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59
32m
m,tio de
ROBFRTO SARMbNTO UMA. nac;c ido cm 11 de
Departam ento
1956. cm Maccio, Alagoas, é Professor J\%istente do
ral de Ala-
de Letrns Clássicns e Vern ácula s. da Universidade Fede
Brac; ileira /\
goas ( UFA l ). onde ensina , desde 1978. Literatu ra
ic;a e a crít1cr1
partir de então, vem dedi cando-se ao ensino, à pesqu
ensaio<.,: Rea-
!iteraria. tend o já publ icado , ent re outro s, os seguintes
ação Hoje . de
lidade r metá fora C'm Eça de Queirós ( revista Educ
novidade ( F- o-
Palmas. Para ná. 1980) ; Mod ernismo: o projeto da
lha de Letra s, periódico do Departam ento de Letra
s da UF AL. n<?
1. 1982 ): Literatura , metalinguagem e ideologia
(Folha de Letras
nº 2. 1981 ) : Produção, distribuição e consumo
: uma contribuição
m, n9 I 5.
para a análise do discurso (Revista Scientia ad Sapi entia
Edufal. 1985 ).
ileiro de
Como conferencista, participou do VII Congresso Bras
nal de Litera-
Teoria e Crítica Literárias e III Seminário Internacio
em Campi-
tura. promovidos pela Universidade Federal da Paraíba,
ico-ideológi-
na Grande. em 1984, com o trabalho As relações estét
publicad o na
cas do texto literário, depois transformado em ensaio,
Revista Scientia ad Sapientiam, da UFAL.
a sua pri-
MANUEL BANDEIRA: O MITO REVISITADO é
o no Con-
meira publicação em livro - resultado do prêmio obtid
tuto Nacio-
curso Especial Manuel Bandeira, promovido pelo Insti
da Cultura, em
nal do Livro/Fundação PRó-MEMóRIA/Ministério
1986, em homenagem ao centenário do Poeta.
·,
Lima , Roberto Sarmento
L 732 Manuel Bandeira: o mito revisitado (uma leitura
Sarmento
mter textual da poética da Modernidade) , Roberto
Instituto
Lima . - Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília:
Nacional do Livro, 1987.
52. p.
1. Lit eratura brasileira ·- ensaio l. Títul o
CDU 82-4 (81)
CDD D869
ROBl RIOSARM[HlO UMA
lho· ·
Pla nejam ento Editorial: Kátia de Carva
ET FA L
Btbff11feef BeMJiflei Mente
N*
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11. o?. r1,
SUMÁRIO
6. CONCLUSÃ O
1. INTRODUÇÃO
7
, nt,dn I r'-1, 1tn ,linda f.11 ia rn jp:irtc <-e lcva rm nç; C'll ()r
qn1 1 llll l
. ,rnm ,,,11n lrln ,1 cpnca llH'< c111,1. que conc;olid,'l J Cli<;;i
c.1dll 'H,ll()
ruptura . .
)
( • ~,mbrih,mn. cnqunnto 111ov1mcntn orga1117ado. não fo, dev,_
,. . d
1 . , "lm'cnnio 1101 ,cuc; contemporancoc;. , e a111 ,
a não O t.'- <i Uff-
ll l\ lllll11 l ,, '
C'ICílll' llll'llll', c;;al\'o e.e o ~ cc;;gn tarmoc; da e,~~ c_,ta _1111~a de tempo que
(' ,ul(,ç:1 cm e.cu pr~1u170 entre o J a, na:tani <;mo e O Moder-
,., ,m(' \ fiei que um cc;ttlo te1~ha de ser en~cnd,do deslocado de liCU
contc\ tc, cc;;pacio-tcmporal: nao se trata d1sc;o. ao contrário. é
conflu~ncia entre o pa rt;cular - a ins~rção do estilo no seu tem;~
rsp;:-cifK't1 _ e O geral - . a sua cap~c,dade de di ?logar com outra,;;
cr(iras _ que reside o ra io de atuaçao de um estil o, um autor. um
mo, imento. Infelizmente. parece. ao menos em sua maior parte. a
cnt1ca tem privileg' ado a primeira opção. isto é. tem feito da tira-
nia C-l1nologica a camisa-de-força das manifestações culturai5. Sot
essa perspectiva. por exemplo. Machado de Assis é ora um román-
t;co. ora um realista. impedindo-se de ver no romancista toda uma
, érie de elemen tos que faz dele um autor moderno. A opção crítica
conciliadora. c·omo a que colocamos ac· ma: repara, corrige a miopia
imposta pela linearidade historiográfica.
Se é verdade que um estilo contém. além dos seus ingredieme5
específicos e tipificadores. um raio de ação que ultrapassa os seus
limites espacia:s, é verdade. então, que o Simbolismo. a despeito
de- sua feição evanescente, comporta elementos que vão permitir a
pas,agem para a contemporan eidade. Assim, o Simbolismo frances
pode ser compreendido como o momento estético inaugural da mo-
dernidade. Mas que elementos são esses? Em primeiro lugar. a ten-
déncia para a auto-ref erencialidade do texto poético. assunto que
será dis-:utido mais adiante quando, então: será definido o termo
moderno.
Manuel Bandeira. o Autor que este trabalho focaliza. semprc-
demonstrou. ao lado de uma atitude refinada no que diz respeito
à seleção dos temas, uma predisposição muito acentuada para a
compreensão do seu próprio fazer. Não ignorava, por exemplo. que'
a poe~ia é uma produção humana e, por~ isso mesmo, objetific:w5o
do homem na medida cm que o produto traz as marcas do própriL'
ato de produzir, marcado que é pela si tuação cm que se insere:
8
l 11113LIQ.!ECA_- ETf ALj
r m out, a, palav1 a,. Ba11de11 a fr, com que um de seu. . asc;un-
to, fosse o ato de criar . atit ude mod erna que inva
dirá maci çamente
a at lc deste século. Ver-se-á que. descon tadas as
difercnçac; essa
fcn lam bem uma iniciativa do Simb olismo. moti
vo por que é necec;-
~a, t::1 uma leitura intertcxtual dos autores desses
dois mom entoc;
Outro elemento. fulcro da análise. é a tend ência
para a deHa-
cralh.ação do fazer poético. recurso a que os si
mbolistas. rcc;pon-
dcndo ao processo de mass ificação e reificação impo
sto pelo capita-
lic;mo. recorreram à saciedade - fo rma não só de
marginali nr-se.
mas de alhear-se da linguagem quotidiana de uma
sociedade capa?
de diluir o senti do legítimo do hum ano. Os moderno
s, completa ndo
essa linha de ação . restaurarão o significado do
trabalho artís tico.
numa expressão conivent e com o momento atua l. para
o que o Sim-
bolismo represent ou port a de entra da. malgrado
a incompreensão
histórica desse mov imento. Quase sempre enca rado
a partir de uma
visão unilateral mente estetizante. não lhe detectara
m o essencial -
a crític a da artic ulação entre a palavra e a reali dade
instaurad a no
próprio discu rso poético. que. de meio. passou a
ser um fim em
si mesm o. Mas preferiram ver no Simbolismo. com
o aspecto fund a-
mental. o que ele tem de orna mental: jogo de fone
m as, aliterações
e musicalidade ...
Estabelecida: assim , a pont e entre o mod erno -
agora sem definição e por isso prestand o-se a vário term o ate
s usos - e os
seus antepassados imediato s. os simb olistas, torn
a-se mais com pre-
ensível a opção por uma leitura intertextual, o que
evita setorizaç &s
que só têm prejudicado a visão global do fenômen
o. Caso contrá-
rio. a poes ia de cunh o meta lingüístico, como a de
Manuel B~ndei-
ra. que será estudada aqui , não passaria de um
episó dio fortu ito.
cujas raízes seria m enga nosa mente entendid as com
o uma idiossin-
cra ~ia mod ern ista. É justament e para reva lorizar
as relações entre
o~ vários textos. de diferentes époc as e lugan.'s.
qur se impõe essa
visfo ampl 'ada , além do que, por esses meios .
mdh or se define.
no ca1io em quc5.tão. o co mpo rtam ento estilí stico
que aqui se quer
destucar : o di1ic urso da mo<.krnid:1<.k , momento em
que n co1v,cicn -
cia do faí'er poético é ekv ada ;', condiç:10 de ekm
ento diferencia-
do, junto n trnd içfío lit erária .
9
2. DEFINIÇÃO DE MODERNO
15
pr1 0 11ll'1lni.,, um dl,t 111a1 ft rio /\. v1<-âo opO', ta a de que é p<rsÍ'ld
a " pu 1o n" d:-i pa h1vrn encontra j!ua.n<l a. pn ncí palrnentc cm
trn1,.,, 1ln)!ii1,t1 l ,,.._ '\. ,10 pm au-1 <.o P"de-<,c ler. na<, pala ~ra\ fm;,1,
dn Cm \ cl dr / 111Ru1 , t1< a ( ;('ra , de ) éW"IWrc. o ap0 '> c1ent 1' 10, ~
c<;,a conccpcâo ":1 1 rn piií, tirn tem por ÍJ íll (.O e verdade 1 rn ,,bje·,,
a ltnc.ua cnn, 1dc1ada cm ,i mc,ma e. por 1,1 mec,ma .. ( 1977 P 271)
1 cnn a ccnt 1ada na arhitrn n cdadc do si~no hnj!üíst1co I e"a
\ i, àl"' tem "ºº 1p.ualm cnte c"ltendida a teor a da literatur a. A P" n-
c1 p10. pa1 a p.a1ant11 c,tat uto de u cntif1c1dade as ,recenteme_nte. fun-
dada, c1Lncia, da. linguage m. mas. "IObretud o. por obvia<, ra7oe~ ·de()-
}c,g1ca, - ai., qu e obc:.curccem o caráter emi nenteme nte -;oc1al da
pa1a\ 1a. cm gc1ai rcif cada e man ipu lada pelas classes dom·nan •;-;
<;Oh (' capitahc;mo para a manutenção do \tatu s quo - ; essa teoPa
aprnfundou-, c à medida que se aprofundaram e c;e tornaram ac•r_
rada, a<; contrad ições sociais. A palavra não foge; apesar de seu
poder mediatizador das ações numa sociedad e, ao fetichismo que
autonomiza o objeto. a coisa, em detrimento do homem. seu pro-
dutor. Consolidada a crença na arbitrar;edade do signo lingüístico.
palavra e mundo tornam-se departamentos confinados a áreas es-
tanques e mutuamente indiferentes. O elo que os une, segundo Saus-
sn rc. é o da mera convencionalidade.
1 A rb1tra rit>dadc do '> tgno lingu 1'> tico para Sau~-;urr, implicn u imoti, .,,•.iü
w trt: o !>ign 1f1 cunt L: e o -.1gn1f1cado A,.,im . n uo h íl\ Cmlo , mr uln 1uw ..il
1:11trc a pala\l a L: o rdc1cntc, ab'>trni i>C a l1 ngun dn ,odcJHLk e d;, hh , l, rt.1.
16
essa área. Foi, inclu sive, com a construção
de cidades-estado e,
conseqüe ntemente. com o desenvolvim ento do
modo de produção
cscr:1vagista, que o foco de investigação filos ófca
sofreu suas pri-
meiras alte r~ç~es. Pois bem, com os pré-socr
áticos, qu e viveram
antes da sof1st1cação das cidades., o foco de aten
ção era o mundo.
sobretud o o mundo físico; assim , instauraram-
se diversas cosmolo-
g'.as. c?no ~xpli~ação da realidad e circundante.
A essa época,. c·ên-
cia e _t1losofia nao eram atividades disti
ntas, uma vez que o mundo
e_ra visto con}o uma unidade. Tales de Mileto,
por exemplo, inve s-
tigando a _on~m do cosmos, afirmou que tudo
provinha da água.
E t31 cxpl:caçao. aparentemente inocente, não
era casual: tendo vi-
vido na Ásia Menor, numa cidade litorânea onde
o mar era local
de trabalho. arena das transações comerciais, ' Tales observou
a água era fonte e origem do universo , mesmo que
que não tivesse to-
mado consciênc:a de que o mar como local de
cionava a percepção das coisas. trabalho lhe condi-
Se com os pré-socráticos o cerne da explicaç
ão do universo
reca ía essencialmente sobre o mundo físico, a part
ir do período so-
crático. século V a.C., concomitante com o dese
nvolvimento eco-
nômico e militar de Atenas, transfere-se a aten
ção para a cidade e,
com isso , altera-se o enfoque filosófico: das
cosmologias passa-se
p&ra a antropologia, pois agora a preocupação
é o homem inserido
na pólis. Com os sofistas, que iniciam o novo
período da filosofia
grega. a unidade cosmológica dicotomiza-se, em
virtu
cimento da divisão do trabalho, em logos e phys de do recrudes-
is, termos que, de
difícil tradução , passam a significar pares opostos
e irreconciliáve:s:
conceito e realidade; razão e natureza ; palavra
e coisa. Logos pre-
domina sobre physis: a razão controla o mundo.
Nasce, pois, a fi-
losofia grega metafísica, notadamente dualista,
marca de todo o
pensamento que a partir daí s~ desen~o~v~u.
Platão filósofo desse penodo, d1v1dm o mun .
do em d01s: o
mundo das ' Idéias supremas. perfeitas, e o mundo
da cópia, o mundo
em que vive o homem. Tal oposição acentuou-se
no período medie-
val-cristão: logos é o Verbo divino, e physis, ~
mundo t~rreno. No
Renascimento. alvorecer da Idade Moderna, epoc
a dommada pela
tfrnica e pel ~ ciência, palavra e coisa tenderaTI?
,
um dista nciamento. A parf r do século XVII, .c~da vez mais , a
m1cia-se a episteme
clássica a era da R epresentação. (Foucault, 198
' 1)
17
dcrnidadc _ aqui definida, como~ já foi ,dito antes ' ª Part.
111 O 'b · especifica de Baud 1 .ir dos
imbolistas franceses., da contn tmçao ~ razao ~ por que n e a1re
S
onstit ui uma ·
fissura na ·
repre sen açao, , -
C d 'd d ~ ' unca e de-
mais insistir. · ~
represen~açao e m_o ernr a e sao termos de
valia. dado O seu carater globahzador, para se entender d grande
movimento de evolução do chamado passado literár•io orava nte
0 par a
ruptura desse passado. a
Em que consiste a representação? Termo cunhado por 1.
Fouca ult (1981 ), ao estudar as diversas fases do saber .~ che1
representação correspon~e ao mome~to. em que, acentuad~c~ entaI,
sição entre logos e physzs, o saber class1co começa a formar- ºP~-
losofia e ciência que, entret os pré-socrát icos - na investigas: · Fi-
, . . t· Çao do
mundo f1s1co - ,. apresend avam-se m 1mam ente unidos , não so, se
separam: compartimentan o-se, como tam b,em se colocam
. ' mco. . A F'l1osof'ia Modema, de recorte carte em• um
sistema h1erarq . -matemático. Assi siano'
. ento f'1s1co
so . do do conhec1m
b o pnma
n:1sce
.,. . ,• • - . m, as
c1enc ias matem aticas 1mpo em seu estatu to gnos1 ológic o à filos f'
levando o par filosofia-ciência a experimentar a prevalência doº ia~
cionalismo sobre o empirismo, das ciências exatas sobre as natur~~
da filosofia, enquanto velho tronco do saber, sobre a ciência en~
-
quanto conhecimento particular e setorizado. O aparato do c~nhe
cimento identifica-se com a crescente sofisticação da sociedade eu-
ropéia pré-capitalista. Palavra e mundo começam a sofrer uma
contínua separação, já que, erigida a palavra à condição de nomear
cientificamente a realidade, por tudo perpassa a marca da represen-
tação no sentido dramático do termo_. numa palavra, a marca da
convencionalidade. E os saberes dessa época confirmam isso: a opo-
a
sição logos e physis desloca-se de sua dimensão ontológica para
e
sua dimensão epistemológica. Opõem-se agora filosofia (logos)
ciência (physis) , com o predomínio da primeira sobre a segunda.
Nesse contexto, nasce a Lógica de Port-Royal, no século XVII,
centrada, como não poderia deixar de ser, nessa visão dualista:
.ª
ti;
palavra representa a coisa, sem que, entretanto, a palavra recon~
tua historicamente a coisa. Afinal, na esteira de Port-Royal, drra -
1
18
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cm v.ir1,1c; cl1r1.:çc°lcc; () 'ron )
l°\'1 l 1(,, ,1f rn. tal cnmn crn cn tcmhdn cnt, e oc;
~rcgoc; e att. o ui,
, \ 11. dn 1dc com ,1, c1ênc1ac; a C\pli :aça o da n,1tu
rc,,1 e do homem
.\gi:-, ra a c1cnc1a predomina c;ohrc a fil oc;of
ia C,1d a c1ên 1 v II d _
:,unl" :u a c;ua maneira. o descentramcnto ontológic
o do <iuJ ito.
() Po,;,itn rnnn. ao sepa rar o c;ujei to do conh eci men
to do e hJe'o
J\" ~('nhcci men to. para gara ntir a " neutralid
ade.. cien tíf ca autono-
rrnza ç1 objeto. o que levou Durkhcim a di?er que
oc; fatoc; c;ocia 1,
dc, cnam <:cr analisad os como coisa'i. isto é. desp
ojá-toe; da c;ub=e-
tn 1d<.1dc. O Mar xism o. numa posição obvia mente
contrária. acen•ua
0 h qori cismo. tomando como prin
cípio a prim azia do ser c;oc ai
<:obre a consciência: com isso, acusa a al ienação
do trabalho. ">t-
ruação cm que grande parte da humanidade do Suje
ito se perde na
ot-jcto que do produtor se separa , graças à divi
são soci al do tra-
balho. impo sta pela socie dade capitalista. Por sua
vez. o Ei·olucio-
ni,m o, destronando a concepção bíblica da origem
do hom em. tira-o
da pos·ção de destaque e superioridade na esca la
zoológica. -~ Pc;z-
canálisc, por outro lado. revela que o apar
el ho psíquico hum an0
r,ão é uma regiã o pura: entre o consciente e o
inco nsciente ha o
superego . que são os costumes, a sociedade. a
educação qu.:- s.:
instalam na constit uição do Sujeito. Por fim , a
Lingiiísrica. :i J.:
extração saussuri ana. expulsou o sujei to da cons
trução t~'ür .:-~1.
"optando" pela análise da língua em prej uízo da
fala .
A era da modernidade assiste. assim, ao deslocam
ento do h..."-
mem da sua posição de agente do conhecimento
; obnubila Jú p.:t...,
discurso c:ient1f1co. o Sujeito, como elemento criad
or. vai "l.'r um-
bem no plan o da expressão literária , subm etido
a um q th.''-t ll, :,.1-
n1tntu yue vai 11 adu, ir-!:,C atrnv ~" da ml'laling
uagt'll\, rei..'llf' l' d~
que '-t' , J J !:,L'Jv1 1 a poe!:,·a para e>.por o seu ti..' l'idn
dt·sga~t~Hk' \ . .,
rtl::i~oe') t·nt 1e o poe ta e a ~ocie dadc ~ão d~ ini.
.' L'L ta :, i.· ~-l,n(hh,
advu n Ju UL'!:,l'onl 1ança com que o imagina, io
I.' ab"l' t, 1dl, p~\l, ,
d1!:.Lu1~0!:, corrent e!:, pe}o!:, !:,logam, ideo lôgico" .•
\ fnrm aÇ,ll' d.t ' l)-
r1e<l.1dt bu1 gul.'!:,il a que enge ndrou o codigo do dr ~ct·n tram~ll tt,
or.wpuL t1Lü 1111plka ne1:e~-., a11amc 11tc. pai a a dirai..·ta dt) ,~·u
g1 a111J 1deulogtLO cult u1ai, foi Ilias i1H.:dita" de ri Pll'-
pü~l'.l andu pu1 UJII 11 o vo co nt:L'1to de L'd uca~·üo afct:
.•prl' ~~Ül), ª" q u.u, .
1111 ine, it:\\ L'l tlll' l\
20
1
1~ ~l ~~T_ECA - E rf AL )
1c o terreno da pnc,in Prn is<..<\ podc-"'e dizer, se
quisermo<; ampliar
o raio de ação lfo modernidade, que foi a partir da estét
ica român-
tica - que substituiu a teoria da mímesis. a imitatio cláss
ica, pela
teori a da c\prc,,ão - que se deu a corro são da soberania
do Su-
jeito . antes entroni7a do pelo Hu mani smo e pelo Renascim
direção à perifer·a do ~istc ma. ento. em
O devaneio . o sonho, a fu ga do real histórico são sintomas
que. entre o homem e a nova sociedade, há mais opo<iições de
que se-
r1elh,rnças . A recorrência à individualid ade, ao "gên
io", é o retrato
da noYa ordem comunitária. que, a partir de então, tem
regulado e
priYatizado não só a esfera da economia, como também
a área dos
sentimentos e paixões. A modernidade, com o advento
da Histó-
ria. presencia a homologia verificada entre o mundo da econ
omia e
o mundo da cultura. O hom em passa: então , a questiona
r sua po-
sição dentro do real, e. com isso. seu trabalho é igualment
e posto
em questão.
21
1inpu ~~ :ÊiFÃ-íl
-- ...,
4. A l\1ODERNIDADE OU A ASCENSÃO
DO SIMULACRO
4 . l . A crise da Metafísica
23
,r , l'l1n,,deindn <) . idi\11,0 1 dr ~f! un1., rntJ < , ) l!rt1n dr.
d n,
r 1"ll1l te en
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,nrntc 1 ('f"l(1 ,1ç an 1..c ' N (
co nc ret a e me dia ta
a percepção
ob sta nte . co m su a cr íti ca . tenha cont rit-iu,d l)
11do du humano não ch am ar de descent rn ment L) l)ll
lL'-
5,e co nv en cio no u
p_u'.ª C' 4ue aqui co loc aç ão periféri ca do ho111c :tl
111 til'
jen o ou !>ej a , a
~o:_rico do Su qu
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qual se separn e com ( l
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. As sim po r so br e es 'ia ba se desan11011iosa
~i.u_u em co nfino ton ism o porquanto
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d· , · d d co nt em' por·1,. 11c·1 co' mo a qm, ,·1nrc r
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urna anal,~e co r"J .~1.1 u sacie a e 1 ·)'
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J l d'f ' . se ria m e
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111e s111as a, n· :ll,l t
'i.Clllali:1 111 Ma1x e : nge s. 1 ·cllm ente
e11trt o homem e a sua rea lidade. . '• 111 11 :1
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rtd tf ,,11çao de !)t us co1l . ··1os p Ot'. i a co rre ta ('0111pn•l'IIS ,H ) '
. CCi
2A
lações entre arte e sociedade passa pela necessidade da superação
da ~etafísica" (Tavares d' Amaral, 1984, p. 123). E foi no Ro-
mant1smo que começou a se delinear essa redefinição, apesar da
falta de uma consciência teórica que sustentasse o projeto de críti-
ca às implicações mútuas que se estabelecem entre o texto literário
e a sociedade. Como foi dito no capítulo anterior, os temas român-
ticos como a evasão no tempo e no espaço e a busca do isolamento
do poeta são 1 na verdade, respostas às novas formas de conduta no
meio social. À cultura burguesa que reprimiu a sexualidade, demo-
cratizou o ensino e privatizou o capital corresponde uma postura
ideológica de rejeição ao convívio da cidade; daí a procura do
campo. da natureza, numa época distante - a Idade Média primi-
tiva - em que a industrialização ainda não tinha aparecido.
A poesia simbolista, vivendo as contradições inerentes ao de-
senvolvimento do capitalismo em seu apogeu, problematiza, de forma
consciente e programática, a aridez dos novos tempos, ao menos
para a arte, encontrando, sobretudo em Baudelaire, o seu mais sig-
nificativo porta-voz.
25
70111 0, lrt m0, e n rcc-01 rência a um vocabulário nitidame t
\ic(l ~ ~ 0 ,cn n 11m n nova versão do mu _
1
- . gm ndo dac; Idé ia~ in~ e n:' q·
30 hc,m l m que amda nao atm as essc"ncia
. c;? , ce~,1ve1
Pc•t 0ulr0 lodo . venf1ca-sc o esforço
de Baudelaire em r
d,1..cur, (, rC'ol1'1a rc no do 1ogos; parece
0
, . d N t que o poeta fetuc:ar
1'u,ca d~da a pre, a1cnc ia a a ureza, a consc1e ." .
nc1a primitivrances
ten0r ~ fala e a' log1ca. N'1sso .Baude_ la1re
. e; mod a an-a
d1,t1n,:w de lo~<"H e phys1s, d1coto m1a ern o: r~mpe com
em que o primeiro ter ,
,{'1'cran0 .\ ~ atu rez a ( pl1ys1.s ) , aqu . mo e
. , i, no text o mo derno é m
que 0 Homem t logos ) , isto e, da-se , ~
a reversao da Represe , a1or
Baudelatrc tona. pms. o mundo conw ntação
l''- p-c-socraucos :
unidade, com o o desejaram
27
ÍB IBUO~ C~ _- ~-~ AL)
31
. . poesia e mito são expressões de um mesmo fen~
Assim orn
eno:
"A form a do poema ( ... ) talvez seja uma sob .
de esquemas corporais antiqüíssimos. o que . ~evivência
uma função coesiva · nas comum·dades arcaicasJar cxerceu
se com funções análogas, no produto poético ind~P.: duz_
"Mas não se perca de vista., por amor desorde ivdi uai,
d na o aos
, .
efeitos 1nag1cos d
o poema, o cara, ter eterminado
histórico. da consciência que o organ;zou ... " :
(Bosi. 1977, p. 122-3)
como ª1go ·isolad o, scçarado do' fazer humano no seu signi'f'icado maisao
amplo. Aparentement e, trata-se de uma contradição: retorna-se
32
,nill'' cnq uat~to ta\ pa~·a introdu71 -lo
na Histór ia? É que, desvestido
dl' prcconcc1tos, o nnt o revela a sua
face mais sin cera; e, por isso
n,l'smL"1, pode ser rcp c~,s~do, rc-situ ado
, sem que lhe seja dado um
(arat_cr menor, dcptcci_atwo . lsso é,
pois, igualm ent e válido para a
poesta que. como .º mtt o, sofre a mc:
um d1scurso ma rgina\. :ima pena, a de ser con<;id erad:i
Quanto ao pri meiro motivo acima
adu zid o, convém lembrar _
(Oí ll(' fic?u regbtrado nos
capítul os anteriores - que os simbol
os prt mL 1ro~ modernos. tentando rec istas,
up era r uma ling uagem anterior à
fala e a logtca . Yo\ta1 am-se para os
tempos sagrados, os tem pos da
cr1açà~,. os t_cmpos primordiais, poi
s julgava m que, assim, se recupe-
raria o ~ent1do pleno da poesia ,
ameaçada pelos tempos bistórico-
socia1s que só veem o mito ( e a poe
sia, é bom insistir) como men-
nra cu ilusão. Daí a impossibilida
de ~te se utilizar uma expressão
lne::ana como a que vigorou durant
e a era da representação. A sa1da
tm b.iscar, no lugar da reprodução,
a sugestão, através de sensaçõ~.s
ftsi cas, de cores e sons que se cor
respondessem. Essa a nova simbo-
logia para se ap resent ar a realida
de; algo que foge completam ente
à logica em seu sentido tra dicional.
Era necessária, pois, uma nova
postura diante do texto literário, um
a postura que, rejeitando o dis-
curso concatenado , temporal, se abr
isse
do mundo. O mito - tal como apa para uma nova compreens ão
rece - é revitalizado, sem per-
der. contudo, sua dimensão prime
ira.
Fingin do entrar numa cosmologia,
a poesia . seus meios expressivos, sua a poesia simbolista reinventa
lógica interna e sua capacidade
de dialogar com a História. Baude
laire é exemplo nítido: o sata-
nismo , em que investe, é a marca
da
poeta; daí o mito da cr:ação ser atra sociedade que marginaliza 0
vessado por seu demonismo. E
por isso que , no capítulo anterior,
chamamos a ação poética de Bau-
delaire de sacra/idade pelo avesso:
é ''sacra" a sua atitude na me-
dida em que recupera o mito -
narrativa de uma criação; "p do
avesso'' porque o mito se reveste de
uma dimensão nova, a satànica.
para a qual a atenção é dirigida
através de um. estranho canto de
louvor: ··G\oi re et louangc à toi, Sat
an". Não sena moderno o textü
se o mito tivesse '.,Ído recu{:crudo
nos mesmos term os em que. nC\o
se sab e quando, foi concebido . O
mi_to _da cria~ão - criaçâo da
poesia , tema primordi al ( princi pal
e p~·1
texto ímpar: "F ais que mo n ámc un me1ro) - msc rc-sc nt~m Clm -
JOLtr, sous l'arbre de Scicncc, /
Pres de toi se repose".
Ass im Ba udelair e chocou sua épo .
ca e sofreu um prnccsso _.1 u-
dicial: a s~cicdade de ent ão não ace
itava a nova rou?ngcm dl1 mitl),
porque , enq uan to fat or de cont role
soc ial, era _qu~st1onn~ln _I.' :11n_~:1-
çado em sua mtegridad e. A der roc
ada do mito p0t krt :1 1nrl_us~_\·~·
signifi car o início da derrocada do
sistem a que o preserva . A Sl)L tl -
33
dndl' dn tipn cnpitnl1c;tn. pot exemplo,
não c;c c;cntc seg ura com tr 10
foi mnÇ l)l'' e mudnnçnc;, po1c.. tem con
c;ciê ncia ao mcno<; nq rJc,
dl'ntt de yt1l' n,w l1clH'1a Lha nccc; para urn a
nrnnlh) . \ , 0\1,1 ao cam , cm opo siçã nov~ cnaçan 11,)
o ao cosmo.;; con<;titu1dc ,
rnrda de, a, usl,l 11h)Lk1 110 e vista com c.l csc onf 1ança e te.mor Por
J!-"(' ª" l'l)" llW f.l' llt,1!-. !-cgu11 Jo
o ponto de '.l <ita dcc,sc1 soc1cuddc.. ,
dn un ~'-'' rctoçada!--. t1,m sf1gur ada5, 11 10
mas apc na<i rcv 1v1das pelo<:, ri-
to" que tem o pode, de 10111a1 m,
mit os 1mm vivos e c,oc1alm cntL
ú'l1 " ~tente~. A pL1c~1a mo
dc, na, ao con trari o, retoma as eosm
gi<" pJ t .1 Lllc-l a~ CVL)IU tr cm J1rc olo-
çao a vcrdauci1a~ uc. alo wgw \, p >-
mt ~~a de ruma e destruição .
~ t ) texto · 1 \l açà , d e Ma nuel Bandeira, que vam
cha , e dt1 pro blema com eça mesmo pel os focal1Lar, ,i
o título. A ico nogral1a b1b l1ca
lt'm n.. prc..-.entado, ali ave ~
ua imagem da maçã, o fr uto frv 1b1u
aquele que Deu s disse ser da árvore o,
da ciência do Bem e do ~1a l
macL:;~1, d ao Homem. Ass im, restaria
ao hom em desfrutar das de-
licia~ do paraírn, sem que isso o leva
sse a indagar a razão das coi-
sas. a conhecé-1as; ao contrario, foi-
lhe destinada, como preço da
frui;:ào e do gozo, uma vida de ingenu
idade e inconsciência. A maçã,
müma mente ligada ao mito da árvore
contido da narraç ão b1bbca
do G~nes is, é o ponto àe inte rseção
entre o proble ma da irnanencia
e o problema da transccnd~ncia . Antes
de provar em do fru to proi-
bido, o homem e a mulher viviam ade
ridos à Natureza, em estado
de animal idad e. Com a desobediência
à Lei , comendo do fruto, che-
ga-se ao problema da transcendência
, isto é, o homem e a mu lher
experimentam a passagem da animalida
de para a hominizaçiio: ul-
trap assam o plano da Natureza para o
da Cultura, momento em que
são reveladas as suas ide ntidades, seg
uindo-se-lhes um estado de pu-
dor an tes desconhec ido .
A palavra (ou, se quisermos amplia
r o termo, o disc urso ) é
nitidamente um produt o cultural: é a
maçã depois da prim eira mor-
dida. Pertence ao domínio do faze r hum
ano coletivo. social, já que
não existe soc iedade sem língua e, mu
ito menos. língua sc'm soci?-
dade. A necessi dade da comuni caç ão
lingüística nasceu. nns socieda -
des históric as, a part ir da necessidad
e do trab alho hum ano. meio
pel o qual o hümem sup era - ou tran
scc m.k - sua condiç úo de
anima l. É pelo traba lho que ~e dese nvo
lvem a rac ionalidade t' a ca-
pa.cidade de comunicação verbal cnt
rn os seres hum anos. C'l11oca r
em pólos sepa rados e eqüidis ta ntes o
tral)(I//J o e a língua ~ quc·brar.
através dessa setori zação, uma relação
historicament e indi ssoc invd .
Lín gua é caminho para o <·&nh ecinien
to da rca lidad~, pois a pnhwrn
é veíc ulo do mundo . A sua separação
, aliás, é o qm' tem cnr:\~'ll'-
rizado a abordagem feti chis ta da linguag
e m, seg und a a qunl n hngua.
como categoria social, é vista como
categoria suprn- historicn. 1Llt in
34
e acima da sociedade. Vimos, no Capítulo 2 deste trabalho como as
teorias lingüísticas, a partir do seu pioneiro Saussure tê~ tentado
por razões i?col~gi~as, reificar a condição s~cial da p~lavra. '
Pelo mito b1bhco, a palavra - a capacidade de nomear as coi-
sas - foi dada ao homem por Deus: eis um ancestral da visão
idealista das teorias sobre a linguagem. Mas até aí fa ltava ao homem
o poder de conhece r, no sentido de apreender conscientemente a rea-
lidade. A maçã ainda estava no escuro. Com o ato de desobedi ên-
cia. que lbe valeu, ao mesmo tempo, a transcendência e a decadência,
sendo. por isso, condenado ao trabalho, o homem conquistou sua
humanidade e, a partir daí, foi capaz de produzir cultura.
A maçã é, pois, o símbolos do logos com que o mundo é repre-
sentado, é nomeado , recebe significados. A maçã é a palavra e é 1
poesia; é conhecim ento e é reflexão. Para uma sociedad e autoritár ia,
centrada na figura do Pai - não é à toa que pátria tem a mesma
raiz de pai - , a conquista da maçã representa acima de tudo uma
ameaça, que deve ser, no melhor estilo, banida, proscrita. Segundo
o mito de que estamos tratando, foi r,ot isso mesmo que o homem,
vivenciando a Queda, foi forçado a abandonar o paraíso.
Manuel Bandeira, inscrevendo-se na poética da modernidade, vai
realizar uma crítica da linguagem poétka, através do mito ressusci-
tado. Por isso é que a vivência da modernidade é inseparável de
uma atitude metalingüística. Trazendo o mito à tona, como fez Bau-
delaire - daí a leitura intertextual, aqui, ser operacional, porque
elucidativa - , Bandeira associa-o à história, como veremos em se-
guida, através da revitalização do conceito de mímesis. Nesse caso,
a mímesis aristotélica não é, segundo a interpretação literal que tem
vulgarmente prevalecido, a simples imitação da coisa, pela qual texto
e realidade se articulam sem conflito, mas a imitação do processo,
a qual evidencia os mecanismos por que! se dá a ação mimética. À
primeira imitação, Lima ( 1980) chamou de mímesis da repre~e~ta-
ção e à segunda, de mímesis da produção . A presença desta ultima
é o que caracteri za o texto literário m~derno , como ,é o caso ~o
poema "Maçã", que ora analisamos._ As~1m, , o que esta e~n ques~ao
não é a coisa maçã, pois o texto nao visa a reprcsentaçao, ~' sm~,
ao processo pelo qual se investiga o ato de usar a palavra, simboli-
zada pela coisa maçã. . , . _
o poema ::;e inicia com um paralelo que preside a cons1deraçao
do objeto maçã:
35
o "'bJcto maç,1 . a imagem m1t1ca e,c?lh1da por Ban~cira. dcs-
d"'1'r,l , , l'lll du l '- pcr,rc-cl\\ ª' que e-e or cx.m fro~talmcn .:
no qu . .
d rc,rl' th' à P('~t, ,'io O\' pp~cn ador. ,ia cnunc1açao . a dupla
., , ã J
"' "~chmda cm dtw, tempo, pelo, dois adJun los adverbia1c;
que m,-
c,am os , cf'o, . ''P"'r um lado" e ''pelo outro" É como se a m'--'m
a
maçã c.-;rn·esc-e sendo submetida à apreciação de dois oh,;c
rvadore,
di~tmtl",s. na realidade. e o poeta que assume. amb1valen temen
te. 0
~eu c(1ntato .:om o objeto. para exauri-lo em sua integndad e
d.: pro-
duçà(1 de s1gmf1cados . Aqui pode -se refo1çar algo
que já fo1 di~o
ant\"'~ : o discurso poetico. como o discurso mític o, romf e
com ~
tcmp--' h s,ori.:0. : >e assim não o fosse, seria impossível conceber.
po1
c"\cmplo. as duas image ns. opost as entre si, de um mesm o ser:
"'-.vmo
um seio murcho" e "como um ventr e de cujo umbigo pend
e amda
o cordão placentário ".
~ianuel Bandeira. como se pode perceber, não se limitou a
tra-
,·ar o contato com o objet o unicamente pela via da representa
ção.
segundo a qual o discurso poético incid e sobre a realid ade
exterior
e, como se fosse um espelho, integra-a ao texto, refletindo-
a. Pela
m1111csi~ da represt'mação desap arece a intervenção
explicita do poeta
enquanto construtor da representação, isto é, enquanto agent
e da
desrealizaç ão do real. No caso em questão, o poeta denu
ncia sua
prese nça e a natur eza do seu papel , evidencian do sua capac
idade de
represemar , de produzir metáforas ; tal atitude pode ser ~onst
arada
no modo corno constrói as imagens, tíç ica da mimesis da produ
ção.
Ao apomar-se como emissor efetivo da enunciação, Manuel Band
ein
acusa seu estatuto de sujeito do discurso: isso acontece no mem
ento
em que, opondo-se ao objeto (marcado gráfica e sintaticamente
pdo
pronome oblíquo átono ·'te·•) , apresenta-se como sujâiO
da açà0
(na forma "vejo.. , primeira pesso a verbal). Entre o enunciado
r e o
objeto interp õe-se a marca do fingimento poético - a prepo
si'lào
acidental ··como·', de matiz comparativ o, que int roduz os predi
c1ti-
vos do objet a, "seio murcho" e "vent re", metáforas presentes
no~
dois versos inicia is.
Isso signifi ca dizer que, nas seqüências "por um lado te \ cjo
..
e ··pelo outro" ( tamb ém te vejo), o objeto maçã ainda se const
'n a
como tal, ou seja, o referen te maçã apena s desloca-se do mund
o t'X-
terior para o texto li terári o atrav és da mera repre sentação, conw
se
o texto fo~!)e um espelho que refletisse a coisu, simétrica ao discu
rso.
~o e~ta_nto, mais adian te, instaurando-se a magia do discurso
pot' tico.
J!)tO e, instaura ndo-se o fin gime nto poético, como diz Fern:-
ido P c'S-
s?a, são produ zidas as metáforas que vão nomear objeto lll:1ç:1.
vrndo do mund o cxtravcrba l. Assim , a maçu, deixa ndoOde st'r
:1 ll\:1, ú
ontologica ment e definid a na realidade exter ior ao ll'xto , torn:1
-~t'.
pelo processo de de!:i rcaliz:ic;ão, um "seio murcho" e u111 "wnt
rç",
36
,ª
qur pa<;sn m sc1 a versão poética do objeto maçã. Por c;ua ve1. o
pocta. at, n, r1., da _fo1 ma vc1 hal "vejo". denun cia-se como o rc~pon-
~a\'cl rela produçao dessa<; mctáfni ac;, dec;mont::tndo o~ hac;tidor( <; da
tecelagem, ou seja, o próprio ato de tecer.
Fssr procrs..c;o pode ser assim visuali zado:
-~ - - - - - - - - - -
MAÇÃ POET,\ ME f /\f·ÜflN-, PROO Ul lfJA~
J7
ln, rdo , qun ' ,., ohw1,, ' tfcqc•;ilt1.a. é dt(m ont c1d_,,., dC
1 \
f'I 1"'< Jli .. u11,,. , cnc , ac:, 101 . 0
' l ,ll, dr , 11,\nn <iA n pr
n p~:.,t,,1,c
ri, qlll Jlll('I (ll .. qn C:Cf "º' 8 u"r" m ,c: lpena<: ~nU :tp nç
Ltr a p r
eh llll' ,d,' rJnh li l m que " mnd d,) dctc !'"'" ª a
inin, -<:
\ qn f' r rt"'l\. l ,c.1, dl' pr f'(lU \an de metaíorac: dic:t ':;l
Ct1 Pl
"f',\<:.trmda, () ICllO . d f
r lt'\ C.l u,u I n•' r -, ,l l ("1111() ' H'
3k
fiança. O sentimento. agora. é de confirmação: retoma-se o símbolo
~acralizado. enfeixa ndo-o numa frase próxim a do clichê, que não
desperta a curiosid ade do leitor, nem cria surpresas. É como se, dessa
forma. houvesse o poeta procurado propositadamente um efeito de
ruptura com o insohto gerado na primeira estrofe : às metáforas ou-
~ada~ sucede. pois, o restabelecimento da caimaria, marcado sinta-
ocamclllc pc1a comparativa "como··, que impõe uma relação de as-
soc1açàJ entre as partes nucleares da fiese, através de um vínculo
~1log1st1co. prvpno da lógica formal. Se vermelha; logo, amor divino.
O verso que se confund e com a segunda estrofe tem o poder
iiurnno de anular o choque da primeira e~:trofe. O ritmo decai, ama-
ciado ~ela frcqüencia dos sons fechados e é!nasalados; o próprio iso-
lamento do verso no espaço em branco denota solidão e, no con-
junto. e a un .ca estrofe Jc um verso só; portanto, destituído de outro:
que lne taça eco, parecendo uma voz solitária, prestes a apagar-se~
luslQm enre porque é outra voz, não a Jo poeta, sujeito da enuncia-
ção, mas a de toda urna tradição que procura , a todo o custo, evitar
a sua própria consumição.
Depois da análise do romance de Dostoiévski, feita por Mikhatl
Bakhtm e, dificilm ente a teoria da literatura pode ficar indiferente à
pohfoma de um texto literário, que dialoga , ainda que implicitamen-
te, com outros textos, com outras vozes. O poema "Maçã", ao en-
veredar pelo caminho da investigação do sentido da poesia no mun-
do moderno, teve que abrir um diálogo com outros textos e com
outras épocas. Por isso, não há lugar para uma leitura unificante,
mas, necessa riamente, para uma leirura imertextual - e esta, aqui,
é apenas uma das possibilidades.
Sendo assim, como não reconhecer, na primeira estrofe de
"Maçã' ', uma voz moderna e, na segunáa, a voz da tradição? São,.
na verdade, dois espaçotempos que se cruzam e dialoga m entre s1
no mesmo texto. A v.:.-z moderna é reconhecidamente plural, admite
várias persi:;ectivas ("como seio murcho"j"como um ventre . . . " ); a
voz da tradição é monologai, autoritária ( "como o amor divino" ) .
"No discurso monológico cada seqüênc ia é determinada pela prece-
dente, numa relação de causalidade" (Pcrrone-Moisés, 1978, p. 61):
assim, o adjetivo "vermelha", na segunda estrofe, prepara , sem sur-
presas, a comparação ''como o amor divino". A estrofe poderia ser
lida de outro modo: "porque (és) vermelha, és como o amor divino" .
De outra forma: a voz polifônica, constituindo-se de uma maior
liberdad e expressional, rejeita definitivamente os clichês de lírica da
tradição ao promover transgressões no nível do tecido lingüístico--
poético e, conseqüentemente, no níve_l _de articulaç~o _entre a reali-
dade e o texto. Assim, levando o su1e1to da enuncia çao a perder a
posição central de articulador da matéria poética, conduz, através da
39
à ,ad missãof de ma. ,is de urna voz nos liin·t i cs cto d·is.
. t . ~xtualidadc' .. Jª se. co me nto u de s
in c11ç,
om isso, da-se , con ordme ' O centran1emo
. C . 1 11te ra tur a mo de rna · _
curso ·tico do Sujett.o, opera o pc a · nao se . d
s vozes' pelas q ua1.s O Sa •
, . , .·
o!l loPot ~r an a, um ca , ma s va ua
- urna voz sob d o d'.Ire1to . ao ce ntro que a fil osofia .de u-
1111 1e pe r e - oc1 111 1
. -10 se estilhaça e , 1a separa ça o en tre ph ysis e lo a
1e1 na _su a ge ne se, pe
_ respo nsável, gos
_ Jhe tin ha ga ra nti do . B
aq ui po de mo s, en tão , dis tinguir 110 po ema de Man ueI an.
At é , 'd
qu e : e c1
.
u~ am , ~~ 1 mt 1 o e~ tado de oposição· de
de ira duas vozes i
_ad ?g- o, se Joga para a imlag~ção
can od o
um lado, .ª voz qu e, u_s
z a trn 1çao, por natureza mo
no!
e O qu est 10 na me nto ; e a vo
tra ovgo~'
~e ~ec h~ pa ra .~ dú vi~a, procura silenciar a ou
que, inc isi va,
m e1r a e tra ns1 t1v a e mq u1 etadora; a segunda ' rans1-.· int
Por isso, a pn . ba11za · d ora. O mono,10go tem sido his to nc .
tiva e apare ute rne
-
nte
d
gJO d a rac10 . na1·1dade social qu e t a-
quo, io-a
mente a expressao o status 'd l a~ · dos num modelo sócent
t 1xa
1_ e~ ogem
absorve r os cul_turemas e os ncia ao discurso totalitário vem sal
grega, em cujo âmbit o 'se c~~
de
político determinado. A ten pó iis
e a im pia nta çã o da
engano, desd niz ação do logocentrismo. Ne~se
pr im eir a ve z, da en tro
gitou, pela tendida, a princípio, como
meio de
, na sce a Re tór ica en
conte xio
so cia l e, po ste rio rm en te, como um aparelho es-
persuasão e control e
ere nc ia a lin gu ag em no seu uso quotidiano da lin-
tilístico que dif , dessa forma, que, na sua ori
gem
m fins lite rár ios . Vê -se
guagem co com uma nítida expressão
utilitá~
ssã o est éti ca se co nf un dia
a expre ção do co-
de um a me sm a mo eda. A crescente especializa
ria, faces
e red un do u em su a fra gm entação e aparente autono-
nh eci mento, qu de ssa s duas áreas da comunicação
ge nd ro u o iso lam en to
mi a. é qu e en
verba l. lifonia, vem tentar obstruir
o
e mo de rna , atr av és da po
A atitud de sua
o qu e ac om pa nh a a ind ividuali za ção do homem e
artificialism tru mento moderno mais caract
e-
o diá log o é, ass im , o ins
lin guagem; literatura como poiesis, isto é,
res ga tar o sen tid o da
rístico para se sig nificações, de modo a trans-
e hu m an a pr od uto ra de
como atividad ar- se em um objeto, exterior
à
pr ia pr od uç ão e ins tal
cend::r a pró metalinguagem são os meios
,
A int ert ex tua lid ad e e a
própria ação. da operacional rumo à corros~o
pro mo ve r um a gu ina
portanto, de se m a qual se dialoga, para nao
çã o de lit era tur a, co
da velha concep perá-la..
ê-la de vis ta, r.ias co ntr a a qu al se ergue, para su
pe rd
Ba nd eir a, em an áli se , dn -se esse dupl o movim en -
No poema de mi to sagrado do Verb o, me-
int ert cx to bíb lic o, o
ta: releva-se, pelo ra (" amor divino "), s~bdmetc~~
tra dic ion al da lit era tu
táfora da visão mu rch o/ ventre" ), media a pe
o de va lor es ("s eio
do-o a um a revisã
mo").
me taling uage m ( "te vejo co
40
:&!&±
ll ltrapns~n<lo, po1~, o momento inicial a di alética das vozes
. Mamh.'I 13:rndc,ra caminha pa, a o cl1ma x do poema:
41
trcta nto, ao poeta moderno reintegrar a poe
sia
qua l emerge e na qual procura aconchegar-se à
. morada social d
Já na sociedade burgues a constituída, os rom
nizaram a poesia .
como a umc , . f " .
ant1 cos ª
' a orm a de conhec im , que entr
atraves da va lon~ · ~ d
aç~o o su1e ··
,1t?. cna ·
dor ento das
fora m os responsave1s pela rev1vif1cação da _ 0 vate e~s~cias0-
0
design ~' _gen 10 _,
. , .
ao subst1tm rem , por exemp1o, a teon.a da imitação açao . m1toPoet, ica,
, s1.
clas cos, pela teon.a da expressao, ~ ' vigente e
balança. Nao ~ f 01. , 1
em que O sentim t , ntre os,
para as lendas gennam ,., . que se votaram para os misten
a toa ' .os em.,~
eno
o f'1e1 da
.
cas ou para o clima exó
entais. Na verdade estavam, com isso, definind tico d \,\!Jevais,
. o a sua os contos ori-
poesia; estavam operando a sua meta1mgu .
agem. Estaria conc
deira ratificando essa posição'! M epça~O de
anuet Ban-
Na última estrofe de "Maçã" é dada a resposta
deira um observador direto da modernidade: que f
az de Ban-
43
-- ·- -
6. CONCLUSÃO
45
São manifestações de rejeição à sacrali?ade comuns a toda a
arte pós-romântica. A poesia desloca-s~, ~ss1m, dos focos tradicio-
. de interesse - a Natureza, a Infancrn, a Mulher, o . Amor _
na1s ~ d
para, mesmo que esses temas nao esapareçam~ um. reg1str? mar-
cado pelo quot!di~10 e p~lo qu/e. ap_arentemente nao seJa considerado
digno de constituir matena poettca.
Eu vi uma rosa
47
Novamen te impõe-se a imagcria da lírica da tradição que faL
da ''rosa·· 0 símbolo sacrali zado:
A graça essencial.
Mistério inefável
- Sobrenatural -
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa
Sozinha no mundo.
Sozinha no tempo.
48
, akm1ação d,, " ~u,10··. rntn:t~nt o. não ;mpediu 0 \uJ ·1to de yre,cn
"-'ª' 0 ,tu proprin dt,(\. nt·amcmo. r <'1~ a arte. T\:damrndo um e'--
pa,1.1 auh1n1.~ nn t 1. \ l lu1.,, o h1 d, a"rao cql.l1"-a um fim cm ~1 mc'-m
o
~ A m(xh.rn1dad1. r rc\1dc, a,ç,1m. à ruptura com a mimP
.Jif da
rtrn ' <ntaca,l l '-pePw da rcahdadl. Jª que tc~to e mundo não ite
apre'-~ntam ma1, cm f ranl ,1 \1mctna Oc,dc os \1mbolistas a pala-.ra
d1. ordem '- u 1ar um c\paç o autonomo. forma pela qual se cre atrn-
p ~ a cham ada poc\ ia pura· . o mais alto s1mbolo do narc1s1,mo numd
, cx-1edade qu1. aliena o home m de seu trabalho. A relaçã o entre o
homem e o mund o e aspcra e obliqua: ~ noYo, tempos são avessos
a linguagem m1topoet1ca :
Manuel Bandeira
( Souza Bandeira.
O nome inteiro
Tinha Carneiro) .
Eu me interro go:
Man uel Bandeira,
Qua nt a be\teirn!
Olha uma cow,a
Por qut: ni\o ou1,a
A~ inar log.o
Manu el de Soun1?
("'Man uel Bande11 a", Mafu ,\ do Malu11~0)
Para o poeta o e">pelho ">Ímbo ln <_la rcp~·e..,~nt,:çüo - j;\ n:'ln
~ 0 confo rt ável apoio do artbta que confi.1 na 11n1ta,nu. O
pol.'tn. a
partir do seu próprio nome, que se ~ac1ali/l)ll l' tH!lHll lll ) nomê lk
maneira, a própria identidade, chegando ao
Poeta, questiona, dessa ~ d .
auge a que se possa chegar : a n~gaçao e s1 mesmo.
o que faz de Manuel B~nde~·a ~~ poeta moderno é a sua ca-
pacidade de instaura~, no tecido htera~10, ~ re_cuperação da possibi-
lidade de fazer poesia º? mund~ ~ostil e m~iferente ao lirismo. A
criação da utopia tem sido explicitada atraves de um discurso es-
pecífico e diferenciado dos discur!os correntes, obrigando a poesia
a auto-reflexionar-se. O que se poe, de fato, em questão é a natu-
reza do processo da linguagem poética, para o qual se abre a dis-
cussão da sempre nova indagação - o que é poesia? -, levando 0
texto literário , através de sua metalinguagem, a fazer do processo
como tal a sua rede de significações e, enfim, o seu próprio tema
- razão de permanência e travessia.
'50
[~ IBLIOTECÂ-E T ·-~1
- .. F AL
7. REFERtNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1080
e modernhlade ; form as das somb ras
l l~1A . Lu,ç, t l1ç,ta H1111cc;i\ 980.
.. 1 J
Rw de Janeiro. ( Jraa .
e _
() comrolc do 1magi11á1 ro; 1a7ão e imaginação no Ocid
n
tr Sà(' Paul o. Bra~il icnsc. 1984.
mito e sua ex-
LOPES. Ed,\ ard & C \ N ll AL. Edu ardo PcfiucJa. O
1
52