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HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE

Capitanias Hereditárias
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CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

O declínio do comércio das Índias fez com que Portugal saísse da esfera pré-colonial e
passasse a se ver na necessidade de efetivamente explorar as terras brasileiras, para com-
pensar financeiramente o declínio das Índias. Para tanto, houve a necessidade de expulsar
os invasores – principalmente os franceses, que haviam se aliado aos indígenas locais – das
terras. Será dessa exploração portuguesa que surgirá a Capitania do Rio Grande, depois
batizada de Capitania do Rio Grande do Norte.
A exploração portuguesa deu-se, inicialmente, a partir da divisão do território em faixas
de terra. Contudo, antes da divisão, Portugal envia a famosa expedição colonizadora de
Martim Afonso de Souza em 1530. A figura a seguir ilustra o trajeto da expedição de Martim
Afonso (linha vermelha), além de ilustrar o trajeto das demais expedições. As expedições
realizaram exploração da Feitoria de Itamaracá até o Rio da Prata.
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Nesse período, ocorreu a fundação de São Vicente, no atual litoral paulista. Estrategica-
mente falando, a região de São Vicente era importante para organizar uma melhor domina-
ção da terra e para ter perspectiva econômica de exploração (que veio a ser o açúcar).
A esquadra de cinco embarcações, bem armada e aparelhada, reunia quatrocentos
colonos e tripulantes. Comandada por Martim Afonso de Sousa, tinha uma tríplice missão:
combater os traficantes franceses – que já estavam aliados aos indígenas no Rio Grande
do Norte –, penetrar nas terras na direção do Rio da Prata para procurar metais preciosos
e, ainda, estabelecer núcleos de povoamento no litoral. Portanto, iniciar o povoamento do
“grande desertão”, as terras brasileiras. Para isto traziam ferramentas, sementes, mudas de
plantas e animais domésticos.
Martim Afonso possuía amplos poderes. Designado capitão-mor da esquadra e do territó-
rio descoberto, deveria fundar núcleos de povoamento, exercer justiça civil e criminal, tomar
posse das terras em nome do rei, nomear funcionários e distribuir sesmarias (lotes de terras).
Durante dois anos o Capitão percorreu o litoral, armazenando importantes conhecimen-
tos geográficos. Ao chegar no litoral pernambucano, em 1531, conseguiu tomar três naus
francesas carregadas de pau-brasil. Dali dirigiu-se para o sul da região, indo até a foz do Rio
da Prata. Fundou a primeira vila da América portuguesa: São Vicente, localizada no litoral
paulista. Ali distribuiu lotes de terras aos novos habitantes, além de dar início à plantação de
cana-de-açúcar. Montou o primeiro engenho da Colônia, o “Engenho do Governador”, situ-
ado no centro da ilha de São Vicente, região do atual estado de São Paulo.
Muitos historiadores afirmam que o ponto estratégico para que os franceses conseguis-
sem invadir regiões e terem estabilidade no território em que estavam concentrados era a
região que equivale ao atual Rio Grande do Norte.
A saber, os indígenas que habitavam a região do Rio Grande do Norte tinham uma pers-
pectiva diferente dos demais indígenas: eles não aceitavam a dominação da mesma forma
que outros indígenas aceitaram.
Diogo Álvares Correa, o Caramuru, João Ramalho e Antônio Rodrigues facilitaram bas-
tante a missão colonizadora da expedição de Martim Afonso. Eram intérpretes junto aos
índios e forneciam valiosas informações sobre a terra e seus habitantes. Antes de retornar
a Portugal, ainda em 1532, o Capitão recebeu carta do rei Dom João III. Este falava de sua
intenção de implantar o sistema de capitanias hereditárias e de designar Martim Afonso e seu
irmão Pero Lopes de Sousa como donatários.
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Enquanto Portugal reorganizava sua política para estabelecer uma ocupação efetiva no
litoral brasileiro, os espanhóis impunham sua conquista na América, chegando quase à exter-
minação dos grupos indígenas: os astecas, no atual México, os maias, na América Central e
os incas, no atual Peru.
Capitanias hereditárias são as divisões da América Portuguesa que se estendem do lito-
ral extremo-sul do Brasil até o Meridiano de Tordesilhas. Tratava-se de capitanias doadas por
Portugal. A ideia do trono português era descentralizar a administração. Isso porque Portugal
não possuía recurso financeiro suficiente para dominar e povoar toda a América Portuguesa.
Como os indígenas já ocupavam o território, surgiu a necessidade de um plano para que os
indígenas aceitassem as diretrizes portuguesas, o que foi mais aplicado pelos religiosos.
Coube, então, às ordens religiosas católicas diversas adentrar o território brasileiro com o
intuito de realizar o “intercâmbio” dos interesses portugueses com os interesses indígenas.

É importante observar que o capitão donatário – aquele que recebe a capitania – tem
direitos e deveres, obrigações e privilégios. Dentre os privilégios estão: explorar a terra, ter
lucratividade e poder cobrar impostos; e dentre os deveres estão: proteger a terra, tarifar o
que é da coroa e repelir ataques estrangeiros.
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Nem todas as capitanias obtiveram sucesso em seus deveres, por conta de certas carac-
terísticas: eram locais gigantescos, distantes de Portugal, em que a comunicação interna era
muitas vezes ineficaz.
10m
Assim, as Capitanias Hereditárias foram o modelo adotado para a colonização e explora-
ção econômica do Brasil, de forma sistemática, pelos portugueses.
Buscava-se também assegurar o domínio português na parte da América considerada
lusitana e representou sua primeira divisão política.
Os espanhóis buscavam o domínio da região do Rio da Prata, que os portugueses
também consideravam sua, e, desde 1504, os franceses exploravam pau-brasil na Terra de
Santa Cruz.
A fundação do Brasil, como unidade política, só ocorreu, em 1549, com o estabeleci-
mento do Governo Geral, em Salvador.
As primeiras Capitanias Hereditárias no Brasil continental foram criadas por D. João III,
de 1534 a 1536. Essas representaram a primeira divisão política da América Lusitana. As
cartas de doação registravam para a “terra do Brasil”: “Dom João [...] houve por bem de
mandar repartir, e ordenar em Capitanias de certas em certas léguas...”. Foram concedidas,
a 12 donatários, 14 capitanias (justamente porque Maranhão era constituído em dois lotes),
divididas em 15 lotes de 50 a 100 léguas de costa, cada um. Seus territórios começavam no
litoral e terminavam no interior, no Meridiano de Tordesilhas.
A doação da capitania ocorria por meio de carta de doação – documento que entregava
aos donatários a posse da terra – e de foral – contrato que estabelecia os direitos e os deve-
res do capitão donatário.
Dentre os direitos estão: explorar os recursos naturais da terra, exercer o poder político
administrativo e poder doar sesmarias. A doação das sesmarias (lotes de terra) objetivava
povoar partes internas da capitania para construir uma perspectiva melhor de colonização.
Note-se que, com a intensificação do investimento português na exploração do Brasil
somada à violência empreendida pelos portugueses e às doenças trazidas por eles, boa
parte dos indígenas que antes habitavam o litoral se sentiram ameaçados. Por isso, muitos
dos indígenas adentraram o território brasileiro. A violência empreendida pelos portugueses
contra os indígenas foi noticiada aos indígenas portugueses que habitavam a Capitania do
Rio Grande; daí a resistência imediata dos indígenas.
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Confira os direitos que eram garantidos aos capitães donatários:

• Explorar os recursos naturais e minerais da terra;


• Desenvolver a agricultura e a pecuária, obtendo lucro com estas atividades;
• Exercer o poder político-administrativo em sua capitania;
• Doar sesmarias aos colonos;
• Escravizar índios para serem usados como mão de obra;
• Exercer o poder judiciário (justiça) em sua capitania;
• Cobrar impostos dos moradores e comerciantes que atuavam na capitania;
• Estabelecer engenhos de açúcar.

Confira os deverem atribuídos aos capitães donatários:

• Fazer a proteção do território;


• Desenvolver a colonização dos territórios;
• Combater tribos indígenas que dificultavam a colonização;
• Fundar vilas na colônia;
• Fiscalizar as ações econômicas na capitania.
15m

Isto posto, observe que os capitães donatários assemelhavam-se a governadores, sendo


eles os responsáveis pela dominação portuguesa naquelas regiões.

Confira, a seguir, a lista das capitanias e seus respectivos capitães:

• Maranhão (Lote 1) - Aires da Cunha associado a João de Barros;


• Maranhão (Lote 2) - Fernando Álvares de Andrade;
• Ceará - Antônio Cardoso de Barros;
• Rio Grande do Norte - João de Barros associado a Aires da Cunha;
• Itamaracá - Pero Lopes de Sousa;
• Pernambuco (Nova Lusitânia) - Duarte Coelho;
• Bahia de Todos os Santos - Francisco Pereira Coutinho;
• Ilhéus - Jorge de Figueiredo Correia;
• Porto Seguro - Pero do Campo Tourinho;
• Espírito Santo - Vasco Fernandes Coutinho;
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• São Tomé - Pero de Góis;


• São Vicente (dividida em dois lotes: São Vicente e Rio de Janeiro) - Martim
Afonso de Sousa;
• Santo Amaro - Pero Lopes de Sousa;
• Santana - Pero Lopes de Sousa.

No que tange à prosperidade, a maioria das capitanias pré-Governo Geral fracassam.


São exceções as capitanias de São Vicente e de Pernambuco. Ambas prosperaram por conta
da exploração da cana-de-açúcar.
Um dos motivos para o fracasso foi a falta de investimento financeiro – tenha em mente,
por exemplo, que a própria constituição de uma esquadra para proteção de áreas demanda
financiamento. Lembre-se que Portugal estava em crise econômica por conta do declínio do
comércio das Índias. Por isso, muitos capitães donatários sequer estiveram presencialmente
em suas capitanias – não é o caso do Rio Grande do Norte.
Especificamente sobre o Rio Grande do Norte, essa capitania fracassou muito por conta
da aliança entre os franceses e os índios potiguares, que resistiam à presença dos portugue-
ses (conferir figura a seguir). A capitania do Rio Grande somente passou a prosperar após
ser capitania real.

A partir do Governo Geral, a capitania da Bahia passou a prosperar também, por conta
do açúcar.
A capitania do Rio Grande (depois Rio Grande do Norte) coube ao historiador João de
Barros e a Aires da Cunha, fidalgo que se destacou lutando contra piratas e corsários.
O historiador Tarcísio Medeiros (1985, p. 189) dispõe que o Rio Grande do Norte ficou
conhecido primeiro por “Rio dos Tapuios”, mais tarde por “Rio Potengi” e finalmente por
“Capitania do Rio Grande”. Observe, então, que a característica geográfica da área – a exis-

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tência do rio – resulta no batismo da área: Rio Grande. Posteriormente, passou-se a distin-
guir Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, este ao sul do país.
20m
Em 1535, Aires da Cunha veio à capitania do Rio Grande (do Norte) juntamente com os
filhos de João de Barros, Jerônimo e João.
Fernão Álvares, João de Barros e Aires da Cunha arregimentaram 900 soldados, 120
cavalos e 600 colonos, distribuídos em cinco naus e cinco caravelas, num investimento de
aproximadamente 600 mil cruzados. Para melhor ciência, o valor do investimento era dema-
siadamente alto, tanto que a própria coroa não era capaz de investir.
Segundo Eduardo Bueno (1999, p. 173-174), ao tentar desembarcar nas proximidades
da foz do rio Ceará-Mirim, Aires da Cunha e seus homens foram rechaçados pelos índios
potiguares que estavam aliados aos franceses. Do total de 700 mortes, 70 ocorreram na frus-
trada tentativa de desembarque no Rio Grande.
Assim, em primeiro momento, houve fracasso da Capitania de Rio Grande. Lembre-se
que os índios potiguares estavam aliados aos franceses; disso surgiu a tática dos coloniza-
res de atraírem outros indígenas para aliança bélica, a fim de que estes atacassem outros
indígenas e seus aliados.
Dado o fracasso no desembarque, os portugueses puseram-se a realizar um reconheci-
mento do litoral rio-grandense, para daí tentar novo empreendimento. Em um desses reco-
nhecimentos, os portugueses resgataram alguns espanhóis que estavam sob domínio dos
índios potiguares. Esses espanhóis relataram o ritual antropofágico dos indígenas potigua-
res, o que trouxe mais temor e receio em relação à proximidade com os nativos.
25m
O reconhecimento do litoral rio-grandense contemplou o contorno até a ilha do Maranhão
ou Trindade. Em seu curso, houve o resgate de náufragos espanhóis da expedição de D.
Pedro de Mendoza, conforme descrito também no parágrafo acima. Ainda durante o reco-
nhecimento, ocorreu a morte de Aires da Cunha após sua embarcação colidir com rochedos.
Houve, ainda, a fundação de Nazaré. Contudo, a morte de Aires da Cunha resultou em desâ-
nimo dos colonos, que abandonaram a região em caravelões. Ao todo, houve mais de 700
mortes durante os conflitos contra os indígenas.
A segunda expedição aconteceu em 1555. Ao retornarem, os filhos de João de Barros
tentaram fixar-se na capitania do Rio Grande, mas foram rechaçados novamente pelos indí-
genas; os poucos homens que se aventuraram por terra foram mortos pelos índios.
Devido ao abandono a que foi relegada a capitania do Rio Grande e ao endividamento
de João de Barros, que muito se deu por conta do fracasso da primeira expedição e de seu
alto investimento para resgatar seus filhos, a coroa portuguesa resolveu intervir diretamente:
perdoou a dívida contraída com a primeira expedição (1535) e, após o seu falecimento, em
1570, concedeu uma pensão de 500 mil réis à viúva e a um dos filhos uma indenização pela
cessão da capitania à Metrópole portuguesa, uma vez que eles não dispunham de condições
para manter os direitos dos donatário – isto é, a posse da capitania deixa de ser dos filhos de

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João de Barros e passa a ser de Portugal. Em vida, João de Barros não presenciou a domi-
nação da Capitania de Rio Grande.
Após a morte de João de Barros, em 1570, os seus herdeiros desistiram do intento de
ocupar a capitania, não sem antes “pleitearem pagas a Felipe II de Espanha, Rei de Portu-
gal”. A saber, Felipe II da Espanha foi Rei de Portugal por força da União Ibérica.
Presume-se que a capitania do Rio Grande tenha sido revertida de hereditária para real
em 1582, passando a ser administrada pela própria metrópole.
Contudo, a Capitania do Rio Grande continuou de fácil acesso para os franceses que,
instalados nas proximidades do rio Paraíba, e associados aos índios potiguares, atacavam
os moradores de Pernambuco e Itamaracá. Vale destacar que a presença dos franceses na
região é observada desde o descobrimento do Brasil até o final do séc. XVI.
30m
Até a conquista definitiva, no final do século XVI, a capitania do Rio Grande (do Norte)
ficou sendo visitada e explorada pelos franceses, que aqui realizavam um ilegal e lucrativo
comércio de pau-brasil.
Jean Jacques Riffault, a quem os portugueses chamavam de Refoles, que se instalara no
estuário do rio Potengi com a conivência dos índios, foi o mais ativo. Jean Jacques Riffault foi
o responsável por fazer com que aquela região fosse um reduto francês. Foi, então, um dos
mais proeminentes exploradores do pau-brasil – ou um dos mais proeminentes contrabandis-
tas, considerando que a terra era de Portugal.
Observe que, mais uma vez, a conquista da região por Portugal demandou uma articula-
ção entre as forças militar, religioso e diplomática.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Admilson Costa Santos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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