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QUILOMBOS NO MARANHÃO

As comunidades quilombolas no Maranhão surgem a partir da formação


de quilombos, considerados um local de refúgio dos africanos e seus
descendentes escravizados, bem como de sua reorganização com a abolição
da escravidão. No Maranhão, a história da formação das comunidades
quilombolas está relacionada a expansão da lavoura de algodão e de arroz no
final do século XVIII, com a criação da Companhia Geral do Comércio do Grão-
Pará e Maranhão, bem como ao abandono de terras por proprietários rurais,
com a decadência econômica no final do século XIX.
No ano de 2018, existiam 713 comunidades quilombolas reconhecidas no
Maranhão, com 518 certidões fornecidas pela Fundação Cultural Palmares,
concentradas especialmente na Baixada Maranhense e nos vales do
Itapecuru e do Mearim.[1]

Histórico
A partir do século XVIII, ocorre grande transformação na paisagem e na
composição da população do Maranhão. Com as leis pombalinas, a mão-de-
obra indígena (que gerava conflitos com os jesuítas) foi basicamente
substituída pela africana, em razão da implantação de grandes monoculturas
de algodão e arroz no lugar da exploração das drogas do
sertão (cravo, jatobá, anil, etc.), fumo e cana-de-açúcar. Nesse período, ocorre
forte expansão econômica, com a criação da Companhia Geral do Comércio do
Grão-Pará e Maranhão, em 1755, como forma de financiar a economia da
região, com importação em grande escala da mão-de-obra africana (em
especial da Costa da Mina e da Guiné), além de crédito aos fazendeiros. [2][3]
As principais regiões produtoras do Maranhão estavam localizadas nas
margens dos grandes rios Itapecuru, Mearim, Pindaré, Gurupi e Turiaçu. Na
região do Itapecuru, concentrava-se a maior quantidade de fazendas de
algodão e arroz no século XIX, em especial nos municípios de Codó e Coroatá,
aproveitando-se do transporte fluvial até o Golfão Maranhense. Outras regiões
com grande concentração de escravizados eram a Baixada Maranhense e o
litoral do Maranhão. [2]
O Festejo de São Benedito é um dos mais importantes em Alcântara. A Igreja
de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi construída com o esforço dos
escravizados.
A capitania de Cumã ou Tapuitapera (atualmente os municípios
de Alcântara e Guimarães) também foi uma grande produtora de algodão e
cana-de-açúcar. É nesse período que ocorre a construção dos grandes
casarões do Centro Histórico de São Luís e de Alcântara. [2]
Por volta de 1798, os escravizados representavam 47% da população, número
que subiu para 55%, na segunda década do século XIX, enquanto a população
branca representava 16%. No vale do Itapecuru, o número de escravizados
chegava a 80%.[4]
No entanto, o Maranhão passou por um declínio econômico ao longo do século
XIX, provocado pela retomada da produção de algodão nos Estados Unidos
(após o fim da Guerra de Independência Americana) e crises políticas na
colônia, como a revolta da Balaiada, na qual a participação de negros e
escravizados foi decisiva. Durante a Guerra de Secessão americana, ocorre
uma nova expansão algodoeira e da cana-de-açúcar na província, seguida por
nova decadência com o fim da guerra. Com a abolição do tráfico negreiro,
passa a haver um tráfico de escravizados entre as províncias, em especial para
a produção cafeeira do Centro-sul, o que também contribui para a queda na
economia.[2]
Formação de quilombos e comunidades
Desde o século XVIII, já eram formados quilombos no Maranhão, como meio de
resistência da população negra à escravidão, por meio de rebeliões e fugas,
sendo os mais expressivos os de Lagoa Amarela, sob a liderança do Negro
Cosme, em Chapadinha, e São Benedito do Céu, na Baixada Maranhense,
em Viana. A formação de quilombos era violentamente reprimida pelas forças
governistas.
A partir de 1865, Alcântara passa por um declínio econômico, com a queda das
exportações e o deslocamento da produção para os vales dos Rios Itapecuru,
Mearim e Pindaré, o que levou ao abandono de terras pelos proprietários das
grandes fazendas, e pelas ordens religiosas Ordem do Carmo, dos Jesuítas,
das Carmelitas, e dos Mercedários, que também possuíam terras em Alcântara.
levando a população negra a promover outras formas de organização e
ocupação do território. [5]
s
Com isso, surgem denominações para a forma de ocupação dessas: “Terras de
Preto” (adquiridas por prestação de serviços escravos, ou compradas por
escravos alforriados), “Terras de Santo” (deixadas pelas Ordens Religiosas aos
antigos escravos) e “Terras de Pobreza" (doações das fazendas falidas para ex-
escravos, registradas em cartório num ato de doação do proprietário). Tais
denominações levaram à construção da identidade cultural, religiosa e
territorial dessas comunidades. Outros ex-escravos se mudaram para as
cidades, em busca de trabalho.[5]
A cultura quilombola no Maranhão se expressa em manifestações culturais
como o bumba-meu-boi e o tambor de crioula, o catolicismo popular (como o
Festejo de São Benedito e a Festa do Divino) e religiões de matriz africana
(o tambor de mina e seus caboclos e encantados), no modo de vida
das quebradeiras de coco babaçu, na agricultura de subsistência (e produção
de farinha de mandioca), coleta de frutos como a juçara (açaí), dentre outros
aspectos. [6]
No entanto, tais comunidades enfrentam diversas dificuldades, como conflitos
rurais por disputa de terras com fazendeiros, divisão da produção agrícola com
donos de terras, vulnerabilidade socioeconômica, dificuldade de acesso a
serviços básicos de educação e saúde.[7]
De acordo com o IBGE, 94% da população de Serrano do Maranhão é
quilombola, e onde está localizado o Quilombo Nazaré. [7]
O Oxalaia quilombensis foi o maior dinossauro carnívoro que viveu no
litoral brasileiro, tendo sido encontrado na ilha do Cajual, em Alcântara,
recebendo esse nome em homenagem às comunidades quilombolas da região.
Tantos os moradores de terras formadas por antigos quilombos como de
comunidades negras formadas a partir do fim da escravidão buscaram se
organizar, com o surgimento de movimentos negros a partir dos anos 1970.
Com a Constituição de 1988, e seu art. 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), garantindo a propriedade definitiva das
terras aos remanescentes de quilombos que as estejam ocupando, as
comunidades negras ganharam uma atenção maior em seu processo de luta
por reconhecimento para titularização das terras e acesso a serviços básicos,
como educação e saúde.[8]
Um exemplo é a Reserva Extrativista do Quilombo do Frechal, em Mirinzal, na
Baixada Maranhense, constituída em 1992.
Em 2019, a Fundação Palmares, reconheceu o bairro Liberdade, em São Luís,
como comunidade remanescente de quilombo.[9]
O Território Liberdade Quilombola foi o primeiro quilombo urbano reconhecido
no Maranhão e sua área abrange cinco bairros de São Luís (Liberdade,
Camboa, Fé em Deus, Diamante e Sítio do Meio), com uma população de cerca
de 160 mil moradores, constituindo-se num dos maiores quilombos urbanos da
América Latina.[

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