. VII).

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

IV a) N a primeira cantiga, tem-se a visão da namorada, sozinha,


La Buena Nueva diante das ondas do mar de Vigo, indagando-lhes pelo retorno do
(Cántiga II) seu amado, saudosa e preocupada com o seu destino num a possí­
vel expedição militar. Certamente ia lá, muitas vezes, dialogar
Paso la noche escura para la Enamorada de Vigo. poeticamente com as ondas. Veja-se:
A su hogar campesino asoma ya el alba alegre y lumi­
nosa tan ansiada: es que ha recibido un mensaje con la As Cantigas de Martin Codax
dulce noticia de que va arribar a las gratas playas el
bien amado amigo. Por eso canta con alegre y ágil 1
ritmo la canción de la buena nueva. -M iam ante regresa
venturoso - dice -, y yo iré a Vigo a celebrar con él su Ondas do mar de Vigo,
bienvenida. se vistes meu amigo?
E ay Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,


V
se vistes meu amado?
El Día Feliz
E ay Deus, se verrá cedo!
(Cántiga V)
Se vistes meu amigo,
La Enamorada, que lloró solo la ausência dei
o por que eu sospiro?
amante, invita ahora a sus amigas, que tratan también
E ay Deus, se verrá cedo!
de amores a que sean testigos de su dicha en el mo­
mento suspirado en que va a llegar su amigo. - j Qué
Se vistes meu amado,
bien! —les dice ella - j Como vosotras, podrá allora
o por que ey coydado?
gozar el sano placer dei bano de amor, en las limpias
E ay Deus, se verrá cedo!
aguas salobres dei dilatado mar de Vigo!; Mi amigo
estará a mi lado! (op. cit. p. 55/57).
b) N a segunda cantiga, alegremente, a namorada comunica à
Como se vê claramente, tanto Oviedo y Arce como J. J. Nunes,
sua própria mãe que recebeu um a mensagem avisando-a de que o
aquele primeiro que este, fizeram outro poema do conjunto de
seu amigo, gozando da estima pessoal do Rei, vai retom ar são e
cantigas que Martin Codax deixou, não concordando assim com o
salvo, preparando-se ela para recebê-lo no porto de Vigo. Veja-se:
jogral... Na verdade, tanto um quanto outro reduziram o conjunto
de cantigas ao tempo lógico, nisso sendo seguidos por vários intér­
n
pretes posteriores. Além disso, nos três apógrafos de que se tem
notícia, a ordem das cantigas é sempre a mesma, não cabendo a
Mandad’ey comigo
ninguém o direito de alterá-la. Com efeito, qualquer alteração im­
ca ven meu amigo.
plica outro poema, ao entender-se por poema o conjunto das sete
E irey, m adr’, a Vigo!
cantigas. Afinal, na ordem exata em que se encontram é que as
cantigas apresentam perfeito vínculo narrativo, estruturando-se as
Comigu’ey mandado
suas etapas deste modo:
ca ven meu amado.
E irey, m adr’, a Vigo!

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

Ca ven meu amigo, d) Na quarta cantiga, apesar do convite feito à irmã para que a
e ven sarfe vivo. acompanhasse, a namorada vai sozinha ao porto de Vigo e cheia de
E irey, m adr’, a Vigo! amor e de alegria pelo retomo do namorado. Vai senheyra (=sozi-
nha) e sem garda (=guarda, acompanhante, vigilante). Veja-se:
Ca ven meu amado,
e ven viv’e sano. IV
E irey, m adr’, a Vigo!
Ay Deus, se sab’ora meu amigo
Ca ven san’e vivo com ’eu senheyra estou en Vigo!
e d ’el-Rey amigo. E vou namorada!
E irey, m adr’, a Vigo!
Ay Deus, se sab’ora meu amado
Ca ven viv’e sano com ’eu senheyra en Vigo manho!
e d ’el-Rey privado. E vou namorada!
E irey, m adr’, a Vigo!
Com ’eu senheyra estou en Vigo
e nulhas gardas non ey comigo!
c) Na terceira cantiga, dá-se continuidade ao que foi dito na
E vou namorada!
segunda, e nela a namorada convida a irmã para irem juntas a
Vigo, para a recepção ao namorado. Nesta cantiga, dirige-se
Com ’eu senheyra en Vigo manho
novamente à mãe, na parte final, como já havia feito na cantiga
e nulhas gardas migo non trago!
anterior, para lhe dar ciência de sua ida a Vigo. Daí a razão por
E vou namorada!
que madre, no caso, só pode ser vocativo. Veja-se:
E nulhas gardas non ey comigo,
III
ergas meus olhos que choran migo!
E vou namorada!
Mia irmana fremosa, treydes comigo
a la igreja de Vig’, u é o mar salido.
E nulhas gardas migo non trago,
E miraremos las ondas! ergas meus olhos que choran ambos!
E vou namorada!
Mia irmana fremosa, treydes de grado
a la Igreja de Vig’, u é o mar levado.
e)Na quinta cantiga, não sendo ela acompanhada pela irmã,
E miraremos las ondas! nem pela mãe, convida então todas as amigas “que sabem amar
amigo” a que a acompanhem na ida ao mar de Vigo, onde juntas se
A la igreja de Vig’, u é o mar salido, banharão nas ondas agitadas, enquanto aguardam a chegada do
e verrá i, madre, o meu amigo.
namorado. Veja-se:
E miraremos las ondas!

A la igreja de Vig’, u é o mar levado,


e verrá i. madre, o meu amado.
E miraremos las ondas!

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego- portuguesa

V Que nunca ou ver’amigo,


ergas no sagrad’, en Vigo.
Quantas sabedes amar amigo Am orey!
treydes comig’a lo mar de Vigo!
E banhar-nos-emos nas ondas! Que nunca ou ver'am ado,
ergas en Vigo, no sagrado.
Quantas sabedes amar amado Am orey!
treydes comig’a lo mar levado!
E banhar-nos-emos nas ondas! g) Na sétima cantiga, afinal, a namorada dirige o seu lamento
novamente às ondas do mar de Vigo, como no início, tristemente
interrogando-lhes pelo amigo que tarda e não vem. O poema musical
Treydes comig’a lo mar de Vigo
termina como teve início, sendo a ausência do amigo o elemento
e veeremodo meu amigo! agenciador da narrativa lírica. Veja-se:
E banhar-nos-emos nas ondas!
vn
Treydes com g’a lo mar levado
e veeremo’lo meu am ado! Ay ondas, que eu vin veer,
E banhar-nos-emos nas ondas! se me saberedes dizer
porque tarda meu amigo
sen m in!
0 Na sexta cantiga, após o banho, esperando ainda pelo
namorado, ela baila, no adro da Igreja de Vigo, feliz por seu amor Ay ondas, que eu vin mirar,
e recorda o dia em que o conheceu, no mesmo local. Veja-se: se me saberedes contar
porque tarda meu amigo
VI sen min!

Eno sagrad’, en Vigo, A hipótese de haver uma estrutura de enredo, nas sete cantigas
baylava corpo velido. de Martin Codax, justifica-se em face do caráter narrativo, além
Amor ey! do lírico e dramático do gênero. Na realidade, um a cantiga de
amigo não pertence ao gênero lírico puro, por ser um a composição
En Vigo, no sagrado, sincrética e primitiva, resultante da fusão dos caracteres acima
baylava corpo delgado. indicados, além da associação das cantigas ao canto, à música e à
A m orey! dança. Naturalmente, o namorado não retoma, pois em função da
sua ausência é que se engendra o lirismo das cantigas. Num esquema
Baylava corpo velido. simples, facilmente podemos analisar a sequência narrativa ao nível
que nunca ouver’amigo. das ações. Para isso, dividimos as sete cantigas em quatro tempos:
Am orey!

Baylava corpo delgado,


que nunca ouver’amado.
Am orey!

50 51
L eo d e g á r io A. de A zevedo F ilh o T rês en sa io s d e l it er a tu r a m e d ie v a l g a l e g o - p o r t u g u e s a

Io t e m p o 2o te m p o 3 o te m p o 4" te m p o
, Com petência
V is ã o d a R e c e b e u m re c a ­ V ai s e m a irm ã , C ansada de
n a m o ra d a , do: o n am o ra d o c h e ia d e a m o r e e s p e ra re m vão.
Encontro
N am o rad a
d ia n te d o m a r vai re g re ssa r, a le g ria p e lo c o m o n o in íc io , - I
(e la )
d e V ig o , e s tim a d o p e lo re g resso d o n o v a m e n te P.H Espaço vazio Resposta
in d a g a n d o p e lo R e i. s ã o e s a lv o . n a m o ra d o . d irig e -s e à s
C o n v id a o u tra s o n d a s r io m a r,
Partida (Indagação)
r e to r n o d o se u C o n v id a a irm ã
am ado, em p a ra ir c o m e la à n am o ra d a s para tris te m e n te in d a ­
e x p e d iç ã o re cep ç ão a o n a ­ ir e m , ju n ta s , g a n d o - lh e s p e lo Dicionário histórico
m i li t a r . m o ra d o . D á re ceb e r os a m ig o q u e ta rd a
Sente mas
c iê n c ia à m ã e d e n a m o ra d o s. e não vem .
s u a i d a a V ig o . E n q u a n to e s p e ­ Performance
D irig i-s e , e s f u s i- ra m , b a n h a m -s e
a n te d e a le g ria , à nas ondas d o m ar
Encontro (relembrado no texto)

{
irm ã e à m ã e . e b a ila m n o a d ro
sim u lta n e a m e n te . d a Ig r e ja . P.H.
Partida (subentendida no texto)
E s tá a u s e n te , E n v ia u m re c a d o E e sp e ra d o , m as P o r m o tiv o s
p o s s iv e lm e n te não chega. ig n o ra d o s , o
Personagem: amiga ----------- _> Receptor metafórico: ondas
N a m o rad o a v is a n d o -a d e seu
n u m a e x p e d iç ã o re g re sso . n am o ra d o n ão (Objeto da resposta:
( f ie )
m i li t a r . D e i x a a re to r n a . amigo)
n am o ra d a
s a u d o s a e tris te .
Recorrência
E s tã o a in d a A irm ã é A u s ê n c ia d a m ã e e E s tã o a u s e n te s , mãe
C o n fid e n te s a u s e n te s d a c o n v i d a d a p a r a ir d a irm ã . A p o r n ã o te re m
Confidentes
(irm ã e
m ãe)
ação. a V ig o . A m ã e
to m a c iê n c ia d a
n a m o r a d a fo i s ó a
V ig o . s e m
id o a V ig o .
•{ irmã
i d a a V igt>. q u a lq u e r Indcntificantes: amigas
s im u lta n e a m e n te . a c o m p a n h a n te .

E s tã o a in d a C o n tin u a m E s tã o p re s e n te s , E s tã o fo ra d a a ç ã o Nota: a frustração da resposta engendra a estrutura lírica. No esquema, a proto-


a u s e n te s d a a u s e n te s . b an h a n d o -se nas e x p líc ita n o te x to .
história (P.H.) implica o encontro e a partida. Isso se associa a uma indagação
O u tra s ação. o n d a s d o m a r.
D e |x i i s b a i l a m n o (I) em que se inclui o espaço vazio como resposta, por ser metafórico o receptor
n a m o ra d a s
a d r o d a Ig re ja . da mensagem.
E m e x p e d iç ã o V ai r e g r e s s a r d e E m c a m in h o d e P o r m o tiv o
R ei m ilita r e x p e d i ç ã o m i li t a r . r e to r n o . ig n o ra d o , a in d a
to r n a n d o - s e n ã o re to r n o u d a
a m ig o d o jo g ra l. e x p e d iç ã o . Resposta - estrutura de deslocamento. Não se pode encontrar
quem na verdade falou, pois amiga é morfema actancial represen­
tante do amigo. Como é próprio das cantigas de amigo, nelas fala
A igreja e a visão do mar são dois elementos importantes nas a namorada, embora tenham sido escritas pelo jogral. A namorada
cantigas. A igreja sugere o ambiente religioso da Idade Média. O é o sujeito do enunciado, mas não é o sujeito da enunciação, por­
mar. onde se banham as namoradas, enquanto esperam o amigo, é que este é o jogral, tomado como narrador fictício.
apenas uma bela visão: “E miraremos Ias ondas!” Funciona, inclusive, A proto-história (P.H.), relembrada numa das cantigas, se re­
como elemento poeticamente motivador para a ida aos banhos de fere ao encontro do namorado com a namorada, sendo ele o seu
amor em Vigo. Deus é invocado na primeira e quarta cantigas. primeiro amor, no baile da Igreja. Ainda na proto-história, a partida
Após o inventário das ações, vejamos a lógica das funções na do trovador-jogral. Durante a sua ausência, ela indaga às ondas do
narrativa: mar de Vigo pelo seu retorno, havendo um espaço vazio como
resposta (1= indagação), por ser m etafórico o receptor. A
namoradinha, como personagem central, recorre à irmã e à mãe
como confidentes. Irmã e mãe, portanto, são morfemas apelativos.
As amigas, que vão a Vigo com a namoradinha, são morfemas
identificantes. A frustração da resposta, afinal, engendra a estrutura

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L eodegário A. de A zevedo F ilho T rês ensaios de literatura medieval galego - portuguesa

lírica das cantigas ou do poema musical. O narrador não poderia a Vigo. Aliás, em todo o poema musical, a mãe jamais foi convida­
aparecer por ser fictício, como é próprio do gênero. da a ir, pois apenas a irmã o foi. Nada há de estranhável, portanto,
Insista-se ainda no fato de que os versos 8 e 11, na cantiga n.° no fato de se dirigir a namorada à irmã numa estrofe e á mãe na
III, apresentam variantes nos manuscritos. Nós ficamos com a lição outra, pois isso é mais um a prova de que as cantigas estão
do Cancioneiro da Biblioteca Nacional e do Cancioneiro da Vaticana encadeadas num todo. Ela foi sozinha ( senheyra) a Vigo, encon-
(lectio plurium codicum potior), por se ajustarem plenamente à in­ trando-se com outras namoradas, que naturalmente também esta­
terpretação estrutural das cantigas. Note-se ainda que a ordem dos vam à espera de seus amigos. E as namoradas banham-se nas
dísticos 7-8 e 10-11 vem alterada no PV, sendo corrigida na edição ondas do mar e bailam no adro da Igreja, enquanto aguardam a
crítica de Celso Cunha, indicada no final deste ensaio, conforme as chegada da nau que deverá trazer os seus amados de volta. Insisti­
lições do CBN e do CV, por se tratar de erro evidente. De fato, a mos, portanto, na observação de que será imprópria qualquer aná­
estruturação das estrofes obedece a determinadas regras, ficando lise literária das sete cantigas de Codax sem o reconhecimento de
assim à mostra o erro do copista. No caso, aliás, não teria nenhum que elas compõem uma narrativa. Se as formos analisar isolada­
sentido criador a transgressão das normas paralelísticas, única mente, é claro que parecerá estranho que a namorada se dirija, na
hipótese em que poderiamos aceitá-la. Diga-se ainda que vários mesma cantiga, à sua irmã e à sua mãe. Tal estranheza se desfaz,
especialistas, a propósito dos versos 8 e 11, da cantiga n.° III, quando vemos que a terceira cantiga é continuação da segunda.
observaram a sua falta de harmonização com os versos 1 e 4, por­ Afinal, a ambas se dirige ela, com enorme alegria, ao receber a
que a namorada se dirige à irmã, no princípio da cantiga, e à mãe no notícia do regresso do seu amigo.
final. Como já vimos, nada há de estranhável nisso, pois ambas são Com a argumentação diversa, Oviedo y Arce também nada
morfemas apelativos dentro do poema musical. Entretanto. D. vê de estranhável no fato:
Carolina Michaêlis de Vasconcelos escreveu:
A mi entender, la frase mia madre está en vocativo: el
futuro verrá, en singular, lo reclama; pero lo reclama más
Madre pode ser vocativo, ou nominativo: madr'e. Tão urgentemente el sentido. La protagonista cantora dirígese
estranhável é que a namorada, acompanhada da irmã, se en las dos primeras estrofas a sua irmana, Mia yrmana
encontre na igreja de Vigo, com o amado, e juntamente fremosa (vocativo), para que la acompane a la iglesia de
com a mãe delas (nossa madre, portanto) afim de admira­ Vigo; y en las dos últimas habla a su madre, mia madre,
rem o espetáculo imponente do mar embravecido, como como pidiéndola autorización para cntrevistarse con el aman­
seria o caso de ela se dirigir à irmã numa estrofe e à mãe te que va a emprender viaje. Así, qué extrano puede parecer,
na outra. (R.F.E., II, p. 269). como pareció a la Sra. Michaêlis de Vasconcelos, la
invocación de hermana y madre en la misma cantiga, por
Sem que em nada se altere a admiração pela obra que D. más que ello no sea usado? (B.A.G., XI. 91, nota 1)
Carolina Michaêlis de Vasconcelos nos deixou, não concordamos
com a sua exegese. A notável romanista desprezou, no momento Embora admitamos que a palavra madre, dos manuscritos,
em que escreveu o trecho acima, o fato de que as sete cantigas não represente vocativo, parte da razão mencionada pelo autor acima
devem ser apreciadas isoladamente. Na verdade, as sete cantigas citado não convence de forma alguma. Com efeito, o namorado
formam uma estrutura narrativa, já aparecendo a figura da mãe, não vai empreender viagem, exatamente porque volta de viagem.
como personagem confidente ou morfema apelativo, na segunda Será vocativo, mas não pelos motivos indicados por Oviedo y Arce.
cantiga, exatamente no instante em que ela lhe comunica que recebeu que chegou a tais conclusões, evidentemente falsas, pelo simples
um recado do namorado. Na terceira cantiga, dá-se continuidade à fato de ter alterado a ordem das cantigas.
segunda, pois nela a namorada convida a irmã para irem juntas a
Vigo, ao mesmo tempo em que volta a dirigir-se à mãe, em esfuziante
alegria, como já havia feito antes. Afinal, a irmã e a mãe não vão

54 55
L eodegário A. de A zevedo F ilho

Sobre o assunto, o professor Celso Cunha escreveu:

No exemplo vertente parece-nos até que o singular visa


a separar as duas vindas, indicando-lhes não a simultanei-
dade, mas a sucessividade. Como se o poeta dissesse: e verrá
i (na Igreja de Vigo) mia madre e (também) o meu amigo
(amado), (op. cit., p. 57 e 58)

Neste ponto, nós nos afastamos ligeiramente da erudita


interpretação do professor Celso Cunha, sem dúvida alguma o
melhor editor do jogral. A nosso ver, no verso examinado, não há
qualquer indicação palpável de duas vindas sucessivas, a da mãe e ibliografia básica
a do amigo, pelo simples fato de que a namoradinha foi sozinha
(.senheyra) a Vigo. A antinomia existente entre as duas primeiras e
as duas últimas estrofes da cantiga n.° III se explica, segundo o
nosso ponto de vista, em função da seqüência narrativa existente 1. ÁLVAREZ B LÁ ZQ U E Z, Xosé M aria. Escolma de
nas sete cantigas, sendo a terceira uma continuação da segunda. E poesia galega, I - Escola medieval galego-portuguesa (1198-
nada mais que isso. 1346). Vigo, Galaxia, 1952.
2. ALI, M. Said. Gramática histórica da língua portuguesa.
3a ed. Estabelecimento do texto, revisão, notas e índices por
Maximiano de Carvalho e Silva. São Paulo, Melhoramentos, 1964.
3. ANGLADE, J. Les troubadours. Paris, A. Colin, 1908.
4. ASENSIO, Eugênio. Poética y realidad en el cancionero
peninsular de la Edacl Media. Madrid, Gredos, 1957. 2a ed. 1970.
5. AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de. A poética de
Fontes básicas de consulta: Anchieta. Rio de Janeiro [s. ed.] 1962.
a) AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de . O cancioneiro musical 6. ____ . O verso decassílabo em português. Rio de Janeiro
de Codax como narrativa. In: Uma Visão Brasileira da Literatura Portu­
guesa. Coimbra, Almedina, 1973. [s. ed.] 1962.
b) CUNHA, Celso Ferreira da. O cancioneiro de Martin Codax. 7. ____ . Anchieta, a Idade Média e o Barroco. Riode Janeiro,
Rio de Janeiro, 1956. Gemasa, 1966.
c) SPAGGLARI, Barbara. II canzoniere di Martin Codax. Estratto 8. ____ . Structure et rythme du vers décassyllabe chez D.
dagli Studi Medievali, 3a Série. XXI, I, 1980. Joan Garcia de Guilhade, troubador du XIIP siècle. Romania, Pa­
d) TAVANI, Giuseppe. Parallelismo e iterazione (appunti in margine ris, 89 (3): 289-312, 1968. Há separata.
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Notas 10. ___. Uma visão brasileira da literatura portuguesa.
a) Os textos de Martin Codax estão conservados nas seguintes Coimbra, Almedina, 1973.
fontes apógrafas: Pergaminho Vmdel, CV=884-890; e CBN= 1278-1284. 11. __ et alii. Teoria da literatura. Rio de Janeiro, Gemasa,
b) O estabelecimento do texto é da responsabilidade do autor deste
1973.
ensaio, pois difere (em partes) de Iodas as edições conhecidas.
c) Texto lido no / Congresso Internacional da Língua Galego- 12. __ . Ensaios de linguística, filologia e ecdótica. Rio de
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62 63
RINCIPAIS OBRAS DE

L e o d e g á r i o A . d e A z e v e d o F il h o
7. Discurso de Formatura em Letras Neolatinas. Rio de
Janeiro, Gráfica Carioca, 1950.
2. Alguns Problemas do Idioma. Rio de Janeiro, Gráfica
Carioca, 1953.
3. Didática Especial de Português. Rio de Janeiro, Editora
Conquista, 1958.
4. A Poética de Anchieta. Rio de Janeiro, Gráfica Carioca,
1962. Tese de Concurso Público para o Cargo de Professor
Catedrático do Curso Normal - Português e Literatura.
5. O Verso Decassílabo em Português. Rio de Janeiro, Gráfica
Carioca, 1963. Tese de Concurso Público de Provas e Títulos para
o Cargo e Professor Catedrático da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro.
6. A Motivação e a Orientação da Aprendizagem no Ensino
da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, MEC, 1963. Obra premiada
pelo Ministério da Educação e Cultura, com direito a estágio no
Centro Internacional de Estudos Pedagógicos, em Sèvres, França.
7. Passo da Silveira e seu Universo Poético. Rio de Janeiro,
Gráfica Carioca, 1963. A obra recebeu o Prêmio Sílvio Romero. de
Crítica Literária, conferido pela Academia Brasileira de Letras.
Parecer de Barbosa Lima Sobrinho.
8. As Unidades Melódicas da Frase. Rio de Janeiro, Editora
do Professor, 1964.
9. Introdução ao Estudo da Nova Crítica no Brasil. Rio de
Janeiro, Acadêmica, 1965.
70. Anchieta, a Idade Média e o Barroco. Rio de Janeiro,
Gemasa, 1966. A obra recebeu o Prêmio José Veríssimo, de Ensaio
e Erudição, conferido pela Academia Brasileira de Letras. Parecer
de Alceu Amoroso Lima.
77. Murilo Araújo e o Modernismo. Rio de Janeiro. Gemasa,
1967.
72. Gramática Básica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro,

67
L eodegárto A. de A zevedo F il h o T r ê s e n s a io s d e l it e r a t u r a m e d ie v a l g a l e g o - p o r t u g u e s a

Fundo de Cultura, 1968. 29. Publicação da Miscelânia Filológica Serafim da Silva


13. Estmturalismo e Crítica de Poesia. Rio de Janeiro, Gemasa, Neto. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, 1967.
1970. A obra recebeu o Prêmio Banco Regional de Brasília, no IV 30. Publicação de 15 núm eros da Revista de Língua e
Encontro Nacional de Escritores. Literatura. Rio de Janeiro, SBLL, 1979-1987.
14. Poesia e Estilo de Cecília Meireles. Rio de J aneiro, Editora 31. Um Debate sobre o Discurso Literário. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1970. Prêmio Octavio Tarquinio de Sousa. Livraria Padrão Editora, 1982. Em colaboração.
15. Para uma Gramática Estrutural da Língua Portuguesa. 32. História da Literatura Portuguesa, vol. I; A Poesia dos
Rio de Janeiro, Gemasa, 1971. Trovadores Galego-Portugueses. Rio de Janeiro, EDUFAL/Tempo
16. Síntese Crítica da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Brasileiro, 1983.
Gemasa, 1971. 33. As Poesias de Anchieta em Português. Rio de Janeiro.
17. Ensaios de Lingiiística e Filologia. Rio de Janeiro. Antares, 1984. Em colaboração com o Prof. Dr. Sílvio Elia.
Fundação Getúlio Vargas, 1971. 34. Manuel Maria Barbosa du Bocage-Poesia. Rio de Janeiro,
18. A Técnica do Verso em Português. Rio de Janeiro, Coleção “Nossos Clássicos” da Livraria Agir Editora, 1985.
Acadêmica, 1971. 35. Lírica de Camões, vol I: História, Metodologia, Corpus.
19. Poetas do Modernismo. Rio de Janeiro, Instituto Nacional Lisboa, Imprensa Nacional - Casa de Moeda, 1985. Apresentação
do Livro, 1971-1973. A obra, com a colaboração de mais de 20 de Antônio Houaiss.
críticos literários coordenados pelo Prof. Leodegário A. de Azevedo 36. Dtísde Camões: A Instabilidade da Fortuna. Rio de Janeiro,
Filho, foi publicada em 6 volumes. Elogio de João Cabral de Melo SUAM, 1985.
Neto pela imprensa de Portugal. 37. A Obra de Anchieta e a Literatura Novilatina em Portugal.
20. Teoria da Literatura. Rio de Janeiro, Gemasa, 1973. Em Rio de Janeiro, SUAM, 1985.
colaboração. 38. Lírica de Camões: /". Tomo dos Sonetos. Lisboa, Imprensa
21. Uma Visão Brasileira da Literatura Portuguesa. Coimbra, Nacional - Casa de Moeda, 1987. Apresentação de Sílvio Elia.
Livraria Almedina Editora, 1973. 39. Literatura Poituguesa: História e Emergência do Novo.
22. Curso de Literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Gemasa, Rio de Janeiro. Editora Tempo Brasileiro, em convênio com a UFF.
1975. 1987.
23. As Cantigas de Pero Meogo. Rio de Janeiro, Gemasa, 1974. 40. Iniciação em Crítica Textual. Rio de Janeiro, Editora
Edição crítica de um trovador galego-português do século XIII. 2a. Presença, 1987. Apresentação de Antônio Houaiss.
ed. Rio de Janeiro, Tempo Brasileira, em convênio com o INL, 1981; 41. Luís de Camões: Ode ao Conde do Redondo. Riode Janeiro,
e 3a. ed. Galiza, Espanha, Laiovento, 1995. Editora Presença, 1988.
24. O Cânone Lírico de Camões. Rio de Janeiro, Gemasa, 42. Lírica de Camões: 2". Tomo dos Sonetos. Lisboa, Imprensa
1976. Nacional - Casa de Moeda, 1989.
25. A Lírica de Camões e o Problema dos Manuscritos. Paris, 43. Luís de Camões: 13 Imagens e 1 Poesia. Itália, Edizioni
Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XIII, Fundação Calouste delfArquata 1990. Introdução e Nota Conclusiva de Barbara Spaggiari
Gulbenkian, 1978. e livre adaptação do texto poético de Camões ao italiano moderno por
26. Publicação das Atas de dois Simpósios de Língua e Maria Raífaela Trabalza.
Literatura Portuguesa, ambos realizados na UERJ, em 1967 e 1969. 44. Sobre Camões e Machado de Assis. Rio de Janeiro, Discurso
27. Publicação das Atas de nove Congressos Brasileiros de Proferido na Academia Brasileira de Letras, em agradecimento ao
Língua e Literatura, quase todos realizados na UERJ. Rio de Janeiro, Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de obras, 1995. Parecer de
Gemasa, 1970-1976. Antônio Houaiss.
28. Publicação d a Miscelânia Filológica ClóvisMonteiro. Rio 45. Camões, o Desconcerto do Mundo e a Estética da Utopia.
de Janeiro, Editora do Professor, 1965. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1995.

68 69
L e o d e g á r io A. de A zevedo F il h o

46. A Configuração do Real em Euclides da Cunha. Rio de


Janeiro, Tempo Brasileiro, 1996. Prêmio Mauá de Literatura.
47. Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Língua e
Literatura. Rio de Janeiro, UERJ, 1997.
48. Lírica de Camões - Canções. Lisboa, Imprensa Nacional -
Casa da Moeda, 1996.
49. Urica de Camões - Odes. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa
da Moeda, 1997. Apresentação de Roger Bismut.
50. Lírica de Cainões, Elegias em Tercetos. Lisboa, Imprensa
Nacional - Casa da Moeda, 1998. Apresentação de Álvaro de Sá.
51. Ensaios de Lingiiística, Eilologia e Ecdótica. Rio de Janeiro,
SBLL/UERJ, 1998.
52. A Linguagem da Crítica ou A Crítica da Linguagem. Rio de
Janeiro, UERJ, 1999.
53. Lírica de Camões - Oitavas Líricas. Lisboa, Imprensa
Nacional - Casa da Moeda, 1999.
54. Obra em Prosa de Cecília Meireles, em 10 Tomos.
(Coordenação geral. Obra publicada pela Editora Nova Fronteira).
55. Éclogas de Camões. Lisboa, Im prensa Nacional - Casa da
Moeda, 2000.

70
5- Não sou especialista de literatura medie­
val, mas creio poder afirmar que se trata de um
estudo exemplar, tanto do ponto de vista
ecdótico e lingüístico, como do ponto de vista
da análise das estruturas literárias. Vitor Manu­
el de Aguiar e Silva (Portugal).

6- Refastelei-me fartamente na leitura de As


cantigas de Pero Meogo, tão estimável pela ri­
gorosa conformação filológica, como pela deli­
cada percepção literária. Ernesto Guerra da Cal
(Espanha).

7- Na segura hermenêutica do professor


Leodegário A. de Azevedo Filho, o trovador Pero
Meogo emerge livre da linearidade característi­
ca dos nossos estudos medievais. Sobretudo
porque o analista soube ser sensível à peripécia
meta-textual do analisado. Colocou-o no centro
de um vasto sistema narrativo, onde o poeta
aparece como um hábil transgressor de códigos
e como um eficiente instaurador de símbolos. E
aí as cantigas de amigo surgem como formas
confluentes, pluridimensionais, subvertendo a
delimitação convencional dos gêneros literári­
os. Eduardo Portella (Brasil).

8- A edição crítica da lírica de Camões, ini­


ciada por Leodegário A. de Azevedo Filho e já
com oito tomos publicados, é a única iniciativa
cientificamente rigorosa, depois dos estudos
pioneiros de Wilhelm Storck e Carolina Michaélis
de Vasconcelos, seguidos em épocas mais re­
centes por interveções parciais de Costa Pim-
pão e Jorge de Sena. Barbara Spaggiari (Itália).

9- Por volta dos anos 60, Camões, o Camões


lírico, virou brasileiro. E a crítica textual
camoniana, oriunda da Europa e, nomeadamen­
te, de Portugal, migrou para o Brasil, antes de
regressar à Europa mais enriquecida e mais cons­
ciente dos métodos que lhe são próprios, graças
aos trabalhos verdadeiramente científicos da
Escola Camoniana Brasileira. Maurizio Perugi
(Suíça).
E ditora A gora da I lha 10- Convertido, por incontáveis virtudes, no
T el/F ax : 0 xx 2 1 3 9 3 -4 2 1 2 maior estudioso camoniano da atualidade, cum­
pre advertir que Leodegário A. de Azevedo Fi­
agorailh@ruralrj.com.br lho soube mostrar a teimosia suficiente para pe­
gar um projeto crucial e vencer com arrojo e com
acerto uma boa parte do sem-fim de abrolhos
que nele estão implícitos. Xosé Manuel Dasilva
Femandez (Espanha)._______
4Do século XII aos meados do século XTV, a
poesia dos trovadores medievais galego-portugueses
foi cultivada na Península Ibérica Não apenas na Galiza
e Portugal, pois a voz dos trovadores e jograis também
se irradiou por Castela, Leão e Aragão. Os trovadores
mais antigos, por certo, são D. S an c h o I(1 1 5 4 -1211)
e João Soares de Paiva, que nasceu por volta de 1140.
Paio Soares de Taveirós - autor da famosa cantiga da
guarvaia, que D. Carolina Michaelis de Vasconcelos
julgou fosse dedicada a Ribeirinha (D. Maria Pais,
amante de D. Sancho I) e escrita em 1189, na verdade,
é autor da primeira metade do século XHI. Desfaz-se
assim a difimdida hipótese de ser a cantiga da guarvaia
a mais antiga composição poética dos cancioneiros
medievais.
Todos os textos dos trovadores medievais galego-
portugueses são apógrafos dos fins do século XIII ou
princípios do século XIV. A poesia lírica occitânica, ao
penetrar no domínio galego-português, já encontrou
as deliciosas cantigas de amigo, como forma nativa
da versificação peninsular. Aliás, a linguagem arcaica
dos cantares de amigo atesta a sua longa tradição
peninsular, em forma paralelística.
Os textos foram parcialmente transmitidos em
forma manuscrita, pois não havia imprensa na época.”

E ditora A gora da I lha

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