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Deus não

aplaude
bons
atores
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Examinando o caráter dos filho

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NOTA DE ESCLARECIMENTO
AO LEITOR

Caro leitor, temos o entendimento em nosso coração


de que tudo o que recebemos de graça de graça daremos,
como disse nosso Senhor:

“de graça recebestes, de graça daí”. Mateus 10:8


Esse livro não foi elaborado com o intuito de
produzir renda pessoal, seu objetivo é claro e único: gerar
recursos para sustentar o trabalho missionário nas
nações, especificamente ao projeto Amade do Mãos para
as Nações. À vista disso, todo lucro arrecadado com a
venda desse livro será doado para o projeto Amade.
Conheça mais sobre o projeto Amade: https://maosparanacoes.com.br

Contato da autora: upedete@gmail.com

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Agradecimentos

Agradeço ao Senhor Deus que me deu esperança ao enviar Jesus e me salvar da condenação
iminente. Também à graça que o Senhor Jesus me proporcionou através do Espírito Santo,
essa capacidade de escrever e me expressar com liberdade.

Agradeço ao meu amado esposo, Paulo Ricardo, que contribuiu significantemente para a
escrita desse livro, de todas as formas. Ele me sustentou emocionalmente quando tudo não
contribuía para esse fim e me incentivou sem medir esforços, para que um dia esse livro
estivesse publicado.

Aos meus familiares: pai, Walter Guerra , mãe, Francisca Guerra e irmã, Andressa Guerra,
que acreditaram em mim, sempre me suportando e animando.

Aos meus pais espirituais Wolneir e Luciana Protásio.

Aos pastores Willian e Jane do ministério Casa de Adoração em Primavera do Leste, sem
eles não haveria publicado esse livro, pelo menos não agora.

A todos os amigos fieis que não desistiram de mim.

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Índice:
Introdução

Capítulo 1 – O Exemplo que se suja

Capítulo 2 – Desculpas esfarrapadas

Capítulo 3 – O contraste entre o pecador e o bom ator

Capítulo 4 – A sedução da aparência

Capítulo 5 – A constituição do Reino I

Onde reside a verdadeira felicidade

Capítulo 6 – A constituição do Reino II

O choro que liberta e a mansidão que autoriza

Capítulo 7 – A constituição do Reino III

Divino descontentamento

Capítulo 8 – A constituição do Reino IV

Óh rica misericórdia

Capítulo 9 – A constituição do Reino V

Alvo mais que a neve

Capítulo 10 – A constituição do Reino VI

Paz e perseguição?

Capítulo 11 – O que é preciso é urgente

O ser capaz mora perto da necessidade

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INTRODUÇÃO

Ando por garimpar as preciosas palavras do Eterno, quão preciosas elas são.
Inefáveis, indizíveis. Tudo que percebo é a impossibilidade do homem de alcançar sua
sabedoria. Mas é inevitável o maior sentimento que me acomete: quanto mais a leio mais
me decepciono comigo mesmo e com meus semelhantes. Percebo enormes empecilhos,
postos por nós, para que nosso Pai se aproxime. Por meses de estudo cheguei a uma
simples conclusão: Você terá que o buscar. Então busque o certo e não se engane, seus
sonhos são reais, sua mão tocará o que sua mente desenhou.

O teatro tem sido o palco da vida. Temos uma tendência horrível de nos esconder
do quem realmente somos e simplesmente nos maquiar àquilo que gostaríamos de ser.
Percebemos essa inclinação presente desde os primórdios momentos da nossa história,
quando os primeiros homens desobedeceram ao único pedido de Deus – sua consequência:
seus olhos viram que estavam nus. O homem aprendeu a se ver e a ver ao próximo com
olhos de julgamento e condenação. Desde então, foi-se necessário “se esconder” ou se
mascarar; porque assim, como realmente é, nunca alcançará o poder de ser bom, feliz ou
aceito (Gêneses 3).

Ouvi milhares, se não, milhões de sermões no quesito: você precisa mudar! Deixe
o pecado! Você será condenado! Você colhe o que planta! E assim vai. Mas pouquíssimas
ou talvez nunca alguém me contou como não pecar. Porque obviamente eu tentei ser uma
boa garota, todos esperavam isso de mim. Construí a temerosa: REPUTAÇÃO. Não a
queria arruinada. Fiz tudo ao meu alcance para transformar minha vida em um espelho
perfeito de Cristo. Exigia-me pelo menos uma hora de oração diária e lia até trinta
capítulos da bíblia, além de frequentes jejuns.

Fui então intitulada: filha perfeita! Esse era o sonho de todos os pais. Tinha
milhões de erros, claro, mas diante de nossa sociedade cristã eu era um anjo que veio à
terra e meus pais tiveram o privilégio de criar.

Mas será que as titulações humanas condiziam com as de Deus ao meu respeito?
Seria eu realmente tudo o que acreditavam? Certamente eu era assídua nas reuniões de
minha comunidade local, mas isto fazia de mim a resposta que Deus espera de todos nós?

Quem é você quando as cortinas se fecham? Observei que nosso maior exemplo,
Jesus, foi piedoso e mui misericordioso com os pecadores e prostitutas, contudo condenou
veementemente os líderes religiosos e suas ações “santas”. As palavras: “ai de vós”,
direcionada aos escribas e fariseus se repetem 16 vezes, vindas todas elas da boca do
nosso Senhor. Não é isso de extrema relevância?

Em suas apresentações os atores gregos e romanos tinham o costume de usar


grandes máscaras, munidos de dispositivos mecânicos para aumentar a força da voz.
Assim, a palavra hipócrita (do grego hypokrites), veio a ser usada metaforicamente para
descrever o fingimento, o disfarce ou a dissimulação que era representada em palco pelos
atores.

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“O hipócrita é o homem que faz com que sua luz brilhe de tal forma diante dos
outros que eles não possam saber o que está acontecendo por detrás dela.” Hernanes Dias
Lopes

Esse livro tem o intuito de desmascarar os atores e revelar as intenções do coração


de todos nós, para que diante dele possamos nos apresentar e sermos aceitos. Na busca
pela perfeição, temos que reconhecer nossos erros e pedir ao Espírito Santo que
esquadrinhe nossos corações e mentes para que não nos enganemos a nós mesmos,
permanecendo escravos do pecado e de satanás.

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Capítulo 1
O EXEMPLO QUE SE SUJA
Vi um homem, muito pomposo, que chegava a um orfanato para ver as crianças
que ali moravam. Não pude deixar de reparar no sorriso que carregava, era como se
aquelas crianças sujas e brincalhonas fossem de alguma forma parte dele. Ao se
aproximar delas, perguntou: quem quer um abraço? Os meninos espantados se entre
olharam e movidos de vergonha não ousavam responder. O homem que muito bem
vestido estava, abriu os braços e esperou ansiosamente alguém. Finalmente, uma
menina levantou seu bracinho e disse: eu gostaria muito moço, mas você está muito limpo
e eu estou suja e cheiro mal. O homem dá uma gargalhada, e em um gesto muito
surpreendente, corre para o parque em que os meninos agora a pouco brincavam, e se
joga na areia. Sua limpeza logo se foi, em pouco tempo estava como as crianças, então ele
vai de encontro àquela que levantou sua mãozinha e lhe dá um abraço forte e a joga para
cima. O clima de muito respeito logo se torna em uma festa só.
Isso foi exatamente o que Jesus fez por nós.

Há uma história descrita em apenas um dos evangelhos que é também a mais


famosa de toda a bíblia, narrada por Jesus, o Filho de Deus, e intitulada por homens de:
a parábola do filho pródigo, carrega consigo informações preciosas e não pouco
importantes para discernir a atitude correta de um filho que longe do Pai está.

A narração da parábola é a continuação de outras duas: A parábola da ovelha


perdida, onde um pastor tem cem ovelhas e perde uma, propondo-se a achá-la a todo
custo e quando a acha faz grande celebração (Lucas 15: 3-7) e a parábola da dracma
perdida que sucede a essa e diz respeito a uma mulher que possui dez moedas e perde
uma, varrendo toda a casa e procurando diligentemente por ela finalmente a acha e com
muita alegria festeja o fato (Lucas 15: 8-10).

Essas parábolas são respostas as murmurações dos fariseus e dos escribas porque
Jesus “recebe pecadores e come com eles” (Lucas 15:1b). A aceitação e a interação de um
homem santo com outros que são pecadores incomodou a raça de fariseus e escribas que
se julgavam naturalmente superiores e intocáveis. A atitude de Jesus foi a confirmação
que os fariseus precisavam de que Cristo Jesus não era um homem vindo de Deus, pois
Deus não se mistura com pecadores e nem os aceita em sua santa presença.

Nessas circunstâncias Jesus conta histórias que representam o Deus que eles
julgam servir, mas obviamente não O conhecem muito bem. Deus é como um pastor que
vai a busca da que se perdeu, como uma mulher que procura a que esta perdida e como
um Pai (Lucas 15:11-32) que se regozija com o retorno do imundo e desprezível.

Certamente a ênfase de Cristo é o regozijo, a alegria e festa que Deus faz quando
pecadores se voltam a Ele.

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A PARÁBOLA DO PAI
“Um homem tinha dois filhos.

O mais jovem disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu
os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus haveres, o filho mais jovem
partiu para uma região longínqua e ali dissipou sua herança numa vida devassa. E gastou
tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar privações.

Foi, então, empregar-se com um dos homens daquela região, que o mandou para seus
campos cuidar dos porcos. Ele queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas
ninguém lhas dava.

E caindo em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu
aqui, morrendo de fome! Vou-me embora, procurar o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra
o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus
empregados’.

Partiu, então, e foi ao encontro de seu pai. Ele estava ainda ao longe, quando seu pai
viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. O filho,
então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu
filho’.

Mas o pai disse aos seus servos: ‘Ide depressa, trazei a melhor túnica e revesti-o com
ela, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o;
comamos e festejemos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi
reencontrado!’ E começaram a festejar.

Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltava, já perto de casa ouviu músicas
e danças. Chamando um servo, perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe disse: ‘É
teu irmão que voltou e teu pai matou o novilho cevado, porque o recuperou com saúde’. Então
ele ficou com muita raiva e não queria entrar. Seu pai saiu para suplicar-lhe.

Ele, porém, respondeu a seu pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, e jamais transgredi um
só dos teus mandamentos, e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos.
Contudo, veio esse teu filho que devorou teus bens com prostitutas, e para ele matas o novilho
cevado!’

Mas o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era
preciso que festejássemos e nos alegrássemos, pois esse teu irmão estava morto e tornou a
viver; ele estava perdido e foi reencontrado!”

Lucas 15, 11-32

Tomei a liberdade de intitulá-la de outra forma, pois creio que a centralidade da


história não esta no filho gastador, mas no Pai alegre.

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Ao olharmos para essa história, temos a tendência de condenarmos o filho mais
moço e darmos certa razão para o mais velho. Em nossa própria justiça o filho mais moço
sofreu justamente por suas escolhas e foi aceito injustamente por seu Pai. Parece-nos
que o filho mais velho foi o verdadeiro injustiçado dessa história, ao alegar que nunca
usufruiu de nada que o Pai tem e sempre trabalhou duro para obedecê-lo.

Pois a verdade bem clara de Deus é que a Sua justiça não se parece nem um pouco
com a nossa justiça, e Seu amor é infinitamente maior que o nosso.

ANÁLISE DO CONTO
Verso 12 – “O mais moço disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele
lhes repartiu os haveres”.

Um pedido chocante equivalente a dizer que desejava que o seu pai morresse. Ele
não tinha direito a nenhuma herança enquanto seu pai estivesse vivo. As palavras do
filho foram duras e com certeza feriu profundamente o Pai. Contudo, numa atitude muito
surpreendente, o pai lhe concede o pedido. Para nós, o que deveria ter feito aquele pai?
A tradição judaica diz que o pai deveria ter esbofeteado seu filho, pois tal atitude trazia
vergonha a toda família, talvez assim esse menino desonroso recebesse um pouco mais
de respeito. A surra, nas mentes farisaicas, daria a esse jovem boa lição e converteria seu
corpo à obediência, porém jamais seu coração.

Uma boa pergunta a se fazer é: onde esta o filho mais velho? Ele não aparece aqui
tentando dissuadir seu irmão, abrir-lhe os olhos, converter-lhe de tais pensamentos. Ele
parece estar totalmente alheio a todos os acontecimentos, desinteressado, indiferente.
Inacreditável é essa atitude! O irmão mais velho é o responsável legal por manter a honra
da família. Pelo menos uma atitude em tentativa de dissuadir o irmão era esperada por
todos os ouvintes dessa história.

É importante valorizarmos que culturalmente, quando o pai é desonrado dessa


forma e seu filho sai de casa, há um funeral que representa a morte desse filho para a
família.

Verso 13- “E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma
terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente”.

Poucos dias depois? As riquezas se mediam em terras e gado, como pode ser que
esse jovem vendeu um terço de toda a riqueza de seu Pai em tão pouco tempo? Dir-lhe-ei
então como, Ele desvalorizou a conquista de seu Pai, vendeu barato. Seu interesse era
imediato e estava acima de qualquer coisa, sua partida para longe daquele que o amava
verdadeiramente era imprescindível e inadiável.

O jovem apresentou-se duas vezes gastador, pois a palavra continua: desperdiçou


os seus bens. Pródigo significa gastador e vem a calhar nesse jovem. Entregou tudo que
tem sem entender o valor. Poderíamos imaginar os anos que custaram para seu pai

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conquistar tudo que seu filho gastou em tão pouco tempo? Não temos nós também, muitas
vezes, desvalorizado o que Deus fez por nós em Jesus?

Versos 14, 15,16 – “E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande
fome, e começou a padecer necessidades. E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra,
o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos. E desejava encher o estômago
com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada”.

Houve uma devastadora fome na terra e a necessidade não suprida foi inevitável.
Na mentalidade de alguém que valoriza sua justiça própria, diria que essa foi a cena
mais justa da história, o sofrimento do jovem é consequência de seus atos irresponsáveis.
Como todos nós, o jovem lutou pela vida e buscou ajuda, até que um homem o levou aos
seus campos para literalmente vê-lo morto. Porcos são animais imundos e apascentá-los
representa a pior situação que um judeu poderia alcançar, sendo considerado melhor
morrer do que viver nessa condição, segundo a visão judaica. Para nós hoje seria o
equivalente que viver em um lixão à céu aberto em busca de algo para que se possa
comer.

Versos 17, 18,19 – “E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm
abundância de pão, e eu aqui pereço de fome. Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-
lhe-ei: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-
me como um dos teus trabalhadores”.

O jovem pródigo se lembra que seu Pai é bom e generoso, deseja reencontrá-lo,
vencendo todas as barreiras da vergonha, do medo e das afrontas.

É válido lembrar que naquele tempo, se o jovem voltasse à casa do pai nas
condições que era a do filho pródigo, toda a redondeza tomaria sobre si a vergonha do pai
humilhado e espancaria o jovem, insultando-o, para então promover um possível acordo
com o pai, onde o filho se encarregaria de trabalhar para seu Pai, até que seu salário
pagasse por todo o prejuízo que ele lhe causou. Ao firmar o acordo, seu filho, com a
permissão de seu pai, poderia beijar-lhe os pés e, quando muito, as mãos, em uma atitude
de gratidão pela misericórdia de seu pai.

Está claro que o filho mais moço do conto tinha tais consequências em mente,
tanto que, em seu discurso ensaiado, ele declara que está desejoso em trabalhar como
um dos servos de seu pai para que possa apenas sobreviver.

Verso 20 – “E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o
seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou”.

Provavelmente seu pai procurava por ele, indica a iniciativa do pai que o vendo
de longe, corre. Essa palavra “correndo” do versículo 20 indica um correr como de atleta,
com pressa e velocidade. De acordo com a visão judaica da época um senhor,
possivelmente muito rico e de avançada idade, não poderia correr. Correr é vergonhoso
naquela cultura, um homem não corria porque suas pernas poderiam ficar expostas. Até
em nossos dias, pessoas muito ricas não correm, ou você já viu alguém muito bem vestido,
com terno e gravata, já com uma idade avançada, correndo?

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Os judeus tinham uma tradição forte, conta-se que se alguém, andando pela rua,
por infortúnio, tivesse uma galinha que corresse para dentro de sua roupagem, como um
vestido, não poderia levantá-lo para libertar o animal, pois estaria expondo suas pernas,
deveria, no entanto, esperar o anoitecer para que o fizesse, assim, não desonraria a si
mesmo.

Imagina a desonra que esse pai tomou para si mesmo, além de estar impedindo
que os seus vizinhos o detivessem primeiro. Como dito anteriormente, o filho estava sob
condenação, e ao se aproximar das terras de seu pai, os vizinhos deveriam, por lei,
humilhá-lo. Mas esse pai toma a humilhação para si e duas vezes se torna o injustiçado
para que possa aplicar a sua justiça: o perdão.

O que motiva o coração de Deus? A compaixão. Foi essa compaixão que levou o
pai a se humilhar e correr ao encontro de seu filho imundo e fétido, pendurando-se em
seu pescoço (a tradição dizia que o jovem poderia se aproximar do pai no máximo para
beijar-lhe os pés ou as mãos). O pai foi o primeiro a tomar iniciativa, ele surpreendeu o
jovem, e com sua atitude demonstrou que o aceitava como filho.

Os beijos do pai são incessantes, não foi apenas um beijo, foram muitos beijos,
como um cobrir da cabeça aos pés. Por certo uma cena muito emocionante.

Versos 21, 22 – “E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, já não sou
digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor
roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés”.

Alguns dizem que o pai interrompe seu filho, pois no discurso ensaiado o filho se
propõe a dizer a mais: trata-me como um de seus servos. Todavia, creio que não foi o pai
que interrompe o filho, mas é o filho que tem a consciência de que o pai já lhe perdoou.
Esse é o ápice da reconciliação, os fariseus que ouvem a história de Jesus estão, com
certeza, estremecidos e enlouquecidos com raiva, só de imaginar que alguém poderia usar
de misericórdia e perdoar quem merece punição.

O pai supera tudo o que se conhece como perdão, ele não só perdoou seu jovem,
mas deu-lhe novamente a posição de filho que antes morrera para a família, calçando-
lhe os pés. Deu-lhe roupa de honra (a roupa provavelmente reservada para o casamento
do filho mais velho) que diz respeito ao próprio Espírito Santo que é o selo de que somos
filhos. O anel é a autoridade restaurada, onde o filho pode assinar pelo pai, pode proceder
como o pai.

Versos 23, 24 – “E trazei o bezerro cevado e matai-o; e comamos e alegremo-nos,


porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a
alegrar-se”.

O bezerro gordo era preparado para servir muitas pessoas, em uma ocasião muito
importante, muito provavelmente para o casamento do filho mais velho. O pai demonstra
sua satisfação e grande alegria convocando uma grande festa para celebrar o filho que
somente o desonrou. Baseado naquilo que construímos como justiça própria, esse filho
jamais mereceria isso. Contudo, o pai novamente mostra ser diferentes de nós.

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Podemos observar que a alegria é a ênfase desse conto, que Deus, como pai, festeja
a volta de um filho perdido. Como em outras duas vezes, nesse mesmo capítulo: A alegria
da ovelha perdida que é encontrada e a alegria da moeda que foi achada.

Versos 25, 26 – “O filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto
de casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos seus criados e perguntou-lhe que era
aquilo”.

As perguntas que me perseguem quando leio esse episódio são: Por que ninguém
foi avisar ao filho mais velho das festas de seu irmão? Por que ele foi o último a saber?
A resposta que me parece esclarecer esses questionamentos é óbvia: o filho mais velho,
mesmo estando dentro de casa, não cultivava um relacionamento com seu pai. Ele se
preocupava com suas palavras, mas não com suas características; obedecia pedidos de
quem falava, mas não conhecia a pessoa que mais estava próxima.

Versos 27, 28, 29 – “E ele informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho
cevado, porque o recuperou com saúde. E ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém,
o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem
jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com
meus amigos”.

Este filho estava coberto de justiça própria que também o deixava cego para ver
quem ele era e quem era seu pai. Sim, a justiça própria cega! Cega a si mesmo e te faz
acreditar em um Deus que não existe e um filho que não pode ser feliz.

O argumento do filho perfeito era ter feito tudo pelo pai e nunca ter recebido nada
dele. Tal comportamento diz respeito a alguém que faz para conquistar, obedece para
ter. O filho era herdeiro do pai e por direito tinha maior parte de toda a herança que ele
o deixaria, mas isso não lhe era recompensa suficiente, ele perdeu a identidade de filho,
começou a pensar como um trabalhador assalariado.

Versos 30, 31, 32 – “vindo, porém esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com
meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu
filho, tu sempre estás comigo; tudo que é meu é teu. Entretanto, era preciso que nos
regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu filho estava morto e reviveu, estava
perdido e foi achado”.

O filho mais velho parece não ter relacionamento nenhum com seu irmão, pois
diz: esse teu filho! Como se o irmão não tivesse nada a ver com ele. O filho perfeito diz
que seu irmão é um grande pecador, indigno de qualquer ação benevolente, muito menos
uma comemoração.

O pai novamente demonstra seu amor, chamando o filho para se alegrar com a
vida, não com a morte, com a volta, não com a ida, com a salvação, não com a condenação.

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O FINAL DO CONTO
Jesus pronunciou essa história para alertar os fariseus de que o Deus que eles
servem é Pai de compaixão para aqueles que eles julgavam imundos e condenáveis.

O que me parece incongruente é desse conto não possuir um final. Você observou
que a história termina sem sabermos, afinal, o que acontece? O filho mais velho, participa
ou não na festa?

Pois bem, na minha ousadia, proponho um final:

O filho mais velho, coagido pelos argumentos de seu pai, reconhece que o pai,
sendo o mais prejudicado, foi capaz de perdoar seu filho por tantos erros; ele também
usaria de compaixão e se alegraria entrando para a festa e comemorando a salvação de
seu irmão.

Todos nós gostaríamos de ter finais felizes como esse, no caso dessa história, esse
final nos satisfaria muitíssimo, não?

Mas infelizmente, esse não é o final real do conto. Eis aqui o final verdadeiro:

O filho mais velho, movido de ira ao ver tamanha injustiça, não se contém, mas
se levanta contra seu pai e usando de violência, usa um pedaço de pau e o espanca até a
morte, dizendo: alguém tem que honrar essa família! Alguém tem que fazer justiça!

Não foi isso que os religiosos fizeram contra a representação do pai na terra,
Jesus? Não foi essa a mensagem de Cristo, reconciliação, que foi tão rejeitada pelos
fariseus hipócritas? Não foi essa a razão primeira de o odiarem tanto? De o matarem?

Como está escrito, os fariseus odiavam Jesus por ele ter “aceito” ou “recebido”
pecadores:

“E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo:


Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?” Lucas 5: 30

Jesus sabiamente tentou alertá-los de sua loucura, como que dizendo – Se eu


que fui o mais ofendido, pude perdoar, por que não vocês? Por acaso acham que são
melhores dos que estes que absolvi?

“E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas,
sim, os que estão enfermos; Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao
arrependimento”. Lucas 5:31,32

É realmente uma triste história essa que ouvimos. Que ela não se repita
em corações como os nossos. Que possamos nos olhar no espelho da verdade, que é a
palavra de Deus e sua lei, então nos contemplar necessitados e carentes, doentes e
pecadores, para que o Médico dos médicos nos atenda e o Justo nos justifique.

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LIÇÕES PRÁTICAS E VERDADES
QUE DESMASCARARÁ O BOM ATOR
QUE HÁ EM NÓS
Bons atores agem como o filho mais velho.

Bons atores sempre estão na casa do Pai, mas não O conhecem intimamente. Escondem-
se atrás de boas obras e no seu interior se julgam superiores aos outros irmãos.

Bons atores têm dificuldades em ajudar o próximo, pois se justificam dizendo que cada
um colhe o que planta. Não conseguem chorar pelas almas que sofrem, nem rir com os
que se alegram.

Bons atores acham que obedecer sem intimidade a Deus é mais importante que conhecê-
lo intimamente, por isso tem uma identidade corrompida do Pai e de si mesmos, pois
conhecê-lo leva-nos naturalmente a obediência.

Bons atores se julgam melhores do que muitos e por isso sempre se sentem mais
espirituais, não se misturam, tendem a estar separados da multidão.

Bons atores criticam pejorativamente tudo e todos, pois estão mergulhados no orgulho.

Bons atores nunca apontam o dedo para si mesmo, sempre o outro que tem culpa da
consequência de seus erros.

Bons atores são frios e não mais choram pelos seus pecados.

Bons atores não cometem “grandes pecados”, mas conhecem os pecados de todos a sua
volta, assim se tornam cúmplices, pois não tem a coragem de exortar seu irmão; muito
pelo contrário, se alegram com o mal nos outros, pois isso lhe é como um trampolim, se
orgulham por não ser como os demais homens.

Bons atores murmuram e dificilmente agradecem.

Bons atores não aceitam a graça, pois não sentem que precisam dela, vivem
comercializando os presentes de Deus, se irritam com a prosperidade de quem não
mereceu.

Bons atores acham que já fizeram o suficiente.

Bons atores matam a reconciliação, pois não são capazes de perdoar de verdade.

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O orgulho do homem o eleva as alturas
Mas a humildade o protege de dores
O gigante não vê pequenas pedras
Se foca apenas em grandes coisas

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Pena que a beleza não está em edifícios
Mas nas pequenas flores que se alastram nos pastos

O pequeno coube nas fendas das rochas


Nos dias tempestuosos encontra amparo
Suas narinas estão próximas dos campos
Os cheiros são fortes e reais

O exagerado, por outro lado,


Conhece bem a poluição
Não reconheceria o bom perfume
Não distinguiria bons jardins
(Laís Guerra)

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Capítulo 2
DESCULPAS ESFARRAPADAS

Provavelmente o coração mascarado de um duro cristão foi um dia apaixonado


por Jesus. Homens, sujeitos a se perderem e possibilitados a falhas, são alvos do
imensurável amor de Deus, por isso continuar com Cristo é tão importante quanto ter
começado com Ele. O dia de hoje poderá ser a avaliação que nós precisamos para
mensurar nossa caminhada com Ele. Como estamos hoje? Nós avançamos ou regredimos
em amor por Ele?

No capítulo 13 de Lucas, os fariseus demonstram preocupação com a vida de


Jesus, parece que eles tentam ser amigos de Jesus. “Chegaram os fariseus, dizendo: sai e
retira-te daqui porque Herodes quer matar-te.” Lucas 13:31

Os fariseus convidam, em muitas passagens bíblicas, Jesus em suas casas para


comer. Demonstram que tem certo interesse nele, pois quem não gostaria de alguém que
multiplica pães, cura enfermos e expulsa demônios no seu partido? O que percebemos
claramente é que os fariseus e escribas da época são movidos de interesses e satisfações
próprias.

No oriente, onde o deserto é predominante, a comida é escassa e a água pouca; a


maior demonstração de amizade é quando alguém te convida para comer consigo. Nessa
cultura, comida não pode jamais ser desperdiçada, tal ato leva o homem a vergonha
pública, podendo ser tachado de desperdiçador e perder a credibilidade no comércio. Por
isso porções eram separadas para cada convidado e todos deveriam comer o que lhe era
dado, sem a possibilidade de “repetir”. Lembrando que carne era ainda mais raro, eles
comiam carne de 3 a 4 vezes por ano apenas.

José, do Egito, quando serviu seus irmãos, em Genesis 43:34 – “E apresentou-lhe


as porções que estavam diante dele; porém a porção de Benjamim era cinco vezes maior
do que a de qualquer um deles. ” José dá-lhes porções, pois a comida era rara e deveria
ser toda aproveitada.

Muito diferente de minha cultura mineira, onde sobrar é símbolo de fartura e


alegria. Em festas locais, o dono se preocupa em justamente ter muito para que nada
falte e tudo sobre, pelo menos um pouco. Carne é parte de nosso cardápio diário aqui na
região, e em festas mineiras, o que não falta é carne à vontade.

A parábola da grande ceia, descrita em Lucas 14:16-24 e direcionada aos fariseus,


nos diz respeito ao comportamento daqueles que se cobrem de máscaras. Também nos
fará compreender melhor o que significa dizer não a alguém que nos prepara um
banquete.

19
A PARÁBOLA DA GRANDE CEIA E
SUA ANÁLISE
“E à hora do jantar enviou a seu servo a dizer aos convidados: Vinde que já todo está
preparado. E todos a uma começaram a escusar-se. O primeiro disse: Comprei uma fazenda,
e preciso ir vê-la; rogo-te que me escuses. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou
prová-los; rogo-te que me escuses. E outro disse: Acabo de casar-me, e por tanto não posso ir.
Voltado o servo, comunicou estas coisas a seu senhor. Então enojado o pai de família, disse a
seu servo: Vê cedo pelas vagas e as ruas da cidade, e traz cá aos pobres, os mancos, os coxos
e os cegos. E disse o servo: Senhor, fez-se como mandaste, e ainda há lugar. Disse o senhor
ao servo: Vê pelos caminhos e pelos valados, e força-os a entrar, para que se encha minha
casa. Porque vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados, provará meu
jantar.” Lucas 14:16-24

Essa história, para nós ocidentais, não faz muito sentido. Era como se eu fizesse
uma festa e fosse chamar meus amigos para celebrar, mas por algum motivo qualquer,
não pudessem ir. Então eu fico irada e digo: chama todo mundo da rua porque meus
amigos nunca mais comerão comigo!

Não nos parece absurdo? Afinal, os convidados não têm o direito de não querer ir
à festa? As informações que precedem o conto nos ajudarão em sua análise.

Quando alguém se propõe a promover uma festa, ele deve chamar os convidados
com antecedência. No oriente havia um costume de anterior ao dia de celebração,
encontrar todos os convidados e assegurar-se da presença deles, para que o anfitrião da
festa pudesse matar os animais necessários e não perder comida. No dia da festa haveria
uma segunda chamada, não mais para convidar os amigos do anfitrião, mas para lembrá-
los de que eles haviam firmado um compromisso para aquele dia.

O que nos parece nessa história é que o servo foi aos convidados para a segunda
chamada, para lembrá-los do compromisso, não para chamá-los, porque eles já haviam
dito sim anteriormente. Para a nossa surpresa, os convidados da festa da história de
Jesus começaram a dar desculpas para não ir à festa, justo quando tudo estava
preparado.

Para a decepção do anfitrião, começaram a excusar-se e a dizer: Não posso ir


porque comprei um campo e tenho necessidade de ir vê-lo (Lc 14:18). Engana-se aquele
que pensa ser esse um bom argumento! No oriente não se comprava um terreno sem
antes plantar nele por quatro estações, assim saberia por certo a qualidade do terreno e
seu lucro. Em nossos dias, seria o mesmo que dizer: comprei uma casa por telefone e já
depositei o dinheiro, agora vou vê-la. Quem faria um acordo tão sujeito a dar errado como
esse? Quem se arriscaria a perder tanto dinheiro, comprando às escuras? É necessário
saber a lucratividade de qualquer negócio para que ambas as partes não sejam lesadas.

20
A segunda desculpa, tão esfarrapada quanto a primeira, diz: Comprei cinco juntas
de bois, e vou experimentá-los (Lc 14:19). Novamente, um absurdo, bois eram
experimentados por um bom tempo antes que houvesse um acordo estabelecido de
compra e venda. O que equivale a esse exemplo seria alguém dizer: comprei alguns
tratores caríssimos usados por telefone e vou vê-los agora. Novamente, quem ousaria
pagar e correr tantos riscos de não valer nada o produto? Bois, tal como hoje, eram forças
de trabalho de muito valor. Extremamente necessários no arado e na vida no campo. Um
boi, mesmo hoje, passaria por um crivo de especialistas para comprovar sua qualidade
antes de qualquer negociação de compra.

A terceira mais surpreendente desculpa, diz respeito a alguém que se casou e não
pode ir (Lc 14:20). É importante a análise do texto, pois no original está assim: “egēma
gunaika”, que significa literalmente: casei-me ou tenho relações sexuais com uma
mulher. Como fica muito repetitivo no português e um pouco sem nexo dizer: casei com
uma mulher, a tradução diz apenas casei-me. Todavia, no oriente a esposa de um homem
nunca é mencionada em conversas, ela não tem o direito nem mesmo de assentar-se a
mesa com os demais homens, a mulher ficava sempre escondida. Portanto, aquele que
diz ter se casado, na verdade terá um encontro com uma prostituta naquela noite.

Todas as desculpas discorridas demonstram o desinteresse dos convidados, que


em um primeiro momento quiseram ir, mas agora estão travados pelos interesses
mundanos quaisquer. Estão presas a esse mundo de alguma forma. Pessoas que
disseram sim para Jesus em um momento, mas hoje as preocupações com a vida e os
prazeres da carne tomaram a prioridade nos nossos corações. Cristãos religiosos que
estão na igreja, carregam o nome de Jesus somente em suas palavras, porém não em
seus pensamentos e atitudes.

A PARÁBOLA DAS DEZ MINAS: O


REINO ADIADO
Quantas vidas valem a sua vida?
Nosso salvador pronunciou muitos contos para que a verdade nova e espiritual
pudesse ser bem ilustrada por vivas imagens que eram corriqueiras aos ouvintes. Uma
das parábolas que ilustra o comportamento de filhos, e nos ajudam a entender que dar
desculpas revelam um entendimento corrompido de uma mente dominada pelos
interesses mundanos, é a parábola das dez minas.

A parábola se encontra em Lucas 19:11-27. Em sua essência a história conta sobre


um nobre que foi para um lugar distante para ser rei, mas logo tem que voltar por uma
razão desconhecida, então ele empresta a alguns homens muito dinheiro, esperando que
eles possam granjear-lhe algum lucro. Ao voltar, percebeu que alguns homens tramavam
a queda do seu reinado e tratou de cuidar disso. Contudo, ao requerer daqueles que havia

21
emprestado dinheiro, dois se mostraram dignos do empréstimo e por isso foram muito
bem recompensados, mas o terceiro desvaloriza a oportunidade e apresenta uma
desculpa esfarrapada que provoca a ira do rei.

Verso 11: “E, ouvindo eles essas coisas, ele prosseguiu e contou uma parábola,
porquanto estava perto de Jerusalém e cuidavam que logo se havia de manifestar o Reino de
Deus”.

Muitos judeus interpretaram bem os textos do velho testamento onde Cristo vem
para reinar fisicamente e resolver conflitos da humanidade como miséria, injustiça e
fome. Eles, todavia, ignoram Isaías 53 e muitas outras referências que dizem que
primeiro Cristo deve padecer como cordeiro pascal e nos redimir por dentro, para depois
estabelecer seu reinado exterior.

Jesus se preocupava com esse entendimento e se esforçava para lhes dizer que
não seria como eles pensavam, e que esse não era o tempo para determinada ação do
Deus soberano.

Verso 12: “Disse, pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de
tomar para si um reino e voltar depois”.

Exatamente a condição de Cristo, um nobre, o maior nobre que já existiu, a final,


ele é filho do próprio Deus. Homem que veio a terra para preparar o seu reino e hoje
habita dentro de nós.

Verso 13: “E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse: negociai até que
eu venha”.

O Senhor nos confia recursos, dons e facilidades para que nós possamos ganhar o
que realmente importa para Cristo: vidas, povos e tribos.

Verso 14: “Mas os concidadãos daquele nobre o odiavam e mandaram atrás dele
embaixadores, dizendo: não queremos que reine sobre nós”.

Cristo sabia, desde o princípio, que ele seria rejeitado pelos seus, pelos judeus e
que tudo cooperava para o cumprimento da vontade do Pai.

Verso 15: “E, aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe
chamassem aqueles servos a quem tinha dado dinheiro, para saber o que cada um tinha
ganhado, negociando”.

Verdadeiramente, são aos servos que Cristo confia seu tesouro pessoal. Deus dá
para quem faz, para quem já se moveu em fé com o coração disposto a ir além. O Senhor
nos pedirá contas daquilo que tem nos confiado. Quantas vidas, com o seu testemunho e
pregação ou com seu dinheiro, você alcançou?

Versos 16, 17: “e veio o primeiro dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas. E
lhe disse: Bem está, servo bom, porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás
autoridade”.

22
Dez minas equivale a quinhentos ciclos, o preço da consagração de dez homens de
acordo com Levítico 27:1-3. Alguém que negociou bem todos os recursos que o Rei lhe
dera. Portanto, a fidelidade gera autoridade.

Verso 18, 19: “E veio o segundo: dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas. E
a este disse também: Sê tu também sobre cinco cidades”.

Aquele que serve e é responsável, que permanece fiel, governará.

Verso 20: “Então veio outro servo e disse: Senhor, aqui está a tua mina; eu a conservei
guardada num pedaço de pano”.

Muitos que não entendem a oportunidade que é ter em mãos, os recursos do


Reino. Tratam a responsabilidade como motivo de choro, lamento, murmuração,
sentimento de incapacidade, insegurança, inveja, ciúmes, ingratidão e vergonha.
Quantos estão guardando os seus recursos em um lenço?

Verso 21: “Tive medo, porque és um homem severo. Tiras o que não puseste e colhes
o que não semeaste”.

O medo é o inimigo da produção e da fé. Aqueles que não conhecem o Senhor que
tem não agem a favor do Reino, mas se trancam e se escondem. Não são aperfeiçoados
no amor, porque tem um relacionamento corrompido com o Deus de amor.

Versos 22, 23: “O seu senhor respondeu: Eu o julgarei pelas suas próprias palavras,
servo mau! Você sabia que sou homem severo, que tiro o que não pus e colho o que não semeei.
Então, por que não confiou o meu dinheiro ao banco? Assim, quando eu voltasse o receberia
com os juros”.

As desculpas do servo mal foram a sua própria sentença. Por muito tempo me
preocupei em entender o que o Senhor quer dizer com o banco. Então perguntei para o
Senhor, e ele me disse serem os investimentos missionários dentro e fora da igreja. O
banco representa bem o lugar onde todos nós devemos investir nossos recursos, assim
vidas serão alcançadas através de nós e de nosso dinheiro.

Verso 24, 25: “E disse aos que estavam ali: Tomem dele a sua mina e deem-na ao que
tem dez. Senhor, disseram, ele já tem dez!”

Deus dá para quem tem. Quanto mais agimos no Reino, mais o Senhor nos dá.
Assim avançaremos cada vez mais. Porque Ele é Senhor dos que são senhores de si,
governadores das suas próprias vontades, Ele é Rei dos que são reis e já governam com
Ele.

É como um rio. Lembra daquele momento que Jesus prega uns de seus mais fortes
sermões à mulher junto ao poço? Ele diz:

“Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu
lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”. João 4:14

E outra vez:

23
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre”.
João 7:38

Portanto fluiria o rio, se esse for impedido, como fluirá novamente?

Verso 26: “Ele respondeu: Eu digo a vocês que a quem tem, mais será dado, mas a
quem não tem, até o que tiver lhe será tirado”.

O servo que não utiliza as oportunidades e os recursos de Deus, poderá ser


severamente julgado, perdendo sua própria salvação.

Verso 27: “E aqueles inimigos meus, que não queriam que eu reinasse sobre eles,
tragam-nos aqui e matem-nos na minha frente!"

O homem entenderá que ele não foi condenado pelos pecados que cometeu, mas
pelo perdão que recusou.

Lembro-me de uma história: um condenado a morte estava preso e aguardando o


dia de sua sentença, então amigos e familiares do assassino enviaram cartas ao juiz do
país e pediram-lhe que tivessem compaixão dele, que concedesse clemência. O juiz ficou
comovido por tantos pedidos e resolveu visitar o preso. Chegou à delegacia e colocou um
disfarce de religioso, e com uma bíblia foi ao encontro ao condenado. Ao vê-lo, no entanto,
o preso perturbou-se e disse que não queria a visita de ninguém, começou a gritar com o
juiz disfarçado e a insultá-lo com raiva. O juiz insistiu que ele recebesse o presente que
era a bíblia, mas ele recusou veementemente. Então, cabisbaixo, o juiz se retirou. Alguns
minutos depois veio o policial da cela e disse ao condenado: Que fizestes! Aquele homem
era o juiz e dentro da bíblia que ele queria te dar tinha a sua carta de perdão! Então o
assassino estremeceu de remorso e disse: agora eu sei que não serei condenado pelos
crimes que cometi, mas pelo perdão que recusei.

COMO DESMASCARAR O BOM ATOR


QUE HÁ EM NÓS
Bons atores dão desculpas porque não desejam mais o que antes queriam.

Bons atores retêm recursos do Reino porque não são generosos.

Bons atores são imediatistas e não procuram entender o tempo que Deus trabalha.

Bons atores perderam o primeiro grande amor e hoje são levados por desejos supérfluos
e passageiros.

Bons atores perderão a salvação porque constantemente recusam o perdão. De que


maneira? Não perdoando.

24
Bons atores se ofendem com a rejeição, pois não tolera isso como o processo de Deus para
nos curar. O evangelho, para eles, consiste em viver em sempre bonança. Não
aprenderam a lidar com dificuldades e privações.

Bons atores se apaixonaram pelo mundo e as coisas que estão nele, não mais sonham
com vidas, mas com casas e carros.

Bons atores rejeitam o banquete dos céus por uma comida qualquer do inferno – Muita
fome te leva a comer muito, mas fome de mais te leva a comer qualquer coisa. Esses são
aqueles que não se alimentam de Deus por muito tempo.

Bons atores um dia tiveram seus corações ardendo de paixão, mas se venderam por
prazeres corriqueiros.

Bons atores são motivados pelos seus interesses pessoais, estão ainda com Cristo
enquanto ainda der lucro.

Bons atores desistem quando descobrem fazer a vontade de Deus é morrer para si.

Bons atores dizem: ninguém faz isso. Pois se sentem no direito de não precisar obedecer
a tudo que o Senhor pediu.

Bons atores alimentam a suas necessidades e fazem dos seus prazeres sua satisfação.

Bons atores não administram recursos e gastam consigo mesmos, para limpar suas
bocas.

Bons atores são poças de água, estão mortos em si porque não permitem o rio fluir.

25
O corpo sem fome
Seca como um galho arrancado
Morte é certa
Onde o necessário perdeu seu valor

Meus desejos são produtos da minha necessidade


A minha vontade veio da calamidade
Despertei porque estive sonhando
Corri porque estive andando
Cantei porque estive falando

As necessidades fazem meus maiores prazeres


Quando neles sinto
Primeiro carência, depois saciação
Antes frio para um sono quentinho
Antes lágrimas para um grande sorriso
Antes morte para muitas vidas

26
Capítulo 3
O CONTRASTE ENTRE O
PECADOR E O BOM ATOR

Um homem de idade avançada, com uma doença que o estava levando à morte,
descansava em sua cama e era assistido por uma enfermeira que o servia muito bem.
Certa noite, durante uma crise de dor, com muita dificuldade e com voz ofegante, chamou
para perto de si sua ajudadora enfermeira e disse: Posso te pedir um grande favor? Claro
- Respondeu a jovem prontamente. Ele prosseguiu dizendo: Se o médico chegar e dizer
que eu estou para morrer, por favor, peça a ele que dê uma segunda opinião.

Ainda bem que existe uma segunda opinião para nós.

Existe uma régua, que todos nós usamos, uma medida que dá tamanho às pessoas
e suas atitudes. Algo que consideramos ser bom, outro algo que consideramos ser mal,
construída por nós, usufruída por nós apenas.

Alguns consideram tal medidor o maior mal do ser humano, todavia creio que isso
é um engano. O maior problema é a falta de espelhos. Sim, espelhos, não do exterior, mas
do interior. Você já viu o seu homem interior no espelho?

Você se conhece? Sabe quais são os seus defeitos de caráter? Provavelmente,


enquanto você ler esse livro, você poderá identificar lacunas que precisam ser reparadas
e buracos que precisam ser cobertos. Há muitas coisas que o Espírito Santo necessita
fazer para nos deixar parecidos com o nosso amado Jesus.

O primeiro passo deve ser esse: o autoconhecimento. Li diversos autores sobre o


assunto e posso concordar que nós nos definimos a partir de comparações com o outro. O
problema é que nos comparamos com o nosso círculo social, e mesmo dentro da igreja a
depravação atingiu níveis incalculáveis. Quero deixar algo muitíssimo claro: quando você
se considera melhor do que outros ao seu redor, você se torna um hipócrita! Um ótimo
ator! Porque se perde a referência. Portanto, um homem e uma mulher sem uma
referência divina se tornam exatamente como o mundo quer. Um senso de justiça própria
se apodera de você e um orgulho sutil lhe leva aos poucos para o inferno, sem que você
perceba. E talvez a sua desculpa que lhe mantém de pé seja: eu sou melhor que 99% da
igreja! Dou o dízimo, oro com frequência e até jejuo. Não percebe o discurso ensaiado?
Esse comportamento é exatamente o que Cristo viveu condenando! Como em Lucas 8:

“Propôs também essa parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se


considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o
propósito de orar: um fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si

27
mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens (Isso me
faz lembrar da oração que já ouvi tantas vezes e até já a fiz: Senhor, nós estamos aqui, nós
poderíamos estar em tantos outros lugares, mas estamos aqui na sua casa...) roubadores,
injustos e adúlteros, nem ainda como esse publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o
dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando de pé, longe, não ousava nem ainda
levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, sê propício a mim, pecador!
Digo-vos que este desceu justificado para a casa, e não aquele, porque todo que se exalta será
humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”

Lucas 8:9-14

Se conhecer é muitíssimo importante, porque talvez você seja como esse fariseu
da história e nem sabe. Portanto, com quem, então devemos nos comparar para nos
conhecer? Jesus Cristo de Nazaré. O nosso salvador é também o nosso modelo.

Em um momento de ofensa e raiva, como você reage? E como reagiria seu


salvador? Quando alguém lhe pede dinheiro, o que você responde? O que responderia
Jesus? Quando você está sobre pressão, qual o seu comportamento? Qual seria o de
Jesus? Quando alguém te elogia, como você se sente? Como sentiria Jesus? Quando tudo
dá errado, qual é a sua tendência? E qual seria a do Senhor? Como você ora: como Jesus
ora? Você julga baseado na aparência? E Jesus? O que você vê? Jesus veria? E o quanto
você dá? Jesus também daria na mesma proporção?

Se você não soube responder essas perguntas você não conhece seu Senhor e você
não se conhece. Porque quem você acha que é está baseado muito mais nos
comportamentos de qualquer novela do que nos comportamentos bíblicos.

Quando Isaías viu a Deus, ele finalmente se conheceu. Pois reconheceu que
precisava da graça de Deus. O quanto você precisa da graça, mostra o quanto você se
conhece, mostra também o quanto você conhece a Deus. (Is 6)

Hoje vivemos muito mais baseados na teoria do que na experiência. Por isso é
comum você cursar Pedagogia sem ter nenhum professor que foi pedagogo, mas que
apenas estudou e observou a respeito. Ou seja, não tiveram uma experiência! Estamos
com nossos conhecimentos baseados muito mais em teoria, por isso a semente da palavra
de Deus não penetra em nossos duros corações.

Mateus 13:19 - “A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem
o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração.”

A chave desse texto é a palavra compreender, que significa: entender o que se é


experimentado com os cinco sentidos. Quando a palavra de Deus vem a você e ela não é
experimentada, ela não é vivida, o maligno tem autoridade de remover o que foi semeado.

O texto não diz que o maligno tira o que foi semeado da mente, você não esquecerá
daquilo que o Espírito Santo te disse, mas o seu coração não estará mais entremeado com
o amor da verdade. Por exemplo: Quando uma mensagem é pregada ao seu coração, a
respeito de cuidar dos pobres e ajudar os necessitados, você a recebe, contudo, se você

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não tiver uma experiência com essa verdade, se você não for capaz de ajudar alguém, de
praticar a palavra; então a semente fica exposta para que o inimigo a roube do seu
coração. O poder da semente é removido do seu interior, portanto não terá mais o poder
de mudar quem você é.

Quando, novamente, você ouvir um sermão sobre cuidar dos pobres, a sua boca
poderá dizer amém, mas não seu coração.

A visita de Jesus a casa de um bom ator


Em Lucas 7, vemos a diferença gritante de um bom ator com um pecador. Eu faço
essa distinção do pecador com o ator para evidenciar que aqueles que agem de forma a
esconder quem são, por detrás de máscaras, usam também uma vestimenta de orgulho
que os impossibilitam de ver que, na verdade, são tão ruins ou pecadores quanto aqueles
que condenam.

Nessa descrição de Lucas, Jesus nos faz enxergar que todos nós estamos na
mesma condição de devedores que não podem pagar. Ele diz também que o amor a Ele é
uma consequência de alguém que vê o tamanho da sua dívida e conseguintemente do
perdão; de alguém que enxerga a si mesmo no espelho de Deus e reconhece sua condição.
Pessoas que não se comparam a outras, mas a Deus. Que se permitem mudar através do
arrependimento genuíno e verdadeiro.

Lucas 7:

Verso 36 – “E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele, e, entrando em casa
do fariseu, assentou-se à mesa”.

Apesar de Jesus nunca ter negado um convide esse evento é singular nos
evangelhos, onde Cristo aceita se relacionar melhor com um fariseu. É tão maravilhoso,
o mesmo Jesus que perdoa, acolhe e recebe pecadores se importa com os cegos religiosos
e deseja que eles também sejam salvos.

Verso 37- “E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à
mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento”.

Era permitido que, quando um profeta ou um professor estivesse na cidade e fosse


estar na casa de alguém, as pessoas que não eram convidadas e estivessem na cidade,
poderiam estar no interior da casa, recostado à parede, assistindo apenas.

Alabastro era um material egípcio de um mármore muito liso e transparente que


custava muito dinheiro naquela época. O que hoje equivaleria a 9600 reais, considerando
o salário mínimo por todos os meses do ano de um trabalhador comum. Alguns estudiosos
dizem ser uma peça que passaria de geração em geração e que servia muitas vezes como
dote para o marido da moça que gostaria de se casar.

29
Verso 38 – “E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés
com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça e beijava-lhe os pés, e ungia-
lhos com o unguento”.

Um sacrifício de amor, provavelmente essa jovem estava doando-se inteiramente,


desistindo de seu maior sonho e adorando Jesus extravagantemente. Houve apenas dois
relatos de beijos dado em Jesus: Nesse caso da mulher com um entendimento de gratidão,
e Judas com o propósito de traição.

É importante ressaltar que para a mulher mostrar os cabelos no primeiro século


seria o equivalente a uma mulher tirar o vestido publicamente no nosso século. Era algo
extremamente vergonhoso. Todavia, parece-nos que a vergonha não tinha espaço na sua
mente. Esse relato não é, se não, uma oportunidade de ver o coração de alguém que
oferece um sacrifício nu, sem máscaras, sem restrições, sem esconderijos.

No oriente se reclinavam em almofadas durante as refeições, com os pés virados


para o lado de fora. O ato da mulher, ao ungir os pés de Jesus, era praticado por povos
conquistados como símbolo de sujeição e obediência. Um coração arrependido esta se
sujeitando a Deus como manda as escrituras “Sujeitai-vos a Deus” (Tiago 4:7a), e disposto
a obedecê-lo com um coração grato. Não com intuito de comprar algo de Deus, mas com
o entendimento de que recebeu tudo dEle.

Ben Franklin foi um cristão que trouxe uma consideração notável para o
esclarecimento de um fato: o gostar de alguém. Em seu estudo entendeu que aquele que
faz um favor a outro está propenso a gostar do favorecido simplesmente por ter feito o
favor. Tudo começou quando Ben teve que pedir um livro raro para um inimigo,
bibliotecário, de sua cidade. Após o inimigo fazer o favor solicitado passou a gostar do
Franklin e tratou-o como grande amigo, inclusive foi autor de alguns prefácios dos livros
de Ben. Portanto, quando nos damos, em qualquer sentido, nos abrimos para um
relacionamento saudável e duradouro, mesmo com aqueles que antes, por qualquer
razão, não gostávamos.

Quem dá, ama! Quanto tempo faz que você não da algo a Ele? Há quanto tempo
você não chora aos pés dele? Há quanto tempo você não oferece uma oferta de sacrifício?
Quando foi que você se tornou um bom ator?

Verso 39 - “Quando isso viu o fariseu que o tinha convidado, falava consigo, dizendo:
Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora.”

A mente dos bons atores está corrompida por uma visão errada de Deus e de si
próprios. Como era de se imaginar, o fariseu imagina que Jesus não é o Cristo, pois se
Ele fosse saberia que essa mulher é uma pecadora e, portanto não lha aceitaria lavando
os seus pés.

Sabe-se da história de um homem adúltero que se converteu, mas tornou-se


religioso e muito orgulhoso pelos seus atos de justiça. Um dia seu pastor achegou-se a ele
e disse: você se tornou um homem muito cheio de si, eu preferia cuidar de um adúltero
humilde do que um religioso orgulhoso que você se tornou.

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Jesus mostrou que não somente sabia quem era a mulher quanto conhecia o mais
íntimo do ser do fariseu. É um engano pensar que Deus não ouve nem se importa com
nossos pensamentos.

Verso 40 – “E, respondendo, Jesus disse-lhe: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele
disse: Dize-a mestre”.

Deus está inclinado ao pecador humilde que lhe clama por perdão, ao orgulhoso
religioso sentado no banco da igreja que de nada sente falta.

Lucas 7: 41 – 47 Versão A mensagem

“Dois homens deviam a um banqueiro. Um devia quinhentas moedas de prata; e


outro, cinqüenta. Nenhum dos dois tinha como pagar, por isso o banqueiro perdoou a dívida
de ambos. Qual deles teria ficado mais agradecido? Simão respondeu: Acho que aquele que
recebeu o perdão maior. Tem razão, disse Jesus. Então, voltou-se para a mulher, ainda
falando a Simão, perguntou: Vê essa mulher? Eu vim à sua casa, e você não me trouxe água
para os pés; ela, porém, derramou lágrimas nos meus pés e os enxugou com os cabelos. Você
nem me cumprimentou direito, mas, desde a hora em que cheguei aqui, ela não se cansa de
beijar meus pés. Você não me recebeu como é nosso costume, derramando azeite em minha
cabeça, mas ela perfumou meus pés. Não foi assim mesmo? A razão de tudo é que ela foi
perdoada de muitos pecados, por isso está tão agradecida. Quem recebe pouco perdão mostra
pouca gratidão.”

O texto fala por si só. A gratidão é um sentimento impulsivo e disposto. A


ingratidão é consequência da cegueira e promove decepção.

A mulher que agiu impulsivamente e demonstrou metanoia, palavra grega que


significa arrependimento, mudança de mentalidade, foi quem atraiu Jesus. Ele comprou
a causa daquela mulher e provou ao fariseu que o coração do Pai desmancha pelo
humilde. Observe que o tamanho da dívida não importa! Ambos são perdoados
inteiramente. Contudo, aquele que compreende o tamanho do seu pecado gera maior
gratidão e demonstra maior amor.

Alguém movido pela gratidão é capaz de fazer com intensidade qualquer coisa, só
para demonstrar seu amor. Os exemplos da vida nos são garantia disso. Eu mesma,
quando entendi o preço pago por Cristo na cruz me dando assim vida, pude responder
com gratidão. Só então experimentei a graça. Graça não é para ser entendida (de forma
teórica), mas vivida, fruto da experiência; só assim poderemos retribuir tanto amor para
nós derramado e derramado em forma de sangue.

Como bons atores e atrizes agem


Bons atores se importam com boas palavras e se esquecem que Deus escuta o
coração.

Bons atores são enganados por si mesmos, pois criam um Deus baseado em si
próprio.

31
Bons atores julgam as pessoas e dão a palavra como se eles detivessem a verdade.

Bons atores não acreditam em transformações radicais.

Bons atores limitam a experiência com Deus baseando apenas em sua própria
experiência.

Bons atores agradecem a Deus por não serem tão maus como os outros homens.

Bons atores acham que agradam a Deus por apenas estar frequentando uma
igreja.

Bons atores não agradecem por pequenas coisas, tendem a exaltar apenas o que
esta em evidência.

Bons atores estão sempre insatisfeitos, por isso vivem murmurando.

Bons atores atuam tão bem que acabam se enganando, achando que o papel que
ele representa é quem ele é.

O som atrai o musicista


A melodia conduz o coração
A canção provoca o que se envolve
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A ir muito além da imaginação

Porém o adorador
Quer ver o escritor
O apaixonado
Quer conhecer o compositor
A interessada
Quer tocar no criador

Porque cansou-se de verdades


Que batem no muro de seu coração
Mas não penetram intensamente
Deseja dissolver-se e finalmente viver
O que há muito tempo
Deixou de ser apenas uma religião
(Laís Guerra)

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Capítulo 4
A sedução da aparência
Certo dia, em uma cidade pacata do interior havia chegado o tão sonhado circo
que visitava as cidadezinhas de seu país. A rotina de seus moradores deu uma
reviravolta, pois antes, o comum seria levantar cedinho, ajudar na plantação e a
tardezinha voltar, para desfrutar de uma boa conversa e um refresco antes de dormir.
Agora, com a chegada de um circo com palhaços tão engraçados e divertidos, foi inevitável
trocar a conversa da tarde pelas boas gargalhadas da noite. Pois bem, o que ninguém
esperava é que, ao se prepararem em seu trailer, os palhaços, já enfeitados, viram pela
janelinha, um fogaréu que se aproximava muito rapidamente. Desesperados, perceberam
não ser capazes, de sozinhos, apagarem o fogo. Então correram, como estavam, levando
aos habitantes a mensagem que poderia ter salvo todo o sustento de uma cidade.
Contudo, o que fizeram os habitantes ao verem os palhaços? Não contiveram as
gargalhadas, riram, achando ser mais uma piada.
Podemos ter a mensagem certa, mas atitudes erradas.
O que vale mais?

A nossa sociedade entendeu o valor das imagens, desde então tem usado e
abusado de seu impacto para promover o que lhe apraz, supondo ao espectador um
resultado irreal. É comum, por exemplo, as propagandas de cerveja mostrar um prazer
conciliado aos desejos sexuais de mulheres e homens se divertindo e vivendo em um
paraíso exótico. As imagens da mídia transmitem uma mentira mascarada para comprar
o cliente que se convence por elas.

É, hoje, quase um quesito profissional, usar máscaras e mentir com facilidade


para ser um empregado bem sucedido. Eu mesma fui encorajada pela minha
coordenadora ao me contar de si mesma dizendo: Laís, aqui eu uso uma máscara, e assim
você também deve usar. Fiquei em choque quando ouvi, mas percebi que esse era um
comportamento aceitável e segundo ela, necessário. Contudo, claramente, jamais para
mim.

Recuso-me a ser moldada pelo mundo, mas pelo contrário, transformo a minha
mente (Rm 12:1), porque desejo experimentar a vontade de Deus que é sempre perfeita,
muito agradável e eternamente boa. Quero que a minha mente esteja nos céus, como
Colossenses 3 diz: “Portanto, se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas que são do
alto, onde Cristo está assentado à mão direita de Deus. Pensai nas coisas do alto e não nas
coisas da terra. Porque estais mortos, e a vossa vida está guardada com Cristo em Deus.”

Percebo que quando os meus pensamentos estão nas coisas dos céus, eu sou
movida por sentimentos celestiais e naturalmente peco menos. Mas, quando minha
mente está apegada à terra, eu ajo por instinto e cometo muitos erros sem me perceber.

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Por isso, uma mudança de mentalidade é claramente uma carência humana. No
entanto, o que tenho visto é um povo com uma mente cauterizada, que acredita em quem
não é. Evidentemente, as máscaras usadas no emprego, na igreja, no clube, no futebol,
no trânsito, na festa, na escola e até na cama, tem tomado o lugar da personalidade no
interior humano e transformado ele em alguém que acredita ser, mas não é.

Nesse capítulo, iremos estudar a igreja de Laodiceia, mencionada por Jesus no


livro de Apocalipse. João, escritor desse livro, vê o Cristo glorificado que fala às igrejas
da época, exortando-as, e propondo uma recompensa.

É incrível ver que a bíblia promete trabalhos que geram recompensas eternas,
galardões que fazem dos que as enxergam, sejam: inabaláveis, indesistíveis, invencíveis.

A igreja que achava ser rica


“Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel
e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem
quente: Quem dera fosses frio ou quente. Assim, porque és morno, nem frio nem quente,
vomitar-te eu vou sair da minha boca” (Ap 3:14-16)

Originalmente chamada de Diospolis (Dios - Deus e polis – cidade), ou seja,


“Cidade de Deus”, foi colonizada por Antioco II Theos, monarca da Síria, entre 261 a 246
AC. Antioco era casado com uma mulher chamada Laodice e em homenagem a sua esposa
renomeou a antiga cidade Diospolis com o nome de Laodiceia.

A cidade de Laodiceia deixou o seu primeiro nome em troca de honras e


investimento. Com um pouco de esforço do governador a cidade se corrompeu, preferindo
o dinheiro ao próprio Deus.

Quantos de nós também não nos vendemos por esse “prato de lentilhas”? Um
pagamento favorável e alguns elogios são mais que o suficiente para que deixemos de ser
povo de Deus. Um prazer momentâneo e uma satisfação passageira podem nos fazer
negociar recompensas eternas.

Quem gostaria de ser a menina dos olhos do príncipe deste mundo? Laodiceia
disse: eu gostaria, e foi. Tornou-se uma das principais cidades da Ásia menor, famosa
pelos tecidos, sandálias e a medicina. Laodiceia era também um centro de bancos.

A primeira acusação do Senhor foi a de ela ser morna. Hierápolis, que ficava
próximo a cidade de Laodiceia, era famosa pelas primaveras quentes, e Colossos, pelo
córrego de água fria e refrescante vinda das montanhas. Mas Laodiceia recebia água suja
e morna, das cidades anteriormente mencionadas, que vinha de quilômetros de distância
por um aqueduto subterrâneo. Visitantes não acostumados com essa água,
imediatamente a cuspiam forra. Literalmente as águas de Laodiceia eram mornas! A
igreja de Laodicéia não era nem fria, rejeitando abertamente a Cristo, e nem quente,

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cheia do zelo espiritual. Em vez disso, seus membros eram mornos, hipócritas que
professavam conhecer a Cristo, mas praticavam a iniquidade. (Leia Mt 7:21)

Tenho uma querida amiga que considero minha filha. Um dia me disse uma frase
que jamais esquecerei: “para ficar morna basta adicionar um pouco de água fria na
quente.” Ou seja, para que alguém que está firme com Deus caia em pecado ou vergonha
basta realizar um ato de injustiça, basta pecar uma vez. Como ouvi um dia: bastou
apenas um pecado para tornar um homem eternamente pecador. Basta um deslize para
colocar no chão, um homem de pé.

O problema se chama acomodação. Esses são os que se conformam com a vida de


pequenos deslizes. Esses são os mornos.

Ouvimos muito dizer como devemos ser sempre medianos em tudo que fazemos,
mas é essa a opinião de Deus? Quando Ele diz que deseja que o homem seja quente e
prefere frio que morno está demandando a radicalidade ou não? A palavra radical tem
sido interpretada de uma forma errada em nossa geração. Ser radical, em sua raiz da
palavra, significa: ter raízes profundas. Não tem como ser mediano entre a fidelidade e
a traição, entre verdade e mentira, entre obedecer e desobedecer, entre estar vivo e estar
morto. Não há um meio termo em principalmente: servir Jesus e não servir.

A mornidão de um crente que não é totalmente entregue à vontade de Deus, dá


ânsia de vômito Nele. Isso diz respeito a alguém que é totalmente descartável, inútil,
inutilizável. Tal entendimento me faz querer perguntar: qual foi a última vez que você
foi usado por Deus?

Apocalipse 3:17-18 : “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta;
e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de
mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te
vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que
vejas.”

Cristo afirma que a igreja dizia ser rica e de nada tinha falta, fatos históricos
mostram a veracidade disso. Em 60 DC, 35 anos antes de João escrever o Apocalipse,
Laodicéia foi destruída por um terremoto. No século 2 DC o historiador Romano Tácito
declarou, “uma das cidades famosas da Ásia, Laodiceia foi arrasada por um terremoto,
e, sem qualquer dúvida, ela se recuperou com os próprios recursos.” A reconstrução de
forma incontestável foi financiada por suas próprias riquezas. Assim, o povo de Laodiceia
rejeitou a ajuda monetária oferecida pelo senado Romano.

Uma cidade que aparentemente tinha os aplausos do mundo, contudo não recebeu
nenhum elogio de Cristo. Nosso Senhor contradiz as expectativas e diz que o que ela
acredita ser, não era bem quem realmente era. Jesus condena a igreja de desgraçada,
miserável, pobre, cega e nua.

Nú? Como? Veja o que nos diz a história: Laodiceia era um centro para a indústria
têxtil regional. Os rebanhos mantidos próximo aos vales produziam lã negra que era
excepcionalmente macia. A lã era comprada e vendida nos grandes mercados.

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Apesar de ter a melhor lã da região, apesar de se vestir bem em relação aos outros,
diante de Deus não passava de um mendigo sem roupas. Isso mostra que a opinião de
Deus não esta co-relacionada às dos homens, e muitas vezes pode ser exatamente o
oposto dela.

Cega? Mesmo? Laodicéia tinha uma escola médica produzia uma pomada para os
olhos (Colírio) referido como “pó da Frigia” feita de uma pedra local. Acreditava-se que a
mesma curava um olho com problema.

Uma cidade que tinha a cura para os problemas nos olhos e era cega. Creio que
esse versículo exprime as palavras anteriores: “São cegos condutores de cegos. Ora, se
um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova”- Mateus 15:14.

Homens e mulheres que se autocondenarão, pois estão se aproximando


cegamente, da sua destruição. Pessoas incapazes de ser o próximo da parábola do bom
samaritano. Não se veem em Deus e não enxergam os outros através do olhar de Deus.

Apocalipse 3:18-22

“Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres,
vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não se manifesta a vergonha da tua nudez,
e colírio, para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo.
Sê, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei
sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu
trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”

Jesus aconselha e repreende quantos ama, assim como está escrito em Hebreus
12:6: “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho”. Entendo
que a correção é um ato de amor. É fácil observar que crianças que não são repreendidas
crescem com a alma sem direção e acabam se tornando o seu maior vilão, pois colhem da
consequência de suas ações inconsequentes. É fato que todos nós precisamos de alguns,
senão, muitos nãos para nos nortear. Cristo demonstra seu cuidado por nós, que
representamos essa cidade, no ato de nos levar de frente ao espelho e nos deixar ver que
tudo que tínhamos acreditado ser, não é.

O espelho de Laodicéia mostrou que a riqueza para o mundo que desperdiça


cuidados e se torna autossuficiente, para Deus, é pobreza e miséria, homens que são
carentes e totalmente necessitados de ajuda para sobreviverem nos céus. O espelho de
Laodicéia manifestou a nudeza que eles julgavam nunca terem. Os seus tecidos famosos
não puderam vesti-los diante de Deus. O espelho de Laodicéia mostrou neles uma
deficiência visual que eles, diante de homens, ajudaram a curar. Quem é você diante do
espelho de Deus?

Jesus conta que está à porta, batendo, esperando ser atendido para que então,
Ele possa tomar o lugar dele à mesa e manifestar intimidade a nós. O que me parece
intrigante nesse texto é saber que no oriente, naqueles dias, não se batia à porta para
visitar alguém. O comportamento mais comum seria o de se anunciar, para que ao ouvir

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a sua voz, o anfitrião abrisse sua casa. Porém, em dois casos distintos, o bater a porta se
dava: quando um ladrão tinha o propósito de assaltar a casa para certificar-se que
ninguém jazia dentro, ou quando algo caótico e desesperador estavam acontecendo do
lado de fora, então alguém bateria à porta para avisar os de dentro.

Assim sendo, você acharia que o Senhor está batendo à porta de nossos corações
como igreja, em qual sentido? Para nos roubar ou para nos alertar? Atente-se que
estamos falando da igreja de Laodiceia, não de ímpios descrentes que ainda não
conhecem o Senhor Jesus.

A destruição eminente do mundo já sentenciada por Deus, descrita pelo apóstolo


João no livro de Apocalipse, é esse acontecimento que está prestes a sobrevir sobre nós.
Então temos Cristo, como que de forma desesperadora, com intuito de nos alertar! Não
são tempos de paz, mas de guerra. Não é tempo para ser passivo, mas ativo no chamado
e ministério que o Senhor nos designou.

Certamente bom é que Cristo bate à porta para nos avisar, mas triste é saber que
Ele ainda não está no lado de dentro.

Como saber se ainda sou um bom


ator:
Bons atores são inúteis para Deus, pois Deus não tem o poder de fluir através
deles.

Bons atores rejeitam ajuda, pois se sentem autossuficientes.

Bons atores confundem os aplausos do povo com os aplausos do Rei.

Bons atores acham que aprovação humana, igreja cheia, é uma demonstração da
aprovação de Deus.

Bons atores são cegos, pois não enxergam a si mesmos no espelho de Deus, tão
pouco veem o próximo.

Bons atores acham que ter é mais importante que ser.

Bons atores acham que tem a razão e dificilmente se humilham pedindo perdão.

Bons atores não são transparentes, se escondem porque tem medo de que alguém
os descubra.

Bons atores não são intensos, costumam ser os que não fazem a menor diferença
onde estão.

Bons atores chegam a pensar que estão muito bem e que não precisam de coisa
alguma.

Bons atores não são constantes.

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Até o mel mais doce
Azeda em um recipiente sujo
Não seja ridículo, não se engane
Até a água puríssima
Torna-se imprestável ao se passar por um cano imundo

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Vi um espelho triste
Fora um dia útil
Mas hoje está sujo
Não cumpre seu papel
Agora seu nome é infiel

Não azede o doce


Não suje o perfeito
Não limite a visão
Pois assim fará de ti
Uma grande decepção
(Laís Guerra)

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Capítulo 5
A constituição do Reino I – onde
reside a verdadeira felicidade
A humildade que nos torna filhos
“Pobreza de espírito é a bolsa onde Cristo coloca as riquezas de sua graça”. Rowland
Hill

Vi, certo dia, um filme agonizante. A trama se dava em um avião onde um jovem
piloto teve de encarar uma situação de extremo risco. Em poucas palavras, o avião estava
despencando dos ares, o jovem gritava pelo rádio: Ajude-me! Ajude-me! Porém da torre, as
palavras de direção eram: abandone o controle do avião, pois assim ele tentará estabilizar-se
sozinho. O jovem, intrigado e não pouco confuso, não soube se essa é a melhor escolha.
Demora-se por demais e em desespero confia em si mesmo. Prefere estar no controle, uma
máquina não pode fazer isso para mim, pensou. Então, em questão de minutos, seu avião
bate em uma montanha e se despedaça por inteiro, tirando a vida daquele que achava ser o
solucionador de seus problemas.

Quem está no controle do seu avião hoje?

Os herdeiros, portanto, filhos do Rei, devem saber de cór qual é a constituição do


Reino de seu Pai. Tais mandamentos seguidos de promessas são os parâmetros a serem
seguidos, para que, nos façam evitar a incorporação das famosas máscaras.

E qual é essa constituição? Onde ela está escrita? O que está escrito nela? A
constituição é simplesmente as oito bem aventuranças ditas por Jesus e descritas por
Mateus em seu livro no capítulo 5. Elas contêm verdades que clareiam o caminho dos
filhos. São características de caráter exaltadas por Cristo e consideradas cruciais para
os cidadãos do reino.

Alguns teólogos afirmam que se toda a bíblia se perdesse, mas houvesse apenas
um texto que eles pudessem salvar, salvariam as bem-aventuranças. A constituição do
reino.

Deus trabalha com recompensas! Em todas as bem-aventuranças Cristo destaca


o que receberemos se nos submetermos a essa conduta de vida – se já não bastasse o fato
de sermos nós seus servos e, portanto devedores de obediência, Deus nos promete
grandes bênçãos para essa obediência. Tais bênçãos podem e devem ser fatores

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motivadores para encararmos tais desafios que são sempre contrários à nossa natureza
e “esmurrarmos” nossos corpos, assim como Paulo afirma em 1 Coríntios 9:27: “Antes
subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não
venha de alguma maneira a ficar reprovado. com o fim de alcançarmos tais promessas”.
Lembrando o fato de não serem essas promessas meros brindes que logo se acabam, que
tem vida-útil; mas nós estamos tratando de recompensas eternas! Infindáveis! Quanto
mais dignas são elas, então, de nosso total empenho e dedicação?

“E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa
corruptível; nós, porém, uma incorruptível”. 1 Coríntios 9:25

Eu convido você, caro leitor, a se dedicar em memorizar essas palavras da


escritura em seguida. Isso ajudará na sua luta contra a hipocrisia, que na verdade, é
sutil e muito presente naqueles que se deixam ser sondados.

Jesus diz: “Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos céus.
Bem aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem aventurados os mansos,
porque herdarão a terra. Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
fartos. Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem
aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. Bem aventurados os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus. Bem aventurados os perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o reino dos céus”.

Mateus 5: 3-10

As beatitudes mostram que o caminho para o ser feliz de verdade, não tem muito
a ver com aquilo que costumamos ouvir e muitas vezes acreditar. Certamente não tem a
ver com dinheiro, com necessidades supridas, com lazer, com uma boa família, com
pessoas ao nosso redor, ou circunstâncias favoráveis. A verdadeira alegria vem de um
coração que se posiciona a se comportar de uma forma contraditória ao esperado pelo
mundo, mas o aplaudível pelo único que importa.

Tive a oportunidade de ouvir um estudioso que há 23 anos pesquisava, em sua


universidade local, Oxford na Inglaterra, sobre a felicidade e como ser feliz. Ele discorreu
como foi difícil chegar a um denominador comum, mas que finalmente chegara a uma
conclusão. Foi quando em sua viagem à África, se admirou em ver tantos sorrisos e
tamanha alegria. Por quê? Intrigado, voltou a seu escritório e olhou ao redor, então disse
consigo mesmo: como nós que temos conforto, alimento em abundância e uma vida tão
suprida, podemos ser tão infelizes, enquanto outros, sem nada do que temos são tão
felizes? A conclusão é simples e óbvia: os destituídos aprenderam a ser contentes com
pouco. Enquanto a mídia nos diz que ter é ser, nunca nos satisfaremos com o que temos,
pois claro, somos bombardeados com a próxima moda que dita o que é ser feliz.

Nos tempos de Jesus, diante de circunstâncias adversas os fariseus diriam aos


seus seguidores: volte atrás e reveja seus atos. Os saduceus diriam aos seus: ignore isso,
e simplesmente prossiga. Os essênios (homens que pregoavam a santificação através de
uma total separação do mundo, isolando-se) diriam: Fuja disso. Os zelotes (homens do
movimento político judaico do século I que procurava incitar o povo da Judeia a rebelar-

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se contra o Império Romano e expulsar os romanos pela força das armas) diriam:
Enfrente isso! Jesus, com sua voz suave, porém estremecedora, gritaria em um sussurro:
Todos estão errados! Diante de uma circunstância adversa e ameaçadora, não olhe para
fora, mas para dentro de si mesmo, pois as forças para vencê-las não esta exterior a você,
porém esta em você.

Cristo mostrou nesse ensinamento considerado, nada menos, que o mais


importante dito de todos os tempos, que a alegria verdadeira (bem-aventurado) está em
reconhecer que tipo de combustível move o seu coração e focar em uma transformação de
intenções que afetará, conseguintemente, tudo e todos à sua volta.

Bem-aventurança deriva do grego “makarios” e outras palavras correlatas


(“makarismos”, “makarizo”). Significa estado de satisfação completa, perfeitamente
independente das vicissitudes, das instabilidades do mundo; é indiferente a toda
realidade externa e está vinculada a uma vida predominantemente contemplativa. Tem
um caráter intemporal por ser tratado por Jesus como uma recompensa no tempo
presente para aqueles que se posicionam com o coração de uma determinada forma.

Interessante compreender que essa palavra era usada pelos gregos e romanos
somente em duas situações: para mostrar a felicidade, ou o estado de espírito, de seus
deuses pagãos; ou para descrever a condição daqueles que passaram pela morte e hoje
gozam dessa alegria eterna. Jesus pega essa mesma palavra e a emprega como sendo
real e possível para os vivos aqui na terra.

Pobres de espírito?
O orgulho é inimigo declarado da verdadeira alegria

Usei o ponto de interrogação para dois questionamentos relevantes: o que é ser


pobre de espírito e quem são os pobres de espírito. Para discorrer sobre o primeiro ponto
vou revelar que desde muito jovem eu tive dúvidas quanto à interpretação desse texto, a
final, devemos ser pobres espiritualmente? Com pouco de Deus ou mendigando sua
ajuda? Certamente não.

O que é ser pobre? Ouvi uma definição certo dia que me deixou muito esclarecida:
“Rico não é quem tem muito, é quem precisa de pouco. Pobre não é quem tem pouco, mas
quem precisa de muito.” Ser necessitado, carente, precisado é a característica exaltada
por Jesus aqui. A palavra grega para pobre é: “penichros”, usada em Lucas 21:2 para
descrever a condição da viúva pobre que deu tudo que tinha, até seu sustento, para a
casa do Senhor. Incrivelmente, essa palavra “penichros” não é usada em Mateus 5:3 para
dizer a condição de espírito, mas sim “ptóchos”, que quer dizer aquele que é totalmente
destituído de condições para seu sustento, aquele que mendiga para sobreviver.
“Ptóchos” é usada na história de Lázaro em Lucas 16:20-21, e é a condição daquele que
desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico. Você acha isso radical?
Isso extremo? Revolucionário? Significa, você é um mendigo, significa, você não tem
NADA, significa, reconhecer que você não é ninguém.

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Assim é o início da caminhada cristã. Um dia, certo homem veio a Jesus, à noite,
homem cheio de pompa, com uma reputação impecável, com um estilo de vida copioso.
Nicodemos, em João 3, ao contrário do muito esperado, não é elogiado, mas é ensinado
que para entrar no reino de Deus precisa nascer de novo. O que é nascer de novo? É
rejeitar os aplausos, os títulos, as honras e se tornar um bebê, pequeno, totalmente
dependente, carente, necessitado de alguém para continuar a viver. Percebe que esse é o
mesmo ensinamento de Mateus 5:3?

O homem moderno cresce com a mentalidade muito direcionada pelo secularismo


mundano, as direções dadas pelo ditador desse século que são: com riquezas e
prosperidade financeira estão alegria e felicidade verdadeiras.

Contam-se a história de um homem que tinha um amigo chegado que nota a


tristeza visível de seu amigo e pergunta o esperado: Por que você esta triste? Ele
respondeu: minha tia morreu a duas semanas e me deixou uma herança de 10 mil reais.
Mas isso é ótimo, respondeu o amigo. Não, disse ele, você não entende semana passada
meu avô morreu me deixando 100 mil de herança. Eu não compreendo mesmo, respondeu
o amigo, não são boas notícias? Por que você ainda esta triste? É que, disse ele, essa
semana ninguém morreu!

Essa é a mentalidade de uma sociedade consumista, onde nunca é o bastante.


Vemos, por exemplo, a vida das famosas celebridades que estão se esbanjando em
prazeres desenfreados, com seu dinheiro compram tudo, menos, o que realmente
importa: felicidade. Por quê? Pois não são pobres! Pobres de coração.

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. Tiago 4:6

Essa é a declaração mais cruel de Deus contra os orgulhosos e mais afável para,
não somente uma classe de crentes, mas todos os cristãos. A palavra resistir em grego,
“antitassó”, significa literalmente, se levantar em batalha contra. Contudo, Deus dá
graça aos humildes e dependentes. Graça, em grego, “xaris”, significa: favor, disposição
para, inclinado para dividir benefícios, favorável para. Os humildes são agraciados por
Deus, influenciados pela essência do próprio Deus em seus corações. “Xaris”, deriva da
palavra “xará” que é nada mais nada menos que a palavra grega para alegria. A mesma
alegria que foi o prêmio de Cristo por nos comprar com alto preço, descrita em Hebreus
12:2 – “tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que
lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono
de Deus.”

Tudo que fazemos, cada inspiração, cada passo dado, cada sermão pregado, Deus
nos concede graça para tal, não provém de nós. Nós não somos os donos de nós mesmos,
mas Deus é, e por isso somos gratos a Ele por isso. Gratidão é o coração da humildade.

Isaías quando teve um encontro com Deus, mesmo sendo um profeta, homem que
aparentemente fazia tudo certo, disse: ai de mim! Estou perdido!

Um pescador, quando derrotado de uma pescaria que não rendeu nem um peixe,
é convidado pelo Salvador a lançar as redes do outro lado do barco e recolhe multidão de

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peixe, então diz a Jesus: Aparta-te de mim, pois sou pecador! Esse é o lugar que todos
devemos estar e permanecer para alcançarmos a eternidade e a felicidade eterna.

Ao comentar sobre isso em seu livro As bem aventuranças Charles H. Spurgeon,


disse:

“É digno de uma nota de agradecimento que essa bem-aventurança evangélica desça


ao nível exato onde a lei deixa-nos, depois de ter feito por nós o melhor que pôde dentro de
seu poder e desígnio. O máximo que a lei pode fazer por nossa humanidade caída é mostrar-
nos nossa pobreza espiritual, e convencer-nos dela. Ela não pode enriquecer o homem sob
nenhum ponto de vista; seu maior serviço é arrancar-lhe sua riqueza imaginária de justiça
própria, mostra-lhe seu endividamento esmagador com Deus, e pô-lo com o rosto em terra
cheio de desconfiança de si mesmo.

Como Moisés, a lei ensina o caminho que parte de Gósen, que conduz ao deserto, e
que leva às margens de um rio intransponível, mas não pode fazer nada mais; necessitamos
de Josué – Jesus – para que divida o Jordão e nos conduza à terra prometida.

A lei rasga o desejável manto babilônico de nossos méritos imaginários em dez


pedaços, e demonstra que nosso berço de ouro é simples escória, e assim nos deixa, “desnudos,
pobres e miseráveis.” Até este ponto desce Jesus; seu nível preciso de bênção chega até a beira
da destruição, resgata o perdido e enriquece o pobre. O Evangelho é ao mesmo tempo pleno e
livre.”

Algumas traduções de Mateus 5:3 diz:

“Grandes bênçãos pertencem àqueles que sabem que são espiritualmente carentes. O
reino de Deus pertence a eles.” - Easy to read

“Felizes são as pessoas desesperadas, porque o Reino dos céus é delas.” Bíblia
commom english

“Deus abençoa aqueles que dependem somente nEle. Eles pertencem ao Reino dos
céus.” Contemporary english

Para contemplar seu significado completo ouso parafrasear esse texto da seguinte
forma: “A alegria completa está nas mãos daqueles que têm Deus como seu amigo,
dependendo e se satisfazendo somente Nele, eles não terão nenhuma dificuldade em
passar a eternidade ao Seu lado.”

É digno que eu ainda me tenha nessa bem-aventurança por mais um pouco, pois
sendo a primeira, está diretamente responsável por possibilitar o alcance das outras que
se seguem. Fato é que não nos é dado um mandamento difícil, contudo essa aventurança
é exaltada mais pela ausência do que pela presença de qualidades louváveis.

Como um professor procura alunos, um médico doentes, um construtor pedreiros,


assim o Senhor de toda terra busca quem necessita dEle. Que todo necessitado se farte
desse banquete de consolação.

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Que diremos pois? Podemos nos qualificar como cristãos? Somos pobres de
espíritos? Somos humildes? A definição básica de humildade esta descrita em Filipenses
2:3b “considere cada um os outros superiores a si mesmo.” Assim pensamos? Assim agimos?

Nossa arrogância sobe para Deus como desagradável, insuportável até. Ao ponto
do Senhor não nos poder ouvir, não mais nos responder. O orgulho do homem o ensurdece
e o emudece, está insensível ao reino de Cristo e não mais e operante nele, sua inutilidade
logo lhe comprará suas passagens ao inferno.

A humildade nos proporciona como em uma escada, sendo o primeiro degrau, o


alcanço de outras bem aventuranças. Como se fosse a porta de entrada aos céus, o
carimbo, a identificação de cidadão celeste.

Encontrando os verdadeiros filhos


Diferentemente dos bons atores os filhos são humildes porque reconhecem a santidade
de seu Deus e a perversidade de seu próprio coração.

Os filhos são sinceros, tem coragem de se olhar no espelho da verdade e declarar sua
impiedade.

Os filhos são repreensíveis, não se escondem atrás da reputação que os homens lhe
deram.

Os filhos permitem serem insultados, sem contudo revidar.

Os filhos sorriem da mesma forma para todos, sem distinção alguma.

Os filhos reconhecem seus pecados e não hesitam em, com lágrimas de arrependimento,
buscar o perdão.

Os filhos abrem mão de um direito para que, em troca, acumulem brasas vivas sobre
suas cabeças.

Os filhos sofrem para que outros se regozijem, choram para que outros possam sorrir,
sentem dor para que outros, desconhecidos, possam nascer.

Os filhos não trocam míseras recompensas passageiras por aquela que é


incomparavelmente maior e incorruptível.

Os filhos não negociam eternidade.

Os filhos, aqueles que realmente os são, nunca pensarão de si mais dos que convém.
Contudo, com muito temor fugirão dos elogios, pois sabe que neles reside o poder de
completamente destruí-los.

Essas são características dos bons atores que saíram de cena e deixaram Jesus dirigir
sua história.

46
Preciosidade está no grande?
Mais valor tem uma pedra gigante
Ou um minúsculo diamante?

Preciosidade está no estrondoso?


Mais valor tem um enorme templo
Ou um pequeníssimo ato de exemplo?
47
Preciosidade está no admirável?
Mais valor tem um colar de bijuteria
Ou uma única pérola pequenina?

Olhe para a estátua que construí


Veja depois os destroços que acumulei
Contudo veja também o simples camponês
Que não construiu palácios nem suntuosas construções
Mas furou em seu jardim um poço
Que até hoje sacia suas gerações
(Laís Guerra)

48
Capítulo 6
A constituição do reino II
O choro que liberta e a mansidão que
autoriza

“Bem aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” Mt 5:4

Nesse caminhar de introdução ao reino de Deus e sua perfeita vontade,


encontramos o segundo e terceiro desafio dos filhos que nos remete diretamente ao
primeiro. Pois diz respeito ao coração que percebe suas misérias diante da perfeição de
Cristo.

Confissão gera constrição. Todo aquele que se despedaça de vergonha diante do


seu pecado certamente se constringe até ao ponto de lágrimas correrem pelo seu rosto. O
choro sincero é importante porque demonstra no corpo o que o coração vive.

Existem nove palavras gregas para descrever tristeza. Nessa condição particular
do versículo, a palavra usada é a mais severa de todas. É usada no velho testamento em
Genesis 37:34 para demonstrar a dor de Jacó diante da notícia que seu filho amado tinha
morrido. É também palavra correspondente ao evento que seus discípulos choram, se
lamentam sobre a morte de Jesus (Marcos 16:10).

O mal desse século, o grito da doença mais corrosiva de hoje tem por nome
depressão. Nos tempos de hoje, há um lamento comum, choro, porém sem consolo. Há
também, por ouro lado, a tristeza do arrependimento, o choro que por um momento se
compara à depressão, mas logo a mais profunda alegria. A dor, não pela consequência do
erro, mas pelo simples fato de ter ofendido ao Senhor criador. Não pelas chamas do
inferno, mas pelo desprezo dos céus. Esse último gemido, é a dor que precede a cura, o
choro que precede as gargalhadas, pois possui esse diferencial: tem consolo.

Paulo descreveu bem essa tristeza que comentamos: 2 Coríntios 7:10 – “Porque a
tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar;
mas a tristeza do mundo produz morte”.

A palavra grega é “pentheó”, que literalmente significa: chorar sobre a morte, sobre
uma esperança que morreu, essa é a palavra utilizada nessa bem aventurança. É o
lamento de Davi em Salmos 42:2-3:

“A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-
me a Deus? Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam
o tempo todo: Onde está o seu Deus?”

49
Também descrito em Salmos 6:6

“Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de
lágrimas encharco o meu leito”.

É um choro intenso, porém sem repetição. Um desespero sim, mas junto com
inimaginável consolação. Hoje, a busca pelo entretenimento tem sido intensificada em
nossa sociedade, por isso a diversão nunca foi tão acessível e tão bem paga. Comediantes
ganham mais do que trabalhadores braçais, futebolistas faturam mais do que uma cidade
de trabalhadores comuns. Nos programas mais acessados de comédia e diversão, uma
máquina de rir é acionada a cada 7 segundos para nos provocar a rir de coisas que nem
mesmo são engraçadas. Tentam-nos colocar em um lugar inexistente, de uma falsa
satisfação e alegria. Roubando-nos assim, o senso de seriedade do que é santo e do que
se trata a verdadeira alegria.

Não sou contra boas risadas, porém as coisas de Deus e os assuntos eternos como
salvação e condenação devem no mínimo nos mover a lágrimas. Arrependimento é talvez
hoje, a palavra mais esquecida da igreja brasileira e dos mornos cristãos.

Lembro-me de um dia, após um sermão impactante de um irmão, que eu prostrada


ao chão chorei mais do que qualquer ocasião que me lembre, chorei tanto que
literalmente não podia ver direito. Logo meu nariz começou a sangrar, mas eu tinha
perdido minhas forças, não podia me colocar de pé, então esperei até que o Senhor enviou
consolo. Esse choro esmagador foi após ser confrontado por meus pecados.

Há um tempo para choro, há um tempo para arrependimento, como Tiago diz:

“Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por


tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará”. Tiago 4:9-10

Finalmente, o choro está ligado à humilhação. Quem chora se humilha, portanto


diante disso fica a pergunta: quando foi a última vez que você se humilhou com choro
diante de Deus? Quando foi a última vez que você, cristão, sentiu dor pela ofensa que
você fizera a Deus, seu Pai?

Muitos cristãos desconhecem a razão pela qual Cristo, em sua oração modelo nos
pediu que orássemos: Santificado é seu Nome. Pode Deus se tornar mais santo? Ser mais
santificado? Não é Ele três vezes santo? Como pode ser isso? Pois te direi, Deus se torna
santo quando seus representantes, homens e mulheres cheios do Espírito Santo, refletem
esse atributo em suas vidas. Através de um contínuo purificar, de um contínuo viver sem
pecados, sem mancha e sem mácula, como diz que a noiva de Cristo deve ser.

Contudo, quando seus olhares, atitudes, pensamentos e motivações não condizem


com as do Seu Pai, você o desonra. Você quer mais motivos para se arrepender? Quando
você mente, murmura, revida, revolta, rouba, mata, adultera, se ira, você se parece com
o próprio satanás, aquele, inimigo de Deus que sorri para você.

Que haja em nós esse temor, de profanar a Deus e impedi-lo de ser visto como Santo.
Que em nós habite o espírito de humildade como também em Cristo habitou.

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“Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não
considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo,
vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma
humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” Filipenses
2:5-8

O cristão que é realmente superior aos demais com quem convive, é precisamente
o homem que se rebaixa ao nível dos menores visando o bem geral de todos. Ele imita
seu Senhor, quem, ainda que era igual a Deus, “esvaziou se a si mesmo, tomando forma
de servo”. E em consequência, é amado e é digno de confiança como o foi seu Senhor que
até mesmo as crianças se achegam até ele, e não o rejeita. É delicado com eles, como uma
mãe amorosa evita qualquer dureza ao tratar com seus filhos.

Gosto da bíblia parafraseada de “A mensagem”, que diz: “Você é abençoado quando


sente que perdeu o que é mais querido a você. Só ai você poderá ser abençoado por aquele que
é mais querido a você.” (Mateus 5:4) Essa perda é a própria vida. Sim, como em Filipenses
a morte, e morte de cruz. Sendo, então a exigência de Cristo para segui-lo:

Jesus dizia a todos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome
diariamente a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23 / Mateus 16:24 e Marcos 8:34

Escolha a perda dessa vida, para o ganho daquela que é sem fim. Chorar diante do
Senhor é bom, como diz o salmista: “O choro pode persistir uma noite, mas de manhã
irrompe a alegria” (Salmos 30:5). E também: “Aqueles que semeiam com lágrimas, com
cantos de alegria colherão” (Salmos 126:5).

Ao analisarmos a palavra consolados encontramos em grego, “parakaleó”, de “Pará”


- perto, ao lado, e “Kaleo” - chamar. A palavra descrita enfatiza a aproximação de Deus
à pessoa contristada. E, fato é que corações quebrantados encantam nosso Senhor. Como
descrito em diversas passagens:

“Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração


quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás”. Salmos 51:17

“O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido”.
Salmos 34:18

“Só ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas”. Salmos 147:3

Mansidão é a marca registrada do homem dominado por Deus.


Geoffrey B. Wilson

Nos tempos dos puritanos, viveu um ministro eminente e piedoso, chamado Sr.
Deering. Quando estava sentado à mesa, um dia, alguém malvado o insultou lhe jogando
uma garrafa de cerveja na cara. O bom homem somente sacou seu pano, limpou se rosto,
e continuou comendo sua comida. O homem o provocou uma segunda vez fazendo o
mesmo, e inclusive chegou a fazê-lo uma terceira vez em meio de muitos juramentos e

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blasfêmias. O Sr. Deering não respondia nada, mas somente limpava seu rosto, e, na
terceira ocasião, o homem veio e caiu a seus pés, e comentou que o espetáculo de sua
mansidão cristã, e o olhar de ternura e de amor compassivo que o Sr. Deering havia lhe
dirigido, haviam o subjugado por completo. Então, o bom homem foi o conquistador do
mal.

A aventurança de ser muitíssimo feliz em chorar precede a que diz que os mansos
herdarão a terra (Mateus 5:5). Essa é a continuação de um coração quebrantado, a
formação de um caráter manso. Mas, afinal, o que é ser manso?

Jesus diz que certamente herdarão a terra os que são mansos. “Prautes”, é a palavra
grega dessa situação, ela diz respeito, em contradição do que muitos pensam, à força, não
à fraqueza, mas a força de Deus exercida pelo controle Dele. É uma palavra um tanto
comum do oriente naquele tempo, era usado no campo médico para descrever um
medicamento que serviria como um calmante, permitindo ao paciente um sono
agradável. “Prautes” também é usada por navegantes que descreviam a brisa, ou o vento
calmo que soprava para assim possibilitar uma viagem tranquila. No campo agrônomo
era comum para descrever aquele cavalo selvagem que após treinamento se encontrava
apto e útil no trabalho rural.

Em um exército, soldados se moviam com lentidão por estarem puxando uma arma
muito pesada que atolou, os tenentes ficava gritando para os soldados para puxarem com
força e fazerem maior esforço. Esgotados, os soldados pediram ajuda aos tenentes; eles,
no entanto, arrazoavam e diziam que jamais sujariam suas mãos com esse trabalho
comum. Ao finalizarem o serviço árduo, os soldados fitavam os tenentes preguiçosos e
um deles, ousado, se levantou e disse: tenho vergonha de vocês! Intitulados valorosos,
mas certamente totalmente desprezíveis. Quem é você? Replicaram os tenentes com
raiva nos olhos. Eu sou General João Salviano, e vocês envergonham nossa nação.

Mansos são homens fortes os suficientes e grandes o bastante para servir.

O homem Moisés é um grande exemplo de mansidão, como diz as escrituras:

“E era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra”. Números 12:3

Analisemos as circunstâncias que o rodeavam quando essa declaração foi feita.


No começo do capítulo 12 Miriã e Arão, irmãos de sangue de Moises, se levantam contra
ele e prosseguem argumentando e questionando a autoridade delegada por Deus a
Moisés. Nessa atmosfera hostil Moisés se apresenta como o mais manso de toda a terra,
pois diante dessa circunstância não se deixou levar pelos sentimentos naturais do homem
de raiva ou reprovação. Contudo, quando feriu Deus com lepra a Miriã, ele se prostrou
intercessoriamente a favor dela e clamou: “Ó Deus, rogo-te que a cures” (Números 12:13b).
A atitude de Moisés é digna de espanto e muita admiração, ele não somente não se
ofendeu com seus irmãos quanto foi capaz de abençoar seus ofensores. Isso me fez
lembrar de um ensinamento de nosso Senhor:

52
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos
digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está
nos céus”. Mateus 5:43,44

Percebo tais características nos mansos, eles são o cimento da construção, o anelo
da unidade. É visível, no entanto, que em nossa geração é comum ver pessoas
frequentando a igreja de Cristo, ouvindo a verdade, e não praticando nem o perdão,
quanto mais o amor ao inimigo. É vergonhoso esse tempo de apostasia, onde a mágoa é
tolerável e a justiça-própria é aplaudida.

“Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho”. Salmos 25:9

A palavra novamente nos exorta a viver em mansidão: “Portanto vos rogo eu, o
prisioneiro no Senhor, que andeis de uma maneira digna da vocação com que fostes
chamados, com toda a humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros
em amor”. Efésios 4:1-2

Interessante que a humildade e a mansidão são postos aqui como a dignidade do


cristão. Será que somos dignos de sermos chamados cristãos? Cristo diz: “aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas”
(Mateus 11:29). Alma atribulada, aprenda com o mestre a ser humilde e manso, tal como
ele foi assim devemos ser.

E qual é então a recompensa de sermos humildes? O que Cristo nos promete se


nós aceitarmos esse desafio de sermos duramente quebrados e reconstruídos? A herança
da terra. Ora, quem herda, senão apenas os filhos. Portanto, ao entrarmos no reino com
humildade, somos feitos filhos e então em mansidão, que não passa de ser a consequência
da verdadeira humildade, herdamos o que é de nosso Pai: “Ao Senhor pertence à terra e
tudo que nela há, o mundo e os que nele habitam” (Salmos 24:1).

Contudo esse texto se refere ao futuro, não como os muitos pregadores da falsa
prosperidade afirmariam, não significa sua melhor vida aqui na terra nem muitas terras
e dinheiro. Significa puramente isso: Que no reino de nosso Senhor, no milênio
estabelecido por ele na terra, ele escolherá líderes que são: mansos.

Leia com cuidado, pois o que falarei agora afetará a sua vida por mil anos no
futuro: No grego, assim esta escrito: “Bem aventurados são os mansos, pois eles, e apenas
eles, herdarão a terra”. Preste atenção, aqueles que reinarão, que exercerão autoridade,
que liderarão com Cristo certamente serão, arrogantes orgulhosos? Não. Mas sim,
mansos.

Hoje sim, os homens ricos são, com pouquíssimas exceções, arrogantes e


orgulhosos. Afinal, pensam, conquistaram com muito esforço cada centavo. No entanto,
no reino milenar de Cristo na terra eles não serão escolhidos para serem poderosos. Serão
escolhidos então, os que são para mim, ligaduras da unidade. Pessoas que não se ofendem
e são capazes de abençoar seus ofensores. Pessoas que trazem paz e não guerra, que
escolhem ser injustiçados se isso trouxer melhor convivência. Pessoas que o mundo se

53
espanta, pois são contrário a natureza corrompida humana. Homens e mulheres que
aceitaram de bom grado ser a insignificância desse mundo para então ser o esplendor de
uma construção eterna.

Cristo se virará para os mansos, naquele dia de glória e dirá: qual a porção de
terra que você deseja reinar? Então lhes serão dados uma coroa e eles a porão novamente
aos seus pés. Pois nada disso pode ofuscar o que ainda é mais precioso, Jesus Cristo,
Senhor.

Esses são os herdeiros:


Diferentemente dos bons atores os filhos são difíceis de magoar, antes preferem assumir
a culpa e resolver conflitos rapidamente.

Os filhos choram com dor por erros que aos olhos de qualquer pecador não passam de
triviais.

Os filhos se recusam a ser passivos com relação ao pecado.

Os filhos aceitam perder.

Os filhos visam o céu e sua comparação esta não nos outros, mas sim em Cristo.

Os filhos têm dificuldade de identificar seus inimigos. Pois a todos, em seu coração, são
irmãos.

Os filhos quando todos amaldiçoam, ele abençoa.

Os filhos são gratos e por isso se tornam pessoas desprendidas da mágoa e livres para
amar de verdade.

Há uma voz
Que clama dentro de mim

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Posso deixá-la extravasar
Ou impiedosamente retê-la

Confundo-a com muitas outras,


Mas quando ela diz Amor,
Percebo não poder ser outra

Todavia, quando me diz: você errou


Ouso discordar por um tempo
Mas logo me rendo com humildade

Sinta o vento e deixe suas folhas levar


Para o lugar desconhecido
Para o certo lugar
(Laís Guerra)

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Capítulo 7
A constituição do Reino III
Divino descontentamento
Lembro-me de quando cursava a antiga primeira série, hoje segundo ano, em uma
escola municipal de nosso bairro. Havia periodicamente uma faxina e todo o pátio ficava
todo coberto por uma camada pequena, mas considerável de água. Quando chegávamos
à escola as mulheres da limpeza vinham com seus rodos gigantescos e nos davam uma
“carona” nos pedindo para segui-las, assim elas passavam o rodo na frente e era possível
pisar no seco até nossas salas de aula. Assim somos nós, Jesus é como essa mulher e o
Espírito Santo esse rodo, Ele nos chama para chegarmos ao outro lado, à presença de
Deus, mas a condenação (água) esta por todo lado. Contudo, através da ação de Jesus,
vindo até nós e nos trazendo o Espírito Santo, é finalmente possível ir onde Ele foi, ao
mais íntimo em Deus, tudo que temos que fazer é segui-Lo.

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande
misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode
murchar, guardada nos céus para vós”. 1 Pedro 1:3-4

Impressionante é que pessoas buscam ser ricas, e ricas sendo, buscam então ser
reis, reinando então, buscam ser deuses; mas aquele que é chamado Filho de Deus quis
ser homem, um homem pobre. Qual é o seu clamor? O que sua alma deseja? Vejo homens
e mulheres se gastando por coisas tão superficiais, se doando por coisas corruptíveis. Isso
me faz pensar que realmente não estamos vivendo o evangelho.

Quem afinal tem sido nosso deus? Podemos rapidamente responder essa pergunta
identificando quem ou o que pensamos mais. Para que ou para quem vivemos e
existimos?

Como Spurgeon disse: “Em primeiro lugar o homem deve ser curado de seu ardor
pelas coisas terrenas antes que possa sentir o fervor pelas coisas celestiais. ‘Ninguém
pode servir a dois senhores’; pois enquanto o velho princípio egoísta não fosse eliminado,
e o homem não se tornasse humilde e manso, não poderia começar a ter fome e sede de
justiça”.

Nesse capítulo iremos tratar do versículo 6 de Mateus 5: “Bem-aventurados os que


têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.”

Esse versículo poderia ser entendido assim: Felizes são os que anseiam a justiça.
O contrário então é verdade: Infelizes são os que não anseiam por justiça, mas desejam
outras coisas. Aprecio os escritos de um grande filósofo cristão do século XXVII, Blaise
Pascal: A Busca das Coisas in Pensamentos

56
“Só o combate nos apraz, mas não a vitória: gostamos de ver os combates de
animais, não o vencedor a encarniçar-se sobre o vencido; que desejamos ver, senão o fim
da vitória? E logo que ela é alcançada, ficamos saciados. Assim no jogo, assim na busca
da verdade. Gostamos de ver, nas disputas, a luta de opiniões; mas não de contemplar a
verdade encontrada: para a saudarmos gostosamente temos de vê-la nascer da disputa.
Do mesmo modo, nas paixões, o que dá prazer é assistir ao combate de duas contrárias;
mas quando uma delas domina, tudo se reduz a brutalidade. Nunca buscamos as coisas,
mas sim a busca das coisas.”

Ouso concordar com esse pensador que diz que nosso desejo não é
necessariamente coisas, mas a busca pelas coisas. A busca é o evidenciado aqui, é ela que
nos move a continuar e quando saciada precisa ser novamente atiçada para que esse
combustível não termine e assim morramos. É prova de que homens cometem suicídio,
não pela falta de algo, mas pela falta de querer algo.

Buscar na bíblia é uma ordenança: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Mateus 6:33

Tão verdade é que Jesus pronunciou: Vocês são felizes quando buscam
incansavelmente a justiça (parafraseando Mateus 5:6). Ora, nesse texto Cristo exalta a
busca como sendo a fonte, o combustível do homem que o faz feliz verdadeiramente.
Contudo, a busca por uma coisa somente: Justiça.

O que então, pode-se entender por Justiça? Justiça é o ato de quem é feito como
deveria ser, justo, aceitável a Deus. É a prática do que é certo e correto aos olhos do único
que é perfeito, Deus. A busca esta intimamente ligada à adoração. Se você busca aquele
que é perfeito, certamente buscara ser como ele é.

Uma das características de Deus mais escancarada na bíblia é: Justo.

“Justo és, ó Senhor, e retos são os teus juízos”. Salmos 119:137

“O Senhor é justo; cortou as cordas dos ímpios”. Salmos 129:4

“Então se humilharam os príncipes de Israel, e o rei, e disseram: O Senhor é justo”. 2


Crônicas 12:6

Novamente a humildade ligada ao nosso contexto. Sim, ela é como que a raiz de
todas as bênçãos, como o dinheiro é a raiz de todos os males (1 Timóteo 6:10). A
humilhação do homem faz com que ele conheça a Justiça de Deus. Então como conhecer
essa característica e não ansiá-la também em si? O homem piedoso deve ser aquele que
busca ser correto em todos os seus atos, palavras, pensamentos e motivações.

É possível, no entanto, que nós, em nossa mísera condição, confundirmos a


Justiça de Deus com nossa construção de justiça. Não significa como muitos julgariam,
revidar o perverso, matar o assassino, condenar os merecedores. Porque, se assim fosse
certamente não cumpriríamos outro mandamento de Cristo, que é: amar os inimigos,
pois diante dessa visão de justiça construída pelo homem não seria justo amar seu
inimigo. Para que não cheguemos naquilo que Paulo condena:

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“Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria
justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus”. Romanos 10:3

Mas alcancemos o entendimento de que:

“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para


salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se
descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé”. Romanos
1:16-17

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados


gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs
para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos
pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste
tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus”. Romanos
3:23-26

A justiça de Deus se descobre na salvação pela fé, não por merecimento. A justiça
Dele é demonstrada quando ele redime o pecador, gratuitamente, pelo sangue do seu
próprio filho. Ela se parece um pouco diferente da nossa justiça?

E se buscamos como aquele que tem fome anseia por comida e aquele que tem
sede por bebida, a alcançamos, porque a palavra diz que seremos satisfeitos. Mas é um
saciar em não saciar, como por exemplo, quando minha querida mãe faz aquela deliciosa
comida, eu como alguns pedaços e me sacio, porém em pouco tempo estou novamente
desejosa de mais.

Comida e bebida são necessidades humanas, assim também é a justiça para o ser
espiritual. Depois que é regenerado e nasce de novo ainda deseja a justiça em outro
sentido que é a santificação.

Como um grande pregador disse: “Sempre tem sede de alcançar a justiça, e de ser
preservado na justiça; assim, ele ora pela perseverança final e pela perfeição. Sente que
tem tanta fome e sede de justiça que nunca estará satisfeito até que desperte a imagem
de seu Senhor; que nunca estará contente até que o último pecado dentro dele não seja
submetido; e enquanto não estiver mais propensão ao mal, e enquanto não estiver fora
do alcance dos tiros de fuzil da tentação”.

E um homem assim, nós devemos ser. Não como os demais que gastam a sua vida
buscando o que não tem poder para saciá-los.

“Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde,
comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais
o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode
satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a
gordura”. Isaías 55:1-2

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E em outro lugar diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste
pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do
mundo”. João 6:51

Cristo é a justiça que desejamos com intensidade e que nos é dado e assim, ele, e
somente ele nos completa. Como um faminto apesar de apresentar-lhe boa música, não
lhe supriria, e mesmo que lhe dessem boa roupa e sapatos de fina qualidade não
cumpriria o seu maior desejo, da mesma forma qualquer coisa que não é Cristo e a sua
justiça não poderia de forma alguma suprir nosso anseio interior.

Deus plantou no homem um desejo, tão gritante como grande fome e tão cruel
como muita sede, de algo que na verdade é ele mesmo. Agora não sabemos bem o que é
muita fome ou sede, algumas vezes deixamos de comer uma refeição ou outra, mas não
conhecemos o que é estar dias sem ver comida. Podemos ter deixado de beber água por
12 horas por causa de algum exame que faríamos, mas por certo desconhecemos o que é
um deserto sem água por dias e noites a fio. Que coisa é mais intensa que a fome? Quando
o homem não pode encontrar nenhum sustento, a fome parece comê-lo; seus desejos vivos
por pão são terríveis. Eu ouvi dizer que nos surtos da falta de alimento, os gritos dos
homens e das mulheres pelo pão era algo muito mais terrível de se ouvir que o grito de
“fogo!” que se dá quando alguma grande cidade se incendeia. “Pão! Pão” Quem não o tem,
sente que tem de tê-lo; e as ânsias produzidas pela sede são muito mais intensas. Dizem
que os tormentos da fome podem ser suportados, mas que a sede faz com que a própria
vida seja um tormento; o homem deve beber ou morrer.

E certamente essa fome e sede são reais. Tente dizer ao faminto que ele não tem
fome, que isso é coisa de sua imaginação e que poderia muito bem viver sem a comida.
Ele saberá que você zomba dele, pois o que sente é bem real e o causa até dores. Sim, a
ansiar pela justiça de Deus se revelando em nós pode nos causar dores, pois quando
falharmos, sofreremos e quando o pecado manchar nossas vestes, choraremos. Haverá
dor em pecar. Para todos os homens, atente-se, pois essa é uma evidência de ser cristão.

Portanto você não precisa dizer ao nascido de novo: anseie a santidade! Pois
nunca vi alguém suplicar ao faminto que coma, ou ao sedento que beba. Da mesma forma
todo que é nascido de novo daria a sua vida para se tornar mais santo, e arrancaria os
próprios olhos se isso lhe pudesse fazer ser um pouco mais parecido com o Senhor Jesus.

O que é então fome e sede de justiça senão desespero em se tornar como Ele?

“Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta”. Salmos 107:9

O verbo em grego: tenho (fome e sede) está no presente contínuo indicando algo
constante. Não é, em muitos casos, daqueles que um dia tiveram fome e outro dia tiveram
sede. Como alguns dizem: ah, meu primeiro amor, como era bom. É algo, no entanto,
progressivo e intenso.

Assim alguém declarou: “Este anseio santo de justiça, que o Espírito Santo
implanta na alma do cristão, torna-se imperativo; não é somente vigoroso, mas domina
todo seu ser. Portanto, ele deixa de lado todos os outros desejos e anseios. Pode aceitar

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ser um perdedor, mas tem que ser justo. Pode ser ridicularizado, mas deve agarrar-se a
sua integridade. Pode suportar o escárnio, mas deve declarar a verdade. Deve receber a
“justiça”; seu espírito a demanda por meio de um apetite que governa todas suas outras
paixões e inclinações; e verdadeiramente ‘bem-aventurado’ é o homem a quem isto lhe
ocorre”.

Perguntas que trarão alegria aos filhos e


vergonha aos bons atores:
• Você está insatisfeito com você? Se você está satisfeito consigo, leia Rm 7:24.
• Tem algo externo a Cristo que te satisfaz? Se sim, leia Sl 112:11, Sl 104:34, Sl 84:2
• Você tem grande apetite pala palavra de Deus? Se não, leia Sl 119:92, Sl 119:174, Sl
1:2
• As coisas de Deus são doces para você? A alma farta pisa o favo de mel, mas para a
alma faminta todo amargo é doce. Provérbios 27:7 – Quando você olha para todas as
circunstâncias que te envolvem, mesmo aquelas que são dolorosas/amargas, você
consegue ver as mãos de Deus e o propósito dele se cumprindo através disso? Você é
capaz de estar grato em todas as circunstancias? Se não, leia Fl 4:4, Cl 3:16
• Pergunte a você mesmo se a vontade de Deus é incondicionalmente a sua melhor
escolha. Se você a faria apesar de tudo.

“Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome
de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR”. Amós 8:11

Não é possível

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Povo imbecil e desobediente
Olhos não lhes são úteis
Nem tão pouco ouvidos

Veem águas, mas gostam da sede


Ouvem esperança, mas preferem desistência
Seus corpos estão em todos os lugares
Pele e osso, não sei se servem mais como homens

Então mais mortos que vivos


A água nos seus corpos secou
E o sol chupou seus reservatórios

Eu já me cansei de gritar
Água eu tenho para dar!
Achei manancial, não há insaciação
A morte não precisa ser vossa companheira
A não ser que façam o que de melhor aprenderam
Ignorar.
(Laís Guerra)

61
Capítulo 8
A constituição do reino IV
Óh rica misericórdia

Certa vez, em um vôo aparentemente normal, notou-se em sua porta dianteira a


falta de uma das travas, então, de repente ela se abriu com violência e o piloto apareceu
com um pára quedas em suas costas gritando: Não entrem em pânico! Está tudo bem!
Eu só vou ali pedir ajuda, então pulou do avião.
A misericórdia de Deus será sempre maior que a tua ingratidão.
Padre Pio de Pietrelcina
Nos capítulos anteriores vimos que os humildes são os que reconhecem a miséria
de sua alma e sua dependência daquele que é o único salvador, portanto, naturalmente,
veem os que também estão na sua condição e movidos de grande compaixão, leva a ajuda
que ainda pouco receberam: o reino de Deus.

Também houveram, logo em seguida, lágrimas de arrependimento, uma dor que


transpassou a alma deles e aos poucos lavaram seus corações. Assim nos tornamos
mansos, um chamado para ser chave para a unidade, que se dependerem de nós haverá
paz com todos os homens. Então sentimos um anseio intenso de sermos mais santos, mais
justos e por isso faríamos qualquer loucura, até mesmo aceitaríamos com alegria prisões
e perseguições.

Parece que nos segredos do Espírito Santo se esconde uma ligação muito forte
entre as primeiras quatro bem aventuranças: os pobres de espírito, os que choram, os
mansos, os que anseiam justiça; com os quatro últimos: os que exercem misericórdia, os
puros de coração, os pacificadores e os que são perseguidos por justiça.

Quando a quinta bem-aventurança foi pronunciada: “Bem aventurados os


misericordiosos, pois alcançarão misericórdia”, viviam-se tempos onde à nação
dominante, Roma, exercia um império cruel com uma filosofia corrosiva. Nela se dizia:
Misericórdia é a doença de uma alma doente. Eles odiavam a misericórdia, se você fosse
cidadão romano e tivesse algum escravo que lhe desagradasse de alguma forma, você
tinha todos os direitos de matá-lo a qualquer momento da forma que quisesse, sem
perguntas. Da mesma forma os maridos tinham autoridade de executar suas esposas por
qualquer desculpa.

No primeiro século, sob a lei de Roma, todos os pais de família, governantes de


suas casas, tinham, ao nascer, seus filhos postos aos seus pés. Se eles gostassem da
criança, dedões para cima e a criança vivia, se porém, a aparência ou o choro ou qualquer

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coisa lhe desagradassem, dedões para baixo e a criança era abandonada ou afogada no
rio.

Cristo pregava uma mensagem radical para os seus dias e para nossos dias
também. Hoje vemos o amor se esfriando cada vez mais e coisas terríveis acontecendo
por aqueles que seriam os responsáveis de mostrar maior cuidado e amor. Há alguns
anos, nosso país parou para contemplar a brutalidade de Alexandre Nardoni e Anna
Carolina Jatobá. Desde o início das investigações, o casal foi o principal suspeito de ter
golpeado, asfixiado e, em seguida, atirado a menina pela janela do 6º andar do prédio
onde eles moravam, na Zona Norte de São Paulo. “Chama atenção pela violência sem
motivo”, diz o criminalista Antônio Mariz de Oliveira. “Hoje qualquer frustração é
respondida com brutalidade.” Para o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, o que mais
impressionou foi a idade de Isabella, apenas 5 anos.

Esse é um caso dentre muitos de extrema covardia e falta de amor e misericórdia


que vivemos no nosso tempo também.

Quero destacar aqui primeiro o verdadeiro significado de misericórdia. Jesus


conta-nos uma história para exemplificar:

“Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os
quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente
descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo
também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano,
que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E,
aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu
animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; E, partindo no outro dia, tirou dois
dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to
pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu
nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois,
Jesus: Vai, e faze da mesma maneira”. Lucas 10:30-37

Portanto, é misericórdia uma ação passiva? É suficiente o homem sentir


misericórdia e continuar seguindo seu caminho? É suficiente o homem conhecer a
misericórdia? Ela, então, é uma ação em relação aos outros que vai além do que é
socialmente esperado.

Agora entenda, a misericórdia é uma ação sobrenatural do Espírito Santo em nós,


não tem como alguém ser misericordioso segundo a vontade de Deus sem antes ter um
coração humilhado em sua presença, que reconhece suas fraquezas e que clama por
ajuda. Não tem como alguém exercer a verdadeira misericórdia sem antes chorar por
seus pecados e delitos que ofendem ao seu Pai ou sem antes ser manso e perdoar seus
ofensores ou até mesmo de ser alguém que tem por mais precioso ver o reino de Deus e a
sua justiça na terra do que qualquer ambição material.

Vi, alguns dias atrás, um vídeo de jovens que faziam um experimento social nas
ruas de sua cidade, com uma câmera escondida, um deles se vestia com elegância e outro
como um andarilho. Ambos, em lugares distintos, caiam no chão como fingindo ter

63
problemas nos joelhos. No caso daquele que usava elegantes roupas, as dez vezes que foi
ao chão, todas foi acudido por pessoas desconhecidas que passavam na rua. Contudo, no
caso daquele que se vestia mal das dez vezes que se jogou ao chão, somente duas ocasiões
alguém se moveu para ajudá-lo.

O que você faria? Foi a pergunta que apareceu na tela quando o vídeo estava no
fim. Eu não tenho dúvidas que eu me moveria para erguê-lo, a minha pergunta, no
entanto seria: isso é o bastante para dizer que eu fui misericordiosa?

Algumas vezes deixamos de exercer a misericórdia e essas situações nos


perseguem por toda nossa vida. Um dia, certo professor universitário, recebeu em seu
escritório um jovem que lhe fazia muitas perguntas sobre a sua última aula. O professor
estava um pouco impaciente e tinha muitas tarefas para cumprir naquelas horas, então
demonstrou pouco caso do rapaz e não lhe deu a devida atenção. O jovem saiu de sua sala
e voltou ao seu apartamento, e daquele décimo andar ele pulou para a sua morte. O
professor foi a última pessoa a conversar com aquele jovem. Ele disse: Ele não veio ao
meu escritório para me perguntar sobre sociologia, ele veio gritar a sua alma por ajuda.
Ele me viu falando sobre amor com tanta paixão, que eu assumo ter ele pensado que eu
vivia esse amor. Aconteceu que eu não ouvi seus sentimentos e acabei sendo desaprovado
pelo meu próprio sermão.

Paulo, em sua carta aos Romanos no capítulo 1, dá uma lista de trinta e dois
pecados que são as maiores atrocidades que homens cometem contra seu Deus, e no topo
dessa lista se destaca um que nos vem a calhar nesse momento: “Néscios, infiéis nos
contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais, conhecendo o
juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem,
mas também consentem aos que as fazem”. Romanos 1:31-32

O que é então ter misericórdia? Outra vez, é uma característica do próprio Deus:

“Deus é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou”. Efésios 2:4

Sendo ela uma atributo próprio de Deus, aqueles que também exercem essa
misericórdia precisam ter primeiramente a habitação desse Deus em si, que hoje é o
Espírito Santo em nós. A misericórdia é: Conforme o expressa a própria palavra na sua
decomposição literal “Miseris + cor + dare” ou seja: Ter lugar no coração para todos os
que são vitimas de qualquer forma de miséria. Ou “dar o coração aos miseráveis vítimas
de qualquer miséria”, sem discriminação alguma nem exclusão de qualquer natureza.
Sentir dores pela dor do outro como se ela fosse a sua, sentir fome com o faminto, sede
com o sedento, tristeza com os entristecidos, lágrimas com os que choram.

Muitos dizem que aquele que mostra misericórdia para o próximo, quando ele
mesmo precisar os outros terão misericórdia dele. Contudo, o homem que mais derramou
misericórdia foi também condenado sem misericórdia. A sua recompensa não esta na
terra, a promessa de receber misericórdia vem de Deus e é Ele quem te dará misericórdia
no dia do juízo, como diz as escrituras: “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele
que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo”. Tiago 2:13

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É um versículo que complementa nosso pensamento, no juízo de Deus haverá
misericórdia para os que exerceram misericórdia com seus semelhantes e não haverá
misericórdia para aqueles que não exerceram misericórdia. Como Cristo descreveu:

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então
se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará
uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita,
mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos
de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e
hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste
me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te
demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te
hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque
tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro,
não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.
Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com
sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes
responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes,
não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.”
Mateus 25:31-46

Misericórdia se resume nisso: servir. Porque o filho do homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a vida por muitos (Mateus 20:28). Não devíamos nós ter a
mesma postura? Aquele que se abaixa para lavar os pés de seus irmãos, sobe as escadas
dos céus. O serviço cristão é exaltado nas escrituras: “Então Jesus, chamando-os para junto
de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes
exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre
vós fazer-se grande seja vosso serviçal”. Mateus 20:25-26

Alguns diriam, como que, cheios de razão, para tentar desculpar-se: Eu dou um
dinheiro para a contribuição na África, para alimentar alguns. No entanto ignora o
mendigo faminto que todos os dias vê. Diz o insensato em seu coração: eu faço o bastante,
dou às juntas missionárias um tanto, contudo despreza a viúva pobre junto ao sinaleiro.
Não quero dar ideia de que seja errado dar à agências missionárias ou pessoas distantes,
mas trazer a consciência de que a bíblia retrata o próximo como verdadeiramente sendo
aqueles que cruzam os nossos caminhos, então façais estas sem negligenciar aquelas.

Acorde dorminhoco! Se não fizeres o bem para aqueles que você vê, pouco importa
se fazes algo para os distantes. O misericordioso exerce misericórdia a todos e seu amor
é para os merecedores e para também os imerecedores.

“Porque (Deus) faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre
justos e injustos”. Mateus 5:45

65
É então, essa característica tão maravilhosa, que Jesus, diz em seguida: “Sede vós
pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5:48). Entende-se,
portanto, que a perfeição esta atrelada ao coração misericordioso.

Sou rica e abastada,


Fui com meu pai abastecer alguns corações

66
Chegamos a um triste povoado
Que logo se encheu de alegria

Viemos como surpresa


Queríamos agradá-los
Não achamos muito difícil
Qualquer coisa é muito para os que tinham nada como tudo

Seus sorrisos foram nossa recompensa


Depois fiquei a pensar
Para mim não era significativo ganhar
Mas para os que não conhecem a abundancia
Ganhar satisfaz multidões de necessidades
(Laís Guerra)

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Capítulo 9
Constituição do reino V
Alvo mais que a neve
“A maioria dos homens ora mais por bolsos cheios do que por corações puros.”
Thomas Watson

Olavo foi transferido de projeto. Logo no primeiro dia, para fazer média com o novo chefe,
saiu-se com esta:
- Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito do Silva. Disseram que ele…
Nem chegou a terminar a frase, e o chefe, o interrompeu:
- Espere um pouco, Olavo. O que vai me contar já passou pelo crivo das Três Peneiras?
- Peneiras? Que peneiras?
- A primeira, Olavo, é a da VERDADE. Você tem certeza de que esse fato é absolutamente
verdadeiro?
- Não, não tenho, não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram, mas eu acho
que… E novamente Olavo é interrompido pelo chefe:
- Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira que
é a da BONDADE. O que você vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a
seu respeito?
- Claro que não! Deus me livre, Chefe! – disse Olavo, assustado.
- Então, continua o chefe – sua história vazou a segunda peneira. Vamos ver a terceira
peneira, que é a da NECESSIDADE. Você acha mesmo necessário me contar esse fato ou
mesmo passá-lo adiante?
- Não chefe. Pensando desta forma, vi que não sobrou nada do que eu iria contar; – fala
Olavo, surpreendido.
- Pois é Olavo! Já pensou como as pessoas seriam mais felizes se todos usassem essas
peneiras- disse o chefe sorrindo e continuou:
- Da próxima vez antes de obedecer ao impulso de passar uma história adiante, submeta-o
ao crivo das TRÊS PENEIRAS:
VERDADE – BONDADE – NECESSIDADE

Jesus demonstra em seu discurso, um interesse peculiar no que está no coração.


E essa é nossa primeira lição da oitava bem aventurança: “Muito felizes são aqueles que
têm um coração puro, pois eles, e apenas eles, são os que verão a face de Deus” (tradução livre
de Mateus 5:8). Perceba que o foco não é aquilo que você aparenta ser, mas aquilo que
você realmente é. Pois Cristo não veio para mudar maus hábitos, mas para limpar o
coração do homem que de tanto pecar se parece com o pecado.

Então Cristo quer limpar meu órgão propulsor de sangue que é o coração? Sim e
não. Não, no sentido que não falamos de algo físico, palpável. Sim, pois é igualmente

68
responsável por sua vida. Você perde seu coração você perde a vida. Você perde seu
coração espiritual, então também morrerá espiritualmente.

Quando Sir Walter Raleigh foi levado ao cepo de execução, seu executor
perguntou se sua cabeça estava na posição correta. Raleigh respondeu: Pouco importa,
meu amigo, como está a cabeça, contanto que o coração esteja bem.

De maneira semelhante, quando vou ao médico para fazer uma ci-rurgia na


perna, a primeira coisa que o médico faz é examinar meu co-ração. Afinal, se o coração
não estiver bem, não há necessidade de consertar a perna. Sem um coração sadio, a
melhor perna do mundo de nada me serve. No campo físico, o coração é o centro da vida.
E o pulsar daquele músculo espalha vida ao restante do corpo. O mesmo acontece no
campo espiritual. Daí a ênfase bíblica sobre a importância de um coração reto para com
Deus.

O coração do homem é de vital significância. Compreendamos, pois seu


significado espiritual. O coração é o centro de nossas emoções: “Não se turbe o vosso
coração” – Jo 14:1a ; “Porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza” - João
16:6 ; “outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la
tirará” - João 16:22.

O coração, segundo as escrituras, também diz respeito ao


intelectual/pensamentos: “Por que arrazoais sobre estas coisas em vossos corações?” -
Marcos 2:8 ; “Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá” -
Mateus 24:48.

E outra vez, o coração é o centro de nossa vontade: “E Daniel propôs no seu coração
não se contaminar com a porção das iguarias do rei” - Daniel 1:8

Se os frutos de uma árvore são ruins, não gastaremos nossas


energias/forças/dinheiro em tentar “consertar” o fruto, mas iremos à raiz dessa árvore e
assim, podemos gastar o que for, pois certamente obteremos sucesso. Da mesma forma,
não é útil ao pregador falar de encontro com as atitudes do homem (frutos), mas sim ir
direto ao ponto, falar ao coração, que é o centro de nossas emoções, pensamentos e
vontades.

Devemos ir ao coração do problema que é um problema no coração. Por isso o


estado do coração é tão crucial, qual é pois, o estado do seu coração? Suas emoções estão
embasadas em que, ou em quem? Seus pensamentos são consumidos pelo que, ou por
quem? Suas vontades estão ao redor de que, ou de quem? As reflexões sobre essas
perguntas te levará a responder a primeira: como está seu coração?

Se você irá revidar uma discussão ou evitá-la, depende do estado do seu coração.
Assim, se você irá aceitar a fofoca e passá-la adiante, ou rejeitá-la, também. Você
permanecer frio diante dos oprimidos ou abraçá-los calorosamente depende de seu
coração. E amar ou ignorar, consequentemente, também.

69
O mundo pergunta: O que você está fazendo? Deus pergunta: Porque você está
fazendo isso? Qual é a sua motivação? Intenções? O que move seu coração? O verdadeiro
você.

A palavra puro em grego: “katharos”, significa sem mistura , o que é separado,


daí "limpo" (puro), por que sem mistura? Pelo fato de ser sem elementos indesejáveis;
espiritualmente limpo porque fora purificado por Deus, ou seja, livre da contaminação
da (sujidade) influências do pecado. Cristo poderia ter dito: Bem aventurados os limpos
de linguajar ou de ação pura, mas Ele disse: bem aventurados os limpos de coração.

Em sua origem limpo queria dizer simplesmente o que podia ser usado, referindo-
se a roupa suja que após ser lavada tornava-se limpa. Usa-se frequentemente ao trigo
que era depurado após ter tirado a palha e estar limpo. No sentido figurado também é
usado para referir-se a um exército que limpou de suas fileiras soldados descontentes,
fracos e covardes, formando um pelotão de elite e lutadores de primeira categoria.
Aparece correntemente na companhia de outro adjetivo grego: “akêratos”, que se refere
ao leite e ao vinho não adulterados, e para o metal que possui autenticidade que não
possui a mais ligeira alteração.

“E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é
puro”. 1 João 3:3

A purificação é um processo muitas vezes demorado e constante. Como o ouro que


precisa passar pelo fogo, para que o melhor seja retido (1 Pe 1:7). Assim somos nós. O
espírito de Deus habita em nós e Ele é aquele que deve ser preservado em nós, por isso o
fogo precisa vir. Não existe nada limpo sem antes ter sido lavado, não existe nada puro
sem antes ter sido purificado.

Se suas ações parecem ser limpas, mas seu motivo é impuro, suas ações seriam
anuladas por completo. Se sua linguagem fosse virtuosa, mas se seu coração se alegrasse
em imaginações malvadas, você está diante de Deus não segundo suas palavras, mas de
conformidade aos seus desejos. De acordo com a tendência da corrente de suas afeições,
de seus gostos reais e íntimos e de suas aversões, você será julgado por Ele.

Deus não te julgará pelo que você fez, mas pelo que te moveu a fazer.

Parece-nos como em 1 Jo 3:3, que purificar-se, que passar por esse processo é
principalmente uma decisão. É então dependente unicamente da vontade daquele que se
purifica.

Portanto, o purificar cristão está em mudar suas motivações, seu jeito de pensar.
Não em simplesmente tomar para si uma postura ou conduta de vida. Nós não estamos
falando em melhorar o padrão de vida elevando a barra do que é ético ou politicamente
correto. Falamos, contudo, de uma mudança interior, que naturalmente se refletirá no
exterior. Mas ela é primeiro no coração, primeiro nos pensamentos e nas emoções.

Nessa escada ao encontro da verdadeira alegria, o de ser bem aventurado,


subimos o primeiro degrau que é ser pobre de espírito, depois choramos no segundo
degrau, então recebemos a mansidão e logo ansiamos a justiça mais do que as nossas

70
necessidades físicas, no quinto degrau descobrimos o que é ser misericordioso com nosso
semelhante e agora encaramos a pureza no interior. A separação com o que é profano e
a escolha de viver puro.

Para os puros todas as coisas começam a ter muito valor. Como, por exemplo, a
letra de uma canção. Não é mais levado pelo ritmo unicamente, mas declara as verdades
da letra para Cristo, porque entendem a relevância dela. Outro caso seria do puro de
coração, em uma conversa, avaliar com cuidado as suas intenções e o nível do seu amor
para com o próximo. Em temor, entende que é necessário amar como Ele amou e a si
mesmo se entregou por nós. Você já avaliou o seu nível de amor para com o próximo? Em
uma simples conversa é fácil identificar o tanto de impureza em nossos corações, pois um
coração puro é um cano limpo para o fluir das águas de amor do Espírito Santo que em
nós reside. No entanto, um coração impuro tem dificuldades de dar toda atenção, de ouvir
com paciência e de olhar com amor de Cristo.

Rara vez se dá ao caso, até em nossas ações menores, de que não há a menor mescla de
motivos. Se não entregamos totalmente a boa causa, pode ser que nosso coração se
sucumba a algum resquício de satisfação própria, e aprovação de alguma complacência,
gratidão ou louvor de algum crédito que alcancemos em benefício próprio. Há um perigo
que todos estão sujeitos, o de achar que o sacrifício que fazemos deve ser recompensado,
ou melhor, reconhecido por homens e até aplaudido. Afinal de contas o que fazemos
ninguém faz. Conquanto, não nos deixemos levar por esses sentimentos porque são
carnais e dignos de reprovação da parte do Senhor. Como esta escrito: “E, quando orares,
não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas
das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu
galardão”. Mateus 6:5. E outra vez: “Como o crisol é para a prata, e o forno para o ouro, assim
o homem é provado pelos elogios que recebe”. Provérbios 27:21

Até um pregador sincero não está isento deste perigo de pensar em sua própria
satisfação em ter pregado um bom sermão. John Bunyan contestou tristemente a uma
pessoa que havia dito que seu sermão era muito bom: Sim eu sei - respondeu. O diabo já
me disse quando eu desci do púlpito.

O presente daquele que se entrega ao Deus que purifica e se permite morrer para
si mesmo e seus próprios desejos não é: e receberão milhões de dólares! Ou terão a melhor
condição de vida e tudo que a sua alma desejar! Ou receberão prêmios! Terão uma
brilhante coroa ou até serão como as melhores criaturas de Deus! Em verdade, a
premiação espiritual dos puros é muito mais excelente que todas essas, é muito mais
magnífica do que um homem poderia, com sua imaginação, desejar. É, em sua essência,
tudo: ver a própria face de Deus!

Ver a face de Deus é, em primeiro lugar, ser admitido em sua presença gloriosa.
É usufruir desse lugar em Deus onde é possível vê-lo face a face. Como está em outro
lugar tal promessa: “E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome” (Apocalipse
22:4). Porém, podemos tratar dessa palavra como futura e também como presente. Ver o
Senhor é um presente aos puros de coração nesse tempo de hoje.

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Hoje o vemos parcialmente como diz Paulo: “Porque agora vemos por espelho em
enigma” (1Co 13:12a); Hoje podemos entrar na presença do Senhor e vê-lo, no sentido de
conhecê-lo, por aquilo que é-nos revelado pelas escrituras e principalmente pela pessoa
de Jesus Cristo.

Como esta escrito: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado
o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a
ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si
mesmo, como também ele é puro”. 1 João 3:2-3

A pessoa que se purifica fica mais apurada/apta para ver o Senhor, pois Ele tem
a sua visão aberta para contemplar sua beleza.

Contudo ainda em minha carne verei a Deus. “Vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus
olhos, e não outros o contemplarão” Jó 19:26-27

Assim como uma pessoa observa o céu numa noite clara, não vê nada mais que
uma imensidão de pontinhos de luz, vê só o que seus olhos permitem ver. Porém o mesmo
céu observado por um astrônomo poderá chamar as estrelas e planetas por seus nomes,
e mover-se entre eles como entre amigos, e um navegador poderá conduzir sua
embarcação a um porto seguro seguindo os caminhos traçados observando o céu.

“Os céus contemplam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas


mãos”. Salmo 19: 1

Uma pessoa normal ao passear pelos caminhos no campo não verá nada mais que
alguns arbustos e espinhos. Um botânico experimentado se fixará em cada uma destas
plantas, chamando por seu nome e conhecendo seu uso; pode ser até que descubra algo
de valor extraordinário, porque seus olhos foram direcionados para aquilo.

Se colocarmos duas pessoas numa residência repleta de quadros antigos, a que


não tem conhecimento nem habilidade não verá diferença entre uma peça e outra de
menor ou maior valor, entretanto um perito crítico de arte descobrirá um valor
incalculável em uma pintura que outros passariam sem ao menos se fixar sobre a obra.

Disse Jesus que somente os puros de coração verão a Deus, e Ele se revela a nós
de várias formas e fala conosco de muitas maneiras. Contudo os puros de coração são os
únicos capazes de vê-lo e ouvi-lo em todas as circunstâncias.

A promessa de vê-lo também se refere ao futuro, quando o veremos como Ele é


(1Co 13:12a). Como também diz as escrituras: “E ali nunca mais haverá maldição contra
alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão. E verão o seu
rosto, e nas suas testas estará o seu nome. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de
lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre”.
Apocalipse 22:3-5

Portanto, veremos o seu rosto e nossos olhos verão os dEle. O que pode ser maior
do que esse privilégio? O que deve consumir nossa alma por todo o tempo de nossa
peregrinação aqui na terra? Assim descreve Hernanes Dias Lopes em um artigo:

72
“A visão de Deus na vida porvir é o céu dos céus. Embora, nos deleitaremos na
incontável assembleia dos santos, embora unir-nos aos coros angelicais será uma grande
glória, a maior de todas as glórias, a maior de todas as recompensas será a visão que
teremos de Deus. Essa é a promessa mais consoladora.”

O que é óbvio nos filhos do Rei:


Os filhos são primeiro felizes não por serem possuidores, mas por serem possuídos pelo
Espírito que é Santo.

Os filhos tem seus olhos no céu, de onde foram planejados e de onde irão eternamente
viver.

Os filhos vigiam suas mentes e sondam seus corações a fim de não caírem no engano de
mal-julgar seus irmãos.

Os filhos não menosprezam a ninguém, pois se sentem os menores.

Os filhos não toleram nem a menor manifestação dos sentimentos de orgulho ou inveja.

Os filhos são sensíveis ao que seu Pai lhe fala durante cada dia.

Os filhos sonham com o reino e suas vidas estão escondidas nEle.

Os filhos querem com violência as premiações celestiais.

73
Fui no chiqueiro e quase passei mal
Mas para minha surpresa
Os porcos viviam muito bem
Cheiravam um ao outro
E competiam pelo melhor fedor

O retardamento foi minha conclusão


Como pode achar-se de bom cheiro?
Então ouvi:
Só existe o bom perfume para aqueles que um dia conheceram

Ah, finalmente me fiz entender


Os porcos, coitados
São vítimas de si próprios
Pois seus fucinhos não tinham conhecido
O que é excelente
Então o miserável era o seu melhor
(Laís Guerra)

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Capítulo 10
A constituição do reino VI
Paz e perseguição?
"E não há espaço para ele na estalagem. Ele ficou um pouco mais velho e não havia espaço
na sua família. Sua família não creu nEle. Ele foi ao templo. Não havia nenhuma sala
no templo. O templo ficou contra ele. E quando Ele morreu não havia espaço para
enterrá-lo. Ele morreu fora da cidade. Pois bem por que, em Nome de Deus, você espera
de ser aceito em toda parte? Como é que o mundo não pôde suportar o Homem mais santo
que já viveu e pode suportar a você e em mim? Será que estamos comprometidos? Será
que estamos comprometidos? Será que não temos estatura espiritual? Será que nossa
retidão não reflete sobre a corrupção deles?”

Leonard Havenhill

Um coração feliz e uma sensação de paz são os anseios mais desesperados do


homem interior. Hoje, pela conquista da felicidade homens vendem sua vida, todo seu
tempo, boas noites de sono, sua saúde e muitas vezes sua própria família e acabam
frustrados, com uma velhice de dores e um coração magoado culpando os outros pelos
seus erros.

Pela paz também homens promovem injustiça, revolta, guerra, dores. Pela paz,
homens constroem muros, edificam torres, capacitam bons soldados, gastam milhões em
munição e se desesperam quando, na realidade, não há paz nem mesmo em suas próprias
famílias, onde o terreno parece minado, todos com ferros farpados ao seu redor, evitando
conversar, rejeitando reconciliação.

Tudo isso porque ainda não se deram conta de que a felicidade não está no
exterior, nos outros, ou nas circunstâncias. Mas a verdadeira felicidade se encontra no
interior de um homem contrito e humilde, que chora e se arrepende, que perdoa e não
guarda mágoas, que busca ser justo como é seu Senhor, que sente misericórdia pelos
semelhantes, que se purifica da contaminação desse mundo, que faz paz em intercessão
entre Deus e os homens, que sofre por amor a verdade se necessário. Esse é o caminho
da verdadeira felicidade, e digo que alguns ou mesmo pouquíssimos encontraram esse
lugar.

E para os que buscam a paz e segurança, esse lugar não existe além dEle, do Deus
da paz. O príncipe da Paz é quem pode nos dar paz, e ela, novamente, não esta atrelada
a um lugar confortável ou a companhia de bons amigos. Contudo, em verdade, está muito

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mais perto, no coração. Para termos paz devemos nos render, devemos parar de lutar,
devemos abaixar a guarda da argumentação da carne e nos entregar ao Rei Jesus.

Tudo o que Deus criou cumpre o seu propósito: Deus criou o sol para brilhar, as
árvores para encherem a terra de fartura, as sementes para nascerem, florescerem e
frutificarem. Deus criou o homem para a vida e ele prefere a morte; para a paz e ele
prefere a guerra.

O que é então paz? “Eiréné” é a palavra grega para paz e significa literalmente:
de “Eiró”, para se juntar, unir em um todo - corretamente, a totalidade, ou seja, quando
todas as peças essenciais estão unidas; paz (dom de Deus da totalidade).

Paz vai muito além de uma simples sensação de estar tudo bem. Estar em paz é
estar completo, sem falta de nada, pois nesse lugar Cristo é tudo e Ele é simplesmente
suficiente. Quando estamos unidos nele temos paz conosco e com Deus.

Nesse capítulo atentaremos às palavras: “Bem-aventurados os pacificadores,


porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).

A primeira questão é termos a certeza que temos paz com Deus. Ao anunciar o
nascimento de Cristo, o anjo disse: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens
aos quais Ele concede o seu favor” (Lucas 2:14). E foi exatamente o que Cristo fez na cruz
por todos nós, antes inimigos de Deus, como diz as escrituras: “A vós também, que noutro
tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo
vos reconciliou” (Colossenses 1:21). A reconciliação com Deus é sua resposta de paz
conosco.

“Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida”. Romanos 5:1

Por isso, Jesus é chamado o “Príncipe da Paz”. Jesus é o mensageiro da paz,


aquele que traz a paz a este mundo tumultuado e rebelde a Deus. Jesus é quem traz a
paz aos corações aflitos e em crise. Ele espanta o ódio, acaba com a discórdia e muda
ofensa, rancor e agressões por compreensão, amor e perdão.

Reconciliação é o ministério pelo qual fomos também chamados:

“E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e
nos deu o ministério da reconciliação. Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação”. 2º
Coríntios 5:18-19

Somos chamados para reconciliar vidas, primeiro com Deus e segundo umas com
as outras. E essa é a nossa promessa: “felizes somos se trazemos paz a terra, como cristo
fez, reconciliando consigo mesmo o mundo, pois dessa forma somos reconhecidos seus filhos”
(Mateus 5:9 – tradução livre).

Francisco de Assis, que viveu no século treze, escreveu a seguinte oração :


"Senhor! Faze de mim um instrumento da tua paz. Onde houver ódio, que eu leve amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união.

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Onde houver dúvidas, que eu leve a fé". O pacificador é um instrumento da paz de Cristo
no mundo. Ele deseja e luta, mas com mansidão, para que o amor supere o ódio, o perdão
supere a ofensa e a união supere a discórdia.

Ser um pacificador implica em seguir o exemplo do próprio Deus. Os filhos de


Deus são chamados a exercerem o ministério da pacificação. O pacificador é aquele que
aplica os seus esforços no sentido de restabelecer os vínculos quebrados. Ele é um
apaziguador, um negociador.

O pacificador é aquele que se coloca no centro do conflito e mostra às partes os


seus erros e as leva a reconciliação. Necessário se faz entender que a busca pela paz não
implica necessariamente em ausência de conflito, mas no estabelecimento da verdade e
da justiça e isto deve começar dentro de cada um.

A paz se instaura quando cada pessoa muda antigos hábitos, luta contra o ódio
que quer se enraizar, deixa de viver na mentira, passa a viver na verdade, assume o
compromisso de viver uma vida séria e comprometida com princípios justos, honestos e
verdadeiros.

Deus nunca nos chamou para a divisão ou contendas. Ele nos chamou à paz (1 Co
7:15). Temos paz com Deus, temos a paz de Deus e somos portadores da paz. Devemos
levar a paz: “paz seja nesta casa”. Quando Tiago e João pediram para Jesus mandar fogo
do céu sobre os samaritanos, Jesus lhes repreendeu: “Vós não sabeis de que espírito sois.
Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (Lc
9:55). Isaías diz que quando andamos com Deus, nossos filhos tornam-se reparadores de
brechas (Is 58:12). A Bíblia diz: “Quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas
novas da paz”.

A recompensa do pacificador é ser chamado filho de Deus, em grego, Jesus usa


“huios” para filhos e não “tekna”, que significa crianças. “Tekna” nos fala de uma afeição
terna. “Huios” nos fala de dignidade, honra e consideração.

Amamos nossos filhos mais do que nossa casa, nosso carro, nossos bens. Nossos
filhos são nossa maior herança. O pacificador é filho do Deus vivo. Esse título é mais
honroso do quer ser o mais exaltado príncipe da terra.

A Bíblia diz que somos a menina dos olhos de Deus. A pupila é a parte mais
sensível do corpo. É a parte mais frágil e delicada. Você a protege. Deus age da mesma
forma com os seus filhos. Se você tocar em um de seus filhos, você está colocando o dedo
no olho de Deus.

A conseguinte bem aventurança diz respeito àqueles que sofrem perseguição por
motivo do evangelho. O mundo ama o pecado e aborrece a justiça, e foi essa a causa de
sua hostilidade para com Jesus. Todos quantos recusam Seu infinito amor, acharão o
cristianismo um elemento perturbador. A luz de Cristo espanca as trevas que lhes
cobrem os pecados, evidenciando a necessidade de reforma. Ao passo que os que se
submetem à influência do Espírito Santo começam lutar consigo mesmos, os que se
apegam ao pecado combatem contra a verdade e seus representantes.

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É muitíssimo importante realçar que esse sofrimento causado pela perseguição é
o último degrau da felicidade. Sim, alegres, alegres e mui alegres são os que sofrem por
causa da justiça, por sua ânsia em ser como Cristo foi. Assim como ele foi perseguido
importa que nós também sejamos.

"Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se
a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra,
também guardarão a vossa." João 15:20

No primeiro século depois de Cristo veio uma perseguição tal sobre a igreja que
devorou sinceros cristãos por todo o império romano, liderado por Nero. Apesar de
tamanha penúria, foi nessa época que vemos a verdadeira alegria estampada na face
daqueles que, por todos, são chamados infortunados.

Nessa perseguição sofreu o bem-aventurado Inácio, muito considerado por todos


os cristãos. Ele havia sido designado ao bispado de Antioquia, em sucessão a Pedro.
Contam alguns que, ao ser enviado da Síria a Roma, porque professava a Cristo, foi
entregue às feras para ser devorado. Também dizem que quando passou pela Ásia (atual
Turquia), debaixo do mais apurado cuidado de seus guardiões, fortaleceu e confirmou as
igrejas em todas as cidades por onde passava, tanto com suas exortações como pela
pregação da Palavra. Assim, ao chegar a Esmirna, escreveu aos cristãos de Roma a fim
de exortá-los a não empregarem meio algum para libertá-lo de seu martírio; que não o
privassem daquilo que mais anelava. “Agora começo a ser um discípulo, de nada me
importa as coisas visíveis ou invisíveis, para poder ganhar somente a Cristo. Que venham
sobre mim o fogo e a cruz, manadas de bestas selvagens, rompimento de ossos e
dilaceramento do corpo, e toda a malícia do diabo. Que assim seja, se eu tão-somente
puder ganhar a Cristo Jesus!” E quando recebeu a sentença de ser lançado às feras, tal
era o seu desejo de padecer que, cada vez que ouvia rugir os leões, dizia: “Sou o trigo de
Cristo; vou ser moído com os dentes de feras para que possa ser achado pão puro”.

"E também todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus padecerão
perseguição." 2 Timóteo 3:12.

Policarpo foi o discípulo pessoal do apostolo João, era homem muito consagrado e
foi o principal pastor da Igreja de Esmirna. Nasceu em 69 d.C. e morreu em 159 d.C. Diz
a história que ele ao entrar na arena para ser morto ouviu uma voz do céu que dizia: "Sê
forte Policarpo! Se homem". Ele foi condenado à fogueira e quando o fogo acendeu não
teve poder de queimá-lo, por fim o mataram a golpes de espada. Depois de preso por
pregar o evangelho, foi inquirido a amaldiçoar à Cristo no que ele respondeu: "Por 86
anos tenho sido servo de Cristo, e ele nunca me fez mal algum. Como posso blasfemar de
meu Rei, que me salvou?".

De origem camponesa e humilde, Huss nasceu na Boêmia em 1373 e só aos 13


anos entrou para a escola elementar. Cinco anos mais tarde entrou para a universidade
de Praga e em 1398 alcançou o grau de Bacharel em Divindade, sendo consagrado pastor
da igreja de Belém, em Praga. A partir desse púlpito católico, Huss começou a pregar a
genuína palavra de Deus, o que lhe gerou muitas perseguições. Foi convocado pelo papa

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a comparecer em Roma. Recusou-se e foi excomungado. A semelhança de Wycliffe, Huss
atacou várias doutrinas erradas da igreja romana como; a venda de indulgências, a
veneração de imagens, o vício do papa, dos cardeais, e do clero. Suas idéias provocaram
a ira do papa que o convocou a comparecer ao Concílio de Constância com um salvo-
conduto do imperador. O salvo-conduto, porém, não foi cumprido e suas idéias foram
condenadas. Foi-lhe dada à oportunidade de se retratar, não negando, porém a sua fé, foi
queimado na fogueira com uma coroa de papel decorada com diabinhos com a seguinte
frase: "Coroa de Hereges".

Finalmente aplicaram o fogo à lenha, e então o nosso mártir cantou um hino com
voz tão forte e alegre que foi ouvido através do crepitar da lenha e do estrondo da
multidão. Finalmente a sua voz foi calada pela força das chamas, que logo puseram fim
à sua existência na terra.

Tais homens nos dão grande exemplo daquilo que Cristo nos ensina nessa bem-
aventurança:

"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o


reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o
vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós."
Mateus 5:10-12

Essa é a benção peculiar dos eleitos de Deus, e ocupa um lugar muito alto na lista
de honra. A única homenagem que a impiedade pode render à justiça é perseguir ela.
Aqueles que na primeira bem –aventurança eram pobres em espírito, são desprezados
aqui, ou mesmo que golpeados pela pobreza; e nisso eles alcançam um novo privilégio
real que pela segunda vez garante aos homens “o reino dos céus”. Sim, eles possuem o
reino agora: é seu em possessão presente. Não devido a alguma falta pessoal, mas
simplesmente devido a seu caráter piedoso, os “Danieis” do Senhor são odiados, mas eles
são abençoados por aquilo que parecia uma maldição. Ismael zomba de Isaque, no
entanto, Isaque tem a herança, e Ismael é lançado fora. É um dom de Deus que permite
alguém sofrer por Seu nome. Que sejamos assim, ajudados a nos regozijarmos na cruz
quando sendo honrados ao ser ultrajados por causa de Seu nome.

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Quando mais brava eu fico
Mais baixo eu falo
Quanto mais alto eu vou
Mais prostrado estou

Fico rica quando habito com os pobres


Eu me farto na mesa onde não tem
Sou mais que feliz quando choro

Brilho quando escuro está


Danço quando música não há
A tempestade não pode fazer
Meu pequeno navio afundar

(Laís Guerra)

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Capítulo 11
O que é preciso é urgente
O ser capaz mora perto da
necessidade
“Certo dia, mestre e discípulo avistaram em um campo uma perseguição da
raposa pelo coelho. O discípulo arriscou um comentário: creio que a raposa brevemente
alcançará sua presa. Discordo, disse o mestre. Provável é que o coelho não será
capturado. E como o mestre falou assim ocorreu. Espantado o discípulo perguntou ao
mestre: Como, mestre, o senhor sabia que o coelho viveria? Porque, respondeu: A raposa
corria para uma refeição, mas o coelho por sua vida”.

Estamos ao fim de um estudo um tanto profundo sobre o perigo de sermos bons


atores. Homens e mulheres capazes de maquiar a verdade e tomar posicionamentos para
impressionar, coagir, comover, deslumbrar, emocionar, sensibilizar. Todos nós temos
uma capacidade incrível de sermos assim, portanto devemos constantemente nos
lembrar das palavras de Cristo.

Quero buscar ser um pouco mais prática nesse capítulo, pode ser que minhas
palavras foram mui esclarecedoras para meu caro leitor, mas se elas não foram
suficientes para quebrantar seu duro coração, se o Espírito Santo não colheu nenhuma
lagrima de arrependimento dos seus olhos, se não houve uma semente de mudança
plantada, clamo para que o Espírito Santo não desista de você e que possa haver outras
oportunidades.

Por outro lado, se esse estudo sobre a hipocrisia revelou em você atos,
pensamentos, sentimentos que não refletem a imagem de Deus e você cresce no desejo
de ser completamente feliz e andar de conformidade com a verdade, clamo também.
Contudo meu desejo é que você não se canse de correr a boa corrida da fé. Como Paulo
diz: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva
o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis". 1 Coríntios 9:24

Há um esforço, há um preço a pagar, há um sacrifício. Não devemos ignorar nossa


dependência dele e tudo que podemos fazer é nos render aos seus pés, nos humilhando a
nós mesmos para então recebermos graça.

Quero convidar a você, querido leitor, a se deleitar nas promessas de Cristo


quanto ao caráter das bem aventuranças. Proponho que você as escreva, cada uma, em
uma folha de papel e cole pela sua casa, naquele espaço que você pode tocar sem ser
repreendido. E no momento que as ver poderá então pedir ao Pai que te conceda mais

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dessas características. Por exemplo, suponhamos que você escolheu a primeira
aventurança para colocar no banheiro: Bem aventurados os pobres de espírito, pois deles
é o reino dos céus. Todas as vezes que você for ao banheiro e vê-la poderá pedir ao Pai:
Senhor peço-te que me concedas mais pobreza de espírito.

Outro ótimo lugar para se ter estampado uma bem aventurança é na cabeceira
da cama, todas as manhãs e noites poderás clamar: Deus, dá-me mais mansidão.

Não de ouvidos à preguiça espiritual e decida mudar, como aquela mulher, à casa
de Simão, que ofereceu a Cristo tudo que tinha: um coração quebrantado e contrito, seu
futuro, sua vida. Existe uma linha da mediocridade que todos nós precisamos quebrar,
então seremos felizes.

Tudo que realmente precisamos é precisar mais de Deus. Infelizmente aquilo que
meu amado esposo disse há alguns dias atrás é verdade: nós construímos uma sociedade
que não precisa de Deus, temos todas as soluções ao alcance de nossas mãos. Devemos
ousar a remar contra a maré e depender mais de Deus em tudo. Mas como? Perguntando
a Ele como que ele gostaria que nós agíssemos na ocasião em que estamos. Assim
poderemos ser direcionados pelo Espírito Santo e sermos úteis.

Não é insignificante o fato de ser a última palavra do velho testamento: maldição


(Ml 4:6). Em contradição a primeira palavra desse grande e inesquecível sermão: bem-
aventurado, feliz, abençoado (Mt 5:3). Sim, porque onde a lei nos deixa, sem esperança,
contemplando nossos pecados e afogados pelo desespero é exatamente onde a graça nos
resgata.

Meu desejo, por fim, é fomentá-lo a mergulhar nesse rio, disponível àquele que se
rende e reconhece que nada pode, que em si mesmo não reside a capacidade de fazer
conforme toda a vontade de Deus. Somos dependentes do Espírito Santo que é nosso
auxiliador, que se disponibiliza a fazer o que nós não podemos e nos transforma, como
diz sua palavra:

“Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos
transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”. 2
Coríntios 3:18

Devemos nos aplicar aos ensinamentos de nosso Senhor e com diligência segui-
lo, porque assim colheremos na plantação dos céus.

“Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de
carneiros”. 1 Samuel 15:22

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