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Nas parábolas de Lucas 15 e 16 Jesus descreveu em cada uma delas muitos

ângulos diferentes da condição humana em sua perdição, tanto quanto também


expressou o modo redentivo do Pai agir em relação á alienação humana em
cada um desses casos.

Inicialmente temos a Ovelha Perdida. É o ser humano que se atabalhoou no


caminho e perdeu a direção, o sentido da vida; ou seja: o caminho do Pastor.
Nesse caso, não se trata de rebeldia, mas de distração e tolice; o que
frequentemente faz com que homens/ovelhas venham a alienar-se da vereda,
do passo, do sentido do Evangelho, da obediência a Jesus; e, também, do
vínculo fraterno/humano tão útil a manter-nos andando [...] tendo uns aos
outros como admoestadores na caminhada. Trata-se, portanto, da distração
que gera o desgarrar fraterno e a comunhão; e isso por razões diversas, muitas
delas vinculadas à perda do foco em razão de relacionamentos sem vínculo
com a fraternidade da fé; ou, também, pelo envolvimento excessivo com
companhias que nos fazem abandonar o interesse pela Palavra e pela
comunhão humana em torno da Palavra da fé.

Então, temos a Dracma Perdida. Em tal caso, na maioria das vezes, tem-se a
alma humana que se perde em estado de alienação de si mesma,
inconscientemente; posto que a dracma, pela sua própria natureza, tenha se
“perdido dentro da casa”; e isto por não se conhecer, por não saber de si
mesma... É o caso dos que têm grande valor pessoal, mas que desconhecem o
significado de sua própria existência; os quais acabam ficando jogados dentro
do ambiente familiar da fé, mas sem que se saiba de seu estado de perdição
pessoal; e, semelhantemente à inconsciência da “dracma”, tal pessoa não se
sabe perdida, posto que não reflita sobre seu próprio estado em razão da
inconsciência espiritual. Em geral isto acontece muito com “crentes e seus
filhos”; ou seja: com os que se habituaram à “religião como casa”; os quais,
depois de um tempo, desaparecem em seu significado espiritual diante de
Deus pela impressão de “pertencimento” ao ambiente da “casa”.

Tem-se, então, o Filho Pródigo. Ora, esse tal é aquele que se rebelou contra o
amor do Pai, e julgou na sua adolescência espiritual que viver com o Pai é
equivalente a “limites e castrações”. Trata-se daquele que se vai por
deliberação, que se aliena com a sensação de esperteza, que se distancia a
fim de “viver sua liberdade” como expressão de libertinagem contra o amor
santo.

Depois aparece o Irmão Mais Velho. Sim, aquele perdido que pensa que está
dentro da vontade de Deus pelos seus atos de obediência forçada e legalista,
mas que nunca teve vida ou intimidade com o Pai; sendo ele próprio apenas
um pecador que habita as proximidades [...], embora sua alma invejosa viaje
longe do coração de Deus; ainda que, ele mesmo, jamais tenha a coragem de
estabelecer o que habita seu coração como decisão de comportamento. Assim,
torna-se magoado, judicioso e extremamente perdido do amor do Pai,
especialmente pela sua raiva dos pecadores “sinceros na sua rebelião
assumida”.

Por último, tem-se aquele que se dedica aos negócios do reino, mas que é Um
Administrador Infiel. Estes equivalem aos pastores, sacerdotes e
agentes supostamente explícitos do reino, mas que perderam a fidelidade, e,
assim, tornaram-se ladrões e enganadores, fazendo do reino um “negócio”
pessoal; e, portanto, explorando o povo e defraudando o Evangelho. Sim; são
os pecadores malandros; os quais esquecem que haverá o dia do acerto de
contas; embora, eles mesmos, pelo vício administrativo e mistrativo [...]
pensem estarem para além do perigo, julgando que exista uma dependência de
Deus em relação a eles [...] — portanto, criando tal engano em suas mentes
uma espécie de permissão para o ágio, para o adicional de gestão, para a
exploração como “direito”; até que chega dia...

Para cada um desses “perdidos” o tratamento de Deus é diferente.

A Ovelha Perdida é “procurada”, pois, perdeu-se pela tolice e pela imaturidade.

A Dracma Perdida precisa ser buscada, posto que não tenha autodeterminação
para achar-se.

O Filho Pródigo tem que arrebentar-se antes de tudo [...]; pois, sem que sofra a
falência, jamais cairá em si e voltará; e mais: ele tem que voltar boa parte do
caminho sozinho.

O Irmão Mais Velho poderá ser salvo pelo ciúme da Graça; sim, esta será a
sua melhor chance; isso se ele aceitar seu estado de perdição [...] embora
enganado pela falsa ideia da salvação como profissão e gestão espiritual,
moral e legal. Do contrário, morrerá na casa do Pai sem conhecer a
Sua Graça jamais.

O Administrador Infiel somente é salvo pela vergonha e pela possibilidade da


revelação pública de seu estado de falsidade e infidelidade. São aqueles que
somente são salvos pelo escândalo de suas vidas.

Concluo perguntando:
Quem é você em relação aos arquétipos acima mencionados?

A Ovelha Perdida se afastou alienadamente do caminho e o Filho Pródigo


deliberou tal ato em estado de revolta.

Os demais [...], a Dracma, o Pródigo, o Irmão Mais Velho e o Administrador


Infiel [...], não foram para “longe” de nada; perderam-se dentro da casa; sim,
perderam-se sem expressão notória de seus estados de alienação.

É sutil assim o caminho da perdição de quem se julga “pertencendo”!

A Ovelha tinha Pastor...

A Dracma tinha uma dona que a ela atribuía grande valor [...], mas a Dracma
existia em estado de inconsciência no ambiente de sua proprietária...

O Pródigo sabia que tinha um Pai bom...

O Mais Velho tinha Pai, mas vivia como um órfão amargurado...

O Administrador Infiel nunca fora a lugar algum, mas jamais se entregará


fielmente a nada...
Olhe para você mesmo e pergunte-se:
Quem sou eu?
A parábola do Filho Pródigo todos conhecemos. Já preguei sobre ela centenas
de vezes. Olhei-a sob inúmeros aspectos.

É minha história. É a história da humanidade. É a história de quem foi e nunca


deixou de ser. É também a história de quem nunca foi mas nunca chegou a
estar. Sobretudo, é a história do amor de Deus e do modo como Ele age como
Pai.

Pai para quem foi e nunca deixou de ser. Pai para quem nunca foi mas nunca
chegou a estar.

Hoje, no entanto, eu estava quase dormindo quando ouvi essa voz, que dizia:
“Vinha ele ainda longe, e seu pai o avistou; e, correndo, o abraçou…”

O Pai não somente deixou ir e aguardou a volta… Ele viu de longe e fez o
caminho de volta com o filho.

Entre o olhar do Pai e a volta para casa, existe um “ainda longe”. O Pai foi
buscar o filho ainda longe. Longe de ida, longe de volta!

Em casa é que o problema começou: quem nunca foi mas nunca chegou a
estar não gostou que aquele que foi e nunca deixou de ser tivesse voltado!

O Pai, todavia, só participa disso porque é Pai, mas não se deixa seqüestrar
por nada e por ninguém. Quem não gostar, que não goste. O Pai, no entanto,
vai longe buscar seu filho. E há um caminho que o Pai e esse filho precisam
fazer só os dois.

Em casa, há muito ciúme, muita competição, muita doença.

Que bom que antes de ver os irmãos magoados, a gente pode ver o rosto do
Pai.

Que bom que Ele vai se encontrar com a gente ainda longe de casa, antes que
as impressões do ciúme e da inveja tentem estragar o encontro que vale: o
encontro do Pai com o seu filho.

Que bom que quando quem nunca foi mas nunca chegou a estar só aparece
depois que o filho quebrado havia se entendido com o Pai feliz.

Que bom que há esse “ainda longe”, pois assim tem-se tempo para chegar em
casa tão cheio do amor do Pai que não se tem mais tempo e nem coração para
ficar doente com o ciúme dos irmãos.

Vinha ele ainda longe… O Pai o avistou, e, correndo, o abraçou e o beijou!


A Parábola do Filho Pródigo se tornou um dos textos mais conhecidos
da Bíblia e provavelmente da literatura mundial. Entretanto, apesar de
carregar esse nome, essa parábola não se encerra na estória sobre o filho
mais novo que abandona seu lar, mas descreve também a reação
generosa do pai que o recebe de volta e a reação indignada do irmão
mais velho com a atitude de ambos. Por esta razão, muitos têm
renomeado esse texto como a Parábola do Pai Amoroso, ou a Parábola
do Filho Pródigo e seu Irmão. Eu prefiro chamá-la simplesmente de A
Parábola da Graça.

Antes de descrever a parábola, é interessante notar o contexto no qual


Jesus a conta. O capítulo 15 do Evangelho de Lucas diz que, enquanto
publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para ouvir seus
ensinamentos, escribas e fariseus murmuravam insatisfeitos diante
daquela cena. Para as autoridades religiosas, Jesus acolhia um tipo de
gente cujo comportamento questionável os tornava indignos de
compartilhar o mesmo espaço que um mestre como ele. Essas
autoridades religiosas entravam em crise por não compreender e aceitar
que Jesus acolhesse aqueles párias sociais, ou que ele dissesse que
haveria alegria nos céus (15:7, 10) por causa dos pecadores que estavam
retornando para o peito generoso do Pai (15:27, 32).

Jesus então conta essa parábola para caracterizar aquela situação de


intolerância e segregação que se dava na convivência entre os religiosos
autointitulados justos e os marginalizados, considerados impuros e
distantes de Deus. A fim de chamar a atenção dos dois grupos e os
ensinar sobre a solução graciosa de Deus para aquele conflito, Jesus
falou através da parábola sobre dois tipos de perdição humana. (Algumas
observações a seguir devo a um sermão pregado pelo Pr. Caio Fábio.)

A primeira das perdição é aquela do amoral, narrada através das atitudes


do filho pródigo: um jovem egoísta e ambicioso que rompe com os laços
familiares e sai de casa, desperdiçando sua parte de uma herança
indevida (seu pai ainda estava vivo) através de um comportamento
dissoluto e irresponsável. A figura do perdido amoral evidencia a busca
de uma autodeterminação individualista; ao sair de casa o filho pródigo
quer ser dono de seu destino, traçar seu próprio caminho, e ser senhor
absoluto de sua história. Ele então rompe com a proximidade física e se
distancia do referencial paterno, alienando-se deliberadamente dos
valores que recebeu (15:13). Quando seus recursos materiais são
consumidos por completo, também mingua a satisfação de seu coração e
ele entra em crise financeira e emocional. O filho errante então cai em
um estado de falência radical.

O segundo tipo de perdição é a do moralista, caracterizada pela reação


do irmão mais velho. Diferentemente do irmão mais novo que buscou o
prazer a todo custo e de modo inconsequente e libertino, a vida do irmão
mais velho foi marcada pela ausência de liberdade e celebração. Ele não
suporta ver a alegria de seu pai pela recuperação do irmão mais novo, e
indignado, se recusa a participar da festa (15:28). Sua pretensa justiça e
zelo por obediência acabaram por definir seu universo e cercear sua
liberdade, até ao ponto de torná-lo incapaz de se encantar pela
reintegração daquele que transgrediu a norma (15:29-30). Aquele que
vive escravo das normas não suporta a liberdade dos transgressores.
Além disso, o moralismo do irmão mais velho evidencia também a falta
de proximidade com o pai. Durante toda sua vida ele se comportou
muito mais como um servo do que propriamente como um filho, pois sua
visão de relação pai e filho é estreita e fria.

Enquanto o filho errante, mesmo que distante fisicamente, nunca saiu de


perto do pai e pensa nele em termos de misericórdia e perdão (15:17-19),
o filho presente, ainda que vivendo ao lado do pai, o vê muito mais do
que um patrão frio e severo, incapaz da generosidade mínima de oferecer
uma festa ao filho (15:29b, 31). Ambos, segundo Jesus, estão perdidos e
deslocados. Ambos, ainda que de modos distintos, se distanciaram do
pai. Ainda assim, ambos receberam gratuitamente, e imerecidamente a
graça da reconciliação com seu pai.

Ao perdido amoral, a graça se manifesta de formas distintas: no


despertando de seu torpor autodestrutivo, na conscientização da
necessidade de mudança, e na decisão de retornar aos braços de seu pai.
Mas talvez a coisa mais difícil foi aceitar a graça de seu pai. Muito mais
fácil do que aceitar a graça do pai é tentar convencê-lo de como se é
bom, como fez o irmão mais velho. O pai cheio de graça não espera que
o filho errante chegue em casa, mas o recebe afetuosamente ainda no
caminho. A graça não espera um pedido formal de desculpas ou
promessas de mudança, somente acolhe e envolve os que dela se
afastaram (15:21). A graça atraiu o filho, o persuadiu e o encorajou. E
mesmo sentindo-se constrangido, ele teve a liberdade de se aproximar do
pai. O filho não foi julgado pelos seus pecados, pois o objetivo final de
sua existência estava cumprido: a reintegração com aquele que é a
origem de sua vida (15:24).
Já ao perdido moralista a graça se manifesta ensinando que não há
direitos, méritos ou esforços por obediência que sejam capazes de
garantir a alguém o favor de seu pai. A indignação do filho mais velho se
explicar por sua lógica de reciprocidade, na qual a justiça retributiva
prevalece sobre a generosidade do amor, do perdão e da misericórdia.
Para ele, a graça do pai que se manifesta ao irmão mais novo é absurda e
incoerente, pois descontrói seus princípios de meritocracia e desconcerta
sua visão de mundo baseada na justa retribuição pela estrita fidelidade às
normas estabelecidas. Nesses termos, a graça é incompreensível, e
portanto inaceitável. No entanto, a graça também dá ao irmão mais velho
a mesma oportunidade de recomeçar sua vida junto à sua família,
sobretudo de conhecer melhor seu pai (“Filho, tu sempre estás comigo, e
todas as minhas coisas são tuas” 15:31b).

A parábola contada por Jesus tem a função de nivelar a todos, e convidar


tanto os marginalizados e os religiosos ao arrependimento, à mudança de
atitude em relação a si mesmos e uns aos outros. O pai é que toma a
iniciativa e vai ao encontro de seus dois filhos (15:20, 28b). A todos a
graça oferece uma salvação integral, não somente em termos de
regeneração e purificação espiritual, mas essencialmente na realização
plena do devir humano: o de ser um em Cristo, e um com o Pai.
J F Powers escreveu algo intrigante sobre a igreja: “Esta é uma grande e velha
nave. Ela range, balança, rola, e às vezes faz com que a gente queira vomitar.
Mas ela chega ao destino. Sempre chegou, sempre chegará, até o fim dos tempos.
Com ou sem você”. João da Cruz dizia que “a alma virtuosa que está só, é como a
brasa que está só: ao invés de esquentar, tornar-se-á cada vez mais fria”. A igreja
sempre esteve na fronteira entre a maravilha e o caos. Entre a glória e a vergonha.
Entre o céu e o inferno.

Não é privilégio do nosso tempo uma igreja em crise. A igreja de Corinto era
formada basicamente por mercadores judeus, ciganos, gregos, prostitutas,
idólatras pagãos e gente de mentalidade sexual deturpada. Os primeiros capítulos
mostram Paulo preocupado com uma pergunta: “exatamente, o que é isso que se
chama igreja?” Paulo jamais fez essa pergunta sobre o judaísmo ou qualquer outra
cultura pagã. Mas o enigma da igreja preocupou o apóstolo. Por isso, Paulo
procura em sua primeira carta aos Coríntios, palavras certas para descrever o
mistério da igreja: lavoura, edifício? Até que no capítulo 12 ele usa a metáfora que
se encaixaria com perfeição: corpo!

Como todo corpo a igreja tem dores. É de sua natureza o conflito. Flannery


O’Connor escreveu algo terrivelmente verdadeiro: “o culto era tão horrível [na
minha igreja] que deveria haver algo mais nele para que o povo continuasse
vindo”. Não é por acaso que o Novo Testamento insiste obstinadamente em
apresentar a igreja mais como família do que como instituição: você conhece
alguma família perfeita? A famosa igreja primitiva é descrita em riqueza de
defeitos!

Vamos analisar um pouco mais de perto essa pergunta: “quem precisa de


igreja”?

1. Não preciso de igreja, preciso ser igreja!

O grande equívoco da geração envenenada pelo câncer da rivalidade e da crítica


maldosa está no olhar errado: a postura de consumidor: “divirta-me”; “dê-me algo
de que eu goste”. Quando o centro do culto está em mim, não sou igreja – o foco
precisa estar em Deus! Apocalipse é o padrão: começa com a visão extraordinária
da pessoa bendita de Cristo. Quando somos cristocêntricos, somos igreja!

Deus, não a congregação, é o mais importante. Quando me proponho a focar o


palco e quem está lá, vou acumular decepções, mas quando enxergo a cruz e
mantenho os olhos para além do que acontece no palco, vejo a graça – vejo Deus!

A igreja – principalmente as pessoas que a Bíblia expõe – sempre foi marcada por
decepções. Em Lc. 10. 1-23 Jesus faz um teste: envia cerca de 70 discípulos sem
sua presença entre eles para várias cidades. A igreja em teste! Voltaram e Jesus
em sua leitura detecta um grave perigo: o fascínio pelo poder, pela mágica, pelo
êxtase! A Igreja sempre vai ter decepções. Você não está num filme
hollywoodiano, mas na vida comum das pessoas. Somos igreja e Jesus nos ama
assim.
Se procuro uma igreja "como eu" estou destruindo todos os sinais da
diversidade.
2. A tentação da espiritualidade em série

É o mal de Procusto. A mentalidade de gueto. A maldição do tribalismo. É o


nazismo religioso. Conheceu um, conheceu todos. Se procuro uma igreja "como
eu" estou destruindo todos os sinais da diversidade. É o Apocalipse e as sete
igrejas, com suas idiossincrasias, seus defeitos e manias, suas virtudes e alegrias
– sua celebração das diferenças.

Preciso entender que gente diferente de mim pode ser uma grande bênção no
caminho da adoração. Philip Yancey escreveu: “como é fácil nos esquecermos que
a igreja cristã foi a primeira instituição na história do mundo a nivelar num mesmo
patamar judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e livres”.

A igreja unia e ainda une em torno da mesa: é a Ceia, a celebração que cura o
Éden: no jardim, o homem sem Deus comeu e pecou; na Ceia, o homem com
Deus, come e celebra a vida. Ceia solitária não celebra, é apenas lembrança triste
de um paraíso sem comunhão!

3. Não se pode fugir da igreja, apenas de um templo

Assim como não se consegue fugir da casa, mas somente de casa. Foge-se de
uma geografia (paredes numa rua), mas não do estado de espírito que o lar
representa. Alguns fogem da geografia do templo, apenas para tornarem-se alvos
da missão da igreja: os que estão lá fora! A igreja é missionária! Se você sair, a
gente vai atrás!

William Temple disse que “a igreja é a única sociedade cooperativa no mundo que


existe em benefício dos que não são membros”. A igreja verdadeira trabalha, é
movida pelo servir. Sua natureza aponta para fora do templo: para os que estão à
margem do caminho. Repito: se você sair, a gente vai atrás!

É o Pai do filho pródigo esperando e correndo (Lc. 15. 11-32); é o pastor indo atrás
da ovelha que se perdeu (Mt. 18. 12, 13); é Jesus tratando como amigo o traidor
Judas (Mt. 26. 50), indo atrás de Pedro no barco (Jo. 21); é o recado à igreja de
Éfeso, (Ap. 2. 5): “lembra-te de onde caíste”. As portas da igreja estão sempre
abertas para quem saiu do templo pensando ter saído da igreja.

4. É impossível fazer parte da história de Deus no mundo sem passar pela


igreja

Apocalipse é taxativo nesse ponto: João vê Jesus Ressurreto, e ao invés de


descortinar os eventos futuros e revelar logo o céu, passa pela igreja – uma não,
sete!

Antes mesmo de falar ao mundo, Jesus fala à igreja. Em João 15. 16, o mesmo
apóstolo declara o que Jesus vaticinou: “Não foram vocês que me escolheram, eu
escolhi vocês”. A igreja é o risco que Deus quis correr. Dorothy Sayers lista três
humilhações que Deus enfrentou na história: a encarnação, a cruz e a igreja.
A igreja é o elogio de Deus à raça humana: é Deus resolvendo habitar em nós
através do Espírito. O mesmo Deus que esteve acima de nós (Antigo Testamento),
e ao nosso lado (Novo Testamento), agora está dentro!
Eugene Peterson escreveu algo sobre esse aspecto do Apocalipse em
relação à igreja que preciso reproduzir aqui:

O Evangelho nos leva à vida comunitária. Uma das principais mudanças que o
Evangelho opera é gramatical: “nós” ao invés de “eu” e “nosso” em vez de “meu”.
Quando se voltou na direção da voz de trombeta que chamava sua atenção, a
primeira coisa que o apóstolo João viu foram os sete candelabros de ouro, que são
as “sete igrejas”. Então, no meio deles, viu “alguém semelhante ao filho do
homem”, Jesus, o Cristo. É impossível ter Cristo sem a igreja. Nós tentamos.
Gostaríamos muito de evitar o envolvimento nas contradições e distrações das
outras pessoas que acreditam nEle, ou afirmam que crêem. Desejamos o Cristo
que é apenas bondade, beleza e verdade. Preferimos adorá-lo diante de um
magnífico pôr-do-sol, das notas inspiradoras de uma sinfonia que nos eleva, ou de
uma poesia tocante.

Gostaríamos de colocar a maior distância possível entre nossa adoração e a


indiferença e o moralismo exagerado que sempre conseguimos, de uma forma ou
de outra, encontrar na igreja. Somos ardentes para com Deus, mas frios para com
a igreja. Não é a falta de religião ou indiferença que faz muitos se afastarem; é
exatamente o oposto: eles entendem e experimentam a igreja como um poluente
cancerígeno no ar puro de sua religião. Muitos, desejando alimentar a fé em Deus,
em lugar de se integrar a uma companhia de santos que continuam a parecer e
agir como pecadores, fazem uma longa caminhada por uma praia, escalam uma
montanha, ou se dedicam a ler Dostoiévski, Stravinsky ou outro.

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