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FILOSOFIA

Filosofia medieval

Situação problema: Tradicionalmente, o capítulo da História da humanidade relativo ao tema conflito


entre razão e fé é atribuído a um período medieval em que se travava um confronto entre os adeptos
da boa nova, isto é, a religião cristã, e seus adversários moralistas gregos e romanos, na tentativa de
imporem seus pontos de vistas. Para estes, o mundo natural ou cosmos era a fonte da lei, da ordem e
da harmonia, entendendo com isso que o homem faz parte de uma organização determinada sem a
qual ele não se reconhece e é através do logos que se dá tal reconhecimento. Já para os cristãos, a
verdade revelada é a fonte da compreensão do que é o homem, qual é sua origem e qual o seu
destino, sendo ele semelhante a Deus-pai, devendo-lhe obediência enquanto sua liberdade consiste
em seguir o testamento (aliança). Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-conflito-entre-fe-razao.htm

Pergunta-se: A Teologia não é mais considerada ciência, mas sim um complexo de proposições
mantidas em vinculação não pela coerência racional, e sim pela força de coesão da fé?
Filosofia medieval

O movimento do cristianismo configurou o desejo


de unidade como o ideal de um Estado universal. E
desde o final de o Império Romano, momento em
que o cristianismo se torna religião oficial, ocorre a
intensa ligação entre Estado e Igreja, sob o
fundamento de um poder de origem divina.

(ARANHA;MARTINS, 2003, p. 228)


Fragmentação política e descentralização do poder

Nesse contexto, a Igreja exerce grande influência com o


monopólio do saber.
O conhecimento produzido pela cultura greco-latina
ficou confinada aos mosteiros, ressurgindo lentamente
após o Séc. VIII, período denominado de Renascimento
Carolíngio, em que Carlos Magno determina a criação
de escolas junto às igrejas e mosteiros.
Quais as origens da filosofia cristã?

Mas como o helenismo contribuiu?

Contribuiu oferecendo o pano de fundo político e


cultural que permitiu tal aproximação e propiciou o
advento de uma filosofia cristã. O espírito do
sincretismo em Alexandria foi decisivo.
Quais as origens da filosofia cristã?

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Quais as origens da filosofia cristã?

A literatura observa a figura de Fílon de Alexandria (25


a.C. – 50 d.C.), judeu helenizado, produziu comentários
ao pentateuco a partir de observações filosóficas do
platonismo, aproximando as duas culturas: grega e
judaica.
Cristianismo

O cristianismo se desenvolveu ao longo de alguns séculos,


através de pregadores e se consolidou com o Imperador
Constantino, convertido em 337.

Os fiéis se reuniam nos centros urbanos em torno de líderes


locais e, segundo autores, sem uma unidade, seguiam
diferentes interpretações. Essa seria a origem do termo
igreja do grego ekklesia que significa reunião ou assembleia.

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-
quem-foi-constantino-o-grande-imperador-cristao.phtml
Cristianismo

Dessa diversidade, surgiu a necessidade de


uma integração, uma unidade institucional
e doutrinária capaz de conferir unidade ao
cristianismo emergente.

Esse papel passa a ser ocupado pela


Filosofia que colabora na construção de
uma doutrina única para dar fim as
divergências.

(MARCONDES, 1997, p. 107)


Quais os primeiros filósofos cristãos?

A escola neoplatônica de Alexandria que


buscaram a síntese entre o platonismo e os
cristianismo: Clemente de Alexandria e
Orígenes, dentre outros.
Primeira fase da
Filosofia medieval Patrística
Principais períodos da Idade Média

Patrística:
•Fase em que há o esforço dos primeiros filósofos para conciliar o
cristianismo com a Filosofia grega;
•Tarefa de evangelização;
•Introduzem a ideia de criação do mundo, pecado original etc.;
•Explicação do mal no mundo, consciência moral e livre arbítrio;
•Conflito entre Fé e Razão.

Expoente:
Agostinho de Hipona (354-430)
Santo Agostinho

Bispo da cidade de Hipona, no norte da África, foi o


pensador mais importante na consolidação de uma
filosofia cristã. Este pensador aproximou o cristianismo
e a filosofia de Platão, a partir da ótica dos pensadores
de Alexandria.

Segundo relatou nas Confissões, foi o diálogo de Cícero,


Hortensius, que o teria despertado para o
conhecimento filosófico. Era maniqueísta, religião
persa. Viveu na Itália, onde conheceu Ambrósio, bispo
de Milão, estudou Plotino e as Epístolas de São Paulo.
Em 386, converteu-se ao cristianismo.
Santo Agostinho

Suas obras mais importantes:


As confissões
A cidade de Deus
Santo Agostinho

Importância:

1. Relação entre Filosofia e Teologia (razão e fé);


2. Teoria do conhecimento ( subjetividade e
interioridade);
3. Teoria da História na obra Cidade de Deus.
Agostinho

A Cidade de Deus: crítica ao Império Romano, à


religião pagã e sua corrupção moral e apresenta sua
doutrina cristã aproximando-a do platonismo;
As duas cidades: a dos homens lugar do erro e a de
Deus destino do povo de Cristo;
História humana como guerra: conflito entre a
cidade humana e a de Deus com a vitória de Deus
em que há a fé cristã;
Agostinho

Ética de Agostinho:
• Teoria ética do amor;
• Cristianizou a ética e colocou Deus como fim último;
• Jesus introduziu o amor e Paulo universalizou o pensamento
de Jesus;
• O amor é a base das virtudes para felicidade como beatitude
no post- mortem;

Ex. Filme Em nome de Deus – Abelardo e Heloisa – ética do


amor. A moral está nas intenções e não nos atos.
Concluindo Agostinho...

Este pensador assinala o vértice do pensamento da Patrística. Nos ofertou o


filosofar na fé, a partir da leitura de Plotino que mudou o seu modo de pensar
rompendo com sua visão maniqueísta do bem e do mal. A sua conversão mudou
seu modo de viver.
Segunda fase da
Filosofia medieval Escolástica
Escolástica: ( séc. XII e XIII)

•Influência dos pensadores árabes, judeus e


europeus;
•Domínio da Igreja Romana sobre a Europa;
•Redescoberta dos textos gregos originais;
•Criação das universidades;
•Termo escolástica designa todos os que pertencem
a uma escola de pensamento.
Escolástica: ( séc. XII e XIII)

•Em 1070, a reforma gregoriana, operada por


Gregório VII, estabeleceu que em cada abadia e
catedral tivesse uma escola em que se ensinavam os
elementos da cultura básica da época: Trivium
(gramática, lógica e retórica) e quadrivium (música,
geometria, aritmética e física);
Escolástica: ( séc. XII e XIII)

•As ordens religiosas estavam espalhadas por toda a


Europa;
•Falava-se o latim entre os eruditos;
•Os abades e priores de conventos eram
verdadeiros senhores feudais.
Expoentes da escolástica

Santo Anselmo (1033-1109) que se preocupou em


articular fé, razão e revelação;

São Tomás de Aquino (1224-1274) que


compatibilizou o aristotelismo com o cristianismo.
A influência árabe

A influência do pensamento árabe foi decisivo para


a reintrodução do pensamento de Aristóteles na
filosofia cristã. O pressuposto dessa influência
repousa sobre a difusão da cultura grega no Oriente
Médio desde o Império Alexandrino.
Influência árabe

Considera-se a influência árabe a responsável pelo


grande desenvolvimento da filosofia escolástica no
séc. XIII. Observa-se que dos séc. VIII a X conhecia-
se apenas alguns textos de Platão e Aristóteles e os
comentários neoplatônicos. Os árabes conheciam
toda a obra de tais pensadores e se dedicaram a
traduzi-la e interpretá-la. Dentre os grandes
estudiosos destacaram-se:
Influência árabe

Dentre os grandes estudiosos destacaram-se:

Al-Farabi, no séc. X;
Avicena, na Pérsia;
Al-Gazali, na Pérsia;
Averróis, em Córdoba ( principal comentador de
Aristóteles).
Influência árabe e o neoaristotelismo

Durante os séc. XII e XIII, o interesse pelo


pensamento aristotélico foi crescente, a despeito da
influência neoplatônica e das condenações
proferidas pelos bispos da época sobre a leitura de
Aristóteles, especialmente as interpretações dos
árabes.
A alta Escolástica

A Europa dos séc. XI-XII desenvolveu intensa


atividade artesanal e comercial acompanhada da
progressiva imigração do campo devido a crises,
conduz ao crescimento da população urbana. Nas
cidades passa-se a vivenciar maior liberdade num
novo tipo de convívio social diferente dos feudos.
A alta Escolástica

O pensamento aristotélico, mais científico e


empírico, torna-se o saber adequado aos novos
tempos.
Do ponto de vista filosófico, Danilo Marcondes
(1997) destaca dois fatores importantes do séc. XIII:
O surgimento das universidades e a criação das
ordens religiosas dos franciscanos e dominicanos.
A alta Escolástica

As universidades

As universidades surgem do gradual


desenvolvimento das escolas criadas junto ás
abadias e mosteiros. O crescimento dos núcleos
urbanos conduz a uma demanda por educação, seja
no sentido religioso para combater a heresia, seja
no sentido laico relacionado aos novos tempos.
A alta Escolástica

O termo universitas designa o conjunto de mestres


e alunos oriundos de diversos lugares da Europa
para desenvolver um studium generali ou
universale que designava a reunião de alunos e
mestres de diferentes regiões ligados a uma ordem
religiosa.
A alta Escolástica

O currículo fora desenvolvido a partir do trivium e


quadrivium enriquecidos pelo pensamento
aristotélico árabe, apesar das proibições
supervenientes.
A Igreja passa a valorizar as universidades como uma
boa oportunidade para combater a heresia e esta
nova consciência potencializada com a decadência
política do mundo árabe resulta no deslocamento da
produção filosófica para o Ocidente cristão
(MARCONDES, 1997, p. 125-6).
Tomás de Aquino (1224-1274)

A literatura reputa à Tomás de Aquino grande


criatividade e originalidade. Desenvolveu um
pensamento sistemático investigando questões
filosóficas e teológicas de sua época a partir do
pensamento aristotélico ofertado por Averróis a
quem denominou de “o Comentador”. Foi professor
da universidade de Paris, além de frade dominicano.
Tomás de Aquino (1224-1274)

Assim, compatibilizou a filosofia de Aristóteles e o


cristianismo, aperfeiçoando o pensamento cristão.
Em 1323, foi canonizado e, no período da
Contrarreforma, o Concílio de Trento, 1567, o
considerou com o título de Doutor Angélico.
Tomás de Aquino (1224-1274)

Obras mais importantes

Sobre o ente e a essência (1242-3)


Sobre a verdade (1256-59)
Summa theologica (1265-73)

O seu pensamento é censurado junto com a censura


à Aristóteles e fortemente criticado por pensadores
medievais ortodoxos. Através da Ordem Dominicana
seus escritos continuaram a ser estudados.
Aquino

Para ele, a racionalidade grega liga-se à fé cristã e o fundamento


pode estar em quatro tipos de leis: a lei eterna, a lei natural, a lei
humana e a lei divina.

O ponto central da ética aquiniana é o conceito de lei natural


baseada em Aristóteles e na identificação da razão humana com
o logos universal.

A sabedoria divina raciocina mediante leis eternas e a lei divina é


a expressão de decretos sagrados como os 10 mandamentos. A
mente raciocina e aprende a lei natural.
Aquino

• A virtude está em obedecer os mandamentos ( leis =


judaísmo; virtude = gregos);
• Ética liga-se ao hábito, o caráter, virtudes morais e intelectuais
que podem ser ensinadas e as virtudes teologais ( fé,
esperança e caridade) infundidas por Deus;
• Fé é a crença; esperança é a confiança na vida eterna;
caridade, o amor a Deus e através dele a todas as criaturas;
• As virtudes teologais são dádivas divinas e na ordem da
perfeição a caridade é a virtude mais perfeita;
Concluindo Aquino...

Este pensador marcou o ponto culminante da


Escolástica. O Objeto primário de suas reflexões é
Deus, não o homem ou o mundo. Discute-se se
podemos verificar em seu pensamento uma certa
autonomia da filosofia em relação à teologia.
Concluindo Aquino...

A Filosofia tem sua autonomia, mas não exaure tudo


o que se pode conhecer. Fornece um conhecimento
que é imperfeito e a Teologia estaria em condições
de esclarecer sobre a vida eterna. A fé melhora a
razão como a Teologia melhora a Filosofia, não a
substitui. Para ele, há algumas verdades que
superam a razão humana.
Concluindo Aquino...

Aquino tinha a convicção de que, apesar de sua


radical dependência de Deus no ser e no agir, o
homem e o mundo gozam de uma relativa
autonomia, sobre a qual deve-se refletir com os
instrumentos da razão pura, fazendo frutificar todo o
potencial cognoscitivo para responder à vocação
original de “conhecer e dominar o mundo”.
A questão dos universais: nominalismo

O problema dos universais versava sobre a


indagação acerca de os conceitos serem ou não
realidades ( res) ou palavras ( vocis).

O universal, conceito, ideia comum a todas as coisas


que indicamos pelo mesmo nome, é algo real ou não
será apenas um ato simples de nossas mente
expresso por um nome?
A questão dos universais: nominalismo

Temos três respostas possíveis:

• Nominalismo: o universal é puro nome, vocis, não


existe, são apenas nomes sem realidade;
• Realismo: os universais existem objetivamente e
transcendem os objetos particulares;
• Conceitualismo: os universais são conteúdos da
nossa mente, representações do intelecto
(Abelardo);
Estudo de Caso: Razão X Fé

Tradicionalmente, o capítulo da História da humanidade relativo ao tema conflito entre razão e


fé é atribuído a um período medieval em que se travava um confronto entre os adeptos da boa
nova, isto é, a religião cristã, e seus adversários moralistas gregos e romanos, na tentativa de
imporem seus pontos de vistas. No entanto, pode-se levantar a questão de que esse conflito
entre fé e razão representa apenas um momento localizado na história, ou permanece
presente até os dias de hoje? Será possível conciliar Fé e Razão?

Elabore em cinco linhas, no mínimo, argumentos filosóficos que apresentem os desafios da


relação entre razão e fé na contemporaneidade.

(https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-conflito-entre-fe-razao.htm)
Sugestões de vídeos do youtube

O nome da Rosa:
http://www.youtube.com/watch?v=tNGa0GTYFpQ&feature=related

Cruzadas: (cenas escolhidas)


http://www.youtube.com/watch?v=lPW-uc1Muxs&feature=related
Referências
ARANHA, M. l. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3.ed.,São
Paulo: Moderna, 2003.

MARCONDES, D. Iniciação á história da Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

REALI, G. et al. História da Filosofia. São Paulo: Paulinas, 1990. Vol. I.

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