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A Pará bola do Filho Pró digo

Primeiramente, precisamos deixar claro qual é a estrutura literária desta parábola:


A – Havia um homem que tinha dois filhos
1 – E o mais jovem deles disse: “Pai, dá-me a parte da propriedade que me cabe”. E ele dividiu os seus bens entre eles.
2 - Não muitos dias depois o filho mais jovem vendeu tudo o que tinha, viajou para um país distante e desperdiçou sua
propriedade vivendo extravagantemente
3 – E quando ele já havia gasto tudo, uma grande fome começou naquele país e ele começou a passar necessidades
4 – Então ele foi e juntou-se a um dos cidadãos daquele país e ele o enviou aos seus campos, para alimentar
porcos
5 – E ele alegrimente teria comido as vagens que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada
6 – Mas quando ele caiu em si, disse: “Quantos dos servos de meu pai têm pão de sobra, mas eu
aqui pereço de fome”.
6’ – “Levantar-me-ei e irei ao meu pai, e direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti e não sou mais
digno de ser chamado teu filho; faz de mim um escravo”.
5’ – E levantou-se e foi a seu pai, e enquanto estava ainda a grande distância, seu pai o viu, e teve
compaixão, e correu e abraçou-o e beijou-o.
4’ – E o filho disse: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti e não sou mais digno de ser chamado teu filho
3’ – E o pai disse aos servos: “Trazei a melhor roupa e vesti nele, e colocai um anel em suas mãos e sapatos nos pés”
2’ – E trazei o bezerro cevado e matai-o, e comamos e alegremo-nos
1’ – Pois este meu filho estava morto e está vivo; estava perdido e foi achado.
Os paralelos da inversão aparecem da seguinte maneira:

1 – Um filho é perdido (Dá-me a parte que me cabe)


2 – Bens gastos com uma vida extravagante
3 – Tudo perdido (Gastou tudo ... começou a passar necessidades)
4 – O grande pecado (alimentar porcos para gentios)
5 – Total rejeição (ninguém lhe dava nada)
6 – Mudança de mente (Caiu em si ... aqui pereço)
6’ – Arrependimento inicial (Faze de mim um escravo)
5’ – Total aceitação (seu pai correu e beijou-o)
4’ – O grande arrependimento (Não sou mais digno de ser chamado teu filho)
3’ – Tudo ganho (roupa, anel e sapatos
2’ – Bens usados em alegre celebração
1’ – Um filho é achado

Inicialmente precisamos perceber que a figura do pródigo não é o unico personagem da parábola. Nós costumamos chamar essa
parábola de “parábola do filho pródigo”, mas Jesus em momento algum disse que esse era o título da parábola. Ela poderia muito bem ser
chamada de “parábola do pai amoroso”, por exemplo. Então, antes de tudo, se liberte dos “rótulos” para poder observar a beleza de todos os
personagens do texto.
A parábola em questão é, de fato, uma obra de arte, pois em nenhuma outra escola literária do Oriente Médio e regiões próximas, outra
história onde o filho pedisse sua parte da herança, estando o pai ainda vivo. Essa situação é completamente inédita.
Também é importante entender qual seria a reação esperada de cada um dos personagens:

 O filho mais jovem pede a sua parte da herança, estando o pai ainda vivo;
 O pai deveria se enfurecer, agredir o filho mais novo, provavelmente usando a parte externa da mão
 O filho mais velho deveria entrar em cena, com sua função de reconciliador entre as duas partes
 Primeiramente, ele iria acalmar o pai, e pedir que ele esquecesse as palavras do filho mais jovem, e também pedir que ele se
acalmasse;
 Depois, ele iria até o mais novo, daria uma bronca nele e obrigaria que ele se retratasse com o pai, se humilhando e beijando
seus pés
 Depois disso, pai e filho se abraçariam, se reconciliariam, e então o filho mais velho teria cumprido seu papel.

Pergunta: foi isso o que ocorreu? Claro que não.


A atitude de amor do pai, em conceder o pedido do mais novo, é inédita. Também, o silêncio do mais velho fala alto; evidencia que ele,
assim como o mais novo, tinha problemas sérios de relacionamento com o pai, porém não colocava para fora.
Outro entendimento é precioso: naqueles dias e naquele lugar (Oriente Médio), a terra tinha um papel muito importante na sociedade.
Famílias costumavam morar na mesma terra por gerações.
O pedido do filho pródigo, de pedir sua parte da herança (que envolvia terra, certamente) caracterizava três tipos de separação:
 Com o Pai, obviamente;
 Com o irmão, pessoa que ele teoricamente nunca mais veria
 Com a sociedade (aldeia), pois ele seria visto como um traidor: alguém que renunciou à sua tradição familiar e não valoriza o local onde
sua familia vive.
A primeira parte da parábola demonstra como ambos os filhos fracassam terrívelmente em seus relacionamentos com o pai. Um deles
é um pecador declarado, enquanto o outro é um santo hipócrita. Um deles coloca sua insatisfação para fora, enquanto o outro consegue
manter escondida.

Quando o filho mais novo segue sua jornada para um país distante, a bíblia deixa claro que o dinheiro foi gasto com uma vida
etravagante, dispendiosa, esbanjadora, mas não há nada relacionado à imoralidade (ex. prostitutas, meretrizes). É importante ter esse detalhe
em vista porque, na parte final da parábola, o filho mais velho acusa o mais novo de imoralidade. Conclui-se que isso foi um acréscimo do filho
mais velho, com o intuito de “manchar” ainda mais a reputação do filho mais novo diante do pai.
Em uma terra distante, o filho mais novo “cai em si” e ensaia um discurso. Esse discurso era composto de uma confissão e um pedido,
e tudo isso fazia parte de uma estratégia.
A estratégia do pródigo, depois de confessar seus erros, era pedir que seu pai “fizesse dele um de seus trabalhadores”. Naqueles dias,
haviam 3 tipos de servos:

1) Servos (do grego, doulos): Essa era a classe mais comum de escravo, que trabalhava para o seu senhor, e que recebia em troca
abrigo e comida.
2) Escravos: uma classe abaixo dos doulos que recebiam ordens dos doulos. Eram escravos da classe mais baixa
3) Trabalhadores assalariados: um trabalhador que não pertencia à proriedade, um trabalhador ocasional. Ele vinha, fazia seu trabalho, e
saía. Porém, diferente das duas outras classes, esse tipo de trabalhador era um homem LIVRE.
Em sua mente, o filho mais novo está pensando em se colocar nessa terceira categoria de trabalhador (parecido com os trabalhadores dos
dias de hoje), e existem muitos motivos para isso:

1) O motivo mais importante era entender a estratégia do filho mais novo. Ele entendia que precisava COMPENSAR seu pai pelo
PREJUÍZO FINANCEIRO que ele havia causado. Ele achava que a grande questão era o dano material, ao invés de perceber o real
problema: o problema relacional. Assim, ele receberia seu salário e PAGARIA ao pai por tudo que ele perdeu. Aos olhos do mais novo,
o arrependimento envolve OBRAS DE COMPENSAÇÃO.
2) Em segundo lugar, sendo um assalariado ele não faria PARTE da fazenda, não precisaria viver ao lado de seu pai, e nem estar
novamente sob as ordens dele;
3) Além disso, já que ele não fazia parte da fazenda, ele não COMERIA da parte da herança de seu irmão, e nem precisaria conviver com
ele;
4) Pelo fato de não viver na fazenda, ele não precisaria REATAR OS LAÇOS COMUNITÁRIOS. Ele certamente encararia a hostilidade da
aldeia em seu trajeto de ida e vinda, mas isso certamente seria “menos pior” do que viver na fazenda.

A estratégia do mais novo foi cuidadosamente pensada. Ele arquitetou um plano para tentar resolver os problemas que ele causou,
sem entrar na área sentimental. Ele não queria restaurar relacionamentos, apenas compensar danos materiais. Essa é a mentlidade
corrompida de arrependimento de muitas pessoas: elas desejam se salvar, ao invés de serem salvas.

Entretanto, como bem sabemos, os planos do pródigo vão por água abaixo quando o pai o vê de longe, entrando na aldeia. As atitudes
do pai demonstram um amor e uma graça imensuráveis, sem precedentes, diante de um filho que não merecia nem 1% daquilo. Cada
atitude tem um simbolismo enorme, tendo em vista todos os níveis de relacionamento que o pródigo havia quebrado, e também o modo
como aquele filho seria tratado por todos daqui em diante:
1) O pai correu ao seu encontro: pode parecer algo simples, mas não é. Um homem de idade não corre, não se apressa. O modo de
andar diz muito sobre ele. Homens honrados, de posição na sociedade, simplesmente não correm, aconteça o que acontecer.
Quando o pai corre em direção ao filho ele está literalmente se expondo ao ridículo para proteger o filho da hostilidade da aldeia
(que certamente viria). Um filho que merecia o pior tratamento recebe a melhor recepção. A graça contundente encontra o coração
do pródigo por meio das atitudes do pai. Não existem palavras de aceitação, apenas atitudes.
2) O pai manda que vistam a melhor roupa nele: a pergunta que fica é a seguinte: existe alguma roupa melhor do que a roupa do pai?
Não. Quando o pai pede a “melhor roupa” ele esta dizendo: “traga a MINHA roupa e coloque nele”. Isso, para que, quando a
comunidade olhasse para o filho visse nele as roupas do pai, e então aceitasse ele novamente.
3) Depois disso, o pai pede um anel. A autoridade, credibilidade e governo são restituidas.
4) Também pede que coloquem sapatos nos seus pés. Servos e escravos não usam sapatos. Apenas o senhor usa sapatos. A lição
aqui é deixar bem claro que o pródigo não será inserido na casa como um doulos ou um escravo, ou um trabalhador. Ele é filho.
Tratem ele como meu filho.
5) Por fim, tragam um bezerro cevado. Precisamos entender que um animal desse tamanho não era sacrificado para uma
comemoração familiar. A escolha de um bezerro indica que a comemoração será COMUNITÁRIA. O pai continua em sua
incessante empreitada para re-inserir o pródigo ao contexto da ALDEIA, da SOCIEDADE. Ele precisa ser re-inserido (assim como a
ovelha e a dracma foram re-inseridas).
Os temas fundamentais e finais da parábola são:

1) Pecado: A parábola retrata dois tipos básicos de homens pecadores, ilustra a natureza do pecado e seus resultados
2) Arrependimento: Dois tipos de arrependimento são demonstrados. Um é o arrependimento de um homem que pensa que pode salvar-
se a si mesmo. O outro é o arrependimento de um homem que sabe que não pode salvar
3) Graça: Esta parábola ilustra a natureza do amor de Deus, oferecido gratuitamente, e falar a respeito do seu preço. É um amor que
procura e sofre afim de salvar
4) Alegria: A alegria é experimentada em encontrar-se e em comemorar comunitária mente a restauração do perdido
5) Filiação: Um filho é restaurado da morte e da servidão. 1 segundo insiste em permanecer como servo

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