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Aba Pai

Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra


vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no
qual clamamos: Aba, Pai. (Rm 8.15)

Na velha aliança as pessoas viviam debaixo de escravidão e medo de Deus. Hoje não
precisamos mais viver assim porque fomos feitos filhos. Pelo Espírito nós clamamos “Aba
Pai”. O Espírito fez questão de deixar essa expressão em hebraico para que não houvesse
dúvida. Aba é a forma como as criancinhas se dirigem a seus pais ainda hoje em Israel. Sua
melhor tradução seria “paizinho”. É uma forma íntima e amorosa de se relacionar com o
seu pai.
A menos que você seja capaz de chamar a Deus de paizinho você ainda está debaixo
do espírito de escravidão e do medo. A expressão “outra vez” se refere a lei do Velho
Testamento. Naquele tempo as pessoas se relacionavam com Deus debaixo do medo
próprio de um escravo. Hoje, porém, podemos clamor pelo paizinho, Aba Pai.
Minha filha quando era pequena não tinha de saber como falar comigo ou conhecer a
minha vontade. Tudo o que ela tinha de fazer era gritar por papai no meio da noite. Ela não
precisava clamar: “oh aquele que habita no quarto ao lado, venha ajudar-me!” Não. Bastava
apenas gritar por papai.
Muitas vezes, quando minhas filhas eram pequenas, eu chegava em casa cansando e
elas vinham me mostrar tudo o que tinham feito durante o dia. Nem sempre elas tinham a
minha completa atenção, mas quando saíam para o jardim e de repente gritavam “papai!”
Imediatamente eu saia correndo para ver o que tinha acontecido.
Tire da sua mente a imagem de um Deus distante a quem você precisa convencer e
persuadir a vir ajudá-lo. Isso é um engano maligno. Tudo o que você precisa fazer é clamar
por papai.

Como é o nosso Pai


Em Lucas 15.11-32 temos a história conhecida como parábola do filho pródigo, mas a
parábola na verdade é a respeito do pai. O alvo do Senhor ali é nos revelar o caráter de
nosso pai.
Nessa parábola o pai divide a herança com seus dois filhos (15.12). O fato do filho
mais novo pedir a herança com o pai ainda vivo é uma forma de desejar a morte do pai.
Mesmo assim o pai graciosamente dividiu com eles a herança.
Na cultura judaica o filho mais velho tinha direito a 66% da herança, uma porção
dobrada em relação ao irmão mais novo. Mesmo tendo uma herança tão grande o filho mais
velho nunca desfrutou dela.
O mais novo saiu pelo mundo e gastou todo o seu dinheiro em orgias e bebedices.
Quando não tinha mais dinheiro os seus amigos o abandonaram e ele se tornou um cuidador
de porcos, a profissão mais indigna para um judeu.
Num dia ele caiu em si e disse: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com
fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai,
pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como
um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai” (15.17-20).
Em nenhum momento ele se importou por ter partido o coração do seu pai. Em hora
alguma ele se preocupou com o pai, mas apenas consigo mesmo. Ele voltou porque tinha
fome. A barriga o levou de volta para casa.
Mas mesmo assim o pai ansiava pelo filho perdido. E nesse momento temos o retrato
do nosso Pai. O mundo está clamando pelo amor do nosso Pai.

Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido


dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei
contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu
filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor
roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei
também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,
porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi
achado. E começaram a regozijar-se. (Lc 15.20-21)

Quem supostamente poderia estar irado e desapontado era o pai, mas em vez disso ele
estava cheio de compaixão e perdão. No entanto o irmão mais velho ficou irado de fora da
festa. Ele vivera toda a sua vida tentando merecer o amor do pai, mas tudo já era dele,
contudo ele nunca desfrutou de nada. Nunca saiu da casa do pai, mas ainda assim não
conhecia o amor do seu pai. Não olhe para a sua performance, olhe para a graça do Pai. O
pai, porém, estava cheio de alegria pela volta do filho.
Conta-se que Alexandre o Grande certa vez foi abordado por um mendigo pedindo
esmolas. Imediatamente ele lhe atirou duas moedas de ouro. O seu escudeiro vendo aquilo
lhe questionou: “por que dar duas moedas de ouro se duas moedas comuns satisfariam a
necessidade do mendigo? Alexandre então respondeu: “duas moedas comuns são
apropriadas para a necessidade do mendigo, mas duas moedas de ouro são apropriadas para
a grandeza de Alexandre.”
Deus não nos prometeu suprir-nos de acordo com a nossa necessidade, mas ele
prometeu nos suprir de acordo com a sua riqueza em glória (Fp 4.19). Deus não nos perdoa
de acordo com os limites de nosso arrependimento ou confissão, mas ele nos perdoa de
acordo com a riqueza de sua graça (Ef 1.7).

O pai se compadeceu
Jesus disse que quando seu pai o avistou, compadecido dele, correu, o abraçou, e
beijou (15:20). A primeira coisa que o Senhor diz é que o pai se compadeceu.
O pai estava sempre olhando no horizonte esperando por seu filho. Naquele tempo
mesmo as pessoas ricas viviam juntas nos vilarejos por uma questão de segurança. Assim
todo o vilarejo sempre via o pai com os olhos fixos no horizonte esperando pelo seu filho.
Eles certamente se compadeciam do homem, mas amaldiçoavam o filho ingrato.
Esse pai foi completamente rejeitado e se tornou objeto de ridículo por causa do filho.
Esse pai perdeu uma grande quantidade de dinheiro por causa do filho, mas mesmo assim o
seu coração estava cheio de compaixão. O Senhor está aqui nos dizendo como é o coração
de Deus. Ele não está cheio de ira e condenação, mas está pleno de compaixão.
Nunca devemos pensar que apenas os pródigos precisam provar do amor do pai.
Mesmo aqueles que nunca saíram de casa precisam descobrir esse amor. Muitos crentes
nunca tiveram uma experiência profunda com o amor do pai.
Esta parábola deveria ser chamada de a parábola do pai pródigo, pois ele não se
importou com os seus bens, mas estava disposto a dar tudo novamente para o seu filho,
mesmo que ele nada merecesse. Nosso pai é extravagante em sua generosidade.

O Pai correu
A segunda coisa que o Pai fez foi correr. No grego tem mais de uma palavra para
correr. Uma palavra fala da corrida lenta e constante, enquanto a outra fala de uma largada
explosiva. Qual das duas você acha que Jesus usou aqui? Foi uma explosão em direção ao
filho. Ele correu no ritmo do seu próprio coração cheio de amor.
O pai viu o filho vindo ainda longe e então correu em sua direção. Naqueles dias
pessoas idosas não corriam pois era considerado indigno, mas o pai ergueu sua roupa e
correu em direção ao seu filho. Ele abriu mão de sua glória como pai.
Esse é o único lugar na Bíblia que se diz que Deus correu. Quando fazemos menção
de nos voltarmos para ele o pai imediatamente corre em nossa direção.
Nas olimpíadas de Barcelona em 1992 na competição dos 400 metros rasos um atleta
estava correndo então subitamente ele caiu, mas continuou tentando chegar até a linha de
chegada mesmo mancando com muita dor. Imediatamente um homem saltou da
arquibancada e correu em sua direção. Os seguranças tentaram segurá-lo, mas ele se
desvencilhou deles, colocou o braço do jovem sobre os seus ombros e o levou até a linha de
chegada. Aquele homem era o seu pai. Vendo isso a arquibancada esqueceu do vencedor da
corrida e explodiu num aplauso grandioso. Foi o maior aplauso naqueles jogos. Há poder
quando o pai sustenta o seu filho.

O pai o abraçou
A terceira coisa que o pai fez foi abraçar seu filho. É preciso lembrar que seu filho
ainda estava fedendo a porcos. Mas isso não o impediu de envolver seu filho.
Existe um famoso psicólogo chamado René Spitz. Depois da segunda guerra mundial
ele relata suas observações em crianças nos orfanatos. Depois da guerra havia milhares e
milhares de órfãos em toda a Europa. Eles tinham como alimentar essas crianças, mas não
tinham pessoas suficientes para cuidar delas. Durante três anos ele observou as
consequências da falta de contato físico nas crianças de um desses orfanatos. Nele havia 97
crianças entre três meses e três anos de idade. O relato de suas observações é chocante. Ele
diz que depois do primeiro mês muitas delas não comiam, não conseguiam dormir e
algumas ficavam com o olhar fixo na parede. Depois de cinco meses muitas crianças
choravam incontrolavelmente e quando alguém tentava pegá-las no colo elas gritavam de
medo. No final de um ano um terço daquelas crianças tinham morrido. Eles não morreram
porque não havia comida para elas, mas por absoluta falta de contato físico como abraços e
beijos.
Essa história é bem triste, mas ela mostra a necessidade do homem do abraço do pai.
Essa não é apenas uma necessidade natural, mas espiritual.
Um pastor conta que sua filha entrou num estado grave bulimia e anorexia na
adolescência. Ela estava morrendo de desnutrição. Num dia ele orou a Deus
desesperadamente por sua filha e então sentiu um forte impulso para abraçá-la. Ela se
debateu no começo, mas ele a abraço com força. Depois de alguns minutos ela começou a
chorar convulsivamente e ele apenas repetia que a amava. Ela chorou por horas, mas depois
disso ela passou a comer e foi totalmente curada.
Hoje o Pai corre em sua direção cheio de compaixão para envolvê-lo num abraço
amoroso.

O pai o beijou
Mas isso não é tudo. O texto diz que o pai também o beijou. O interessante é que a
palavra grega usada aqui não significa um simples beijo, mas significa beijar muitas vezes,
repetidamente de forma terna e afetuosa. Lembre-se que o garoto ainda cheirava a chiqueiro
de porcos, mas isso não impediu o pai de beijá-lo muitas vezes. Esse é o nosso Pai. Essa
parábola é para nos revelar o Pai.
Há um pastor americano muito conhecido chamado Joe Bailey. Ele conta que na
época dos hippies seu filho se rebelou, deixou a família, a igreja e resolveu se juntar a eles
com os cabelos longos e usando drogas. Num dia seu pai estava procurando por ele e então
numa noite o encontrou dormindo com muitas outras pessoas num galpão. O pai entrou
com cuidado, se desviou das pessoas dormindo, se inclinou e o beijou. Não muito depois
disso o garoto se converteu, recebeu a Cristo e se tornou um grande líder. Depois ele
testemunhou ao seu pai: “você sabe o dia que a minha vida mudou? Foi naquela noite em
que você foi a aquele galpão e me beijou. Você pensou que eu estava dormindo, mas eu
estava acordado. Naquele instante eu pensei que se meu pai pode me amar tanto assim,
quanto mais meu pai celestial.”
Como Deus nos abraça hoje? Por meio do Espírito Santo. Em Atos lemos que Pedro
ainda falava quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra (At 10.44).
A palavra cair em grego é “epipipto” e é exatamente a mesma palavra traduzida como
abraçar aqui Lucas 15.20. Isso significa que o Espírito os abraçou quando os encheu.
No abraço do Pai todo veneno do diabo é removido.
No abraço do Pai o seu perfume tira de nós o odor dos porcos.
No abraço do Pai somos curados e restaurados.
No abraço do Pai sentimos segurança e fé para desfrutarmos de nossa herança
novamente.
Você nunca saberá o quanto o pai lhe ama até entender o quanto o Pai ama a Jesus
pois ele resolveu entregar a Jesus para ter você. Esse é o Pai que correu explosivamente
para abraçá-lo e dizer que o ama. Aquele que o cobriu de beijos quando você ainda estava
sujo pelo pecado. O Pai não exigiu que o filho provasse que estava arrependido, mas o
perdoou instantaneamente e completamente.
Nós nem falamos da melhor roupa, do anel, das sandálias nos pés, do novilho cevado
e da festa. Hoje vamos falar apenas desse amor que nos enche e nos transforma. Você já
não está sozinho. Você chegou em casa e o Pai está aqui para festejar a sua chegada.

Pr. Aluízio Silva

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