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CAPITULO XIV ECONOMIA

Primeiras atividades produtivas — Colônias antigas — Apogeu Econômico — O êxodo


de 1877 — Os efeitos de 1888 e 1889 — A civilização do Boi e do Couro -—As
primeiras indústrias — A expansão Comercial — A Colônia Agrícola Nacional do
Maranhão — Programação fundiária — Créditos e Cooperativas — Finanças Públicas.

Primeiras atividades produtivas


Seria contrariar a vocação econômica do povo se, nas regiões de Barra do Corda,
as primeiras atividades da produção e da economia tivessem nascido fora da sementeira da
Agricultura e da Pecuária.
O cultivo do algodão, arroz, feijão, mandioca e do milho, constituíram as razões
fundamentais dos desbravadores que, aos poucos, foram habitando com seus familiares os
nossos rincões.

Colônias antigas
Anos após, quando abertos os primeiros caminhos de tropas, e desobstruído o
Mearim, é que o excedente de nossa produção passara a ser gradativamente exportado para
povoados vizinhos. Foi o início do ciclo da produção de subsistência.
A notícia mais antiga que se tem na História do Maranhão sobre a Colônia com
fins agrícolas nas regiões de Barra do Corda (ano de 1831), é a que notificamos sob o título de
Fazenda Agrícola de Maciel Parente: — Na confluência do Mearim com o rio Corda,
"desenvolveu-se rendosa cultura de algodão e fora logo depois desta época o início" de larga
plantação que se desenvolveu no Estado do Maranhão.
A mão-de-obra utilizada para os citados trabalhos agrícolas (vide cap. sobre os
Negros em Barra do Corda) foi em sua maioria integrada de escravos oriundos do Baixo
Mearim.
Não há registros que Justifiquem a decadência de tão arrojado projeto, que aliás
antecedeu à fundação do povoado das Missões.
Ainda em relação a colônias antigas, ensina-nos César Augusto Marques, em seu
Dicionário Histórico p. 206, que a "primeira Diretoria Parcial de índios do Município de Barra
do Corda foi fundada em 1847, contendo cerca de 1.270 índios distribuídos por sete aldeias".
Sabe-se que Manoel Rodrigues de Melo Uchôa, que já se encontrava então com 12 anos na
Região, foi o seu primeiro encarregado.
Segundo Eloy Coelho Netto, em Geo-História do Maranhão, p, 36, ali teria se
originado a Colônia de Dois Braços, situada no lugar do mesmo nome na freguesia de Santa
Cruz em Barra do Corda. Matriculava mais de 500 índios. O território da colônia não se
encontrava medido ou demarcado. A área aproveitada era de 18 quadras, com cerca de 100
braças para cada um; haviam cinco prédios, uma capela e cinco casas, sendo uma delas na
própria vila.
Com relação à colonização e aos produtos cultivados, assinala que plantavam
"algodão, mandioca, arroz e milho e que houve safra de mais de 500 arrobas de algodão".
Finalmente conclui o historiador que a colônia em apreço era dirigida por Fr. José Maria de
Loro. Portanto, a Fazenda Agrícola de Maciel Parente e a colonização indígena assinalaram as
primeiras tentativas de colonização em Barra do Corda.

Apogeu Econômico
A cultura do algodão no Maranhão vem de Portugal, conforme Gaioso, em seu
respeitável Compêndio sobre os Princípios da Lavoura no Maranhão, a partir do ano de 1760.
O mesmo Gaioso registra, para a história da nossa economia, que os administradores da
Companhia Geral de Comércio de então, identificavam já a fácil produção de arroz que existia
no país, "conhecido como arroz vermelho chamado de terra". Para melhorar e "multiplicar os
ramos da -cultura", assinala o historiador, foi introduzido o arroz branco, da Carolina do Norte,
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em data de 1765. Diz Gaioso: "A glória desta plantação, pertence, sem contradição, ao
administrador da Companhia, José Vieira da Silva".
O incentivo à plantação, expansão ao ponto de exportar-se o milho e a mandioca,
surgiram à mesma época sob o patrocínio da Companhia de Comércio do Maranhão.
Desenvolveram-se nos vales dos rios Itapecuru, Mearim, Pindaré e outros, várias
colônias com fins de subsistência das populações que surgiram naturalmente e se expandiram
do Norte para o Sul, fortalecidas na mão-de-obra dos escravos e, em certas décadas, auxiliadas
pelos índios.
O apogeu econômico na Província do Maranhão se iniciara a partir dos anos de
1840 e se prolongara por várias décadas, partindo do litoral para os sertões.
Influíram no fenômeno lutas e conflitos, tanto no cenário interno como no
internacional, e, como consequência, aumentaram a nossa produção agrícola, promovendo a
elevação da balança comercial e o nível de exportação.
Basta lembrar que não se apaga na História da América a Guerra Civil Americana
(1861-1865) quando a rivalidade econômica e a questão da escravidão jogaram os estados do
Norte contra os estados do Sul.
Nos primeiros se haviam desenvolvido a indústria e o comércio, enquanto que,
nos Estados do Sul, a economia básica era a agricultura. Se no Norte a mão-de-obra se formava
da casta branca reforçada de imigrantes europeus, no Sul, milhares de escravos de origem
africana sustentavam a produção e a riqueza agrícola.
Os estados do Sul queriam se separar dos estados do Norte. Esta guerra, que ao
tempo custou mais de 8 bilhões de dólares e levou à morte mais de 500 mil vítimas, chamou-
se de Secessão.
As consequências deste conflito atingiram os vários continentes, especialmente a
América do Sul, onde se verificavam definições no campo da economia e da sociedade, dado a
mudanças que se processaram com a formação do Partido Republicano dos Estados Unidos, a
consequente eleição de Abraham Lincoln, favorável à abolição da Escravatura e contrário à
separação dos estados. Seus ideais venceram, mas ele não sobreviveu.
Quando se festejava o final da luta, num teatro de Washington, um escravagista
fanático, friamente, o assassinou.
Entrementes, no Maranhão se iniciava o apogeu econômico. O Jornal O País, de
propriedade do grande Temístocles Maciel Aranha, a partir de 1863, encarregava-se de
difundir o crescimento da economia maranhense. Sobre a catástrofe americana descrita dizia:
“É certo que os males de uns folgam os outros...” Referia-se a fratricida Guerra dos Estados
Norte-Americanos e aos países produtores de algodão".
Abolida a escravidão negra na Inglaterra e nos Estados Unidos, faltava a produção
do algodão nas grandes potências e, dizia O País: "os países que se dedicam à cultura do
algodão colhem dele fabulosos lucros e redobram de esforços para aumentar a sua produção".
No Brasil, especialmente no Maranhão, "como grande produtor deste gênero,
houve um bom quinhão na partilha dos lucros das grandes produções que se iniciavam..."
A lição é do professor Jerônimo Viveiros: "os Estados Unidos resolveram o
problema da liberdade de seus escravos e a, Inglaterra viu-se privada de seu maior mercado de
algodão. A indústria de tecidos dos ingleses era ameaçada de colapso. Houve como
consequência a alta de preços da matéria-prima. Confirmavam-se os benefícios para o
Maranhão, que se tornava o segundo produtor de algodão no País. Este apogeu econômico es
tender-se-ia aos anos de 1880".
As Secas. Quem, no Brasil, especialmente no Nordeste, não ouviu falar das suas
consequências; dos dramas da fome e da sede, que têm levado milhares de brasileiros ao
sofrimento e à dor, incluindo nisto, as mudanças das populações para outras regiões?
Entre os estados da Federação, o Ceará tem sido o palco maior deste drama. O
regime irregular das chuvas é o fator primordial das secas.

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O êxodo de 1877
Fenômeno periódico que, nos idos de 1877, chegaria ao ponto máximo de
devastação: a agricultura se aniquilara: sede, doença e fome caíram sobre os cearenses.
Os rebanhos de bovinos quase se extinguiram, ficando estimados em pequena
fração do existente. Era a seca do Ceará ou a seca de 77. Um marco na História de Barra do
Corda, que já então era considerada próspera vila, situada entre dois dos mais promissores
centro urbanos da Província — segundo Eloy Coelho Netto em Geo-História do Maranhão—p.
179: "a Vila da Chapada e Caxias, mais promissora".
Reforçamos a importância do ano de 1877 que assinalou a seca do Ceará, citando
Aderson de Carvalho Lago em sua obra Pedreiras. p. 8: "Foi grande a importância para
Pedreiras, pois, àquele tempo (1877) ali chegaram mais de cem famílias nordestinas,
perseguidas pela seca".
O desenvolvimento se estendeu por todo o vale do Alto e Médio Mearim e diria
que milhares de famílias habitaram, povoaram e iniciaram o processo de colonização natural e
de desenvolvimento às margens do Mearim, surgindo nesta década ou a partir dela, os
seguintes e tradicionais lugarejos, de Pedreiras para Barra do Corda: — Margem Leste: São
Raimundo, Cazuza, Bom Lugar, Canas, Angelim, Axixá, Pombal, Desordem (Santa Vitória),
Sapucaia, Santana, Tarumã, Bebedor dos Pilões, Coco do Castro, Pedrinhas, Imbaubinha,
Euclides Borges, Pedro Borges, Recurso, Cocai Grande, Facão, Macaco, Talhado Grande,
Cocalinho, Aldeia, Uchôa, São José dos Dodôs, Mandís, Cigana, Cana Brava, Marabá, Sta.
Bárbara, Rodrigues, Belo Horizonte, Folguedo e pelo lado Oeste — Transval, Rio Novo,
Cocalinho, São Sebastião, Tira-Leite, Lençóis, Três Bocas, Ma-rianópolis, Folha Miúda.
Utensílio, Bebedeira, Santa Maria, Santa Filomena, Cajueiro, Palmeiral, Volta das Mulheres.
Verdum, (Verdã) Pontal Oeste, Furo da Pipa, Militoa, Santa Vitória, Três Rios. Tarumã, Monte
Castelo — Antigo Pilões dos Araújo e dos Navas, Periquito, Tamburil, Bela Vista, São José,
Prado, Talhadinho, Conduru, Lagoinha, Grota Funda, Brutos, Suspiro e Rodrigues.
Alguns anos mais tarde, já existia às margens do Mearim, neste trecho a grande
civilização, oriunda da seca do Ceará, vivendo no oásis do Alto Mearim, descrito pelo
memorialista Dunshee de Abranches, que em companhia do coronel Epifânio Moreira,
"cearense da Gema", viajava de Barra do Corda a São Luís em gozo de férias: "Ainda guardo
vivas na memória as recordações destes dias felizes: soberbas florestas virgens, serranias de
cedros, vales fecundos e sombrios, ranchos alegres e sítios pitorescos, rios piscosos e arrozais,
velhos casarões coloniais, capelinhas e cruzeiros, roças e roçados, algodoeiros em flor,
canaviais auriverdes". (A Esfinge de Grajaú, p. 199).

Os efeitos de 1888 e 1889


As primeiras consequências da liberdade dos escravos na Província do Maranhão,
como em muitos outros rincões brasileiros, foram maléficas: "desorganizaram o trabalho
agrícola". Um ano após, os efeitos do advento da sonhada República foram mais graves:
"fizeram recair sobre o Estado obrigações" que terminaram de maneira séria "provocando a
crise econômica" que se prolongou "por um quarto de século no Maranhão", {vide Jerônimo
Viveiros em História do Comércio do Maranhão).
Os dois fatos históricos, que são marcos na vida nacional, não se contestaram,
pelo contrário, progrediram e se consolidaram. Mas o seu preço foi pago pela falta de preparo
de mão-de-obra que, ao tempo, substituísse a dos escravos, no que tange a agricultura e pela
consequente queda da economia maranhense era toda a sua plenitude, considerando-se que a
receita do Tesouro se fundamentava, como ainda hoje, no resultado da produção oriunda dos
campos.
Caía bruscamente a receita Estadual e aumentavam sensivelmente as despesas
para a manutenção das obrigações do Governo, na sua nova fase. Sepultava-se o Império e
nascia a República.

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É indispensável o registro na História de Barra do Corda, dos homens que aqui se


fixaram, vindos do Nordeste brasileiro e das vilas vizinhas e mais antigas dos sertões
maranhenses, desde as primeiras atividades, passando pelas colônias antigas, apogeu
econômico, êxodo de 1877; estendendo-se ao drama da Abolição da Escravatura e à
Proclamação da República.
Sem dúvidas, há claros e omissões não propositados. O que consta é que se
extraiu do Arquivo Público do Estado, dos Cartórios de 1º e 2º Ofícios da Comarca: uma
amostragem das figuras que se fixaram em Barra do Corda, exercendo as atividades mais
variadas no campo social, econômico, político e cultural da terra, definindo a sociedade barra-
cordense, a gente cordina na expressão mais poética, decantada por Olímpio Cruz (vide
relação publicada no Jornal O Norte, de 28/11/1903).

A civilização do Boi e do Couro


Para se registrar a Civilização do Boi e do Couro, necessário se faz falar dos
nossos sertões, que, no Maranhão, partem de Pastos Bons, às unidades de Mirador, Picos.
Porto Franco, Loreto, Grajaú, Balsas, Riachão e Carolina, entre outras. A Barra do Corda se
encontra neste cenário. Aqui e lá, há ainda, como antes, muita terra por cultivar; espaços por
habitar, distantes, muito distantes daquele que, segundo Maranhão Sobrinho, "vive
escarpando as rochas na agonia do Sol...:" — O mar.
Hoje, a tecnologia, o crédito, as cooperativas, com sua mão-de-obra especializada,
transformam os ínvios sertões também em grandes centros da produção agrícola. Porém,
naqueles pioneiros tempos dos séculos passados, ali, viviam homens que formavam uma
civilização diferente, oriunda dos estados nordestinos: que trouxeram consigo as sementes das
atividades pastoris: entravam os exploradores, tendo deixado, no outro lado do Parnaíba, as
tristezas das secas e a rigidez das caatingas, empunhando entre nós, desejos de progresso,
destemor e audácia incomensuráveis.
Tangerinos — já se disse quando se descreveu sobre a Balaiada. — Tocavam o
gado à frente e seguiam os caminhos que a boiada fazia. Um rancho aqui, uma morada ali e
um casebre acolá. Em todos, um curral em frente ou ao lado de uma varanda grande, onde se
armavam as redes para os pernoites dos boiadeiros, que contavam uns aos outros —
hospedeiros e hóspedes — as aventuras das viagens: as canseiras do Sol causticante; sonhos e
desilusões daqueles que implantavam a civilização sertaneja baseada no "Boi e no Couro". Era
também o vaqueiro, multo bem definido por Mílson Coutinho, nos cantos da sua Coelho Neto:
"Senhor do sertão, capitão por conta própria, trajado de gibão de couro" que inicialmente
"atroara nas cáatingas do Piauí para aboiar depois nas campinas verdes do Maranhão".
Entre as vilas e os arraiais sertanejos lembrados e em florescência, a partir dos
anos de 1854, plantaram-se pequenas, médias e grandes fazendas de criação de gado vacum.
Chapadões de vegetação variada, o sertanejo, a sua figura maior, sempre as
definiu a seu modo. Ora dizendo-a "levada de serra", para pequenas montanhas; "brejo", para
terreno molhado e de pequenas nascentes revestidas de bacabeiras, burutis e buritiranas:
grandes "baixões", carrascos, capoeiras e capoeirões onde predominavam árvores de grande
porte; cerrados, agrestes e caatinga, ornados do cajuí, da fava d'anta, do barbatimão (que In
tóxica o gado), do piqui e do piquiá.
Assim era o Sertão, que ainda guarda multo de sua fisionomia, em que pese a
devastação que o homem lhe imprime e tem Imposto no decorrer de quase dois séculos.
Ao lado de Euclides da Cunha, Raimundo Lopes, em Uma Região Tropical,
conceitua bem o sertanejo: diz que ele difere dos outros tipos maranhenses. Assegura: "O
Sertanejo do Chapadão é ambicioso e rude; conserva-se indiferente, como produto lídimo da
elaboração étnica interior, cujo impulso principal veio do São Francisco, do Sul".
O Maranhão do Norte e o Maranhão do Sul. Civilizações diferentes e desligadas.
Na do Norte, predomina a influência direta dos europeus. O incremento do comércio
português, dava as mãos às indústrias que viriam a ser implantadas, como recursos para a

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sobrevivência da Província, após a hecatombe econômica. No Sul, o isolamento. As limitações;


a estreiteza dos horizontes para o desenvolvimento, necessidade da exportação do Boi e do
Couro, cujo rebanho era dos mais promissores numericamente.
Este desligamento provocava grande prejuízo ao gado. É que não se pode criar
sem "o sal". O caminho era desembarcar em Barra do Corda, cerca de 20.000 sacas por ano e
daí, seguir sobre costa de animais, para os altos sertões: Grajaú, Imperatriz, Carolina, Riachão,
Balsas e dezenas de vilas, arraiais então em formação.
A ligação dos maranhões, do Norte ao do Sul. eliminando distorções e
promovendo a integração do povo maranhense, facilitando a exportação dos produtos,
resultado do trabalho e dos esforços dos sertanejos; aumentando a balança comercial de
exportação do Estado e outros benefícios, levaram a ideia ao grande sonho que nunca passou
de sonho, da construção da Estrada de Ferro Central do Maranhão ou Central Maranhão, que,
se construída, teria ligado São Luís ao Sul do Estado, pondo em contato as populações de
Pedreiras, Barra do Corda, Grajaú, Porto Franco, Balsas, Loreto, Carolina, Riachão e muitos
outros pequenos e médios centros urbanos com a civilização ainda no último quartel do século
XIX.
A ideia nascera na Monarquia, na presidência de Olímpio Augusto Gomes de
Castro (1873), às vésperas da elevação de Barra do Corda à categoria de cidade.
Para os primeiros estudos, foram contratados os engenheiros Ernesto Diniz Etreet
e Reinaldo Von Krigier. In loco, fizeram o levantamento e pediram garantias para o capital que
teria de custear o empreendimento.
Foi o primeiro malogro. Daí, de projeto em projeto; de Império à República,
quando chegou-se ainda a medir e definir os trechos: de Coroatá a Barra do Corda, 262 km: de
Barra do Corda a Grajaú, 137 km; de Grajaú a Porto Franco, 185 km.
Anos depois, já em 1918, Marcelino Machado levara o assunto à Câmara Federal
e, de lá, de mão em mão, de projeto em projeto, morreria nas eleições Presidenciais de 1950,
quando o então candidato da Presidência da República, Brigadeiro Eduardo Gomes, em dois
discursos, um em São Luís e outro em Carolina, assumia o compromisso de construir a
Tocantina e o Porto de Itaqui. Perdidas as eleições para Getúlio Vargas, morreram os
compromissos.
Décadas depois — é a história contemporânea — Dr. José Sarney, que se elegera
Governador do Maranhão (em 1965) muito colaborara na construção do Porto do Itaqui e
decidira na construção do trecho final da Estrada de Ferro que liga São Luís ao Tocantins. Não a
Tocantina — a Estrada de Ferro Central do Maranhão — mas a Estrada do Carajás, que sem
dúvida, responderá pelo grande crescimento do Maranhão do futuro. Lamenta-se que seu
traçado é outro. Ao invés de beneficiar uma região interna do Estado, o seu coração, a sua
faixa central, protege e cobre o Oeste Maranhense.
Valeram, a intenção e a obra. Mas permanecem e em vários lugares, vilas,
povoados pequenos, a civilização do Boi e do Couro, implantada faz dois séculos pelos
nordestinos.
A sociedade de Barra do Corda se formou em grande parte desta gente sertaneja,
oriunda da Chapada, de Balsas, Carolina, Riachão, Loreto e muitos outros centros, semente de
honradez, de coragem, de altivez dos autodidatas que fizeram a nossa história.

As primeiras indústrias
As primeiras indústrias em Barra do Corda foram manufatureiras.
Testemunhemos os fatos com depoimentos de dois grandes memorialistas e historiadores do
Maranhão.
Era o ano de 1888, Dunshee de Abranches deixa São Luís, Capital da Província,
para ser Promotor Público em Barra do Corda, então próspera vila. "Depois das emoções do
mar, com o boqueirão e as tropelias da pororoca, sente que o Mearim se estreita até a Vila de

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Pedreiras". De lá, em companhia de um guia especialmente encomendado para lhe fazer


segurança, vem a cavalo pela 1ª vez a Barra do Corda.
São suas palavras: "Súbito ao alcançarmos uma encosta, surgem aos meus olhos
maravilhados, no meio de um lindo vale, uma centena de tetos vermelhos em vez de palhoças,
que constituíam até ali a casaria dos povoados que havíamos percorrido. Retirantes cearenses,
expelidos de sua amada terra natal pela fome e pela sede, deixando-se naquele rincão
fertilíssimo e farto, tinham ensinado aos filhos do lugar os segredos da cerâmica. Pequenas
olarias se multiplicavam do dia para a noite pelas margens dos rios sertanejos".
Nada se deve acrescentar à beleza do texto, à descrição impecável do emérito
escritor, que na emoção da chegada à Barra do Corda, onde pontificou na inteligência,
coragem, brilho e lisura, do que o testemunho de que os nossos fundadores haviam nos
ensinado a Implantação das primeiras indústrias manufatureiras para construir as próprias
casas de residência.
Já desde os anos de 1856, anotava César Marques: — "Há em Barra do Corda 7
engenhos de madeira, sendo 5 para o fabrico de rapadura e 2 para o de aguardente,
produzindo um deles, trezentas arrobas de açúcar e 2.500 frascos de aguardente" (p. 106). À
página 107, completa: "No ano de 1863, Barra do Corda viria a possuir 123 casas, das quais só
17 eram de telha, e tinham duas praças..."
Para a construção de tais casas, foram necessárias além das manufatureiras de
cerâmica ou olarias, as de carpintaria, ferreiros, marcenaria, e outras, indispensáveis aos
nossos primeiros passos no domínio da urbanização, enquanto que, paralelamente, surgiam os
engenhos à tração animal, para o fabrico da rapadura, açúcar e aguardente. Somavam-se aos
nossos primeiros centros de indústrias, os curtumes de couro, pois a pecuária, dada a grande
influência das operações cora os altos sertões, transformava as regiões de Barra do Corda num
grande celeiro de produção do gado vacum, na mais legítima e pioneira sistemática de criar "a
solto".
Porém, Barra do Corda é repensada aqui na sua história, não como um suposto
"continente" que teria florescido em meio ao Oceano Atlântico: a Atlanta. Fica disposta no
coração do Maranhão, não Isolada, nem independente dos fatos que se processavam no
século XIX, em todos os seus quartéis e dimensões sócio-culturais e econômicas.
Pesquisando veremos, no âmbito industrial, que nos primeiros anos da República,
ocorreu uma hecatombe econômica na administração pública do estado, com o
estabelecimento de impostos, contestados pelo comércio e pela indústria, de tal sorte que, no
final do século (vide História do Comércio no Maranhão) "os municípios maranhenses se
encontravam na miséria, 10 anos após a Proclamação da República".
Anote-se que, neste transe, haviam 56 municípios, já incluindo Barra do Corda,
promovida a vila à categoria de Cidade, então, recentemente instalada. Entre os mais
desenvolvidos, se encontravam Caxias, com três fábricas de tecidos, cuja matéria-prima, o
algodão, quase todo saía das roças de Barra do Corda.
Pelos fatos, analisemos que o Maranhão sofria decadente, de maneira conjuntural
e não a Barra do Corda, dele Isolada: notadamente no campo do comércio e da indústria, que
por si sós, não podem ser isolados pela própria natureza do intercâmbio que a suas práticas
impõem que se façam.
O comércio e a indústria dependiam dos produtos primários. Aquele, vendia e os
trocava por outros de igual valor; a segunda, a indústria, os beneficiava. Assim, até o meado da
década de 1880, final do apogeu econômico na Província. Barra do Corda prosperava a passos
largos. Alimentava o seu mercado interno e consumidor e vendia para Pedreiras, Codó, Caxias,
Mirador e outros centros, o excesso da sua produção. Eram o algodão, o milho, a mandioca, a
farinha, a rapadura, a aguardente, o couro curtido e muitos outros de menor monta,
beneficiados com a ajuda do escravo.
Eis que, a partir do ano de 1885 (vide a Catástrofe Agrícola e a Loucura Industrial,
na História do Comércio do Maranhão), libertavam-se os escravos sexagenários e extinguia-se

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a escravidão no Brasil (1888), despreparado como de resto ocorria em todas as nações, para
enfrentar os prejuízos dos altos investimentos que se tinham feito nas décadas anteriores na
compra de escravos, não só das colônias internas, como nas aquisições internacionais, (vide
capítulo sobre a Escravidão). É que a libertação era compulsória, sem indenizações, e, aos
prejuízos, somavam-se outros, da própria falta de substituição da mão-de-obra no campo,
principalmente.
Veio o remédio Improvisado. A corrida sem par para a Indústria. Malgrado os
esforços iniciais de uma indústria que só poderia beneficiar, mesmo manufatureira, produtos
não importados. Onde colhê-los? De onde tirá-los, senão dos campos dos roçados, dos pastos
da própria Província?... Quem vinha plantando, pastorando, colhendo os bens de nossa
produção, senão o braço escravo? Em sua maioria, no momento então, liberto? "Era uma
entidade que não existia economicamente falando", ensina-nos Viveiros em seu memorável
ensaio sobre o Comércio do Maranhão.
Foi assim: "70% dos engenhos de cana-de-açúcar e 30% das fazendas algodoeiras"
fecharam as suas portas.
Como poderiam surgir com estabilidade as Indústrias maranhenses? Os engenhos
e as fazendas, após 88, vieram à falência, foram a "leilões'' por preços insignificantes. Grandes,
médias e pequenas empresas, arrematadas por preços equivalentes a 10% do seu valor
comercial anterior.
O dinheiro apurado, de imediato, era aplicado na instalação de fábricas. Diz
Jerônimo de Viveiros, o "Maranhão Agrícola se transformava em Maranhão Industrial".
Afirma o historiador que "esta loucura só terminaria em 1895". "Ficamos com um parque
industrial composto de 17 fábricas: — de sociedades anônimas e 10 particulares; 10 de fiação
de tecidos de algodão, entre outras; de chumbo, de calçados, de cerâmica, de beneficiamento
de arroz, de sabão, de açúcar e de aguardente.
Os Jornais da época, entre eles O Tempo, O Publicador, O Jornal da Lavoura,
disseram do caminho errado que as classes conservadoras tomaram na preferência ou opção
pela Indústria naqueles anos.
Analisemos a Barra do Corda, centro em desenvolvimento social e econômico,
como reagia a esta crise econômica das mais graves da nossa história.

A expansão Comercial
Para examinar como repercutiram, em Barra do Corda, o apogeu econômico e a
catástrofe provocada pelos efeitos da Abolição da Escravidão e a Proclamação da República na
Província, analisemos o surgimento de figuras importantes no cenário da produção, do
comércio e da indústria que antecederam aos fatos naqueles tempos, incluindo os imigrantes
que contribuíram logo depois no estabelecimento de projetos e implantações de empresas,
tanto a nível da capital como do vale do Mearim, que de maneira especial, interessa ao nosso
registro histórico..
Surge de início o nome de Martinus Hoyer. Diz o professor Jerônimo Viveiros que
ele foi "o expoente máximo da cultura intelectual do corpo comercial do Maranhão".
Mas o que impressiona e introduz este dinamarquês, assim tão expressivamente
na História de Barra do Corda, foi o grande projeto e a sua luta incansável para que se
construísse a Tocantina ou Estrada de Ferro Central do Maranhão, que teria tirado o Estado,
antes Província, do caos a que se submetera, após o seu passamento, em 1888 e 1889.
Transcreva-se aqui, sobre este vulto, o que idealizou para o Maranhão, que sem
dúvidas, teria levado Barra do Corda, como centro do Estado, ao estrelato fundamental
também nos aspectos da economia política:
"Martinus Moyer teve um sonho que não realizou. Foi a Estrada de Ferro
Barra do Corda/Carolina. Deu-lhe o Governo a concessão, estudou-lhe o
plano, defendeu-o pela Imprensa, mas morreu sem ter conseguido
interessar na empresa os banqueiros ingleses. Tivesse vivido mais alguns

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anos e talvez o Maranhão devesse mais um serviço ao grande


dinamarquês". (História do Comércio do Maranhão, p. 551).

Não ficara porém, somente nos projetos e sonhos a participação dos imigrantes,
na vida de Barra do Corda. Ainda no período Colonial, começou de maneira numericamente
insignificante, a emigração de alguns povos do Oriente Médio e Próximo, para o Brasil.
Conservou-se durante o império e explodiu, a partir da Proclamação da República.
Os Libaneses e os Sírios lideravam as correntes.
Os seus territórios foram campos de batalha que a história registrou
classicamente sob o domínio dos Turcos.
Não suportavam, Libaneses e Sírios ou sírio-libaneses, as pressões dos regimes de
suborno e coação, recorrendo à emigração para o Novo Continente, o Brasil, foi o caminho
mais fácil, a atração maior: os céus mais brilhantes e as esperanças firmes.
Imigração "espontânea". O sangue "fenício que lhes corria nas veias", já lhes
definia o comércio como profissão.
O caráter do imigrante sírio-libanês, "exaltava-lhes quanto a que eram generosos,
disciplinados, ordeiros e respeitadores às instituições".
Assim, já nos anos de 1900, com o desdobramento de suas descendências, já
ultrapassavam aos três milhões de imigrantes.
São Paulo e Maranhão eram as maiores colônias. No Maranhão, tornaram-se
proprietários de "usinas de descaroçar algodão, de fábricas de tecidos, de pilar arroz, de óleos,
de sabão, e outros ramos da indústria e do comércio.
A História do Comércio do Maranhão, ao registrar os fatos, relaciona como líderes
da colônia, em nosso meio, Eduardo Aboud, Quersa Metre, Duailibe Cia, Irmão, Duailibe Cia.
Filhos e Manoel José Salomão, que bem de perto, nos toca ante o empório que se implantou
nas regiões de Barra do Corda.
Manoel José Salomão foi, aqui, o proprietário, o comerciante e o industrial com
todos os caracteres positivos que a história lhe reservou e definiu. Trouxe a experiência, o
desejo de prosperar e servir e o fez, o quanto lhe foi possível, até o final de sua existência.

Figura 1: Manoel José Salomão

Instalou, no auto da Proclamação da República, o seu estabelecimento comercial


(na rua que tem o seu nome), que ainda nos dias atuais, guarda na sua fachada esse registro
memorável (Anexo nº 17).

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Figura 2: Calçada Alta de Manoel José Salomão

Ajudou a povoar as populações dos lugares ribeirinhos entre Barra do Corda e


Pedreiras, construindo e instalando muitas usinas de beneficiamento de algodão e arroz, cuja
produção exportava para Pedreiras e demais unidades do médio e baixo Mearim, para o que
adquirira a Empresa de Transporte Fluvial, cora pequenos rebocadores, servindo assim a vários
ramos da atividade econômica da região, vez que de volta, quer dizer, de Pedreiras a Barra do
Corda, transportava, como Já se disse, secos e molhados, tecidos e alimentava o mercado
consumidor não somente de Barra do Corda, como para distribuir em todo o sertão
maranhense.
A história do desenvolvimento econômico de Barra do Corda, muito deve a
Manoel José Salomão, cujo patrimônio imobiliário crescera a tal ponto de ser considerado
como uma das estrelas maiores dos Imigrantes que prosperaram no Estado.
O texto abaixo foi publicado pela turma da Barra e completa o livro do
´professor Galeno.
Quem foi Manoel José Salomão
Viveu 65 anos. Era sírio-libanês do vale do Bekaa, onde a capital é Zahle, um vale
fértil a 30 quilômetros a leste da capital Beirute. Atualmente a cidade de Luci concentra a
colônia brasileira no Líbano.
Em Zahle, Salomão foi jornalista e migrou para a América do Sul jovem
adolescente. A cultura sírio-libanesa de dotes e heranças entre famílias.
Ao sair de Zahle, sua esposa Oadia Moussalem era criança e só viria ao Brasil dez
anos depois.
Antes de se fixar em BDC, passou por Buenos Aires, Porto Alegre, Rio de Janeiro,
São Luís e Grajaú.
O livro BDC na história do Maranhão, de Galeno Brandes, diz que Manoel Salomão
fundou um empório comercial com as lanchas Andorinha e São José, as quais tinham
rebocadores, populares batelões.
Salomão foi grande empresário, dono de um ponto comercial pujante em Barra
do Corda que abastecia cidades do Pará e do Goiás, atual Tocantins, caso de Porto Nacional
(TO), que está a 1 mil quilômetros de BDC.
O neto José Rossine Salomão, filho de Helena Salomão, que mora em São Luís,
administra o atual patrimônio.

Sobre o empresário
Manoel José Mousalem Salomão viveu 65 anos, nasceu em 1869 e faleceu em
1934 e está sepultado no cemitério Campo da Paz.
O historiador Álvaro Braga diz que Manoel Salomão foi chefe de poderoso império
do ramo da navegação, sal e algodão na antiga Barra do Corda.
Foi vereador e grande empresário. Saiu do Líbano ainda muito jovem, motivado
por problemas de guerras religiosas em seu país de origem.

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Do relacionamento extraoficial com dona Francisca Rodrigues nasceu o filho


Ismael Salomão, que foi jornalista, deputado estadual e farmacêutico.
Com dona Oadia Moussalem, nasceram os filhos: José Benedito, Raimundo,
Manoel Urquiza, Guilnar e Helena Salomão.
O historiador Braga acrescenta que após a morte do filho Raimundo Salomão, em
1943, o império comercial iniciou seu declínio, também com a entrada no ramo algodoeiro em
Barra do Corda da firma francesa Cotoniére.
Dona Oadia ainda comandaria o espólio do velho Salomão até 27 de setembro de
1963, data do seu falecimento, em São Luís, diz Zé Rossine.
Em análise, o historiador Braga diz que Manoel José Salomão foi uma lenda em
Barra do Corda.
Em seu velório, carpideiras, chamadas também de viúvas negras, foram
contratadas para "chorar o morto", costume comum na época. E a banda Guarany
acompanhou o cortejo entoando sob o surdo e compassado soar do tambor:
- Morreu Manoel José Salomão!
- Morreu Manoel José Salomão!
Está sepultado no cemitério Campo da Paz em Barra do Corda.
*Com dados do livro 'Barra do Corda na História do Maranhão', de Galeno Brandes, dos
historiadores Álvaro Braga e Enio Pacheco e do José Rossine Salomão, que é neto do Manoel
Salomão.

A Colônia Agrícola Nacional do Maranhão


A Colônia Agrícola Nacional do Maranhão é mais que uma referência, um
subtítulo do capítulo da Economia de Barra do Corda. É um marco histórico, que define
épocas, sistemas de vida, mudanças sociais de largo alcance na formação da sociedade, do
sistema fundiário, de produção da nossa economia. Portanto, é um grande referencial
histórico.
A sua criação se processara no período efervescente da Segunda Guerra Mundial.
Vivíamos internamente o Estado Novo, instalado em 1937.
A 22 de agosto daquele ano de 1942, o povo levou o Governo a reconhecer o
Estado de Guerra.
Cinco dias depois, a 27 de agosto, o presidente Getúlio Vargas criava a Colônia
Agrícola Nacional do Maranhão, através do Decreto-Lei nº 10.325 de 27 de agosto de 1942.
Nascia assim no Estado do Maranhão, governado pelo interventor Dr. Paulo Ramos, a Colônia
Agrícola Nacional do Maranhão, a ser instalada no município de Barra do Corda, que à época
tinha como Prefeito Municipal o cidadão Jamil de Miranda Gedeon.
Não comporta no nosso trabalho a história detalhada da Colônia Agrícola Nacional
do Maranhão em Barra do Corda. Por tudo que foi feito e pelo que se possa dizer da
importância, os estudiosos do futuro, sem dúvidas, analisarão com profundidade os seus
resultados, os benefícios que proporcionou, ao lado dos erros que possam ter sido cometidos,
na determinação de seus limites, nas estratégias e técnicas adotadas pelos seus dirigentes e
órgãos encarregados de sua programação.
Digamos, porém de sua finalidade, da nomenclatura por que iria atender, neste
meio século de sua existência, dos benefícios que estão aí aos olhos de todos que sabem ver
com as luzes da Justiça, que não enxergam só o lado negro da vida.
"Destinava-se a receber e fixar, como proprietários rurais, cidadãos brasileiros
reconhecidamente pobres que revelassem aptidão para os trabalhos agrícolas, e
excepcionalmente, agricultores qualificados".
As terras para o estabelecimento da colônia foram doadas pelo Governo Estadual,
através dos atos seguintes: Decreto-Lei nº 618 de 25.06.42 ........... 300.000 ha — Decreto-Lei
nº 752, de 15.06.42 .......... 70.000 ha.

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Historicamente sabe-se que a primeira área se situou entre os rios Mearim e


Corda e a segunda foi parcialmente desprezada, de modo que a área utilizada, somente atingiu
a 330.000 ha e não 370.000 ha, na forma dos Diplomas Governamentais.
Vivíamos um Estado Ditatorial; os atos do Governo eram através de Decretos-Leis,
vez que o Poder Legislativo, em todos os níveis, havia sido extinto. Tais detalhes podem ter
facilitado as desapropriações que se processaram, que, via de regra, custaram sacrifícios,
desilusões e desencantos pai a muitos proprietários de terras, cujo passado remontava aos
primeiros ocupantes e habitantes das regiões de Barra do Corda, desde os anos de 1835.
Porém, veríamos depois, nada foi em vão. A Colônia Agrícola Nacional do
Maranhão, em Barra do Corda, penetrou fundo na vida do povo. De início, custou muito
sacrifício dos seus dirigentes e de sua equipe técnica, formada de homens novos e experientes,
alguns que cedo constituíram famílias em nosso meio e começaram a participar da vida da
comunidade, não só nos aspectos técnicos mas nos sociais e políticos.
O seu primeiro dirigente, ou administrador, foi o agrônomo Dr. Eliezer Rodrigues
Moreira, descendente de família numerosa e de alta representação no cenário social,
econômico e político do Maranhão. Seu trabalho foi realmente de importância fundamental
em Barra do Corda, no campo e meio urbano. Além de implantar a infra-estrutura da colônia,
na substituição dá tração animal pela mecânica; de construir uma rede de Escolas Rurais (17)
nos povoados de então, da construção de pequenos açudes no interior da área da colônia;
instalação de um Posto de Serviços Médicos para atendimento dos colonos; Iniciou a abertura
de estradas com obras de arte que ainda estão aí, como as pontes sobre o rio Cigana (atual BR
226), sobre o rio Flores (atual BR 226) e sobre os rios Mearim e Corda, permitindo a expansão
e o crescimento dos bairros Tresidela e Canadá, hoje, com população o sêxtuplo da do centro
Urbano, quando do estabelecimento da colônia.

Figura 3: Caranguejeira - 1946. Antiga ponte de madeira que ficava na ponta do Guajajara, conhecida como
Caranguejeira. Feita pelo prefeito Mundico Lima em 1946. Foto: Leonardo Raimundo da Silva.

Entre os benefícios que, já em 1946, haviam sido instalados pela Colônia Agrícola
Nacional do Maranhão, em Barra do Corda. (vide Relatório de 31 de dezembro de 1946),
constavam as instalações de uma grande oficina mecânica, indústria madeireira ao tempo
considerada a melhor da Região do Alto Mearim, fábrica de farinha de médio porte, indústrias
de beneficiamento de arroz e milho e serviços de navegação fluvial de bom nível. Estes e
outros melhoramentos, processados numa cidadezinha sertaneja na década de 40, logo após
os traumas que o País vivia do final da guerra, celebraram mudanças radicais para melhor no
comércio, na produção agrícola e na indústria de Barra do Corda.
A Colônia de Barra do Corda foi fundada pela antiga divisão de Terras e
Colonização do Ministério da Agricultura, passando depois por outras siglas, como IBRA,
SUPRA, e, atualmente, INCRA, quando se mudava a nomenclatura para Núcleo Colonial de
Barra do Corda, Projeto Integrado de Colonização e Reforma Agrária.
A história da Colônia Agrícola Nacional do Maranhão registra, a partir de sua
fundação, o quadro seguinte de seus administradores: 1 — Dr. Eliezer Rodrigues Moreira. 2 —

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Osvaldo Lamartine de Farias, 3 — Dr. Eliezer Rodrigues Moreira, 4 — Dr. Eudes Simões, 5 — Dr.
Antônio Luis Fonseca, 6 — Belizário Jacinto, 7 — Dr. Theobaldo Gomes Parente, 8 — Dr.
Antônio Nogueira Neto. 9 — Dr. José Maria Madeira. 10 — Fernando Falcão, 11 — Dr. Antônio
Augusto Nascimento Machado, 12—Dr. Antônio Gomes Cordeiro. 13 — Zenuto Arnaldo Leão
Alencar, 14 — Geraldo Lopes (atual).

Programação fundiária
A programação fundiária, na forma prevista pelo Estatuto da Terra, tinha os seus
componentes básicos; o simples fato de ter o INCRA como órgão executor, não incluía a
participação de outros órgãos e entidades no processo, que, registre-se, tem sido em todos os
sistemas e governos, um grande desafio. Assim, exigiu-se a participação do Crédito Rural
através do PROTERRA, a extensão rural, da saúde, da fundação, das administrações municipais,
tendo como base a terra, sobre "a qual se sustentou sempre o empreendimento" como um
todo.
Faça-se Justiça: A Colônia Agrícola Nacional do Maranhão em Barra do Corda,
deixou um respeitável saldo positivo no desenvolvimento social, econômico e cultural do povo,
em que pese o atraso com que chegaram ao empreendimento os grandes vetores
desenvolvimentistas da energia, do crédito e do meio de transporte, ainda não definidos a
contento. Mesmo assim, o crescimento saiu dos campos e penetrou nos centros urbanos. É
certo, como desordenado; como desarticulada tem sido a programação de assistência ao
homem do interior. Neste aspecto, não se nega o agravamento dos problemas na área de
saúde, de abastecimento d'água e educação, não somente no INCRA, mas em todo o município
e, por extensão, em todo o estado do Maranhão.
No campo eminentemente fundiário, a Colônia, Núcleo e Projeto foram capazes
de assentar 7.870 famílias sendo 5.670 lotes parcelas e 22.200 lotes urbanos.
Nos dias atuais, houve Extensão de Zoneamento Urbano, tanto provocado pela
Prefeitura Municipal de Barra do Corda, como promovido pelo próprio INCRA, de tal sorte que
a área urbana da cidade nos limites Norte. Oeste e Sul, foi totalmente loteada e nela se
constroem como Zona Urbana, verdadeiras vilas ou bairros, de grande densidade populacional.
Na Zona Leste, a extensão foi promovida pela Prefeitura, transformando o Bairro
Altamira, num grande centro populacional.
De maneira resumida e extra-oficial, anotamos os dados quanto à distribuição da
população do centro urbano de Barra do Corda:

Área da antiga Colônia Agrícola —-


Tresidela e adjacências de Barra do Corda 4.189 resid. = 17.943 hab.
(setores do Norte-Sul e Oeste):
Altamira: Lei Municipal nº 02/67 I — 970 resid. = 4.170 hab.
II — 855 resid. = 2.630 hab.
Projeto de Extensão de Zoneamento Urbano - 4 de Julho de 1967
Total 6.014 resid. = 23.843 hab
Cidade antiga 1.790 resid. = 6.350 hab.
Periferia 403 resid. = 2.015 hab.

A evolução da população da cidade de Barra do Corda, sua distribuição nos


setores urbanos desde os anos de 1835 até o presente, se configura quanto à origem das
terras da maneira seguinte:
- INCRA: 4.189 lotes com residências, num total de 17.043 habitantes.
- PREFEITURA: 1.325 lotes com residências, num total de 6.800 habitantes.
- CIDADE TRADICIONAL: 1.790 lotes com residências, num total de 6.350
habitantes.

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- Favelas e pequenos projetos com 403 lotes e 2.015 habitantes.

Mais de 50% da população de Barra do Corda está situada na área do Projeto


Integral de Colonização, antiga Colônia Agrícola Nacional do Maranhão.
Por si só justifica a importância da colonização oficial em Barra do Corda, neste
aspecto que não fora o seu objetivo fundamental.

Créditos e Cooperativas
Onze anos após a fundação do povoamento Missões "organizou-se no Maranhão
um estabelecimento de crédito", registra a História. Chamou-se Banco Comercial. Seus
Estatutos foram à luz em 26 de abril de 1846. Neste capítulo, já se disse do grande
comerciante Martinus Hoyer e da sonhada Via Férrea que teria, desde o século passado, ligado
o Sul ao Norte, se construída. No desenvolvimento do capital e do crédito, não ficou no
domínio dos sonhos. Ao lado de outros investidores, plantou esta semente.
Antes, os grandes comerciantes financiavam as atividades econômicas das classes
médias e menores. Imagina-se de que o comerciante ganhava duplamente. Nas operações de
troca e, financeiramente, de custeio e manutenção dos serviços da produção e,
posteriormente, da compra dos mesmos produtos e dos seus transportes para os mercados
consumidores.
Isto não constituía demérito da classe. Ao contrário, as operações eram mais
líquidas: os registros simples e seguros e criava-se entre as classes produtoras e o operariado,
um ambiente da mais completa paz, confiança e solidez.
Aqui era Barra do Corda, no primeiro quartel da fundação do povoado, que
ultrapassou o ano de 1854, haviam grandes comerciantes, todos eles funcionavam também
como agentes financiadores, só que o adjetivo era "fornecedor".
Os produtores recebiam adiantamento em moeda circulante. Eram debitados e
pagavam com a produção de sua lavoura ou de sua criação, os adiantamentos recebidos. Havia
um dever tácito: a sua produção ficava ligada ao compromisso não somente de pagar o débito,
mas de vendê-la ao comerciante que lhe havia financiado ou fornecido antecipadamente. Em
muitos casos, este adiantamento ou fornecimento se processava através de mercadorias.
Este era o sistema que antecedeu ao da existência de Instituições de Crédito era
Barra do Corda.
Com base no Jornal O Norte, órgão de grande circulação nos sertões do
Maranhão, transcrevemos abaixo os comerciantes da praça de Barra do Corda, que agiam
também como empresas fornecedoras de capital na forma historicamente analisada:
O Norte — 28 de novembro de 1903
01 — Manoel José Salomão
02 — Fortunato Ribeiro Fialho
03 — José Leonil da Cunha Nava
04 — Luiz Leda
05 — Abraham Beihandoini
06 — Moisés Carreira Varão
07 — Pedro Pereira Braga
08 — Frederico Figueira
09 — Salim Monsalém
10 — Vicente Reverdosa
11 — Miguel Belleis
12 — Phfiadelpho Pires
13 — Antônio Pithangor
14 — Annibal Nogueira
15 — Raimundo Primo
16 — Evencio Rodrigues Franco

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17 — Dona Rosa Monsalém


18 — Dona Anna Moreira Ferraz
19 — Dona Luiza Menezes
20 — Juvenal Dácio Sousa
21 — João Porfirio de Araújo
22 — Manoel Chaves
23 — José Honório
24 — José Patrocínio
25 — Jorge Milhomem
26 — João Ferreira do Nascimento
27 — Júlio Melo
28 — João Caetano Teixeira
29 — José Pinheiro
30 — José Chaves
31 — Joaquim Milhomem
32 — Antônio Raposo
33 — Arthur Bernadino Ayres
34 —Abílio Pereira
35 — Augusto Maranhão
36 — Vicente Henriques
37 — Manoel Teixeira
38 — Gerôncio Nava
39 — Raimundo Leonil
40 — Gelasio Franco
41 — Benedito Gomes Ferreira
42 — Zacharias de Mello Santiago
43 — Benjamim Constant da Silva

Os cidadãos acima, além de integrarem a classe produtora nos primeiros anos


deste século, na cidade de Barra do Corda, contribuíram sempre que necessário para auxiliar
na construção de obras e serviços que estivessem acima dos orçamentos do município.
Verdade se diga, no decorrer do século XX, Barra do Corda estivera sem nenhuma
organização creditícia, até que em 1967, quando governava o Maranhão o Dr. José Sarney e o
autor destas notas era o Prefeito Municipal, instalava-se na Rua Frederico Figueira, a 1ª
Agência de Banco no município. Banco do Estado do Maranhão S.A., cujos trabalhos de
implantação haviam se processado no governo do Senhor Dr. Newton Bello.
Parece que a semente de crédito, iniciada pelo Banco Oficial do Estado,
germinara bem nos canteiros econômicos e financeiros de Barra do Corda, de tal sorte que em
uma década ocorreram novas implantações: a 20 de dezembro de 1974 — Banco do Brasil S.A;
— a 03 de setembro de 1978 — Banco Brasileiro de Descontos Bradesco; — a 28 de novembro
de 1978, Caixa Econômica Federal; — a 08 de dezembro de 1979 Banco do Nordeste do Brasil
S.A.
Com a instalação das entidades de crédito em Barra do Corda, concessões de
terras em caráter definitivo por preços simbólicos e outras garantias oferecidas pelas
organizações de extensão rural e de classe, foi possível a elevação dos níveis de produção, não
somente no setor da agricultura, como no da pecuária que passara a crescer numericamente e
a melhorar na quantidade com a introdução de plantéis de melhor espécie.
Registram-se as especulações e os desvios de financiamentos concedidos, tanto
pela falta de assistência por parte dos órgãos técnicos como pela índole e o espírito nômade
dos nossos agricultores que não se tinham libertado dos hábitos tradicionais.
Independentes, a aplicação de parte dos recursos em utensílios caseiros e outros
considerados supérfluos, levaram à decadência econômica e financeira que ocasionou grandes

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prejuízos na produção, levando inúmeros produtores a não honrarem os compromissos com as


instituições financeiras.
Mas para muitos, a falta regular de chuvas provocara estiagens consideráveis, que
em certos anos ocasionaram verdadeiras "perdas de safra" agrícola.
Os anais da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de Barra do Corda,
contam dos fatos.
Desde o século passado, foi preocupação dos líderes barra-cordenses a
organização das camadas sociais em entidades de classe.
Independente da primeira União Artística Operária de Barra do Corda, que
congregava os operários de atividades liberais, como alfaiates, cabeleireiros, pedreiros,
carpinteiros, lavradores, vaqueiros e "embarcadiços", — assim chamados os operários das
empresas de navegação fluvial — incentivados pelo jornal O Norte e as autoridades do
Conselho de intendência, Câmara Municipal, os frades capuchinhos, tanto no campo da
religião como no trabalho, promoveram e fundaram entidades que, de uma maneira ou de
outra, uniam as pessoas em tomo de ideais e promoviam a fraternidade.
Mas somente a partir de 7 de setembro de 1955, é que surge a Cooperativa
Agrícola de Barra do Corda, na área daí Colônia Agrícola Nacional do Maranhão.
Inicialmente, contava com 108 associados e sua área atingia a todo o município de
Barra do Corda.
O Órgão foi restaurado várias vezes, levado a isto pela falta de educação
cooperativa de seus dirigentes e associados e ausência de pessoal técnico especializado que
gerenciasse a contento o empreendimento.
Posteriormente, já na gestão do INCRA, o órgão firmou convênio com Governo do
Estado, para que se estabelecessem as condições indispensáveis ao melhor atendimento dos
associados.
O INCRA, através de regime de comodato30, passara para a cooperativa, entre
outros equipamentos, máquina de beneficiamento de arroz, secador, grande serraria, que
levaram a empresa a um programa mais eficiente.
CIRA — Cooperativa Integral de Reforma Agrária, foi fundada a 14 de setembro de
1977. Órgão que realizou de início um grande trabalho, com programação que cobria a área do
INCRA; esteve presente na instalação ao agricultor no seu habitat. Ocorre que a falta de
recursos financeiros e o envolvimento de seus dirigentes no processo político partidário,
terminaram por comprometer a programação.
Mesmo assim, dois anos depois (1979), sua ação se estendera além fronteiras do
INCRA, de tal sorte que, de 1979 a 1992, a cooperativa passara de 1.400 associados para 3.313
(dados fornecidos extra-oficialmente pelos dirigentes da CIRA).
Com o estabelecimento de linhas de transmissão da energia elétrica para o meio
rural, surgiu a ideia de criação de um órgão específico para reunir os produtores no sentido da
utilização e ampliação da energia elétrica no meio rural.
Como decorrência, a 31 de Janeiro de 1988, fundou-se em Barra do Corda a
CERBAC, Cooperativa de Eletrificação de Barra do Corda, que, no ano seguinte, a 27-09-89,
transformara-se em CAERB, Cooperativa Agropecuária de Eletrificação de Barra do Corda Ltda,
visando a unir os sistemas em um só, levando-se em conta que o universo de beneficiados é o
mesmo: a classe produtora do meio rural.

30
Em um regime de comodato, apenas a pessoa que recebe o bem tem obrigações, que estão ligadas à
conservação do bem que é emprestado. Por esse motivo, o comodato pode ser considerado um tipo de
contrato unilateral.

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