UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio De Janeiro
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Discente: Michell Luiz Ribeiro dos Santos
Docente: Cláudia Santos
Disciplina: História Moderna II
Resenha sobre o capítulo introdutório do livro “Iluminismo Radical”, de Jonathan
Israel
O texto é um trecho do livro “O Iluminismo Radical: Filosofia e Construção da
Modernidade 1650-1750”, de Jonathan I. Israel, publicado em 2001 e que faz parte de uma trilogia sobre o Iluminismo, sendo completado pelos livros Enlightenment Contested, de 2006, e Democratic Enlightenment, de 2011. No livro abordado, o autor defende a tese de que houve duas correntes principais do movimento iluminista: a moderada e a radical. A primeira seria representada por pensadores como Newton, Locke, Montesquieu e Voltaire, e a segunda representada por pensadores como Spinoza, Bayle, Diderot e La Mettrie – estes rejeitavam qualquer compromisso com o passado e propunham uma visão materialista, ateísta, democrática e revolucionária do mundo. O autor argumenta que o Iluminismo Radical provocou grandes transformações intelectuais, culturais e políticas na Europa do século XVIII, desafiando as estruturas de autoridade, pensamento e crença da civilização ocidental, mas também trata de dar grande destaque ao papel do Iluminismo Primitivo, de pensadores difundidos no fim do século XVII. Como denominado, o capítulo apresenta uma introdução sobre o tema que o autor discorre durante o livro, contextualizando o período histórico abordado e as questões que permeavam o debate filosófico na época. Uma das questões abordadas por Israel neste trecho é o impacto gerado pela revolução científica e pela mudança no modelo de pensamento filosófico na cultura europeia do período, tal qual podemos observar no livro “A Revolução Científica e as origens da Ciência Moderna”, de John Henry, no qual o autor diz O método de Descartes o conduziu a uma nova metafísica, que forneceu a base para um novo sistema da física, a qual, por sua vez, se tornou a mais Influente das novas filosofias "mecânicas". Seu sistema final, embora fizesse menos uso da matemática, sendo muito mais especulativo e qualitativo, foi sem dúvida desenvolvido a partir do empenho inicial em conhecer o mundo físico em termos matemáticos. (HENRY, 1998, p.32)
Este novo método de “conhecer o mundo em termos matemáticos” iniciado por
Descartes foi crucial para a mudança no modo de pensar o mundo que eclodiu na modernidade europeia e, diretamente, se correlacionou com os efeitos da filosofia humanista, da valorização do homem e racionalização do pensamento. Racionalização e matematização se tornaram, então, quase indissociáveis e se auxiliaram em sua consolidação como “filosofia dominante”. Neste sentido, Israel destaca a atuação dos philosophes, os pensadores do período, que identificaram que podiam gerar um real impacto na forma de se pensar nas elites dominantes e também na massa da população do Velho Continente. Apesar desta grande influência, o próprio René Descartes se categorizava como “moderado” e dizia que a primeira de suas regras era, em suas palavras “obedecer às leis, conservar com constância a religião e governar-se em qualquer outra coisa segundo as opiniões mais moderadas e mais afastadas do excesso.” Apresentando e popularizando as novas descobertas, conceitos e teorias, os philosophes — dos quais Fontenelle e Boulainvilliers foram os primeiros franceses a adquirir reputação em toda Europa — descobriram de repente que também eles podiam exercer um impacto prático no mundo real — nas ideias, em primeiro lugar, mas também na educação, política, religião e cultura geral. A Filosofia não só se emancipara, mas também se tornara poderosa. Isso aconteceu, conforme observou em 1737 o historiador do pensamento Boureau-Deslandes, porque os philosophes descobriram como influenciar debates sobre educação, noções de moral, artes, política econômica, administração e “toute la conduite de la vie”. Mesmo em terras mais remotas, distantes da frente de inovação intelectual, o poder da Filosofia no novo contexto era inegável. Quando a revolução médica — baseada em ideias holandesas — começou na Espanha na década de 1680, o médico valenciano Juan de Cabriada, um devoto do famoso professor Dele Boe Sylvius, em Leiden, identificou de forma clara libertad filosófica e estudou o Cartesianismo, recebendo informações atualizadas sobre os debates filosóficos da “Alemanha, França e outras províncias”, como o motor da mudança, o instrumento com o qual se podia esmagar a cultura médica datada. (ISRAEL, 2009, p.38) Ao citar os acontecimentos religiosos, além de se relacionar com o fatos humanistas e com a revolução científica, os registros de Israel se aproximam também com o texto “A Consciência Coetânea de Crise e as Tensões Sociais do Século XVII”, de José Antonio Maravall, e seus argumentos sobre características da crise do séc. XVII, e também nos relatos de Brian P. Levack em “A Caça às Bruxas no Limiar da Idade Moderna”. Ambos os textos falam sobre mudanças ocorridas em como a população moderna lidava com a religião, a ansiedade consequente dos temores difundidos pelo cristianismo e a crise decorrente da Reforma Protestante e da Contrarreforma. Israel também destaca o quão complexo e diverso era o cenário intelectual na Europa, possuindo alas modernas e tradicionalistas, além dos já citados setores moderados e raciais. Cada um desses “setores” tinham estratégias próprias para a difusão de suas ideias, com intuito de prevalecerem como a vertente dominante. Segundo o autor, o movimento radical foi a onda iluminista mais “inovadora” e impactante dentre as demais, mas em contrapartida, foi também a mais perseguida pela Igreja e sistematicamente marginalizada. Em suma, Israel usa de exemplos claros para demonstrar seus argumentos e apresenta as fontes específicas que utiliza durante seu livro. Apesar de se tratar apenas de um introdução ao tema, o texto é bem escrito e chama a atenção para o livro como um todo e instiga quem está lendo a conhecer mais sobre o tema.
BIBLIOGRAFIA:
HENRY, John. A Revolução Científica e as origens da Ciência Moderna. Rio de
Janeiro: Zahar, 1998, pp. 9-35
ISRAEL, Jonathan I. Introdução. In: ____________. Iluminismo Radical. São Paulo:
Madras, 2009.
Maravall, José Antonio. A Consciência Coetânea de Crise e as Tensões Sociais do
Século XVII. In: _____________. A Cultura do Barroco: análise de uma estrutura histórica. São Paulo: Edusp, 1997.
Vida Do Apostolico Padre Antonio Vieyra Da Companhia de Jesus, Chamado Por Antonomasia o Grande Acclamado No Mundo Por Principe Dos Oradores Evangelicos, Pregador Incomparavel Dos Augustissimos Reys de Portugal. Dedica