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A exploração dos sertões e o bandeirantismo paulista

Souza, Laura de Mello e. “Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos,
nas fronteiras e nas fortificações”. In: Souza, Laura de Mello e (org.). História da vida
privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia
das Letras, 1997, pp. 41-81.
• Início da colonização e criação do Governo Geral – 1549
– Preocupação com metais preciosos
– Descoberta de Zacatecas e, sobretudo, Potosi (1545)

• D. Francisco de Sousa
– Governador Geral, 1591
– São Vicente, 1599
– Governador da capitanias do sul e superintendente das minas, 1608
– † 1611

• Projeto econômico inspirado no sistema de Potosi:


– Retaguarda agropastoril para extração de metais preciosos
– Tentativa de articulação do planalto paulista ao comércio atlântico
– Trabalho indígena, aldeamentos

– Na Bahia, auge das buscas minerais entre 1580 e 1620, abafadas depois pelo açúcar
– Fracasso desses projetos: ceticismo metropolitano em relação aos minérios, 1610-20

– Ambrósio Fernandes Brandão, Diálogos das Grandezas do Brasil, dec. 1620: as


verdadeiras minas do Brasil são os açúcares.
• A ocupação do espaço territorial: bandeirantes, pecuária e Amazônia

• Amazônia

• Reconquista luso-brasileira do Maranhão desde Pernambuco, 1620-21


• Espanha oficialmente se felicita pela iniciativa: incapacidade
• 1621: Estado do Maranhão (Maranhão, Pará e Ceará) e Estado do Brasil
– Tentativa espanhola de controlar o dinamismo da expansão português, criando Estado
à parte
– Conquista holandesa de PE isola ainda mais a região
• reforço da lógica da navegação
• 1637: expedição de Pedro Teixeira (Belém, out. 1637): 2.500 pessoas, dos quais 70
soldados, 47 embarcações
• Noção de “Ilha-Brasil”: delimitação por fronteiras naturais (mar ou lago interior)
• Antonio Raposo Tavares: 1648-1651
• Expansão das missões desde a década de 1620, Maranhão
– Jesuítas, Carmelitas, Franciscanos
• Corrente contrária: 28 missões espanholas no Solimões (Amazonas) entre a foz do Napo e
do Rio Negro
– Projeto: expansão em direção à foz do Amazonas
– Fim da iniciativa: 1709-10 (conquista portuguesa)
• A pecuária

• Linhas de expansão:
– São Vicente: Campos de Curitiba
– Bahia
• Ceará (XVI)
• via São Francisco: centro (rios Tocantins e Araguaia)
– Pernambuco
• Agreste
• Piauí (rio Parnaíba)

• Pecuária e grande lavoura: a mão-de-obra

• Tradicionalmente, historiografia afirma que o indígena contribuiu de forma privilegiada


– Adaptação relativamente tranquila à economia pastoril
– PQ? (Pedro Puntoni)
• Repetição de preconceitos e do imaginário: incapacidade do trabalho continuado
e sedentário (“moleza”, “mentalidade primitiva”, “extremada rebeldia” =
inadaptado ao trabalho agrícola
• Pecuária seria, portanto, sua capacitação “natural”
– Desconhecimento dos conflitos resultantes do contato da frente de expansão com os
grupos indígenas
• Boxer (baseado em Martin de Nantes): apesar dos excessos dos criadores, “as
relações entre os colonos e os ameríndios foram freqüentemente amigáveis
neste período no vale do rio São Francisco” e que se os vaqueiros “algumas
vezes maltrataram os aborígines e tomaram suas terras, muitos ameríndios
encontraram emprego nos ranchos”: nada mais enganoso
– Outros argumentos no mesmo sentido:
• Francisco Carlos: baixo rendimento proporcionado por um gênero de mercado
interno
• E as condições de “liberdade” existentes, atrativas para o índio (Simonsen,
Furtado, Prado Jr.)

• Maria Yedda Linhares


– Não são “terras virgens”
– Mão-de-obra indígena não é “voluntária” e nem “culturalmente adequada” ao trabalho
nas fazendas de gado.

• Luiz Mott  fazendas de gado no Piauí (1697-1772)


– População negra: 48% em 1697, 33% em 1772
– População índia, 13,5% em 1697, 5,9% em 1772
– i.e., “os índios não eram tão desejados e indispensáveis como mão-de-obra”
• A pecuária e a ocupação da terra

• Extensas sesmarias
• Séc. XVI: Casa da Torre e Casa da Ponte
• “rush” fundiário da pecuária, com auge em 1670-90
– Sesmarias: ocupação precoce, delimitação vaga (arrendamentos)
– Legislação: contínua e desrespeitada

• Francisco Carlos: 4 grandes formas de posse e uso da terra na pecuária sertaneja:


– A grande propriedade, de origem sesmarial, com exploração direta e trabalho escravo
– Sítios e “situações”, terras arrendadas por um foro contratual, com gerência do foreiro
e trabalho escravo
– Terras indivisas ou comuns, de propriedade comum (não são terras devolutas, nem da
Coroa): exploração direta, com caráter de pequena produção escravista ou familiar,
muitas vezes dedicada à criação de gado de pequeno porte
– Áreas de uso coletivo, como malhadas e pastos comunais, utilizadas pelos grandes
criadores e pelas comunas rurais
• Não havia relação direta entre tamanho e número de cabeças
– Na verdade, interesse em abranger
• Água (rios, lagoas perenes, poços e cacimbas)
• Lambedouros

• Imensas sesmarias
– Esforço em se apropriar de recursos naturais raros, e não exatamente de terras
– Frequente menção nas cartas de sesmarias de terras para criar, pastos bons ou terras
úteis confirma tal hipótese.

• (Francisco Carlos): “as imposições ecológicas determinaram, desde cedo, os traços


fundadores da paisagem sertaneja. De certa forma, os grandes domínios sertanejos
assemelhar-se-iam a desertos pontilhados de oásis de alta concentração populacional,
humana ou não”.

• Fazendas de engorda ou invernadas:


– Capoame, São João da Mata (BA); Goiana (PE)
– Feira de Santana (BA)
– Aracati (charqueadas, CE) x Pelotas (déc. 1770)

• Lucros da pecuária ficavam nas mãos dos atravessadores, os “marchantes”


– Crises de abastecimento: marchantes seguravam o boi nas invernadas, à espera de
melhores preços
– Tabelamento da “carne-verde”
• Bandeirantismo

• Vias de penetração territorial

– Tietê
• Juqueri, Jundiaí, Piracicaba, Sorocaba
• Paraná: 1º os afluentes do lado esquerdo
– Ivinheima, Pardo, Camapoan, Coxim e Taquari
• Mogi Guaçu e Pardo ... Paranaíba ... Goiás
» MG

– Paraíba, alcançado por 3 pontos:


• Afluentes próximos do Tietê
• Serra do Mar, via Parati
• Serra dos Órgãos (via Iguaçu e Inhomirim)

– São Francisco
• Pela foz: afluentes levam ao Jaguaribe, Cariri, e posteriormente Piauí e
Maranhão: pelo Porto de Folhas, leva ao centro de Sergipe e Bahia
• Via Itapicuru, Paraguaçu, pelo trecho médio do rio de Contas: exploração da
Bahia, MG, Goiás, Piauí
• Pelas cabeceiras: rio das Velhas
• Afonso Furtado de Castro do Rio Mendonça, GG 1671-75: novo esforço de desbravamento
do sertão
– Fim ocupação holandesa
– Concorrência do açúcar caribenho + crise preços
– Gastos com independência
– Fim do Império da Pimenta

• Reação à queda das rendas:


– Patrocínio das manufaturas
– Incentivo à busca mineral
• Regimento das minas revitalizado em 1677: que o governador [Roque da Costa
Barreto] o fizesse “cumprir inteiramente, ajudando e favorecendo este negócio,
de maneira que haja sempre pessoas, que se animem a continuar o benefício
das minas”

– Fundação de Colônia do Sacramento

– Eliminação dos índios (Guerra dos Bárbaros), expansão da pecuária


– Criação das Juntas das Missões: internamento, não mais “descendo”
• Questão territorial
– Busca de caminho entre Estados do Maranhão e Brasil
– Exploração do salitre do médio São Francisco
Bibliografia

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