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Pedro, Meu Irmão

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Desejo falar-lhes hoje a respeito de meu irmão, meu amigo, meu companheiro apóstolo,
Simão Barjonas, Cefas, ou Pedro, a Rocha.

Há algum tempo, o jornal de uma cidade distante publicou um editorial religioso, num
Domingo de Páscoa. O ministro que o escreveu afirmava que a autoridade que presidia a
igreja primitiva havia caído, devido à sua auto-confiança, indecisão, maus companheiros,
falta de oração, ausência de humildade e temor ao homem. Depois, concluiu:
“Espero que nós, como um povo, e especialmente os que são cristãos e clamam
viver
pela palavra de Deus, não cometamos os mesmos erros e caiamos, como Pedro o fez.”
(Reverendo Dorsey R. Dent, “A Message for This Week.”)

Ao ler isso, senti algo estranho. Fiquei chocado, senti arrepios, meu sangue mudou de
temperatura e começou a ferver.
Achei-me perversamente atacado,
pois Pedro era meu irmão, meu amigo, meu exemplo,
meu profeta e o ungido de Deus. Disse a mim mesmo: “Isto não é verdade. Ele está
caluniando meu irmão.”

UM HOMEM DE VISÃO

Então abri meu Novo Testamento. Não pude encontrar tal personagem, como descrito
por esse ministro de nossos dias. Ao invés, encontrei um homem que havia alcançado a
perfeição através de suas experiências e sofrimentos. Um homem com visão, um homem
de revelações, um homem em quem o Senhor Jesus Cristo depositava toda a sua
confiança.
Lembro-me
do momento terrível e decepcionante em que negou, por três vezes,
conhecer o Senhor. Lembro-me de seu arrependimento, que o levou às lágrimas. Muitas
vezes foi ele censurado pelo Mestre, mas aprendeu, pela experiência e parece que
jamais cometeu outra vez o mesmo erro. Vejo um humilde pescador, sem conhecimento
ou experiência, subir gradualmente, sob a direção do Mestre de todos. Ao pináculo da fé,
da liderança audaz, do testemunho inabalável, da coragem sem igual, e de um
entendimento quase ilimitado. Vejo um discípulo leigo tornar-se o apóstolo principal e

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presidir a igreja e reino do Senhor. Ouço sua respiração forte ao subir diligentemente a
encosta ingrime do Monte da Transfiguração. Ali, ele vê e ouve coisas indescritíveis e
tem a experiência transcendente de estar na presença de seu Deus, Eloim, de Jeová,
seu Redentor, e de outros seres celestiais.

Seus olhos haviam visto, seus ouvidos escutado e seu coração havia entendido e aceito
acontecimentos assombrosos, desde os dias do batismo do Mestre nas águas do
Jordão, até a ascensão de seu Redentor, no Monte das Oliveiras.

Vejo esse grande líder assumir a presidência da igreja. Vejo o doente e o inválido
levantarem-se, retornando à saúde e à normalidade. Ouço seus sermões poderosos.
Vejo-o caminhar firme e inflexível para o martírio e tomar da amarga taça.

Mas aquele ministro sectário depreciou-o, criticou-o sem misericórdia e o rebaixou.


Muitas das críticas dirigidas a Simão Pedro dizem respeito ao fato de haver negado
o
Mestre. Isso tem sido rotulado de “covardia”. Temos certeza do motivo real de sua
atitude? Ele havia desistido de sua profissão e colocado todas as coisas do mundo no
altar, a favor da causa. Se admitirmos que ele foi um covarde e que negou o Senhor por
medo, ainda assim poderemos encontrar uma boa lição. Será que alguém sobrepujou
mais completamente o egoísmo e as fraquezas mortais? Será que alguém já se
arrependeu mais sinceramente? Pedro tem sido acusado de ser severo, indiscreto,
impulsivo e medroso. Se tudo isso fosse verdade, ainda assim perguntaríamos: Será que
algum homem já triunfou mais completamente sobre suas fraquezas?

O PRIMEIRO APÓSTOLO

Havia homens bons entre os seguidores do Senhor, mas mesmo assim, Cefas foi
escolhido como o número um. O Senhor conhecia bem a integridade de Natanael, a
afetuosidade sensível de João, a grande cultura de Nicodemos. A fidelidade e devoção
de Tiago e dos outros irmãos. Cristo conhecia os pensamentos mais íntimos dos homens
e observava suas manifestações de fé. Em suma, ele conhecia os homens; ainda assim,
escolheu, dentre todos eles, aquele personagem que possuía virtudes, poderes e espírito
de liderança necessários para dar estabilidade à igreja, levar os homens a aceitar o
evangelho e seguir a verdade.

Quando Cristo escolheu esse pescador como seu primeiro e principal apóstolo, não
estava se arriscado. Tinha em mãos um diamante bruto – um diamante que precisava
ser cortado, lapidado e polido, por meio de advertências, repreensão e de tribulações –
ainda assim um diamante de qualidade superior. O Salvador sabia ser possível confiar
nesse apóstolo, para dar-lhe as chaves do reino, o poder para selar e desligar. Como
qualquer ser humano, Pedro poderia cometer alguns erros, em seu processo de
desenvolvimento, mas seria sensato, merecedor e digno de confiança, na qualidade de
líder do reino de Deus. Mesmo com um professor tão perfeito, era difícil aprender o
grande plano do evangelho em três anos.

Pedro perguntou a Jesus:


“Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que receberemos?”


“E Jesus disse-lhe: Em verdade vos digo que vós que me seguistes,
quando na
regeneração, O Filho do homem se assentar no trono da glória, também vos assentareis
sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.” (Mateus 19:27,28.)
É concebível que o Senhor onisciente daria todos esses poderes e chaves
a alguém que

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fosse um fracasso ou que não fosse digno?
Se Pedro era covarde, quão valoroso se tornou em tão pouco tempo! Se era fraco e
vacilante, quão forte e positivo se tornou em semanas e meses! Aceitar a
responsabilidade é um processo de refinamento e purificação que leva tempo para ser
desenvolvido.

Se Pedro estava temeroso, na corte, quando negou sua associação com o Senhor, quão
destemido foi, algumas horas antes, quando desembainhou a espada contra o inimigo, a
turba que viera à noite.. Mais tarde, desafiando o povo, o estado e os oficiais da igreja,
declarou claramente: “A este (o Cristo) ...tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas
mãos de injustos.” (Atos 2:23) Ao povo assombrado por vê-lo curar o aleijado na Porta
Formosa, exclamou:

“Varões israelitas... o Deus de nossos pais glorificou a seu filho Jesus, a quem vós
entregastes e perante a face de Pilatos,,, negastes o Santo... e matastes o Príncipe da
vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas.” (Atos 3:12-
15.)

Isso demonstra covardia? Uma declaração bem audaz, para uma pessoa tímida.
Lembrem-se de que Pedro jamais negou a divindade de Cristo. Apenas negou sua
associação ou conhecimento do Cristo, o que é um fato bem diferente.
Será que foi por achar-se confuso e frustrado, que Pedro o negou? Poderia
ainda haver
qualquer falta de entendimento concernente a todo o plano do Senhor? Sendo um líder,
ele era o alvo principal do adversário, pois, como disse Jesus:
“Simão, Simão, eis que Satanás te pediu para cirandar como o
trigo:

 Mas eu roguei por ti, para que a tua face não desfaleça”. (Lucas 22:31-32.)

Pedro se encontrava sob o constante ataque do inimigo, pois todas as hostes do inferno
estavam contra ele. As sortes foram lançadas na corte, e os judeus optaram pela
crucificação do Salvador. Se Satanás agora pudesse também destruir a Pedro, que
grande vitória conseguiria! Ele era o maior de todos os homens vivos, e Lúcifer desejava
confundi-lo, frustrá-lo, limitar-lhe o prestígio e destruí-lo totalmente. Todavia, tal não
aconteceria, pois ele fora escolhido e ordenado na preexistência para um elevado
propósito, como acontecera a Abraão.

Simão seguiu o mestre até o local onde seria julgado, e sentou-se no pátio exterior. Que
mais poderia fazer? Ele sabia que muitas vezes o próprio Salvador havia escapado da
turba esgueirando-se de suas garras. Talvez isso acontecesse novamente.
O Senhor dissera repetidas vezes que se aproximava o dia em que seria crucificado
e
ressuscitaria; entretanto, nem Pedro ou qualquer outra pessoa entendiam plenamente o
que significava essa declaração. Esses acontecimentos eram estranhos para ele?
Jamais houvera qualquer pessoa sobre a terra que fosse capaz de morrer e ressuscitar.
Milhões de pessoas, hoje em dia, não conseguem compreender a ressurreição, muito
embora tenha sido pregada por mais de mil e novecentos anos como uma realidade
corroborada por inúmeras provas irrefutáveis. Poderiam então os apóstolos, ser
criticados por não compreender uma situação desorientadora?
É possível que a tripla negação de Pedro tenha sido baseada em
qualquer outro motivo?
Será que ele achou que as circunstâncias justificavam tal medida? Quando o Salvador
testificou em Cesáreia de Felipe, ele disse a seus discípulos “que a ninguém dissessem
que ele era o Cristo”. (Mateus 16:20.)

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Quando os três apóstolos desceram do Monte da Transfiguração, foram novamente
advertidos implicitamente: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja
ressuscitado dos mortos.” (Mateus 17:9.) É possível que Pedro tenha sentido que aquela
não era a ocasião adequada para falar a respeito de Cristo? Ele estivera ao lado do
Senhor de Nazaré, no momento em que o Salvador foi levado por seu próprio povo ao
cume do monte “em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele,
porém, passando pelo meio deles, retirou-se.” (Lucas 4:29-30.) Certamente Pedro não
considerou essa fuga como um ato de covardia, mas sim de sábia habilidade. A hora de
Cristo ainda não havia chegado.

A IMINENTE CRUCIFICAÇÃO

Quando o Senhor tentou energicamente explicar a hora amarga que se aproximava e


declarou “que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos e dos principais dos
sacerdotes, e dos escribas, e ser morto e ressuscitar ao terceiro dia.” – Pedro tentou
dissuadi-lo de pensar em tal calamidade. (Ver Mateus 16:21.) Ele foi prontamente
repreendido por sugerir ao Salvador que fugisse da tragédia. Talvez ele devesse ter
entendido que aqueles horríveis acontecimentos eram a vontade do Senhor...

Pedro pode não ter compreendido muito bem, que a hora estava às portas, porém o
próprio Redentor o proibiu de oferecer qualquer resistência quando ele fosse crucificado.
Simão sentiu-se frustrado ao receber semelhante mandamento? Talvez tenha ficado
aturdido por alguns instantes, mas, quantos de nós, ao se encontrarem num lugar tão
hostil, sem a menor esperança de salva-lo, defenderiam o Senhor sob tais
circunstâncias, especialmente quando os esforços anteriores haviam sido
completamente baldados? Pedro já não havia, sem receber qualquer ajuda, levantado
sua espada contra uma “grande multidão com espadas e varapaus”? (Mateus 26:47.)
Não tinha tentado defender o Senhor da turba que tentara prende-lo, e ele não o
impedira?
O Salvador
saíra confiante do Jardim do Getsêmani, aparentemente resignado com o
sacrifico inevitável que teria de fazer. Simão havia, com destemor, manifestado a
disposição de lutar sozinho conta a turba, para proteger seu Mestre. Arriscando sua
própria vida ele havia atacado o desprezível Malco e decepara-lhe a orelha. Porém o
Senhor se opôs àquele ato de bravura e dedicação pessoal, e disse a seu leal apóstolo:
“Mete no seu lugar a sua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à

espada morrerão.”
“Ou pensas tu que
eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de
doze legiões de anjos?” (Mateus 26:52-53.)

O que mais poderia ter feito? Que outra atitude deveria tomar para demonstrar sua
lealdade e coragem? Será que nessas últimas horas da vida do Salvador, ele não foi
levado a pensar que devia deixar de protege-lo, que sua crucificação era algo inevitável,
e que por mais que fizesse, o Senhor não deixaria de seguir o destino? Não sou capaz
de lhes dizer. Sei apenas que este apóstolo era bravo e destemido.

Os eventos se sucederam em rápida seqüência. Enquanto estava no Getsêmani,


encontramos Pedro num momento tentando defender inutilmente o Senhor, e noutro
seguindo a turba enfurecida. Aparentemente o Salvador esta permitindo que os homens
cometessem as maiores indignidades no que dizia respeito a ele. O que Pedro poderia

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fazer?
Ele, numa outra ocasião, destemida e significativamente declarou ao Salvador: “Ainda
que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.” (Mateus 26:33.) Ao que
o Senhor respondeu: “Nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me
negarás.” (Mateus 26:34.)

Aquele era um momento crítico. A atitude protetora que Pedro tomou ao brandir a
espada, ocorreu pouco depois destas palavras proféticas. Ele havia tentado defendê-lo.
Simão tivera a oportunidade de ver um dos apóstolos trair o Mestre com um beijo, e ele
não o repelira. O Senhor o fizera lembrar-se de que poderia chamar os anjos, se
precisasse de auxílio, e ordenara que guardasse a espada. Mesmo agora, ele não havia
abandonado seu Mestre, e o seguiu pesaroso atrás da multidão exultante, e havia se
decidido a segui-lo até o fim. Pedro ouviu todas as acusações que fizeram contra Cristo,
presenciou as indignidades cometidas contra ele, sentiu a grande injustiça que houve
naquele simulacro de julgamento, e observou a perfídia das falsas testemunhas,
perjurando suas próprias almas. Viu os escarnecedores cuspirem na face do Santo,
esbofeteá-lo, soca-lo e escarnece-lo, sem que ele oferecesse a menor resistência nem
convocasse a proteção das legiões angelicais, pedindo misericórdia. O deveria pensar
então?

SUA NEGAÇÃO

Uma jovem que se encontrava por ali, acusou Pedro, “Tu também estavas com Jesus, o
Galileu.” (Mateus 26:69.) De que adiantaria defender o Senhor naquela ocasião? Será
que isso lhe agradaria? Tal atitude não destruiria a própria vida de Pedro, ao invés de ter
um efeito benéfico? Será que Cristo gostaria de que ele lutasse naquele momento,
quando naquela manhã lhe havia negado esse privilégio?

Então outra criada declarou aos vilões e espectadores: “Este também estava com Jesus,
o nazareno.” (Mateus 26:71.) E Pedro respondeu: “Não conheço tal homem.” (Mateus
26:72.) E outros ainda, reconhecendo seu sotaque Galileu, declararam:
“Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia.” (Mateus 26:73.)
Como poderia agir? Poderia fazer mais alguma coisa? Qual teria sido o resultado, se

tivesse admitido sua associação com Cristo? Teria vivido para presidir a igreja? Pedro
vira muitas vezes o Salvador escapar das multidões e esconder-se dos assassinos. É
concebível que Pedro também tenha achado a sua negação proveitosa à causa de
Cristo? Será que ele entendera plenamente o significado que se achava implícito na
frase que Jesus tantas vezes repetira: “Ainda não é chegada a minha hora” (João 2:4), e
compreendia que “Agora é glorificado o Filho do homem” (João 13:31)?

Não pretendo saber como Pedro reagiu mentalmente, nem o que o compeliu a proferir
tais expressões negativas naquela terrível noite. Porém, considerando sua denodada
bravura, coragem, grande devoção e ilimitado amor que sentia pelo Mestre, não
poderíamos deixar de dar-lhe o benefício da dúvida, ou pelo mesmo de perdoa-lo
completamente, como o Salvador parece ter feito, pois imediatamente após, elevou-o à
mais elevada posição da igreja, e conferiu-lhe todas as chaves daquele reino.
Simão Barjonas não teve tempo de reconsiderar sua atitude e mudar a decisão
que
havia tomado, pois o galo cantou duas vezes e ele lembrou-se do que Cristo havia
predito, e humilhou-se até o pó. Ao ouvir aquela ave anunciar o amanhecer, Pedro

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lembrou-se não somente de que havia negado ao Senhor, mas também de tudo o que
ele dissera que acontecia. Até mesmo a crucificação, e chorou amargamente. As
lágrimas que derramou eram apenas motivadas pelo arrependimento pessoal, ou se
haviam misturado com as lágrimas sinceras de pesar que verteu ao conscientizar-se do
destino de seu Senhor e Mestre, e da grande perda que representava para ele?

Passaram-se apenas algumas horas até o momento em que ele foi um dos primeiros a
chegar ao sepulcro, encabeçando um grupo de fiéis. Transcorreram mais algumas
semanas até o momento em que se reuniu com os santos e os organizou numa
comunidade compacta, forte e unida. Não muito tempo depois, Pedro foi atirado numa
prisão, onde sofreu as maiores afrontas, e foi “joirado como o trigo”, conforme Cristo
havia predito. (Ver Lucas 22:31.

DE ORIGEM HUMILDE

Simão Pedro, filho de Jonas, começou sua carreira incomparável sob as mais humildes
circunstâncias. Esse simples pescador, que antes era considerado um homem “iletrado e
indouto”, subiu a escada do entendimento até conhecer, talvez como nenhuma outra
pessoa vivente, seu Pai, eloim; o filho, Jeová, e o plano de Cristo e sua relação com os
homens. Era espiritualizado e devoto. Veio sem precisar ser persuadido, provavelmente
caminhando ao longo do Jordão, para ouvir sermões poderosos do destemido João
Batista. Pouco sabia das grandes coisas que lhe estavam reservadas. Ali, ouviu a voz do
profeta e talvez tenha sido batizado por ele.
O irmão de Pedro, André, declarou: “Achamos
o Messias (que, traduzido, é o Cristo).”
(João 1:41.) Eles, sem dúvida, haviam escutado a declaração de João Batista: “Eis o
cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João 1:29.) Mas, ouvir a voz do Pai
vivo, Deus, reconhecer Jesus como seu Filho Unigênito, deve haver agitado
profundamente a alma deste humilde pescador.
Simão Pedro não estava bem preparado, nessa
ocasião, para assumir grande
responsabilidade, mas o Mestre conhecia seu potencial. No dia de seu chamado, deu-se
início ao treinamento intensivo que iria levar esse homem humilde e seus associados à
grande liderança, imortalidade e vida eterna.

A educação de Simão Pedro, tanto secular como espiritual, havia sido limitado, mas
agora ele seguia o Mestre dos mestres. Ouviu o Sermão da Montanha; permaneceu com
o Redentor no barco e ouviu os sermões magistrais dirigidos ao povo que se achava
congregado. Sentou-se nas sinagogas, ouvindo as convincentes e poderosas
declarações do Criador. As escrituras foram-lhe reveladas, ao viajar pelas estradas
empoeiradas e pedregosas da Galiléia. Com certeza, suas inúmeras perguntas foram
respondidas pelo Senhor, enquanto comiam, dormiam e andavam juntos. As horas eram
preciosas como jóias raras. Ouviu as parábolas dirigidas ao povo e aprendeu as lições
que continham.
Pedro presenciou
a divindade fluir sem cessar, na revelação contínua de um novo modo
de vida. Entendeu muitas lições, rapidamente, mas teve dificuldade em compreender as
experiências que nunca haviam ocorrido antes na terra. Percebia a sombra escura e as
nuvem baixas, mas não podia entender o seu significado. Nenhum personagem, em sua
experiência, havia dado a vida desse modo. Nenhuma alma, na terra, havia sido
ressuscitada. Levou algum tempo para essas verdades impressionantes penetrarem em

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sua mente. Era difícil para ele pensar apenas em liderança espiritual. Pedro esperava
que o /cristo desembainhasse a espada e redimisse Israel. Mas, após a experiência em
Getsêmani, quando o corrido no Gólgota se tornou um horrível pesadelo, quando o
Senhor ressuscitou e subiu ao céu e quando veio o Consolador, a verdade grandiosa e
incontestável irrompeu e foi gravada em sua mente. As partes do quebra-cabeças
haviam sido arranjadas, formando um belíssimo desenho, que se constituía na gloriosa
realidade; e Pedro, Tiago e João, e seus companheiros, saíram para converter um
mundo inflexível e obstinado.
Pedro era um homem cheio de
fé. Jamais vacilou desde os dias em que deixou as redes
e barcos, seus pés nunca o fizeram voltar. Mesmo quando negou o Senhor, estava o
mais perto possível dele. Quem quiser criticar esse apóstolo, deve colocar-se em seu
lugar – em meio aos piores inimigos, perseguidores e assassinos, com um conhecimento
crescente da inutilidade de defender o seu Senhor, cuja hora havia chegado. Ele, que
perdoou aos que o crucificaram, perdoou também àquele que o havia negado.
Pedro era um homem de fé. Curava os doentes, ao passarem simplesmente por
sua
sombra. As paredes das prisões não podiam detê-lo. Graças a ele, os mortos reviveram.
Andou por cima das águas. Embora não obtivesse triunfo total nessa tentativa,
conseguiu mais do que qualquer outro ser humano. Quem zombar da hesitação
momentânea de Pedro, deverá tentar essa façanha por si mesmo.
Simão Pedro era humilde. Apreciava Tiago e João, que estavam com
ele no Monte
Santo, e que com compartilharam as tristezas do Getsêmani. Talvez seu primeiro ato
oficial, como autoridade presidente, foi o de convocar uma conferência, na qual os
santos deveriam votar para o preenchimento da vaga no Quorum dos Doze, Uma nova
testemunha foi escolhida.
Quando o coxo andou, após
a ministração de Pedro e João, e quando o povo,
assombrado, abriu a boca e maravilhou-se, Pedro atribuiu o mérito ao Deus de Israel,
dizendo: “Por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade
fizéssemos andar esse homem?” (Atos 3:12.) E, na ocasião em que Dorcas (Tabita) jazia
morta, não houve nenhum alarde ou exibicionismo. Ele simplesmente “os fez sair, pôs-se
de joelhos e orou”, apresentando Tabita viva aos seus amigos. (Veja Atos 9-40-41.)

Aceitou ameaças, açoitamentos e acusações falsas. Opôs-se aos que condenavam seu
Senhor, dizendo: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29.)
Culpou-os pela morto do Redentor, enfrentado-os sem medo algum. Castigou Simão, o
feiticeiro, dizendo: “O teu dinheiro seja contigo para a perdição.” (Atos 8:20.) Anunciou,
perante os irmãos, uma grande mudança no sistema da igreja, através da qual os
gentios seriam aceitos.

Simão Pedro era espiritualizado e profético. Recebia revelações concernentes à igreja.


Anjos o acompanharam ao cárcere e o libertaram, e uma grande visão abriu a porta para
milhares de almas honestas.
Seu testemunho era como uma
rocha, e sua fé, inabalável. O Salvador, ao ser
abandonado pelos outros, perguntou a Pedro: “Quereis vós também retirar-vos?” (João
6:67.) E o apóstolo respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da
vida eterna.” (João 6:68.) Um pouco antes da crucificação, o Senhor perguntou: “E vós,
quem dizeis que eu sou?” (Mateus 16:15.) A resposta, revelado por Deus, expressou
perfeitamente o poder e caráter de Pedro: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo.” (Mateus

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16:16.) O Salvador respondeu: “Por que to não revelou a carne e o sangue, mas meu
Pai, que está nos céus.” (Mateus 16:17.) Ele viu mensageiros celestiais; acompanhou os
mártires e o Filho de Deus com quem vivera. Ele recebeu o Confortador, e nunca mais
houve outra ocasião em que tivesse dúvidas ou vacilasse.

OS ENSINAMENTOS DE PEDRO
Os ensinamentos de Simão Pedro
são dirigidos a todas as pessoas, até mesmo às que
vivem na última geração. Ele testificou constantemente da divindade de Cristo. Assim
como o Senhor perdoara suas fraquezas, da mesma forma ele concitou a todos os
homens que perdoassem a seus ofensores. Ele ensinou os membros a serem honestos
e instou-os a viver em paz com os gentios. Este apóstolo ensinou seu povo a prestar a
devida honra aos reis, governos e leis; a suportar pacientemente as aflições, sofrimentos
e agressões, e a sofrer todo o insulto ou padecimento como uma benção, por amor ao
Senhor. Talvez ele tenha passado por muita infelicidade conjugal, pois aconselhou as
esposas a se sujeitarem a seus maridos, e a procurar converte-los através de sua
própria mansidão e bondade. E ordenou também aos maridos que honrassem suas
esposas e companheiras, amassem-nas, fossem compassivos para com elas e as
considerassem como um bem precioso. Solicitou aos paris que fossem bondosos para
seus filhos e que estes honrassem e obedecessem aos pais. Instou os empregadores
para que fossem honestos para com os seus trabalhadores e que os sevos servissem
fielmente a seus senhores. Pedro estimulou os santos a viverem uma vida construtiva,
evitando a companhia de maus elementos, ébrios, dissolutos, glutões, idólatras e
devassos. Instou-os também a servirem na igreja, viver sobriamente, a ser vigilantes na
fé e a praticar obras que conduzissem à perfeição.

Esse grande líder testificou freqüentemente como uma testemunha que vira e ouvira
acontecimentos espetaculares e momentosos. Ao predizer a apostasia, testificou a
respeito dos falsos mestres que surgiriam após a sua partida, os quais ensinariam as
heresias de perdição, negariam o Senhor, e fariam das almas dos homens motivo de
comércio. (ver 2 Pedro 2:1-3.) Ele colocou o selo divino de aprovação sobre os escritos
do Velho Testamento e revelou as histórias do mundo, falando sobre o dilúvio, a
destruição de Sodoma e Gomorra e outros eventos importantes. Pedro também pregou
inúmeras vezes sobre a lei da pureza e castidade, denunciando publicamente os
malefícios dos banquetes, adultérios, incontinência e da devassidão.

Ao aproximar-se o momento de seu martírio, quando beberia a taça amarga, como


aconteceu a seu Senhor e Mestre, ele proclamou que o mundo conheceria seu
testemunho e convicção. Sentado figurativamente à beira de seu túmulo, fez uma solene
declaração que tem sido lido por milhões de pessoas. Ele orou para eu os membros da
igreja pudessem ter um “conhecimento de Deus, e de Jesus, nosso Senhor.” (2 Pedro
1:2), e gloriou-se nas “grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis
participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela
concupiscência há no mundo”. (2 Pedro 1:4.)
Pedro continuou:

”Portanto, irmãos,
procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição...

“E tenho por justo, enquanto estiver neste tabernáculo, despertar-vos com


admoestações.

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“Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso
Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado.

“Mas também eu procurarei em toda a ocasião que, depois da minha morte, tenhais
lembrança destas coisas.”

“Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo,
seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.
“Porquanto ele recebeu de Deus Pai, honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi

dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido.
“E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo.” (2 Pedro

1:10, 13-18.)
Quando sua
obra foi completada, seu testemunho prestado e entregue ao mundo;
quando ele já vivera os dias que lhe haviam sido designados, Satanás, que há muito
desejava abate-lo, teve permissão de leva-lo ao martírio. E até mesmo agonizante, ele
prestou o seu testemunho.
Porém Simão Pedro não estava
morto. Ele passou por transformações importantes -  a
dissolução de seu corpo e também a ressurreição de sua alma. Juntamente com seus
leais companheiros, Tiago e João, Simão Pedro voltou novamente à terra e desfez a
grande lacuna provocada pelos séculos negros da apostasia. Eles apareceram juntos às
margens do rio Susquehanna, na Pennsylvania, onde Pedro entregou aos jovens
profetas as chaves do reino, que os apóstolos possuíam desde o tempo de nosso
Senhor Jesus Cristo.

O grande apóstolo ainda vive. As coisas fracas do mundo confundiram as sábias.


Milhões de pessoas leram o seu poderoso testemunho, que tem emocionado as
multidões. Ele continuará a viver através das incontáveis eras da eternidade, e estenderá
sua influência sobre os filhos desta terra e, juntamente com seus irmãos, os Doze,
julgará as nações.

Meus jovens irmãos e irmãs, espero que possam amar e aceitar o grande profeta assim
como eu faço, de todo o meu coração. Em nome de Jesus Cristo. Amém. (Speeches of
the Year [Provo, Utah: Brigham Young University Press, 1971], pp.1-8.)

ÉLDER SPENCER W. KIMBALL – O Novo Testamento - Apêndice D – pp. 540-545.

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