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PERDIDO DENTRO DE CASA

Pr Evandro de Medeiros Silva

O psicólogo suíço Jean Piaget, eu seu livro, “O Juízo Moral da Criança”,


descreve como uma criança lida com o certo e o errado – o que é permitido e o
que é proibido. Ele fez uma pesquisa com crianças que estavam jogando
bolinha de gude nas ruas de Genebra, fazendo apenas três perguntas: 1) Que
idade você tem? 2) Como é que se joga bolinha de gude? 3) Como você sabe
que é desse jeito que você joga?

Ele descreve uma conversa que teve com um menino de 5 anos de idade. Ele
começa perguntando:

- Quando as pessoas estavam construindo a cidade, as crianças jogavam


bolinha de gude da maneira que você me mostrou?
- Sim
- Sempre desse jeito?
- Sempre
- Como você ficou sabendo das regras
- Meu irmão me mostrou. Meu pai ensinou meu irmão
- E seu pai como aprendeu?
- Meu pai simplesmente sabia. Ninguém lhe ensinou.
- Fale-me de algumas pessoas mais velhas que seu pai.
- Meu avô
- Ele jogava bolinha de gude?
- Sim, mas não com regras.
- Diga-me quem nasceu primeiro, seu pai ou seu avô?
- Meu pai nasceu antes do meu avô.
- Onde está Deus?
- No Céu
- Ele é mais velho que seu pai?
- Não é tão velho

Piaget mostra quem é a autoridade inquestionável para aquela criança. Seu pai
tem mais experiência que seu avô e até mesmo que Deus. Ele chama essa
estágio de estágio das regras. As crianças acabam se acostumando apenas
com as regras e simplesmente com elas! As regras são mais importantes que
tudo!

Mas ele mostra no decorrer da pesquisa que no jogo de bolinha de gude, as


crianças não ficam nesse primeiro estágio. Elas com o passar do tempo
começam a questionar aquelas regras infantis. “quem disse que temos que
jogar desse jeito”. Começam a fazer suas próprias regras tolas e abandonam
as regras anteriores. Ele chama esse novo estágio de estágio da rebeldia.

O fato é que na nossa vida espiritual corremos o perigo de passar por esses
dois estágios. A bíblia nos apresenta uma história que demonstra essa
realidade:
LUCAS 15: 11-24

Geralmente nós encerramos a parábola por aqui. Dessa parábola


fazemos grandes sermões, tiramos lições, fazemos apelos. Nem conseguimos
imaginar quantos sermões já ouvimos sobre o filho pródigo. Afinal de contas é
uma história importante. O pródigo nos mostra o segundo estágio da pesquisa
de Piaget. A rebeldia. Ele estava cansado de seguir regras. De viver sob as
“asas” do Pai. Queria “liberdade”. O pai o havia cercado de conforto e amor,
mas para aquele jovem não era suficiente, pois as coisas não aconteciam do
seu jeito. Decide agora abandonar as regras, pede a sua parte da herança (o
que significa desejar a morte do pai) e vai embora!

Sabemos como essa história termina. Uma linda história de


arrependimento, graça e redenção. Após se dar mal na sua nova jornada de
liberdade o jovem percebe que só há vida plena nos braços do pai. Talvez essa
primeira parte da parábola está na bíblia para você que veio aqui hoje e que
tem vivido uma experiência muito parecida com a desse jovem. A mensagem
de Deus para você é que os braços do Pai estão abertos esperando pelo seu
retorno!!

MAS A PARABOLA NÃO ACABA AQUI NO VERSO 24

VERSO 25-32

O irmão mais velho é mencionado duas vezes na abertura da cena.


Primeiro, o versículo 11 nos informa que o pai tinha dois filhos, e segundo, no
versículo 12 lemos que a sua parte da herança lhe e assegurada, porque o
texto diz que o pai “lhes repartiu os haveres”. Teria ele também recebido a
parte dos bens que lhe cabia? Talvez. Se esse foi o caso, os contornos do seu
caráter começam a se delinear!

Na cultura Oriental, se esperava que o irmão mais velho, como


primogênito, tomasse duas principais atitudes mediante o pedido do irmão:
primeiro, ele deveria recusar vigorosamente aceitar sua parte da herança, não
deveria desejar a morte de seu pai. Em segundo lugar, o irmão deveria
assumir o seu tradicional papel de conciliador. Entre os orientais, o rompimento
de relações era restaurado pela figura de uma terceira parte, o mais próximo
das duas partes, nesse caso, o irmão mais velho. Mas seu silêncio sugere que
seu relacionamento com o pai também não era o dos melhores.

E na ultima cena que o verdadeiro caráter do filho mais velho se torna


evidente. O texto (v. 25) informa que ele vem do trabalho e, mais tarde, é o
trabalho que ele usa como evidencia dos seus méritos. Esse filho vive
exteriormente com seu pai e o serve também exteriormente. Interiormente,
porém, ele está tão distante quanto o irmão e sua condição talvez seja pior,
uma vez que ele não tem consciência dela.

O Irmão pergunta ao servo o que está acontecendo e ao saber fica irritado e


decide não entrar em casa. O Pai sai e vai ao seu encontro de braços abertos.
Vemos mais uma vez a figura do pai indo ao encontro do filho para trazê-lo
para casa. Mas este começa a reclamar.

O filho mais velho demonstra a atitude e o espírito de um escravo, não


de um filho. “Olha, tenho trabalhado como um escravo ha tantos anos.” Aqui a
máscara cai completamente, revelando a distância do seu coração. O pai
pensara que tinha um filho, mas para o filho mais velho ele era apena um
escravo. Ele tem vivido na casa com o espírito de escravo, não com a
familiaridade de um filho. Sua atitude e clara: “eu tenho trabalhado, onde esta a
minha recompensa?”, ele demonstra mais interesse nas posses do seu pai do
que no próprio pai.

A diferença entre ele e o seu irmão mais novo e que aquele demonstrou
rebeldia ao partir de casa em direção ao país distante. O filho mais velho é
rebelde no coração, enquanto permanece dentro de casa.

As palavras finais, registradas nos versos 31 e 32, são palavras que


procedem do coração ferido, porque esse pai ansiava ter a alegria completa e
ver seus dois filhos em sua casa, na sua festa de celebração. O pai afirma que
os direitos do seu filho mais velho estão plenamente garantidos, mesmo
quando a graça foi estendida ao pródigo. “Tudo o que e meu e teu.”

A inesperada oferta de amor diante do ato de publica humilhação tem sua


contrapartida na cruz. O Deus descrito por Jesus na parábola transcende o
mesquinho, vingativo e autoritário deus de nossa própria criação. O Deus de
Jesus não necessita possuir nada, nem controlar ninguém. O que Ele tem, Ele
oferta, e para Ele, a única resposta satisfatória e aquela que brota do amor.
Livre e espontaneamente. Entretanto, na oferta de amor do pai e na resposta
do filho mais velho, nos encontramos mais uma vez com o ponto fraco do
amor: o amor pode ser rejeitado!

Na história de Jesus, não temos nos dois filhos duas categorias: um


culpado porque saiu de casa e outro justo porque ficou. Apenas há culpados
aqui: o filho mais moço, a quem o pai aceita e perdoa a culpa, e o filho mais
velho, que não tem consciência de sua distancia do pai.

A ironia final da parábola:

O filho mais novo, que estava fora, termina dentro da casa do pai. O mais
velho, que pretendia estar dentro, permanece fora. A parábola chega a uma
conclusão inimaginável. O filho mais novo, “o mau caráter” da historia, entra na
festa do seu pai, enquanto o filho “bom” permanece fora. Percebemos através
da parábola que o mais importante para nossa salvação não é as nossas ações
e sim a decisão do nosso coração.

A ENFASE DA PARÁBOLA ESTÁ NAS AÇÕES DO PAI. UM PAI AMOROSO


QUE ESTÁ DE BRAÇOS ABERTOS DISPOSTO A RECEBER TODOS QUE
SE VOLTAM PARA ELE!!

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