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Introdução:

Inicialmente encomendados pelo embaixador espanhol na França, junto a


composição mostra uma versão fortemente idealizada da verdadeira
passagem de Napoleão e de seu exército pelos Alpes em 1800.

Contexto:
Após tomar o poder da França durante do golpe de Estado 18 do Brumário,
em 9 de novembro de 1799, Napoleão estava determinado a retornar à Itália
para reintegrar as tropas francesas e retomar o território ocupado pelos
austríacos no ano anterior. Na primavera de 1800 ele conduziu o Exército de
Reserva para a travessia dos Alpes através do Grande São Bernardo,
fronteira entre a Suíça e a Itália. A essa altura, os austríacos estavam com
suas forças concentradas em direção à Gênova, e por julgarem impossível a
travessia dos franceses pelo monte São Bernardo, deixaram o flanco
desprotegido. Não foi sem dificuldades que os soldados realizaram a
travessia. Ao cruzar os Alpes, eles conheceram o rigoroso inverno dos cumes
nevados e enfrentaram tempestades de neve e avalanches.
A empreitada de Napoleão, parte da Segunda Campanha da Itália, acabou
com a vitória de Bonaparte sobre os austríacos, que foram surpreendidos
pelo ataque do Exército de Reserva. Cortando as linhas de comunicação, em
duas semanas os soldados recuperam boa parte do território que fora
tomado da França na primavera de 1799. Tal vitória estreitou as relações de
Bonaparte com o rei espanhol Carlos IV. Para restabelecer as relações
diplomáticas, foram feitas as tradicionais trocas de presentes, entre eles a
pintura encomendada a Jacques-Louis David. Charles-Jean-Marie Alquier,
embaixador francês na Espanha, solicitou o quadro original de David e este
ficou exposto no Palácio Real de Madrid. Mais três versões foram
produzidas: uma para o Castelo de Saint-Cloud, outra para o Palácio dos
Inválidos e a terceira para o palácio da República Cisalpina, em Milão. A
quinta versão foi produzida por David e permaneceu em sua oficina até a sua
morte.

Simbolismo:
Com a Revolução Francesa, a Primeira e Segunda Coligação e o 18 do
Brumário como grandes eventos históricos, a imagem foi um importante
mecanismo para retratar ideias e a arte configura-se, assim, como uma
expressão de poder. Jacques-Louis David, na posição de retratista de
Napoleão, exalta o seu poder: "Esta é uma evidente peça de propaganda.
Napoleão queria parecer “calmo sobre um cavalo feroz”, e David criou esta
imagem de autoridade rampante. Na verdade, Napoleão fez a viagem
montado numa mula.
A vitória das tropas francesas durante a Segunda Campanha da Itália
pareceu uma boa oportunidade de conexão entre Bonaparte e o passado
político da Antiguidade. Agregando valor a objetos inanimados, as rochas no
canto esquerdo do quadro têm os nomes Bonaparte, Aníbal e Carlos
Magno esculpidos. Revisando o passado heroico, Napoleão coloca-se em pé
de igualdade com tais figuras e consolida assim sua imagem de homem
público e líder político.
Reencenando a Travessia dos Alpes por Aníbal durante a Segunda Guerra
Púnica, David retrata Bonaparte em um cenário hostil, à beira de um abismo
e entre as montanhas de neve eterna. Além disso, o primeiro cônsul
encontra-se em posição de estátua equestre, símbolo estético
característico do Antigo Regime.
A relação com antigos líderes militares não ficava restrita ao campo da
pintura: uma mesa encomendada por Napoleão possuía em seu centro o
perfil de Alexandre, o Grande, cercado por outras 12 cabeças de antigos
heróis. Ao se apropriar da imagem de figuras imponentes, Bonaparte
demonstra tanto sua admiração pessoal como a expectativa de que seus
subordinados fizessem tal identificação, agregando ainda mais valor ao seu
capital heroico em ascensão e construindo assim sua imagem de líder.

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