Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Então, temos a Dracma Perdida. Em tal caso, na maioria das vezes, tem-se a
alma humana que se perde em estado de alienação de si mesma,
inconscientemente; posto que a dracma, pela sua própria natureza, tenha se
“perdido dentro da casa”; e isto por não se conhecer, por não saber de si
mesma... É o caso dos que têm grande valor pessoal, mas que desconhecem o
significado de sua própria existência; os quais acabam ficando jogados dentro
do ambiente familiar da fé, mas sem que se saiba de seu estado de perdição
pessoal; e, semelhantemente à inconsciência da “dracma”, tal pessoa não se
sabe perdida, posto que não reflita sobre seu próprio estado em razão da
inconsciência espiritual. Em geral isto acontece muito com “crentes e seus
filhos”; ou seja: com os que se habituaram à “religião como casa”; os quais,
depois de um tempo, desaparecem em seu significado espiritual diante de
Deus pela impressão de “pertencimento” ao ambiente da “casa”.
Tem-se, então, o Filho Pródigo. Ora, esse tal é aquele que se rebelou contra o
amor do Pai, e julgou na sua adolescência espiritual que viver com o Pai é
equivalente a “limites e castrações”. Trata-se daquele que se vai por
deliberação, que se aliena com a sensação de esperteza, que se distancia a
fim de “viver sua liberdade” como expressão de libertinagem contra o amor
santo.
Depois aparece o Irmão Mais Velho. Sim, aquele perdido que pensa que está
dentro da vontade de Deus pelos seus atos de obediência forçada e legalista,
mas que nunca teve vida ou intimidade com o Pai; sendo ele próprio apenas
um pecador que habita as proximidades [...], embora sua alma invejosa viaje
longe do coração de Deus; ainda que, ele mesmo, jamais tenha a coragem de
estabelecer o que habita seu coração como decisão de comportamento. Assim,
torna-se magoado, judicioso e extremamente perdido do amor do Pai,
especialmente pela sua raiva dos pecadores “sinceros na sua rebelião
assumida”.
Por último, tem-se aquele que se dedica aos negócios do reino, mas que é Um
Administrador Infiel. Estes equivalem aos pastores, sacerdotes e
agentes supostamente explícitos do reino, mas que perderam a fidelidade, e,
assim, tornaram-se ladrões e enganadores, fazendo do reino um “negócio”
pessoal; e, portanto, explorando o povo e defraudando o Evangelho. Sim; são
os pecadores malandros; os quais esquecem que haverá o dia do acerto de
contas; embora, eles mesmos, pelo vício administrativo e mistrativo [...]
pensem estarem para além do perigo, julgando que exista uma dependência de
Deus em relação a eles [...] — portanto, criando tal engano em suas mentes
uma espécie de permissão para o ágio, para o adicional de gestão, para a
exploração como “direito”; até que chega dia...
A Dracma Perdida precisa ser buscada, posto que não tenha autodeterminação
para achar-se.
O Filho Pródigo tem que arrebentar-se antes de tudo [...]; pois, sem que sofra a
falência, jamais cairá em si e voltará; e mais: ele tem que voltar boa parte do
caminho sozinho.
O Irmão Mais Velho poderá ser salvo pelo ciúme da Graça; sim, esta será a
sua melhor chance; isso se ele aceitar seu estado de perdição [...] embora
enganado pela falsa ideia da salvação como profissão e gestão espiritual,
moral e legal. Do contrário, morrerá na casa do Pai sem conhecer a
Sua Graça jamais.
Concluo perguntando:
Quem é você em relação aos arquétipos acima mencionados?
A Dracma tinha uma dona que a ela atribuía grande valor [...], mas a Dracma
existia em estado de inconsciência no ambiente de sua proprietária...
Pai para quem foi e nunca deixou de ser. Pai para quem nunca foi mas nunca
chegou a estar.
Hoje, no entanto, eu estava quase dormindo quando ouvi essa voz, que dizia:
“Vinha ele ainda longe, e seu pai o avistou; e, correndo, o abraçou…”
O Pai não somente deixou ir e aguardou a volta… Ele viu de longe e fez o
caminho de volta com o filho.
Entre o olhar do Pai e a volta para casa, existe um “ainda longe”. O Pai foi
buscar o filho ainda longe. Longe de ida, longe de volta!
Em casa é que o problema começou: quem nunca foi mas nunca chegou a
estar não gostou que aquele que foi e nunca deixou de ser tivesse voltado!
O Pai, todavia, só participa disso porque é Pai, mas não se deixa seqüestrar
por nada e por ninguém. Quem não gostar, que não goste. O Pai, no entanto,
vai longe buscar seu filho. E há um caminho que o Pai e esse filho precisam
fazer só os dois.
Que bom que antes de ver os irmãos magoados, a gente pode ver o rosto do
Pai.
Que bom que Ele vai se encontrar com a gente ainda longe de casa, antes que
as impressões do ciúme e da inveja tentem estragar o encontro que vale: o
encontro do Pai com o seu filho.
Que bom que quando quem nunca foi mas nunca chegou a estar só aparece
depois que o filho quebrado havia se entendido com o Pai feliz.
Que bom que há esse “ainda longe”, pois assim tem-se tempo para chegar em
casa tão cheio do amor do Pai que não se tem mais tempo e nem coração para
ficar doente com o ciúme dos irmãos.
Não é privilégio do nosso tempo uma igreja em crise. A igreja de Corinto era
formada basicamente por mercadores judeus, ciganos, gregos, prostitutas,
idólatras pagãos e gente de mentalidade sexual deturpada. Os primeiros capítulos
mostram Paulo preocupado com uma pergunta: “exatamente, o que é isso que se
chama igreja?” Paulo jamais fez essa pergunta sobre o judaísmo ou qualquer outra
cultura pagã. Mas o enigma da igreja preocupou o apóstolo. Por isso, Paulo
procura em sua primeira carta aos Coríntios, palavras certas para descrever o
mistério da igreja: lavoura, edifício? Até que no capítulo 12 ele usa a metáfora que
se encaixaria com perfeição: corpo!
A igreja – principalmente as pessoas que a Bíblia expõe – sempre foi marcada por
decepções. Em Lc. 10. 1-23 Jesus faz um teste: envia cerca de 70 discípulos sem
sua presença entre eles para várias cidades. A igreja em teste! Voltaram e Jesus
em sua leitura detecta um grave perigo: o fascínio pelo poder, pela mágica, pelo
êxtase! A Igreja sempre vai ter decepções. Você não está num filme
hollywoodiano, mas na vida comum das pessoas. Somos igreja e Jesus nos ama
assim.
Se procuro uma igreja "como eu" estou destruindo todos os sinais da
diversidade.
2. A tentação da espiritualidade em série
Preciso entender que gente diferente de mim pode ser uma grande bênção no
caminho da adoração. Philip Yancey escreveu: “como é fácil nos esquecermos que
a igreja cristã foi a primeira instituição na história do mundo a nivelar num mesmo
patamar judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e livres”.
A igreja unia e ainda une em torno da mesa: é a Ceia, a celebração que cura o
Éden: no jardim, o homem sem Deus comeu e pecou; na Ceia, o homem com
Deus, come e celebra a vida. Ceia solitária não celebra, é apenas lembrança triste
de um paraíso sem comunhão!
Assim como não se consegue fugir da casa, mas somente de casa. Foge-se de
uma geografia (paredes numa rua), mas não do estado de espírito que o lar
representa. Alguns fogem da geografia do templo, apenas para tornarem-se alvos
da missão da igreja: os que estão lá fora! A igreja é missionária! Se você sair, a
gente vai atrás!
É o Pai do filho pródigo esperando e correndo (Lc. 15. 11-32); é o pastor indo atrás
da ovelha que se perdeu (Mt. 18. 12, 13); é Jesus tratando como amigo o traidor
Judas (Mt. 26. 50), indo atrás de Pedro no barco (Jo. 21); é o recado à igreja de
Éfeso, (Ap. 2. 5): “lembra-te de onde caíste”. As portas da igreja estão sempre
abertas para quem saiu do templo pensando ter saído da igreja.
Antes mesmo de falar ao mundo, Jesus fala à igreja. Em João 15. 16, o mesmo
apóstolo declara o que Jesus vaticinou: “Não foram vocês que me escolheram, eu
escolhi vocês”. A igreja é o risco que Deus quis correr. Dorothy Sayers lista três
humilhações que Deus enfrentou na história: a encarnação, a cruz e a igreja.
A igreja é o elogio de Deus à raça humana: é Deus resolvendo habitar em nós
através do Espírito. O mesmo Deus que esteve acima de nós (Antigo Testamento),
e ao nosso lado (Novo Testamento), agora está dentro!
Eugene Peterson escreveu algo sobre esse aspecto do Apocalipse em
relação à igreja que preciso reproduzir aqui:
O Evangelho nos leva à vida comunitária. Uma das principais mudanças que o
Evangelho opera é gramatical: “nós” ao invés de “eu” e “nosso” em vez de “meu”.
Quando se voltou na direção da voz de trombeta que chamava sua atenção, a
primeira coisa que o apóstolo João viu foram os sete candelabros de ouro, que são
as “sete igrejas”. Então, no meio deles, viu “alguém semelhante ao filho do
homem”, Jesus, o Cristo. É impossível ter Cristo sem a igreja. Nós tentamos.
Gostaríamos muito de evitar o envolvimento nas contradições e distrações das
outras pessoas que acreditam nEle, ou afirmam que crêem. Desejamos o Cristo
que é apenas bondade, beleza e verdade. Preferimos adorá-lo diante de um
magnífico pôr-do-sol, das notas inspiradoras de uma sinfonia que nos eleva, ou de
uma poesia tocante.