Você está na página 1de 3

A casa do Pai...

lugar de liberdade, conflitos, provisão e graça


Lucas 15.11-32

INTRODUÇÃO

Foi em Glasgow, na Escócia, que esta história se passou. Uma adolescente fugiu de casa
para viver "sua" liberdade, mas logo caiu na realidade da vida. Sem dinheiro para se manter
e sem coragem de voltar para casa, acabou por entrar no mundo da prostituição. Os anos se
passaram, mas, apesar da saudade dos pais, ela nunca mais tentou qualquer contato com eles.
Seus pais sempre a procuraram, em vão, porém, desde a morte do seu pai (que ela nem ficou
sabendo), sua mãe intensificou as buscas, deixando um cartaz de "Procura-se" em qualquer
lugar onde lhe permitissem. Neste cartaz a mãe havia colocado sua própria foto, escrito
embaixo: "Eu ainda amo você. Volte para casa". Os meses se passaram sem qualquer
notícia, até que um dia, numa fila de sopa para pessoas carentes, a moça viu a foto da sua
mãe, que apesar de ter envelhecido bastante, ainda conservava o mesmo olhar que ela
guardava em suas lembranças. Não pode conter a emoção e, naquele dia mesmo, voltou para
casa. Era tarde da noite quando chegou. Tímida, ela se aproximou da porta. Ia bater, mas ela
se abriu sozinha. Entrou assustada, apavorada com a idéia de que algum ladrão tivesse
invadido a casa e "sabe lá Deus o quê" poderia ter feito. Correu para o quarto e viu sua mãe
dormindo. Acordou-a. Ambas choraram muito. Abraçaram-se. Reconciliaram-se.
Lembrando-se da porta aberta, a moça disse: - Puxa, mãe, levei um susto tão grande quando
cheguei. - Por que, minha filha? - É que a porta da frente estava aberta e eu pensei que
algum ladrão tivesse invadido a casa. Você precisa tomar mais cuidado, mãe. Não pode mais
esquecer a porta aberta. - Não meu amor, você não está entendendo. Eu não esqueci a porta
aberta. Desde o dia em que você foi embora, esta porta nunca mais foi fechada.

DESENVOLVIMENTO

Esta é a última das três parábolas sobre perda e redenção, na sequência da Parábola da
Ovelha Perdida e da Parábola da Moeda Perdida, que Jesus conta após os fariseus e líderes
religiosos o terem acusado de receber e compartilhar as suas refeições com "pecadores". A
alegria do pai descrita na parábola reflete o amor divino, a "misericórdia infinita de Deus" e
"recusa de Deus em limitar a sua graça".

O pedido do filho mais novo de sua parte da herança é "ousado e arrogante" e equivale a
querer que o pai estivesse morto. Suas ações não levam ao sucesso e ele finalmente se torna
um trabalhador com a degradante tarefa (para um judeu) de cuidar de porcos, chegando ao
ponto de invejá-los por comerem vagens de alfarroba (uma vagem usada para substituir o
chocolate). Em seu retorno, o pai trata-o com uma generosidade muito maior do que ele teria
o direito de esperar.

O filho mais velho, ao contrário, parece pensar em termos de "direito, mérito e recompensa"
ao invés de "amor e graça". Ele pode representar os fariseus que estavam criticando Jesus.

Todo o capítulo 15 está centrado na seguinte informação inicial de Lucas: “Todos os


publicanos e pecadores se aproximavam para ouvir Jesus. Os fariseus e os escribas, porém,
murmuravam: Esse homem recebe os pecadores e come com eles!” (Lucas 15,1-2). Era isto
que estava acontecendo no contexto de Lucas. Os pagãos se aproximavam das comunidades,
querendo entrar e participar. Muitos judeus murmuravam, achando que acolhê-los era contra
o ensinamento de Jesus. Em seguida, Lucas traz três parábolas ligadas entre si pelo assunto:
a ovelha perdida (Lucas 15,4-7), a moeda perdida (Lucas 15,8-10), o filho perdido (Lucas
15,11-32).

A última parábola é o assunto deste texto. Geralmente é chamada “A parábola do Filho


Pródigo”. Como veremos, iremos chamá-la “A casa do pai: lugar de liberdade, conflitos,
provisão e graça”. Continuou: Certo
homem tinha dois
1. Na casa do pai temos liberdade. filhos;
o mais moço
Estavam os dois filhos vivendo debaixo de uma boa condição e levando em conta o relato de deles disse ao pai:
Lucas, eles viviam em pena liberdade. Nesse contexto vamos observar algumas Pai, dá-me a parte
características desse filho mais moço: dos bens que me
cabe. E ele lhes
a. Uma arrogante autodeterminação. Agora ele quer ser o dono de sua vida, dono de seu repartiu os haveres.
destino.
b. A tentativa de se afastar ao máximo, para um lugar onde voz ou presença do pai não
pudessem constranger o seu modo de viver dissoluto.

E assim o filho pródigo vai de prazer em prazer, de farra em farra, de prostituta a prostituta,
de motel em motel, de bebedeira em bebedeira. Gastando e consumindo tudo o que tem,
procurando mais prazer, no culto ao corpo, no culto de si mesmo.

Na procura de uma felicidade, uma satisfação de seus próprios instintos, cria quase que um
buraco negro no peito, que segue devorando todos os seus recursos físicos e psicológicos.
Uma tentativa desesperada de preencher esse vazio.
Então, caindo em si,
2. Na casa do pai somos responsáveis por nossas escolhas. disse: Quantos
Um dia acorda o filho mais novo e resolve que quer parte da sua herança. Ele tinha direito a trabalhadores de
meu pai têm pão
um terço da herança quando seu pai morresse, porém, ele não podia esperar. Essa atitude foi com fartura, e eu
um completo desrespeito; ele não se importou com a vida do pai. Ele não quis saber se o pai aqui morro de fome!
contava com ele para ampará-lo na velhice. Seus planos eram mais importantes. Ele amava Levantar-me-ei, e
irei ter com o meu
mais a si mesmo do que ao pai. Ele quebrou os mandamentos de Deus. pai, e lhe direi: Pai,
pequei contra o céu
No versículo 14 temos notícias do início de sua ruína. Seus recursos acabaram, ele havia e diante de ti; já não
gastado tudo e começou a passar necessidades. O dinheiro acabou e a fome chegou. Para sou digno de ser
piorar ele estava em terra estrangeira e ninguém podia socorrê-lo, não tinha mais amigo, não chamado teu filho;
trata-me como um
tinha mais status, não tinha mais herança. O desejo mundano é passageiro, é ilusão, ele leva dos teus
embora a alegria, ele arruína a vida, ele traz solidão. trabalhadores.

O versículo 15 nos mostra a humilhação a qual o filho mais novo foi submetido. Para
sobreviver ele foi cuidar de porcos. Devemos nos lembrar de que ele era um judeu, e como
tal não podia ter contato com porcos. Estes animais eram considerados imundos pela Lei
(Levítico 11:7). Os rabinos consideravam as pessoas que cuidavam de porcos amaldiçoadas.
Com isso percebemos que ele perdeu seus recursos, sua religião e consequentemente sua
identidade.
O versículo 17 nos mostra o momento de seu arrependimento. Lemos que ele “caiu em si”.
No originou seria algo como “recobrou seu senso” ou “quando voltou a si mesmo”. Nesse
momento vemos que ele sentiu saudade de casa. Ele descobriu que os empregados
temporários de seu pai eram mais dignos do que ele, de modo que tais empregados diaristas
tinha o que comer, e ele morria de fome.

3. Na casa do pai existe abundante graça


No versículo 20 lemos que o pai avistou o filho que estava retornando. O pai nunca havia
perdido o interesse no filho, e uma vez e outra sempre estava olhando o caminho à espera do
dia que o filho voltaria. O filho, quando partiu, achava que nunca mais voltaria ali, mas o pai
tinha certeza de que um dia ele estaria de volta. Isso fica muito claro na reação do pai.

O texto bíblico diz que o pai se compadeceu profundamente. Ele correu para o filho.
Naquela época um ancião não podia correr, isso era indigno, mas o pai não se importou com
a humilhação, o que importava era o filho a quem ele estava buscando no caminho. O pai o
abraçou, não olhando para as condições em que seu filho estava se aproximando. O filho
estava rasgado, descalço, era a personificação da miséria, mas o pai só olhou o
arrependimento, e o acolheu em seus braços. O pai também o beijou repetidas vezes.
Perceba que ele se compadeceu, correu, abraçou e beijou, antes de dizer uma única palavra.
Que amor maravilhoso. Que graça incompreensível.

a. A salvação do filho pródigo passa pelo entendimento do significado do mundo.


b. A salvação do filho pródigo passa também pelo reconhecimento de sua condição.

APLICAÇÕES
Diante do contexto apresentado nesta parábola, algumas lições podemos apreender que
podem aplicar-se ao nosso relacionamento familiar:
1 – Na casa do pai sempre haverá espaço para o perdão.
Por mais que sejamos inconsequentes em nossas escolhas, nossas famílias precisam nutrir
um profundo desejo para a reconciliação e recomeços.
2 – Na casa do pai, relacionamentos são mais importantes.
É muito importante desejarmos que nossos filhos e nós mesmo sejamos educados e treinados
para serem homens e mulheres de sucesso profissional, a preocupação vocacional precisa
fazer parte dessa lista, entretanto, relacionamentos sempre devem vir na frente de tudo.
Nosso relacionamento com Deus, nossos relacionamentos conjugais e nossos
relacionamentos paternais.
3 – Na casa do pai a esperança é o fruto do amor e da graça que recebemos de Deus.
Nossos filhos podem descumprir as regras, nossos cônjuges podem frustrar nossas
expectativas, mas uma família que serve a Deus nunca perde as esperanças. O passado não
volta mais, mas nosso futuro está nas mãos daquele que domina a história e tem uma aliança
eterna conosco.

Você também pode gostar