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Curso EsPCEx
2020

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Para fazer valer seu direito, Filipe II ordenou a invasão de Portugal pelas
tropas espanholas. O exército espanhol conquistou Portugal e derrotou os
adversários de Filipe II.
Filipe II, então, se tornava também rei de Portugal, dando início ao período
histórico conhecido como União Ibérica, em que as coroas portuguesa e espanhola
estiveram sob o mesmo rei.
Ao dominar Portugal, a Espanha passou a controlar também todas as colônias
portuguesas, incluindo o Brasil.
Apesar de estar sob domínio espanhol, Portugal manteve sua autonomia na gestão
de seu povo e de suas colônias: dessa forma, a administração colonial do Brasil
praticamente não sofreu alterações.
Os funcionários do governo português foram mantidos, o idioma oficial da
colônia continuou a ser o português e os costumes não mudaram.
No plano internacional, contudo, a União Ibérica trouxe sérios problemas para
Portugal e Brasil, causados por questões ligadas à política externa espanhola.
Até o século XVI, a Holanda era dominada pelos espanhóis. Os holandeses
conquistaram sua independência em 1581, após uma sangrenta guerra contra os
dominadores, e proclamaram a República das Províncias Unidas, com capital em
Amsterdã – um importante centro comercial.
Como represália aos inimigos holandeses, o rei espanhol Filipe II proibiu os
produtores e comerciantes de todas as suas colônias – incluindo o Brasil – de
negociar com os holandeses: essa proibição ficou conhecida como Embargo Espanhol.
O embargo foi péssimo para os holandeses, porque até então eram eles quem
controlavam as operações de transporte, refino e distribuição comercial do açúcar
brasileiro no mercado europeu, além de participarem do comércio de outros produtos
brasileiros (pau-brasil, algodão, couro).
Como reação ao embargo, os holandeses decidiram atacar possessões portuguesas e
espanholas: atacaram feitorias portuguesas no litoral africano em 1595 e a cidade
de Salvador em 1604.
Para fortalecer o comércio internacional do país e auxiliar militarmente nos
saques e invasões, os holandeses criaram duas companhias privadas de comércio:
a Companhia das Índias Orientais, criada em 1602, empresa privada que tornou-se
encarregada de controlar o comércio dos holandeses com o Oriente; a Companhia das
Índias Ocidentais, criada em 1621, empresa privada que recebeu do governo holandês
o monopólio do comércio com o litoral atlântico da África e da América. Essa
empresa tinha também autorização do governo holandês para organizar tropas e
estabelecer suas próprias colônias.
Para romper com o Embargo Espanhol, os dirigentes da Companhia das Índias
Ocidentais planejaram invadir e ocupar o nordeste brasileiro, para passar a
controlar os lucrativos comércios do açúcar e de africanos escravizados e para
reativar rotas comerciais entre Europa, África e América.
O nordeste do Brasil era uma região estratégica, pois era a principal região
açucareira do Brasil na época, e a região que mais utilizava mão de obra africana
escravizada.
A invasão holandesa de Salvador (1624)
Em 8 de maio de 1624, os holandeses da Companhia das Índias Ocidentais
invadiram Salvador e ocuparam a cidade.A ocupação holandesa de Salvador durou
apenas um ano, pois as forças luso-brasileiras e espanholas aliaram-se a grupos
indígenas da região e utilizaram táticas de guerrilha para expulsar os batavos, que
se renderam em 1625.
Os holandeses tiveram grande prejuízo financeiro com sua expulsão da Bahia,
mas em 1628 uma esquadra holandesa saqueou uma frota de navios espanhóis carregada
de ouro e prata, o que lhes deu lucro suficiente para preparar um novo ataque ao
Brasil.
A invasão holandesa de Pernambuco (1630)
Em 14 de fevereiro de 1630, uma poderosa esquadra holandesa com 56 navios
invadiu Pernambuco, capitania mais importante do Brasil à época por conta da
produção açucareira.
O governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, percebendo que não teria
forças para enfrentar os holandeses, refugiou-se no interior da capitania, onde
fundou o Arraial de Bom Jesus, que se tornou o principal foco de resistência contra
os holandeses.
A resistência luso-brasileira empregou táticas de guerrilha e durante cinco
anos de luta obteve bons resultados, impedindo com que os holandeses dominassem
totalmente a região açucareira.
Contudo, os holandeses contaram com a ajuda de muitos luso-brasileiros
(lavradores, senhores de engenho): o mais conhecido foi Domingos Fernandes Calabar,
um senhor de engenho conhecedor da região que atuou como guia dos holandeses.
Com a ajuda desses luso-brasileiros, os holandeses passaram a impor uma série
de derrotas a Matias de Albuquerque, que desistiu de comandar as tropas de
resistência – não sem antes conquistar a cidade de Porto Calvo, prender Domingos
Calabar e enforcá-lo pela acusação de traição.
Em 1637, a resistência luso-brasileira ao domínio holandês praticamente
cessou. Os holandeses ainda conquistariam outros territórios do litoral nordestino
nos anos seguintes.
A guerra entre holandeses e luso-brasileiros prejudicou a produção açucareira
de Pernambuco: muitos escravizados , por exemplo, aproveitaram a desordem para
fugir dos engenhos.
Para pacificar a região, governar com a colaboração dos luso-brasileiros e
reconstruir a produção açucareira de Pernambuco, a Companhia das Índias Ocidentais
nomeou Maurício de Nassau como governador-geral dos domínios holandeses no Brasil.
Ele chegou a Pernambuco em 1637.
Como governador, Nassau:
por meio da Companhia das Índias Ocidentais, concedeu empréstimos aos senhores de
engenho, para que estes reaparelhassem suas propriedades, recuperassem seus
canaviais e comprassem escravizados, de modo a reativar a produção açucareira;
tornou o calvinismo a religião oficial dos domínios holandeses no Brasil, mas seu
governo tolerou oficialmente diversas outras religiões, como o catolicismo e o
judaísmo; investiu em diversas obras de urbanização do Recife: foram construídas
casas, pontes, obras sanitárias, calçamento de ruas e praças, e foi criada a cidade
Maurícia;
patrocinou a ida de diversos intelectuais holandeses para Pernambuco: artistas
como Frans Post e Albert Eckhout, médicos como Willen Piso, naturalistas como Georg
Marcgraf e astrônomos. Esses intelectuais produziram pinturas das paisagens e do
povo nordestinos e diversos estudos a respeito de doenças locais, de plantas
medicinais da região e da fauna e flora nordestinas.
Por ter feito todas essas realizações, Maurício de Nassau ganhou muito
prestígio entre a população nordestina, sobretudo entre a elite açucareira.
No entanto, logo ele começou a ter desavenças com seus chefes da Companhia das
Índias Ocidentais: os líderes da companhia acusavam Nassau de usar dinheiro da
empresa para satisfazer suas vaidades, e por isso tentaram limitar seus poderes.
Já Nassau acusou a direção da companhia de não compreender os problemas do
Brasil e de ganância.
Os desentendimentos provocaram a saída de Nassau do cargo de governadorgeral,
em 1644.
O fim da União Ibérica e a expulsão dos holandeses
Em 1640, o duque de Bragança assumiu o governo de Portugal.
Com o apoio da alta nobreza e da burguesia portuguesas, ele pôs fim ao domínio
espanhol e assumiu o trono português como novo rei, recebendo o título de D. João
IV. Portugal, após 60 anos, reconquistava sua independência.
Esse episódio é conhecido na história portuguesa como Restauração: era o fim
da União Ibérica e o início da dinastia de Bragança.
Os portugueses negociaram um acordo de paz de dez anos com os holandeses, que
ainda ocupavam o nordeste do Brasil.
Após a saída de Nassau do Brasil em 1644, a administração da Companhia das
Índias Ocidentais no Brasil passou a tentar intensificar seus lucros na região.
Os dirigentes da companhia passaram a pressionar os senhores de engenho luso-
brasileiros para que aumentassem a produção de açúcar, pagassem mais impostos e
quitassem as dívidas atrasadas, adquiridas com os empréstimos dados durante a
administração de Nassau.
A companhia ameaçou confiscar os engenhos, caso os proprietários destes não
cumprissem suas exigências.
Para piorar a situação, a tolerância religiosa – uma das grandes marcas do
governo Nassau – foi limitada: os católicos foram proibidos de praticar livremente
sua religião.
Os luso-brasileiros, revoltados com as mudanças de rumo da administração
holandesa, iniciaram em 1645 uma luta para expulsar os holandeses do nordeste, que
ficou conhecida como Insurreição Pernambucana.
Para expulsar os holandeses, diversos grupos sociais em tese antagônicos se
uniram: senhores de engenho, indígenas, africanos (livres e escravizados).
Diversas batalhas foram travadas, com destaque para a Batalha do Monte das Tabocas
(ocorrida em 1645) e para as duas Batalhas dos Guararapes (ocorridas em 1648 e
1649), tendo sido todas as três vencidas pelos lusobrasileiros.
Após sofrerem diversas derrotas, os holandeses se renderam em 1654, na Campina
da Taborda.
A rendição holandesa seria consolidada em acordos posteriores assinados entre
Portugal e Holanda, que buscaram estabelecer a paz definitiva entre os dois países.
Houve um acordo assinado em 1661, que ficou conhecido como Tratado de Haia.
O último desses acordos, contudo, foi assinado em 1669: por meio dele, a
Holanda reconheceu o domínio português sobre o nordeste do Brasil e sobre
possessões na África, em troca de uma elevada indenização em dinheiro paga pelos
portugueses.
O declínio do Império Português e a Guerra dos Mascates
Após o fim da União Ibérica, Portugal enfrentou uma grave crise econômica,
causada por uma série de motivos:
a perda de parte de suas colônias para holandeses, ingleses e franceses; os enormes
gastos militares causados pelas guerras contra holandeses e espanhóis; a queda
dos preços do açúcar no mercado internacional.
Para enfrentar essa crise, o governo português decidiu dinamizar a economia do
país por meio da assinatura de diversos tratados com a Inglaterra que lhes
garantiriam empréstimos, e por meio de uma política rigorosa em relação ao Brasil.
O governo português assinou diversos tratados com a Inglaterra: por meio deles,
ficou acordado que os monarcas portugueses receberiam proteção políticomilitar dos
ingleses; e que os comerciantes portugueses poderiam comprar produtos manufaturados
ingleses em troca de vantagens comerciais dadas pelo governo de Portugal à
Inglaterra.
Desses tratados, o mais conhecido foi o Tratado de Methuen (ou Tratado dos
Panos e Vinhos), assinado em 1703. Por meio dele:
os ingleses reduziriam as tarifas de importação dos vinhos portugueses, tornando-
os mais baratos e estimulando sua importação na Inglaterra; os portugueses, em
troca, abririam seu mercado aos produtos têxteis (tecidos) ingleses, que eram de
qualidade muito superior aos panos produzidos em Portugal.
O acordo foi um péssimo negócio para Portugal:
A invasão de tecidos ingleses impediu que o setor industrial português se
desenvolvesse, e por isso o país ficou cada vez mais dependente da Inglaterra, de
onde tinha de importar produtos manufaturados;
Para cumprir o acordo, vinícolas ocuparam regiões que antes produziam gêneros
alimentícios, o que causou desabastecimento: Portugal teve que importar comida;
Como a demanda inglesa por vinhos era muito menor que a demanda portuguesa por
tecidos, a balança comercial entre Portugal e Inglaterra ficou desequilibrada: os
portugueses contraíram dívidas pesadas com os ingleses; Como os vinhos não eram
suficientes para pagar as dívidas, restou a Portugal pagar a Inglaterra com o ouro
vindo do Brasil. Ou seja, a maior parte do ouro que saía do Brasil não ficava em
Portugal, mas sim ia para a Inglaterra, contribuindo para a industrialização deste
país.
Portugal entrou em um declínio econômico e político e ficou cada vez mais
dependente da Inglaterra.
O governo português tentou também explorar ao máximo as riquezas do Brasil,
principalmente o açúcar.
No entanto, ocorreu outro problema: os holandeses, após serem expulsos do
Brasil, levaram mudas de açúcar para suas colônias no Caribe (Antilhas), e passaram
a produzir açúcar por lá.
A concorrência do açúcar caribenho (ou antilhano) provocou a queda de 50% nos
preços do açúcar brasileiro no mercado internacional entre 1650 e 1700.
Essa queda abrupta de preços fez com que a produção açucareira do nordeste
entrasse em declínio: ela precisou se readaptar e buscar aprimoramentos técnicos no
sistema de produção e na mão de obra.
Somente no final do século XVIII o açúcar brasileiro recuperaria parte da
importância que teve no mercado mundial durante os séculos XVI e XVII
Entre o final do século XVII e o início do século XVIII, com a queda dos
preços do açúcar no mercado internacional, os senhores de engenho luso-brasileiros
de Olinda – principal cidade de Pernambuco na época – começaram a passar por muitas
dificuldades financeiras.
Para tentar escapar das dificuldades, os senhores de engenho de Olinda
começaram a pedir empréstimos aos comerciantes portugueses do povoado do Recife,
que cobravam juros altíssimos.
Por conta disso, os senhores de engenho de Olinda passaram a ficar cada vez
mais endividados, ao passo que os comerciantes do Recife - apelidados pelos
olindenses de “mascates” em tom pejorativo – enriqueciam cada vez mais.
O enriquecimento dos comerciantes recifenses em detrimento do empobrecimento e do
endividamento dos senhores de engenho olindenses fez surgir uma hostilidade entre
ambos os grupos.
Os comerciantes do Recife pediram ao rei de Portugal, D. João V, para que
seu povoado fosse elevado à categoria de vila: desta forma, Recife tornar-se-ia
independente de Olinda, e os recifenses não precisariam mais pagar impostos aos
olindenses e nem submeter-se a eles.
D. João V atendeu ao pedido dos comerciantes e elevou o Recife à categoria
de vila em 1709, fato que enfureceu os senhores de engenho de Olinda.

Os senhores de engenho de Olinda não aceitaram a decisão do rei e deflagraram


uma rebelião: liderados por Bernardo Vieira de Melo, invadiram o Recife em novembro
de 1710.
Os comerciantes mais ricos fugiram do Recife para não serem capturados.
Em 1711, o governo português interveio na região e reprimiu duramente os
revoltosos: Bernardo Vieira de Melo e outros líderes da revolta foram presos e
exilados. Os mascates retornaram a Recife.
Esse conflito entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes do Recife
ficou conhecido como Guerra dos Mascates, que é considerada uma revolta nativista –
ou seja, uma revolta na qual os rebeldes questionavam alguns aspectos da
administração portuguesa, mas não desejavam a separação da colônia em relação a
Portugal.

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