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AULA 2
A Era Medieval recebeu o título de “Idade das Trevas”, pois foi um período
em que a cultura dos homens ocidentais ficou subordinada à exposição e à
defesa da fé cristã. Aqueles que discordavam dos pensamentos religiosos foram
intitulados de hereges, o que gerou, no decorrer dos séculos, o surgimento dos
tribunais da Inquisição.
No entanto, a Idade Média é maior do que esse título negativo, e as
influências cristãs são igualmente bem mais diversas. A cosmovisão ocidental
atual mantém as bases da civilização greco-romana, pois busca organizar a
sociedade mediante um conhecimento racional da realidade que nos cerca, e os
valores da religiosidade judaico-cristã permanecem sendo um pressuposto ético
fundamental dos povos do Ocidente.
Essa perspectiva existencial racionalista e religiosa foi estruturada nos
primeiros 1.500 anos do cristianismo, a partir dos pensamentos clássicos de
Platão e Aristóteles, utilizados para explicar os princípios e dogmas essenciais
da fé cristã, nos movimentos desenvolvidos pela patrística e a escolástica. Nesse
contexto, os períodos patrístico (anos 100 a 451) e escolástico (1300 a 1500)
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são considerados aqueles em que ocorreram alguns dos movimentos religiosos
e intelectuais mais importantes da história.
No âmbito político e social, o poder imperial romano se tornou um braço
governamental eclesiástico do cristianismo assim que o Imperador Galério (311)
fez cessar a perseguição aos cristãos e Constantino promulgou o Edito de Milão
(313), oferecendo liberdade de culto público à fé cristã, iniciando a reconciliação
entre Igreja e Estado. O imperador e o Estado vieram a apoiar os debates
teológicos no objetivo de que houvesse uma igreja unida em todas as regiões do
Império, o que fez a teologia cristã atingir seu apogeu ao definir nos credos
ecumênicos os fundamentos de sua fé religiosa (McGrath, 2005, p. 43). Segundo
Nauroski (2017, p. 34), o Estado e as autoridades políticas se tornaram bastante
dependentes do cristianismo institucional, situação em que os reis eram
coroados pelo papa e as disputas entre os povos eram decididas pela Igreja, o
que fez surgir a seguinte declaração: “Roma locuta, causa finita est”, que
significa “Roma falou, a questão está encerrada” – uma expressão símbolo da
Idade Média.
Enquanto o Estado se apoiava na autoridade religiosa para sustentar a
unidade política, a religião desenvolvia a centralização administrativa imperial
para fortalecer sua autoridade espiritual, por meio da distinção entre o
pensamento teológico que originava da autoridade central e o que era oriundo
de outros pensamentos, conforme Shelley (2004): “o Cristianismo católico era
universal e contrastava com o local; e o ortodoxo contrastava com o herético”.
Nesse contexto, também podemos refletir acerca da maneira como o
cristianismo utilizava a razão para desenvolver e definir sua fé, pois as
conclusões sobre suas crenças igualmente iriam distinguir o pensamento correto
(ortodoxo) do errado (heresia). Para o escritor inglês Charles Williams, “existe a
intenção de que o homem debata com Deus”, frase pela qual apresenta um dos
princípios que sempre mantiveram as reflexões teológicas como um dos valores
centrais capazes de unir os valores culturais da razão e da religião no
desenvolvimento das civilizações ocidentais. Pois todo conhecimento deveria ser
racional no sentido de que é coerente e consciente, e nesse aspecto e
perspectiva, a teologia se origina de duas palavras gregas – theos (Deus) e logos
(estudo racional) –, indicando que, no Ocidente, a religião é a crença e o desejo
de praticá-la, ao passo que a teologia é a explicação racional (coerente) da
crença: é pensar sobre a religião.
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Com base nessa compreensão, analisamos a origem e as consequências
de dois termos religiosos importantes: heresia e católica. O primeiro dizia
respeito à compreensão enganosa ou equivocada da teologia, que poderia
conduzir a uma “má religião”. Isso fez surgir, em contraponto, a ortodoxia, que
no cristianismo foi o termo que se referia ao pensamento da maioria, que deveria
ser o padrão reto, correto. Foi a partir dessa definição que igualmente surgiu a
expressão católica, que significa universal, um termo que veio auxiliar no
desenvolvimento do pensamento teológico acerca da religião, que seria aquele
relacionado ao entendimento mais universal e menos local, mais ortodoxo e
menos herético, o qual se tornou fundamental para o estabelecimento de uma
nova religião na civilização ocidental, pois esta requeria alicerces intelectuais
para sua aceitação e consolidação, especialmente na cultura greco-romana do
Império.
Portanto, eis a origem e a importância da expressão católica, universal,
no sentido de conter em si uma expressão completa e unitária acerca da boa
teologia que deveria gerar a boa religião, ou boa vida cristã (Shelley, 2004, p.
53, 54). Pois, “no final do século II, o termo católico era amplamente usado no
sentido de que a Igreja Católica era universal, em oposição às congregações
locais, e ortodoxa, em contraposição aos grupos hereges” (Shelley, 2004, p. 32).
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TEMA 2 – O DESENVOLVIMENTO INICIAL DO FEUDALISMO
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podia produzir e desenvolver; não havendo mais comércio e circulação de
moedas, o que exigia que cada região produzisse todo o alimento e vestuário de
que necessitava para a sua população.
Foi dentro desse contexto que as terras se tornaram a principal fonte de
renda e de riqueza na sociedade europeia ocidental medieval, o que gerava
disputas dos grandes proprietários para aumentar seu território, ao passo que os
pequenos tentavam manter suas posses. Esse era o ambiente social e político
do surgimento do feudalismo (González, 2011, p. 316-317).
As relações sociais definidas pelo feudalismo, que desenvolviam um
compromisso entre os senhores feudais (donos de terras) e servos rurais
(vassalos), geravam uma situação em que as disputas eram decididas pelos
nobres de cada região, o que também fazia a obediência dos vassalos mudar de
um senhor para outro. Nesse sentido, percebemos como a Europa se tornou um
continente bastante fragmentado em sua organização civil, e os monarcas
governavam seus territórios com uma autoridade cada vez mais fragilizada
diante da população (González, 2011, p. 318).
A dinâmica social feudal dessa época ocorria nas localidades que surgiam
ao redor dos moinhos dos proprietários rurais e junto aos castelos dos nobres. A
Igreja participava dessa ordem por meio de uma presença localizada ou da visita
de sacerdotes que iam administrar os sacramentos, regulando assim a vida
religiosa dos cidadãos. Eis o modo como se integravam comunitariamente os
três grupos sociais do feudalismo durante a Idade Média na Europa.
Todo sólido trono real se mantém sobre três pilares: o primeiro são os
oratores, o segundo os laboratores e o terceiro os bellatores. Os
oratores são os homens das preces, que dia e noite devem rezar a
Deus e suplicar por todo o povo. Os laboratores são aqueles que
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trabalham para proporcionar o necessário para a vida do povo. Os
bellatores são os homens de guerra, que lutam com armas para
defender sua terra. Todo trono real deve manter-se com justiça sobre
estes três pilares. (Ermini, 2007, p. 32)
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facilmente às heresias; os cristãos orientais entendiam que os papas romanos
se elevavam como autoridades universais, e não somente como patriarcas do
Ocidente.
Nesse contexto, as denúncias do enviado do papa romano, Cardeal
Humberto, em relação ao patriarca oriental, Miguel Cerulário, acerca do uso de
pão sem fermento na ceia, violações do celibato e venda de cargos geraram
debates inflamados que resultaram no momento em que o cardeal deixou sobre
o altar o documento de excomunhão da autoridade oriental, culminando com o
ato final da divisão das igrejas (González, 2011, p. 325).
3.2 As cruzadas
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Esses seljuks (turcos islâmicos) seguiram para a Ásia e despojaram o
imperador até assumir o domínio da região. Isso levou o imperador oriental
Alexius I a enviar um documento solicitando ajuda ao Papa Urbano II, em 1095,
que fez uma pregação no concílio de Clermont, França, dando início à primeira
cruzada. Esta foi recebida com grande ânimo pela população, que finalizou a
reunião aos gritos de “essa é a vontade de Deus”, “Deus Volt!”. A partir daí, entre
os séculos 11 e 13 houve sete grandes cruzadas lideradas por papas a partir da
Europa Ocidental – a primeira foi apoiada por nobres feudais da Alemanha,
França e sul da Itália, que avançaram até a região de Constantinopla (Shelley,
2004, p. 211).
É importante destacar que havia um componente religioso e psicológico
que moveu essas expedições numa cruzada de milhares de homens de toda a
Europa seguindo em direção à Terra Santa, a qual tinha suas bases numa
mensagem cristã medieval que anunciava a gravidade do pecado da
humanidade e sua consequente condenação eterna. Tal cenário fazia os cristãos
reagirem em busca de se livrar dessa maldição mediante a prática de
penitências, entre as quais a mais comum sempre foi a participação nas
peregrinações (viagens) aos lugares santos (Damião, p. 432).
Segundo González (2011), o movimento religioso tradicional do
cristianismo das peregrinações à Terra Santa fortaleceu as cruzadas. Uma das
questões importantes a serem debatidas era se os cristãos poderiam participar
de batalhas diante dos homens, um tema já tratado por Agostinho, que
desenvolvera a “teoria da guerra justa”, orientando acerca da maneira como os
cristãos poderiam se envolver em atos bélicos. Essa compreensão fez com que
bispos apoiassem agrupamentos que se dirigiam para batalhas no período
medieval dos primeiros séculos, o que também redundou no apoio papal às
batalhas de Carlos Magno.
Essa mesma perspectiva foi desenvolvida pelo Papa Leão IX quando
esteve junto das tropas diante dos normandos, e que também nortearam as
tentativas cristãs de expulsar os mouros da Espanha. Ideias e entendimentos
foram importantes para o Papa Urbano II autorizar e promover a primeira
cruzada, a qual ele o fez com as seguintes palavras:
Eu o digo aos presentes e ordeno que seja dito aos ausentes. Cristo
está mandando. Todos os que forem e lá perderem a vida, no caminho
por terra ou no mar, ou na luta contra os pagãos, terão perdão imediato
dos seus pecados. Isto eu concedo a todos os que marcharem, em
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virtude do grande dom que Deus me tem dado. (González, 2011, p 362-
363)
4.1 O escolasticismo
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Um dos precursores do escolasticismo foi Pedro Abelardo, que escreveu
diversas obras teológicas, com destaque para textos sobre a expiação (sacrifício
para redimir os homens) de Cristo e de doutrinas éticas que davam grande valor
ao interesse que deveria mover as atitudes dos homens. Ele se tornou um dos
pioneiros da reflexão escolástica a partir da escrita da obra Sim e Não, com
questões teológicas em que apresentava a possível contrariedade entre as
declarações de diversas autoridades cristãs históricas, tanto bíblicas quanto dos
pais da Igreja, defendendo a necessidade de que esses textos deveriam ser
analisados pela razão a fim de que fosse possível buscar uma concordância
ampla de seus temas.
O método de Abelardo foi utilizado por pensadores do escolasticismo do
século 13, numa dinâmica que consiste em: apresentar uma questão; coletar as
respostas dadas por diversas autoridades ao tema; distinguir entre eles os que
pensam distintamente uns dos outros; e buscar uma conclusão, na qual o teólogo
escolástico anuncia seu entendimento e já explica a forma em que os contrários,
na verdade, não se opõem a essa colocação (González, 2011, p. 414).
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A primeira forma de monasticismo foi o eremita solitário. A palavra
eremita vem da palavra grega que designa deserto e nos faz lembrar
que o afastamento monástico do mundo começou no Egito, onde uma
pequena caminhada para o leste ou oeste para a faixa de terra
fertilizada pelo Nilo levaria o monge a um rigoroso deserto.
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TEMA 5 – OS ÚLTIMOS SÉCULOS DA IDADE MÉDIA – PERÍODO DE
TRANSFORMAÇÕES
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Segundo esse mesmo autor, o surgimento da peste trouxe diversos
prejuízos a várias regiões da Europa, pois havia falta de produtos em alguns
lugares pela morte de trabalhadores, enquanto em outros havia acúmulo de
produção pela falta de compradores. A consequência foi um amplo e geral
desequilíbrio social e econômico que produziu grande instabilidade política, com
revoltas populares ocorrendo em Paris, Inglaterra e Flandres, além de disputas
entre artesãos e seus aprendizes, com o crescimento das greves e o aumento
dos preços (González, 2011, p. 448-449).
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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Vimos como a Europa experimentou diversas mudanças desde o século
11 em sua economia e sociedade, por meio do reaquecimento comercial aliado
a um fortalecimento dos centros urbanos. Essa nova realidade foi incrementada
com o surgimento de novas lideranças civis a partir do século 13, as quais
trouxeram estabilidade à região europeia, incentivando novas relações
comerciais com outros continentes.
Nesse contexto, enquanto as relações sociais e econômicas do
feudalismo se mantinham fortes nas áreas rurais, as cidades observavam o
crescimento da economia urbana e o aumento da população, fatores que
motivaram o desenvolvimento de melhorias na administração pública municipal.
Foi o período de transição entre a antiga sociedade feudal até o surgimento e
consolidação de uma organização social baseada no livre comércio e no
fortalecimento político de outras classes sociais, o que redundou na ascensão
da burguesia no Ocidente.
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REFERÊNCIAS
NAIROSKI,
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