Você está na página 1de 5

15/02/2024

1 FILOSOFIA MEDIEVAL
PROF. JÚLIO CÉSAR FREITAS

2 UMA CARACTERIZAÇÃO DA FILOSOFIA MEDIEVAL


 A filosofia medieval corresponde ao longo período histórico que vai do final do helenismo
(sécs. IV-V) até o Renascimento e o início do pensamento moderno (final do séc. XV e séc. XVI),
aproximadamente dez séculos, portanto. Na verdade, contudo, a maior parte da produção
filosófica da Idade Média, o que realmente conhecemos como “filosofia medieval”, está
concentrada entre os sécs. XII e XIV, período do surgimento e desenvolvimento da escolástica.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2 ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2007, p. 105.

3 A “IDADE DAS TREVAS”


 Durante muito tempo a Idade Média foi conhecida como a “Idade das Trevas”, um período de
obscurantismo e ideias retrógradas, marcado pelo atraso econômico e político do feudalismo,
pelas guerras religiosas, pela “peste negra” e pelo monopólio restritivo da Igreja nos campos da
educação e da cultura. Entretanto, a arte gótica com suas catedrais, a poesia lírica dos
trovadores e a obra de filósofos de grande originalidade como Pedro Abelardo, são Tomás de
Aquino e Guilherme de Ockham, mostram o quão errônea é esta imagem.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2 ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2007, p. 105.

4 A FORMULAÇÃO DO TERMO LATINO
PHILOSOPHIAE MEDII AEVI
Petrarca (1373) foi o primeiro a usar a expressão medium tempus para designar o período que
decorre entre o tempo do Império romano e a época renacentista no século XIV.
A expressão latina « medii Aevi »,ou seja, Idade Média, foi cunhada somente no século XV,
momento em que surge a noção de filosofia Medieval propriamente dita. A gênese do conceito
situa-se no contexto da Renascença italiana, embora o humanista Flavio Biondo já havia
indicado a existência de uma unidade dos textos filosóficos no período compreendido entre os
séculos V e XV, mas foi o bispo de Aleria, Giovanni Andrea de Bussi, quem utilizou o termo pela
primeira vez em 1469: “sed mediae tempestatis tum veteris,tum recentiores usque ad mostra
tempora”, tempos médios que serviam de ponte entre a gloriosa Antiguidade Clássica, a qual se
mitificava, e os novos tempos que tinham se voltado para aquele período de esplendor.
SILVA, Nilo C. Batista . História da Filosofia Medieval I. São Cristóvão/SE: Universidade Federal
de Sergipe, 2016, p. 9-10.

6 PATRÍSTICA (SÉCULO I A VII).

A patrística compreende o período do século I ao século VII, a partir das pregações dos
apóstolos Paulo e João e dos primeiros padres da Igreja. Sua preocupação consiste em fornecer
argumentos racionais para a fé e as ideias cristãs e defender o Cristianismo contra o paganismo
e as heresias.
AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia: ensino médio. v 2. Belo Horizonte: 2017, p. 25.

7
15/02/2024

A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelos
primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo – com o pensamento
filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os
pagãos da nova verdade e convertê-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa
religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que
recebia dos antigos.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010, p. 51.
8 RAZÃO E FÉ NO PENSAMENTO MEDIEVAL

 O grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a


esse respeito, havia três posições principais:
1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio porque
absurdo.”);
2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio
para compreender.”); » Agostinho: “Credo ut intelligam”.
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu
campo próprio de conhecimento e não devem se misturar (a razão se refere a tudo o que
concerne à vida temporal dos homens no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma
e à vida eterna futura).
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010, p. 52.

9 SANTO AGOSTINHO (354-430)


O principal nome da patrística foi Agostinho, bispo de Hipona, cidade do norte da África.
Agostinho retomou a dicotomia platônica do “mundo sensível e mundo das ideias”, mas
substituiu este último pelas ideias divinas. Segundo a teoria da iluminação, recebemos de Deus
o conhecimento das verdades eternas: tal como Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o
pensamento correto.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4 ed. São Paulo: Moderna,
2009, p. 161.

11 SANTO AGOSTINHO E O PLATONISMO CRISTÃO


É um pensador do final do período antigo, ainda profundamente ligado aos clássicos, mas já
refletindo em sua visão de mundo e em suas preocupações as grandes mudanças pelas quais
passa sua época e prenunciando o papel que o cristianismo terá na formação da cultura
ocidental.
A aproximação que elaborou entre a filosofia de Platão, que conhecia através dos intérpretes
da escola de Alexandria e de traduções latinas, e o cristianismo constitui a primeira grande
síntese entre o pensamento cristão e a filosofia grega, o assim chamado platonismo cristão.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2 ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 111-2.

12 A NOÇÃO DE INTERIORIDADE NA FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO


Santo Agostinho pode ser considerado o primeiro pensador em nossa tradição a desenvolver,
com base em concepções neoplatônicas e estoicas, uma noção de interioridade que prenuncia o
conceito de subjetividade do pensamento moderno. Encontramos já formuladas em seu
pensamento a oposição interior-exterior e a concepção de que a interioridade é o lugar da
verdade. É olhando para a sua interioridade que o homem descobre a verdade. É este o sentido
da célebre fórmula In interiore homine habitat veritas (“No homem interior habita a verdade”),
que se encontra em seu tratado De Trinitate (XIV, 17) e no De vera religione (XXIX, 72).
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2 ed. Rio
15/02/2024

de Janeiro: Zahar, 2007, p. 114. (Adaptado).

13 A NOÇÃO DE INTERIORIDADE NA FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO


Essa interioridade é dotada da capacidade de entender a verdade pela iluminação divina
(lumen naturale, a “luz natural”). A mente humana possui uma centelha do intelecto divino, já
que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. A teoria da iluminação vem assim
substituir a teoria platônica da reminiscência, explicando o ponto de partida do processo de
conhecimento e abrindo o caminho para a fé.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2 ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2007, p. 114. (Adaptado).

14

15 SANTO AGOSTINHO: A ILUMINAÇÃO COMO FUNDAMENTO DO CONHECIMENTO


A doutrina de Agostinho sobre a iluminação substitui a doutrina platônica da anamnese ou
reminiscência. Para Platão, as almas humanas contemplaram as ideias antes de encarnar-se nos
corpos, e depois se recordam delas na experiência concreta. Para Agostinho, ao contrário, a
suprema Verdade de Deus é uma espécie de luz que ilumina a mente humana no ato do
conhecimento, permitindo-lhe captar as ideias, entendidas como as verdades eternas e
inteligíveis presentes na própria mente divina.
REALE, Giovanni; ANTISSERI, Dario. História da filosofia II: patrística e escolástica. Trad. Ivo
Storniolo. São Paulo: Paulus, 2005, p. 91.

16

17 ESCOLÁSTICA (SÉCULOS VIII-XIV)


A escolástica se estende do século VIII ao século XIV e é marcada como o período de apogeu
do cristianismo.
A escolástica surgiu como uma nova expressão da filosofia cristã. Nesse período, persistiu a
aliança entre razão e fé, em que a razão continua a ser “serva da teologia”.
Aliando saber filosófico clássico e o saber das Sagradas Escrituras, os escolásticos estimulavam
a dialética, em uma discussão entre Filosofia e Teologia, ampliando e aperfeiçoando pontos de
vista e divulgando a doutrina cristã.
O principal representante da escolástica foi Tomás de Aquino.
18 TOMÁS DE AQUINO
(1225-1274)
Entre os grandes nomes da escolástica, destacamos Tomás de Aquino, um estudioso dos
fundamentos da teoria aristotélica, em busca de argumentos racionais capazes de explicar a
alicerçar as ideias do Cristianismo.
Seu maior mérito foi a síntese do Cristianismo com a visão aristotélica do mundo. A partir
desse autor, a Igreja tem uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofia (baseada no
exercício da Razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: Fé e Razão, unidas em sua
orientação comum rumo a Deus.
AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia: ensino médio. v 2. Belo Horizonte: 2017, p. 29.

20

21 TOMÁS DE AQUINO: AS CINCO VIAS


1. Via do movimento/primeiro motor;
2. Via da causa eficiente;
3. Via do contingente e do necessário;
4. Via do graus de perfeição;
15/02/2024

4. Via do graus de perfeição;


5. Via do governo das coisas/da finalidade ser.
6.
https://medium.com/@frankwcl/tomas-de-aquino-e-os-argumentos-para-provar-a-
existencia-de-deus-ou-sobre-as-cinco-vias-7b1ceb0a4c10

22 1. VIA DO MOVIMENTO
A primeira via fala de um fato do mundo: o movimento. Conseguimos facilmente perceber o
movimento das coisas através de nosso sentidos. Proposicionalmente falando, a primeira via
pode ser assim apresentada:
(1) No mundo, algumas coisas são movidas.
(2) Tudo o que é movido é movido por outro.
(3) Não se pode preceder até ao infinito nos moventes e movidos.
(4) Logo, é necessário um primeiro motor, que é Deus.

23 2. VIA DA CAUSA EFICIENTE


Na segunda via é defendida a existência de uma causa primeira para conseguir explicar a cadeia
de causas que acontecem no mundo. Proposicionalmente falando, a segunda via pode ser
assim apresentada:
(1) No mundo todas as coisas tem uma causa eficiente.
(2) Nada pode ser a causa eficiente de si mesmo.
(3) Não é possível que se proceda até o infinito nas causas eficientes.
(4) Logo, existe uma causa primeira eficiente, que é Deus.

24 3. VIA DO CONTINGENTE E DO NECESSÁRIO


Na terceira via é defendida a existência de um ser necessário na qual dependem todos os seres
contingentes. Proposicionalmente falando, a terceira via pode ser assim apresentada:
(1) No mundo, há coisas contingentes que existem mas poderiam não existir.
(2) Mas é preciso que algo seja necessário entre as coisas.
(3) Não é possível que se proceda ao infinito nas coisas necessárias.
(4) Logo, existe um primeiro necessário, que é Deus.

25 4. VIA DOS GRAUS DE PERFEIÇÃO


A quarta via fala sobre a existência de um ser máximo na qual todos os seres presentes no
mundo participam no mesmo com Ele em diferentes graus de perfeição. Proposicionalmente
falando, a quarta via pode ser assim apresentada:
(1) No mundo, as coisas têm diferentes graus de perfeição.
(2) Os graus de perfeição atribuem-se em relação à proximidade do grau máximo.
(3) O grau máximo de um gênero é a causa de todas as coisas desse gênero.
(4) Logo, há algo que é a causa da existência para todas as coisas, que é Deus.

26 5. VIA DA FINALIDADE DO SER


Na quinta e última via Tomás de Aquino argumenta sobre a existência de arquiteto inteligente
que governa, coordena ou dá uma finalidade a todas as coisas no mundo. Proposicionalmente
falando, a quinta via pode ser assim apresentada:
(1) No mundo, algumas coisas operam por causa de um fim.
(2) Estas coisas não atingem o fim por acaso.
(3) Estas coisas não tendem para um fim a não ser que estejam sendo dirigidas por algo
inteligente.
(4) Logo, existe algo inteligente, que é Deus, que dirige as coisas a um fim.
15/02/2024

(4) Logo, existe algo inteligente, que é Deus, que dirige as coisas a um fim.
27

28 HILDEGARDA DE BINGEN
(1098-1179)
Hildegarda de Bingen, abadessa beneditina alemã, viveu numa época conhecida como o
“Renascimento do Século XII”, de enorme progresso no campo cultural. Como abadessa,
escritora e compositora fez parte de uma minoria de mulheres medievais que deixaram escritos
literários, científicos e artísticos.
Fonte: https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/filosofas/hildegarda-de-bingen/

Você também pode gostar