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A subversão da memória épica:

- O Poeta-cantor da realidade do seu tempo: a visão antiépica da cidade onde a dor


humana
busca os amplos horizontes, em contraste com o espírito épico de Camões e
recordando as
notações disfóricas das criticas e conselhos aos portugueses nas reflexões do poeta
em Os
Lusíadas.

-a viagem pelas «marés, de fel da cidade, opondo a sinistro mar» do século XIX aos
mares
nunca dantes navegados evocados em Os Lusíadas;

-as personagens representativas dos contrastes sociais e os heróis desfavorecidos-


Intenção
critica e depreciativa face à atualidade:

- denúncia da realidade decadente e antiépica do final do século XIX: desfasamento


entre
realidade desejada (imaginário épico camoniano) e realidade efetiva.

- Poema longo-44 quadras, distribuídas em quatro partes (com 11 estrofes cada uma).
Estruturação narrativa do poema, segundo uma progressão cronológica.

- Integração de pequenos episódios ilustrativos do ambiente da capital.

- Alusões a Camões e a Os Lusíadas (símbolos de um passado glorioso)

«O sentimento dum ocidental» é predominantemente um poema lírico, na medida em que


representa a vivência de um eu (poético) numa cidade moderna do mundo ocidental.
Contudo, o poema contém marcas que recordam o estilo épico mas que acabam por o
subverter (ou seja, por o contrariar). Essas características emergem logo por se
tratar de um
poema longo com um forte pendor narrativo, como sucede numa epopeia: o eu poético
relata
o seu percurso pela cidade. Mais ainda, esse sujeito podia estar a celebrar Lisboa
e a vida dos
seus habitantes; mas, na verdade, está a criticá-la: a cidade é um lugar decadente,
sem
brilho nem valor.

Há, contudo, uma dimensão épica no poema; mas essa não pertence ao presente, à
Lisboa
moderna. O Tejo, a estátua de Camões e alguns outros elementos remetem para um
passado
em que Portugal conheceu a grandeza e a glória. As alusões aos Descobrimentos e ao
Império
Marítimo são, assim, um esboço de uma epopeia do passado, que o presente torna
amarga
porque já não é essa a realidade moderna. Como sucederia com Camões, se tivesse
vivido no

fim do século XIX, o sujeito poético perdeu o motivo para celebrar a pátria
decadente e a
cidade sem brilho. No presente do eu poético, a viagem que se pode fazer já não é a
das
Descobertas, plena de aventura, mas a fuga, a evasão para outro lugar diferente:
«Levando à
via-férrea os que se vão. Felizes! / […] Madrid, Paris, Berlim, São Petersburgo, o
mundo!». Por
fim, também as personagens que povoam a cidade moderna não são já os heróis
militares,
cívicos, políticos e artísticos de outrora. São agora personagens decadentes como
burgueses,
dentistas ou gente que trabalha mecanicamente, que não trazem estatuto épico à
cidade.

Os descobrimentos são vistos como uma experiência pura e grandiosa à qual não é
feito jus no
presente, em que o mar é um comercio e uma desgraça, algo que se estende à cidade e
ao
povo português. Os militares perderam o seu orgulho ao servir lideres medíocres (o
rei –
Cesário era visto como republicano). As armadas já não existem são agora apenas
sonhos.
A vontade e os sonhos dos portugueses deixaram de existir, as gentes passaram a ser
submissas e desgraçadas, abusadas pelos poderes instituídos (minoria privilegiada e
feliz).
O poeta encara com felicidade aqueles que partem e com tristeza os que ficam, pois
são os
que vão sofrer mais.
A critica recai maioritariamente sobre os mais favorecidos, que se deixam levar
pela sua
situação sem ter consciência das outras realidades. Outra das críticas presentes
reside na
utilização de estrangeirismos ou de produtos vindos do estrangeiro.

O poeta relata agora uma outra viagem, já não apenas física, no espaço da cidade e
no tempo,
mas também e sobretudo, pessoal e interior, de reconhecimento da degradação física
e moral
da capital, perspetivada como o reverso do período glorioso exaltado por Camões.
Nessa
viagem também algumas das personagens com quem o eu poético se confronta se afastam
dos padrões épicos marcados pela excelência, visando figuras de forma depreciativa
pela sua
associação aos valores negativos da cidade.

– o Poeta-cantor da realidade do seu tempo: a visão antiépica da cidade: contraste


com o
espírito épico de Camões; aproximação às críticas e conselhos aos portugueses nas
reflexões
do poeta em Os Lusíadas;
– a viagem pelas «marés, de fel» da cidade, opondo o «sinistro mar» do século XIX
aos «mares
nunca dantes navegados» evocados em Os Lusíadas;

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