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Religiosidade Medieval

Significado e importância para a sociedade medieval


A religiosidade medieval é um conjunto de crenças, pensamentos, concepções,
idéias e religiões que davam sentido à relação das pessoas com o sagrado, com
algo divino ou superior. Essa religiosidade se manifestava e se expressava nas
sociedades da Idade Média de forma individual ou coletiva através dessas crenças
que possuíam uma intensa relação com a cultura desses povos.

Instituições, grupos e indivíduos


O conjunto de pensamentos religiosos da Idade Média era criado e doutrinado por
diversas instituições, grupos e indivíduos históricos que pregavam práticas, ações e
costumes, de acordo com os seus interesses políticos e culturais. Esses indivíduos
dos povos medievais influenciavam, organizavam e mobilizavam profundamente o
pensamento da sociedade medieval em suas formas de agir, pensar e sentir. Entre
as principais figuras influenciadora do pensamento religioso na Idade Média estão:

Igreja Católica: Instituição religiosa cristã considerada a mais influente da época,


esteve presente nos mais diferentes níveis da sociedade medieval. Com a expansão
do cristianismo, observada durante o fim do Império Romano, a Igreja Católica
alcançou a condição de principal instituição a disseminar e refletir os valores da
doutrina cristã. Muitos de seus valores, práticas e ensinamentos influenciaram
profundamente grande parte dos povos e da população medieval, sendo a sua
influência percebida até os dias de hoje. Além de se destacar pela sua presença no
campo das ideias, a Igreja também alcançou grande poder material. Durante a
Idade Média ela passou a controlar grande parte dos territórios feudais, o que
aumentou as suas posses e influência em diversas regiões européias.
Igreja Ortodoxa: A Igreja Ortodoxa surgiu por volta de 1054, após o Cisma do
Oriente, evento que marcou a divisão entre as igrejas Católica Romana e a Católica
Ortodoxa. Em um cenário de desentendimento, houve a separação oficial entre as
duas igrejas. Durante a Idade Média, a Igreja Ortodoxa foi bastante influente na
Europa Oriental e no Oriente Médio.
Os templários: Foram uma das mais importantes ordens monásticas da Europa
Medieval, entre os séculos XII e XIII. Desfrutavam de prestígio e enormes riquezas
em propriedades e tesouros doados por reis e nobres. Foi fundada com o nome
Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, destaca-se por
seus temidos monges guerreiros que combateram nas Cruzadas e na Reconquista
Ibérica, alegando ser em nome de Cristo. Eram considerados a mais poderosa
ordem religiosa-militar da Idade Média e recebiam vários benefícios da Igreja pela
sua bravura em combate.
Profeta Maomé: Maomé foi um profeta, conhecido por ter sido um importante
idealizador do islamismo, dando origem a essa religião no século VII. Por meio de
suas pregações logo foi alcançando grande influência e adeptos entre os povos do
Oriente Médio e conseguiu impor-se como um dos homens mais poderosos de toda
a Península Arábica. A fé islâmica, doutrinada por ele, rapidamente espalhou-se
pelos continentes asiático, africano e europeu, sendo muito influente nos povos
dessa região até os dias de hoje.
As mulheres: Possuíam um papel secundário na sociedade medieval, eram muitas
vezes ligadas à clandestinidade e eram excluídas de qualquer situação política ou
administrativa. Também eram tidas como pessoas que não tinham capacidade para
governar e exercer funções de liderança na sociedade e não tinham nenhum direito
sobre os seus bens pessoais, visto que estavam presas a uma sociedade patriarcal,
onde os homens tinham poderes e domínios sobre as mulheres.

Crenças e concepções
Nesse conjunto de concepções envolvendo a religiosidade estão a crença em
locais, práticas, entidades e figuras populares que buscavam explicar o mundo ao
seu redor. Dessa maneira, muitos dos costumes dessa época estavam influenciados
pelo pensamento da vida e da morte, do correto e do injusto, do pecado e da
obediência. As principais religiões que influenciavam o pensamento medieval eram
o catolicismo, na Europa e no dito “mundo ocidental”; e o islamismo, na Ásia, África
e em regiões orientais da Europa. Com base em suas concepções sobre a sua
relação com o divino, os povos medievais desenvolveram diversas crenças e
práticas para manifestar a sua religiosidade. Entre essas crenças estão:

Crença em Deus: O catolicismo era muito presente no cotidiano medieval e por


isso a crença na existência de Deus era quase inquestionável. Era tido como uma
idealização e materialização do bem e das coisas mais perfeitas, bondosas e
excelentes que encontramos no mundo. Os valores da Igreja Católica se envolviam
no culto a esse ente superior e os fiéis o deviam devoção e fé diariamente.
Crença no Diabo: Segundo o cristianismo, o diabo seria um anjo do mal e um ser
maligno que corrompia as pessoas. Era uma das figuras mais temidas pelos cristãos
e era antagônico em relação às práticas e aos propósitos de Deus.
Heresia: Foram considerados heresias todos os movimentos religiosos dentro do
Cristianismo que foram condenados pela Igreja Católica por não concordarem com
a ortodoxia estabelecida no catolicismo. Nos primeiros séculos da Igreja, a
contestação e a defesa da fé católica ficaram a cargo de importantes nomes da
época que, por meio da pregação e de seus escritos, procuraram combater os
movimentos heréticos. A partir dessas primeiras heresias, a Igreja reuniu-se em
concílios e determinou a doutrina eclesiástica do catolicismo.As heresias medievais
sofreram forte perseguição da Igreja, principalmente por meio do uso da violênciae
da tortura, quando os meios pacíficos falhavam.
Crença na pureza: A pureza espiritual era definida como a vontade de um indivíduo
buscar a Deus verdadeiramente e também buscar o bem do próximo sem segundas
intenções. Desse modo, a pessoa usa seus dons e talentos para servir aos outros e
servir a Deus, sem querer nada em troca. Essa crença funcionava como uma
conduta ética e espiritual.
Crença no pecado: No cristianismo, o pecado era caracterizado por qualquer
desobediência e ofensa aos valores da Igreja e à vontade de Deus, em especial,
qualquer desconsideração deliberada das leis divinas. Durante a Idade Média, a
Igreja organizou os pecados em sete “pecados capitais”: inveja, gula, ira, soberba,
luxúria, avareza e preguiça. O objetivo dessa estruturação era fixar com clareza os
dogmas da Igreja Católica, preocupada com o avanço do protestantismo na Europa.
Medo da morte e do inferno: No imaginário religioso da sociedade medieval, havia
um grande medo da morte, do inferno, do Diabo, do purgatório, do julgamento
divino, da danação eterna e do Juízo Final. A Igreja Católica explicava esses medos
e mostrava que a salvação para a alma das pessoas estava na devoção aos
costumes e práticas do catolicismo, atrelado ao desejo da população de chegar ao
tão sonhado paraíso.
Crença no fim do mundo: Durante a Idade Média, muitas pessoas possuíam a
crença no fim do mundo e na extinção da raça humana. O livro Apocalipse, muito
popular na época medieval, dizia que o futuro seria negativo e penoso. Tratava-se
do fim do mundo, da chegada do Anticristo e do Juízo final, o momento de
responder pelos atos do passado e quando Cristo vai separar os bons dos ruins
para julgá-los.
Crença no juízo final: O Juízo final é o momento, de acordo com algumas
doutrinas religiosas medievais, do último e derradeiro julgamento de Deus sobre
todos os seres da Terra. O Dia do Juízo, como também é conhecido, costuma ser
comparado ao Apocalipse, principalmente entre os cristãos. Esse evento provocou
muito medo entre os cristãos, que buscavam salvação na Igreja Católica.
Purgatório: De acordo com a teologia católica, é o local entre o inferno e o céu, que
você passa após a morte. Nas tradições pagãs, seria onde a alma é julgada e
purificada, podendo ser um caminho para a salvação. Na Idade Média era
constatado que existiam algumas pessoas que não eram tão más a ponto de serem
considerados indignas de perdão e nem pessoas tão boas a ponto de poderem
desfrutar de uma felicidade imediata, sugerindo que haveria um estado entre o
inferno e o céu onde o perdão poderia ocorrer. O purgatório era descrito como um
local com fogo ardente e gritos de dor, que deveria ser evitado a todo custo. Para
tal, era necessário fazer contribuições à Igreja de forma recorrente.
O paraíso: Na crença medieval, o paraíso era um local onde permanecem as almas
dos bem-aventurados após a morte. Era tido como um lugar de recompensa das
almas dos homens, repleto de felicidade, onde haveria paz e sossego. A crença no
paraíso aproximou os fiéis dos valores da Igreja Católica.
Crença nas bruxas: Mulheres que realizavam práticas religiosas e médicas, além
de alquimia, que eram claramente contra os ensinamentos da Igreja eram ligadas à
idéia de mulheres amaldiçoadas, relacionadas a poderes mágicos e malignos, ou
seja, bruxaria. Essas mulheres eram muitas vezes torturadas e recebiam punições
muito severas, como a queima na fogueira, que possuía uma função “didática” para
impedir e amedrontar novas ocorrências de práticas ligadas à bruxaria, além de
supostamente “libertar a alma da mulher corrompida pelo Diabo”, por exemplo.
Ocorreram diversas outras crenças e concepções durante a Idade Média que
mostravam como as pessoas dessa época manifestaram a sua relação com
entidades divinas, porém, durante esse período, as idéias e pensamentos acolhidos
pela Igreja Católica eram os que predominavam no mundo ocidental, principalmente
na região da Europa.

Práticas, ações e costumes


As instituições religiosas pregavam diversas práticas e costumes motivadas e
favorecidas pelas crenças, além da crença em várias entidades e deuses.
Essas crenças motivaram e favoreceram várias práticas, ações e costumes diversos
movimentos culturais durante a Idade Média que mostravam a influência da religião
na vida das pessoas. Por exemplo, na cultura e na arte gótica existia a presença de
diversas entidades e figuras do catolicismo, além da retratação de diversos
momentos importantes da Bíblia. Entre outros movimentos relevantes da Idade
Média estão:

Inquisição: A Inquisição foi um movimento político e religioso que ocorreu entre os


séculos XII ao XVIII na Europa e nas Américas. O objetivo era buscar o
arrependimento daqueles considerados hereges pela Igreja e condenar as teorias
contrárias aos dogmas do cristianismo. No contexto da expansão do cristianismo e
dos católicos na Europa, veio a necessidade de unificar o meio religioso e o
combate ao que estava contrário aos interesses, práticas e costumes da Igreja
Católica. A inquisição foi marcada pela prática da tortura e perseguições contra
pessoas considerada inimigas da Igreja.
As Cruzadas: As Cruzadas foram uma série de conflitos e expedições religiosas e
militares, ocorridas entre os séculos XI e XIII, cujo principal objetivo era resgatar a
Terra Santa, que estava sob o domínio islâmico, para os cristãos. Jerusalém foi uma
cidade que ao longo de sua história foi palco para grandes acontecimentos da
humanidade. Pela sua localização, foi disputada por grandes reinos e governada por
assírios, babilônios, persas e outras grandes civilizações, porém só ganhou mais
destaque a partir da disseminação do cristianismo. Entre os séculos XI e XIII, houve,
ao todo, nove cruzadas. Os cavaleiros templários que participaram das expedições
ganhavam a indulgência, ou seja, o perdão de seus pecados, o que levou a milhares
de pessoas a se prontificarem para o combate. Ao longo dos anos, as demais
cruzadas foram uma sucessão de fracassos. Uma de suas principais consequências
foram as aberturas de novas linhas de comércio entre o Oriente e o Ocidente
europeu.
Comércio religioso e venda de indulgências: A Igreja Católica realizava diversas
práticas controversas durante a Idade Média. Uma de suas práticas mais
questionadas era a venda de indulgências, que era um pagamento monetário pelo
perdão espiritual dos pecados concedido pela Igreja Católica. Outra prática bastante
criticada era a venda de bens e pertences sagrados ou que supostamente
pertenciam a alguma figura religiosa importante. Esses itens eram vendidos a
preços exorbitantes e muitas vezes eram materiais falsos. Esse era um mecanismo
criado pela Igreja para obter vantagens econômicas e políticas na época medieval.
Ritos e rituais religiosos: Os rituais religiosos eram muito importantes para os
povos medievais, pois eram uma maneira de manifestar a sua fé e se comunicar,
agradecer ou pedir ajuda, por exemplo, às entidades superiores que não estavam
ao seu alcance de forma física, mas sim espiritual. Dentre as várias religiões desse
período, pode-se perceber uma grande variedade de ritos com várias funções e
significados diferentes, dependendo do objetivo do culto.
Seitas e heresias: Segundo a Igreja Católica, uma heresia é toda doutrina religiosa
que contraria os princípios da fé estabelecidos pela própria Igreja. Durante a Alta
Idade Média (séculos V a X), ocorreram vários movimentos heréticos e, a partir da
Baixa Idade Média (século XI-XV), eles ganharam força. Uma das punições que a
Igreja realizava contra quem praticava a heresia era a excomunhão. A excomunhão
significava expulsar e proibir o fiel de continuar frequentando alguma comunidade
religiosa da Igreja Católica. O excomungado ficava proibido de continuar sua filiação
com a igreja, de participar dos rituais de sua fé e de frequentar a comunidade
religiosa. No período medieval, quando a Igreja Católica exercia enormes poderes,
ser excomungado significava ser banido da sociedade.
Caça às bruxas: A caça às bruxas foi a perseguição da Igreja Católica contra as
mulheres que supostamente possuíam poderes sobrenaturais. A Igreja liderou uma
grande investida contra mulheres que de alguma forma haviam ferido as
expectativas sociais, políticas ou religiosas, normalmente de classe social mais
humilde. A Igreja também apoiava as ações necessárias para livrar a cristandade
dos praticantes de bruxaria e para isso punia de forma bastante severa qualquer
pessoa suspeita de praticar feitiçaria. Algumas das punições mais comuns eram a
tortura, o enforcamento e a incineração de mulheres em locais públicos.
Castidade: A castidade significava pureza sexual, ou seja, para ser casta, a pessoa
deve ser moralmente limpa em pensamentos, palavras e atos. Significa não ter
nenhuma relação sexual antes do casamento e completa fidelidade entre marido e
mulher no casamento.
Influências na arquitetura e na arte: Durante o período medieval, observamos a
forte influência religiosa em edifícios e obras que possuem a arte gótica. A utilização
de imagens sagradas também serviu como um importante instrumento didático para
reforçar os valores de subserviência e temor ligados ao pensamento cristão. Tais
ações sistemáticas foram importantes para que o número de fiéis abnegados
atingisse números expressivos, o que foi influenciando o modo de pensar das
pessoas medievais ao longo de vários séculos.

A religiosidade é um fator fundamental para a compreensão dos povos da Idade


Média e de suas crenças e práticas. Muitos de suas concepções permanecem até a
atualidade, sendo influentes em toda a sociedade global e consequentemente em
suas ações religiosas no mundo de hoje.

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