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HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE

Período Holandês
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PERÍODO HOLANDÊS

A capitania do Rio Grande foi palco de incursões de franceses e holandeses. O período


da União Ibérica (1580-1640) corresponde a um momento de intenso desenvolvimento da
colonização portuguesa no Brasil, com o desenvolvimento acelerado da empresa açucareira,
o desbravamento de regiões do interior e o aumento substancial do comércio entre o Brasil e
as Índias espanholas, além de ter sido empreendida a conquista do litoral ao norte do Brasil,
com a fundação de Filipeia (atual João Pessoa), Natal, Fortaleza e Belém. Tudo isso graças
ao descumprimento do Tratado de Tordesilhas.
O embargo espanhol levou os holandeses a fundar a Companhia das Índias Ocidentais
(WIC), em 1621. Essa companhia era uma espécie de economia mista, pois tinha empreen-
dedores privados e a força estatal nela, ou seja, era um conglomerado de companhias de
comércio, ou, em outras palavras, era uma terceirização do serviço, para que os holandeses
pudessem reaver aquilo que haviam perdido. Inclusive, há de se ressaltar que os holande-
ses também dominaram algumas regiões da África que estavam sob dominação de Portu-
gal, como, por exemplo, Angola. Porque a venda de escravos era muito lucrativa. Não à toa
que no período de dominação dos holandeses, da década de 30 até a metade da década de
40, no século XVII, as regiões que mais receberam escravos africanos foram as de domínio
holandês. Aliás, Salvador não foi dominada, porque conseguiu resistir e expulsar as tropas
holandesas.
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Em 1630, forças flamengas (holandeses) invadiram Pernambuco e lá houve a prepa-
ração para a invasão da Capitania do Rio Grande. A primeira incursão ocorreu em 20 de
janeiro de 1625; o percurso percorrido ficou conhecido como: Caminhos do Rio Grande do
Norte. Edam Boudewinj (almirante) designou o Capitão Uzeel, que desembarcou em Barra
de Cunhaú, a fim de realizar uma sondagem (reconhecimento) ampla em todo o território e
verificar os engenhos, as produções e as fortificações. Por sua vez, Joost Closter foi outro
que percorreu o litoral potiguar, estudando um possível ponto de desembarque. Outras duas
tentativas foram feitas em 1625 e 1628 e foram fracassadas.
Em maio de 1630 os holandeses fizeram uma nova incursão na capitania do Rio Grande,
quando, liderados por Adriano Verdonk, entraram por Cunhaú, passaram pela aldeia de
Mipibu, avançaram, “calça as areias dos taboleiros de Cajupiranga e chega a Natal, olhando
as quarenta casas de taipa, cobertas de palha”, desejando mesmo examinar o Forte dos Reis
Magos, o que o faz detidamente (CASCUDO, 1984, p. 61). Então, até 1630 não se teve uma
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efetiva dominação e colonização pelos holandeses. E é em virtude disso que eles visavam
dominar o Forte dos Reis Magos, que era um ponto estratégico de combate muito forte.
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Foi em 1631 que ocorreram as duas últimas incursões dos holandeses no território da
capitania do Rio Grande. Largaram do Recife a 13 de outubro de 1631. No dia seguinte ten-
taram abordar uma nau portuguesa que, para fugir, abeirou-se da Baía da Traição, protegida
por duas baterias ali existentes. A 15 viajaram por fora do Rio Grande, evitando os canhões
dos Reis Magos. Foram além até fundear, 21 léguas ao norte do Potengi, num lugar Ubran-
duba (...). Desceram aí Marcial, André Tacou, Araroba e Francisco Matauwe, indígenas diplo-
matas, sequiosos pelo resultado da embaixada. A 10 de novembro, Smient pôs gente em
terra apesar do mar revolto e da costa parcelada.
Durante a noite, atraídos pelo clarão de uma fogueira, caíram sobre um acampamento.
Encontraram o português João Pereira, que conduzia, presos para o Rio Grande, destinados
à venda, André Tacou e mais oito companheiros, além de 17 mulheres e crianças. Mataram
João Pereira, libertando os indígenas. O português levava papéis preciosos como informa-
ções para a conquista do Ceará. Elbert Smient, a 18 de novembro, voltou ao Recife, e Joost
Closter ficou para prosseguir a jornada (1984, p. 62).
Posteriormente, em 21 de dezembro de 1631, uma nova esquadra holandesa tentou
desembarcar na capitania do Rio Grande. Enviada pelo Conselho Holandês, a esquadra
comandada pelo Tenente- Coronel Hartman Godefried van Steyn Callenfels era composta
por 14 navios e dez companhias. Tentou adentrar na barra do rio Potengi, mas foi impe-
dida pela artilharia da Fortaleza dos Reis. Desviados dos verdadeiros objetivos, os invaso-
res desembarcaram em Genipabu, onde saquearam o povoado, levando aproximadamente
duzentas cabeças de gado. O combinado ficou sendo desembarcar em Ponta Negra, três
léguas ao sul de Natal e depois marchar sobre a cidade, no final de dezembro. Então, mais
uma vez, o Forte dos Reis Magos conseguiu impedir a invasão e dominação da região.
Contudo, essa região acabou se tornando um problema, pois como os holandeses não
conseguiam sua dominação, pensavam que o seu domínio, de modo geral, poderia ruir,
embora ainda tivessem conquistados diversos outros lugares. Posto isso, aumentaram o
quantitativo de soldados e criaram estratégias diferentes, isto é, combateram por duas fren-
tes: pela terra e pelo mar. 15 e, por conta da omissão dos colonos portugueses, há a tomada
do Forte.
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Composta por onze navios e 808 soldados, no dia 5 de dezembro de 1633, saiu de
Recife, comandada pelo Almirante Jean Cornelissen Lichthard, a expedição que conquistou
a capitania do Rio Grande. Dentre os membros de sua composição, os de maior renome
foram: o Delegado-Diretor Mathijs van Keulen, os Conselheiro Servaes Carpenter (organiza-
ções administrativas), o Comandante da costa do Brasil Holandês - Jan Corlisz Lichthardt e o
Tenente-Coronel Baltazar Bijma (organizações militares). Então, os holandeses fizeram uso
de uma espécie de descentralização para obter melhor resultado administrativo.
Para conquistar Natal, como já citado, combateram em duas frentes, isto é, desembar-
caram no litoral norte, no riograndense, na manhã de 08 de dezembro, na Praia de Ponta
Negra e avançaram pelo mar e pela terra para, por fim, lograr a conquista. O cerco à Forta-
leza dos Reis Magos foi estabelecido na noite de 8 de dezembro. Após a conquista do Forte e
da cidade de Natal, houve a expansão da conquista holandesa. Houve uma certa facilidade,
porque os ibéricos eram desorganizados. Posteriormente, a maior parte do tempo que ocu-
param, os holandeses enfrentaram a resistência dos luso-brasileiros, porque eles notaram
que essa invasão era prejudicial. Depois da conquista de Natal e dos ataques feitos aos
engenhos de Cunhaú e Ferreiro Torto, os holandeses impuseram o seu domínio sobre toda a
capitania. E a relação dos holandeses com a capitania do RN foi marcada pela violência, não
pelo investimento, inclusive, teve-se uma perspectiva de massacre.
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Os holandeses aliaram-se aos índios janduís, inimigos dos potiguaras (aliados dos por-
tugueses), realizando uma série de massacres. Com o passar do tempo, os potiguares vão
acabar fazendo uma aliança com os holandeses. Além disso, alguns índios foram estudar
na Holanda- o chefe potiguar Antônio Paraopaba, um dos comandantes do massacre de
Uruaçu, Pedro Poti, Antônio Francisco, Luís Gaspar e outros.
Jacob Rabi, judeu alemão (que beirava a psicopatia), que estava a serviço da Companhia
das Índias Ocidentais, fez uma aliança com o chefe Janduí, tribo que nutria forte ressenti-
mento e ódio para com os portugueses, então, juntos, empreenderam muitas ações violen-
tas. Dentre elas, o genocídio nos engenhos de Cunhaú, Uruaçu e Ferreiro Torto. Ademais,
algumas tribos potiguares também se aproximaram dos flamengos.
Os holandeses não incursionam muito pelo interior, limitando-se mais às áreas litorânea
e agreste, nos atuais municípios de Natal, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Extremoz,
São José de Mipibu, Nísia Floresta, Arês, Goianinha, Canguaretama, todo o vale do rio Ceará
Mirim e toda a área salineira. Com efeito, a administração holandesa era marcada por uma
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certa descentralização, com o Brasil dividido em quatro províncias, ficando o Rio Grande
subordinado à da Paraíba.
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ATENÇÃO
Deve-se ter cuidado em relação a região da capitania de RN, porque ela foi colocada sob
a supervisão da Província da Paraíba. Ademais, costuma-se, inclusive, constar em tópico de
edital: que no governo holandês no RN, nesse período, o RN era a província responsável por
Pernambuco, mas, na verdade, não o era. Ela continuou sendo uma região sem nenhum des-
taque, exceto pelo seu forte militar, motivo pelo qual se deu sua dominação. E foi marcada
pela administração nada amistosa dos holandeses.
O engenho, de modo geral, era importante porque trazia uma perspectiva econômica.
Porém, quando as guerras holandesas voltaram a acontecer, a forma de administrar de Mau-
ricio de Nassau a região do Nordeste holandês que era com juros baixos, empréstimos faci-
litados, tolerância religiosa etc., fazia com que os próprios lusos brasileiros a aceitarem essa
administração, posto que estava rendendo muito dinheiro. Contudo, por conta das dívidas
que estavam sendo construídas externamente, precisou-se mudar a administração, logo,
afastaram o Nassau, desencadeando o aumento da revolta dos lusos brasileiros para com
os holandeses.
Massacre de Cunhaú e Uruassu.
O engenho Cunhaú, o mais importante do Rio Grande, fundado pelos irmãos Antônio e
Matias de Albuquerque, numa sesmaria doada por Jerônimo de Albuquerque, em 1604,
era o mais importante da capitania. Depois da invasão e, tendo em vista a oposição de
Matias de Albuquerque à presença holandesa, a Companhia o confiscou e o vendeu, em
15 de junho de 1637, a Joris Garstman, primeiro governador holandês da capitania do Rio
Grande, e ao conselheiro Baltasar Wintgens por 60 mil florins. Os holandeses saqueavam
as propriedades e incitavam os índios contra os portugueses, como forma de diminuir a
população e equacionar o problema da falta de comida. E a capitania permaneceu sem
maiores acontecimentos até a expulsão de Maurício de Nassau em 1644.

Por conseguinte, os lusos brasileiros passam a questionar a dominação holandesa, de


modo que se envolvem em contendas contra eles. Em consequência dessa participação no
levante da insurreição pernambucana, tem-se uma retaliação, ou seja, o envolvimento da
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população luso-brasileira no movimento de expulsão dos holandeses, a partir de 1645, acen-


deu o estopim dos massacres no Rio Grande. Portanto, os massacres ocorridos na capitania
foram uma decorrência da Insurreição Pernambucana.
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Jacob Rabi Rabi chegou ao engenho Cunhaú no dia 15 de julho de 1645, com a Com-
panhia de indígenas potiguares e tapuias. Ele disse que tinha uma ordem da administração
holandesa, que seria lida somente no outro dia, após a realização da missa. Ao fazer isso, a
população do engenho ficou instigada e decidiu ir à missa. Contudo, ao chegar na Missa de
Domingo, no dia 16, houve o massacre. Aproximadamente 70 pessoas foram assassinadas,
entre elas, o Padre André de Sovera.
O Massacre de Uruaçu ocorreu meses depois do de Cunhaú, em outubro de 1645 e foi
dividido em duas partes: primeiro houve o assassinato de alguns prisioneiros de guerra,
quando seriam transferidos da Fortaleza de Santos Reis. Em seguida, houve o ataque exe-
cutado pelos índios àquele povoado, matando a população do engenho e do povoado, com
crueldade, e destruindo as suas edificações. Entre os mortos estavam o padre Ambrósio
Francisco Ferro e o leigo Mateus Moreira. Morreram nos massacres realizados pelos holan-
deses em Cunhaú e Uruaçu, aproximadamente, 150 pessoas. Em Cunhaú, os relatos dos
cronistas dão números diferentes: de 36 a 80 mortos (MEDEIROS FILHO, 1998, p. 105-106).
Do total de mortos em Cunhaú e Uruaçu, somente de trinta se sabe o nome e a forma como
morreram, dois em Cunhaú e 28 em Uruaçu.
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O resultado desse clima de insegurança na capitania levou os portugueses e brasileiros
que migraram para as capitanias vizinhas, principalmente para a Paraíba. Os povoados do
Rio Grande foram abandonados, entre eles a sede administrativa, Natal, o que trouxe uma
substancial diminuição da população portuguesa nessas localidades. Os índios que integra-
vam o exército holandês, entre eles grande parte da nação potiguar, afirmavam que só par-
ticiparam dos massacres porque não mais suportavam os maus-tratos dos portugueses. Por
conseguinte, os luso-brasileiros reagiram, organizando expedições punitivas contra os fla-
mengos, destruindo as suas propriedades, assassinando os seus funcionários e espalhando
o terror no Nordeste holandês, principalmente no Rio Grande (do Norte).
Ademais, à título de curiosidade, na noite de 4 para 5 de abril de 1646 Jacob Rabi foi
emboscado e assassinado a tiros e golpes de espada, em Natal. Joris Garstman, sogro de
João Lostão Navarro, morto por Rabi em Uruaçu, foi acusado como mandante. Consequen-
temente, os indígenas das forças holandesas quiseram a punição do Joris Garstman por
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conta da elaboração dessa execução, porém, como eles não obtiveram o que queriam, aca-
baram abandonando as forças holandesas.
Por fim, no dia 15 de outubro, no Vaticano, foram canonizados os protomártires André
de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, sacerdotes diocesanos, e Mateus Moreira e seus 27
companheiros leigos. Chamados mártires de Cunhaú e Uruaçu, eles foram beatificados no
ano 2000. A aprovação da canonização saiu no decreto da Congregação para a Causa dos
Santos que recebeu a aprovação do Papa Francisco em março de 2017.
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�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Admilson Costa Santos.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.
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