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c ad e r n o s de in õ c r á 11 c o s / /

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A. H. de Oliveira Marques
A Maçonaria em Portugal
T ilu lo d o o rig in a l Nasceu cm S. Pedro do Estoril, a 23 de Agosto de 1933. Em
A M u ç n n a ria cm P o rlu )> a l
1956 licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Estagiou na
A . I I . O l i v i 'i r i i M iir (| iic s Universidade de Wür/burg. iniciando funções, em 1957, na
K u n d u fã o M it rin S o a re s

G ra d iv a l’ u h l ic a ( ò i 's . I d » .
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se
doutorou cm História em I960. Em 1962 participou na greve
académica, o que esteve na base do seu afastamento da
R e v is ã o d tf i c x i o

P a u in da C 'l i s t a D iim in K o s Universidade portuguesa. Em 1965 partiu para os Estados


D e s ig n Unidos da America, leccionando como profe.ssor associado e
A lc lic r llc n riq u c C a y a ttc
catedrático nas Universidades de Auburn. Flórida, Columbia.
C o l a b o r a v ’S o

.lo ã o P a lm a Minnesota c Chicago. Em 1970 regressou a Portugal, embora só


I 'o l o l i lo s
depois do 25 de Abril de 1974 se llic voltassem a abrir as por­
.M iilliti| in

Im p r e s s ã o c u c a b u m c n io
tas da Universidade portuguesa. Entre 1974 e 1976 foi Director
T ip o g r a f ia (iu c rr a - \ 'i s c u da Biblioteca Nacional de Lisboa. Em 1976 tomou posse do
lugar de professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa,
R e s c r \ a d o s lo d o s o s d ire ito s p o r

F u n d a ç ã o M á r io S o a re s tendo desempenhado funções de Presidente da Comissão


G ra d iv a P iih lic a v õ c s , Id a .
instaladora da F.C.S.H. e de Presidente do Conselho Cientifico
K iia A lm e id a c .S o u s a . 2 1 , r / c . c s q .

U S O l.is h o a
da mesma Faculdade. É considerado um dos grandes especia­
T e l: .Í9 7 .4 0 .6 7 /8 listas em história da Idade Média portuguesa, com notável pro­
i ' - m a i l : \ v \ \ \ v .c u t c c c a o (V ( i p . p l
dução na área. onde se salientam, entre outras, as seguintes
I* e d i ç ã o obras: líansii e Poriiigal mi IJaile ,\fàJia; Inirodin-ão á História
N o v c iid ir o I 9 9 S
(la Agriailiiira cm Portuga!', A Sociedade Medieval
IS D N : 9 7 2 -Í.6 2 - 6 4 4 -7
Poriiigiiesa: Guia do Estudante de História Medieval
D e p ó s ito le g a l Portuguesa-, Ensaios de História Medieval Portuguesa: Novos
1 2 7 6 4 0 /9 «
Ensaios de História Medieval Portuguesa', Portugal na Crise
dos séculos XII' e A'l'; O “Portugal" Islâmico. Tem vasta
C apa colaboração no Dicionário de História de Portugal, dirigido
Conviucs / SoporsL’i Oflsci 21)0 g/m
por Joel Serrão. Tem-se debruçado também sobre a história
M io lo

Corrciilvs ■'Soporsci Oljset XOg/m contemporânea: .•) / “ República Portuguesa; Afonso Costa
C o m p o s iç ã o
(diversas obras sobre este politico); História da República
F.Güthic i Times e Jixmmi
Im p re s s ã o
Portuguesa-, Guia de História da 1“ República Portuguesa-,
O/r-svl Portugal, da Monai-quia pai-a a República: História da
Maçonaria cm Portugal: A Maçonaria Portuguesa e o Estado
Novo: Dicionário de Maçonaria Portuguesa, etc. O seu livro
mais famoso é a História de Portugal, que atingiu já 13 edições
em lingua portuguesa e que foi traduzido para diversas linguas
estrangeiras. A 25 de Junho de 1982, foi alvo de uma sessão
solene de homenagem, presidida pelo Presidente da República,
sendo publicados em sua honra dois volumes com a colabo­
ração de categori/ados historiadores nacionais e estrangeiros:
Estudos de História de Poi-tugal: Homenagem a A. H. Oliveira
Marc/ues. De parceria com Joel Serrão, dirige duas colecções de
história portuguesa, intituladas Nova História de Portugal e
Nova História da Expansão Portuguesa. Dirige também uina
História dos Portugue.ws no E.xtremo Oriente. Entrou para a
Maçonaria ainda durante o periodo da clandestinidade (1973),
de que foi Grão-Mestre .Adjunto (1984-86) e Soberano Grande
Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 (1991-94).
S i <2/

A. H. de Oliveira Marques
A Maçonaria em Portugal
(• a (I r n o s <1 ni o c r á l i c o s
DIKECÇÁO
MÁRIO SOARES

A. H. de Oliveira Marques
A Maçonaria em Portugal

C O I.ECÇAO

FUNDAÇÃO
MÁRIO SOARES
D ESIGN
A T C L IC R H E N R I Q U E C A Y A T T E

EDIÇÃO

gradiva
Introdução

Não possui a Maçonaria leis gerais nem livro santo que


a definam ou obriguem todo o maçon através do Mun­
do. Não sendo uma religião, não tem dogmas. Em cada
país e ao longo dos séculos, estatutos numerosos se pro­
mulgaram e fizeram fé para comunidades diferentes no
tempo e nos costumes. Mas isso não obsta a que a Ma­
çonaria possua certo número de princípios básicos, acei­
tes por todos os irmãos em todas as partes do globo.
E essa aceitação, aliás, que torna possível a fraternidade
universal dos maçons e a sua condição de grande famí­
lia no seio da Humanidade, sem que, no entanto, exista
uma potência maçónica à escala mundial nein um Grão-
-Mestre, tipo Papa, que centralize o pensamento e a ac­
ção da Ordem.

Vejamos o seu nome. Maçonaria vem provavelmente do


francês «maçonnerie», que significa uma construção
qualquer, feita por um pedreiro, o «maçon». A Maçona­
ria terá assim, como objectivo essencial, a edificação de
qualquer coisa. O maçon, o pedreiro-livre em vernáculo
português, .será portanto o construtor, o que trabalha pa­
ra erguer um edifício. O maçon pretende construir o seu
próprio futuro, tornando-se melhor. A Maçonaria preten­
de construir o futuro da Humanidade, tornando-a melhor.
Esta concepção básica surge nos textos constitucionais da
Maçonaria em todo o mundo, embora expressa em formas
diferentes. A Constituição da Maçonaria portuguesa de
1926 definia-a como «uma instituição essencialmente hu-
manitarista, procurando realizar as melhores condições de
vida social» (ailigo 1 °). A Constituição do Grande Orien­
te Português, Supremo Conselho da Maçonaria ao norte
de Portugal (cismático), definia-a, em 1895, como «uma
instituição secreta e ritualista que, sem servir classe deter­
minada, tem por fim realizar praticamente, pela comu­
nhão de esforços dos seus adeptos, o melhoramento e
aperfeiçoamento das condições materiais, morais e inte­
lectuais da sociedade» (artigo 1 A de 1840 definia-a co­
mo «uma associação de homens livres que tem por fim o
exercício da beneficência, a prática de todas as virtudes e
o estudo da moral universal, das ciências e das artes» (ar­
tigo 1.°), e.stipulando (artigo 9.°, n.° 3.°) como um dos
principais deveres do maçon «fugir à ociosidade e traba­
lhar assiduamente na ilustração do gênero humano».
E outras muitas formas se encontrariam.

A Maçonaria admite, portanto, que o homem e a socie­


dade são susceptíveis de melhoria, são passíveis de aper­
feiçoamento. Por outras palavras, aceita e promove a
transformação do ser humano e das sociedades em que
vive. Mas, para além da solidariedade e da justiça, não
define os meios rigorosos por que essa transformação se
há-de fazer nem os modelos exactos em que ela possa
desembocar. Nada há, por exemplo, no .seio da M açona­
ria, que faça rejeitar uma sociedade de tipo socialista ou
de tipo liberal. O que lhe importa é um homem melhor
dentro de uma sociedade melhor. Atento aos problemas
sociais que têm de constituir preocupação funda de todo
o verdadeiro maçon, já Antônio de Soveral, em 1905, na
introdução à 1.“ edição da sua Guia Maçonica, escrevia:
«Presentemente, em face das nossas leis, não há senão
uma classe de cidadãos. Em relação à propriedade, há
duas: o proprietário e o trabalhador. Todos os homens
são livres e iguais em direitos; e todavia, alguns são li­
vres para morrer de fome e iguais para morrer de frio.
[...] Ainda não se afirmou o direilo da defesa colectiva
contra a exploração colectiva; não se protegeu o traba­
lho como se fez ao capital e à propriedade; não se cuida
da protecção às crianças e aos velhos, da fundação de
creches e de asilos para velhos e inválidos; não se pensa
no operário durante a falta de trabalho, etc., etc. A Liber­
dade, Igualdade e Fraternidade têm de ser ensinadas
com restrições para manter a distinção exi.stente entre
proprietários e proletários. A nossa moral ajuntará um
capitulo novo — o da futura justiça social ‘ o it á lic o
e nosso
Dos ideais de justiça e solidariedade humanas, levados
(N . do A .)
até às últimas consequências, resulta naturalmente o ser
a Maçonaria uma instituição aclassista e anticlassista.
englobando representantes de todos os grupos sociais
que, como maçons, devem tentar esquecer a sua integra­
ção de classe e comportar-se como iguais. «A Maçona­
ria honra igualmente o trabalho intelectual e o trabalho
manual», rezava o artigo 6.° da Constituição de 1926.
E, nos requisitos para se ser maçon, exige-se apenas, pa­
ra além de diversas condições morais e intelectuais que
mais adiante serão mencionadas, o exercer-se uma pro­
fissão honesta que assegure meios de subsistência.
É verdade que a exigência de se possuir a instrução ne­
cessária para compreender os fins da Ordem exclui, des­
de logo, os analfabetos e grande parte das massas popu­
lares (em Portugal, entenda-se). E é verdade também
que a maioria dos maçons proveio e continua a provir
dos grupos burgueses. Mas isso deve-se apenas às con­
dições históricas em que todas as sociedades têm vivido
nos últimos 200 anos. À medida que as classes trabalha­
doras vão atingindo mais elevado nível social e cultural,
assim o número de maçons delas oriundo tende a au­
mentar paralelamente. Em Maçonarias de países como a
Grã-Bretanha, a França ou a Holanda, o carácter aclas­
sista da Ordem Maçónica nota-se com muito maior in­
tensidade do que em Portugal ou na Espanha.

O aperfeiçoamento do homem e da sociedade não se põe


apenas, para o maçon, em termos de melhoria económico-
-social. Põe-se também, e sobretudo, em termos de me­
lhoria intelectual, de afmamento das faculdades de pensar
e de enriquecimento dos conhecimentos adquiridos. Livre
pensamento, píira começar. «A Maçonaria é livre-pensa-
dora», dizia o artigo 3.° da Constituição de 1926. Mas li­
vre pensamento não coincide necessariamente com ateís­
mo. Já um texto famoso e respeitado dos primórdios da
instituição, as Constituições de Anderson, de 1723, dizia
que o maçon que entendesse bem da «Arte», «nunca será
um ateu estúpido ou um libertino irreligio.so. Mas embo­
ra — continuava o texto — nos tempos antigos os maçons
fossem obrigados, em cada país, a ser da religião, fosse
ela qual fosse, desse país ou dessa nação, considera-se
agora como mais a propósito obrigá-los apenas àquela re­
ligião na qual todos os homens estão de acordo, deixando
a cada um as suas convicções próprias [... ]». Hoje, talvez
a maioria dos maçons professe um deísmo ou teísmo de
conceitos vagos e alegóricos, embora não faltem ateus
nem crentes de variadas religiões, desde o cristão ao mu­
çulmano. O que todos rejeitam são dogmatismos e exclu­
sivismos confessionais. Os juramentos de iniciação de­
vem ser proferidos sobre um livro sagrado se o iniciado
pertencer à fé respectiva e assim o solicitar, ou simples­
mente sobre a Constituição maçónica em vigor, nos casos
contrários. O conceito maçónico de Supremo Arquitecto
do Universo que ainda preside às cerimónias e aos jura­
mentos pode interpretar-se de maneiras muito variadas;
Deus, a consciência colectiva da humanidade, o princípio
director que oriente para o progresso a evolução do mun­
do e do homem, o princípio de ordem que transformou o
caos, etc., etc.
Já atrás vimos como um texto maçónico português do
passado — a Constituição de 1840 — insistia no estudo
das ciências e das artes, obrigando todo o obreiro a traba­
lhar na ilustração do género humano. Esta necessidade de
desenvolvimento intelectual é característica da Maçonaria
e dever de todos os maçons. A Ordem Maçónica pode, as­
sim, defmir-se também como uma escola de frequência
obrigatória e constante, numa «reciclagem» ou «educação
permanente», tão preconizada por todas as sociedades dos
nossos dias. Mas esse desenvolvimento, suas formas e sua
intensidade têm de depender de cada indivíduo, do seu
próprio esforço individual. A Maçonaria o que lhe dá é um
enquadramento propício, quer pelas frequentes reuniões
de livre discussão das suas lojas quer pelo estímulo das
promoções hierárquicas quer pelo desempenho de fun­
ções específicas e honrosas. Dos 20 ao 90 anos, todo o
maçon consciente sabe que pode e deve aprender com o
seu irmào maçon e aceita com abertura e humildade todos
os ensinamentos e correctivos que sobrevierem da expres-
•são das suas opiniões. Não é por mera disciplina ou sim­
ples enfeudamento hierárquico que os governantes ma­
çons devem submeter projectos importantes de leis e ou­
tros actos governativos à apreciação dos seus confrades. E
porque têm a certeza de que aí colherão, sem lisonja e
com sinceridade, meios de aperfeiçoar a obra que visam.
Cada loja maçónica surge assim como uma pequena as­
sembleia de base onde o dirigente — na realidade, repre-
.sentante seu — constantemente se apoia, na busca da me­
lhor fónnula para o bem de todos.
o aperfeiçoamento moral vem de par com o intelectual.
A hierarquia maçonica é muitas vezes interpretada como
a gradual ascensão no afmamento das qualidades mo­
rais, do conhecimento e am or do semelhante e na supe­
ração de todos os preconceitos. Mas a moral — dizia
Antônio de Soveral na Guia M açonica — «não pode
form ar um corpo de doutrina com o a matemática ou a
física [...]. Ela é relativa e evolutiva. É uma técnica
particular, a técnica das acções humanas O ra as
sociedades variam dia a dia, insensivelm ente, com o os
indivíduos que as formam; daí, a mutabilidade da moral,
que traduz uma soma de conquistas progressivas, alcan­
çadas incessantemente, excedendo sempre as do mo­
mento anterior. A moral provirá de factos verdadeiros, das
suas leis e das regras práticas deduzidas da experiência
social e da experiência íntima da natureza humana [...J».

Levados às últimas conseqüências, os princípios atrás


mencionados teriam de implicar uma fraternidade de ti­
po universal. Este é não só um princípio teórico mas
uma norma de prática quotidiana. «A Maçonaria é uma
instituição universal [...]. Todos os maçons constituem
uma e a mesma família e dão-se o tratamento de irmãos,
sendo iguais perante a lei», dizia o artigo 1 ° da Consti­
tuição de 1926. «A M açonaria estende a todos os ho­
mens os laços fraternais que unem os maçons sobre a su­
perfície do globo» (artigo 5.“ do mesmo texto). Através
do ritual, que inclui vocabulário próprio e sinais de re­
conhecim ento específicos, um maçon português pode
contactar com um maçon japonês e receber dele ou
transm itir-lhe ajuda e apoio de qualquer gênero. De fac­
to, um dos deveres mais importantes do maçon, inserto
nas Constituições do mundo inteiro, consiste em reco­
nhecer como irmãos todos os maçons, tratá-los como
tais e prestar-lhes auxílio e protecção, a suas viúvas e fi­
lhos menores. A história da Maçonaria está cheia de ca­
sos que provam o geral cumprimento deste dever.

O internacionalismo da Ordem Maçónica estabelece-.se


através das Nações ou Estados politicamente constituí­
dos. «O Grande Oriente Lusitano [UnidoJ — denomina­
ção oficial da grande parte da Maçonaria Portuguesa —
exerce exclusivamente a sua acção em todo o território
português [...]», rezava o artigo I6.° da Constituição de
1926. O mesmo Grande Oriente «não estabelece oficinas
em países estrangeiros onde exista uma potência maçóni­
ca em relações fraternais com ele, nem também reconhe­
ce as oficinas estabelecidas em território português que
do .seu grémio não façam parte» (artigo 8.°). Por outro la­
do - princípio da não territorialidade do direito maçóni­
co - , «a lei maçónica portuguesa aplica-se aos maçons do
Grande Oriente Lusitano Unido, Supremo Conselho da
Maçonaria Portuguesa, no estrangeiro» (artigo 30.°).
Não quer isto dizer que a Maçonaria aceite a Nação co­
mo realidade última da organização da Humanidade. Tal
equivaleria a contradizer o princípio da fraternidade uni­
versal e da existência de uma única família na face do
globo. Como tão bem escreveu Fernando Pessoa em ar­
tigo que a censura não deixou publicar, a Nação é o ca­
minho entre o Indivíduo e a Humanidade. «A Nação é a
escola presente para a super-Nação futura.» Em caso de
conílitos entre nações o maçon encara sem dúvida pro­
blemas de difícil resolução. Mas, se for obrigado, sem
quai.squer sofismas nem disfarces, a optar entre a frater­
nidade com os seus irmãos de outro país e a fidelidade à
sua Pátria, ele deverá e.scolher a primeira. Neste campo.
o maçon, o cristão e o socialista (os três quando puros e
ideais) aproximam-se notavelmente.

Democracia e igualdade encontram-se também entre os


princípios básicos da instituição maçonica. Todo o poder
reside no povo, como o atestava o artigo 18.° da Consti­
tuição de 1926, ao dizer que «A Ordem Maçonica em
Portugal só reconhece a soberania do povo maçónico».
Todos os maçons são iguais, independentemente do grau
a que pertençam. «Durante as ses.sões maçónicas — re­
zava o artigo 17.°, § único — todos os obreiros, qualquer
que seja o seu grau ou o seu rito, estão sujeitos à mais
perfeita igualdade, prevalecendo a opinião da maioria,
quando não .seja contrária às leis e regulamentos.» Por
sua vez, as células de organização e de trabalho da Or­
dem, as chamadas oficinas, «são todas iguais em direi­
tos e honras, e independentes entre si» (artigo 12.° da
Constituição). Nas Maçonarias de todo o mundo, o
Grão-Mestre e os Grão-Mestres adjuntos são eleitos pe­
la totalidade do povo maçónico, variando apenas a for­
ma dessa eleição. Em muitos países, qualquer maçon,
aliás, desde que tenha atingido a condição de Mestre (ou
seja, maçon perfeito) pode, em teoria, ser eleito Grão-
-Mestre. Outro tanto se verifica nas eleições para os
múltiplos cargos de cada oficina.

«A forma da Maçonaria é ritualista», rezava o artigo 2.°


da Constituição Portuguesa de 1926. Eis a característica
maçónica que mais contribui para afastar e para atrair os
profanos, para justificar acusações de arcaísmo, atitudes
de mofa e de superior conde.scendência ou, pelo con­
trário, para su.scitar interesses pueris de curiosidade e
de mistério. Nos muitos livros e artigos escritos sobre
Maçonaria por autores profanos, é o ritual — mais ou
menos adulterado, quando não totalmente falsificado —
que aparece sempre com o prato de resistência, como ra­
zão de ser desses mesmos livros e artigos. Não apenas se
vicia a descrição de cerimónias e sinais de reconheci­
mento — transformados, muitas vezes, em grotescas ce­
nas de carnaval ou em macabros actos aparentados com
a magia negra — com o também se truncam e acrescen­
tam textos, fazendo-os dizer e significar coisas que nun­
ca disseram nem significaram.
Não se esqueça, para começar, que toda a nossa vida se
desenrola sob o signo do ritual. Qua.se todos os actos de
cortesia e de civilidade são ritualistas, em bora tenha­
mos, de há muito já, e.squecido o .seu significado de
origem. Levantar o braço com o punho cerrado ou trans­
portar uma bandeira numa manifestação política são
actos de ritual. Fazer a continência ou levar aos lábios o
punho da espada são actos de ritual. Usar amuletos, me­
dalhas e em blem as, sejam eles de carácter religioso ou
político, traduzem atitudes de sim bolismo ou ritualismo
que normalmente não levamos em conta. Q ualquer ceri­
mónia religiosa cristã ou pagã — a mi.ssa, por exemplo
- é um conjunto de ritos mais ou menos con.sciencializa-
dos. E os exemplos multipIicar-se-iam para lembrar ao
leitor que o ritual maçónico é apenas mais um entre os
muitos rituais que abundam e .se entrecruzam nas nossas
vidas quotidianas.
Por outro lado, o ritual da Maçonaria, para além do seu
significado histórico e moral — que todo o maçon deve
conhecer com rigor — , tem-se simplificado com o andar
dos tempos e tende a simplificar-se ainda mais, exacta­
mente como os rituais cristãos .se simplificaram e dia a dia
se vão desformalizando as práticas do nosso viver civil.
Há, é certo, na Maçonaria, uma corrente espiritualista
assaz poderosa, que vê no ritual muito mais do que um
conjunto de símbolos e de práticas simbólicas de fácil
explicação racionalista, os quais, levando a depuração e
a simplificação formalistas, próprias da nossa época, às
suas últimas consequências, se poderiam em última aná­
lise abolir por completo sem com isso ser tocada a es­
sência da Ordem. Para essa corrente, a Maçonaria dispõe
de um método próprio para a pesquisa da Verdade — ad­
mitindo-se, con.sequentemente, a exi.stência de uma Ver­
dade absoluta — , a chamada via imciáíica. Mediante a
iniciação, o indivíduo seria levado ao autêntico Conhe­
cimento por uma «iluminação interior, projecção e
apreensão no centro do Eu humano da luz transcenden­
te» (Paul Naudon). Nestes termos, «a iniciação real
deve distinguir-.se cuidadosamente das iniciações sim­
bólicas que são apenas imagens suas» (A. Gedalge).
Para autores como estes, o método iniciático é uma via
essencialmente intuitiva, utilizando a Maçonaria símbo­
los para provocar a tal «iluminação» por aproximação
analógica. Naudon afirma que «é difícil traduzir os sím­
bolos maçónicos em linguagem usual .sem lhes falsificar
o sentido profundo e o valor». A partir do método ana­
lógico da via iniciática, explica o mesmo autor a lei do
silêncio maçónico, que interpreta como sendo, simulta­
neamente, de ordem simbólica e iniciática. «Só o silêncio
— diz, por seu turno, C. Chevillon — pode permitir-nos
entender a via subtil das essências.» «Os verdadeiros .se­
gredos da Maçonaria — declara F. Pignatel — são aque­
les que não se dizem ao adepto e que ele deve aprender
a conhecer pouco a pouco, soletrando os símbolos.»
Ou ainda, «o que se transmite pela iniciação não é o se­
gredo em si, o qual é incomunicável, mas a influência
espiritual que tem por veículos os ritos» (R. Guenon).
Esta interpretação religiosa e metafísica da Maçonaria
está, no entanto, longe de ser aceite por todos ou, por­
ventura, pela maioria dos maçons. Espécie de nostalgia
do cristianismo ou até dos cultos herméticos do passa­
do pagão, leva a conceber a Ordem como uma nova
Igreja, expressão já utilizada pelo escritor francês Jules
Romains. Ela depara, todavia, com a forte resistência
de todos aqueles que vêem na Maçonaria apenas uma
instituição laica, racionalista e progressiva, .sempre na
vanguarda do conhecimento humano e das conquistas
sociais e políticas da Humanidade. Para estes, uma Ma­
çonaria religiosa e baseada em métodos que conside­
ram não científicos está votada ao desaparecimento ou
à inutilidade. Defendendo embora o ritual e advogan­
do até a sua prática rigorosa como cimento indispensá­
vel à unidade da Ordem e à sua ligação com o passado
— o que não exclui reformas indispensáveis e inadiá­
veis — , rejeitam toda a explicação desse mesmo ritual
que não seja puramente simbólica e racionalista. Só
dessa maneira, alegam, pode a Maçonaria alargar e di­
versificar as suas fileiras, integrando nelas adeptos de
credos religiosos variados e filosofias políticas ateias.
Esta foi sempre também, a principal corrente da Maço­
naria portuguesa. Relembre-.se o artigo 2.° da Constitui­
ção maçónica de 1926: «A forma da Maçonaria é ritua-
li.sta.» k forma, apenas, e não a es.sência.
O ritual maçónico compreende uma série de cerimónias,
sinais, toques e palavras, ilustrando-.se mediante para­
mentos, objectos e outros elementos decorativos de
grande riqueza emblemática. Funde tradições que re­
montam à mais alta Antiguidade com outras bem mais
modernas, de há cem ou menos anos. Pode, no entanto.
I6 |l7

dizer-se que a sua parte mais importante foi constituída


nos séculos xviii e xix.

Cada Maçonaria nacional está estruturada em células au­


tónomas, «todas iguais em direitos e honras, e indepen­
dentes entre si», designadas por oficinas. Existem dois
tipos de oficinas, chamados lojas e triângulos. A loja é
composta por um mínimo de sete maçons perfeitos, não
conhecendo limite máximo de membros. O triângulo é
composto por três maçons perfeitos, pelo menos, e por
seis, no máximo, passando a loja quando um sétimo
membro se lhe vem agregar.
Cada loja tem o .seu nome ou título distintivo e o seu nú­
mero correspondente à ordem cronológica de apareci­
mento {Loja Simpatia e União, n." 4; Loja Liberdade,
n .°396) e funciona .separadamente como unidade indivi­
^ Embora os
maçons dual, não podendo associar-se com outras para reuniões
de grau 4 nem empreendimentos com uns\ Goza de autonomia in­
para cima
terna no que respeita a regulamento, admissões e
se possam
reunir em adopções de membros, passagem de graus — até deter­
assembleias minados limites — , administração financeira, rito, cor­
do seu
respondência nacional e internacional, apresentação de
próprio grau:
capítulos propostas legislativas, nomeação de representantes jun­
(1 8 a 19 to de outras lojas (os chamados garantes de amizade),
e. como
fusão com outras lojas, apelo para os tribunais maçóni­
membros
adjuntos, cos, etc. Elege os seus dignitários, oficiais, comis.sões
4 a 1 7 ). permanentes e representantes ao Legislativo da Ordem.
areópagos
Deve, por outro lado, cumprir a lei e regulamentos ge­
(3 0 ), tribunais
(3 1 ), rais, proteger os seus e todos os outros maçons, estudar
consistórios e discutir o que à Maçonaria importe, comunicar aos ór­
(3 2 ) e
gãos supremos os .serviços pre.stados pelos seus obreiros,
supremos
conselhos as iniciações, as eleições, o quadro geral, actualizado,
(3 3 ). dos seus membros, os trabalhos efectuados, etc., e pagar
as contribuições acordadas. A formação de uma loja re­
sulta apenas, em princípio, da livre vontade e iniciativa
de sete mestres, validada por aprovação superior.
O triângulo, esboço ou «aprendiz» de loja, dispõe de
menos autoridade e de menos autonomia. A sua organi­
zação depende de um decreto do Grão-Mestre, que o
pode dissolver por novo decreto, quando o julgar neces­
sário. Não possui carta-patente, como a loja, não está re­
presentado no Legislativo, paga contribuições menores.
Uma das características mais originais da Maçonaria é
este princípio da autonomia e independência das ofici­
nas. E a sua observância permite ao conhecedor dos as­
suntos maçónicos rejeitar a ideia, muito divulgada no
mundo profano, de que a Ordem possui uma política es­
pecífica, e a traduz em decretos indiscutíveis. Para além
dos princípios gerais, comuns às Maçonarias de todo o
mundo, nenhuma Maçonaria nacional pode ter uma po­
lítica sua, a menos que se dê o caso, improvável, de to­
das as lojas, ou a sua esmagadora maioria, decidirem
proceder da mesma maneira e segundo um mesmo ideá­
rio conjuntural. A obra da Maçonaria, traduzida nas
medidas mais variadas e nos campos mais diversos —
desde a assistência à instrução — , reduz-se, em última
análise, ao somatório das obras de cada loja, decididas
por seu livre alvedrio, .sem intervenção nem sugestão
dos órgãos maçónicos superiores. Por mais activos e
competentes que estes sejam, será nula a sua acção de
ordem prática sem a existência de lojas igualmente acti-
vas e competentes. E isto que torna extremamente difícil
e complexa a história de qualquer Maçonaria nacional,
visto ser necessário abordar também a história de cada
uma das lojas que a compõem e compuseram, em seus
períodos de maior ou menor actividade ou estagnação.
kl.

1
A Maçonaria no Mundo

Sobre as origens da Maçonaria têm-se gasto rios de tin­


ta e escrito as mais fantasiosas histórias. Desde os mis­
térios de Eiêusis ao rei Salomão e à Ordem do Templo,
tudo tem servido a maçons, desejosos de exaltar a anti­
guidade da Ordem, e a profanos, não menos desejosos
de denegrir essa mesma Ordem, para escreverem patra­
nhas e balelas, confrangedoras pela ingenuidade e igno­
rância que revelam.
Ligação directa com um passado, só a encontramos no
que respeita ao corporativismo obreiro. Como diz o histo­
riador da Maçonaria Paul Naudon, numa frase concisa e
perfeita, «a franco-maçonaria apresenta-se como a conti­
nuação e a transfomiação da organização de mesteres da
Idade Média e do Renascimento, na qual o elemento es­
peculativo tomou 0 lugar do elemento operativo».
As corporações dos mesteres conheciam, é claro, para
além do seu carácter puramente profissional, preocupa­
ções de outra natureza: religiosa, iniciática, caritativa,
cultural até. Tinham seus patronos próprios, suas festas
rituais — muitas vezes remontando à Antiguidade, mas
j
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A. H . d e O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria cm P o riu g a i

com disfarce cristão — , seus mistérios, sua intensa soli­


dariedade. A corporacão dos pedreiros, ligados a nobre
arte da arquitectura, incluía-se entre as mais importan­
tes, respeitadas e ricas em sim bologia e em segredos.
Nela se fundiam princípios, práticas e tradições de cons­
trução que remontavam aos Egípcios, aos Hebreus, aos
Caldeus, aos Fenícios, aos Gregos, aos Romanos e aos
Bizantinos, em suma, a todo o corpus da civilização eu­
ropeia. Nesta medida, e só nela, se pode ligar a M açona­
ria a uma remota Antiguidade.
É certo que não deixa de impressionar, na cristalização
maçónica de hoje, a existência de todo um conjunto de
elementos que lembram a organização das ordens de ca­
valaria e, sobretudo, o ideário dos Templários. Grande
parte do vocabulário maçónico está ligado, por sua vez,
ao judaísm o bíblico. Parece, todavia, que esta associa­
ção .se deve mais à influência que os Templários exerce­
ram na construção civil e religiosa e nas próprias corpo­
rações dos pedreiros do que a uma ligação directa entre
Ordem do Templo e Ordem Maçónica. Não convém es­
quecer que boa paite dos rituais, ditos escocês e francês,
com sua com plexa em blem ática, foi inventada no .sécu­
lo X V I I I , nas cortes e salões aristocráticos da Alemanha,
França e Inglaterra.
As corporações dos pedreiros,, com o muitas outras, po­
diam aceitar no seu seio determinadas pessoas que, em
rigor, lhes estariam à margem. Era o caso de estrangei­
ros, de clérigos, de agregados à profissão, de personali­
dades desejosas de se integrarem numa associação útil
que os protegesse ou, pelo contrário, de personalidades
que pudessem servir de protecção ou de utilidade à cor­
poração. Já de.sde o .século xv, por exemplo, que as cor­
porações maçónicas escocesas tinham impetrado do rei
o privilégio de terem à sua frente, como grande mestre,
um nobre de boa linhagem, hereditário. No século xvii,
muitas lojas de pedreiros britânicas foram reorganizadas
segundo o modelo das academias italianas. Estes ma­
çons aceites tornaram-se, com o andar dos tempos, tão
numerosos que imprimiram à corporação de que faziam
parte um facies completamente diverso do anterior. Nas
corporações onde tal começou a acontecer, o elemento
operativo foi cedendo o lugar ao elemento especulativo.
Uma transformação deste tipo levou centenas de anos a
completar-se. E só na Grã-Bretanha, onde a tradição cor­
porativa — como tantas outras tradições — se manteve
sem de.sfalecimento até ao .século xviii, foi possível às
antigas lojas de pedreiros operativos converterem-se,
por completo, em lojas de pedreiros especulativos, man­
tendo, não obstante, o prestígio e o relevo social do pas­
sado. Só na Grã-Bretanha, também, se conservaram o
simbolismo e o ritual de tempos remotos, enriquecidos
— e, não poucas vezes, deturpados — pela continuidade
secular da sua prática.

Em 1717, quatro lojas de pedreiros de Londres organi­


zaram-se numa espécie de federação a que deram o no­
me de Grande Loja, elegendo um primeiro Grão-Mestre
com autoridade sobre todos os maçons. Quatro anos
mais tarde era redigido um primeiro regulamento e, em
1723, cometido ao pastor e.scocês James Anderson o tra­
balho de redigir umas Constituições que todos aceitas­
sem. Anderson, com a ajuda de vários, incluiu no seu
texto — ainda hoje venerado e respeitado por toda a Ma­
çonaria — , não só os deveres e os direitos dos maçons,
mas também a história lendária da nova Fraternidade.
Na década de 1720-1730 introduziram-.se, por influência
1
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A M a ç o n a ri a A M a ç o n a ri a A s I n s tK u iç ò e s C o n t itu ^ õ e s O s O s d o h i
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A. H. de O liv e ira M arques
Î
A M açonaria em Portugal
P o r tu f ta l...

OU impacte directo britânico, as primeiras lojas maçóni­


cas em França. O ambiente do Século das Luzes era ex­
tremamente favorável a tudo o que proviesse das Ilhas
Britânicas, então havidas como pátria da liberdade. A ex­
pansão das lojas foi tão fulgurante que, em 1742, elas
atingiam já o número de 200, .só em França. Oficialmen­
te reconhecidas pela Grande Loja de Londres, contudo,
bem poucas havia. É que, na França do século xvm, a
maçonaria escocesa tradicional iria sofrer profundas
transformações que, a breve trecho, a tornariam quase ir­
reconhecível em face do modelo de origem. E de França,
por seu turno, a Maçonaria, cada vez mais laicizada e fi­
losófica, iria repercutir-se sobre a Inglaterra, a Escócia e
a Irlanda, como por todo o orbe civilizado de então, num
gigantesco cadinho de interinfluências que a converte­
riam na summa universalista hoje nossa conhecida.
Em França, igualmente, se definiram e estruturaram os
dois ritos principais da Maçonai'ia de então e de hoje; o
chamado Rito Escocês, primeira tentativa de Reforma
institucional da Ordem Maçónica, a partir do Discurso
de Ramsay — nome do seu autor, um cavaleiro escocês
que viveu longos anos em França — , composto em
1736-1737 e publicado em 1738, com reformas suas em
1801-1804; e o chamado Rito Francês, segunda Reforma
da Ordem Maçónica tradicional, criado em 1773 com a
instituição do Grande Oriente de França, e dotado de es­
tatutos formais e de corpos directivos.
Nas décadas de 1720-1730 e 1730-1740, a Maçonaria pe­
netrou em toda a Europa e fora dela. Foi um avanço de
rapidez impressionante, que assustou sobretudo a Igreja.
O Papa Clemente XII, logo em 1738, promulgou a pri­
meira bula de excomunhão contra os pedreiros-livres.
Mas a bula pouca impressão fez. Em alguns paí.ses, nem
sequer foi promulgada. O número de maçons seguiu em
aumento, para jamais .se deter até ao nosso século.
É que a Maçonaria correspondia aos ideais e às preocu­
pações do tempo. Tornara-se igualmente numa moda,
que o seu carácter secreto e misterioso propagava. Todo
o aristocrata, todo o clérigo, todo o burguês bem-pen-
sante aspirava a fazer parte da instituição, que lhe con­
cedia foros de homem corajoso e avançado, cônscio dos
problemas do tempo e desejoso de os re.solver. As pró­
prias mulheres conseguiram, mediante as chamadas lojas
de adopção, participar nos segredos maçónicos. Como
em qualquer seita religiosa, o facies exterior e ritualista
atraiu legiões de adeptos. Espécie de anti-Igreja, ou até
de Igreja dessacralizada, purificada, racionalizada, a Ma­
çonaria recebeu a inscrição de homens de fundo religio­
so mas a quem as religiões oficiais e tradicionais repug­
navam pelo seu carácter dogmático e a-racional.
Ao .sobrevirem as Revoluções Americana e Francesa, os
pedreiros-livres eram já muitos milhares. Mas a acção
directa da Ordem na feitura dos movimentos revolucio­
nários não está comprovada documentalmente. A Maço­
naria actuou por trás, nos bastidores, .sobre o ideário e a
actividade dos muitos pedreiros-livres que, integrados
noutras organizações mais pragmáticas, lutaram seguin­
do a via revolucionária e política. Os ideais das Revolu­
ções Americana e Francesa haviam sido, de facto, pen­
sados, teorizados e expostos muito antes delas. E assim
iria suceder, qua.se .sempre nas interligações Maçonaria-
-História. Prefiguração maçónica de ideias e de acções
historicamente relevantes, encontramo-la desde a Revo­
lução Americana ao movimento francês de Maio de
1968. Ligação directa entre Maçonaria e esses movi­
mentos, raras vezes é possível detectá-la. Desde sempre.
1
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A. H. d e O liv eira M arques A M açonaria em Portugal

a acção maçónica exerceu-se, sobretudo, nos indivíduos,


e não nos organismos.
Nos meados da centúria de Setecentos foram instituídas
as chamadas lojas de adopção, destinadas às mulheres.
Embora um dos landmarks britânicos fos.se, exactamen­
te, a exclusividade masculina, tentou ladear-se a questão
por meio de um sistema dito adoptivo. Qualquer loja
regular adoptava uma loja feminina, que lhe ficava
subordinada na essência. Mau-grado a hostilidade das
Obediências tradicionalistas, as lojas de adopção conse­
guiram desenvolver-.se e persistir durante muito tempo,
por vezes com uma obra notável dentro dos mais puros
ideais da Maçoníu^ia.
As inva.sões francesas dos finais do século xviii e come­
ços do X IX contribuíram para uma maior difusão dos
princípios maçónicos e das lojas que, por toda a parte, se
fundaram por iníluência dos oficiais invasores, de Por­
tugal à Rússia e da Suécia ao Egipto. O regresso a regi­
mes reaccionários, que dominaram a Europa até meados
do .século, não enfraqueceu a Maçonaria, antes a estimu­
lou, por lhe dar uma razão de combate contra a opressão
e a intolerância. Uma das características fundamentais
da Maçonaria, quer no século xviii quer no xix quer no
X X , parece ter sido quase sempre a de se encontrar numa

posição de vanguarda, antecipando-se às conquistas po­


líticas e sociais do tempo. Não assombra, portanto, a li­
gação íntima, muitas vezes existente, entre Maçonaria e
liberalismo monárquico, primeiro, radicalismo republi­
cano, depois, e socialismo, por fim.

Este avanço da Maçonaria não se proces.sou, aliás, sem


dificuldades. Progressistas e conservadores travaram, no
.seio da Ordem, rudes combates, que terminaram, por
vezes, na cisão e no cisma. Na segunda metade do sécu­
lo X I X , por exemplo, a questão da crença num Deus cria­
dor, e sua identificação com o Supremo Arquitecto do
Universo, dividiu os maçons de todo o mundo. Enquan­
to a Declaração cie Princípios do Congresso de Lausan­
ne, dos maçons de Rito Escocês (1875), mantinha a
existência de um princípio criador — embora omitisse
a necessidade imprescindível, para cada maçon, de crer
na existência de Deus e na imortalidade da alma — , o
Grande Oriente francês suprimia, por completo, toda e
qualquer referência ou invocação ao Supremo Arquitec­
to (1877). Como consequência, a Grande Loja de Lon­
dres e a Grande Loja de Nova York quebraram relações,
não apenas com as Obediências francesas, mas também
com a Grande Loja Escocesa, visto advogarem a nece.s-
sidade de se crer num Deus criador bíblico.
Desde então, e na sequência, aliás, de um princípio que
vinha já do século xviii, as Maçonarias americana e in­
glesa caracterizaram-se pelo .seu conservantismo intran­
sigente e pelo .seu apego aos landmarks, havidos por pi­
lares imutáveis da Ordem Maçónica. Esta atitude, muito
próxima dos dogmatismos religiosos que a Maçonaria
sempre combateu, não deixou de influir na estagnação e
deturpação sofridas pelas maçonarias anglo-saxónicas,
transformadas em pouco mais de clubes benéficos e re­
creativos, alheias aos grandes problemas de natureza so­
cial, política e económica da Humanidade.
No nosso século, a Maçonaria houve, por toda a parte, de
sofrer perseguições demoradas, só comparáveis, na sua
violência, às dos tempos da Inqui.sição e do Absolutismo
monárquico-clerical. Ligada indissoluvelmente à tole­
rância e ao respeito pela individualidade, teria de ser mal
vista por doutrinas e regimes que os menosprezassem ou
A M a ço tu irta A M o c o m itla A t in & ll(u k ;ò e « C o n tltu lc o cft Os O s do is
e m Po ftuifai e m P o rtu g n i p â rA m a ç o n k n » d e A n d e rs o n •loodnuirk« rMtncipAte rttos
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P o rtu g a l...

A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria e m P o riu g a i

rejeitassem in linüne. Havida por burguesa e acusada de


co n ex õ es íntimas com os grupos dirigentes, não tardou
a ser identificada com a plutocracia ou olhada com o
instrumento nas m ãos desta. A ssim , para os com unistas,
a M açonaria definiu-se com o instituição burguesa e
reaccionária, conluiada com os grandes interes.ses fi­
nanceiros. Para os fa.scistas em suas várias expressões
nacionais, d efin iu -se com o plutocrática também, mas
ligcida ao com unism o e ao judaísm o internacional. Pa­
ra os católicos rom anos, era tudo isto e, ainda mais,
ateia e satânica.
O triunfo das várias ideologias com unistas e fa.scista ha­
via de implicar, portanto, uma onda de perseguições
contra a Ordem M açónica. Na União S oviética — e em
quase todos os outros países com unistas após a .segunda
Guerra Mundial — a Maçonaria foi extinta. Na Itália
fa.scista, na Alem anha nacional-socialista, na Espanha
de Primo de Ri vera e de Franco, nas nações balcânicas
sujeitas a regim es autoritários, na França de Pétain, os
m açons sofreram perseguições sem conta, traduzidas
muitas vezes pela própria morte.
Finda a guerra, tem pos m elhores voltaram para a M aço­
naria, com ba.se em maior com preensão e tolerância pa­
ra com os seus ideais. A Igreja Católica, com o .seu novo
espírito ecum énico, tem ultimamente procurado ou sido
receptiva a certa aproxim ação, que poderá culminar nu­
ma plataforma de entendim ento.
A Maçonaria em Portugal até 1935

A introdução da Maçonaria em Portugal remonta ao se­


gundo quartel do século xviii.
Talvez por 1727, foi fundada por comerciantes britâni­
cos estantes em Lisboa uma loja que ficou conhecida
nos registos da Inquisição como dos Hereges Mercantes,
por sereni protestantes quase lodos os seus membros.
Esta loja veio a regularizar-se em 1735, filiando-.se na
Grande Loja de Londres onde obteve, primeiro, o núme­
ro de registo 135 e, depois, o 120. Só em 1755 seria aba­
tida ao quadro das lojas de presidência londrina, embo­
ra provavelmente não trabalhasse desde havia muito.
A Inquisição não a incomodou, por certo devido à nacio­
nalidade e à homogeneidade profissional dos seus parti­
cipantes, protegidos pelos tratados com a Inglaterra.
Em 1733 fundou-se uma segunda oficina em Lisboa, de­
nominada Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia.
Os seus obreiros eram agora predominantemente cató­
licos. Conhecemos os seus nomes, nacionalidades e
profissões. Tratava-se sobretudo de irlandeses, tanto
comerciantes como mercenários no exército português.
A Mftçonnríii A MAÇonorla A Maçonmta As Instituições Contituiçòes Os Os dois
no Mundo om PortuCAl em Portugal pomnwicdflicns de Anderson •landmarks pfinctpais rKos
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A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M aç o n aria cm P o rtu g al

mas havia também marítimos, médicos, três frades do­


minicanos, um estalajadeiro, um cabeleireiro e até um
mestre de dança. O irmào desta loja que viria a .ser mais
famoso era o húngaro Carlos Mardel, oficial do exército
mercenário e arquitecto de nome, a quem Lisboa tanto
deve. Em 1738, ao .ser promulgada a bula condenatória
de Clemente XII, a loja dis.solveu-se, mas alguns dos
obreiros, mormente os protestantes, não acataram a de­
cisão papal, ingressando na outra loja.
A terceira oficina criada em terra portuguesa conheceu
destino mais trágico. Fundou-a, em 1741, em Li.sboa, o
lapidário de diamantes John Cou.stos, nascido na Suíça
mas naturalizado, depois, inglês. Durou cerca de dois
anos, ingressando nela uma trintena de estrangeiros resi­
dentes em Portugal, a maioria franceses, mas com al­
guns ingleses também, ao lado de um belga súbdito do
Império, um holandês e um italiano. Eram quase todos
católicos, em bora Coustos, o venerável, fos.se protestan­
te e outros, poucos, com o ele. Quanto a profissões, pra­
ticamente todos estavam ligados ao comércio, com per­
centagem elevada de negociantes e lapidários de pedras
preciosas, ouro e prata.
D enunciados à Inquisição em 1742, os maçons da loja
de Coustos foram presos, torturados e .sentenciados, sen­
do o venerável e os dois vigilantes condenados a vários
anos de degredo e .serviço nas galés. Por intervenção e.s-
trangeira, porventura de outros maçons, libertaram-nos,
porém, ao fim de algum tempo, com a condição de saí­
rem do País.
A perseguição de 1743 desmantelou este primeiro esbo­
ço de organização maçónica em terra portuguesa. A pró­
pria loja dos Hereges M ercantes terá afrouxado a sua
actividade, até de todo abater colunas. A M açonaria .só
tomou de novo força e vigor na década de 1760-70, mer­
cê de uma maior tolerância governativa. O marquês de
Pombal — homem esclarecido e estrangeirado que, por­
ventura, se documentara sobre a Maçonaria ou fora mes­
mo iniciado no seu período de residência fora do País —
deixou os pedreiros-livres em paz, ao mesmo tempo que
quebrava as garras da Inquisição e a convertia em dócil
instrumento do poder do Estado. Em 1763 assinalava-.se,
em Lisboa, pelo menos, uma loja de raiz inglesa, existin­
do na capital uma oficina mais de militares e civis, pre­
dominante ou exclusivamente estrangeiros. Na mesma
data, parece terem trabalhado, também, uma loja em
Coimbra e lojas militares em Valença e EIvas ou Oliven-
ça, pelo menos. Em 1767, fundava-se, no Funchal, uma
loja onde entraram, de certeza, obreiros portugue.ses,
pertencentes à nobreza e à alta burguesia locais, ao lado
de alguns ingle.ses e france.ses também. Na década se­
guinte, esta loja adormeceu durante alguns anos, reto­
mando actividade a partir de 1779.
Com a «viradeira», tornaram as perseguições. Inquisi­
ção e polícia deram caça à «pedreirada», cujo volume ia
avultando e inquietando os defensores da ordem estabe­
lecida. Por volta de 1778 havia oficinas perfeitas ou sim­
plesmente maçons desgarrados em vários pontos do
País, como Lisboa, Coimbra, Valença e, vimo-lo já. Fun­
chal. Em 1790 temos testemunho certx) dos trabalhos,
em Lisboa, de uma loja (chamada de D. André de Mo­
rais Sarmento), onde participaram uns 23 obreiros, 10
pela burguesia, 6 pela baixa nobreza militarizada,
4 pelo clero e 3 pelas colônias estrangeiras. Na Madeira,
no mesmo ano, havia duas lojas, e três em 1791, com um
povo maçónico calculado em mais de 100 pes.soas. Há
ainda notícia de actividade maçónica em Cabo Verde
A Mdçoruiria A MaçofuiHii A MAÇona/ln As HifttHulçoot Contituiçóo» Ot Oft dois
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Portugal...

A. H . d e O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria c m P o rtu g al

(ilha de Santiago) e nos Açores (S. Miguel). No Porto


existiu talvez uma loja em 1792.
As perseguições de 1791-92 desmantelaram, pela .segun­
da vez, a organização maçónica portuguesa. Tanto em
Lisboa como no Funchal e algures, os irmãos foram pre­
sos e impedidos de .se continuarem a reunir. As lojas ti­
veram de abater colunas e esperar dias melhores. Isso
não impediu, contudo, o funcionamento esporádico de
algumas, com o aconteceu em Coimbra, Lisboa e Porto,
a partir de 1793.
Com o desem barque, em Lisboa, de um corpo expedi­
cionário inglês, em Junho de 1797 — no quadro da
guerra com a França — , introduziram -se as condições
para que a Ordem renascesse. Logo em 1798 havia
constituídas três lojas inglesas em Lisboa, ligadas a re­
gimentos, além de uma quarta aceitando também civis
e portugue.ses. Todas elas filiadas na G rande Loja de
Londres, receberam os n.“' 94, 112, 179 e 315. Esta úl­
tima teve, para a história da M açonaria portuguesa pro­
priam ente dita, um papel relevante, visto ter sido, anos
depois, considerada a loja n.° 1, quando se com eçaram
a dar números às oficinas nacionais. Foi a loja União.
Até 1804 outras lojas se criaram e, ao lado delas, muitos
maçons e sim patizantes foram ganhando diversas cida­
des e vilas do País. Além do pes.soal estrangeiro, nume-
ro.so e recrutado, com o cinquenta anos atrás, entre os
mercenários do exército, os com erciantes e industriais e
o próprio clero, a com participação de cidadãos portu­
gueses tocava já variados grupos sociais e ecoava em
nomes ilustres nas letras, nas ciências e nas artes: abade
Correia da Serra, Filinto Elísio, Ribeiro Sanches, Avelar
Brotero, Domingos Vandelli, José Anastácio da Cunha.
José Liberato Freire de Carvalho, Domingos Sequeira.
A Maçonaria nacional recrutava-se, sobretudo, entre a
oficialidade do exército e da marinha, o professorado, o
comércio e a indústria, a burocracia civil e eclesiástica.
Em menor percentagem existiam irmãos clérigos e aris­
tocratas terratenentes. Era, em suma, a burguesia esclare­
cida quem .sobretudo preenchia os lugares das oficinas.

Nos começos do século xix, o número de lojas e de fi­


liados ju.stificava já uma organização ba.stante completa
da Ordem, consoante os modelos britânico e francês.
Em 1801 realizou-.se em casa de Gomes Freire de An­
drade (embora sem a sua pre.sença) uma assembleia ge­
ral de maçons portugueses, com a comparência — reza
a tradição — de uns 200 irmãos. Reconheceu-se a ne­
cessidade de criar uma Grande Loja ou Grande Oriente
Português, que substituísse a Comissão de Expediente,
de seis membros, instituída para coordenar as activida­
des da Ordem. Para o efeito, deslocou-se a Londres, em
1802, o irmão Hipólito José da Costa, que negociou e
obteve o reconhecimento. Nasceu assim o Grande
Oriente Lusitano. Como .seu primeiro Grão-Mestre foi
eleito o de.sembargador Sebastião Jo.sé de São Paio de
Melo e Castro, neto do 1.“ marquês de Pombal. Quatro
anos mais tarde, em Julho de 1806, votava-.se a primeira
Constituição Maçónica portuguesa, com uma Loja e
uma Câmara de Administração independentes, dignitá­
rios eleitos, legislaturas, etc. Dezasseis anos antes da
Constituição liberal de 1822, e.ste texto prescrevia e pre­
nunciava as normas principais do ideário liberal, efecti­
vado pelas Revoluções Americana e Francesa poucas
décadas atrás.
Ao tempo da Constituição de 1806 trabalhavam em Lisboa
oito lojas: União, Regeneração, Virtude, Amizade, Concór-
A Mnçonarin A Maçonnrin A& tflStKuiçócs ContttuIçMfi 1 Cb Os doit
no Mundo cm Portut«al parnmnçònlcat Ue Amicfson landmnrVs' pHnclpnl» riti
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Portugal...

A. H . d e O liv eira M arques A M açonaria em P ortugal

(lia. Fortaleza, Amor da Razão, e Beneficência. Havia ain­


da lojas em Tomar, Porto, Coimbra, Setúbal, Funchal e
Brasil. O número de maçons então existentes no Reino
rondaria talvez os 500. Desde, pelo menos, 1800, que os
irmãos portugueses, por compreensível medida de precau­
ção, adoptavam um nome simbólico ao .serem iniciados.
José Liberato Freire de Carvalho era o Spartaciis. Num
passaporte de 1804, que é o mais antigo documento sub­
sistente dessa época heróica da Maçonaria lusitana,
surgem os nomes simbólicos de Egas Moniz (o Grão-
-M estre), Cincinato (1.° Grande Vigilante), Tito
(2.° Grande Vigilante), Sólon (Grande Admini.stra-
dor?), Anjou (Grande Chanceler), Aquiles (Grande
Experto), Abner (Grande Orador), Graco (Grande Se­
cretário, interino), Belisário (Grande Tesoureiro) e
Washington (Grande Tesoureiro).

As Invasões Francesas deram pretexto às autoridades para


ajuntarem novo motivo de perseguir: o da traição à Pátria.
Embora os maçons se tivessem recusado a eleger Junot co­
mo seu Grão-Mestre e a substituir, nas lojas, o retrato do
Príncipe Regente pelo de Napoleão e embora, por esses
motivos e outros, de exaltação patriótica, as autoridades
francesas de ocupação começas.sem desde logo a perseguir
a Maçonaria portuguesa, a verdade é que os elementos ab­
solutistas e reaccionários fixaiam apenas, e procuraram fi­
xar na memória do País, a mensagem de saudação que a
Maçonaria dirigira a Junot quando da sua entrada em Lis­
boa, a qual resultava, tão somente, das instruções deixadas
pelo Príncipe Regente a todos os cidadãos. As lojas abate­
ram colunas durante 1808, criando-.se, como único corpo
paramaçónico e de resistência, o chamado Con.selho Con­
servador de Lisboa, onde militaram umas 200 pessoas.
Em 1809-10 desencadeou-se a terceira grande vaga de
perseguições, com as prisões de Março do primeiro ano
indicado e as de Setembro de 1810 que, uma vez mais,
desmantelaram a Maçonaria. Só fmdo o período das In­
va.sões Francesas e restaurada a paz interna se assistiu a
um renascimento da Ordem, ao redor de 1813. Reini­
ciou os trabalhos a loja Regeneração, despertou, no ano
.seguinte, a loja Virtude, em Lisboa, ao lado da nova lo­
ja, Filantropia, em Santarém. A União, a Concórdia, a
Beneficência, a Fidelidade e ainda a Amizade reaparece­
ram também. Mas foi sol de pouca dura. Em 1817, a
quarta perseguição, terrivelmente feroz, levou ao cada­
falso em S. Julião da Barra o Grão-Mestre Gomes Frei­
re de Andrade e vários companheiros .seus, executados
no Campo de Santana, em Lisboa.
A repressão de 1817 .seguiu-se o alvará com força de lei
de 1818 que, acre.scentando-.se à bula de Clemente XII,
declarava «criminosas e proibidas todas e quai.squer .so­
ciedades .secretas», incorrendo os .seus membros em crime
de lesa-majestade, com as severas penalidades con.se-
quentes, que podiam ir até à pena de morte e ao confisco
dos bens. A Maçonaria portuguesa, sem nunca paralisar
de lodo, reentrou na clandestinidade. A maior parte das lo­
jas abateu colunas, .sendo criada, para centralizar toda a
acção maçónica, a loja Segurança Regeneradora. Não
se procedeu à substituição do Grão-Mestre, assumindo,
colectiva e interinamente, as suas funções uma Comis­
são Administrativa de altos dignitários da Ordem. Tudo
isto não impediu a fundação de, pelo menos, duas ofici­
nas, a Liberalidade em EIvas e a Sapiência em Coim­
bra, ambas em 1818.
Como vanguarda de todos os movimentos progressistas,
a Maçonaria havia de visar a supres.são do regime abso-
A M.icooariti A Maçonaria A Moçontffla tnfttitulçoo» Contttuições Os Oadots
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A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria c m P o rtu g al

luto. Gomes Freire e os seus camaradas foram as aimas


da malograda conspiração de 1817. Maçons, igualmen­
te, fundaram o Sinédrio, de onde saiu a revolução vito­
riosa de 24 de Agosto de 1820. Eram maçons todos os
grandes nomes do Vintismo; Fernandes Tomás, Ferreira
Borges, Silva Carvalho, Borges Carneiro, etc. Em 1821,
a com posição da Grande Dieta patenteava eclesiásticos,
magistrados, professores universitários, oficiais do exér­
cito e burgue.ses nobilitados, a élite, portanto, da burgue­
sia, com pouca penetração da aristocracia terratenente.
Vintismo e M açonaria identificavam-se.
De 1820 a 1823 a M açonaria portuguesa conheceu o seu
primeiro período de apogeu e de aparecimento à luz do
dia. O número de lojas multiplicou-se, existindo cerca
de 40 tanto em Lisboa como na província. A Constitui­
ção maçónica de Outubro de 1821, cuja estrutura e até
parte da fraseologia prenunciavam as da Constituição ci­
vil de 1822 — redigida por juristas maçons — era um
longo e bem elaborado texto de 127 artigos, iniciando-se
com uma declaração de direitos e deveres individuais, e
continuando com uma declaração de direitos e deveres
das lojas, uma organização tripartida de poderes (legis­
lativo, executivo e judicial) e uma organização do gover­
no ultramarino. Firm aram -na liberais ilustres como
Agostinho José Freire (Séneca, 1.“ Grande Vigilante) e
Borges Carneiro {Camilo, Grande Arquivista Chance­
ler). Como Grão-M estre, foi eleito o juiz Dr. João da C u­
nha Souto Maior, um dos membros do Sinédrio.
Com a Vilafrancada, a Abrilada e o regresso do absolu­
tismo, os maçons voltaram a ser perseguidos, encarcera­
dos e mortos. Foi a quinta perseguição. Os decretos de
1823 e 1824 reiteraram o alvará de 1818. As actividades
à luz do dia tiveram de ser suspensas até 1826, já sob o
grão-mestrado de Silva Carvalho. De 1826 a 1828 mani­
festou-se um curto rena.scimento, de que se sabe hoje
muito pouco, e que logo soçobrou na sexta e violenta
perseguição do Miguelismo. Quase todos os maçons ali­
nharam, evidentemente, com D. Pedro IV, pedreiro-livre
ele próprio e Grão-M estre da M açonaria brasileira. Não
admira, pois, que a história da M açonaria de então qua-
.se tivesse coincidido com a história da gesta liberal.

O triunfo definitivo do Liberalismo, em 1834, trouxe os


maçons ao poder, onde durante quase um século se iriam
aguentar. O período de 1834-1926 marca, assim, o apo­
geu da implantação maçónica em Portugal. Tal como os
políticos e a Política, todavia, os maçons conheceram
períodos de crise e períodos de divisão, ao lado de ou­
tros de robustecimento e incontestável unidade. O para­
lelo é fiagrante: até meados do século, o Liberalismo
atravessou um período difícil de consolidação, eivado de
revoltas, de golpes de Estado, de perturbações políticas,
económicas e sociais de toda a ordem. Outro tanto acon­
teceu com a Maçonaria: até meados do século, atraves­
sou um período de divi.sões internas e de ci.sões, que pu­
seram em perigo o lema da unidade e da fraternidade.
Mas, superada essa autêntica crise de crescimento, foi
possível tanto ao novo regime político como ã Ordem
Maçónica aprofundarem alicerces, cimentarem estrutu­
ras e fortalecerem-.se para resistir aos combates que ti­
nham de suportar.
Não existem, por enquanto, m onografias de base a da­
rem-nos o conhecim ento profundo das cisões desse
tempo. À superfície, eram as questões de ritual, as ri­
validades individuais, as clientelas em torno de um
chefe que motivaram as dissidências. No fundo existi-
A Maçocuría A Maçonaria A Maçonaria k% Instituições Contltuiçoei Os Os dois
no Mundo «m Portufial om Portugal panmxoçónkas do Anderson •lorKtmork»- principais rito
até 1935 opôs 1935 praticados er
Portugal...

A. H . d c O liv eira M arques A M açonaria em Portugal

riam razões mais graves de ordem social ou política a


justificarem-nas.
O tronco da Maçonaria portuguesa foi, todavia, quase
sempre o mesmo: o chamado Grande Oriente Lusitano,
com o seu primeiro Grão-Mestre eleito, como vimos, em
1802 e, posteriormente, toda uma sucessão ininterrupta
de Grão-Mestres regularmente eleitos, até à actualidade.
Entre 1849 e 1859, o Grande Oriente Lusitano chamou-
-se Grande Oriente de Portugal. A partir de 1869 passou
a denominar-se Grande Oriente Lusitano Unido. O tron­
co, todavia, manteve-se o mesmo.
Desde 1826 e até meados do século, o Grande Oriente
Lusitano representou a linha con.servadora da Maçona­
ria, ligado como esteve à corrente política do Cartismo e
sob o malhete supremo de individualidades cartistas de
relevo: Silva Carvalho (Grão-Mestre de 1823 a 1839) e
Costa Cabral (Grão-Mestre de 1841 a 1849). Este con­
servantismo suscitou variadas cisões: a de Saldanha,
com o seu Oriente do Sul, a partir de 1828; a de Passos
Manuel, com o seu Oriente do Norte (complemento da­
quele) a partir de 1834; e, muito mais tarde, a de Elias
Garcia, com a sua Federação Maçónica, em 1863. Estas
três dissidências corresponderam, com antecipação, a
correntes políticas que se foram formando no .seio do Li­
beralismo e disputando o poder. Constituíram mesmo o
sedimento de base dessas correntes, e as respectivas lo­
jas funcionaram, não poucas vezes, como verdadeiros
sovietes de decisões políticas ao nível nacional.
Do lado «direito» houve também cisões. O próprio Silva
Carvalho abandonou, em 1840, o Grande Oriente, de que
fora tantos anos Grão-Mestre, para constituir, com outros,
o chamado Oriente do Rito Escocês, onde voltou a ser
chefe supremo. Sucedeu-lhe Rodrigo da Fonseca
Magalhães, outro afamado dirigente político do Cartismo.
O período de maiores de.sentendimentos entre os maçons
ocorreu entre 1849 e 1867, quando coexistiram em Por­
tugal entre cinco e oito Obediências maçónicas distintas:
as principais foram a Grande Loja Provincial do Oriente
Irlandês, o Oriente do Rito Escocês, a Maçonaria Ecléc­
tica, o Grande Oriente de Portugal, o Grande Oriente
Lusitano, a Confederação Maçónica e a Federação M a­
çónica. Será interessante tentar explicar, um dia, a con­
tradição entre este quadro máximo de divisões na Maço­
naria portuguesa e a relativa unidade das forças políticas
e sociais do Portugal dos começos da Regeneração.
0 número de lojas aumentou regularmente. Em 1840,
subscreveram a nova Constituição do Grande Oriente
Lusitano nada menos de catorze lojas, funcionando en­
tão, simultaneamente, quatro Obediências maçónicas
em Portugal (Grande Oriente Lusitano; Oriente Salda­
nha; Oriente Passos Manuel; Oriente Irlandês).
Em 1843 havia, em toda a M açonaria portuguesa, umas
90 lojas em funcionamento. À cabeça, vinha o Grande
Oriente Lusitano, com 34, sendo 15 em Lisboa, 4 no
Porto, 7 na província, 5 nas Ilhas Adjacentes e 3 nas co­
lónias de África. Seguia-.se o chamado Oriente Passos
Manuel, com umas 19 lojas, no Porto e arredores (8), em
outras localidades do distrito do Porto (4), e nos distritos
de Braga. Viana do Castelo, Vila Real e Bragança (7).
Outras tantas tinha o O riente Saldanha, das quais 7 em
Lisboa, 5 nos distritos do Centro e Sul, 1 nos Açores,
1 em A ngola e 1 em Goa. Em quarto lugar vinha o
Grande O riente do Rito Escocês ou O riente Silva C ar­
valho, com 15 lojas. Por fim, existia a G rande Loja
Provincial do O riente Irlandês, com umas 3 ou 4 lojas.
Muitas destas lojas desapareceram mais tarde, quer por
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A. H. d c O liv eira M arques A M açonaria cm P ortugal

abaterem colunas quer por se fundirem com outras, na


época das uniões de Obediências que conduziram, por
fim, à restauração da unidade maçónica portuguesa. Di­
ga-se de passagem que boa parte delas não passava de
clubes políticos mais ou menos maçonizados que chega­
ram ao seu termo quando a Maçonaria entrou numa épo­
ca de maior despolitização, correspondente à segunda
metade do século xix.
Outro aspecto importante do de.senvolvimento da Maço­
naria durante este período respeitou à instituição do pri­
meiro Supremo Conselho Português dos Grandes Inspec­
tores Gerais do Grau 33, o mais alto corpo ritual do Rito
Escocês Antigo e Aceite. Foi em 1841 que o Supremo
Conselho do Brasil, já internacionalmente legitimado, e
a pedido da Grande Loja do Grande Oriente Lusitano,
concedeu aquele grau ao Grão-Mestre Costa Cabral, dan-
do-lhe poderes para, por seu turno, o conferir a outros ir-
màos a fim de que, num futuro breve, se pudesse instalar
em Portugal um Supremo Conselho. Este corpo, que au­
tonomizou no País o Rito Escocês Antigo e Aceite —
aqui fundado em 1837 — , começou, efectivamente, a
funcionar em 1844, elegendo como seu chefe (Soberano
Grande Comendador) o mesmo Costa Cabral. Aquele ri­
to foi, a pouco e pouco, ganhando lojas que antes traba­
lhavam segundo o Rito Francês ou Moderno, acabando
por o substituir parcialmente. A coincidência entre as
funções de Grão-Mestre e de Soberano Grande Comen­
dador acabou de se institucionalizar em 1869, passando a
Maçonaria portuguesa, então unificada, a denominar-se
Grande Oriente Lusitano Unido, Supremo Conselho da
Maçonaria Portuguesa. Um outro Supremo Conselho,
devido também à Maçonaria brasileira, trabalhou a partir
de data semelhante, extinguindo-se depois.
Entre 1867 e 1872 tornou-se enfim possível conciliar a
família maçónica desavinda. 1869 representou uma data
importante neste processo de unificação, visto que duas
das três Obediências então subsistentes chegaram a
acordo (o Grande Oriente Português — por sua vez já
resultado de união anterior entre o Grande Oriente de
Portugal, a Grande Loja Portuguesa, a Confederação
Maçónica e a Federação Maçónica — , e o Grande
Oriente Lusitano), criando-se o Grande Oriente Lusita­
no Unido, sob o grão-mestrado do conde de Parati. Três
anos depois, a Grande Loja Provincial do Oriente Irlan­
dês integrava-se igualmente no todo, concluindo-se a
unificação da Maçonaria portuguesa.
De.sde então, e durante quase meio .século, tornou-se
possível manter unidade entre os maçons lusitanos, à ex­
cepção de breves cisões pouco duradouras (em 1872,
1882-1884, 1884-1886, 1893-1894, 1894-1895 e 1897-
-1904) e que mal afectaram o progresso da Ordem.
Foi o grande período da Maçonaria portuguesa. Ao seu
robustecimento interno aliaram-se uma constante posi­
ção de vanguarda ideológica de tipo político-social e
uma actividade prática notável em todos os campos da
vida da nação. No grão-me.strado sucederam-se o conde
de Parati (1869-1881), Miguel Bapti.sta Maciel (1881-
-1885), Elias Garcia (1885-1886 e 1888-1889), António
Augusto de Aguiar ( 1886-1887), o visconde de Ouguela
(1889-1895), Bernardino Machado (1895-1899), Fenei-
ra de Castro (1900-1906), Francisco Gomes da Silva
(1906-1907) e, por fim. Sebastião de Magalhães Lima
(1907-1928).
O povo maçónico aumentou, no mesmo período, de cer­
ca de meio milhar de irmãos, em 1869-70, distribuídos
por 36 oficinas, para 1949 irmãos, em 1904, distribuídos
1
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A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria cm P o rtu g al

por 85 oficinas, atingindo o seu número máximo em


1913: 4341 obreiros em 198 lojas e triângulos. A relação
entre cada maçon e o número total de habitantes do País
pa.ssara de 1/10 500 (1869) para 1/2750 (1904) e, por
fim, 1/1380(1913).
Em 1881 surgia a primeira loja de adopção.
Não se esqueça ainda es.se fenômeno curioso, subse­
quente à revolução espanhola de 1868 e à irregularidade
maçónica que ao país vizinho sobreveio, que foi a agre­
miação de dezenas de lojas de toda a Espanha e das pró­
prias possessões espanholas. Durante mais de dez anos
as M açonarias portuguesa e espanhola estiveram unidas,
numa prefiguração de União Ibérica, mas sob a égide do
Grande Oriente Lusitano Unido. Em 1871 havia nada
menos de 24 lojas de fala castelhana ou catalã obedecen­
do a Lisboa. Em 1887 ainda .se contavam 8 destas ofici­
nas, ao lado de uma loja romena e outra búlgara.
O Grande Oriente Lusitano Unido publicava, desde
1869, um Boletim Oficial mensal e, em bora com irregu­
laridade, um Anuário onde .se analisava a situação da
Ordem, lnstalara-.se, desde começos da década de O iten­
ta, num amplo palácio no Bairro Alto, o que lhe confe­
ria uma das melhores sedes de todo o mundo.
Grande parte da élite do País estava filiada na M açona­
ria. Presidentes do Con.selho como o duque de Loulé, o
duque de Saldanha, Joaquim Antônio de Aguiíu-, Rodri­
gues Sampaio, Anselmo Braamcamp, José Luciano de
Castro, Jo.sé Dias Ferreira; ministros das várias pastas,
como Antônio Augusto de Aguiar, Antônio Enes, Mendes
Leal, Bernardino Machado, o bispo de Betsaida; políti­
cos como Jo.sé Estêvão Coelho de Magalhães, Elias Gar­
cia e Jo.sé Fontana; escritores como Camilo Castelo
Branco, Antero de Quental, Inocêncio da Silva, Gomes
de Brito, Brito Rebelo, Heliodoro Salgado; cientistas co­
mo Egas Moniz; artistas até, como Rafael Bordalo
Pinheiro; todos estes e muitos outros foram obreiros das
lojas maçónicas, distribuindo a sua actividade por épocas
e localidades diferentes. No campo legislativo, a obra da
Maçonaria inscreveu-.se entre as grandes conquistas do
progresso do tempo: abolição da pena de morte e da es­
cravatura, criação de e.scolas aos níveis primário e secun­
dário técnico .segundo novos métodos de ensino, difusão
da instrução nas colónias, instituição de asilos para crian­
ças, combate ao clericalismo e começos da laicização das
escolas, fundação de associações capazes de organizarem
a instrução e a a.ssistência segundo novos moldes, cam­
panha a favor do registo civil obrigatório, etc. Os princi­
pais códigos de Direito foram sub.scritos por ministros
maçons. Também a criação do júri se lhes deve. Todas es­
tas medidas resultaram, em parte, de acção colectiva, so­
bretudo das lojas, que aliás não .se conhece ainda com
rigor. Mas o que não está de todo feito é a história da par­
ticipação da Maçonaria ao nível individual, i.sto é, o im­
pacte da ideologia maçónica e da pressão tácita da
Ordem sobre os seus íiliados ministros, parlamentares,
altos funcionários, dirigentes de empresa e outros, a qual­
quer nível e em qualquer ramo do conhecimento e da vi­
da nacional. E.ssa participação, que se adivinha grande,
tem sido proclamada, quer por defen.sores quer por adver­
sários da Maçonaria, mas com escassos fundamentos ob­
jectivos. Só com uma análise aprofundada das actas das
lojas e de outras reuniões maçónicas, e um arrolamento
completo dos obreiros e sua relacionação profissional se­
rá po.ssível chegar a conclu.sões válidas e indisputadas.
A análise dos temas debatidos nos vários congressos ma­
çónicos e da forma como es.sa discu.ssão foi orientada
A MaçonoHo A Maçonaria A Maçonaria As Instltiriçôes Contituiçóes Oa Osdoit
no Mitfxk) •m PortufoI em Portui*Al pAramoçonlcns de Anderson •tondmark« prirtcipoa ritos
até 1935 após 193S praticado» em
PortugoL..

A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria em P o rtu g al

revela-se do maior interesse. Nas comunicações e inter­


venções patenteavam-se qua.se sempre posições de van­
guarda ideológica e pragmática. Antes da República rea­
lizaram-se os congres.sos do Porto (1900), de Coimbra
(1903), de Lisboa (1905) e da Figueira da Foz (1906), o
terceiro denominado Congres.so Maçónico Interpeninsu-
lar e reunindo maçons da Espanha e de Portugal. Depois
do 5 de Outubro tiveram lugar os congressos nacionais de
Lisboa (1913), Poilo (1914) e novamente Li.sboa (1924).

Nos começos do século xx, a aproxim ação entre Maço-


níu*ia e republicanismo foi crescendo. Existiam, sem dú­
vida. obreiros monárquicos. Mas a maioria dos maçons
abraçava o ideal republicano. Nada havia de extraordi­
nário nem de condenável neste facto, se fos.se possível
evitar a identificação entre M açonaria e Partido Republi­
cano. Como força de vanguarda, era natural que a Or­
dem esposasse a causa de vanguarda. Sucedera outro
tanto em 1820. Mas o que aconteceu foi recair-.se preci­
samente no erro dos maçons dos começos do período li­
beral. A M açonaria portuguesa tendeu a constituir um
grupo elitário enquadrante de um partido político. Patro­
cinou a constituição da Cíu-bonária, alavanca decisiva da
revolução de 5 de Outubro de 1910. M achado Santos,
um dos chefes da Carbonária e um dos chefes do 5 de
Outubro, conhecedor dos bastidores do movimento, pô­
de escrever [A Revolução Portuguesa. Relatório, p. 34]
que «a obra da Revolução Portuguesa também à Maço­
naria se deve. única e exclusivamente».
Esta politização da M açonaria resultou numa m ultipli­
cação das iniciações, dirigidas a finalidades que de ma­
çónico só tinham parte. Com a proclam ação da Repú­
blica. a M açonaria passou a ser olhada com o qualquer
coisa de lilil, de pragmalicamente necessário no ciirri-
ciiliim do candidato a ministro, a deputado ou a simples
funcionário público. Os .seus efectivos duplicaram em
poucos anos, de 2000 para 4000 associados, com um
correspondente aumento no número de lojas e de triân­
gulos. No Parlamento, metade ou mais de metade dos
repre.sentantes do povo pertencia à Ordem. No Governo
Provisório (1910-1911), 50% dos ministros eram ma­
çons, percentagem que, grosso modo, continuou a exis­
tir nos muitos governos republicanos até 1926. Quanto
às presidências, mais de metade dos ministérios foram
presididos por maçons e a totalidade do .seu tempo de
governo elevou-se a nove anos e .sete meses, ou seja,
mais de 65% do período completo de vigência da Repú­
blica Democrática. Três presidentes da República —
Bernardino Machado, Sidónio Pais e Antônio José de
Almeida — pertenciam à Ordem Maçónica. Tal como
durante a Monarquia Constitucional, algumas das medi­
das mais progressivas adoptadas pelo regime republica­
no tiveram participação das lojas e foram sub.scritas por
ministros maçons. O âmbito da Maçonaria durante a
1.“ República está ainda por determinar cabalmente,
mas não parece exagerado afirmar que a história das
duas instituições apresenta paralelos do maior interesse
e que o declínio de uma correspondeu ou foi, em gran­
de parte, causador do declínio da outra.
Ora, a aproximação entre Maçonaria e Partido Republi­
cano, acentuada de.sde a proclamação da República,
houve de reflectir também as dissensões dentro daquele
Partido. O Grão-Mestre eleito em 1907, Magalhães Li­
ma, era amigo e admirador de Afonso Costa, maçon es­
te também, simpatizando com a ala e.squerda do P. R. P.
que se colocou sob a sua bandeira. Outro tanto .se diria
! A Moçorurla A Maçonaria A Maçonnrin j As ^ctHulçoos Contltulçõoa ! 0« j Osdois
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1 1
A. H. d e O liv eira M arques A M açonaria em P ortugal

do Grão-Mestre adjunto, José de Castro, figura de rele­


vo dentro do Partido. Quando a cisão entre Afonso Cos­
ta e os outros dois maiorais do P. R. P., Antonio José de
Almeida e Brito Camacho, .se consumou, em Outubro de
1911,0 Grande Oriente Lusitano foi arra.stado na órbita
do primeiro. Maçonaria (isto é. Grande Oriente Lusita­
no) e democráticos intensificaram a sua junção. A polí­
tica da maioria das lojas tendeu a .seguir a política radi­
cal do Partido Democrático. Acentuava-se, assim, e num
sentido perigosamente divisionista e .sectário, a politiza­
ção da Maçonaria, que vinha já de longe. E, .se as divi­
sões entre grupos republicanos eram de tal ordem que
punham em perigo a existência da própria República,
não parecia difícil profetizar que, mais cedo ou mais tar­
de, a Maçonaria portuguesa se dividiria também.

A divisão ocorreu em 1914. Como razões aparentes não


surgiram, claro está. as de natureza política. Ligaram-se
antes a questões de rito e de formalidade. Entre o Exe­
cutivo e o Legislativo do Grande Oriente, por um lado
— Grão-Mestre, Grão-Mestre Adjunto, Conselho da
Ordem e Grande Dieta — e o Supremo Conselho do
Grau 33, na sua maioria, pelo outro, surgiram problemas
de tal ordem que levaram à cisão declarada. Parte do Su­
premo Conselho do Grau 33 considerou contrário aos
acordos de 1869 o texto da Constituição maçónica de
1914 e separou-se do Grande Oriente. Com o apoio e o
reconhecimento de grande número de potências maçóni­
cas estrangeiras, constituiu a sua própria Obediência
(profanamente designada por Grémio Liiso-Escocês),
que veio a ter uma das sedes na Rua de S. Pedro de Al­
cântara. em Lisboa. Para dirigente supremo — Soberano
Grande Comendador — elegeu o antigo Grão-Mestre,
general Luís Augusto Ferreira de Castro. A este novo
Grémio aderiram várias dezenas de lojas e triângulos,
com mais de um terço do povo maçónico português. Na
verdade, as estatísticas do Grande Oriente Lusitano Uni­
do mostram que, de 1913 para 1914, o número de ma­
çons baixou de 4341 para 2800 e o de oficinas de 198
para 147. A diminuição não foi toda devida ao cisma,
mas é possível dizer que cerca de 1500 obreiros segui­
ram de.sde logo a dissidência, agrupados em cerca de
meia centena de lojas e triângulos.
Nem todos estes maçons dissidentes tinham, é verdade,
consciência plena das razões profundas que explicaram
a cisão. Muitos seguiram as luzes da sua oficina, por
respeito ou por obediência, mas sem questionarem a
validade da separação. Como sempre, motivações de
ordem pessoal estiveram por detrás de não poucas atitu­
des. Mas parece fora de dúvida que as divergências
políticas entre radicais e conservadores, com sua ex­
pressão social no conflito entre grupos burgue.ses, se
tinham introduzido na família maçónica, levando o gru­
po mais à direita a constituir-se autonomam ente. Este
grupo apoiou Sidónio Pais em 1917-1918, enquanto o
Grande O riente foi perseguido e a sua sede assaltada
durante o mesmo período.
A identificação do Grande Oriente com o radicalismo re­
publicano prosseguiu. A revolução de 14 de Maio de
1915, dirigida contra a Ditadura conservadora de Pimen­
ta de Castro, teve a chefiá-la quase só maçons: Norton
de Matos, Sá Cardoso, Freitas Ribeiro e António Maria
da Silva, com Afon.so Costa nos bastidores. No Mini.sté-
rio que se lhe seguiu, a Maçonaria estava representada
por, entre outros, nada menos do que o seu Grão-M estre,
Magalhães Lima, e o seu Grão-M estre Adjunto, José de
A Maçonaria A Maçonaria As kistKulções Contltuiçòes Ob Os dois
no Mundo em Portuuol poromAÇònlcas do Andcfson •InndmarkS' ; principais ritm
após 193S 1praticados em
PortusAl...

A. H . d e O liv eira M arques A M açonaria em P ortugal

Castro, respectivamente ministro da Instrução e presi­


dente do Ministério. Na década de vinte, o novo Grão-
-Mestre Adjunto e chefe do Partido Democrático,
Antônio Maria da Silva, bateu o record da permanência
no poder como Primeiro-Ministro, constituindo seis ve­
zes ministério, com um total de dois anos e quatro me-
.ses de administração.
Este carácter político da Maçonaria portuguesa descon­
tentou, todavia, muito obreiro. O número de filiados no
Grande Oriente foi baixando, de ano para ano, até 1919,
data em que atingiu apenas 1807, agrupados em 88 ofi­
cinas. Voltou depois a subir um pouco mas mantinha-se,
por volta de 1922, abaixo daquilo que fora em 1914, já
depois da cisão, com 105 lojas e triângulos apenas.
No lado do Grêmio Lu.so-E.scocês não corriam as coisas
melhor. O seu contingente de filiados ia-se rarefazendo,
com a saída de muitos, a entrada de poucos, e o regres­
so de oficinas sucessivas à obediência do Grande Orien­
te. Em 1919 cabiam-lhe 30 oficinas tão-somente e, em
1922, este número baixara para 23. Em 1925, os perigos
que ameaçavam a República e a sociedade portuguesa
em geral pressionaram os dissidentes a um acordo com
a casa-mãe. Os maçons reconheciam, finalmente, a ne­
cessidade de se reunirem, a fim de lutar com redobrado
esforço contra o ressurgimento da reacção.
Em finais des.se ano foi possível chegar a uma platafor­
ma de entendimento, a partir da qual se efectivou a união,
em Março de 1926. Ferreira de Castro e alguns outros
pennaneceram de fora, mas a esmagadora maioria voltou
a integrar-se no Grande Oriente Lusitano Unido.
Era tarde, porém, para conseguir vencer. Passados dois
meses sobrevinha o movimento militar de 28 de Maio e
a instauração da Ditadura. Para a Maçonaria portuguesa
era o começo da agonia. Idenliíicada com a República,
caía agora com ela.

Em finai.s de 1926, depois de conseguida a união das


duas Maçonarias portuguesas, existiam em Portugal
Continental, Insular e Ultramarino 3153 maçons agrupa­
dos em 115 lojas e triângulos. Para uma população de
cerca de 6 500 000 pessoas — não .se incluindo, eviden­
temente, os indígenas das colônias — aquele número
correspondia a perto de 0,05 por cento, ou, por outras
palavras, a um maçon por cada 2000 habitantes.
Era uma proporção muito aceitável. No panorama da
maçonaria europeia continental, Portugal situava-.se
sensivelmente a meio. Ficavam-lhe acima países como
os da E.scandinávia, a Suíça, a Alemanha, a França, a
Holanda, a Hungria e a Bélgica. Mas licavam-lhe abai­
xo muitos outros, incluindo o país vizinho. De facto em
Espanha, com 23 milhões de habitantes, contavam-se
4900 pedreiros-livres apenas, ou seja 0,02 por cento:
um maçon por cada 4700 habitantes, mais de metade
de Portugal. A Maçonaria portuguesa, superada a difí­
cil fase da cisão, possuía todas as condições para vol­
tar a desempenhar o papel de relevo dos primeiros anos
da República.
O orçamento do Grande Oriente Lusitano Unido para
1927 previa uma receita de mais de 160 contos e uma
despesa de 116 contos, o que atestava da importância
da organização.
O movimento de 28 de Maio de 1926 não se repercutiu di­
recta e imediatamente na Maçonaria. Alguns dos seus
chefes, a começar pelo próprio Carmona, eram pedreiros-
-livres. Até 1929, a Maçonaria teve plena liberdade de
acção, embora recrudescessem contra ela os habituais
A Mftconarí.n A Maçonaila A Maçonaria As Instítulcóo» Contttuiçóes 0« Otdois
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Portugal...
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A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria en i P o rtu g al

ataques e se começasse a notar certo afrouxamento de acti­


vidade devido às iiesitações e ao receio de muitos filiados.
A preocupação pelos acontecim entos do País, com o
marcado surto do reaccionarismo em suas variadas for­
mas e a manutenção do Estado ditatorial, foi norteando,
porém, a atitude da maioria dos maçons de.sde o movi­
mento de Maio. Na revolta de Fevereiro de 1927 contra
a Ditadura, tomaram já parte numerosos pedreiros-li­
vres. E, em 3 1 de Outubro do mesmo ano, alarmado com
a «tenebrosa construção social levada a efeito pelos je ­
suítas, apoiados em poderosas oligarquias financeiras e
políticas manobradas a .seu talante», o Conselho da Or­
dem, presidido pelo médico Dr. Ramón Nonato de La
Féria, dirigia-.se a todas as oficinas e obreiros do País
propondo-lhes um programa detalhado de contra-ofensi-
va em 23 pontos, que incidiam praticamente sobre todos
os ramos da vida nacional.
Entretanto falecia, aos 7 de Dezembro de 1928, o Grão-
-Mestre Magalhães Lima. A Grande Dieta Maçónica ele­
geu, pouco tempo depois, António José de Almeida,
cujo estado de saúde o impedia de consagrar à Ordem o
tempo e os esforços de que ela carecia em período tão
grave, e de .ser, portanto, o chefe que pudes.se erguer a
bandeira do tremendo combate em curso. É verdade que
o novo Grão-M estre pouco tempo .sobreviveu ao .seu an­
tecessor, visto ter falecido em 31 de Outubro de 1929.
Mas esses curtos meses constituíram um momento cru­
cial na história da M açonaria portuguesa. A reacção
cada vez mais levantava a cabeça, apoderando-se, em
ritmo acelerado, das alavancas principais do comando.
Salazar, ministro das Finanças, ia a pouco e pouco to­
mando conta da direcção suprema do Estado. Na noite
de 16 de Abril de 1929, o Grémio Lusitano, sede do
Grande Oriente Lusitano, era assaltado por elementos da
Guarda Nacional Republicana e da Polícia, com a parti­
cipação de numerosos civis. Foram presos e identifica­
dos todos os maçons que lá se achavam, com excepção
dos oficiais do exército. Houve apreensões e actos de
vandalismo. Daí para o futuro, os maçons deixaram de
se poder reunir com a liberdade a que estavam acostu­
mados, passando a depender do arbítrio do Governo Ci­
vil. Era o início da grande perseguição.
De Maio de 1929 a Março de 1930 o Palácio Maçónico en­
cerrou as suas portas, para evitar a repetição de desacatos.
Reaberto naquela data, voltou a encerrá-las anos mais taide.
Reconhecendo a necessidade urgente de organizar
uma defesa eficaz, o Conselho da Ordem, a que presi­
dia José da Costa Pina, fez difundir a circular n.° 1, de
11 de Junho de 1929, determinando a triangulação
imediata de todas as lojas. Queria isto dizer que o nú­
mero de obreiros de cada loja seria dividido por cinco,
desmembrando-se essa loja em tantos triângulos quan­
tos os resultantes do quociente da divisão. Em vez de
reuniões magnas, de dezenas de pessoas, facilmente
detectáveis pelas autoridades ou pelos seus espiões,
passaria apenas a haver pequenos conciliábulos de
cinco indivíduos no máximo, possíveis de realizar em
residências particulares e até em locais públicos como
cafés e restaurantes. A circular n.° 1129 foi corrobora­
da pela circular n." 5130, de 21 de Janeiro de 1930.
Ao melhorarem as condições de trabalho, em Março
deste último ano, foi permitido o regresso à normalida­
de, muito embora .se aconselhassem as lojas a manter a
triangulação. E muitas, com efeito, assim fizeram.
No último dia do ano de 1929, «num momento de gran­
de gravidade para Portugal», a Maçonaria portuguesa
A M .iç o n a ría A M a ç o n a ria A M a ç o m iria A s in s lltu lç õ e s C o n tttu ico o s Os O s do is '
no M u n d o « m P o rtu g a l o m Po rtufint p a ra m ftç o n k a » d a A n d e rs o n •lAndmork« prtncipnis re ^
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1 1

A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ço n aria e m P o rtu g al

elegia finalmente o seu ch efe, na pes.soa do novo Grão-


-M estre, general Norton de Matos. Logo na primeira
mensagem dirigida ao «povo m açónico», em 30 de Abril
de 1930, Norton acentuava os fundos problemas da rea­
lidade portuguesa, concitando a Maçonaria a marchar na
vanguarda da grande obra de reorganização nacional.
E continuava: «perante o tremendo desastre que repre­
sentará para a Nação a vitória reaccionária que se está
preparando, é dever nosso | . . . | empregar todos os m eios
pacíficos e dignos de que dispom os para desviar da Pá­
tria as calam idades que a am eaçam ». E desenvolvia um
plano de actividades, talvez dem asiado utópico para a
hora que se atravessava, mas m esm o assim revestido de
incontestável importância.

Um ano mais tarde, na m ensagem à Grande Dieta, o tom


do discurso do Grão-M estre modificara-.se. Em vez das
palavras de moderação e de construção pacífica, em vez
dos programas de reorganização nacional, surgiam ago­
ra as expressões de luta incansável contra a Ditadura, a
necessidade de «travar o último com bate» contra «a de­
finitiva e com pleta vitória reaccionária» que .se sentia
próxima. E, profeticam ente, predizia para a Ordem Ma­
çónica, se a reacção vences.se, «uma longa época de ma­
rasmo, de inércia forçada, de desânim o e de tristeza».
A situação era, de facto, muito grave. Financeiramente,
o desafogo do orçamento de 1927 convertera-.se numa
«situação angustiosa», resultado, sobretudo, dos deveres
de solidariedade para com «a grande quantidade de
Irmãos deportados, dem itidos dos .seus lugares, de famí­
lias na miséria, de filhos por educar», mas também, da
saída, em números cada vez maiores, de obreiros, teme-
ro.sos das violências e das perseguições ditatoriais. Por
falta de gente ou por impossibilidade de trabalhar, deze­
nas de lojas e de triângulos haviam cessado toda a acti­
vidade. Os últimos números do Boledm do Grande
Oriente saíram em 1931. O total dos agremiados baixou
para cerca de metade do que era em 1926: uma conta­
gem não exaustiva dos obreiros em actividade (centenas
dos quais, aliás, se achavam presos, deportados ou no
exílio) indicava uns 1500 em finais de 1933, distribuídos
por menos de 50 lojas e uma dúzia de triângulos. Um
ano depois, estes números haviam ainda diminuído.
A gradual consolidação do Estado Novo foi em parale­
lo com o gradual enfraquecim ento da Maçonaria. Os
anos de 1931 a 1935 foram de perseguição constante, de
autêntica tragédia. Identificada com uma causa perdida,
a Ordem M açónica via dirigirem -se contra si todas as
armas do jovem , dinâm ico e forte Estado fascista. Tor­
nou-se inimigo público número um. Não fora criado
ainda o «perigo com unista» com o bode expiatório de
toda a violência e de todo o arbítrio. A M açonaria era a
sua antecessora. D estruir a M açonaria tornou-se obses­
são de todo o nacionalista bem formado e de todo o le­
gionário consciente.
Em 19 de Janeiro de 1935, na recém-inaugurada Assem ­
bleia Nacional do Estado Novo, o deputado José Cabral
apresentou um projecto de lei proibindo aos cidadãos
portugueses fazerem parte de associações secretas, sob
penas várias que incluíam sempre prisão, multa e, em
casos de reincidência, desterro. Os estudantes de 16 anos
para cima, os candidatos ao funcionalismo público e os
funcionários públicos em exercício seriam obrigados a
declarar, por sua honra, que não pertenciam nem jam ais
pertenceriam a qualcjuer associação secreta, ou que ha­
viam deixado de a ela pertencer. Todos os bens das refe-
A MoçoruHta A Moçonarta A Maçooaiia A& in«tKulç6e» ConiMuiçòes Oi Os dois
no Mundo om Portuga] om Portugal pmofnttCOntcas do Anderson Inndmorks' princtpais fitoi
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Portugal...

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A. H . d e O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria cm P o rtu g al

ridas associações seriam arrolados e vendidos em praça,


revertendo o seu produto para a assistência pública.
Ainda que o não especificasse, o projecto dirigia-se uni­
camente contra a Maçonaria. Isso mesmo foi de.sde logo
com preendido por ela, motivando a carta de respeitoso
protesto que o Grão-M estre Norton de Matos resolveu
escrever ao presidente da As.sembleia Nacional, Dr. José
Alberto dos Reis, ironicamente maçon este também.
Mas nem a carta, nem o contundente artigo que Fernan­
do Pes.soa conseguiu publicar no Diário de Lisboa em
4 de Fevereiro — um segundo artigo foi cortado pela
censura — , nem todas as diligências ju n to dos parla­
m entares e de outras autoridades lograram travar a
marcha dos acontecimentos. Após um extenso e bem do­
cum entado parecer da Câmara Corporativa — porventu­
ra o primeiro que foi chamada a elaborar — assinado por
Fezas Vital, Afon.so de Melo, Gustavo Cordeiro Ramos,
José Gabriel Pinto Coelho e Abel de Andrade, em 27 de
Março, o projecto n.° 2 entrou em discussão nas sessões
da Assembleia de 5 e 6 de Abril, onde se ouviram mais
objurgatórias contra a Ordem Maçónica. Foi votado no­
minalmente por unanimidade nesse mesmo dia 6, apres­
sando-se muitos outros deputados ausentes, em declara­
ções de voto expressas nos dias .seguintes, aju n tar-se à
corrente condenatória. E enfim, em 21 de Maio de
1935. saía no D iário do Governo n.° 115. 1.“ série, a lei
n.° 1901, que obrigava as associações e institutos exer­
cendo a sua actividade em território português a forne­
cerem aos governadores civis dos distritos cópia dos
seus estatutos e regulam entos, relação dos sócios e
quai.squer outras inform ações com plem entares que lhes
fossem solicitadas. No mais, a lei obedecia às cláusulas
de ba.se do projecto, incluindo as penalidades nele
consignadas, declarações de funcionários públicos —
mas não de estudantes — e venda de bens.
Entretanto, a Maçonaria adoptara as medidas de emer­
gência que se impunham. O decreto n.° 28, dos começos
de 1935, reeditava o regime de triangulação para todas
as lojas, em moldes semelhantes ao de seis anos atrás.
Depois, em 3 de Abril — ia começar, na Assembleia, a
discussão do parecer da Câmara Corporativa — o decre­
to maçónico n.° 30 entregava a plenitude do Poder Exe­
cutivo ao Conselho da Ordem, em caso de falta ou im­
pedimento do Grão-Mestre e de seus substitutos legais.
Se também o Con.selho da Ordem estives.se impedido de
actuar, então todas as funções executivas caberiam a
uma comissão de três membros, nomeados livremente
pelo Grão-Mestre. Em 4 de Abril, antecipando-.se à apro­
vação do projecto pela Assembleia, o Grão-Mestre Nor­
ton de Matos transmitia todos os .seus poderes e funções
ao Grão-Mestre-Adjunto, Oliveira Simões. Em 18 de
Maio, sabendo-se da próxima publicação, no Diário do
Governo, da lei de extinção, era a vez de o Grão-Mestre
Adjunto transferir todas as suas funções e poderes ao
presidente da Grande Dieta que, por .seu turno, no dia
imediato, os transmitia ao Conselho da Ordem, presidi­
do pelo Dr. Maurício Costa. Por fim, e nos termos do de­
creto n.° 36, da mesma data, o próprio Conselho da Or­
dem conferia ao .seu presidente a plenitude dos poderes
legislativo, executivo e judicial.
A Maçonaria em Portugal após 1935

Ao abrigo da lei n.” 1901, de 21.5.1935, a Maçonaria


(através do Grêmio Lusitano) deixou de ser permitida
ou tolerada. Como conseqüência da lei n.° 1901, surgi­
ram ainda a portaria de 21 de Janeiro de 1937, que dis­
solveu formalmente o Grêmio Lusitano e a Lei
n.° 1950, de 18.2.1937, que entregou os .seus bens à
Legião Portuguesa. O Palácio Maçónico foi devassa­
do, destruído tudo o que pudes.se lembrar a sua ante­
rior função, e aí .solenemente inaugurados, em I de
Dezembro de 1937, os Serviços de Acção Social e Po­
lítica da Legião. Muitos objectos e insígnias da Maço­
naria, incluindo alguma documentação, recolheram
aos depósitos do Ministério das Finanças e ao Museu
da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (futura
PIDE-DGS) de onde, em parte, viriam a ser recuperados
depois da revolução de 25 de Abril de 1974. O arqui­
vo, porém, não caiu nas mãos do Governo. Durante os
anos em que o Palácio Maçónico estivera encerrado e
selado, fora possível, através de uma porta secreta de
comunicação que o ligava com a Tipografia Minerva
A Mi)çon.tfia A MacofiAfla AMaçonaria As instüUTçôe» ContHuicòes Os Os dois
no MuikIo em Pottugal « n Portueal paramoçoolcas de Anderson •iartdmarks principab ritat
ffté 1935 ap6»1935 praticados en
Portucat»

A. H. dc O liv eira M arques A M açonaria cm P ortugal j

— sediada no mesmo edifício, no extremo com frente


para a Rua da Atalaia e pertença, disfarçada, do Gran­
de Oriente — retirar quase todo o arquivo e pô-lo a
bom recato. Parte dele reapareceu apôs 1974, sendo
reintegrado no seu local de origem.
Nos tennos da lei n.® 1901, todos os funcionários públi­
cos passaram a ser obrigados a comprometer-se «a não
pertencer, no presente nem no futuro, a qualquer asso­
ciação secreta», o que tinham de fazer em papel selado
e com reconhecimento notarial. A posse dos nomes de
muitos maçons e a presunção relativa a outros levou a
grande número de actos persecutôrios e discriminatórios
por parte do Governo, sobretudo nos primeiros anos
após a interdição da Ordem. Ramon Nonato de La Féria,
por exemplo, esteve preso durante muito tempo, sem
que lhe imputassem outras culpas para além de ser alto
dignitário do Grande Oriente Lusitano.
Dentro da Ordem Maçónica, muitos houve que acataram
a dissolução oficial. Nas lojas sucederam-se as deser­
ções. com o conseqüente abatimento de colunas das pró­
prias oficinas. Quando, em 1926. havia em actividade no
continente, ilhas adjacentes e colônias, mais de três mil
irmãos e para cima de uma centena de lojas e triângulos,
em 1945 não passavam de treze as oficinas em traba­
lhos. Uma das duas Obediências de 1926. o Grêmio Lu-
so-Escocês, que contava mais de uma dezena de lojas,
decidiu autodissolver-se e recomendar aos seus mem­
bros que passassem a coberto. Não sucedeu assim com
as autoridades do Grande Oriente Lusitano Unido. A re­
sistência à lei n.° 1901 foi a atitude oficial a tomar.
O Grão-Mestre Norton de Matos demitira-se, para pos­
sibilitar que a chefia da Ordem caísse em personalidade
menos pública e menos conhecida. O Presidente do
Conselho da Ordem, Dr. Maurício Costa, encarregou-se
da interinidade do Grão-Mestrado. Pensou-se na eleição
como Grão-Mestre de Afonso Costa — então exilado em
Paris — mas a sua morte, em 11 de Maio de 1937, pôs
fim à intenção. Também Maurício Costa veio prematu­
ramente a falecer, em 19 do mesmo mês e ano, sendo su­
cedido pelo Grande Secretário das Relações de Justiça,
Dr. Filipe Ferreira. Mas a sua saída de Portugal, por ra­
zões profissionais, em 12 de Junho seguinte, entregou a
chefia do Grande Oriente ao novo Grande Secretário das
Relações de Justiça, Dr. Luís Gonçalves Rebordão, a
quem iria caber a difícil tarefa de transportar o facho du­
rante 37 anos, até ao final da clandestinidade. Criou-se
então o cargo de Vice-Presidente do Conselho da Or­
dem, para o qual foi eleito o Dr. José de Oliveira Ferrei­
ra Dinis. Para a Justiça entrou um «novo», o médico
Luís Hernâni Dias Amado. O Grande Secretário das Re­
lações Litúrgicas era Ramon Nonato de La Féria, o
Grande Secretário Geral, José da Costa Pina e o Grande
Tesoureiro, Alfredo Mourão. Como adjuntos, entraram
José Roberto de Brito e José da Costa Veiga. A esta equi­
pa de homens íntegros e corajosos se deve o facto de
nunca ter a Maçonaria portuguesa «abatido de todo co­
lunas» nem procurado refúgio no exílio, como sucedeu
com tantas outras, nomeadamente com a espanhola.
O Grande Oriente Lusitano Unido não podia, evidente­
mente, manter-.se com a mesma orgânica de trabalho de
sempre. Não tinha sede. Toda e qualquer actividade bu­
rocrática, de recrutamento ou de ritual maçónico que
efectuasse, caía sob a alçada da lei. Nos começos da clan­
destinidade, o Conselho da Ordem decretou novamente a
triangulação das lojas. Esta medida, que fora já imple­
mentada, por períodos limitados, em 1929 e em 1932,
A M»caiuirUi 4
A M içoiwta A » tnsthu(ço(i» Contitu)coo& Os 0» dois
no Munrfo pafafnacónlc .15 d « Anderson iandmorkft- pnnctpais ritos
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Poitufial...

A. H . dc O liv e ira M a rq u e s A M aç o n aria cm P o rtu g al

tinha por objectivo pôr t1m a sessões facilmente detectá­


veis pelas autoridades profanas, dado o número de parti­
cipantes e a morosidade dos respectivos trabalhos. Nos
triângulos, o ritual desaparecia ou ficava reduzido ao mí­
nimo, sendo fácil a um máximo de cinco pessoas reunir-
-se em qualquer lugar sem despertíu' as atenções. Com o
tempo, aliás, os trabalhos propriamente maçónicos ten­
deram a cair em desuso. Raras vezes praticado, o ritual
— para lá das suas linhas gerais — foi sendo, pouco a
pouco, esquecido. Deixaram de .se realizar sessões para
aumento de grau e só nas iniciações — cada vez em me­
nor número, dado o perigo que implicavam — .se traba­
lhava de acordo com as regras do ritual. As reuniões ma­
çónicas reduziram-se a «banquetes» — relativamente
frequentes — e a encontros informais em casa de uns e
outros, em cafés, restaurantes, escolas, etc. A principal
obra maçónica, a de resistência ao Estado Novo, passou
gradualmente a coincidir com a actividade política profa­
na dessa mesma resistência. O uso de nomes simbólicos,
tantas vezes descurado no período de 1834 a 1926, vol­
tou a ser exclusivo, como medida elementar de precau­
ção. Em vários casos, houve mudança de nome simbóli­
co quando a polícia descobria a verdadeira identidade do
maçon. Assim sucedeu com Dias Amado, a princípio
«Garcia da Horta» e, posteriormente, «Zacuto Lusitano».
Também se tomaram precauções na datação de docu­
mentos. Conhecida de todos a datação maçónica tradicio­
nal, passaram a utilizar-.se formas de datação diferentes.
Uma delas, adoptada a partir de 1937, consistiu em so­
mar ao ano de Cristo o número 3333. Outra, adoptada em
anos posteriores, fazia colocar os algarismos representa­
tivos dos dias e dos meses entre dois números de dois al­
garismos cada. cuja soma indicava os dois últimos alga-
rismos da era de Cristo em que se estava (exemplos:
32220634 = 22 de Junho de 1966; 35210535 = 21 de
Maio de 1970; 40231030 = 23 de Outubro de 1970;
36161036 = 16 de Outubro de 1972).
Ninguém suspeitava, aliás, que a clandestinidade pudes­
se durar tanto tempo. Os exemplos do passado, relativos
a períodos de perseguição, nunca iam além dos .seis
anos, e no já longínquo miguelismo. Não .se tomaram,
por isso, providências para uma existência demorada fo­
ra da luz do dia. A «revolução» libertadora era esperada
ano após ano, o que em prestava um carácter de provisó­
rio a toda a suspensão de ritual e de recrutamento. Os
serviços centrais nunca foram, apesar de tudo, interrom­
pidos, embora com um mínimo de burocracia. O .secre­
tariado do Conselho da Ordem funcionava em casa do
Grande Secretário, a tesouraria na do Grande Tesoureiro
e assim por diante. Na residência do Grão-M estre interi­
no localizavam-.se os serviços do Grão-M estrado e da
presidência do Conselho da Ordem. Quando a docum en­
tação se com eçava a acumular, era distribuída por casas
de campo, casas de familiares, amigos, etc. Embora ca­
da vez mais rarefeitos, decretos do Grão-M estrado, de­
cretos e circulares do Con.selho da Ordem, dos Capítulos
e do Supremo Conselho continuaram a fazer a sua apa­
rição, devidamente numerados e registados, até pelo me­
nos ã década de cinquenta.
As grandes vitórias dos Aliados, a partir de 1943, e o fi­
nal da guerra, dois anos mais tarde, levaram à esperança
de que a clandestinidade .se avizinhasse do termo com o
restabelecimento de um regime democrático em Portu­
gal. Na vida maçónica, notou-se um recrude.scimento de
actividade, com a criação de algumas novas lojas, .sem­
pre efémeras, em Lisboa e na província. Foi o caso das
A Maçonaria A Maçonaria A« in9tKulçó«& ContHuiçòcs 0» Os doi«
no Mundo em PortufíüJ paramnçónico« do Anderson landmarks* principais r1t<n
ap6« 1935 praticados om
Portugal...
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A. H . d c O liv eira M arques A M açonaria cm Portugal

lojas Venlcule, n." 477, em Viseu (1944-1945), Liberta­


ção, n." 478, talvez em Lisboa (1945), n." 479 a n." 4SI,
cujos nomes e locais desconhecemos (1945-1948),
Dr. Afonso Costa, n." 482, em Lisboa (1948), Integrida­
de, n." 483, também em Lisboa (1951), n." 484, desco­
nhecida (1951-1955), Gravito, n ."485, em Aveiro (1955)
e Renovação, n."486, no Porto (1955). Outras oficinas le­
vantaram colunas, também efemeramente; a Estrela de
Alva, n." 469, em Algés (1945?), a Acácia, n." 281, em
Lisboa (1952?) e a Antero de Quental, n." 460, em Vila
Franca do Campo (1959). Houve ainda tentativas para
instalar uma loja no Funchal. Em 1945 havia, no territó­
rio português, treze lojas, número que subira, em 1952,
para quinze. No exílio, os emigrados portugueses tinham
fundado, em Madrid ( 1932), a loja República Portugue­
sa, dependente da Gran Logia Regional dei Centro de Es-
pana, por sua vez filiada no Gran Oriente Espahol. A ela
pertenceram exilados famo.sos, como Jaime Cortesão,
Jaime de Morais, Moura Pinto e outros. Julga-se que aba­
teu colunas em 1936, com a eclosão da guerra civil.
Também as muitas dezenas de organismos paramaçónicos
.sofreram o embate da Ditadura. Perseguidos e di.scrimi-
nados, desapareceram na sua grande maioria: Academia
de Estudos Livres, Albergaria de Lisboa, Assistência
Infantil da Freguesia de Santa Isabel, As.sociação do
Registo Civil, quase todos os Centros Republicanos,
Sociedade de Estudos Pedagógicos, Universidade Li­
vre, Universidade Popular, etc. Outros perderam de
todo a qualidade maçónica ou as ligações que os pren­
diam à Maçonaria: assim sucedeu com a Associação
dos Inválidos do Comércio e o Asilo de S. João do Por­
to. Só muito poucos persistiram como associações para-
maçónicas disfarçadas: foi o caso da Liga Portuguesa
dos Direitos do Homem, do Asilo de S. João de Lisboa,
da Escola-Oficina n.° 1, também de Lisboa e, durante
algum tempo, da Associação dos Velhos Colonos, de
Lourenço Marques (Moçambique). Os arquivos destas
instituições são hoje fontes preciosas para reconstituir a
história do recrutamento maçónico durante grande par­
te do período da clandestinidade, já que a grande maio­
ria, se não a totalidade, dos seus sócios eram também
iniciados na Ordem.
O Grande Oriente Lusitano Unido não descurou contac­
tos com as Obediências maçónicas estrangeiras que o
pudessem auxiliar no seu combate pela sobrevivência.
A conjuntura internacional, no entanto, não o ajudou.
Logo em 1936, a eclosão da guerra civil no país vizinho
retirou-lhe um aliado precioso e de fácil relacionamen­
to, o Grande Oriente Espanhol. Depois, a partir de 1939,
o conflito mundial, com suas seqüelas arrastando-se du­
rante anos, deixou-o praticamente isolado na luta. Du­
rante a guerra, contudo, entabularam-.se negociações se­
cretas e aparentemente promissoras com as Maçonarias
britânica e norte-americana. Para .se concitar o .seu
apoio, sobretudo da primeira, foi-se ao ponto de modifi­
car a Constituição de 1926, introduzindo-lhe «ditatorial­
mente» uma declaração de princípios que decalcava os
landmarks de 1929 da Grande Loja de Inglaterra. Assim
surgiu a chamada «Constituição» de 1 de Dezembro de
1941 que, na prática, nunca vigorou, por ser avessa às
tradições e às convicções mais profundas da maioria dos
maçons portugueses, nem trouxe quaisquer vantagens à
Maçonaria nacional, já que as Obediências anglo-saxó-
nicas, mesmo depois da guerra, a marginalizaram e ig­
noraram por completo, alegando não ser reconhecida
pelo Governo do País...
!

A Maçonarín A MAçoniirin A Maçonaria As (n«l(tuiçòos Contituiçôes Oa 03 dois


no Mundo oai Portugat em Portueal 6
pAmmaç nkAS dc Anderson •Undm«irks' prtncipAls rito«
até 193 S •PÓ11935 pr.iticado» om
Portugal...

1
A. H . dc‘ O liv e ira M a rq u e s A M aç o n aria en i P o rtu g al

A continuidade e relativa estabilidade do Estado Novo


após 1945 foi novo factor de enfraquecimento para a Ma­
çonaria portuguesa. As décadas de cinquenta e, sobretu­
do, de sessenta, testemunharam o declínio acelerado do
Grande Oriente Lusitano Unido. Com um recrutamento
quase reduzido a zero, os maçons iam desaparecendo
pouco a pouco: uns por morte, outros por envelhecim en­
to e doença, outros ainda por cansaço moral, desilusão,
perda de toda a esperança. Na década de sessenta atin­
giu-se, porventura, o ponto mais baixo e de menor acti­
vidade em toda a história da Maçonaria portuguesa. Os
poucos maçons existentes empenhavam-se quase exclu­
sivamente nas várias formas de luta política profana.
Deixara-se praticamente de legislar. O abatimento, a
descrença, o afastamento eram gerais. O número de lo­
jas baixou até ao mínimo. Em 1974, nas vésperas do
25 de Abril, havia em trabalhos três ou quatro oficinas
somente, a Simpatia e Uniào, a Liberdade e a José Estê­
vão, em Lisboa e, muito irregular e intermitentemente, a
Revolta, de Coimbra. Todas as demais tinham abatido
colunas ou só existiam em nome.
Nos finais da década de .sessenta assistiu-se, contudo, a
uma pequena tentativa de renovação, que se prolongou
na .seguinte, até ao 25 de Abril de 1974. Por iniciativa de
Adão e Silva e Dias Amado foram criados os chamados
«pentágonos», células paramaçónicas de dez elementos,
sendo pelo menos cinco deles membros da Maçonaria.
O .seu objectivo era difundir o espírito e a actividade ma­
çónicos entre os jovens. Existiram cerca de cinco pentá­
gonos, entre 1968 e 1970, sendo muitos dos seus com ­
ponentes profanos iniciados mais tarde. Aos pentágonos
era di.stribuído trabalho prático de intervenção na vida
profana. Registaram-se também algumas iniciações —
entre as quais a de Rail! Rêgo e a do autor destas linhas
— e várias regularizações.
Ao .sobrevir a revolução de 25 de Abril de 1974, a Ma­
çonaria, conquanto fraca e debilitada, mantinha ga­
lhardamente o facho aceso mais de dois séculos atrás.
De todas as organizações políticas e parapolíticas
existentes em 1926, só ela e o Partido Comuni.sta sub­
sistiam. Este facto permitiu-lhe retomar quase imedia­
tamente uma actividade efectiva e intervir desde logo
na vida nacional.
Ao Grande Oriente Lusitano Unido, que voltara à luz do
dia, foi restituído o Palácio Maçónico e paga uma in­
demnização oficial. A Obediência reconstituiu-se lenta­
mente mas conseguiu, a pouco e pouco, recuperar parte
da influência perdida. Em 1984 uma cisão ligada às Ma­
çonarias anglo-saxónicas, ditas «regulares», levou à
constituição posterior da Grande Loja Regular de Por­
tugal, com sede no Monte Estoril. Esta Obediência, por
sua vez, dividiu-se em duas, em 1997, dando origem à
Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de
Portugal. A Maçonaria «regular» viria a instalar tam­
bém um segundo Supremo Conselho. Igualmente se
constituíram uma Maçonaria Feminina, a princípio de­
pendente de França e, desde 1997, autónoma, com o
nome de Grande Loja Feminina de Portugal, e uma
Maçonaria do Direito Humano, integrada no respectivo
movimento internacional. Várias lojas «inglesas» se
instalaram também, directam ente dependentes da
Grande Loja Unida de Inglaterra.
4
As instituições paramaçónicas

Uma das perguntas que vulgarmente se faz é de que ma­


neira actua a Maçonaria no mundo profano. A resposta é
simples: em grande parte através de instituições que fo­
menta, cria ou dirige mas que têm a sua vida própria,
desligada da vida maçónica interna. Não interessa à Ma­
çonaria que, nestas instituições, todos os membros lhe
pertençam. Pelo contrário, prefere que alguns ou muitos
lhe sejam alheios, para que a relacionação com o mundo
profano se mostre tão grande quanto possível. Basta-lhe
assegurar que o espírito de tais instituições se mantenha
maçónico e que, se possível, a orientação geral ou, pelo
menos, um certo controle, estejam nas mãos de maçons.
O número de instituições deste tipo, a que chamaremos
paramaçónicas, é grande. Encontramo-las em Portugal
desde o século xviii e especializadas em múltiplos as­
pectos da actividade social: cultura, beneficência, políti­
ca, direitos do homem, relações internacionais, etc.
Comecemos pela cultura. Tem sido ela, desde sempre,
uma das maiores preocupações da Maçonaria. Na lenda
de Hiram, um dos assassinos do Mestre é a Ignorância.
1 A MiKoruiritf A Maçonaria A Maçonrtrín A l IntUtutçães ContUuiçóe» 0« 0& òo>»
’ no Mundo om Portugal em Portu}**ii p »nun«çònkM do Andoison InndmmkS' principal» n
1
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i Poílugaí...
i
A. H . d e O liv e ira M a rq u e s A M aç o n aria cm P o rtu g al

E o com bate à ignorância insere-se nos objectivos pri­


maciais da Ordem. Não admira, por isso, que num país
tão atrasado culturalm ente com o Portugal, a M açonaria
tenha desem penhado papel de relevo na luta contra o
analfabetism o e no fomento de toda e qualquer activi­
dade cultural.
Assim, logo em fmais do século xviii, antes até da cria­
ção do primeiro Grande Oriente português, surgiu uma
instituição de grande projecção cultural, ainda hoje exis­
tente, cujo espírito, fundação e orientação, nos primeiros
anos, .se deveram à Maçonaria: a Academia das Ciências
de Lisboa. Típico produto das Luzes setecentistas, deveu
a sua criação a maçons com o o duque de Lafões, o aba­
de Correia da Serra e Domingos Vandelli. E do conheci­
mento geral a sua obra em prol da cultura.
Nos séculos XIX e x x , a Maçonaria foi responsável pela
fundação de um sem-número de e.scolas primárias, esco­
las .secundárias, e.scolas de educação permanente e gru­
pos ligados ao fomento cultural. O seu papel no com ba­
te ao analfabetism o e na elevação do espírito cultural do
País está ainda para .ser analisado. A difusão do ensino,
.sobretudo entre as clas.ses mais desprotegidas, constituiu
sempre preocupação da Maçonaria portuguesa. De uma
maneira genérica, pode dizer-se que as características
principais desse ensino foram uma elevada qualidade
pedagógica e científica, e um vanguardismo marcado
nos métodos utilizados e nas matérias ministradas, ao la­
do de um permanente laicismo. O combate à superstição
religiosa e em prol da ciência marcou constantemente o
tipo de educação caro à Ordem maçónica. Muitas lojas
tiveram a .seu cargo a manutenção de e.scolas e outras
instiuiições de ensino. Nos começos do .século x x , a cha­
mada «E.scola Livre» (tipo Ferrer), com a sua correspon-
dente «Escola Oficinal», preconizada desde finais do sé­
culo X I X pelo maçon Bernardino Machado, tiveram a sua
expressão prática em escolas como a «Escola Oficina
n.° 1» e as «Escolas Livres», fundadas gradualmente em
lodo o País até à década de trinta.
Entre as muitas instituições de educação permanente,
acentuem-se a Universidade Popular e a Universidade
Livre, criadas respectivamente em 1906 e 1907 segundo
o modelo de escolas com idêntico objectivo fundadas fo­
ra de Portugal. Ambas editaram boletins e revistas pró­
prios, além de opúsculos sobre temas culturais. Ambas
tiveram sucursais em diversos pontos de Portugal, no­
meadamente Porto, Coimbra, Setúbal e Figueira da Foz.
Relevem-se ainda, no século xix, o Grêmio Popular
( 1857), a Sociedade de Instrução «A Voz do Operário»
(1883), a Escola Industrial Marquês de Pombal (1884),
a Academia de Estudos Livres ( 1889), a Liga Nacional
de Instrução (1907) — promotora de quatro Congressos
Pedagógicos nacionais — , a Associação do Culto da Ar­
vore (1908), a Sociedade de Estudos Pedagógicos
(1910), os Jardins-Escolas João de Deus ( 1911 ), a Socie­
dade Promotora de Educação Popular (1916), a Liga de
Acção Educativa (1926) e dezenas de outras institui­
ções. Quase todas elas desapareceram durante a ditadu­
ra do Estado Novo, quer por dissolução governamental
quer por impossibilidade prática de prosseguirem na sua
acção educativa.

A obra de beneficência tem sido sempre um dos gran­


des objectivos das Maçonarias de todo o mundo. A Ma­
çonaria portuguesa não fugiu à regra, lançando os fun­
damentos de dezenas de organismos, alguns deles ainda
hoje existentes. Asilos para crianças e idosos, mútuas de
A MnçonArla A Mocomirta A Moçonatia A t 1i»IHulç6m Contrtuiçõe» Oft 0 « do(»
no Muntfo orr) Poftuj£nl om Portugal panifn*ç6nicm de Andorson •Lmdm.ifks- pflncipAls nu'
ato 1935 a p o s l9 3 5 pfaticjdotft
Portugal...

A. H , d c O liv e ira M a rq u e s A M aç o n aria cm P o rtu g al

profissionais de determinado ramo, protecção ao opera­


riado, assistência aos desfavorecidos, todas as formas de
beneficência encontraram eco ao longo dos séculos xix
e X X , quer por iniciativa da Ordem M açónica com o tal
quer devido aos esforços das muitas oficinas dissem ina­
das por Portugal, Açores, Madeira e antigas colônias
portuguesas. A mais famosa e uma das mais antigas de
tais associações foi o Asilo de S. João, que hoje, com o
nome de Internato de S. João, continua a sua obra meri­
tória. O Asilo de S. João de Lisboa, fundado em 1862,
constituiu uma resposta da M açonaria aos asilos de reli­
giosas — nomeadamente das Irmãs de S. Vicente de
Paulo — , e uma prova concludente de que era possível,
com uma estrutura laica, conceder educação, alimenta­
ção, vestuário e carinho a raparigas na infância e adoles­
cência. Outro Asilo de S. João veio a ser fundado, pos­
teriormente (1891), no Porto, desta vez para rapazes.
Entre os organismos de beneficência mencionem-se, só
a título de exemplos, o Albergue dos Inválidos do Traba­
lho (1863), a Sociedade Promotora de Creches (1876), a
Sociedade «A Voz do Operário» (1883), o Asilo-Escola
Antônio Feliciano de Castilho (1889), a Associação do
Serviço Voluntário de Ambulâncias de Incêndio (1880-
-1890), o «Vintém das Escolas» (1901), a Associação
dos Inválidos do Com ércio (1929), a Associação dos Ve­
lhos Colonos, em Moçambique (1919) e muitas outras.

Mas cultura e beneficência requerem um enquadram en­


to político. A M açonaria não faz política partidária; faz,
no entanto, política no melhor sentido da palavra, iden­
tificando política com intervenção no mundo profano vi­
sando o melhoramento da sociedade. E faz política sem­
pre que é necessário lutar pela tolerância, pela liberdade.
pela igualdade e pela fraternidade, contra o fanatismo, a
intolerância, a opressão, enfim. Neste caso, intervir na
política não con.stitui apenas um direito da Maçonaria;
constitui um autêntico dever.
As associações param açónicas de intervenção no cam ­
po político foram de vários tipos: de formação de uma
consciência cívica e da criação de estruturas laicas em
toda a vida .social, com o a Associação Liberal Portugue­
sa (1889), a As.sociação do Registo Civil (1895), a A s­
sociação e, depois, a Federação Portuguesa do Livre
Pensamento (1913), os muitos Centros Republicanos
criados em com eços do século xx e até os grupos de de­
fesa da crem ação de cadáveres; de promoção da mulher
e afirmação dos seus direitos, com o a Liga Republicana
das Mulheres Portuguesas (1909); de protecção aos di­
reitos do homem e de defesa do pacifismo, com o a Li­
ga Portugue.sa dos Direitos do Homem (1921) e a Liga
Portuguesa da Paz (1899); ou de resistência ao fascismo
e à ditadura m ilitar saída do m ovim ento de 28 de Maio
de 1926, com o a Liga de Defe.sa da República (1927), a
Aliança Republicano-Socialista (1931), a Frente Popular
Portuguesa (1936), o M UNAF (Movimento de Unidade
Nacional Anti-Fascista, 1943), a Acção Democrato-So-
cial (1951), o Programa para a Democratização da Repú­
blica ( 1961), com antecedentes remotos nos movimentos
de combate ao ab.solutismo em começos do .século xix,
nomeadamente o Sinédrio (1818).
Outros organismos ainda combinaram o aspecto político
com o humanitário, entre eles os vários grupos de com ­
bate à escravatura e à pena de morte fundados no século
X I X com decisiva participação maçónica e objectivos

plenamente realizados ou, no .século xx, os que lutaram


contra a prostituição, o alcoolismo e o jogo.
1
! A M iiçon a Tln A M n ç o n a fla A M a ç o n ofU i 1 C o n tltu lç ò o s Os 0 5 dois
j no M u n d o e m P o r t i^ a t e m P o rtu u n I 1 do A n d o n o n •Ijn dm a rk s pflncípnte rttai

I a té 1 9 3 5 npos 1 9 3 5

1
p m lic a d o s eo
P o rtu g a )...

---------------------------------
7 0 |? l A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ço n aria e m P o rtu g al

Eni todos OS casos — e este é um aspecto que convém


frisar para evitar confusões — a Maçonaria concedeu li­
berdade plena de acção às instituições que ia fundando
ou patrocinando. Em regra, os seus sócios e corpos g e­
rentes com binavam m açons com profanos. E a vida des-
.ses organism os passava a depender exclusivam ente da
sua evolução. Com o andar dos tem pos, muitos deles,
até por razões de conjuntura, cortaram todos os laços
que os prendiam à Ordem M açónica e a participação de
m açons ficou reduzida ao m ínim o ou extinguiu-se m es­
mo de todo. O espírito, porém, é que continuava a ser
m açónico. Os ideais, os objectivos, os m eios integra-
vam-.se com perfeição nos da Maçonaria. Por isso, con ­
sideram os tais organism os com o paramaçónicos e a sua
obra com o obra da Maçonaria.
Constituições de Anderson^ ’ Anderson's
Constitutions.
C onstitutions
C on stitu ição, H istória, L eis, O b rigações, O rdens, d'Anderson
R egulam entos e U sos da M uito R espeitável 1 7 2 3 , introduc­
tion, traduction
Fraternidade dos P edreiros-L ivres A ceites, coligida
et notes par
dos seus R egistos G erais e das suas fiéis tradições Daniel Ug ou ,
de m uitas ép ocas Paris, Lauzeray
International,
1 9 7 8 , tradução
directa do
inglès para por­
tuguês In A . H.
de Oliveira
I R espeitando a D eus e à religião M arques,
A M açonaria
Portu gu esa e o
Um Pedreiro é obrigado, pela sua condição, a obedecer
Estado Novo, 3=
à lei moral. E, se com preende correctam ente a Arte, nun­ edição, Lisboa,
ca será um ateu estúpido nem um libertino irreligioso. 1995,
P P .7 4 -S 0 .
Mas, embora, nos tempos antigos, os pedreiros fossem
obrigados, em cada país, a ser da religião desse país ou
nação, qualquer que ela fos.se, julga-se agora mais ade­
quado obrigá-los apenas àquela religião na qual todos os
homens concordam, deixando a cada um as suas convic­
ções próprias; isto é, a serem homens bons e leais ou
A Maçonaria A Maçonaria A Maçonaria Aft institutçõ«» Oft Osdofft
no Mundo em Portueat cm Portugal paramaçóntca» «bn^narí^* pnncipaift ritoi
a t«1 9 3 5 ap6Sl935 1 praücadoftca
PortueaL-

A. H . d e O liv eira M arques A M açonaria em Portugal

homens honrados e honestos, quaisquer que sejam as de­


nominações ou crenças que os possam distinguir. Por con­
sequência, a Maçonaria converte-se no Centw de União e
no meio de conciliar uma amizade verdadeira entre pes­
soas que poderiam permanecer sempre distanciadas.

II Do M agistrado Civil suprem o e subordinado

Um Pedreiw é um súbdito tranquilo do poder civil, onde


quer que resida ou trabalhe e nunca deve imiscuir-se em
planos e conspirações contra a paz e o bem-estar da nação,
nem comportar-se indevidamente para com os magistra­
dos inferiores. Porque, como a Maçonaria tem sido sempre
prejudicada pela guerra, a efusão de sangue e a desordem,
assim os antigos reis e pn'ncipes dispuseram-se a encorajar
os artífices por causa da sua tranquilidade e lealdade, por
meio das quais respxjndiam. na prática, às cavilações dos
adversários e concorriam para a honra da Fraternidade,
sempre florescente em tempo de paz. Eis porque, se um ir­
mão for rebelde para com o Estado, não deve ser apoiado
na sua rebelião, conquanto possa ser lamentado como um
infeliz: e, se não for culpado de nenhum outro crime, em­
bora a Fraternidade leal deva e tenha de rejeitar a sua re­
belião e não dar sombra ou base de desconfiança política
ao governo existente, não pode expulsá-lo da loja e a sua
relação para com ela permanece indefectível.

Ill Das Lojas

Uma Loja é o local onde se reúnem e trabalham pedrei­


ros. Portanto, toda a assembleia ou sociedade de
pedreiros, devidamente organizada, é chamada loja de­
vendo todo o irmão pertencer a uma e estar sujeito ao
seu regulamento e aos regulamentos gerais. Uma loja é
particular ou geral e será melhor entendida pela sua
frequência e pelos regulamentos da loja geral ou Gran­
de Loja, adiante apensos. Nos tempos antigos, nenhum
mestre nem companheiro se podia ausentar dela, espe­
cialmente quando avisado para comparecer, sem incor­
rer em severa censura, a menos que parecesse ao mestre
e aos vigilantes que a pura necessidade o impedira.
As pessoas admitidas como membros de uma loja de­
vem ser homens bons e leais, nascidos livres e de idade
madura e discreta, nem escravos, nem mulheres, nem
homens imorais ou escandalosos, mas de boa reputação.

IV Dos Mestres, Vigilantes, Com panheiros


e Aprendizes

Toda a promoção entre pedreiros é baseada apenas no va­


lor real e no mérito pessoal, a fim de que os senhores pos­
sam ser bem .servidos, os irmãos não expostos à vergonha
e a arte real não seja desprezada. Portanto, nenhum mes­
tre nem vigilante é e.scolhido por antiguidade, mas pelo
seu mérito. Torna-se impossível descrever estas coisas por
escrito, e cada irmão deve ocupar o .seu lugar e aprendê-las
na maneira própria desta Fraternidade. Fiquem apenas sa­
bendo os candidatos que nenhum mestre deve tomar
aprendiz a menos que tenha ocupação bastante para ele e
a menos que .se trate de um jovem perfeito, sem mutilação
nem defeito no corpo que o torne incapaz de aprender a ar­
te, de servir o senhor do seu mestre, e de ser feito irmão e
depois companheiro em tempo devido, mesmo após ter
A M oçonarín A MaçonHflfl A M açonaria A s In s tltu ^ õ c s C o n trtu Iç Ò M 0» (H d o lft
no Mundo em Purlugal c m PortutiAl paranw>çònlcat de Arxtorson •lAi>dm»fkft prtncipah» tHoa
m á 1935 j o po « 1 3 3 5 p/c-tticados cm
Portugal...

A. H. dc O liv eira M arques A M a ço n a ria era P o rtu g al

servido o número de anos consoante requeira o costume do


país; e que ele provenha de pais honestos; de maneira que,
quando qualificado para tal, possa ter a honra de ser vigi­
lante, depois mestre da loja, grande vigilante e, por fim,
grào-mestre de todas as lojas, conforme ao seu mérito.
Nenhum irmão pode ser vigilante sem ter passado pelo
grau de companheiro', nem mestre sem ter actuado como
vigilante', nem grande-vigilante sem ter sido mestre de
loja', nem grão-m estre, a menos que tenha sido com pa­
nheiro antes da eleição, e que seja de nascimento nobre
ou gentleman da melhor classe ou intelectual eminente
ou arquitecto competente ou outro artista .saído de pais
honestos e de grande mérito singular na opinião das lo­
ja s. E para melhor, mais fácil e mais honro.so desempe­
nho do cargo, o grào-m estre tem o poder de escolher o
seu próprio grào-m estre substituto, que deve ser ou
deve ter sido mestre de uma loja particular e que tem o
privilégio de fazer tudo aquilo que o grào-mestre, .seu
principal, pode fazer, a menos que o dito principal este­
ja presente ou interponha a sua autoridade por carta.
Estes dirigentes e governadores, supremos e subordina­
dos, da antiga loja, devem .ser obedecidos nos .seus po.s-
tos respectivos por todos os irmãos, de acordo com os
velhos preceitos e regulamentos, com toda a humildade,
reverência, amor e diligência.

V Da G estão do Ofício no Trabalho

Todos os pedreiros trabalharão honestamente nos dias


úteis para que possam viver honradamente nos dias san­
tos', e observar-.se-á o tempo prescrito pela lei da terra ou
confirmado pelo costume.
o mais apto cios com panheiros será escolhido ou no­
meado m estre ou inspector do trabalho do senhor, e se­
rá chamado m estre por aqueles que trabalham sob ele.
Os obreiros devem evitar toda a linguagem grosseira e
não se tratar por nom es descorteses, mas sim por irm ào
ou companheiro', e devem comportar-se com urbanidade
dentro e fora da loja.
O m estre, conhecendo-se a si m esm o capaz de destreza,
empreenderá o trabalho do sen h or tão razoavelmente
quanto possível e utilizará fielm ente os materiais com o
se seus fossem ; não dará a irmão ou apren diz maiores
salários dos que ele, realmente, possa merecer.
Tanto o m estre com o os pedreiros, recebendo os seus sa­
lários com exactidão, serão fiéis ao .senhor e terminarão
o trabalho honestam ente,'quer ele seja à tarefa quer ao
dia; não converterão em tarefa o trabalho que costum e
ser ao dia.
Ninguém terá inveja da prosperidade de um irmão, nem
o suplantará, nem o porá fora do trabalho se ele for ca­
paz de o terminar; porque nenhum hom em pode termi­
nar o trabalho de outro com o m esm o proveito para o s e ­
nhor a m enos que esteja com pletam ente familiarizado
com os desenhos e os planos daquele que o com eçou.
Quando um com panheiro for escolhido com o vigilante
do trabalho sob o m estre, será leal tanto para com o m es­
tre com o para com os com panheiros, vigiando zelosa­
mente o trabalho na ausência do m estre, para proveito do
senhor, e os seus irmãos obedecer-lhe-ão.
Todos os ped reiro s em pregados receberão o salário em
sossego, sem murmurar nem se amotinar, e não abando­
narão o m estre até o trabalho estar concluído.
Cada irmão mais jovem .será instruído no trabalho, para
se evitar que estrague os materiais por falta de conheci-
A M a ç o n o iid k M ^ o n a ria A M a ç o n a rtn A » h is titu tç ó e t 0« O i dot&
no M u n d o om P o r t u ^ o m P o f lu g a l p a fa m o ç ó n lc M lan dm a rk s« prfnclp.tin rfto«
a tò 1 9 3 5 ap6« 1935 p r a t k a ò o » em
P o ftu g a l...

A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ço n aria c m P o rtu g al

mento e para aumentar e continuar o cimor fratern al.


Todas as ferramentas usadas no trabalho serão aprova­
das pela Grande Loja.
Nenhum outro trabalhador será em pregado no trabalho
próprio da M açonaria', nem os p edreiros-livres trabalha­
rão com aqueles que ncio forem livres, salvo necessida­
de urgente; nem ensinarão trabalhadores e pedreiros não
a ceites com o ensinariam um irm ão ou um com panheiro.

\'I Da C on d u ta

1. Na L oja, enquanto constituída.

Não organizareis com issões privadas nem conversações


separadas sem perm issão do m estre, nem falareis de co i­
sas impertinentes nem indecorosas, nem interrompereis
o m estre nem os vigilantes nem qualquer irmão que fale
com o mestre', nem vos comportareis jocosam ente nem
apalhaçadamente enquanto a loja estiver ocupada em as­
suntos sérios e solenes; nem usareis de linguagem inde­
cente sob qualquer pretexto que seja; mas antes m anifes­
tareis o respeito devido aos vossos m estre, vigilantes e
com panheiros e venerá-los-eis.
Se surgir alguma queixa, o irmão reconhecido culpado fi­
cará sujeito ao juízo e à decisão da loja, a qual constitui
o juiz próprio e com petente para todas as controvérsias
desse tipo (salvo se seguir apelo para a Grande Loja) e à
qual elas devem ser referidas, a m enos que o trabalho do
sen h or seja no entretanto prejudicado, m otivo pelo qual
poderá usar-se de processo particular; mas nunca deveis
recorrer à lei naquilo que respeite à M açonaria sem ab­
soluta necessidade, reconhecida pela loja.
2. Conduta depois de a Loja ter encerrado e antes de os
irmãos terem partido.

Podeis divertir-vos com alegria inocente, convivendo


uns com os outros .segundo as vossas possibilidades.
Evitai porém todos os excessos, sem forçar um irmão a
com er ou a beber para além dos seus desejos, sem o im­
pedir de partir quando o chamarem os seus assuntos e
sem dizer ou fazer qualquer coisa ofensiva ou que possa
tolher uma conversação afável e livre. Porque isso des­
truiria a nossa harmonia e anularia os nossos louváveis
propósitos. Portanto, não se tragam para dentro da porta
da loja rancores nem questões e, menos ainda, disputas
sobre religião, nações ou política do Estado. Somos
apenas pedreiros da religião univensal atrás mencionada.
Somos também de todas as nações, línguas, raças e es­
tilos e somos resolutamente contra toda a política, como
algo que até hoje e de hoje em diante jam ais conduziu ao
bem-estar da loja. Esta obrigação seinpre tem sido pres­
crita e observada e, mais especialm ente, de.sde a Refor­
ma na Grã-Bretanha, ou a dissenção e secessão destas
nações da comunhão de Roma.

3. Conduta quando irmãos se encontram sem estranhos


mas não em loja formada.

Deveis cum prim entar-vos uns aos outros de maneira


cortês, com o vos ensinaram , cham ando-vos uns aos ou­
tros irmãos, dando-vos livremente instrução mútua
quando tal parecer conveniente, sem .serdes vistos nem
ouvidos e .sem vos ofenderdes uns aos outros nem vos
afastardes do respeito que é devido a qualquer irmão,
mesmo que não fosse pedreiro. Porque em bora todos os
A M A ç o n a ria A M o çoru iria A M a ç o n a ria Al» fn»tituiçò e& C o n t it u lç ò a » Os 04tfoH
no M u n d o e m P o rtu g a l e m P o rtu g a l 1 p a tiw n a c ó n lco «
1 d e A n d e rs o n lan d m a rk s - p tín clp ois ntOMj
atà 1935 apòs 1 9 3 5 { p r^tic a do>
P o itu s a )...

1 . ,

A. H . d c O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria c m P o rtu g al

p ed re iro s sejam com o irm àos, ao m esm o nível, a M aço­


naria não retira ao hom em a honra que ele antes tinha;
pelo contrário, acrescenta-lhe honra, especialm ente se
ele bem mereceu da Fraternidade, a qual deve conceder
honra a quem for devida e evitar as m ás m aneiras.

4. C onduta na presença de estranhos ncio pedreiros.

Sereis prudentes nas vossas palavras e atitudes, a fim de


que o mais penetrante dos estranhos não seja capaz de
descobrir ou achar o que não convém sugerir; por vezes,
desviareis a conversa e conduzi-la-eis com prudência,
para honra da augusta F raternidade.

5. C onduta em ca sa e para com os vizinhos.

D eveis proceder com o convém a um homem moral e


avisado; em especial, não deixeis fam ília, am igos e v izi­
nhos conhecer o que respeita à loja, etc., mas consultai
prudentemente a vossa própria honra e a da antiga Fra­
tern idade por razões que não têm aqui de ser m enciona­
das. D eveis também ter em conta a vossa saiíde, não vos
conservando juntos até dem asiado tarde nem tempo de­
mais fora de casa, depois de terem passado as horas de
loja; evitai os ex cesso s de com ida e de bebida, para que
as vossas fam ílias não sejam negligenciadas nem preju­
dicadas e vós próprios incapazes de trabalhar.

6. C onduta para com um irmão estranho.

D eveis exam iná-lo com cuidado, da maneira que a pru­


dência vos dirigir, de forma que não vos d eixeis enganar
por um ignorante e falso pretendente, a quem rejeitareis
com desprezo e escárnio, evitando dar-lhe quaisquer si­
nais de reconhecimento.
Contudo, se descobrirdes nele um irmão verdadeiro e
genuíno, então deveis respeitá-lo; e, se ele tiver qualquer
necessidade, deveis ajudá-lo se puderdes, ou então diri­
gi-lo para quem o possa ajudar. Deveis empregá-lo
durante alguns dias, ou recomendá-lo para que seja em ­
pregado. Mas não sois obrigado a ir além das vos.sas
possibilidades, somente a preferir um irmão pobre, que
seja homem bom e sincero, a quaisquer outros pobres
em idênticas circunstâncias.

Finalmente, todas estas obrigações são para observar­


des, e assim também as que vos serão com unicadas por
outra via', cultivando o anuir fraternal, fundamento e
remate, cimento e glória desta antiga Fraternidade, evi­
tando Ioda a disputa e querela, toda a calúnia e maledi­
cência, não permitindo a outros caluniar um irmão
honesto, mas defendendo o seu carácter e prestando-lhe
todos os bons ofícios com patíveis com a vossa honra e
segurança e não mais. E se algum deles vos fizer mal,
dirigi-vos à vossa própria loja ou à dele; e, daí, podeis
apelar para a Grande Loja, aquando da Comunicação
Trimestral, e daí para a Grande Loja anual, como tem si­
do a antiga e louvável conduta dos nossos antepassados
em todas as nações; nunca recorrendo à justiça a não ser
quando o caso não se possa decidir de outra maneira, e
escutando pacientemente o conselho honesto e amigo de
mestre e companheiros quando vos queiram impedir de
recorrerdes à justiça com estranhos ou vos incitar a por­
des rapidamente termo a todo o processo, a fim de que
vos possais ocupar dos assuntos da M açonaria com
mais alacridade e sucesso; mas com respeito aos irmãos
A Maçonori«'! A M Açonoda A M a ço n afta A s tnfttituiçoes O s d o is
n o M unck) om P o r t u ^ l o m P o rtu g a ) pa n u n a có n ka s d o And«nM >n p fIncipa H rkj.|
atò 1935 opó* 1 9 3 5 p rs U cod o s t i
P ortuRaJ...

8 0 |H I A. H . d e O liv e ira M a rq u e s A M aç o n a ria e m P o rtu g al

OU com panheiros em ju ízo, o m estre e os irmãos devem


com caridade oferecer a sua m ediação, a qual deve ser
aceite com agradecim ento pelos irmãos contendores; e
se essa subm issão for impraticável, devem então conti­
nuar o seu p ro ce sso ou p le ito sem ira nem rancor (não na
maneira usual), nada dizendo ou fazendo que possa pre­
judicar o a m o r fra tern a l, e renovando e continuando os
bons ofícios; para que todos possam ver a influência be­
nigna da M açonaria e com o todos os verdadeiros
p ed reiro s têm feito desde os com eços do mundo e assim
farão até ao final dos tempos.
A m en, assim seja.
Os «la n d m a rk s »' * Do inglès =
= limites,
termos.
São os princípios imutáveis aceites pelas Obediências de
tipo anglo-saxónico com o bases estruturais de toda a
Maçonaria.
Estes landmarks, cuja origem se deve, provavelmente, a
influência bíblica (Deut., xix, 14: «não tomarás nem
mudarás os limites do teu próximo que os antigos esta­
beleceram na tua propriedade (...)» ; Prov., XXII, 28:
«não transgredirás os antigos limites que puseram os
teus pais»), nunca conheceram compilação unanime­
mente aceite e autorizada, que pudesse funcionar como
«declaração de princípios» da Maçonaria. As duas com ­
pilações mais célebres e citadas são a do norte-america-
no Albert Mackey (1856) e a da Grande Loja Unida de
Inglaterra (1929), que indicam os landmarks seguintes^: ' A. H. Oliveira
Marques,
Dicionário de
Maçonaria
a) Lista de Alhert Mackey. Portuguesa,
vol. II, Usboa,
r — Os processos de reconhecimento são os mais legí­
1986. cols.
timos e inquestionáveis de todos os landmarks. Não ad­ 832 - 848.
mitem mudanças de qualquer espécie, pois, sempre que
]
A Maçonaria A Maçonaria A Maçonaria A& intttttuições ContKulçôe« 0* Os do»
no Mundo em Portugal em Porlucai pafomaçònlcas do Andefson *tandmarkB* principal» riíi
até 1935 npóft 1335 praticado« M
Poflugal...

A. H . d c O liv eira M arques A M açonaria cm P ortugal

isso se deu, funestas consequências vieram demonstrar o


erro cometido.
2° — A divisão da Maçonaria Simbólica em três graus é
um lamimark que, mais do que nenhum, tem sido preser­
vado de alterações, apesar dos esforços feitos pelo dani­
nho espírito inovador. Certa falta de uniformidade sobre
o ensinamento final da Ordem, no grau de Mestre, foi
motivada por não ser o terceiro grau considerado como
finalidade; daí o Real Arco e os Altos Graus variarem no
modo de conduzirem o neófito à grande finalidade da
Maçonaria Simbólica. Em 1813, a Grande Loja de Ingla­
terra reivindicou este antigo lamimark, decretando que a
Antiga Instituição Maçónica consistia nos três primeiros
graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo o
Santo Arco Real. Apesar de reconhecido pela sua anti­
guidade, como um verdadeiro lamimark, ele continua a
ser violado.
3° — A lenda do terceiro grau é um landmark importan­
te, cuja integridade tem sido respeitada. Nenhum rito
existe na Maçonaria, em qualquer país ou em qualquer
idioma, em que não sejam expostos os elementos essen­
ciais dessa lenda. As fórmulas escritas podem variar e,
na verdade, variam; a lenda, porém, do construtor do
Templo constitui a essência e a identidade da Maçona­
ria. Qualquer rito que a excluísse ou a alterasse, mate­
rialmente cessaria, por isso, de ser um rito Maçónico.
4° — O governo da Fraternidade por um Oficial que pre­
side, denominado Grão-Mestre, eleito pelo povo maçó­
nico, é o quarto landmark da Ordem. Muitas pessoas
ignorantes supõem que a eleição do Grão-Mestre se pra­
tica em virtude de ser estabelecida em lei ou regulamen­
to da Grande Loja. Nos anais da Instituição encontram-se,
porém, Grão-Mestres muito antes de existirem Grandes
Lojas e, se o actual sistema de governo legislativo por
Grandes Lojas fosse abolido, sempre seria precisa a
existência de um Grão-Mestre.
5° — A prerrogativa do Grão-Mestre de presidir a todas
as reuniões maçónicas, feitas onde e quando se fizerem,
é o quinto landmark. É em virtude desta lei, derivada da
antiga usança, e não de qualquer decreto especial, que o
Grão-Mestre ocupa o trono em todas as sessões de qual­
quer loja subordinada, quando se ache presente.
6° — A prerrogativa do Grão-Mestre de conceder licença
para conferir graus em tempos anormais, é outro e impor­
tantíssimo landmark. Os estatutos maçónicos exigem um
mês, ou mais, para o tempo que deva transcorrer entre a
proposta e a recepção de um candidato. O Grão-Mestre,
porém, tem o direito de pôr de lado ou de dispensar essa
exigência, e permitir a iniciação imediata.
T — A prerrogativa que tem o Grão-Mestre de autoriza­
ção para fundar e manter lojas, é outro importante
landmark. Em virtude dele, pode o Grão-Mestre conce­
der a um número suficiente de Mestres Maçons o privi­
légio de se reunirem e conferirem graus. As lojas assim
constituídas chamam-se «Lojas Licenciadas». Criadas
pelo Grão-Mestre, só existem enquanto ele não resolva
o contrário, podendo ser dissolvidas por acto seu. Podem
viver um dia, um mês ou seis meses. Qualquer, porém,
que seja o tempo da sua existência devem-no, exclusiva­
mente, à graça do Grão-Mestre.
8° — A prerrogativa de o Grão-Mestre criar Maçons por
sua deliberação é outro landmark importante, que care­
ce ser explicado, controvertida como tem sido a sua
existência. O verdadeiro e único modo de exercer essa
prerrogativa é o seguinte: o Grão-Mestre convoca em
seu auxílio seis Mestres Maçons, pelo menos; forma
A MaconiVia A MAçonariii A MaçofUfl.1 As Inftlltufçooa Contituiçóes Os 0» dois
no Mundo om Portugal om Portugal pnramitçúnkat df> And«r»(m •landmarks' principais ritM
a té 1935 apót 1935 praUcodoï a
Portugot...

A. H . d e O liv e ira M a rq u e s A M a ç o n a ria c m P o rtu g al

lima loja e, sem nenhuma prova prévia, confere o grau


aos candidatos; findo isso, dissolve a loja e despede os
Irmãos. As lojas convocadas por esse meio são cham a­
das «Lojas Ocasionais» ou de «Emergência».
9° — A necessidade de se congregarem os Maçons em
loja é outro landmark. Os landmarks da Ordem sempre
prescreveram que os Maçons deviam congregar-se com
0 fini de se entregarem a tarefas operativas, e que a es­
sas reuniões fosse dado o nome de «loja». Antigamente,
eram essas reuniões extemporâneas, convocadas para
assuntos especiais e logo dissolvidas, separando-se os
Irmãos para. de novo, se reunirem em outros pontos e
em outras épocas, conform e as necessidades e as
circunstâncias exigissem. Cartas Constitutivas, Regula­
mentos Internos, Lojas e Oficinas permanentes e contri­
buições anuais são inovações puramente modernas, de
um período relativamente recente.
10° — O governo da Fraternidade quando congregado
em loja, por um Venerável e dois Vigilantes, é também
um landmark. Q ualquer reunião de Maçons, congrega­
dos sob qualquer direcção, como, por exemplo, um pre­
sidente e dois vice-presidentes, não seria reconhecida
como loja. A presença de um Venerável e dois Vigilan­
tes é tão essencial que, no dia da congregação, é consi­
derada com o uma Carta Constitutiva.
1r — A necessidade de estar uma loja a coberto, quan­
do reunida, é um importante landmark que não deve ser
descurado. Origina-se no carácter esotérico da institui­
ção. O cargo de Guarda do Templo que vela para que o
lugar das reuniões esteja absolutamente vedado à intro­
missão de profanos, não depende, em absoluto, de quais­
quer leis de Grandes Lojas ou de lojas subordinadas. E o
seu dever, por este landmark, é guardar a porta do Tem-
pio, evitando que se ouça o que dentro dele se passa.
12“ — O direito representativo de cada Irmão, nas reu­
niões gerais da Fraternidade, é outro landmark. Nas
reuniões gerais, outrora chamadas Assembleias Gerais,
todos os Irmãos, mesmo os simples Aprendizes, tinham
o direito de tomar parte. Nas Grandes Lojas só têm di­
reito de assistência os Veneráveis e os Vigilantes, na
qualidade, porém, de representantes de todos os Irmãos
das Lojas. Antigamente, cada Irmão representava-se por
si mesmo. Hoje, são representados pelos .seus Oficiais.
Nem por motivo des.sa concessão, feita em 1717, deixa
de existir o direito de representação, firmado por este
landmark.
13° — O direito de recurso de cada Maçon das decisões
dos seus Irmãos, em loja, para a Grande Loja ou Assem­
bleia Geral dos Irmãos, é um landmark essencial para a
pre.servação da justiça e para prevenir a opressão.
14“ — O direito de todo o Maçon de visitar e tomar as­
sento em qualquer loja é inquestionável landmark da Or­
dem. É o consagrado direito de visitar, que sempre foi
reconhecido como um direito inerente que todo o Irmão
exerce, quando viaja pelo Universo. E a consequência de
encarar as lojas como meras divisões, por conveniência,
da Família Maçónica Universal.
15“ — Nenhum visitante, desconhecido aos Irmãos de
uma loja, pode ser admitido à visita, .sem que, antes de tu­
do, seja examinado, conforme os antigos costumes. Es.se
exame .só pode ser dispensado se o Maçon for conhecido
de algum Irmão do Quadro, que por ele se responsabilize.
16° — Nenhuma loja pode intrometer-se em a.ssuntos
que digam respeito a outras, nem conferir graus a Irmãos
de outros quadros.
17° — Todo o Maçon está sujeito às leis e regulamentos.
A M a ç o n . ’i r i a A M a ç o n n r ia A M a ç o n a ri a A » I n & tlt u tç õ o « ; C o n t itu tç o o » O t
n o M u n d o e m P o r tU ] * i) t c m P o r tu g a l p n ro m o çó n ica s d e A n d erse n • la n d m a r f c s
até 1 9 3 5 o p 6 ft 1 9 3 5

A. H. d e O liv eira M arques A M açonaria em P ortugal

da Jurisdição Maçónica em que residir, mesmo não sen­


do membro de qualquer loja. A não filiação é já em si
uma falta maçónica.
18° — Por este landmark os candidatos à iniciação de­
vem ser isentos de defeitos ou mutilações, livres de nas­
cimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou um es­
cravo não podem ingressar na Fraternidade.
19° — A crença no Grande Arquitecto do Universo é um
dos mais importantes landmarks da Ordem. A negação
dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para
a iniciação.
20° — Subsidiariamente a essa crença é exigida a cren­
ça em uma vida futura.
21° — É indispensável a existência, no Altar, de um Li­
vro da Lei, o Livro que, conforme a crença, se supõe
conter a Verdade revelada pelo Grande Arquitecto do
Universo. Não cuidando a Maçonaria de intervir nas pe­
culiaridades de fé religiosa dos seus membros, es.ses Li­
vros podem variar de acordo com os credos. Exige, por
isso, este landmark, que um «Livro da Lei» seja parte in­
dispensável dos utensílios de uma Loja.
22° — Todos os Maçons são absolutamente iguais den­
tro da Loja, sem distinções de prerrogativas profanas, de
privilégios, que a sociedade confere. A Maçonaria a to­
dos nivela nas reuniões maçónicas.
23° — Este landmark prescreve a conservação secreta
dos conhecimentos havidos por iniciação, tanto dos mé­
todos de trabalho, como das suas lendas e tradições que
só podem ser comunicadas a outros Irmãos.
24° — A fundação de uma ciência especulativa, segundo
métodos operativos, o uso simbólico e a explicação dos
ditos métodos e dos termos neles empregados, com pro­
pósito de ensinamento moral, constitui outro landmark.
A preservação da lenda do Templo de Salomão é outro
fundamento deste landmark.
25° — O último landmark é o que afirma a inalterabilida­
de dos anteriores, nada podendo ser-lhes acrescido ou re­
tirado, nenhuma modificação podendo ser-lhes introduzi­
da. Assim como dos nossos antecessores os recebemos,
assim os devemos transmitir aos nossos sucessores.

b) Lista da Grande Loja Unida de Inglaterra (condições


de reconhecimento de uma loja estrangeira):
r — Regularidade da origem, isto é, que cada Grande
Loja tenha sido criada regularmente por uma Grande
Loja devidamente reconhecida ou por três ou mais lojas
regularmente constituídas;
2° — Que a crença no Supremo Arquitecto do Universo
e na sua vontade revelada seja condição essencial para a
admissão dos membros;
3° — Que todos os iniciados prestem o seu compromis­
so sobre o livro da Lei Sagrada ou com os olhos fixos
nesse livro, aberto à sua frente, livro pelo qual se expri­
me a revelação do Ser Supremo ao qual o indivíduo que
acaba de ser iniciado fica, em consciência, irrevogavel-
mente ligado;
4° — Que a composição da Grande Loja e das lojas par­
ticulares seja exclusivamente de homens e que cada
Grande Loja não mantenha quaisquer relações maçóni­
cas, seja qual for a sua natureza, com lojas mistas ou
com corpos que admitam mulheres como membros;
5° — Que a Grande Loja exerça jurisdição soberana
sobre as lojas submetidas à sua obediência, isto é, que
seja um organismo responsável, independente e inteira­
mente autónomo, possuindo uma autoridade única e
A Maçonafla A Mdçonaria A Maçonaria As frutítulçóos Contitulçòes
no Mundo om Portu{tAl am Poftu};al pofamaçonlca» do Anderson
até 1935 apA» 1935

A. H . d e O liv eira M arques A M açonaria cm P ortugal

incontestada sobre o ofício ou os graus simbólicos


(Aprendiz registado. Companheiro e Mestre) colocados
sob a sua jurisdição, e que não esteja de forma alguma
subordinada a um Supremo Conselho ou qualquer outra
potência reivindicando controle ou supervisão sobre es­
ses graus, nem partilhe a sua autoridade com esse conse­
lho ou essa potência;
6° — Que as três Grandes Luzes da Maçonaria (isto é,
o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso) es­
tejam sempre expostos durante os trabalhos da Grande
Loja ou das lojas na sua obediência, sendo a principal
dessas luzes o volume da Lei Sagrada;
7° — Que as discussões de ordem religiosa e política se­
jam estritamente proibidas em loja;
8° — Que os princípios dos «Antigos landmarks», cos­
tumes e usos do ofício sejam estritamente observados.

Estes landmarks foram aceites pela chamada Consti­


tuição portuguesa de 1941, elaborada com o único ob­
jectivo de concitar o apoio da Maçonaria inglesa ao
clandestino Grande Oriente Lusitano Unido, mas ja ­
mais postos em prática.

c) As Maçonarias de feição racionalista e liberal (entre


as quais a portuguesa) jam ais aceitaram a totalidade
destes princípios, de tipo religioso, autoritário e inclusi­
vamente machista. Por isso procuraram, quer separada­
mente quer em conjunto, redigir «declarações de princí­
pios» mais concordes com a evolução dos tempos e das
mentalidades. Vale a pena conhecer, a este respeito, as
«conclusões» do maçon português José Afonso da Costa
Júnior, publicadas em 1924, no final do seu artigo
«o Problema da Regularidade de Potências Maçónicas»
(Boletim Oficial do Grande Oriente Lusitano Unido, 44"
ano, n" 8, Agosto de 1924, pp. 254-255):
1° — As Constituições de Anderson são a base de toda a
regularidade, porque nelas está claramente definido o
verdadeiro ideal maçónico;
2° — Todas as Potências Maçónicas que aspiram ao re­
conhecimento legal devem provar que se regulam por
Constituições e Regulamentos que, a exemplo da Cons­
tituição de Anderson, preconizem a liberdade de pensa­
mento acima de toda a crença religiosa, a tolerância mú­
tua, o respeito pelos outros e por si próprio, que procure
a verdade, estude a moral e pratique a solidariedade;
3° — Os princípios são a parte essencial da regularida-
tle maçónica. As fórmulas não têm senão uma importân­
cia relativa que não deve prejudicar o valor das ideias
fundamentais;
4° — Os ritos e os seus diversos graus são questões in­
ternas que nada têm que ver com o problema da uni­
versalização da Franco-Maçonaria. Os poderes litúrgi-
cos pertencem indiscutivelmente às Câmaras-Chefes
de rito. Tem apenas que atender-se à jurisdição dos
três primeiros graus. Uma Potência Simbólica tem que
provar que exerce livremente essa juri.sdição e que o
seu Grão-Mestre não está enfeudado a nenhum poder
litúrgico. O mesmo deve ser exigido para os seus dig­
nitários e oficiais;
5° — Para se considerar legitimo, um maçon deve ter si­
do iniciado ritualmente por uma Loja legalmente consti­
tuída. Para se conservar maçon regular, deve estar ins­
crito no quadro de uma Loja regular, contribuir com a
sua quotização, frequentar os trabalhos e cumprir com
todos os deveres e obrigações regulamentares;
A Maçonaria A Maçonaria A MoçonofUi Aa tnstituiçooft ContKuIçóoa
no Mundo em Portugal oni Portugal paramaçónteas do Anderson
ato 1935 «pòs 1935

A. H. d e O liv eira M arques A M açonaria em P ortugal

6“ — Para que uma Loja se possa considerar legitima,


deve ter sido fundada sete mestres, pelo menos, e de­
ve manter um número bastante de obreiros de modo a
formar uma Loja perfeita. O seu funcionamento deve ser
autorizado nos termos de uma Patente, outorgada por
uma Potência Maçónica legitimamente fundada e cons­
tituída e que ocupe legitimamente o território no qual a
Loja ergue as suas colunas. •
Para manter a sua regularidade, a Loja deve observar
as disposições legais da sua Grande Loja ou Potência
Simbólica que a governa, e a autoridade do Grão-
-Mestre e respectiva Cãmara-Chefe de Rito. Deve sa­
tisfazer integralmente as suas contribuições para com o
Grande Tesouro e cumprir rigorosamente o disposto na
Constituição, Regulamentos e Lei Orgânica, sem o que
se torna irregular,
T — Deve ser reconhecida como Potência Maçónica
Legítima toda a Confederação de Lojas legítimas que
exerça livremente a jurisdição sobre os três primeiros
graus simbólicos, regulando-se por uma Constituição
que esteja de acordo com as disposições contidas nos
números 1, 2, 3 e 4, e exercendo a sua jurisdição sobre
um Território Maçónico considerado livre e aberto à da­
ta da sua fundação. Para .se conservar Regular, a Potên­
cia Legítima deve observar rigorosamente as suas pró­
prias leis e regulamentos que só podem ser alterados na
parte internacional por deci.são tomada nos Congressos
da Associação Maçónica Internacional e esta não visará
senão a Maçonaria Simbólica',
8° — Deve entender-se por Território Maçónico a por­
ção territorial de um país ou nação considerado como
área de jurisdição de uma Potência Maçónica. Quando
e.sse território está demarcado pelas fronteiras políti-
cas de uma nação, essa área deve ser considerada
Território Maçónico Nacional e a Potência que o ocu­
par será considerada Potência Maçónica Nacional.
Quando um território, local ou nacional, não estiver ocu­
pado legitimamente por uma Potência Maçónica efec­
tuando trabalhos Regulares e Constantes, esse território
será considerado maçonicamente Aberto. Se, dentro des­
se Território, se formar uma nova nacionalidade, a parte
do território tornada politicamente independente será
considerada aberta ainda que sobre ela exerça jurisdição
uma Potência estrangeira.
Or. • . de Lisboa, 14 de Maio de 1924 (e. • .v. • .).

d) D ê-se como último exemplo a declaração tomada em


1961, em Strasbourg, pelas potências maçónicas consti­
tutivas do chamado C.L.l.PS.A.S. e aceite pelo Grande
Oriente Lusitano a partir de 1984-85:
As potências signatárias propõem, para a loja justa e
perfeita, a defmição seguinte:
1. que seja formada por, pelo menos, sete mestres maçons;
2. que seja dirigida por três, iluminada por cinco e tor­
nada justa e perfeita por sete;
3. que trabalhe segundo um ritual que utilize os símbo­
los da construção;
4. que tenha as suas sessões num local fechado e cober­
to onde se encontrem as colunas B e J, as três Grandes
Luzes entre as quais o esquadro e o compasso, os instru­
mentos do grau e o pavimento em forma de mosaico;
5. que pratique os graus de Aprendiz, Companheiro e
Mestre;
6. que a iniciação no grau de Aprendiz, a efectuar sob o
sinal do triângulo, compreenda o gabinete de reflexões.
A Maçonarin A Maçonaria A Maçonaria As instKutções Contttulçòes Oi Os dois
no Mundo om Pottugal ©m Portucal paramAçookos do Andofson «liMKtmarkS' principAbrtto»
ffté1935 apoi 1935 praticadosem
Portucnl...

A. H . de O liv eira M arques A M açonaria em Portugal

as provas e a passagem das trevas à luz; que a promoção


ao grau de Companheiro tenha lugar à luz da estrela fla­
mejante; que a exaltação ao grau de Mestre inclua a
comunicação da lenda de Hiram; que a cada grau corres­
ponda um compromisso solene;
7. que se considere maçon todo aquele que tenha sido
formalmente iniciado numa loja maçónica regular e
perfeita.
As Obediências signatárias do Apelo de Strasbourg
afirmam solenemente que as diferenças entre as tradi­
ções, os ritos, os símbolos e as opiniões filosóficas,
longe de serem fonte de divisão constituem, pelo seu
contributo mútuo, ao mesmo tempo um estímulo moral
e um enriquecimento espiritual para a compreensão e
efectivação da ética maçónica, baseada na tolerância,
no respeito pelo próximo, na ligação às liberdades, no
sentido de solidariedade, no go.sto pela justiça, no com­
bate pelo progresso da sociedade humana e na prática
da fraternidade.
As Potências assim reunidas estão convencidas de que o
respeito pela liberdade de con.sciência de cada um e uma
total tolerância mútua são as condições fundamentais de
todo o trabalho maçónico.
Em algumas destas Obediências, as lojas invocam o
Supremo Arquitecto do Universo; noutras, esta prática
é facultativa.
Em algumas, um livro considerado sagrado é aberto so­
bre o altar; noutras, não.
E indispensável, igualmente, eliminar nos textos funda­
mentais da União de Strasbourg qualquer fórmula que
possa entravar o processo da discussão. As Obediências
e as lojas conservam a sua total independência nos pla­
nos político. Filosófico e religio.so.
No espírito dos signatários do Apelo de Strasbourg não
existe qualquer razão para que a Maçonaria não abra as
suas portas a todos os homens de bem e leais, a todos os
homens de honra e de probidade, quaisquer que sejam a
raça, o nível social ou a opinião Filosófica.
As únicas condições que a Maçonaria aceita são basea­
das nas qualidades morais e intelectuais dos candidatos;
quanto ao mais, ela proclama a liberdade absoluta de
consciência, a igualdade de todos os homens entre si e a
necessidade de laços úq fraternidade.
Os membros da União de Strasbourg reconhecem o va­
lor tradicional das Constituições de 1723, assim como o
direito de toda a obediência a nelas se inspirar e as inter­
pretar. Mas recusam admitir que esses textos, ou qual­
quer outro, aliás, confiram a qualquer que seja a Obe­
diência maçónica direitos particulares e, nomeadamente,
o de decidir soberanamente das relações que as outras
Obediências possam ou não manter entre si.
Esta concepção adquire hoje em dia toda a importân­
cia pelo facto da extensão da Maçonaria a todos os
continentes.
Os dois principais ritos praticados em •Idem, cols.
Portugal ao longo dos tempos® 1^3 8 -1 24 3

a) O Rito Escocês Antigo e Aceite

Rito formalmente criado em 1801, em Filadélfia (Esta­


dos Unidos da América), no seio do Supremo Conselho
dos Estados Unidos, embora com elementos ritualistas
remontando a 1730 e gradualmente desenvolvidos, tan­
to na Grã-Bretanha como em França.
Em Portugal, o REAA foi introduzido em 1837 ao nível
dos três primeiros graus. Deveu-se à Grande Loja de
Dublin (Irlanda) que, em Lisboa, chegou a criar uma
Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês agrupando
um máximo de cinco lojas {Regeneração 1“, 2®, 3“, 4“ e
5“). Destas, sobreviviam em 1872 três, com restrita acti­
vidade e escasso número de membros que, nesse ano, se
integraram no Grande Oriente Lusitano Unido, fundidas
na única loja Regeneração Irlandesa, n" 69.
No conjunto dos 33 graus, o REAA surgiu em Portugal em
1840, sob a chefia de Silva Carvalho e da loja
lisboeta Fortaleza, que constituíram uma potência indepen-
[
A Mnçonaria A MoçonarUi A Maçonnria 1 A» instKulçóes Contttutçôcs Otdoto
no Mundo em Portut^dl em Portugal ! pArnmnçúnlcas do Anderson prlnclpab rHoi
alè 1935 opos 1935 praticados M
PocluffaL..

A. H . d e O liv eira M arques A M açonaria cm P oriugal

dente do Rito Escocês. No ano seguinte. Silva Carvalho ob­


tinha, de um dos Supremos Conselhos do Brasil, a investi­
dura no 33° grau e a autorização para criar um Supremo
Con.selho em Portugal, o que não tardou a fazer. A sua Obe­
diência chegou a agnipar uma vintena de lojas, espalhadas
pelo País. Manteve-se até 1869, integrando-.se, nes.se ano,
na sua maioria, no Grande Oriente Lusitiuio Unido. Tam­
bém em 1841 o Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano
obtinha, de um segundo Supremo Con.selho do Brasil, o
mesmo privilégio. O novo Supremo Conselho começou a
trabalhar em 1844, ficando o Grande Oriente Lusitano a ser
constituído por lojas dos REAA e do RE A partir de 1869,
com a unificação do grosso da família maçónica e a junção
dos dois Supremos Conselhos num só, o REAA pôde ex­
pandir-se consideravelmente. Depois de alguns altos e bai­
xos, predominou, desde finais do século xix, .sobre o RF.
A partir de 1914, o aumento de lojas do REAA foi clara­
mente superior ao de lojas do RF. A cisão desse ano, de
grande piule do Supremo Con.selho do Grau 33, que .se se­
parou do Grande Oriente Lusitíuio Unido, autonomizando-
-se, instituiu em Portugal, até 1926, uma nova Obediência
exclusivamente do REAA. Este, no entanto, continuou a .ser
praticado em numerosas lojas do Grande Oriente Lusitano
Unido que não aderinun à cisão. Duriuite a clandestinidade,
abateram colunas todas as lojas do RF, sobrevivendo apenas
umas poucas do REAA. Este pôde, assim, surgir em 1974
como único rito praticado na Maçonaiia portuguesa.
O REAA tem os 33 graus seguintes:

lojas azuis ou sim bólicas


1— Aprendiz;
2 — Companheiro;
3 — Mestre;
lojas de perfeição
4 — Mestre Secreto;
5 — Mestre Perfeito;
6 — Secretário íntimo ou Mestre por Curiosidade;
7 — Preboste e Juiz ou Mestre Irlandês;
8 — Intendente dos Edifícios ou Mestre em Israel;
9 — Mestre Eleito dos Nove;
10 — Ilustre Eleito dos Quinze;
11 — Sublime Cavaleiro Eleito;
12 — Grão-Mestre Arquitecto;
13 — Cavaleiro do Real Arco (de Enoch);
14 — Grande Escocês da Abóbada Sagrada de Jaime VI,
ou Grande Escocês da Perfeição, ou Grande Eleito, ou
Antigo Mestre Perfeito, ou Sublime Maçon;

capítulos
15 — Cavaleiro do Oriente ou da Espada;
16 — Príncipe de Jerusalém;
17 — Cavaleiro do Oriente e Ocidente;
18 — Soberano Príncipe Rosa Cruz;

areópagos
19 — Grande Pontífice ou Sublime Escocês chamado o
da Jerusalém Celeste;
20 — Venerável Grão-Mestre de Todas as Lojas, ou
Soberano Príncipe da Maçonaria, ou Mestre acl Vitann
21 — Noaquita ou Cavaleiro Prussiano;
22 — Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano;
23 — Chefe do Tabernáculo;
24 — Príncipe do Tabernáculo;
25 — Cavaleiro da Serpente de Bronze;
26 — Escocês Trinitário ou Príncipe da Mercê;
27 — Grande Comendador do Templo ou Soberano Co-
i 1
A Maçonaria A Maçotwrla A Maçonaria A» Institulçoe» i Contitutçóos Os
no Mimdo om Portugal om Portugot panamaçònicas do Andeifton Drincioaiftritot
atò 1935 ap6s 1935 praticado« om
PottU£Al...

A. H. d e O liv eira M arques A M açonaria cm P ortugal

mendador do Templo de Salomão;


28 — Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto;
29 — Grande Escocês de Santo André da Escócia, ou
Patriarca dos Cruzados, ou Cavaleiro do Sol, ou Grão-
-Mestre da Luz;
30 — Grande Eleito Cavaleiro Kados ou Cavaleiro da
Águia Branca e Negra;

tribunal
31 — Grande Inspector Inquisidor Comendador;

consistório
32 — Sublime Príncipe do Real Segredo;

conselho suprem o e suprem o conselho


33 — Soberano Grande Inspector Geral.

b) O Rito Francês ou Moderno

Este rito foi formalmente sistematizado pelo Grande Ca­


pítulo Geral do Grande Oriente de França em 1786 —
embora praticado, em Paris e noutras partes, desde 1760
— e definido, em 1801, por um Régulateur. Expandiu-
-se sobretudo em França e, a partir dela, em grande nú­
mero de Maçonarias latinas ou outras influenciadas pela
Maçonaria francesa. Apesar da sua simplicidade e bele­
za filosófica, acha-se hoje em manifesta retracção. Em
Portugal, o RF foi introduzido provavelmente com as In­
vasões Francesas e adoptado como único pelo Grande
Oriente Lusitano (Constituição de 1821). Após 1837, o
seu lugar na Maçonaria portuguesa não cessou de baixar
em proveito do REAA. O ponto de viragem deu-se em
finais do século xix quando, pela primeira vez, o número
de lojas desse rito passou a predominar. Com o período
da clandestinidade, todas as lojas de RF abateram colu­
nas ou preferiram adoptar o REAA.
0 RF tem os sete graus seguintes:

1 — Aprendiz;
2 — Companheiro;
3 — Mestre;
4 — Eleito, ou Mestre Eleito, ou Eleito Secreto, ou Mes­
tre Perfeito (forma arcaizante) (1“ ordem de Rosa Cruz);
5 — E.scocês, ou Mestre Escocês, ou Grande Eleito Es­
cocês (2“ ordem de Rosa Cruz);
6 — Cavaleiro do Oriente ou Cavaleiro da Espada (3“
ordem de Rosa Cruz);
7 — Soberano Príncipe Rosa Cruz ou Cavaleiro Rosa
Cruz.

É superiormente dirigido pelo Soberano Grande Capítulo


dos Cavaleiros Rosa Cruz — também denominado Supre­
ma Câmara do RF — a quem unicamente compete legis­
lar sobre tudo o que se refere aos graus e filosofia do rito.
Abaixo deste Soberano Grande Capítulo existem os Capí­
tulos ligados às lojas e constituídos por, pelo menos, sete
obreiros decorados com o grau 7° {Cavaleiro Rosa Cruz).
Dirigentes das maçonarias portuguesas
Grão-Mestres

1. Grande Oriente Lusitano [Unido]. 1802 ss.

1.1. Grande Oriente Lusitano. 1804-1849

Sebastião José de Sampaio Melo e Castro....... 1804-1809


José Aleixo Falcão de Gamboa Fragoso Wanzeler.. 1809?
Fernando Romão da Costa de Ataíde e
Teive de Sousa Coutinho.................................. 1809-1814?
Fernando Luís Pereira de Sousa Barradas (int.°).. 1814?-1816?
Gomes Freire de Andrade.................................. 1816-1817
João Vicente Pimentel Maldonado íint.°)..........1820-1821
João da Cunha Souto Maior.............................1821-1823?
José da Silva Carvalho......................................1823?-1839
Manuel Gonçalves de Miranda.......................... 1839-1841
António Bernardo da Costa Cabral,
1.° conde de Tomar.............................................. 1841 -1846
João de Deus Antunes Pinto (int.°)..............................1846
Marcelino Máximo de Azevedo e Meio
(1.° visconde de Oliveira) (int.°).........................1846-1847
1 0 2 | l0 î

1 ° conde de Tomar, d. n................................... 1847-1849


Marcelino Máximo de Azevedo e Melo
(1.° visconde de Oliveira) (int.°)....................................1849
Eleutério Francisco de Castelo Branco (int.°). 1849-1850
José Bernardo da Silva Cabrai.........................1850-1856?

1.2. Grande Oriente de Portugal. 1849-1867

Marcelino Máximo de Azevedo e Melo,


1 ° visconde de Oliveira....................................1849-1853
José Joaquim de Almeida Moura Coutinho
(int.°, depois definitivo)....................................... 1853-1861
Frederico Leão Cabreira (interino).................... 1861-1863
Caetano Gaspar de Almeida Noronha
Portugal Camões de Albuquerque Moniz e Sousa,
3.° conde de Peniche...........................................1863-1865?
Tomás Oom (interino)........................................1865?-1867

1.3. Grande Oriente Lusitano. 1859-1869

João Inácio Francisco de Paula de Noronha,


2.° conde de Parati................................................ 1859-1869

1.4. Grande Oriente Lusitano Unido. 1869 ss.

2.° conde de Parati.................................................1869-1881


Miguel Baptista Maciel (interino,
depois definitivo)................................................. 1881-1884
José Elias Garcia (interino).................................1884-1886
Antônio Augusto de Aguiar.................................1886-1887
José Elias Garcia (interino, depois definitivo).. 1887-1889
Carlos Ramiro Coutinho, 1.° visconde
de Ouguela............................................................ 1889-1895
Bernardino Luís Machado Guimarães..............1895-1899
Luís Augusto Ferreira de Castro........................1899-1906
Francisco Gomes da Silva (interino)................. 1906-1907
Sebastião de Magalhães Lima............................ 1907-1928
Antônio Augusto Curson (interino).................. 1928-1929
Antônio José de Almeida (não tomou posse)
Joaquim Maria de Oliveira Simões (interino)... 1929-1930
José Mendes Ribeiro Norton de Matos.............1930-1935
Maurício Costa (interino)....................................1935-1937
Filipe Ferreira (interino)................................................1937
Luís Gonçalves Rebordão (interino,
depois definitivo)................................................. 1937-1975

2. Oriente Saldanha ou Maçonaria do Sul. 1828-1849

João Carlos Gregôrio Domingos Vicente


Francisco de Saldíinha de Oliveira e Daun,
1.° duque de Saldanha...........................................1828-1837
José Liberato Freire de Carvalho (interino).... 1834-1835
Jo.sé Manuel Inácio da Cunha Faro Meneses
Portugal da Gama Carneiro e Sousa,
4.° conde de Lumiares (interino)...................... 1835-1836
Luís Ribeiro Saraiva (interino)........................ 1836-1840
Francisco Antônio de Campos, 1 barão de
Vila Nova de Foz Coa........................................1840-1849

3. Oriente Passos Manuel ou Maçonaria do Norte.


1834-1850

Manuel da Silva Passos..................................... 1834-1850

4. Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês. 1842-1872


Marcos Pinto Soares Vaz Preto.......................... 1842-1851
Joaquim Possidónio Narciso da Silva............. 1851-1853
Frederico Guilherme da Silva Pereira............. 1853-1871
Joaquim José Gonçalves de Matos Correia.... 1871 -1872

5. Grantie Orienle do Rito Escocês. 1840-1885

José da Silva Carvalho........................................1840-1856


Rodrigo da Fonseca Magalhães........................ 1856-1858
Domingos Correia Arouca............................... 18587-1861
João Maria Feijó.............................................................1858
Domingos Correia Arouca..................................1858-1861
João Maria Feijó, d. n.........................................1861 -1884
Francisco Soares Franco, 1 visconde de
Soares Franco...................................................... 1884-1885

6. Confederação Maçónica Portuguesa. 1849-1867

João Gualberto de Pina Cabral........................... 1849-1851


Francisco Xavier da Silva Pereira,1.“ conde das An­
tas 1851-1852
Nuno Severo de Mendoça Rolim de Moura
Barreto, 2 ° marquês de Loulé......................................1852
Antônio Rodrigues Sampaio (interino).............1852-1853
José Antônio do Nascimento Morais Mantas (int.°)...1853
2° marquês de Loulé, d. n.................................. 1853-1856
José Atanásio de Miranda (int.°)...................... 1856-........
José Antônio do Nascimento MoraisMantas (int.°) 1859
2° marquês de Loulé, d.n.................................... 1859-1860
Manuel José Júlio Guerra (int.°).........................1860-1862
José Estêvão Coelho de Magalhães............................. 1862
Antônio de Sousa de Meneses (int.°)................ 1862-1863
Joaquim Tomás Lobo de Ávila..........................1863-1864
I0 6 | l0 7

14. Grande Loja de PorfugaL 1893-1894

José Salgueiro de Almeida.................................. 1893-1894

15. Grande Oriente Português. 1894-1895

«Correia Teles».....................................................1894-1895

16. Grande Oriente de PortugaL 1897-1904

Joaquim Peito de Carvalho.................................1897-1902


Antônio Gomes da Silva Pinto (int.°).................1902-1903
Custódio Miguel de Borja................................... 1903-1904

17. Grande Oriente Português. 1908-1911

Francisco José Fernandes Costa..........................1908-1911

18. Grêmio Luso-Escocês (Supremo Conselho do 33.°


Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite). 1914-1926

Luís Augusto Ferreira de Castro........................ 1914-1926


Grão-Mestres Adjuntos

(Grande Oriente Lusitano)


(Cargo criado pela Constituição de 20 de Setembro de
1897)

Luís Augusto Ferreira de Castro......................1898-1900


Francisco Gomes da Silva............................... 1900-1909
José de Castro.................................................. 1909-1915
Antônio Maria da Silva................................... 1915-1926
(Cargo vago desde 1926 até 1929)

Joaquim Maria de Oliveira Simões................. 1929-1935


(Idem, desde 1935 até 1975)

Presidentes do Conselho da Ordem

(Grande Oriente Lusitano)


(Cargo criado pela Constituição de 27 de Julho de 1878)
Miguel Baptista Maciel..................................... 1878-1881
José Salgueiro de Almeida................................1881-1882
José Elias Garcia................................................ 1882-1884
João Eusébio de Oliveira.................................. 1884-1887
José Elias Garcia................................................ 1887-1888
José de Oliveira Garção Carvalho Campeio
de Andrade.......................................................... 1888-1892
Bernardino Luís Machado Guimarães............ 1892-1895
Luís Filipe da Mata..........................................1895-1899?
Tomás Antônio da Guarda Cabreira.............. 1899?-1902
Guilherme Teles de Meneses........................... 1902-1903
Luís Filipe da Mata............................................ 1903-1906
Sebastião de Magalhães Lima.......................... 1906-1907
Tomás Antônio da Guarda Cabreira................ 1907-1908

(Cargo extinto pela Constituição cie 31 de Dezembro de


Í907, em vigor desde 6 de Março de I90H e restabeleci­
do pela Constituição de 2 de Janeiro de 1912)

André Joaquim de Bastos............................................ 1912


Manuel de Sousa da Câmara.............................1912-1913
Fernando Larcher......................................................... 1913
Manuel Goulart de Medeiros...................................... 1913
André Joaquim de Bastos.................................. 1913-1914
José Pinheiro de Melo........................................1914-1916
Luís Filipe da Mata............................................ 1916-1917
José de Oliveira da Costa Gonçalves.............. 1917-1918
Fernão Boto Machado........................................1918-1919

(Cargo extinto pela Constituição de 20 de Maio de 1919 e


restabelecido pela Constituição de 17 de Março de 1921)

Constâncio de Oliveira...................................... 1921-1922


Ernesto Maria Vieira da Rocha..........................1922-1926
Antônio Augusto da Veiga e Sousa.............................. 1926
Albert Macieira.................................................... 1926-1927
Ramon Nonato de la Féria..................................1927-1929
José da Costa Pina................................................1929-1930
Ramon Nonato de la Féria.............................................1930
Antônio Nogueira Mimoso Guerra....................1930-1931
Manuel Maria Coelho....................................................1931
Amílcar Ramada Curto....................................... 1931 -1932
Álvaro Costa.........................................................1932-1935
Maurício Costa.................................................... 1935-1937
Filipe Ferreira..................................................................1937
Luís Gonçalves Rebordão...................................1937-1957
Luís Ernâni Dias Amado..................................... 1957-1975
Soberanos Grandes Comendadores

1. Supremo Conselho afecto ao Grande Oriente do Rito


Escocês. 1840-1885

Os mesmos indicados em 5.

2. Supremo Conselho afecto ao Grande Oriente Lusita­


no. 1841 ss.

Os mesmos que os Grão-Mestres indicados em 1.1., 1.2


e 1.4 até 1928. A partir desta data:
João Carlos Alberto da Costa Gomes................ 1928-1929
Bernardino Luís Machado Guimarães.............. 1929-1944
(Lugar-Tenente, Antônio Augusto da
Veiga e Sousa) Antônio Augusto da
Veiga e Sousa........................................................ 1944-1953
Luís Gonçalves Rebordão................................... 1953-1976
3. Supremo Conselho afecto à Grande Loja Provincial
do Oriente Irlandês. 1857-1872

Os mesmos que os Grão-Mestres indicados em 4.

4. Supremo Conselho afecto ao Grande Oriente de Por­


tugal. 1897-1904

Os mesmos que os Grão-Mestres indicados em 16.

5. Supremo Conselho afecto ao Grêmio Luso-Escocês.


1914-1951

Luís Augusto Ferreira de Castro........................ 1914-1925


João Carlos Alberto da Costa Gomes................ 1925-1926
Luís Augusto Ferreira de Castro, d. n.................1926-1931
João Evangelista Pinto de Magalhães............... 1931-1939
Carlos José de Oliveira..................................... 1939-1951
Bibliografia crítica

a) Aspectos gerais
Para conhecimento dos princípios gerais da Maçonaria
e das grandes linhas da sua história, podem utilizar-se
os artigos publicados sob aquela epígrafe em qualquer
boa enciclopédia. Assim, na Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira, vol. 15, Lisboa, Edil. Enci­
clopédia, s/d., pp. 793-804, encontra-se uma síntese
satisfatória sobre a Ordem Maçónica, sobretudo fora
de Portugal. Melhores ainda, e com amplo desenvolvi­
mento para o caso português, são os quatro excelentes
artigos insertos na Encyclopedia das Encyclopedias.
Diccionario Universal Portuguez lllustrado, dirigido
por Fernandes Costa, vol. VI (M a Mag), Lisboa, Typ.
do Diccion. Univ. Port. 111., 1884, sob os títulos «Ma­
çon» (pp. 302-341 ), «Maçonaria» (pp. 341-428), «Ma­
çonica» (pp. 428-438) e «Maçonico» (pp. 438-496).
Veja-se, por fim, o Dicionário de Maçonaria Portu­
guesa, de A. H. de Oliveira Marques, vols. I e II, Lis-
boa, Delta. 1986.
b) História
Até 1912, os livros de base são: a obra de A. H. de Olivei­
ra Marques, História da Maçonaria em Portugal, vol. I,
Das Origens ao Triunfo, Lisboa, Presença, 1990, vols. II
e III, Política e Maçonaria, 1820-1869, 1“ e 2“ partes,
Li.sboa, Presença, 1996-1997 (suprime, ultrapassando-o,
o estudo conjunto de Graça e J. S. da Silva Dias, Os Pri­
mórdios da Maçonaria em Portugal, 4 vols., Lisboa, Ins­
tituto Nacional de Inve.stigação Científica, 1980), e o
estudo já clássico de Manuel Borges Grainha, História
da Maçonaria em Portugal, Lisboa, Tip. A Editora, 1912
(2" ed., com notas nem .sempre aceitáveis de Antônio
Carlos Carvalho, Lisboa, Vega, 1976), que e.sclarece,
com conhecimento da matéria, as principais etapas de
evolução da Ordem. Depois dessa data sente-se a falta
de manual correspondente, que não é suprida pelo livro
de Antônio Carlos de Carvalho, Para a História da Ma­
çonaria em Portugal (1913-1935), Lisboa, Vega, 1976.
Veja-se, no entanto, também de A. H. de Oliveira Mar­
ques, A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo, 3“ edi­
ção, Lisboa, Dom Quixote, 1995, e, do mesmo autor.
Ensaios de Maçonaria, Lisboa, Quetzal, 1988. O leitor
encontrará muito material de interesse no livro compila­
do pelo arqui-inimigo da instituição maçónica e propo­
nente da sua extinção, José Cabral, Sociedades Secretas,
Lisboa, Editorial Império, s/d. [1935], nomeadamente
no «Parecer» da Câmara Corporativa, onde se transcre­
vem documentos maçónicos autênticos e importantes.
Não esqueça também a monografia documentada de
Fernando Marques da Costa, A Maçonaria Feminina,
Lisboa, Vega, s/d. [1981].
As monografias das lojas, estão por fazer, com poucas
excepções. Entre estas, releve-se o livro excepcional de
João Pedro Ferro, modelo para trabalhos idênticos, Ma­
çonaria e Política no Século x/x. A loja «Liberdade»
(Coimbra, 1863-1864), Lisboa, Presença, 1991. Outra
documentação de interesse, entre a muita publicada e
com inclusão das várias constituições e regulamentos, se
colhe no Boletim Oficial do Grande Oriente Lusitano,
teoricamente mensal e de que se publicaram nilmeros re­
ferentes aos seguintes anos; 1869 a 1889, 1893, 1894,
1897 a 1899, 1902, 1904 e 1906 a 1931. Igualmente es­
clarecedor, dando o resumo da situação da Maçonaria
Portuguesa em diversos anos, se mostra o Annuario do
Gr. .O.-. Lusitano Unido S u p r\ Cons.\ da Maçonaria
Portugueza, para 1903, 1904, 1905, 1906, 1911, 1912-
-13, 1913-14, 1918 e 1922. Relevem-se ainda as actas
dos congressos maçónicos nacionais, pela temática neles
debatida e provas da interferência da Ordem na vida por­
tuguesa: por exemplo o Congre.sso Maç.-. Nacional rea­
lizado no Porto nos dias / 9, 20, 21, 22 e 23 de Junho de
1914 (e.'.v.\). Relatório, s/l, 1914. No Guia de História
da 1.“ República Portuguesa, de A. H. de Oliveira Mar­
ques, Lisboa, Estampa, 1981, pp. 124-128 e 134-135 co­
lhe-se mais desenvolvida bibliografia crítica.

c) Ritual e estrutura interna


Além das constituições e regulamentos publicados no
Boletim Official, vejam-se: o excelente livrinho de A.-,
de S.-. [Antônio de Soveral], Guia Maçónica, 2.“ edição,
Lisboa, 1913; e as várias edições dos rituais dos três pri­
meiros graus, das quais citamos a esmo:
Rito Escocês Antigo e Aceito. Grau de Aprendiz, edição
do Grande Oriente Lusitano Unido, Sup.-. Cons.-. da
Maçonaria Portuguesa, Lisboa, 1921.
Ritual do Grau de Companheiro para os ritos escocês e
francês, compilado por Matos Ferreira, colecção «A Li­
turgia Maçónica», 2.“ edição, Lisboa, 1914.
Ritual do Grau de Mestre, edição do Grêmio Luso Esco­
cês, Lisboa, 1923.
O citado Dicionário de Maçonaria Portuguesa, de A. H.
de Oliveira Marques, inclui numerosas entradas relati­
vas ao ritual e à estrutura interna. O mesmo se diga da
História da Maçonaria em Portugal, do mesmo autor.

d) Obras estrangeiras para o principiante


Os manuais france.ses .são os mais acessíveis a quem de­
seje conhecer as características básicas da Maçonaria de
hoje. Vejam-se, da colecção «Que sais-je?». Les Socié­
tés Secrètes, de Serge Hutin, 7.“ edição, Paris, PU.F.,
1970 (n.° 515) e La Franc-Maçonnerie, de Paul Naudon,
4.“ edição, Paris, P.U.F., 1971 (n.° 1064) traduzido para
português por Raul Rego. Serge Hutin é também o autor
de um outro útil livrinho de divulgação. Les Francs-Ma-
çons, colecção «Le Temps qui court», n.° 19, Paris, Édi­
tions du Seuil, 1961. Mais de.senvolvida se mostra a ex­
celente obra de Jules Boucher, La Symbolique Maçonni­
que, 3.“ edição, Paris, Dervy-Livres, s/d. (1.“ ed. 1948).
Recomenda-se vivamente o romance de Jules Romains,
Recherche d ’une église, da série «Les Hommes de Bon­
ne Volonté», tomo VII (existe na colecção «Le Livre de
Poche», n.° 3676, Paris, Flammarion, 1958).
No campo histórico, vejam-se Paul Naudon, Histoire gé­
nérale de la Franc-Maçonnerie, Paris, PU.F., 1981 e, do
lado anglo-saxônico, Fred L. Pick e G. Norman Knight,
The Pocket History o f Freemasonty, 8.“ éd., London-
-Sydney-Auckland, Johannesburg, 1991 (1.“ éd., 1953).
Entre os muitos dicionários existentes, um dos melhores
é o de Daniel Ligou, Dictionnaire de la Franc-M açonne­
rie, 2.“ éd.. Paris, RU.F., 1987.

e) Artigos de jornais, revistas, etc.


O leitor é posto em guarda contra a proliferação de arti­
gos, mais ou menos sensacionalistas e oportunistas, so­
bre a Maçonaria. Grande parte do que neles se afirma é
pura mentira, inconsciente ou conscientem ente impressa
em linha de forma. Pouco crédito merece também o li­
vrinho O que é a M açonaria, de Jorge Ramos, Lisboa,
Editorial Minerva, 1975, onde se am ontoam as lendas,
os erros e as imprecisões.
índice

Introduvão.................................................................................................. 5

(3 A Maçonaria no Mundo........................................................................ 19

O A Maçonaria em Portugal até 1935...................................................... 27

O A Maçonaria em Portugal após 1935..................................................... 55

O As instituições paramaçónicas...........................................................65

O Constituições dc Anderson.....................................................................7 1

O Os «landmarks»...................................................................................... 81

Q Os dois principais ritos praticados emPortugal.................................... 95

Dirigentes das maçonarias portuguesas............................................ 101

Bibliografia crítica.............................................................................. 113


D ESAFIOS FR A CTUR A S M EM ÓRIA

BB]
MARIO SOARES
D IÇ Ã O

gradiva
Os “Cadernos Democráticos” são uma colecção que se pretende de divulgação,
portanto, acessível a um vasto público, mas de rigorosa informação, apresentada
num estilo didáctico e atraente para o leitor. Sai sob a chancela da Fundação Mário
Soares. A autoridade científica e cívica dos autores que a subscrevem é uma garantia
suplementar de qualidade. Os •‘Cadernos Democráticos” versam temas de grande
actualidade, mesmo quando têm a ver com a memória ou a identidade poitugue.sas,
e pretendem responder ao interesse de um público alargado, que privilegia os jovens.

Mário Soares

Condensam-se neste pequeno volume os factos e as ideias pnncipais sobre


Maçonaria e. em parliciilar. sobre a Maçonaria portuguesa. Desde a sua fundação,
na Inglaterra dos começos do século XVIll e no Portugal joanino, ate à actualidade.
a história maçónica tem sido rica e acidentada, oscilando entre períodos de
repressão e períodos de liberdade. A extensa obra maçónica e ainda mal conhecida
e menos compreendida, o que. tambdm neste volume, se pretende acentuar.

H. de Oliveira Marques

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