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-a viagem pelas «marés, de fel da cidade, opondo a sinistro mar» do século XIX aos
mares
nunca dantes navegados evocados em Os Lusíadas;
- Poema longo-44 quadras, distribuídas em quatro partes (com 11 estrofes cada uma).
Estruturação narrativa do poema, segundo uma progressão cronológica.
Há, contudo, uma dimensão épica no poema; mas essa não pertence ao presente, à
Lisboa
moderna. O Tejo, a estátua de Camões e alguns outros elementos remetem para um
passado
em que Portugal conheceu a grandeza e a glória. As alusões aos Descobrimentos e ao
Império
Marítimo são, assim, um esboço de uma epopeia do passado, que o presente torna
amarga
porque já não é essa a realidade moderna. Como sucederia com Camões, se tivesse
vivido no
fim do século XIX, o sujeito poético perdeu o motivo para celebrar a pátria
decadente e a
cidade sem brilho. No presente do eu poético, a viagem que se pode fazer já não é a
das
Descobertas, plena de aventura, mas a fuga, a evasão para outro lugar diferente:
«Levando à
via-férrea os que se vão. Felizes! / […] Madrid, Paris, Berlim, São Petersburgo, o
mundo!». Por
fim, também as personagens que povoam a cidade moderna não são já os heróis
militares,
cívicos, políticos e artísticos de outrora. São agora personagens decadentes como
burgueses,
dentistas ou gente que trabalha mecanicamente, que não trazem estatuto épico à
cidade.
Os descobrimentos são vistos como uma experiência pura e grandiosa à qual não é
feito jus no
presente, em que o mar é um comercio e uma desgraça, algo que se estende à cidade e
ao
povo português. Os militares perderam o seu orgulho ao servir lideres medíocres (o
rei –
Cesário era visto como republicano). As armadas já não existem são agora apenas
sonhos.
A vontade e os sonhos dos portugueses deixaram de existir, as gentes passaram a ser
submissas e desgraçadas, abusadas pelos poderes instituídos (minoria privilegiada e
feliz).
O poeta encara com felicidade aqueles que partem e com tristeza os que ficam, pois
são os
que vão sofrer mais.
A critica recai maioritariamente sobre os mais favorecidos, que se deixam levar
pela sua
situação sem ter consciência das outras realidades. Outra das críticas presentes
reside na
utilização de estrangeirismos ou de produtos vindos do estrangeiro.
O poeta relata agora uma outra viagem, já não apenas física, no espaço da cidade e
no tempo,
mas também e sobretudo, pessoal e interior, de reconhecimento da degradação física
e moral
da capital, perspetivada como o reverso do período glorioso exaltado por Camões.
Nessa
viagem também algumas das personagens com quem o eu poético se confronta se afastam
dos padrões épicos marcados pela excelência, visando figuras de forma depreciativa
pela sua
associação aos valores negativos da cidade.