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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB

CENTRO DE EDUCAÇÃO – CEDUC


DEPARTAMENTO DE HSITÓRIA – DH
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
COMPONENTE DE HISTÓRIA DA AMÉRICA II - NOTURNO

PEDRO FEITOZA DA SILVA

AVALIAÇÃO DA UNIDADE 2
A COLONIZAÇÃO FRANCESA NAS AMÉRICAS

Campina Grande – PB
Dezembro de 2022.
De início, é preciso pontuar que os movimentos de colonização francesa nas américas,
quando comparados às grandes expedições ibéricas, são considerados retardatários. Causas
para isso não faltaram, já que, no período das Grandes Navegações, a França ainda vivia sob o
jugo do absolutismo, e sua estabilidade social e financeira a impedia de investir em
empreendimentos expedicionários. Por outro lado, havia ficado fora dos acordos que dividiam
o mundo naquele momento entre os reinos ibéricos, ou seja, o Tratado de Tordesilhas (1494) e
a Bula Inter Coetera (1493). Além disso, a França do século XIV e XV passava por um
período conturbado de conflitos internos e externos, que acabavam por desestabilizar o
Estado. Acerca destes podemos citar, por exemplo, a conhecida Guerra dos Cem anos (1337-
1493) travada entre a França e a Inglaterra, que acabou reduzindo de maneira significativa o
poder aquisitivo francês, que além disso ainda estava invadida pelos ingleses.
No mesmo período, surge a devastadora Peste Negra, que abalava a Europa como um
todo, mas atingia ainda mais os países que já se encontravam em crise. Houve também a
reforma protestante, de Martin Lutero, que enfraqueceu o poder católico fundando várias
igrejas, fato que fragilizou mais uma vez o Estado francês. Ou seja, por causa de suas
contradições internas, a França não possuía organização e capital suficiente para se envolver
em façanhas marítimas. Diante disso, podemos pontuar que os tratados firmados entre
Espanha e Portugal, foram até mesmo ironizados pelo rei Francisco I (1494-1547), que,
aludindo ao direito divino dos reis, questionou se no testamento de Adão havia alguma
cláusula que determinava que as terras do mundo fossem partilhadas somente entre Espanha e
Portugal.
Todavia, as navegações francesas, iniciaram apenas no século XVI, em um momento
que os portugueses e espanhóis já tinham conquistado certa hegemonia com o domínio de boa
parte dos territórios da América. Nesse sentido, por volta de 1534, o explorador francês,
Jacques Cartier, desembarca no Canadá, mais especificamente em Quebec, fazendo os
primeiros contatos com os chamados ameríndios. Apesar disso, naquele momento, a França
ainda não dispunha de condições para instaurar colônias naquele território, devido, sobretudo
ao grande investimento exigido para tal empreendimento (DAHER, 2007). Em razão disso, a
saída para contornar esse empecilho foi investir em expedições menores comandadas por
corsários que, agindo como piratas com a anuência da coroa francesa, realizavam saques e
contrabandos obtendo lucros consideráveis.
Dessa forma, vários navios franceses ocupados por corsários passaram a navegar nas
águas americanas do Oceano Atlântico – que se tornaram uma grande rota comercial – no
intuito de saquear as embarcações espanholas e portuguesas que ali transitavam repletas de
especiarias e metais preciosos. Aquilo que conseguiam subtrair era comercializado legalmente
na França, o que contribuía para a continuidade da prática. Além de investir em corsários, à
medida que aumentavam seus recursos os franceses passaram a investir em algumas tentativas
para conquistar algumas porções dos territórios coloniais controlados pelos ibéricos. No
entanto, os reinos de Espanha e Portugal já haviam criado certa hegemonia na América
quando os franceses resolveram financiar algumas invasões. Uma dessas tentativas ocorreu na
costa Brasileira em meados do século XVI, na região da Guanabara localizada no atual Rio de
Janeiro.
Os franceses não reconheciam essa exclusividade de Portugal às terras
brasileiras, não respeitavam qualquer pretensão lusa que não fosse fundada
numa concepção efetiva de solo e, conforme Harold Johnson, ‘consideravam
seus navios e comerciantes livres para comerciar com qualquer região do
Brasil não ocupada efetivamente pelos portugueses – o que significava
praticamente toda a costa’. As incursões de contrabandistas e entrepolos
franceses às costas brasileiras iniciaram quase ao mesmo tempo da chegada
dos primeiros portugueses ao Brasil (BRITO, 2020, p. 54).

Com efeito, o litoral brasileiro foi alvo constante de invasões pelos franceses no
período de extração do pau-brasil. Para facilitar o tráfico da madeira e a exploração do
território, os franceses mantiveram contatos permanentes com os indígenas locais, sobretudo o
povo Tamoio, que tinham nos franceses aliados contra os portugueses. Por sua vez, os
franceses articularam algumas alianças com estes indígenas tendo em vista facilitar a extração
do pau-brasil na região. Em 1555, os franceses estabeleceram a chamada França Antártica, na
baía de Guanabara. No local, edificaram uma sociedade com influencias protestantes,
porquanto, no século XVI, milhares de cristãos protestantes fugidos da Europa – que passava
pela Contrarreforma – chegaram as terras americanas. Com efeito, “o intercâmbio comercial
dos franceses no litoral brasileiro, nas três primeiras décadas do século XVI, era muito mais
intenso do que o dos próprios portugueses, possuidores dos contratos de pau-brasil concedido
pelo monarca”. (BRITO, 2020, p. 61). Devido a isso, os portugueses começaram a se articular
para expulsar os franceses, e enviaram várias armadas para capturar e afundar os navios que
encontrassem traficando naquela área.
Segundo a hipótese levantada pelo historiador Capistrano de Abreu, em 1560 foram
expulsos da Guanabara, passaram por Cabo Frio, ainda no Rio de Janeiro, e seguiram para o
Nordeste, onde se abrigaram, inicialmente, em Sergipe, mas depois foram novamente
expulsos e procuraram se fixar desta vez na Paraíba, onde fizeram algumas alianças com os
índios Potiguaras (Cf. BRITO, 2020). Todavia, há indícios que apontam que mesmo antes de
os franceses serem expulsos da Guanabara, alguns de seus agrupamentos já teriam se
deslocado do Rio de Janeiro diretamente para a Paraíba por volta de 1573. Nesse sentido,
conforme traz Oliveira (2020) em sua tese, os franceses navegavam por todo o litoral
brasileiro em busca de terras despovoadas, e teriam encontrado a faixa costeira da ilha de
Itamaracá desprotegida, com uma vasta mata de pau-brasil.
Seguindo esse raciocínio, segundo o jesuíta que escreveu o Sumário das Armadas, o
pau-brasil encontrado na faixa costeira do litoral paraibano seria de alta qualidade, e isso teria
atraído vários corsários e comerciantes franceses ao território. Posteriormente, durante o
século XVII, teriam seguido sua exploração no litoral nordestino e desembarcaram na cidade
de São Luís (Atual capital do Maranhão), lugar onde fundaram, em 1612, a França
Equinocial. Sua intenção era estabelecer uma colônia no Brasil e aos poucos conquistar
alguns territórios (DAHER, 2007). No entanto, a metrópole portuguesa, temendo perder seus
territórios coloniais, mobilizou-se novamente enviando uma esquadra militar à região do
Maranhão para desarticular o movimento francês e expulsá-los. Tal plano, que se concretiza
em 1615, resulta na expulsão dos franceses, que se retiram do Maranhão. Ademais, ainda na
América do Sul, os franceses investiram contra o território da Guiana, entre os anos de 1604 e
1608, onde seria estabelecida a chamada Guiana Francesa, e criaram a Companhia Comercial
Nova França. Neste território, os franceses conseguiram produzir alguns produtos tropicais,
bem como extrair madeira para comercializar na Europa.
Por sua vez, na América do Norte, os franceses, que já haviam se fixado no território
onde atualmente se localiza o Canadá, voltaram-se para expandir suas investidas nas colônias
americanas. Nesse sentido, na América do Norte os franceses empreenderam um maior
esforço num possível projeto colonial. Já nas Antilhas, conquistaram algumas ilhas, das quais
podemos destacar a ilha de Santo Domingo, onde hoje localiza-se o Haiti. Nesta região, os
franceses investiram na exploração agrícola produzindo, sobretudo tabaco, café e cana-de-
açúcar. Assim, essa região se tornou a principal colônia francesa, onde havia uma grande
produção de açúcar.
Na área que compreendia o Golfo do México, os franceses edificaram a cidade de
Nova Orleans, que se tornou um destacado entreposto comercial, de onde escoavam alguns
produtos, e materiais como peles e madeira (O’GORMAN, 1992). É importante pontuar que
desde o início da Guerra dos Sete Anos, a França ocupava a região que se estendia de Quebec,
no Canadá, até Nova Orleans, localizada ao sul dos Estados Unidos, contornando as Treze
Colônias Inglesas. Com efeito, o modelo de colonização empreendido foi similar ao das Treze
Colônias, isto é, promovendo o povoamento do território, e investindo em diversas atividades

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econômicas, que custeavam as despesas dos colonos franceses, servindo, por assim dizer,
como um incentivo ao aumento das infraestruturas da colônia.
Todavia, com a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que apesar de ser travada entre
várias monarquias europeias da época, tinha em um de seus lados a França que buscava
rivalizar contra a supremacia representada pelos ingleses nas regiões da América do Norte, a
situação francesa muda de maneira significativa (KARNAL, 2007). Esses conflitos
decorrentes da Guerra que era travada na Europa, mas que repercutiram em outras campanhas
na América ficaria conhecido como Guerra Franco-Indígena. No ano de 1759, o exército
inglês consegue conquistar a região de Quebec, que era o núcleo da ocupação francesa
naquele território. Nesse processo de dominação destacou-se o general britânico James Wolf,
que, aliado a indígenas locais, derrota os franceses e se apodera de suas colônias.
Com efeito, “a Guerra Franco-Índia e a dos Sete Anos acabaram por eliminar o
Império Francês na América do Norte. Derrotada na Europa e na América, a França entrega
para a Inglaterra uma parte de suas possessões no Caribe e no Canadá” (KARNAL, 2007, p.
74). Esse revés enfraqueceu o poder Francês naquelas terras, fazendo com que aos poucos os
franceses fossem perdendo cada vez mais porções coloniais. Segundo Karnal (2007, p. 74) “a
derrota da França afastou o perigo permanente que as invasões francesas representavam à
América”. Em 1763, foi assinado Tratado de Paris, que chancelou o declínio Francês,
destinando algumas regiões do Canadá e das Antilhas para os ingleses.
Por sua vez, a Revolução Francesa (1789) enterrou, por assim dizer, as pretensões da
chamada América francesa, porquanto o próprio Napoleão acabou vendendo uma grande
parte do território da Louisiana francesa em 1803, que ainda estava sobre o domínio Francês.
Isso ocorreu porque o conquistador precisava angariar fundos para investir em outros
empreendimentos. Neste período, as Treze colônias inglesas já haviam se tornado
independentes da Inglaterra e a Europa vivia um contexto de apreensão com a ascensão de
Napoleão Bonaparte ao império Francês em 1804.
REFERÊNCIAS
BRITO, S. B. R. A conquista do rio ruim – Parahyba na monarquia hispânica (1570-
1630). Tese de doutorado. Universidade de Salamanca, 2020. (Capítulo 1).
CARVALHO, L. "Invasões francesas no Brasil Colonial"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/invasoes-francesas-no-brasil-colonial.htm. Acesso em
01 de dezembro de 2022.
DAHER, A. O Brasil Francês: as singularidades da França Equinocial. 1612-1615. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São
Paulo: Contexto, 2007.
O’GORMAN, E. A invenção da América: Reflexão a respeito da estrutura histórica do
Novo Mundo e do sentido do seu devir. São Paulo: Edunesp, 1992.
Sumário das armadas (1589). História da conquista da Paraíba. Brasília: Senado Federal,
2006.
THEVET, A. Singularidades da França Antarctica – a que os outros chamam de
América. Tradução e notas de Estevão Pinto. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944.

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