Você está na página 1de 3

Napoleão Bonaparte por David, pintor da corte durante seu governo

Napoleão Bonaparte procurou cuidar de sua imagem pública encomendado a grandes artistas pinturas e
esculturas que o representassem em posses heróicas e vitoriosas. Ele mesmo dizia que pertencia à “raça fundadora
de impérios”. E dessa forma se fez representar fixando sua imagem de grande líder militar e político. Observe como
isso está presente na tela Napoleão Bonaparte atravessando os Alpes ou Napoleão Bonaparte na passagem de São
Bernardo, de Jacques-Louis David, 1802. “Napoleão Bonaparte atravessando os Alpes”, óleo sobre tela, Jacques-Louis
David, 261 cm × 221 cm, 1802.
A pintura mostra Napoleão Bonaparte conduzindo suas tropas através dos Alpes na campanha militar de
1800, contra os austríacos que acabaram derrotados na Batalha de Marengo. É essa vitória de que a pintura
comemora. Napoleão gostou tanto do quadro que encomendou mais três versões e uma quinta ainda foi produzida.
Elas foram realizadas entre 1801 e 1805. Duas versões estão em Paris, uma em Madri e uma em Milão.
Observe os detalhes da pintura:
 Napoleão Bonaparte foi representado desproporcionalmente grande em relação aos
soldados, no fundo da tela, o que destaca seu protagonismo como condutor da nação francesa. A alusão à
França está nas cores predominantes do quadro: vermelho, azul e branco.
 Ele mantêm o controle da montaria mesmo com o cavalo empinado, segurando suas rédeas
somente com a mão esquerda. Olha de frente e direto para o espectador apontando para o alto, os Alpes
prestes a serem atravessados. O gesto alude, também, à liderança política e militar de Napoleão Bonaparte. É
ele quem indica o caminho vitorioso aos seus súditos.
 Nas pedras (nos pés do cavalo) está escrito em letras douradas o nome Bonaparte e de dois
heróis: Aníbal, general que enfrentou Roma Antiga, e Carlos Magno, rei dos francos que conquistou um
império. Napoleão associa-se, então, a um herói da Antiguidade e a um imperador medieval, colocando-se
como herdeiro e sucessor desses grandes líderes do passado. “Napoleão atravessando os Alpes”, detalhe da
pedra onde está escrito em letras douradas o nome de Bonaparte, Anibal e Carlos Magno.
Napoleão Bonaparte por León Tolstoi,
O escritor russo León Tolstoi (1828-1910) não foi contemporâneo de Napoleão Bonaparte mas as
lembranças de seus feitos militares ainda eram bem vivas. A Rússia infringiu uma humilhante derrota ao
imperador francês quando este tentou conquista-la, em 1812. Esse episódio inspirou Tolstoi a escrever sua
célebre obra Guerra e Paz. O enredo abrange o período de 1805 a 1820 e traça um admirável perfil da
aristocracia russa mostrando o preconceito e a hipocrisia da nobreza, as tradições religiosas, a vida cotidiana
dos servos e dos soldados. Com centenas de personagens e mais de mil páginas na versão original, Guerra e
Paz, levou sete anos de trabalho intenso até sua publicação, em 1869. É um clássico da literatura russa e uma
das maiores obras da literatura universal pela maneira como aborda a condição humana em seus momentos
mais difíceis e dolorosos. Um trecho dessa obra trata da invasão da Rússia pelo exército francês. O
fragmentado abaixo, descreve a entrada de Napoleão Bonaparte em Moscou, em setembro de 1812, com
milhares de soldados. Vaidoso e confiante, o general francês imagina-se já senhor de todo Império Russo.
Aguarda a chegada do czar ou seu representante para negociar a paz. Mas ninguém aparecerá.

“Napoleão Bonaparte, a cavalo no meio das suas tropas, examinava do alto de uma colina o
panorama que se lhe desenrolava aos pés. A luz matutina inundava Moscou de uma claridade fantástica.
Com os seus jardins, igrejas, o rio, as cúpulas brilhantes como lingotes de ouro aos raios do Sol, as
construções de uma arquitetura estranha, a cidade parecia viver a sua existência habitual. Ao contemplá-la,
Napoleão Bonaparte sentia uma curiosidade inquieta e cheia de cobiça (…). – “Esta cidade asiática, com as
suas inúmeras igrejas, aqui a tenho finalmente! Cidade famosa! Já era tempo.” Desceu da montaria e
mandou que lhe desdobrassem o mapa de Moscou. Comovido, quase assustado com a certeza da posse,
observava à sua volta e estudava a planta comparando os pormenores com o que via. – “Ei-la, pois capital
orgulhosa, ei-la à minha mercê! Bastar-me-ia fazer um gesto e a cidade dos czares seria destruída para
sempre. Mas a minha clemência está sempre pronta a descer sobre os vencidos. Por isso serei
misericordioso: inscreverei nos seus antigos monumentos de barbárie e despotismo palavras de justiça e de
paz. Do alto do Kremlin ditarei leis prudentes; lhes farei compreender o que é a verdadeira civilização, e as
gerações futuras de boiardos serão forçadas a lembrarem com amor do nome de quem conquistou Moscou.
Daqui a pouco lhes direi: Boiardos, não quero aproveitar-me do triunfo para humilhar um soberano que
estimo; proporei condições de paz dignas da Rússia e dos meus povos! A minha presença os exaltará, pois,
como sempre, falarei com nitidez, majestade e grandeza. Tragam os boiardos!” – exclamou voltando-se para
a comitiva. E logo um general os foi buscar. Decorreram duas horas. Napoleão almoçou e regressou ao
mesmo lugar para receber a delegação. Tinha o discurso preparado, cheio de dignidade majestosa, pelo
menos segundo o seu conceito. Extasiado pela generosidade com que queria oprimir a capital, a imaginação
já lhe mostrava uma reunião no palácio dos czares com os grandes senhores russos a confraternizarem com
os notáveis da sua corte. Nomeava um prefeito que lhe alcançaria o coração das populações, distribuía
benesses e esmolas, pensando que, se em África achara útil vestir-se de albornoz e orar numa mesquita, aqui
em Moscou devia mostrar-se generoso, a exemplo dos czares.”
Adaptado de TOLSTOI, León. Guerra e Paz. Lisboa: Verbo, 1990. p. 178-180. Vocabulário Kremlin: acrópole com
igrejas e palácios e cercada por muralhas; o Kremlin de Moscou, construído no século XII, era o centro político e religioso da
Rússia imperial. boiardos: aristocratas rurais que formavam a classe social dominante da Rússia imperial. benesses: vantagens,
favorecimentos. albornoz: manto de lã com capuz usado pelos árabes.

Você também pode gostar