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DIMENSÕES

HISTÓRICO-
FILOSÓFICAS DA
EDUCAÇÃO FÍSICA
E DO ESPORTE
Wilian Bonete
UNIDADE 2
Correntes filosóficas:
da Idade Média à Idade
Contemporânea
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Relacionar os avanços da sociedade com o avanço do pensamento


filosófico a partir da Idade Média.
„„ Enumerar os avanços nos diversos campos da filosofia alcançados
por Hipácia.
„„ Discutir as diferentes escolas criadas no período contemporâneo.

Introdução
A filosofia medieval foi produzida num período histórico que vai do
século V ao XV. Nesse período, o catolicismo ganhou força a ponto de
orientar a produção intelectual e científica de diversas correntes filosóficas,
entre elas a escolástica. Na idade moderna, observamos a partir do século
XVI o surgimento de uma nova forma de pensamento, que coloca o ser
humano no centro das reflexões e busca romper com a visão religiosa de
mundo e de valores. Pensadores modernos como René Descartes e Francis
Bacon procuram atribuir sentido aos novos rumos da filosofia e da ciência
de seu período. Já na Idade Contemporânea, a partir do século XVIII, vemos
inúmeras reflexões sobre filosofia, ciência, sociedade e ser humano, por
meio de correntes filosóficas como a fenomenologia e do existencialismo.
Neste capítulo, você vai aprender mais sobre o pensamento filosófico
desenvolvido durante a Idade Média e a busca pela articulação entre fé e
razão. Você também vai compreender sobre o lugar das mulheres na filosofia,
a partir da figura de Hipácia de Alexandria. Além disso, lançaremos um
2 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea

olhar sobre a produção filosófica contemporânea, com base nas reflexões


produzidas por Edmund Husserl, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre.

Os avanços da sociedade e do pensamento


filosófico a partir da Idade Média
A filosofia medieval desenvolveu-se num período que vai do final do helenismo
(séc. IV–V d.C.) até a formação do pensamento moderno (final do séc. XV
e séc. XVI), com o renascimento. A produção intelectual filosófica mais
conhecida foi empreendida entre os séculos XII e XIV, com a chamada filosofia
escolástica. Convém destacar que a Idade Média ficou marcada na história do
pensamento ocidental como uma época de trevas, um período de retrocesso
intelectual, econômico, social e cultural. Podemos ainda destacar como marco
desse período histórico a ocorrência da peste negra (ou peste bubônica), que
matou mais de um terço da população europeia. Além disso, imperavam os
regimes de servidão e colonato, bem como monopólios restritivos da igreja
no que tange à educação e à cultura (MARCONDES, 2001).
Todavia, foi no século XX que diversos historiadores e demais cientistas
passaram a ver a Idade Média com um olhar próprio desse período. Conforme
aponta o medievalista Hilário Franco Junior (2001), essa postura possibilitou
a elaboração de inúmeras técnicas e metodologias de pesquisa, que fizeram
a historiografia medievalista dar um grande salto qualitativo. Nas próprias
palavras do autor:

Sem risco de exagerar, pode-se dizer que o medievalismo se tornou uma espécie
de carro-chefe da historiografia contemporânea, ao propor temas, experimentar
métodos, rever conceitos, dialogar intimamente com outras ciências humanas.
Isso não apenas deu um grande prestígio à produção medievalística nos meios
cultos como popularizou a Idade Média diante de um público mais vasto e
mais consciente do que o do século XIX. O que não significa que a imagem
negativa da Idade Média tenha desaparecido. Não é raro encontrarmos pessoas
sem conhecimento histórico ainda qualificando de “medieval” algo que elas
reprovam (FRANCO JUNIOR, 2001, p. 14).

Embora tenham ocorrido inúmeros avanços nas análises sobre a Idade Média,
ainda é possível nos depararmos com visões preconceituosas e esvaziadas de
reflexões históricas do período. Nesse sentido, podemos questionar: o que foi
produzido em termos de filosofia e ciência nesse período? Qual a verdadeira
relação entre igreja e formação do pensamento intelectual? O que foi produzido em
Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea 3

termos de filosofia e ciência a partir da Idade Média até a Idade Contemporânea?


Essas perguntas serão essenciais para o desenvolvimento de nossas abordagens.
No final do período helenístico (antiguidade), pode-se afirmar que a
divisão mais profunda da história da filosofia é marcada pelo cristianismo.
O cristianismo teve um papel decisivo, porque modificou os pressupostos
sobre os quais o homem se move, isto é, a situação experiencial que parte
para filosofar. O homem cristão é outro; logo, a sua filosofia é distinta, por
exemplo, da filosofia praticada pelos gregos (MARÍAS, 2004). Nesse sentido,
desenvolveram-se na Idade Média diversas correntes filosóficas, muitas das
quais tinham como figuras essenciais teólogos e padres, como Santo Tomás
de Aquino e Santo Agostinho.
Conforme aponta Danilo Marcondes (2001), os primeiros representantes
da filosofia cristã pertencem à chamada escola neoplatônica cristã de
Alexandria, na qual se desenvolveu uma síntese entre o platonismo e os
ensinamentos cristãos. Destacam-se aqui Clemente de Alexandria e Orígenes.
A ideia é sempre olhar para filósofos como Sócrates, Platão ou Aristóteles e,
com olhar seletivo, adotar conceitos filosóficos que podem, de alguma maneira,
relacionar-se com os ensinamentos bíblicos. O que se privilegia é o dualismo
platônico entre mundo espiritual e mundo material.
Santo Agostinho (354–430), bispo de Hipona, no norte da África, foi um
dos filósofos mais importantes da sua geração. A pergunta mais crucial por ele
formulada é como a mente humana, mutável, falível, pode atingir uma verdade
eterna com certeza infalível? A resposta a tal pergunta é tema de sua reflexão
e teoria da iluminação divina, elaborada com base na filosofia platônica.
Nesse sentido, a função do filósofo é despertar a virtude e o conhecimento
adormecido na alma dos seres humanos (MARCONDES, 2001).
Santo Agostinho é considerado o último dos pensadores antigos, uma
vez que se situa cronológica e tematicamente no contexto da antiguidade.
Ao mesmo tempo, no entanto, é um dos primeiros medievais, já que a sua
obra — de enorme originalidade — influenciou fortemente os pensadores
medievais. Todavia, foi apenas nos séculos XII–XIII que surgiu a chamada
escolástica, termo utilizado para designar a filosofia medieval. Ela passou a
representar um grupo de filósofos que aceitaram certas doutrinas cristãs e
para os quais, por esse motivo, a filosofia não poderia contestar as verdades
contidas nas Escrituras Sagradas. Assim, a filosofia tornou-se possível, no
contexto medieval, devido à difusão das escolas nos mosteiros e nas catedrais,
cujo objetivo primordial era a formação consistente do clero. Estavam incluídas
em seus roteiros de estudos análises publicadas por padres, teólogos e filósofos
como o próprio Santo Agostinho (MARCONDES, 2001).
4 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea

O primeiro grande pensador da escolástica foi Santo Anselmo de Catenbury,


ou Cantuária, cuja preocupação central foi articular fé, entendimento, razão e
revelação. Irineu Strenger (1998, p. 118) nos apresenta informações importantes
sobre o seu pensamento:

O mais célebre desses argumentos em favor da existência de Deus, argumento


chamado ontológico, foi tirado da ideia que temos de um Ser perfeito, implicando,
pois a perfeição existência, com a existência real desse Ser perfeito. Semelhante
análise pressupõe, não obstante, como espécie de fato primordial, uma presença
íntima de Deus na alma e um conhecimento vago do infinito, que é refratário
à análise dialética. Suas teorias tornaram-se o bem coletivo da escolástica.

Assim, conforme nos aponta Strenger (1998), o encontro com Deus na


intimidade da mente abre caminho para a especulação de Santo Anselmo. Essa
é a via que o pensamento medieval da época seguinte percorre. Marcondes
(2001) enfatiza ainda que essas reflexões tiveram diferentes desdobramentos,
tocando em conceitos considerados mais centrais na filosofia — e que estavam
longe de serem resolvidos.
É válido salientar que o contexto europeu dos séculos XII e XIV era
bem diferente. Em várias regiões, como Flandres, Itália, Inglaterra, França,
desenvolveu-se uma intensa atividade comercial, e novos núcleos urbanos
surgiram, em virtude das imigrações para o campo. Pouco a pouco, o mundo
fechado do feudalismo, com a vida marcada pelo trabalho camponês e pela
pouca mobilidade social, foi deixando de existir, e se instaurou uma nova ordem
política e econômica. Os artesãos se organizaram nas chamadas corporações de
ofício, e os comerciantes criaram as ligas hanseáticas, a fim de regulamentar
e proteger as suas práticas e os seus interesses (MARCONDES, 2001).
Na baixa Idade Média, já entre os séculos XIII e XV, o Ocidente europeu
assistiu a um processo de ressurgimento das cidades. A criação de eixos
comerciais, reforçada pelo crescimento demográfico, pelo desenvolvimento
de tecnologias agrícolas e pelo aumento na produção do campo, gerou novas
condições de vida. Sugiram então as cidades (burgos), que se tornaram centros
de produção artesanal e entrepostos comerciais. Também surgiram novas
camadas sociais, como os burgueses, que procuravam estabelecer-se na política
e angariar prestígio social.
Nesse momento, uma nova forma de pensamento surgiu. O espírito humano
deixava cada vez mais de lado as superstições e os medos, e dava lugar à
curiosidade e à novidade. Essa foi a nova mentalidade que pautou o pensamento
na idade moderna. Em termos de filosofia, houve um grande interesse pela
obra de Aristóteles. Por sua preocupação científica e empírica, ele foi alvo de
Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea 5

inúmeras leituras e do interesse de diversos intelectuais, que, de certo modo,


abriram espaço para o chamado renascimento cultural e científico.
Já o período considerado pelos historiadores como idade moderna, que
compreende o final do século XIV até o século XVIII, é marcado pelo surgimento
de grandes pensadores, que contribuíram muito para o desenvolvimento da
filosofia e da ciência.
A filosofia de René Descartes inaugurou de maneira mais sofisticada o
pensamento moderno, juntamente com os empiristas ingleses. Desse modo,
conforme Marcondes (2001), compreender as linhas mestras do pensamento de
Descartes é fundamental para entender o sentido dessa mesma modernidade,
da qual somos herdeiros até os dias de hoje. Assim, o projeto filosófico de
Descartes é uma defesa do novo modelo de ciência inaugurado por Galilei,
Copérnico e Kepler, contra a concepção escolástica que vigorou no final da
Idade Média. Segundo Marcondes (2001, p. 162):

Se, como diz Descartes no início do Discurso do Método, o bom senso, isto
é, a racionalidade, é natural ao homem, sendo compartilhada por todos, o que
explica a possibilidade da ocorrência do erro, do engano, da falsidade? O erro
resulta, na realidade de um mau uso da razão, de sua aplicação incorreta em
nosso conhecimento do mundo. A finalidade do método é precisamente pôr
a razão no bom caminho, evitando assim, o erro.

As regras do método propostas por Descartes são inspiradas na geometria,


mas devem ser levadas à risca. A primeira regra é a evidência (dúvida):
jamais aceitar algo como verdadeiro sem antes analisar a sua procedência. A
segunda regra é da análise: dividir todas as dificuldades em partes para melhor
resolvê-las. A terceira parte é a síntese: ordenar o pensamento, começando
pelos objetos mais simples e depois seguir para os mais complexos. A quarta
regra é enumerar: fazer revisões e enumerações para se ter certeza e para
não omitir nenhuma informação (MARCONDES, 2001).
Ademais, é relevante tecer algumas considerações sobre a filosofia
inglesa, conhecida como filosofia empirista. Os pensadores ingleses dos
séculos XVI ao XVIII desenvolveram ideias relevantes, que influenciaram
grandes transformações da sociedade europeia: o sensualismo, a crítica à
faculdade de conhecer (que, em alguns casos, chega até o ceticismo), as
ideias de tolerância, os princípios liberais, o espírito da ilustração, a religião
natural, a filosofia do bom senso (common sense), a moral utilitária e o
pragmatismo (STRENGER, 1998).
Francis Bacon (1561–1626), nascido em Londres, estudou em Cambridge e
foi um dos filósofos representantes dessa filosofia inglesa. Para ele, a grande
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renovação da ciência começa a partir do momento em que se consolida a libe-


ração dos preconceitos que impedem as pessoas de chegarem à verdade. Desse
modo, Bacon elaborou a seguinte categorização dos preconceitos que devem
ser eliminados.

„„ Ídolo da tribo: as falsas noções derivadas da natureza humana fazem,


por exemplo, que as pessoas busquem evidências que deem suporte às
suas próprias conclusões.
„„ Ídolo da caverna: são interpretações surgidas de reflexões individuais,
mas bloqueadas para visões mais amplas de mundo. Algumas pessoas,
por exemplo, estão a favor de ideias que apoiam as suas conclusões e
não observam as coisas em sua diversidade. Isso é uma “perturbação”
do espírito humano.
„„ Ídolo do foro/mercado: são as falsas noções surgidas a partir do uso da
linguagem e das palavras como meio de se comunicar com o outro. As pes-
soas têm a capacidade de imaginar e nomear coisas que realmente não são.
„„ Ídolo do teatro: as correntes filosóficas não eram muito melhores do
que as peças teatrais. A filosofia supersticiosa era o pior tipo de falsa
noção (KLEINMAN, 2014).

O pensamento de Bacon assenta-se no argumento de que não há outra base


senão a experiência, sendo a indução o único procedimento fecundo da ciência.
É interessante destacar que, para Bacon, existe um grande desejo do ser humano
de conhecer a natureza e o seu funcionamento; para tanto, ele deve estar em
contato com ela. Porém, o ser humano só pode conhecer a natureza pela via
empírica e experimental, e nunca por meio da especulação. As observações
devem ser registradas e, por meio dessas análises, Bacon afirma ser possível
chegar a verdades universais (GRUBBA, 2012).
Assim, com base nesse método indutivo, deve-se sempre partir dos fatos
concretos (a experiência), para ascender às formas gerais (a abstração), no
intuito de descobrir as suas causas e leis (GRUBBA, 2012). É nesse sentido que
a filosofia baconiana é considerada empirista, pois todo conhecimento, além
de ter a sua origem na experiência concreta, só é relevante se for considerado
útil para a vida prática.
Por fim, é importante mencionar o pensamento do filósofo empirista inglês
John Locke (1632–1704). A sua principal obra é intitulada Ensaios sobre o
entendimento humano (1690), elaborada ao longo de 20 anos de sua carreira.
Locke afirma que não é possível conhecer as coisas em sua essência. Em
outras palavras, temos apenas crenças e opiniões sobre o mundo natural, e não
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conhecimento verdadeiro. Nesse sentido, esse filosofo é um cético moderado.


O conhecimento demonstrativo é aquele derivado das nossas percepções da
realidade, restringindo-as a campos do saber como a geometria. Além disso,
para o filósofo, não há ideias inatas no ser humano; tudo é derivado das
experiências concretas e reais (MARCONDES, 2001).
Desse modo, o que deve estar claro a partir dessa análise é que cada época
gestou a sua própria forma de pensar e abordar o mundo. Nenhuma forma é
inferior às outras, mas todas elas são diferentes e muitas vezes fundamentais para
o desenvolvimento de novos meios de compreensão da sociedade e do mundo.

Você sabia que foram os filósofos ingleses que elaboraram as primeiras teorias sobre
o liberalismo? Você já ouviu falar em Estado liberal? Se a função do Estado não é a
de criar ou instituir a propriedade privada, mas de garanti-la e defendê-la, qual é o
poder do soberano?
A teoria liberal — primeiro com John Locke, depois com os realizadores da
independência norte-americana e da Revolução Francesa, e no século XX com
pensadores como Max Weber — dirá que a função do Estado é tríplice:
„„ por meio das leis e do uso legal da violência (exército e polícia), garantir o direito
natural à propriedade, sem interferir na vida econômica, uma vez que, não tendo
instituído a propriedade, o Estado não tem poder para nela interferir;
„„ entre Estado e indivíduo intercala-se uma esfera social, a sociedade civil, sobre a qual
o Estado não tem poder instituinte, mas apenas a função de garantir as relações
sociais e arbitrar sobre os conflitos nela existente;
„„ o Estado tem direito de legislar, permitir e proibir tudo quanto pertença à esfera
da vida pública, mas não tem o direito de intervir na esfera privada, isto é, na
consciência dos governados.
Portanto, a exigência da política liberal é a seguinte: o Estado não pode intervir na
economia. O Estado deve respeitar a liberdade econômica dos proprietários privados,
deixando que elaborem as suas regras e normativas para as atividades econômicas
segundo as necessidades do próprio mercado. Por isso, essa teoria é chamada de
liberal ou liberalismo (CHAUÍ, 2012).

Os avanços de Hipácia nos diversos campos da


filosofia
Na história da filosofia ocidental, poucas vezes ouvimos falar de mulheres
filósofas. É comum dar-se ênfase a filósofos clássicos como Sócrates, Platão,
8 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea

Aristóteles, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Descartes, Bacon ou


Locke. No entanto, sabe-se muito pouco sobre a produção intelectual femi-
nina na história. Você vai conhecer agora o pensamento de uma das grandes
filósofas do período helenístico: Hipácia de Alexandria.
Não é possível datar com exatidão o ano de seu nascimento, mas o mais
aceito na história da filosofia é que ela nasceu em 350 e morreu em 415. Hi-
pácia era filha de Téon, um importante matemático e cientista do século IV,
e sempre demonstrou interesse pela matemática, assim como pela geometria,
astronomia e filosofia. Nesse sentido:

Depois de lecionar na cidade por longo período, no ano de 400 ela foi reco-
nhecida como responsável pelos estudos neoplatônicos. Alunos de todos os
cantos do mundo queriam assistir às suas aulas. Além de sua inteligência
fulgurante, sua eloquência e rara beleza eram notáveis. Uma lenda em seu
tempo (VRETTOS, 2005, p. 253).

Antes de abordar as suas contribuições para a filosofia e a sua contribuição


intelectual para a humanidade, vamos tecer algumas considerações sobre o
contexto histórico vivenciado por Hipácia. Martinelli (2016), ao fazer a leitura
da História Eclesiástica, de Sócrates Escolástico, mostra que a população de
Alexandria era muito violenta, e havia muitos tumultos e conflitos. Tais confli-
tos podem ser atribuídos ao pluralismo de ideologias, uma vez que conviviam
cristãos, judeus e pagãos. Vivia-se um período de grande intolerância religiosa,
que foi acentuada quando o Imperador Teodósio decretou o cristianismo como
religião oficial do Império Romano, a fim de unificar todos os povos.
Todavia, nem sempre Alexandria foi um centro de caos e violência. Nos
séculos II e III d.C., a cidade irradiava cultura e ciência. Esse fato é comprovado
pela construção da biblioteca de Alexandria, que abrigava o maior acervo de
conhecimento sobre a antiguidade (MARCONDES, 2001).
Nessa direção, Carl Sagan (apud MATER, 2010, documento online) aponta:

Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na


nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances
de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada
pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do
trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da
Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto às ciências, e devido a
Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em
415, essa biblioteca (de Alexandria) foi destruída. Milhares dos preciosos
Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea 9

documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos


para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.

Era comum nesse período que as mulheres ocupassem um lugar mais


restrito na sociedade. Poucas delas tinham a oportunidade de se dedicarem
aos estudos, e muitas vezes ocupavam-se com afazeres domésticos e com o
cuidado dos filhos. Hipácia representou um diferencial desse período: além da
filosofia, desenvolveu conhecimentos em outras áreas, sobretudo a matemática.
Todavia, não há nenhum registro dos escritos de dessa filósofa. O que
sabemos sobre os seus ensinamentos é decorrente dos testemunhos de seus
alunos, com quem ela mantinha relações próximas, como Sinésio ou Damáscio.
Na carta 15 de Sinésio, ele relata sobre o astrolábio, utilizado como instrumento
náutico, e o hidroscópio, utilizado para medir a densidade dos líquidos. Esses
dois aparelhos não foram invenções de Hipácia; porém, pelos registros dos
seus discípulos, é possível inferir que ela tinha profundo conhecimento sobre
eles — e inclusive sabia construí-los (MARTINELLI, 2016). No entanto, não
sabemos mais sobre a atuação de Hipácia na matemática.
Martinelli (2016) afirma que, por meio da Suda (enciclopédia da antigui-
dade), é possível saber que Hipácia escreveu um trabalho sobre os Cones de
Apolônio e Aritmética Diophantus. A autora aponta que ambos os trabalhos
tratam sobre álgebra e geometria, e Hipácia estava familiarizada com as
equações. Martinelli afirma ainda que, segundo o Suda, Hipácia escreveu
um trabalho intitulado O cânone astronômico, além de postular que ela teria
superado o seu pai na matemática.
É conveniente acompanhar um fragmento textual sobre a sua vida e os
seus ensinamentos:

Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipácia cujo pai era o filósofo Téon.
Ele a instruíra tão bem e ela se distinguia em tantas disciplinas que sobrepujava
de longe todos os filósofos; não somente os de seu tempo, como também aqueles
que desde muito a haviam precedido. Foi admitida na escola de Platão para ser
sucessora de Plotino. Tinha competência para dar a conhecer as ciências a todos
os que o desejassem. Do mesmo modo, qualquer um que tivesse paixão pela
filosofia achegava-se a ela, atraído não somente pela sua honestidade e pela
seriedade que mostrava em seus discursos, como também porque abordava os
homens com pudor e decência e a ninguém parecia indecente vê-la entre eles.
Todos a respeitavam e veneravam em razão de sua notável conduta. Todos
a admiravam, até que a Inveja armou contra ela seu braço vingador. O fato
de estar frequentemente na companhia de Orestes, prefeito de Alexandria,
inspirou contra ela uma intriga junto ao clero de Cirilo, bispo de Alexandria,
que impediu a reconciliação de Cirilo com o prefeito. Foi por isto que alguns
adeptos ardorosos de Cirilo [...] se puseram a matá-la e, no momento em que
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ela retornava de algum lugar, retiraram-na da liteira e arrastaram-na para


dentro da igreja que traz o nome de César, onde a despiram antes de matá-la
com cacos de telhas. Depois, após arrancar seus membros, levaram-na a um
lugar chamado Cinaron e lá a queimaram (MÉNAGE, 2003, p. 42).

Uma análise desses fragmentos nos remete à noção de que havia uma su-
premacia de ideias, numa relação de poder caracterizada pela violência física.
Além disso, a morte tentava eliminar não apenas o aspecto físico, mas também
o ideológico — a morte das ideias. Todavia, Hipácia se manteve como uma
das primeiras mulheres além do seu tempo. Outro ponto que vale destacar é
a sua bela oratória, descrita como doce e equilibrada. Muitos homens vinham
de diversas regiões tirar dúvidas, ouvir a sua prática filosófica e compreender
um pouco mais sobre a ciência (MÉNAGE, 2003).
Podemos compreender, assim, que Hipácia foi uma das grandes mulheres
da história, que desafiaram paradigmas de sua época e promoveram revoluções
em suas áreas de estudo. Ela mostrou capacidade intelectual e domínio sobre
áreas da ciência dominadas ideologicamente por homens. Aos poucos, porém,
o universo feminino foi se constituindo, e novas pensadoras contribuíram
de maneira decisiva para o conhecimento. Podemos citar como exemplos
da antiguidade Aspásia de Mileto e Diotima de Matinéia (séc. IV a.C.), e as
mais contemporâneas, como Maria Gaetana Agnesi (1718–1799), Sophie Ger-
main (1776–1831), Mary Fairfax Somerville (1780–1872), Sonya Kavaleskvy
(1850–1891), Amalie Noether (1882–1935).

Em relação às dificuldades na produção de estudos sobre mulheres filósofas, Gilles


Ménage, em sua obra História das Mulheres Filósofas (1692), comenta que encontrou
informações sobre tratados antigos (de Apolônio, de Filócoro) que abordavam o
trabalho de filósofas. Entretanto, essas obras não chegaram até nós. Umberto Eco
apresenta uma explicação contundente: “Não é que não tenham existido mulheres
que filosofaram. É que os filósofos têm preferido esquecê-las, talvez depois de terem
se apropriado de suas ideias”.
Quando se estuda sobre as mulheres da Grécia do período clássico (séculos V–IV
a. C.), o principal obstáculo é o fato de que os documentos disponíveis foram quase
todos feitos por homens, de forma que trazem a visão masculina sobre o feminino.
Por isso, as mulheres aparecem na documentação de forma quase acidental, quando
inesperadamente atuavam na esfera pública e acabavam por se intrometer nos assuntos
dos homens (BERQUÓ, 2016).
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As diferentes escolas criadas no período


contemporâneo
Após aprender sobre o pensamento filosófico da Idade Média e da idade
moderna, você verá agora especificamente duas correntes filosóficas da Idade
Contemporânea: a fenomenologia e o existencialismo. Segundo Marcondes
(2001, p. 251), a filosofia contemporânea pode ser vista, em grande parte, pela
crise do pensamento moderno no século XIX, porque:

O projeto moderno se define, em linhas gerais, pela busca da fundamenta-


ção da possibilidade do conhecimento e das teorias científicas na análise
da subjetividade, do indivíduo considerado como sujeito pensante, como
dotado de uma mente ou consciência caracterizada por uma determinada
estrutura cognitiva, bem como pela capacidade de ter experiências empíricas
sobre o real, tal como encontramos no racionalismo e no empirismo, embora
em diferentes versões. Esse projeto entra em crise no século XIX a partir
das críticas de Hegel – que aponta para a necessidade de levar em conta o
processo histórico da formação da consciência – e de Marx – que questiona
seus pressupostos idealistas.

O questionamento ao projeto moderno ataca a centralidade atribuída à


noção de subjetividade nas tentativas de fundamentação do conhecimento
empreendidas pelas teorias racionalistas e empiristas. Segundo Marcondes
(2001), as críticas de Hegel e Marx já apontavam para a insuficiência e a
problemática da análise subjetivista.
Marilena Chauí (2012) afirma que, no final do século XIX e início do
século XX, as preocupações com o transcendental são fundamentais na cha-
mada fenomenologia desenvolvida por Edmund Husserl. A discussão do
dilema entre inatismo das ideias e empirismo é retomada por Husserl, com
base em reflexões a respeito da matemática e da lógica, e prossegue quando
o filósofo procura determinar as condições, a priori, de possibilidades da
ciência como rigorosa.
A fenomenologia, conforme Chauí (2012), é uma corrente filosófica que
se define como uma investigação e descrição das experiências da consciência
como atividade de conhecimento no mundo vital (lebenswelt). A descrição
fenomenológica exige uma atitude que Husserl designa como a palavra grega
epochê, que significa suspender o juízo sobre alguma coisa de que não se tem
certeza. Desse modo, a descrição fenomenológica consiste, segundo Husserl,
em colocar entre parênteses as nossas crenças da realidade exterior e descrever
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as atividades da consciência ou da razão como um poder de formação da


própria realidade (CHAUÍ, 2012).
Chauí (2012, p. 103) explicita o que significa, na prática, a formação da
própria realidade:

O que chamamos de “mundo” ou “realidade”, diz Husserl, não é um conjunto


de coisas e pessoas, animais, vegetais e minerais existentes em si mesmos e
que nossas ideias representam ao transformá-los em objetos do conhecimento.
O mundo ou a realidade é um conjunto de significações ou de sentidos que
são produzidos pela consciência ou pela razão. A razão é “doadora de sentido”
e ela constitui a realidade não enquanto existência dos seres, mas enquanto
sistema de significações que dependem da estrutura da própria consciência.

Na visão de Husserl, a realidade é constituída pela consciência transcen-


dental ou pela razão transcendental, e não se refere a existências de seres, mas
sim de essências, isto é, significações. As essências são verdadeiras, universais
e necessárias, porque são constituídas a priori pela razão (CHAUÍ, 2012). É
a partir dessa reflexão que o método fenomenológico rompe com a atitude
natural como se constituem as nossas crenças habituais em que aprendemos
fatos, passando ao exame do modo de constituição dessa experiência (MAR-
CONDES, 2001).
Outra corrente filosófica contemporânea de grande relevância é o exis-
tencialismo, representado por filósofos como Martin Heidegger (1889–1976),
Jean-Paul Sartre (1905–1980), Simone de Beauvoir (1908–1986) e Karl Jasper
(1883–1969), entre outros. Esses filósofos foram fortemente influenciados pelo
pensamento de intelectuais anteriores a eles, como Schopenhauer, Kierkegaard
e Nietzsche.
Heidegger aborda, em sua filosofia, o problema do ser e a existência de
tudo. Para ele, não se trata dos entes, mas do ser.

[...] seu fim preliminar é a interpretação do tempo como horizonte possível


de qualquer intelecção do ser em geral. Heidegger insiste de modo particular
[...] em que a questão fundamental é o sentido do ser. O resto é preliminar e
serve para chegar a esta questão (MARÍAS, 2004, p. 475).

Outra questão analisada por Heidegger é o fundamento da existência hu-


mana. Para esse filósofo, o que um homem sabe de si mesmo ou de qualquer
outro indivíduo é sempre um conjunto de entidades objetivas que integram o
seu mundo: os objetos que formam o seu cenário habitual, aqueles dos quais
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se ocupa, os que o agradam ou repelem, os que estão por vir em forma de


possibilidades previstas e os que recorda como acontecimentos passados.
Nesse sentido, vale destacar:

A alma, a vida, a consciência não são realidades que se possam intuir, que se
possam dar por si mesmas, e se, não são fenômenos nesse sentido estrito de “o
que se mostra por si mesmo”, não podem integrar o que, fenomenologicamente,
constitui um ser humano (STRENGER, 1998, p. 329).

Na constituição da existência humana, segundo Heidegger, encontra-


-se a base dessa dialética circular ou da correspondência: o “aqui” de nossa
existência converte-se no “aí” de nosso mundo. Strenger (1998) afirma que,
na obra Ser e Tempo, ainda não havia chegado o momento de destacar o ser
como fundamento da existência humana; isso ficava para o final da obra, ou
seja, um final que na realidade não foi publicado.
É válido destacar que, na filosofia de Heidegger, a morte aparece como
tema importante. Assim, o existir é sempre algo inacabado, porque a sua
conclusão supõe o seu deixar de ser. Vale, em certo sentido, uma experiência
da morte do próximo. Em outras palavras, a totalidade que o próximo alcança
na morte é um já não existir, no sentido de já não estar no mundo. A morte
é algo próprio de cada qual ninguém pode quitar, sem morrer, a outro, disse
Heidegger (STRENGER, 1998).
Outro filósofo que podemos citar é Jean Paul-Sartre, cuja produção in-
telectual foi muito marcante no pós-guerra, principalmente nos anos 1950 e
1960. A sua obra influenciou não apenas a filosofia, mas também o teatro, a
literatura e o cinema. Sartre tinha expressiva participação nos debates públicos
de sua época e se pronunciava sobre assuntos políticos, sociais e culturais da
sociedade de seu tempo. Foi na obra O existencialismo é um humanismo (1946)
que ele começou a desenvolver a sua filosofia existencial.
Em sua outra obra, denominada O ser e o nada (1943), Sartre caracteriza
o homem como um ser que se define por uma consciência em que existir e
refletir são o mesmo, que se define por sua autoconsciência. Desse modo, o
ideal dessa consciência é atingir a plena identidade consigo mesma. É esse o
sentido de uma de suas expressões mais conhecidas: “o homem é o ser cuja
existência precede a essência”. Isso significa que o homem não tem uma
existência determinada, mas se faz em sua existência. Todavia, o homem é
marcado pela morte e pela finitude; por esse motivo, ao buscar a sua identidade
absoluta, está condenado sempre ao fracasso (MARCONDES, 2001).
14 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea

Por fim, resta ao homem assumir a sua condição de liberdade e, conside-


rando sempre em situação, construir o sentido da sua existência — buscando
sempre uma existência autêntica. É a partir disso que surge a angústia, um
tema de grande interesse para Sartre, o qual permeia toda a existência do
homem que constrói os seus próprios valores. O homem, portanto, é um ser
autoconsciente que cria a si mesmo ao longo do tempo. Nas palavras do próprio
Sartre, “nós somos o que fazemos do que fazem de nós” (MARCONDES, 2001).
Para finalizar, salientando que os filósofos da fenomenologia e do existen-
cialismo da Idade Contemporânea buscaram refletir as relações do ser humano
consigo mesmo. Cada um, à sua maneira, entendia que havia um denominador
comum: certa visão dramática da condição humana. A vida humana é marcada
por diferentes experiências, incertezas, imperfeições. Assim, cabe a cada um
construir a sua própria realidade, a partir de seus próprios valores, encarando
sempre de frente as adversidades da vida em sociedade.

Para Sartre, existem dois tipos de ser:


„„ en-soir (ser-em-si): coisas que têm uma essência que é ao mesmo tempo definível
e completa; no entanto, não têm consciência da sua essência completa ou de si
mesmas. Por exemplo: pedras, pássaros e árvores.
„„ pour-soir (ser-para-si): coisas que são definidas em virtude de terem consciência
e de estarem conscientes de que existem (como os humanos), estando também
conscientes de que não possuem a essência completa associada ao ser-em-si.
Para Sartre, uma pessoa (pour-soir) só se torna consciente de sua existência quando
vê outro pour-soir o observando. Portanto, a pessoa somente se torna consciente da
própria identidade quando é vista pelos outros, que também possuem consciência.
Em essência, uma pessoa somente compreende a si mesma em relação aos outros.
Sartre vai além e afirma que entrar o “outro” pode ser complexo de início, porque
uma pessoa pode achar que o outro ser consciente o está observando como um
objeto no que se refere a aparência, tipo e essência (mesmo que seja na imaginação).
Como resultado, uma pessoa pode, então, tentar ver “os outros” como objetos simples
e definíveis, sem nenhuma consciência. Segundo o filósofo, é a partir da ideia de “outro”
que vemos o racismo, o sexismo ou o colonialismo (KLEINMAN, 2014).
Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea 15

1. No final do período helenístico, a) era necessário considerar todos


ocorreu uma divisão que marcou os pontos de vista e acreditar
profundamente história da filosofia naquela visão que parecesse
ocidental. Observe as alternativas e mais plausível aos olhos.
indique qual foi esse grande marco. b) era necessário refletir sobre
a) O grande marco foi a conquista o assunto, sem questionar
da cidade de Alexandria e a a sua veracidade.
construção da biblioteca de c) era necessário estabelecer
Alexandria, centro cultural diretrizes para o conhecimento
da humanidade e filosofia. de modo a concebê-lo
b) O grande marco foi o indubitável. Somente
surgimento da religião islâmica depois disso era possível
na Europa, o que levou os chegar à verdade.
filósofos a repensarem as d) era necessário acreditar nos
bases da metafísica. instintos e nas intuições
c) O grande marco foi o humanas, deixando que
cristianismo, que modificou a a subjetividade guiasse as
experiência humana no tempo tomadas de decisões, a fim
e, consequentemente, os modos de alcançar a verdade.
de desenvolver a filosofia. e) era necessário duvidar de tudo
d) O grande marco da filosofia aquilo que era entendido como
ocidental foi a ascensão certo. Somente a dúvida conduz
do Império Romano e o ao conhecimento da verdade.
fim do cristianismo. 3. Na perspectiva da filosofia
e) O grande marco na história produzida por Edmund
da filosofia ocidental foram Husserl, a fenomenologia:
as reflexões produzidas por a) consiste numa investigação
Sócrates, que revolucionaram acerca das experiências
a forma como os filósofos conscientes no mundo
estudavam a cosmologia. vital (lebenswelt).
2. René Descartes foi um dos b) consiste numa forma
grandes pensadores da corrente de investigação que
filosófica chamada racionalismo. prioriza o empirismo e o
Para tanto, Descartes empenou-se conhecimento advindo de
em desenvolver uma forma de experimentos (lebensform).
pensamento que servisse de c) consiste numa forma de
fundamento para o conhecimento. investigação que busca
Desse modo, como um dos chegar à verdade por meio da
pressupostos iniciais: articulação entre fé e razão.
16 Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea

d) consiste numa forma de e) a existência humana é permeada


investigação gestada na Idade de incertezas, e cabe ao filósofo
Média, que visa compreender existencialista apresentar análises
as ações humanas no tempo. que permitam minimizar as
e) consiste numa forma de angústias do ser humano.
investigação desenvolvida 5. Jean-Paul Sartre é um filósofo
na antiguidade clássica, existencialista de grande destaque
que visa compreender o no período pós-guerra. Ele elaborou
mundo (lebenswelt) enquanto uma teoria contundente sobre a
fenômeno natural. vida humana e afirmava que:
4. Na perspectiva da filosofia a) o homem cria a si mesmo, mas
de Martin Heidegger, o deve estar atento aos que os
existencialismo é um conjunto de outros pensam sobre ele, no
teorias que afirma que: intuito de que ele se molde
a) a existência humana é aos padrões da sociedade.
permeada por certezas e que b) a realidade humana é criada
cabe à filosofia auxiliar os a partir dos valores sociais
seres humanos a solidificar impostos sobre o indivíduo
cada vez mais a sua vida. no meio em que ele vive.
b) o que o ser humano sabe de c) o homem cria a si mesmo ao
si mesmo ou de qualquer longo do tempo. Não existe
outro indivíduo é sempre um uma existência determinada, a
conjunto de entidades objetivas não ser aquela construída pelo
que integram o seu mundo. próprio homem, com os seus
c) a realidade humana é concebida valores e objetivos de vida.
como uma realidade subjetiva d) só é possível compreender
em que não é possível lançar uma realidade por meio da
um olhar investigativo; por isso, experiência sensorial.
esse papel cabe à filosofia. e) o homem cria a sua própria
d) cabe aos filósofos existencialistas realidade, mas não da maneira
estabelecerem um fio condutor que ele quer. É nesse sentido
de análises que conduzam o ser que o homem deve estabelecer
humano a uma certeza sobre a sua força de vontade para que
a sua vida em sociedade. possa viver em sociedade.
Correntes filosóficas: da Idade Média à Idade Contemporânea 17

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