Simbólico e Doutrinário do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Misticismo (ou mística) é palavra originada do grego
“myo”, que significa “fechar a boca”, e que como mistério (mysterión), da mesma raiz, tem o significado de algo que se percebe, profundamente, no íntimo, mas que não pode ser revelado, ou de que não se pode falar. Misticismo representa uma tendência para a busca de um absoluto, com o qual pretende, o místico, unir-se, moralmente, através de meios simbólicos, e nasce do esforço que faz o homem, para abarcar a realidade absoluta, ou divina, que está em íntima relação com as coisas.
Misticismo é, na realidade, um conjunto de atos e
disposições, cuja finalidade é a união com a divindade, considerada como espírito criador, regulador de tudo que existe. Para atingir esta finalidade, há um complexo sistema especulativo, que procura compreender os atributos divinos, buscando a união íntima com a divindade e a concretização de um Absoluto, ou Ente Único, supremo e onipotente.
O espírito místico não segue a exatidão científica,
dominada pela evidência, pela clareza e pela demonstração real; pelo contrário, ele é nebuloso, totalmente especulativo e atua na esfera do incompreensível e do imponderável. Tudo o que se encontra fora da realidade concreta do homem só pode ser exprimido pelo simbolismo.
As religiões se ligam, intimamente, ao misticismo, que
consiste em experimentar, de modo consciente, a presença e a ação da divindade. As religiões sempre procuraram incrementar o impulso místico, através de práticas que predispõem a um êxtase total, de grande impacto psicológico, estando entre as práticas o jejum, a abstinência, a autoflagelação, a castidade, que, deprimindo as manifestações de atividade física, libertariam a mente, para as especulações referentes à divindade, criando um “estado de graça”, ou de “experiência mística”, nem sempre real, mas sempre psicologicamente funcional. A Maçonaria, mesmo não sendo uma religião e nem ordem mística, também utiliza em seus rituais, na simbologia e na doutrinação, padrões místicos de diversas seitas, associações e civilizações antigas, e principalmente aqueles relativos às religiões e ordens iniciáticas dos povos que representaram o alvorecer das civilizações, desde o século V a.C., e que se concentravam em torno dos rios Nilo, Tigre e Eufrates, e do Mar Mediterrâneo.
A Maçonaria não ´-e uma ordem mística, já que nela a
razão sobrepuja o misticismo. Nascida nas asas das aspirações liberais e libertárias dos povos subjugados pelo poder real absoluto e pelos privilégios do clero, ela, também, é liberal e libertária, evolutiva e adaptável às épocas, racional e democrática. Para sua doutrina, buscou o simbolismo nascido da mística de civilizações perdidas na noite dos tempos; e o simbolismo, fonte de espiritualidade oculta, será, sempre, por mais que a cibernética e a materialidade dominem o mundo, uma LUZ no caminho da humanidade.
II - O Misticismo na Pré História
É aquele situado entre o aparecimento do hominídeo
dotado de cultura e a descoberta da escrita, pois da ciência pré histórica não há documentos escritos. A importância daqueles tempos reside no fato de que foi lá que surgiram os rudimentos da tecnologia, , da magia, da religião e da arte, além das instituições sociais básicas, como governo, família, comércio, normas de direito e moral. Surgem, também, as primeiras manifestações a mitologia e às ideias filosóficas, que juntamente com a religião e a magia concretizaram o misticismo pré histórico.
A princípio, o período da pré história foi dividida em
três épocas: Idade da Pedra, Idade do Bronze, e idade do Ferro. A Idade da Pedra dividida em Paleolítico (Pedra Lascada), Mesolítico (intermediário), e o Neolítico (Pedra Polida). O Paleolítico, por sua vez, foi dividido em Inferior, Médio e Superior. O Período se estende por cerca de um milhão de anos, até o quarto milênio a.C., quando foi descoberta a escrita, pelos sumerianos.
A rápida evolução dos hominídeos se deu desde o início
da pré história, até por volta de 150.000 anos atrás, passando pelos australopitecíneos na África (Australopitecus Africanus), e depois pitecantropíneos. Naquela época já possuíam a indústrias líticas, instrumentos feitos de pedra, e usavam, também, ossos e pedaços de ossos, dentes e carapaças de animais como armas e utensílios. Porém, a grande descoberta foi o uso do fogo há cerca de 500.000 anos atrás. Desse período não conhecidas manifestações místicas ou religiosas.
No Paleolítico Médio surge o Homo Neanderthalensis,
que se distingue pelo aperfeiçoamento da indústria da pedra e maior ritmo de progresso. Desse período vêm os rudimentos da linguagem e o pequeno esboço de organização social. Somente em épocas mais recentes é que surgiram as primeiras manifestações místicas e de caráter religioso. Os homens de Neanderthal enterravam seus mortos com cerimônias fúnebres, e junto deles seus objetos e pertences, o que mostrava a crença em vida futura, fato este que passou a ser constante de todas as religiões e de sistemas filosóficos de doutrinação moral, como a Maçonaria.
No Mesolítico a transição de caçadores e coletores do
Paleolítico, para o de produtores de alimentos do Período Neolítico. A perfeita adaptação do homem às florestas, com incremento da sedentariedade e o início da domesticação de animais, começando pelo cão.
Neolítico, que se estende desde a invenção da escrita
(5.000 a.C), também chamado de Idade da Pedra Polida, quando aprimoraram seus instrumentos de pedra, tornando-os mais afiados. Descobriu-se a utilização da rgila, a tecedura de fibras vegetais, ou de pelos de animais. Porém, o mais importante foi ter dado início a agricultura, deixando de ser apenas caçadores e coletores, passando à condição de agricultores. No fim do período haviam domesticado o cão, o boi, a cabra, o porco, o carneiro e o cavalo.
Nesse período passaram, também, a criador e ao
desenvolvimento do pastoreio, quando se fixaram no solo, passando a viver em moradias de madeiras, pedras, tijolos ou barro, constituindo as primeiras aldeias, reunidos em tribos (grupos de famílias, unidos pelos interesses comuns e laços de sangue). Nele incrementado o misticismo religioso, pois, além dos rituais fúnebres, fortemente religiosos, se deram à prática da magia e a sistematização da adoração de divindades, relacionadas com as forças cósmicas e com os astros visíveis, gerando o politeísmo, característico das primeiras civilizações das Idade dos Metais. O politeísmo daquele período somente tendeu para o monoteísmo, melhor expressão do sentimento religioso, quando a visão unificada do universo foi dada pela filosofia.
Naquela época surgiam os mitos solares, pois sendo o
Astro Rei a fonte da vida, em face de sua atuação sobre todos os seres vivos, o sol era considerado o maior dos deuses dos humanos, e patente a preocupação mística relativa à morte e a uma vida futura, o que viria a ser bastante desenvolvido, posteriormente, pelos sumérios e pelos egípcios.
Apesar do relativo desenvolvimento do sentimento
religioso, o homem do período Neolítico não possuía, ainda, uma classe sacerdotal, o que somente viria a surgir posteriormente, com as sociedades teocráticas dos sumerianos, babilônios, egípcios, persas, e dos hebreus, com a reserva das práticas esotéricas aos sacerdotes, que que impregnavam suas doutrinas com fortes doses de magia, que andava ao lado da religião.
O homem do Neolítico, de certa forma, era mais livre,
porque apesar da crença nos seus mitos e as suas práticas de magia, não era preso a uma classe sacerdotal, como aconteceu com aqueles que vieram posteriormente, que tiveram a sua existência presos aos dogmas religiosos impostos pelas dominantes classes sacerdotais, que embora proibissem o acesso do povo aos seus círculos íntimos, queriam de toda forma ter o privilégio de comandá-los e dominá-los.
Foi no período do Neolítico que teve início o que
chamamos de metafísica, tomada como ciência que trata dos princípios primeiros universais, das coisas de ordem espiritual e corpóreos, em suas categorias gerais e abstratas, relativa a tudo que é transcendental. A idade dos Metais, onde se inicia na História Antiga (história escrita), começa por volta do ano 5.000 a.C, na região da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, no vale do Rio Nilo.
Assim, surgem as primeiras civilizações urbanas, com
estratificação da sociedade, emprego dos metais, uso da escrita, a consolidação do Estado e da religião como instituições definidas, embora não houvesse separação aparente entre o Estado e a religião, sendo aquele totalmente dominado pela religião. Somente os gregos da antiguidade formaram uma sociedade livre da teocracia e das práticas de magia, o que fez deles a civilização mais sólida e mais culta da antiguidade.
No misticismo das antigas civilizações e no caráter
religioso das corporações de artesãos medievais é que está a base da mística iniciática da Maçonaria contemporânea, que, embora não sendo uma religião, tem, nela, a estrutura de todos os sistemas religiosos já conhecidos pela humanidade.
O Rito Escocês Antigo e Aceito –
Castellani, José – 3ª Edição, pg 105 a 113. Editora “A Trolha” Ltda – 2006.