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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ACRE

PLANO DE ESTUDOS

Disciplina:
Língua Portuguesa I
Docente:
Rainise Pereira Lima
Curso/Turma ou Estudante (s):
Agropecuária 2020.1
Texto de apresentação (opcional):
Faça uma leitura dos conteúdos, e escolha um para fazer um breve resumo em slide ou escrito. Em seguida forme
duplas, ou faça individual para apresentar as informações pesquisadas.
Objetivos de aprendizagem:
Demonstrar compreensão sobre a literatura e seus gêneros
Identificar a diversidade de contos brasileiros, africanos e indígenas.
Conteúdo/Carga Horária:
Conteúdo Carga Horária
Humanismo 6 h/a
Gêneros literários 6 h/a
Origens da literatura brasileira 6 h/a
Contos da literatura brasileira, africana e 3 h/a
indígena
Apresentação de alguns trabalhos 3 h/a
Metodologia
✓ O conteúdo da disciplina será trabalhado por meio do estudo dos materiais do curso (apostilas, slides e
videoaulas), os quais serão disponibilizados no Google Classroom na sala de aula da turma e grupo criado no
Whatsapp, específico para Língua Portuguesa II e enviado para o e-mail do aluno.
✓ Também serão promovidas discussões nos fóruns da sala da turma no Google Classroom ou em reuniões no
Google Meet, para esclarecimento de dúvidas e para debates sobre temas relevantes à disciplina.
✓ O registro da frequência dos alunos será feito por meio da participação através dos meios tecnológicos
incluso: nos fóruns, nas reuniões do Google Meet e pela resolução de exercícios.
Atividades ou tarefas:
Conteúdo C.H. Atividade(s) Prazo de Entrega
Humanismo 6 h/a Faça uma leitura do conteúdo, e 14h
escolha um para fazer um breve 29/07/2021
resumo em slide ou escrito.

Gêneros literários 6 h/a Faça uma leitura do conteúdo, e 14h


escolha um para fazer um breve 29/07/2021
resumo em slide ou escrito.
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Contos da literatura 6 h/a Faça uma leitura do conteúdo, e 14h


brasileira, africana e escolha um para fazer um breve 29/07/2021
indígena resumo em slide ou escrito.
Origens da literatura 3 h/a Faça uma leitura do conteúdo, e 14h
brasileira escolha um para fazer um breve 29/07/2021
resumo em slide ou escrito.
Apresentação de alguns 3 h/a Apresentações 14h
trabalhos 29/07/2021
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O Humanismo é o nome dado a uma corrente filosófica e artística que surgiu no século XV na Europa.
Na literatura, ele representou o período de transição (escola literária) entre o Trovadorismo e o Classicismo, bem
como da Idade Média para a Idade Moderna.

Note que o termo “Humanismo” abriga diversas concepções. No geral, corresponde ao conjunto de valores
filosóficos, morais e estéticos que focam no ser humano, daí surge seu nome. Do latim, o termo humanus significa
“humano”.

Trata-se de uma ciência que permitiu ao homem compreender melhor o mundo e o próprio ser. Isso ocorreu
durante o período do Renascimento Cultural.

Homem Vitruviano (1590) de Leonardo da Vinci: símbolo do antropocentrismo humanista


Características do Humanismo
As principais características do Humanismo são:

• Racionalidade
• Antropocentrismo
• Cientificismo
• Modelo Clássico
• Valorização do corpo humano e das emoções
• Busca da beleza e perfeição
Humanismo em Portugal
O marco inicial do humanismo literário português foi a nomeação de Fernão Lopes para cronista-mor da Torre do
Tombo, em 1418.
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O movimento com foco na prosa, poesia e teatro, terminou com a chegada do poeta Sá de Miranda da Itália em
1527.

Isso porque ele trouxe inspirações literárias baseadas na nova medida chamada de “dolce stil nuevo” (Doce estilo
novo). Esse fato permitiu o início do classicismo como escola literária.

Autores e Obras
O teatro popular, a poesia palaciana e a crônica histórica foram os gêneros mais explorados durante o período do
humanismo em Portugal.

Gil Vicente (1465-1536) foi considerado o pai do teatro português, escrevendo “Autos” e “Farsas”, dos quais se
destacam:

• Auto da Visitação (1502)


• O Velho da Horta (1512)
• Auto da Barca do Inferno (1516)
• Farsa de Inês Pereira (1523)

Fernão Lopes (1390-1460) foi o maior representante da prosa historiográfica humanista, além de fundador da
historiografia portuguesa. De suas obras merecem destque:

• Crônica de El-Rei D. Pedro I


• Crônica de El-Rei D. Fernando
• Crônica de El-Rei D. João I

Com destaque para a poesia palaciana, Garcia de Resende (1470-1536) foi o maior representante com sua
obra Cancioneiro Geral (1516).

Saiba mais:
• Poesia Palaciana
• Teatro Vicentino
• A Linguagem do Humanismo
Principais Humanistas
Os humanistas eram os estudiosos da cultura antiga que se dedicavam, sobretudo, aos estudos dos textos da
antiguidade clássica greco-romana.

Petrarca, Dante Alighieri e Boccaccio são certamente os poetas italianos humanistas que merecem destaque.

Todos eles foram influenciados por características do período como o culto às línguas e às literaturas greco-latinas
(modelo clássico).

Além deles, grandes representantes da literatura humanista foram:

• o teólogo holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536);


• o escritor inglês Thomas More (1478-1535);
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• o escritor francês Michel de Montaigne (1533-1592).


Contexto Histórico
A época renascentista foi um momento de importantes transformações na mentalidade europeia.

Assim, com a invenção da imprensa, as grandes navegações, a crise do sistema feudal e o aparecimento da
burguesia, surge uma nova visão do ser humano.

Essa mudança veio questionar os velhos valores num impasse desenvolvido entre a fé a razão.

Nesse momento, o teocentrismo (Deus como centro do mundo) e a estrutura hierárquica medieval (nobreza-clero-
povo) sai de cena, dando lugar ao antropocentrismo (homem como centro do mundo). Esse último, foi o ideal
central do humanismo renascentista.

Humanismo Renascentista
O Humanismo Renascentista (XIV e XVI), nascido em Florença na Itália, foi um movimento intelectual de valorização
do homem.

Tem o antropocentrismo como sua principal característica, em detrimento do teocentrismo que vigorou durante a
Idade Média.

Surgido na Itália no século XV, o Humanismo rapidamente difundiu-se pela Europa durante o século XVI. Ele se
desenvolveu em diversos campos do conhecimento e das artes: literatura, escultura, artes plásticas, etc.

https://www.todamateria.com.br/humanismo/

Gêneros literários

Os gêneros literários são categorias dos textos literários, classificados de acordo com a forma e o conteúdo.
Dessa maneira, englobam o conjunto de características formais e temáticas das manifestações literárias. Do latim, o
termo “gênero” (“genus” e “eris”) significa origem e nascimento.

Mas o que é Literatura?


A literatura é a arte das palavras, aquela que por meio das figuras de linguagens exprime sensações, emoções,
desejos.
Assim, ela engloba diversos textos sendo os gêneros literários classificados em: Lírico, Épico (Narrativo) e Dramático.

Por sua vez, os gêneros textuais são classificados em: Narrativo, Descritivo, Dissertativo, Expositivo e Injuntivo.

Classificação dos Gêneros Literários


A classificação dos gêneros literários foi proposta, na antiguidade clássica, pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-
322 a.C.), as quais foram divididas em:

• Gênero Lírico: “palavra cantada”.


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• Gênero Épico: “palavra narrada”.


• Gênero Dramático: “palavra representada”.

Gênero Lírico
O Gênero lírico apresenta textos em versos por meio de uma linguagem poética, de caráter sentimental com
predominância da subjetividade do eu-lírico (primeira pessoa).

Do latim, o nome lírico, surgiu de “lira”, instrumento utilizado para acompanhar as poesias cantadas. Importante
notar que o "eu-lírico" é distinto do autor, ou seja, o eu-lírico pode ser masculino ou feminino, independente de sua
autoria. Alguns exemplos de textos líricos são:

• Soneto
• Poesia
• Ode
• Haicai
• Hino
• Sátira

Gênero Épico
O gênero épico representa a mais antiga das manifestações literárias e abarca as narrativas histórico-literárias de
grandes acontecimentos, com presença de temas terrenos, mitológicos e lendários.

Note que o termo “épico” vem da palavra “epopeia”, que do grego (“épos”) simboliza a narrativa em versos de fatos
grandiosos centrados na figura de um herói ou de um povo.

Os elementos essenciais das narrativas épicas são: narrador (quem narra a história), enredo (sucessão dos
acontecimentos), personagens (principais e secundárias), tempo (época dos fatos) e espaço (local dos episódios).

Atualmente, os estudiosos referem-se a esse gênero como “narrativo” em detrimento do termo “épico”. Alguns
exemplos de textos épicos são:

• Epopeia
• Romance
• Novela
• Conto
• Crônica
• Fábula

Gênero Dramático
O gênero dramático envolve a literatura teatral em prosa ou em verso, aquela para ser apresentada e encenada. Do
grego, a palavra “drama” significa “ação”.

Por esse motivo, o diálogo é um recurso muito utilizado, de forma que a tríade essencial dos textos literários
dramáticos são: o autor, o texto e o público. Assim, algumas modalidades dos textos dramáticos são:
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• Tragédia
• Comédia
• Tragicomédia
• Farsa
• Elegia
https://www.todamateria.com.br/generos-literarios/

Contos da literatura brasileira, africana e indígena.


1. A cartomante, de Machado de Assis

O enredo do conto A Cartomante gira em torno de um triângulo amoroso composto por um casal - Vilela e Rita - e
um amigo de infância muito próximo do rapaz - Camilo.

Com medo de ser descoberta, Rita é a primeira a consultar uma cartomante. Camilo, que inicialmente zomba da
amante, afasta-se do amigo após começar a receber cartas anônimas a falar daquela relação extraconjugal.

Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as
ausências. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente.

Depois de receber um bilhete do amigo dizendo que precisava falar com ele urgentemente, Camilo fica aflito e,
assim, antes de ir à casa de Vilela, resolve fazer o mesmo que a amante e também vai à cartomante, que o
tranquiliza.

Camilo vai à casa do amigo confiante de que a relação continuava em segredo, mas encontra Rita morta e
ensanguentada. O conto termina com a morte de Camilo, assassinado por Vilela com dois tiros de revólver.
Veja também: Machado de Assis
2. Negrinha, de Monteiro Lobato
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O conto narra a vida triste de uma menina, órfã aos 4 anos. Ela vivia assustada. Enquanto era viva, a mãe escrava,
fechava-lhe a boca para que a patroa não ouvisse o seu choro.

A patroa chamava-se dona Inácia. Era viúva e não tinha filhos. Não gostava de crianças e o choro delas tiravam-lhe a
paciência.

Quando a mãe da menina morreu, dona Inácia mantinha a pequena junto dela, que mal podia se mexer.

— Sentadinha aí, e bico, hein?


Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
— Braços cruzados, já, diabo!
Dona Inácia nunca deu-lhe um carinho e chamava-lhe dos piores apelidos possíveis, mas dizia ter um coração
caridoso, por criar a órfã. Além disso, os da casa viviam batendo na criança, que tinha o corpo marcado.

Um dia, dona Inácia recebeu duas sobrinhas pequenas para passar férias em sua casa. Foi a primeira vez que
Negrinha viu uma boneca e que brincou. Inesperadamente, dona Inácia deixou a menina brincar com as suas
sobrinhas.

A partir daí, e com o regresso das sobrinhas, Negrinha caiu numa profunda tristeza. Deixou de comer, até se deixar
morrer numa esteira.

Veja também: Monteiro Lobato


3. Baleia, de Graciliano Ramos
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O conto é o capítulo IX da obra Vidas Secas. Ele narra a morte da cadela Baleia, que era como um membro da família
de itinerantes, composta por Fabiano, Sinhá Vitória e seus dois filhos.

Baleia estava muito magra e seu corpo apresentava falhas de pelos. Já andava com um rosário de sabugos de milho
queimados no pescoço, que seu dono tinha colocado na tentativa de fazer com que ela melhorasse.

Num estado cada vez pior, Fabiano decidiu matar o bicho. Os meninos temiam o pior para Baleia e foram levados
pela mãe para os poupar da cena. Sinhá Vitória tentava tapar os ouvidos dos filhos para que não ouvissem o disparo
da espingarda do pai, mas eles lutavam aflitos com ela.

O tiro de Fabiano acerta o quarto da cadela e a partir daí o narrador descreve as dificuldades que ela tem para andar
depois de ser ferida e as suas sensações nos últimos momentos de vida.

Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se.

Veja também: Vida e Obra de Graciliano Ramos


4. Peru de Natal, de Mário de Andrade
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Peru de Natal narra o sentimento de culpa que assombra uma família depois da morte do pai. O homem era sério e
a família vivia sem necessidades econômicas e conflitos, mas sem experimentar o sentimento da felicidade.

O narrador, filho de dezenove anos, que desde cedo foi tachado como “louco”, aproveitou a oportunidade para
sugerir um peru para a ceia de Natal, o que era algo inadmissível, tendo em conta o luto da família.

Além disso, peru só era comido em dia de festa. Na verdade, a família ficava com os restos no dia seguinte ao
evento, pois os parentes se encarregavam de devorar tudo e, ainda, levar para os que não podiam ter comparecido
à festa.

O “louco” sugeria um peru só para eles, os cinco habitantes da casa. E assim foi feito, o que rendeu à família o
melhor Natal que já tinham tido. O fato de terem um peru só para eles, trouxera uma “felicidade nova”.

Mas quando começou a servir o peru e ofereceu um prato cheio à mãe, esta começou a chorar e fez a tia e a irmã
fazerem o mesmo. E a imagem do pai morto veio estragar o Natal, dando início à luta dos dois mortos: o pai e o
peru. Por fim, fingindo-se triste, o narrador começa a falar do pai lembrando dos sacrifícios que tinha feito pela
família, o que retomou o sentimento de felicidade da família.

Agora todos comiam o peru com sensualidade, porque papai fora muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós,
fora um santo que “vocês, meus filhos, nunca poderão pagar o que devem a seu pai”, um santo. Papai virara santo,
uma contemplação agradável, uma inestorvável estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro objeto de
contemplação suave. O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso.

Veja também: Mário de Andrade


5. Presépio, de Carlos Drummond de Andrade

O conto relata a escolha indecisa de Dasdores entre a montagem de presépio ou a ida à Missa do Galo. Era véspera
de Natal e, entre tantos afazeres, ela não tinha tempo para fazer ambas as coisas.

Dentre as obrigações de Dasdores, as principais eram cuidar dos irmãos, fazer doces de calda, escrever cartas e
montar o presépio - esta última é determinação de uma tia morta. Os pais estavam sempre exigindo mais e mais
dela, pois acreditavam que era assim que uma moça deveria ser educada.
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A questão é que se não fosse à missa, não veria o namorado Abelardo, coisa rara de acontecer.

Ao iniciar o ritual da montagem do presépio desembrulhando as caixas com as peças, as amigas chegam em casa
para combinar o horário de irem para a missa, o que atrasa ainda mais as tarefas de Dasdores.

A moça continua montando o presépio, lutando contra o tempo, ao passo em que o seu pensamento divide-se entre
o namorado e o Menino Jesus.

Mas Dasdores continua, calma e preocupada, cismarenta e repartida, juntando na imaginação os dois deuses,
colocando os pastores na posição devida e peculiar à adoração, decifrando os olhos de Abelardo, as mãos de
Abelardo, o mistério prestigioso do ser de Abelardo, a auréola que os caminhantes descobriram em torno dos
cabelos macios de Abelardo, a pele morena de Jesus, e aquele cigarro — quem botou! — ardendo na areia do
presépio, e que Abelardo fumava na outra rua.

Veja também: Carlos Drummond de Andrade


6. Feliz aniversário, de Clarice Lispector

Esta narrativa descreve o aniversário de uma matriarca de 89 anos, que vivia com a filha Zilda, a única mulher entre
os 7 filhos.

Zilda tinha preparado a festa para uma família que não convivia, que não tinha carinho uns pelos outros. Exemplo
disso era um dos filhos, que não foi à festa para não ver os irmãos e mandou a mulher para o representar.

Os convidados ignoravam a aniversariante, cuja filha já a tinha sentado à mesa desde às duas da tarde, quando os
primeiros convidados começaram a chegar às quatro. Tudo isso para adiantar o seu trabalho.

Apesar de não se manifestar, a matriarca estava triste e revoltada com os seus frutos.

Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns
comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a
sua família.
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Em dada altura, cospe no chão e, sem modos, pede um copo de vinho.

Foi esse o momento em que chamou as atenções para si, já que faziam a festa entre eles, de costas para a velha,
cuja presença foi ignorada durante todo o tempo e que, ao fim, só pensava se naquele dia haveria jantar.

Veja também: Vida e Obra de Clarice Lispector


7. O moço do saxofone, de Lygia Fagundes Telles

O protagonista, chofer de caminhão, ganha o hábito de ir comer todos a pensão de uma senhora polaca, onde além
de a comida ser ruim, era frequentada por artistas anões e por volantes que saíam palitando os dentes, coisa que
ele detestava.

No primeiro dia, foi surpreendido com uma música triste tocada de um saxofone, ao que pergunta a um
companheiro quem estava tocando. James, disse ser “o moço do saxofone”, um homem casado que não dormia no
mesmo quarto que a mulher, que o traía constantemente.

A música vinha do quarto e ninguém via o tal moço, que não saía nem para comer. O saxofone incomodava o
protagonista; a música lembrava-lhe um pedido de socorro, tal como o de uma mulher a dar à luz e que há tempos
tinha dado carona no seu caminhão.

Na pensão, encontrou uma mulher de vestido muito curto e percebeu que se tratava da esposa do moço do
saxofone. Observador, percebeu que a música tocava nos momentos que a mulher o traía e combinou também ele
um encontro com ela, mas enganou-se no quarto e deparou-se antes com o seu marido, que para seu espanto,
indicou-lhe o quarto correto.

Indignado, questionou a atitude do homem:

— E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma boa sova, não lhe chuta com mala e
tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo,
mas quer dizer que você não faz nada?

— Eu toco saxofone.
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Veja também: Lygia Fagundes Telles


8. A Nova Califórnia, de Lima Barreto

A Nova Califórnia narra a chegada de um misterioso homem a uma cidade pacata do Rio de Janeiro. Como não
falava com ninguém, o mistério aumentava a curiosidade das pessoas.

Por Chico da Tiara, o carteiro, os moradores sabiam que o homem se chamava Raimundo Flamel, pois todos os dias
recebia correspondências - cartas, livros e revistas - do mundo inteiro. Além disso, sabiam da existência de alguns
utensílios estranhos em sua casa - balões de vidro, copos como os da farmácia - pelo fato de ter chamado um
pedreiro que lhe fizesse um forno em sua sala de jantar.

Acontece que apesar de misterioso, passou a ser admirado pela população, graças ao boticário Bastos, que
expressou sua desconfiança de que o homem fosse um sábio que precisava de sossego para desenvolver seus
trabalhos científicos.

E foi ao boticário que Flamel recorreu quando precisou de alguém para testemunhar a sua descoberta: como fazer
ouro usando para esse fim ossos de mortos.

Foi quando acabou o sossego da pequena cidade, que sem ocorrências de qualquer tipo de crime, viu as sepulturas
de seu cemitério sendo constantemente violadas. Depois de se tornar descoberto o motivo do arrombamento do
cemitério, toda a população procurou ossos com o intuito de enriquecer iniciando uma grande luta entre todos, até
mesmo entre as famílias, restando na cidade apenas um bêbedo.

De manhã, o cemitério tinha mais mortos do que aqueles que recebera em trinta anos de existência. Uma única
pessoa lá não estivera, não matara nem profanara sepulturas: fora o bêbedo Belmiro.

Veja também: Lima Barreto


9. A Partida, de Osman Lins
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O conto narra a partida de um jovem da casa da avó, decisão que havia tomado pelo fato de estar cansado da
rotina, dos limites impostos pela senhora, dos seus cuidados excessivos e até mesmo dos carinhos. Queria
experimentar algo novo, a liberdade.

A avó ajudou-lhe a arrumar a mala e enquanto o fazia, ele só pensava na vida fascinante que o aguardava:

... passeios, domingos sem missa, trabalho em vez de livros, mulheres nas praias, caras novas.

Depois de fazer as últimas arrumações na casa antes de ir dormir, a avó foi cobrir o neto, o que ele revela que a
velhinha continua a fazer quando a visita.

Na noite antes da partida não conseguira dormir. Apesar do enorme desejo em deixar aquela casa, algo o
amargurava.

No momento de ir embora demorou a sair, sem entender o motivo, mas o fez beijando a mão da avó, que tinha
deixado a mesa posta com uma toalha bordada que era usada nos aniversários de ambos.

Temos certeza que você vai adorar esse texto: 16 maiores poetas brasileiros modernos e contemporâneos.
10. Sem enfeite nenhum, de Adélia Prado

Adélia Prado é uma escritora contemporânea de destaque. Mineira, nasceu em 1935


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Sem enfeite nenhum mostra a percepção que a filha tem de sua mãe, pessoa simples e cheia de manias. Mulher de
saúde frágil, só ia às missas das cinco da tarde porque receava o escuro, e tinha o cacoete de enrolar um cacho de
cabelos. Passava o dia a clamar por Jesus e tinha medo de morrer.

A mãe era uma pessoa muito difícil de lidar, mas valoriza os estudos e exigia que a filha tirasse as melhores notas.
Ela própria era inteligente e gostava de ler. Por isso, podia zelar pela simplicidade e recusava qualquer luxo, mas não
poupava no que fosse necessário relativamente aos estudos da filha.

Era a mulher mais difícil a mãe. Difícil, assim, de ser agradada. Gostava que eu tirasse só dez e primeiro lugar. Pras
essas coisas não poupava, era pasta de primeira, caixa com doze lápis e uniforme mandado plissar.

Uma vez o pai falou da intenção de comprar um relógio para a filha, mas a mãe logo acabou com os seus planos.
Quando em outra vez ele ofereceu um sapato à mãe ela colocou tantos defeitos que o homem teve que ir três vezes
à loja, hora por causa do modelo, hora por causa da cor. Nada a agradava.

Mas o pior aconteceu com a oferta do crucifixo que o homem trouxe todo satisfeito para a mulher, que ao receber,
respondeu que preferia que o mesmo fosse "sem enfeite nenhum".

https://www.todamateria.com.br/contos-brasileiros/

Contos Afro-brasileiros, Indígenas e Africanos


Este blog tem a humilde pretensão de divulgar contos, mitologias e histórias que atendem a uma perspectiva
africana, afro-brasileira e indígena. Alguns foram descritos como os encontrei, outros foram adaptados. Espero que
possam fazer parte do universo da imaginação e reflexão da leitora e leitor.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
História da Onça

Era uma vez uma Onça que convidou todos os bichos para a festa.
Quando chegou lá, todos começaram a dançar. E a onça cantava e dizia para si: “Isto tudo pra meu papo, isto tudo
pra meu papo”. Aí o Macaco falou:
Fiquem todos espertos que a Onça quer nos comer.
E tocava viola:
- Ponha o olho nela que a coisa é hoje.
O Cágado aí disse:
- Eu já vou, porque eu tenho minhas botas curtas.
E foi andando. Os bichos fugiram. A Onça foi atrás. Só encontrou o Cágado, mas ele entrou na toca. Ela, então, pôs
o Sapo de guarda para não deixá-lo sair. O Cágado, porém, foi esperto: mandou o Sapo abrir os olhos, jogou-lhe
uma mancheia de areia e saiu ligeirinho. Quando a Onça chegou, perguntou:
- Ele saiu?
O Sapo:
- Não.
Ela cavou, cavou, chegou ao final do buraco e não encontrou o Cágado. Virou-se para o Sapo e disse:
- Agora eu vou fazer uma coivara e jogar você dentro.
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- É do que eu gosto – falou o Sapo.


A Onça teve outra idéia:
- Eu vou jogar você dentro d’água fria.
E o Sapo, em resposta:
Não, amiga Onça, me jogue no fogo.
A Onça levou o Sapo para o rio e o atirou lá.
- Era isso que eu queria! Era isso que eu queria!
A Onça pensou outra coisa:
- Amigo Sapo me ensine a nadar.
E o Sapo lhe disse:
- Pegue uma pedra e amarre na barriga.
A Onça fez o que o Sapo mandou e bebeu foi muita água.

UBUNTU

A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), nos presenteou com um caso de uma
tribo na África chamada Ubuntu.
Ela contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve
que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria
catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito, com laço de fita e tudo, e
colocou debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam
sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.

As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado.
Quando ele disse "Já!", instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore
com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com
tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.

Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem
tristes?"

Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de
verdade, essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"

Atente para o detalhe: porque SOMOS, não pelo que temos...


UBUNTU PRA VOCÊ!
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Coração-Sozinho
O Leão e a Leoa tiveram três filhos! Um deu a si próprio o nome de Coração-Sozinho, o outro escolheu o de Coração-
com-a-Mãe e o terceiro o de Coração-com-o-Pai.
Coração-Sozinho encontrou um porco e apanhou-o, mas não havia quem o ajudasse porque o seu nome era Coração-
Sozinho.
Coração-com-a-Mãe encontrou um porco, apanhou-o e sua mãe veio logo para o ajudar a matar o animal. Comeram-
no ambos.
Coração-com-o-Pai apanhou também um porco. O pai veio logo para o ajudar. Mataram o porco e comeram-no os
dois.
Coração-Sozinho encontrou outro porco, apanhou-o mas não o conseguia matar. Ninguém foi em seu auxílio.
Coração-Sozinho continuou nas suas caçadas, sem ajuda de ninguém. Começou a emagrecer, a emagrecer, até que
um dia morreu. Os outros continuaram cheios de saúde por não terem um coração sozinho.
https://escritoseoralidades.blogspot.com/

A ORIGEM DA LAVOURA

A princípio a Terra não era boa nem farta. Não tinha peixes nas águas, animais nos matos e pássaros nos céus. Não se
conhecia o fogo. Não existiam frutos e legumes. Os índios alimentavam-se de farelo de palmeira em decomposição,
de lagartas e orelhas-de-pau. Certo dia, um jovem índio, andando pelo mato, viu sentada no seu caminho uma linda
moça.

- Quem é você? De onde veio? - perguntou ele.


- Vim do céu - respondeu ela - Meu pai e minha mãe ralharam comigo, e vim embora, descendo com a chuva....

Como todos os índios tinham descido do céu, embora por outro caminho, o rapaz não duvidou daquelas palavras e
muito se alegrou com a ideia de encontrar uma moça bonita para ser sua noiva. A moça era acanhada e mostrava
receio de encontrar-se com as outras índias. Por isso, ambos esperaram que o dia fosse embora e, sob a cortina da
noite, chegaram à casa da mãe do rapaz, onde, sem que ninguém visse, o índio escondeu a moça num enorme cesto
de palha cuja boca fechou com cera. Assim, ela passava os dias escondida, esperando a noite, quando o namorado
vinha e a fazia sair do grande cesto. Mas a mãe do índio ficou curiosa em saber o que tinha dentro daquele cesto e
descobriu ali a filha do céu. Quando a história foi revelada, o rapaz abriu o cesto de palha em plena luz do dia. Mas a
menina não queria sair de lá. Baixou a cabeça e custou a levantar. Todos admiraram a beleza da filha do céu, a fizeram
sair de dentro do cesto e trataram de enfeitá-la com a cabeça raspada no alto e o corpo pintado de urucum e jenipapo.
A moça gostava de falar do céu e da fartura de frutos e legumes. Certo dia, queixou-se ao marido de que estava
enjoada de comer lagartas e manifestou o desejo de voltar ao céu, a fim de trazer algumas sementes. Ensinou como
ele devia fazer uma roçada, limpando a terra e preparando-a para receber as sementes trazidas do céu. De manhã,
dirigiram-se os dois ao campo onde a filha do céu indicou uma árvore alta e flexível. Subiram até o último galho, e o
peso de ambos fez que o tronco vergasse até o chão.

- Pule! - mandou a índia.


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Ele pulou e a árvore se esticou novamente levando a moça para o seu lar. Seu marido fez a roçada e um dia encontrou
a moça sentada no meio dela, cercada de mudas de bananeira, de batatas e inhames. Do céu, nessa mesma ocasião,
veio o primeiro beiju, embrulhado em folhas de bananeira, em forma de estrela.
A índia fez uma nova viagem ao céu para mostrar aos pais o filho que lhe nascera aqui na Terra. Subiu por uma
altíssima casa de cupim. Depois de criado o menino, a mãe tornou a subir para o céu, mas de lá nunca mais voltou.
Os índios continuaram fazendo suas roçadas, ano após ano, cabendo às mulheres plantar a terra preparada. E, quando
fazem seus beijus, ainda arranjam as folhas de bananeira em forma de estrela, como a Mãe da Lavoura e Filha do Céu
ensinou a fazer.

Adaptação de Augusto Pessôa

ORIGEM DO RIO AMAZONAS

Há muitos anos a Lua e o Sol se apaixonaram. O Sol ficou encantado pela beleza da Lua e a iluminava de paixão. A Lua
ficou sonhando com o calor do Sol e chorava baixinho querendo se aproximar do seu amado. Era um amor bonito que
dava gosto de ver. Mas eles se amavam a distância. O Sol, então, mandou os passarinhos pedirem a Lua em
casamento. Aquela revoada de pássaros fez um vôo fantástico até encontrar com a Lua. Chegaram e pediram a Lua
em casamento numa linda canção. A Lua ficou cheia de alegria. O casamento foi marcado e o céu se enfeitou. As
estrelas brilharam ainda mais e as nuvens criaram desenhos no firmamento. Seria uma festança que duraria um ano
inteiro. Mas o mar não gostou e avisou aos noivos:

- O casamento de vocês não pode acontecer! Esse encontro vai destruir o mundo. O amor ardente do Sol vai queimar
tudo e a Lua com as suas lágrimas inundaria toda a Terra. Por isso não podem se casar. A Lua apagaria o fogo e o Sol
evaporaria a água.

A Lua não se importou com isso. Queria casar de qualquer jeito. Estava completamente apaixonada. Mas o Sol ficou
com medo. Amava muito a Lua, mas não queria destruir o mundo. Separaram-se, então, a Lua para um lado e o Sol
para o outro. Quando a Lua começava a aparecer no céu, o Sol ia embora. A Lua ainda tentou convencer o Sol. Mas
não deu jeito. E ela tenta até hoje. E é por isso que, de vez em quando, a Lua e o Sol ficam juntos no céu. Mas aí tudo
escurece e o Sol foge de sua amada.
Na primeira separação, a Lua chorou todo o dia e toda a noite. Foi então que as lágrimas correram por cima da Terra
até o mar. Mas o mar que estava zangado com a Lua não deixou que as lágrimas se misturassem com as suas águas.
E o mar ainda tenta acabar com as lágrimas da lua com um estrondo forte que os índios chamam de pororoca.
As lágrimas da Lua é que deram origem ao nosso rio Amazonas.

Adaptação de Augusto Pessôa

COMO SURGIU A NOITE


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Num tempo já esquecido, o dia não tinha fim. O sol ficava o tempo todo iluminando a floresta. Os índios eram
obrigados a dormir no claro. Estavam cansados disso e desejavam um pouco de escuridão para conseguirem dormir
melhor.
Mas o sol não deixava de iluminar o eterno dia.
Foi quando um velho, que veio de muito longe, contou que tinha visto um monstro que guardava dois grandes potes.
Os potes eram pretos e estavam cheios de escuridão.
Os índios imaginaram que a noite tão desejada poderia estar trancada nesses potes. E resolveram ir pegar a noite.
No dia seguinte um grupo saiu para ir ao local indicado pelo velho. Andaram bastante até que viram o mostro
dormindo ao lado dos potes. Quando se aproximaram viram escutaram o barulho que vinha de dentro daquelas
vasilhas: o som das corujas, dos macacos noturnos, dos grilos, das rãs e dos sapos do brejo e de todos os seres que
vivem na noite. O grupo de índios usando arco e flechas conseguiram quebrar o pote menor. De dentro daquela
vasilha saiu a noite com todos os seu bichos. Os índios saíram correndo. Chegaram nas ocas e aproveitaram a
escuridão para dormir um pouco. Mas a noite que saiu do pote pequeno não durou muito. Era curta. Não dava para
descansar quase nada.
Os índios resolveram voltar e quebrar o pote maior. Dois índios foram incumbidos de realizar a tarefa, pois eram
grandes arqueiros. Os dois jovens convidaram o Urutau para acompanha-los. Mas aconselharam ao pássaro que
corresse bem depressa porque essa noite era maior e podia pegá-los de jeito. Os três chegaram ao local onde o
monstro ainda dormia e com a habilidade dos arcos quebraram o pote maior. Saiu de lá uma noite que não tinha mais
fim. Os três fugiram em disparada. Mas Urutau tropeçou num cipó e caiu. Foi logo alcançado pela imensa escuridão.
Por isso, até hoje, o Urutau é uma ave noturna.
E foi assim que surgiu a noite.

CONTO INDÍGENA ADAPTADO POR AUGUSTO PESSÔA

COMO APARECEU A REDE DE DORMIR

Antigamente não existiam redes de dormir.


Homens e mulheres dormiam no chão por cima das folhas, ou pendurados em árvores, como os macacos.
Um pajé chamado Tamaquaré, ia se casar e não queria mais dormir no chão como os homens. Tinha medo de que os
animais o machucassem. Também não queria dormir no alto das árvores porque tinha medo de cair de lá com sua
mulher.
Ele resolver falar com o compadre tucano para ver se ele arrumava uma solução.
O tucano nessa época tinha o bico curto e falava pelos cotovelos. Tamaquaré encontrou o compadre e pediu:

- Compadre tucano, vou me casar e não quero mais dormir no chão, nem pendurado como um macaco. O senhor
pode me ajudar a resolver esse problema?
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O tucano pensou muito. Até que teve uma ideia: pegou um monte de cipós e começou a trançar. Depois de trançar
bastante aquilo ficou bonito de dar gosto de olhar. O tucano amarrou o trançado entre duas árvores e chamou o pajé.
Tamaquaré ficou satisfeito, mas disse ao tucano:

- Compadre, gostei muito do seu trabalho! Mas não quero que ninguém saiba como eu consegui esse trançado. Você
entendeu? Não conte para ninguém se não eu vou me zangar com você!

O tucano ficou quieto por um tempo.


No dia do casamento de Tamaquaré houve uma festança danada. O tucano estava animado e orgulhoso. Comeu e
bebeu tudo que podia. No meio da festança o tucano disse bem alto:

- Meu compadre se casou! E ele não vai dormir no chão como os outros! Vai dormir na rede que eu fiz! Vai dormir
bem confortável!

Disse o que disse e mostrou a rede. Toda a tribo ficou encantada com aquilo. Mas Tamaquaré se aborreceu. Cuspiu
no chão com raiva. Pegou o tucano pelo bico e começou a puxar. Puxou com força e ainda disse:

- Agora, compadre, você vai ficar com esse bico comprido para deixar de ser linguarudo. Não vai mais falar e ainda vai
voar curto para aprender!

Desde esse tempo os homens passaram a usar redes para dormir. E o tucano ficou com aquele bicão, falando um nhé-
nhé-nhé e voando pequeno.

Adaptação de Augusto Pessôa

COMO O CÉU SE AFASTOU DA TERRA

Num tempo muito antigo, o céu ficava tão pertinho da Terra que os índios e os bichos andavam no meio das nuvens
e das estrelas. Os curumins brincavam no algodão das nuvens e os namorados trocavam juras de amor ao lado da lua.
Estava todo mundo satisfeito com esse céu tão pertinho da terra.
Menos os passarinhos. Eles queriam voar livremente, subir muito alto e do jeito que estava só podiam dar voos curtos.
Fizeram uma reunião para resolver o problema. O morcego também foi convidado.
No dia da reunião os passarinhos estavam em festa. Veio pássaro de todos os lados e de tudo que é tipo: juriti, urubu,
sabiá, papagaio e muito mais. A discussão estava animada até que veio do papagaio a ideia:

- Porque a gente não se junta e levanta o céu?

Houve um espanto pela proposta e um grande silêncio se formou. Logo em seguida os pássaros começaram a gritar
festejando a proposta. Só o morcego não gostou:
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- Não quero participar disso. Vou continuar a dormir de cabeça para baixo.

No dia marcado todos os pássaros se reuniram e num esforço conjunto começaram a empurrar o céu para cima. E o
azul celeste foi subindo, foi subindo. Junto com ele as nuvens, o sol, a lua, as estrelas e todos os corpos celestes. O
céu ficou tão alto que ninguém conseguia pegar no sol e nem brincar com as estrelas. Podiam subir na mais alta árvore
e no pico da maior montanha que não alcançavam mais o céu.
Os pássaros em festa voavam em todas as direções. Os homens é que não gostaram muito. Eles apreciavam ter os
corpos celestes por perto. Ficaram mesmo zangados. E é por isso que, até hoje, homens e pássaros não se dão muito
bem.
E o morcego?
O morcego continua a dormir pendurado pelos pés, de cabeça para baixo.

Conto Indígena adaptado por Augusto Pessôa

COMO SURGIRAM OS HOMENS

Existem várias lendas entre os índios sobre como os homens surgiram na terra uma delas é essa:
A selva era deserta.
Nem uma aldeia, nem uma rede pendurada, nem uma fogueira, nem uma cabana, nem famílias, nem roçado. O dia
nascia, mas só iluminava o vazio. Só dava luz à solidão. Os pássaros voavam e só pousavam nos galhos das árvores.
Nem um telhado, nem uma palha trançada. Os peixes nadavam nos rios sem uma canoa como companhia.
Até que surgiu o primeiro dos homens. Era jovem e belo e corria livre pela mata. Era amigo das matas e dos animais.
Caçava só para comer, nadava com os peixes do rio, dormia com os macacos, sonhava com os pássaros. Tinha tudo
para ser feliz. Mas o índio começou a ficar triste. Sentia se sozinho. Via que os animais tinham companheiros e ele
vivia numa grande solidão. Ele queria ter uma companheira e seres iguais a ele para conversar.
Um dia o rapaz foi conversar com sua amiga onça e contou sua tristeza:

- Queria tanto uma companheira. Queria muito correr, conversar e brincar com outros parecidos comigo.

A onça ouviu em silencio o lamento do amigo. Pensou bastante e resolveu contar o segredo de como o índio poderia
ter seus companheiros. A onça disse com cuidado nos ouvidos do nosso herói o grande segredo. O segredo da criação
dos homens.
O índio ficou feliz com a descoberta e logo começou a trabalhar como a onça ensinou. Foi até a mata e cortou árvores
fazendo grossas toras. Pegou um grande pilão e socou as toras nele. Depois passou pimenta, fincou as toras num
descampado e esperou a noite chegar. Quando anoiteceu, fez uma fogueira ao redor de cada uma das toras.
Mas nada aconteceu. Ninguém apareceu. E nosso herói chorou muito.
Mesmo assim ele não desistiu. Talvez tivesse errado no tipo de árvore que cortou. Voltou para a floresta e cortou
toras de outra árvore. E fez tudo como na primeira vez: socou as toras no pilão, passou pimenta e fincou todas no
descampado. Quando anoiteceu, acendeu uma fogueira em volta de cada tora. Novamente a madeira não se
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transformou em gente. E o herói mais uma vez chorou. Foi um choro tão sofrido, tão grande, que o coitado adormeceu
ali mesmo.
No meio do descampado, as toras continuavam fincadas no chão.
Quando o sol foi nascendo devagar e acertando seus raios em cada uma das toras elas se transformaram. Um a um
foram virando gente. Com o calor do sol, os índios despertaram e viveram. Eram tão belos e jovens que todos os
animais fizeram uma festa para homenagea-los. E nosso herói viu com alegria o surgimento dos índios. Ele trocou
olhares com uma bela índia e os dois se apaixonaram.
Logo toda a terra estava povoada.
E até hoje no alto Xingú os índios dançam comemorando esse dia.

Adaptação de Augusto Pessôa

LENDA DA CRIAÇÃO DO MUNDO

Os índios viviam dentro do furo das pedras. No principio dos tempos eles não conheciam a Terra. Viviam dentro das
rochas. Eram felizes e tinham vida eterna. Eles só morriam quando ficavam cansados de viver.
Um dia, eles decidiram que era hora de sair e conhecer o mundo. Foram todos saindo dos furos. Só um deles não
conseguiu sair porque estava gordinho.
Na Terra era uma escuridão sem fim. Os índios corriam para todos os lados conhecendo o mundo. Comeram frutas
que eles não conheciam.
Até que um dia, ficaram com pena daquele que ficou nas pedras e levaram as frutas mais saborosas para ele e um
galho seco. Ao ver o galho, o índio da pedra falou:

- Esse lugar que vocês andam não é bom. As coisas envelhecem e morrem. Não quero ir para esse lugar onde tudo
envelhece. Vou ficar por aqui mesmo. E vocês deviam fazer o mesmo!

Mas os outros não deram atenção para as palavras do índio e continuaram a conhecer a terra.
Um jovem rapaz, junto com sua amada, andava procurando alimento. Como tudo estava escuro, a índia feriu as mãos
em espinhos quando tentava colher frutas. O rapaz, naquela escuridão danada, comeu mandioca brava. Sentindo
muitas dores ele deitou e parecia que estava morto. Vários urubus começaram a voar em volta do rapaz achando que
ele tinha morrido. Até que um deles disse:

- Eu acho que ele não está morto. Ainda está se mexendo...

Mas outro urubu falou:

- Está se mexendo nada! Ele está é bem morto!

Começou uma confusão danada. Uns achavam que o rapaz estava morto e outros diziam que não.
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Para acabar com essa dúvida foi chamado o urubu-rei que era o mais sábio de todos. O grande pássaro de bico
vermelho veio voando, flanando pelo céu, se aproximou e começou a observar o rapaz. Até que declarou:

- Esse rapaz está morto!

E pousou na barriga do índio. Mas o rapaz, que só fingia que estava morto, agarrou com força as pernas do urubu. O
pássaro de bico vermelho esperneou, debateu-se, mas não conseguiu se libertar. E o rapaz mandou:

- Quero o mais belo dos enfeites!

E o urubu-rei trouxe as estrelas no céu que piscavam sem parar. Os enfeites eram belos, mas o mundo continuava
escuro. E o rapaz pediu mais:

- Quero outro enfeite!

O urubu-rei trouxe a lua com sua luz prateada. Mas a Terra continuava escura. E o rapaz pediu ainda mais:

- Ainda está tudo escuro! Quero outro enfeite! Quero um enfeite mais brilhante!

Então o urubu-rei trouxe o sol que encheu de luz e calor toda a floresta.
O rapaz ficou satisfeito e a grande ave ensinou ao índio qual era a utilidade de cada uma das coisas.
Feliz da vida, o rapaz libertou o sábio pássaro.
O urubu-rei já voava alto e só então o índio lembrou-se de perguntar qual o segredo da juventude eterna. Lá do alto,
a ave disse o segredo. Mas voava tão alto, que quase ninguém ouviu o segredo. Só quem ouviu foram as árvores e os
animais. E por não ter ouvido o segredo, até hoje todos os homens envelhecem e morrem.

Adaptação de Augusto Pessôa

COMO NASCERAM OS RIOS

Dizem que antigamente era tudo seco. Não tinha rio, não tinha água, não tinha nada. A Juriti era a dona da água
e guardava tudo em três grandes tambores.
Os três filhos do pajé estavam com muita sede e foram pedir água para o passarinho. Mas a Juriti não deu e ainda
disse:

- O pai de vocês é Pajé poderoso! Porque não dá água para vocês? Ele que arrume água para seus filhos!

Os meninos voltaram para casa chorando muito. O pajé perguntou por que estavam chorando, os pequenos contaram
e o índio disse:

- Não quero vocês andando naqueles lados. É muito perigoso! Tem peixe grande dentro dos tambores.
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Mas eles não ouviram o pai e foram de novo até a casa da Juriti. Quando chegaram lá quebraram os tambores e saíram
jogando água para tudo que é lado. A Juriti ficou com raiva e mandou o peixe grande atrás dos meninos. Os irmãos
correram, mas o peixe engoliu um dos índios. O coitado ficou só com as pernas fora da boca do peixe.
Os outros dois corriam e jogavam água. Com isso foram formando rios e cachoeiras. O peixe grande foi atrás também
levando água e fez o rio Xingu.
Correram muito até chegar ao Amazonas. Lá os meninos conseguiram tirar o irmão da boca do peixe. Cortaram suas
pernas, pegaram o sangue e sopraram. O índio voltou a viver. Depois eles jogaram toda água que sobrou no Amazonas
e o rio ficou muito largo.
Os índios voltaram para casa e contaram ao pai que tinham quebrado os tambores.
E foi assim que os rios se formaram.

Conto indígena adaptado por Augusto Pessôa

COMO SURGIRAM OS DIAMANTES

Diz a lenda que um casal de índios vivia, juntamente com sua tribo, à beira de um rio. Ele era um guerreiro poderoso
e valente. O nome dele era Itagiba, que significa "braço forte". Ela era uma jovem e bela moça que tinha o nome de
Potira, que quer dizer "flor".
Os dois viviam um amor lindo numa felicidade que enchia os olhos.
Um dia a tribo foi ameaçada por outros índios. Uma guerra foi declarada e o forte Itagiba teve que partir para
enfrentar o inimigo junto com os outros guerreiros.
O casal se despediu com muita tristeza, mas Potira não deixou cair uma só lágrima. A dor era tanta que ela só seguiu
seu amado com o olhar. Viu seu amor partir na canoa que descia o rio.
O tempo passou lentamente. Todos os dias, a bela índia ia para a margem do rio esperar o seu amor. A saudade
apertava no peito.
Até que um dia, finalmente, os guerreiros da tribo voltaram. Tinham vencido a guerra. Mas Itagiba não estava com
eles. O bravo guerreiro morreu lutando para derrotar o inimigo. Quando recebeu a notícia, a jovem índia chorou
muito. E passou o resto de sua vida chorando na beira do rio. O deus Tupã ficou com pena de Potira. Viu que o amor
que a índia sentia era verdadeiro. E para homenagear essa grande paixão transformou as lágrimas de Potira em
diamantes.
E é por isso que essas preciosas pedras são encontrados entre os cascalhos e areias do rio. Os diamantes são as
lágrimas que Potira deixou na beira do rio. Lágrimas de saudade e amor.

Adaptação de Augusto Pessôa

COMO SURGIU A LUA


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Num tempo de outro tempo não existiam estrelas ou lua. A noite era tão escura que todos tinham medo de sair.
Ficavam nas ocas com pavor da noite escura.
Na tribo, uma índia não tinha medo. Ela era linda e tinha a pele muito clara diferente das outras mulheres da tribo.
Por causa dessa diferença o povo da aldeia olhava para ela com desconfiança. Os índios não queriam namora-la e as
índias nem conversavam com ela. A índia vivia numa solidão terrível.
Sentindo-se muito só, começou a andar pela noite escura. Todos da tribo ficavam espantados. Principalmente quando
ela voltava de seus passeios e dizia que não havia perigo. Não havia o que temer.
Nessa mesma aldeia tinha outra índia. Uma criatura feia e estranha que tinha muita inveja da índia clara. Com raiva
da outra, resolveu sair a noite também. Mas não conseguia enxergar naquela escuridão e terminou cortando os pés
nas pedras e espinhos. Ficou com mais raiva da outra. Cheia de rancor e inveja ela foi conversar com a cascavel.

- Cascavel, quero que me faça um favor. Você conhece aquela índia clara?

E a cobra respondeu enrolada em um galho:

- Aquela que anda pela noite?


- Essa mesmo! – respondeu a índia – Quero que você morda os seus pés para que ela fique feia e velha!

Por pura maldade a cascavel aceitou o pedido. Ficou de tocaia esperando o passeio da índia clara. Quando ela passou,
deu o bote. Mas a cobra não sabia que a índia tinha os pés calçados com duas conchas. A cascavel mordeu as conchas
e seus dentes se quebraram. A cobra ficou com muita dor e começou a gritar e a xingar muito. E a índia clara
perguntou:

- O que está acontecendo? Por que quis me morder?

E a cascavel respondeu com raiva:

- Porque uma índia me pediu. Ela não gosta de você e quer que você fique feia e velha como ela. Ninguém gosta de
você!

A índia clara ficou muito triste. Não queria viver junto de pessoas que não gostassem dela. E não aguentava mais ser
diferente dos outros. Querendo resolver essa situação ela fez uma escada com cipós trançados. Depois pediu para
sua amiga coruja que voasse muito alto e amarasse a ponta da escada no céu. A ave fez como a índia pediu. A mulher
começou a subir. Subiu muito até chegar ao alto da escada. Chegando ao céu estava tão exausta que dormiu numa
nuvem. Num passe de mágica a índia se transformou num dos mais belos astros. Redonda, clara e iluminada. Era a
lua que encheu de luz a noite escura. A índia feia olhou para o raio de luar e ficou cega. Ficou com tanta vergonha que
foi se esconder com a cascavel em um buraco.
Os índios se arrependeram de desprezar a índia. Eles passaram a adorar a lua que enchia de luz a noite. Alguns
apaixonados sonhavam em construir outra escada de cipós para poder ir ao céu encontrar a bela índia.
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Adaptação de Augusto Pessôa

O ROUBO DO FOGO

Há muito tempo atrás, o urubu-rei era dono do fogo. Por isso, os índios secavam a carne expondo os pedaços ao calor
do Sol. Do outro lado do grande rio era a casa do urubu-rei. Ele e os seus parentes guardavam o fogo em baixo da asa.
Os índios precisavam do fogo e um deles, um jovem guerreiro, resolveu roubar o fogo dos urubus. Ele matou uma
anta e deixou a estendida no chão e, depois de três dias, o bicho estava podre e cheio de vermes. O guerreiro avisou
a aldeia a sua intenção e fez uma roupa com folhagens. Pegou sua canoa, colocou a anta podre dentro e foi até a
outra margem do grande rio vestido com a roupa de folhagem. Ao chegar na outra margem, ele escondeu sua canoa,
colocou a anta podre num descampado bem longe da canoa e ficou encolhido perto da anta como se fosse uma
folhagem. Sentindo o cheiro da carniça, os urubus se aproximaram. Antes de chegar na carniça, eles viram, lá do alto,
a canoa do jovem índio e a queimaram por inteiro. Ao chegar na carniça, para melhor se banquetearem, despiram a
vestimenta de penas, assumindo a forma de gente. Tiraram um tição aceso de debaixo de uma das asas e com ele
fizeram grande fogueira. Cataram os vermes, os envolveram em folhas do mato e assaram. O guerreiro, que se
mantinha escondido, foi bem devagar até onde estavam as vestimentas de penas e pegou um tição. Mas os urubus
viram o índio e foram correndo vestir suas roupas de penas. O jovem guerreiro correu para sua canoa, mas os urubus,
já tinham queimado a embarcação. Sem saber o que fazer, o índio pediu ao sapo cururu que levasse nas costas o fogo
até a outra margem do grande rio. O sapo foi, mas quando chegou na outra margem, onde toda a aldeia esperava,
nas suas costas tinha sobrado só uma brasinha. O pajé pegou a brasinha e fez uma fogueira. Do outro lado, os urubus
atacavam o guerreiro usando tições como flechas. O jovem índio não sabia como sair dali. O pajé, lá na outra margem,
jogou um pó mágico na fogueira e pediu a Tupã que ajudasse o guerreiro. Da fogueira saiu uma grossa fumaça que
foi até a outra margem do grande rio e envolveu o índio dando ao guerreiro uma grande força. Com um sopro ele
espantou os urubus. Depois, com suas mãos, juntou as margens do grande rio e pode passar tranquilamente. O rapaz
entregou o fogo ao Pajé. Então, o Pajé ateou fogo em todas as árvores com as quais hoje se faz fogo. E assim o fogo
chegou aos homens.

Adaptação de Augusto Pessôa

POR QUE É TRISTE O JABURU

O jaburu é uma ave estranha. É grande e com pescoço longo. Parece carregar uma tristeza profunda. Fica por grande
tempo imóvel como se fosse uma estátua num museu.
Está sempre só. Quando um intruso se aproxima ele logo fica feroz e luta bravamente para expulsar o suposto inimigo.
Depois volta a ficar tristonho e cabisbaixo apoiando-se numa perna só.
Mas de onde vem essa tristeza toda?
Uma lenda muito antiga explica:
Mandi, um bravo guerreiro, apaixonou-se por Ituna que era a mais formosa mulher da aldeia. A paixão dos dois era
bonita de ver.
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Mas o pai do índio não estava satisfeito. Ele era o cacique e queria que o filho o sucedesse no comando da aldeia.
Mas para isso Mandi não podia casar enquanto não passassem cinco luas, depois de ter recebido do pai o tacape de
guerreiro e o cocar de cacique.
Mas a paixão dos namorados era tanta que eles não queriam esperar. O rapaz preferia não ser o líder da aldeia a
perder o amor da sua escolhida. E Mandi não esperou, nem ouviu os pedidos do pai que já estava velho e doente.
Todas as tardes o casal se encontrava a beira da Lagoa Sagrada e ali ficava a trocar juras de amor. Mas eles não ficavam
sós. Uma ave de plumagem cinzenta, pescoço encolhido e que ficava apoiada numa das pernas fazia companhia ao
casal. Era o jaburu.
Os namorados se divertiam jogando migalhas de fruta adocicada para aquela ave mansa e esquisita que pegava tudo
que era oferecido com seu bico grosso e forte.
O jaburu se acostumou tanto com os namorados, que ficou manso. Pegava a comida na palma da mão do casal. E
aceitava os carinhos que eles faziam com grande felicidade.
Mas essa felicidade não durou muito.
Uma tarde, uma terrível tempestade se armou no céu. Nuvens escuras e pesadas anunciavam uma grande chuva.
Na aldeia uma tristeza imensa tomou conta dos índios. O cacique estava morrendo. Suas forças estavam se acabando.
Num último esforço o líder da aldeia mandou chamar seu filho. Os raios rasgavam o céu, os trovões pareciam fazer
tremer o mundo. Mandi foi ver o pai e recebeu dele o tacape e o cocar. Assim que entregou ao filho os objetos
sagrados de liderança o cacique morreu.
O novo cacique beijou a testa do pai e saiu da oca. Do lado de fora os índios saudavam o novo líder, mas num clarão
do relâmpago Mandi viu a figura de Ituna. Bela e encantadora. O rapaz não se conteve. Jogou de lado os objetos
sagrados e abraçou aquela que era dona do seu coração. A ofensa tinha sido feita. Os índios ficaram espantados. De
repente um raio fulminou o casal de namorados. Os dois morrerão na hora. Ficaram abraçados, unidos num terrível
abraço de morte.
No dia seguinte o casal foi enterrado unido no local onde passavam todas as tardes as margens da Lagoa Sagrada. O
jaburu observava tudo. Quando a última porção de terra cobriu totalmente os corpos dos namorados a ave foi embora
num voo fantástico.
Mas todas as tardes o jaburu voltava. Esperava encontrar os dois namorados que o tratavam com carinho. O tempo
passou e a ave foi ficando cada dia mais triste. As penas foram caindo e a dor aumentava tornando o jaburu a imagem
da tristeza. Mas ele nunca desistiu. Todas as tardes esperava o casal de namorados apoiado numa perna só, com a
cabeça baixa e imóvel como uma estátua.
E é assim até hoje.

Adaptação de Augusto Pessôa

COMO SURGIU A ERVA-MATE

Conta uma lenda muito antiga que os guerreiros de uma tribo tinham partido para a guerra. Um homem, por ser
muito velho, teve que ficar. E ele ficou revoltado com isso, chorando no alto da colina, vendo os jovens guerreiros que
partiam. O velho lembrava quando era um forte e valente guerreiro. E a sua tristeza aumentava em se perceber agora
fraco e envelhecido.
A sua única alegria era sua filha que se chamava Iari. Era uma jovem muito bela, mas recusava todos os pedidos de
casamento porque queria ficar ao lado do velho pai.
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Um dia, chegou à oca do velho índio um viajante estranho. Ele tinha roupas coloridas e olhos que brilhavam como o
azul do céu. O velho logo percebeu que o homem vinha de muito longe. Pai e filha receberam o estranho muito bem.
Iari ofereceu os melhores frutos e o mel mais doce. O velho índio contou suas façanhas de juventude com riqueza de
detalhes. Tudo era feito para agradar o estrangeiro.
No dia seguinte, com o nascer do sol, o homem já estava pronto para partir. O viajante falou para o velho índio:

- Você é um homem bom. E a sua bondade merece ser premiada. Eu sou um mensageiro de Tupã. Você pode pedir o
que quiser que será seu.

O velho índio coçou a cabeça e respondeu:

- Meu amigo, nada mereço pelo que fiz! Mas gostaria de uma força para a minha velhice. Minha filha cuida de mim e
se eu tivesse novamente forças ela poderia casar e formar sua própria família. É só o que eu peço: uma força para que
eu tenha novamente ânimo.

O mensageiro de Tupã sorriu. Ele tinha entre as mãos uma planta com folhagens verdes. O viajante entregou a planta
ao velho e disse:

- Plante essa folhagem e deixe-a crescer. Você vai fazer ferver as folhas e beber o chá. Fazendo isso vai ter a força
que tanto deseja. Esta erva tem a força do próprio Tupã. Ela trará energia para todos os homens da tribo. E sua filha
Iari será a partir de hoje a protetora das florestas. E vai mostrar o mate para todo mundo.

E desde então, Caá-Iari, como ficou conhecida a filha do velho índio, é senhora dos ervais e deusa dos ervateiros.
Em seguida, o homem partiu. Tinha dito a verdade: o velho guerreiro recuperou as forças perdidas e nunca mais
passaram necessidade Entretanto, Iari vivia preocupada com o pedido do estranho. Ele queria que ela tornasse o mate
conhecido. Mas como? Estavam tão longe que ali não aparecia ninguém! Ela não sabia o que fazer. Ela e o pai saíram
pela floresta para espalhar a notícia para todo mundo.
O tempo passou.
Numa distante aldeia de índios, realizava-se uma grande festa. Todos estavam contentes
porque tinham feito uma boa caçada e tão cedo não precisariam preocupar-se com alimento. Enquanto uns dançavam
e cantavam, outros comiam e bebiam. Depois de algumas horas de alegria, dois jovens índios, que tinham bebido
mais do que deviam, começaram a discutir. Eram Piraúna e Jaguaretê. O primeiro usava um colar feito com dentes de
cem inimigos que abatera nas guerras. O segundo era famoso por sua força e coragem. Eram os guerreiros mais fortes
da tribo. Quando alguns índios viram o que estava acontecendo, procuraram acalmar os dois jovens, pois sabiam que
uma briga entre eles não teria um bom resultado. Depois de muito esforço, levaram cada um para um lado e a festa
continuou. Mas os dois estavam mesmo decididos a terminar a discussão que haviam iniciado. Pouco a pouco, um foi
chegando perto do outro e a briga recomeçou. Desta vez, apelaram para a força. Os índios mais corajosos fizeram de
tudo para separá-los. Porém, quem podia com eles? Fortes como eram pareciam duas feras e não dois homens. De
repente, Jaguaretê empunhou um tacape e deu um violento golpe na cabeça de Piraúna, matando-o.
Interrompendo-se a festa e Jaguaretê foi amarrado ao poste das torturas. Pelas leis daquela tribo, os parentes do
morto podiam executar o assassino. Trouxeram o pai de Piraúna, para que ordenasse a execução de Jaguaretê, mas
ele não quis. Disse que Jaguaretê só era culpado de haver bebido demais, tendo dado, assim, oportunidade a Anhangá,
o espírito mau, de dominá-lo, levando-o a matar o amigo. Ele não deveria ser morto, portanto. Apenas expulso da
tribo. Teria de viver sozinho nas matas desconhecidas, onde poderia refletir com calma sobre o que fizera. A decisão
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do velho foi obedecida. Depois de desamarrarem o jovem guerreiro, deram-lhe permissão para que pegasse suas
armas e ordenaram que partisse imediatamente.
Jaguaretê obedeceu e seguiu para o exílio. Ia triste, cabisbaixo, pois o efeito da bebida estava passando e podia ver
agora o mal que fizera. Seguiu seu caminho e embrenhou-se na mata.
Depois que Jaguaretê sumiu na floresta, ninguém ouviu falar mais nele. Com o tempo, foi completamente esquecido.
Muitos anos depois, alguns índios daquela tribo, que nem tinham ouvido falar em Jaguaretê, saíram para caçar.
Entraram pelo sertão, onde era fácil encontrar uma onça, aprofundando-se cada vez mais. No meio da floresta,
encontraram uma cabana. Surpresos, aproximaram-se com cuidado. Nisto, um homem forte e sorridente apareceu.
Embora tivesse os cabelos brancos, o corpo e o rosto eram os de um jovem.
Ele acolheu os índios com cordialidade e ofereceu-lhes uma bebida desconhecida. Era
Jaguaretê, o índio expulso de sua tribo, e a bebida desconhecida era o mate.
Os índios quiseram saber por que ele vivia sozinho naquela cabana e que bebida era aquela. Jaguaretê contou-lhes a
sua história:

- Assim que me vi sozinho na floresta, não agüentava mais o cansaço e o remorso, joguei-me no chão e ali fiquei,
pedindo a morte. O arrependimento e a saudade de minha gente me torturavam. Fiquei muito tempo caído no mesmo
lugar. Pressenti, então, que alguém estava perto de mim. Levantei a cabeça e vi uma jovem de olhar bondoso. Ela
fitou-me com compaixão e disse:

- Tenho pena de você, porque não matou por querer e agora está arrependido do que fez.
Para que possa suportar seu exílio, vou ensinar-lhe uma bebida que não enfraquece nem tira a razão como o álcool,
mas fortalece o corpo e clareia a mente. Meu nome é Caá-Iari, a deusa protetora dos ervais.

Mostrou-me uma estranha planta e esclareceu:

- Esta é a erva-mate. Plante-a, deixe-a crescer e faça-a multiplicar-se. Depois, prepare um chá e beba. Seu corpo será
forte e sua mente será clara por muitos e muitos anos.

Segurei, emocionado, a planta que a deusa me entregara. Ela me olhou, em silêncio. Depois, desaparecendo pouco a
pouco, como se fosse fumaça, ordenou:

- Não deixe de transmitir a quem encontrar, o que aprendeu sobre o mate!


- Portanto, meus amigos, disse Jaguaretê, quero que levem alguns pés de erva-mate para
sua tribo e nunca deixem de transmitir aos outros o que aprenderam.
- Não vem conosco? - perguntou um índio.
- Não, não vou, respondeu Jaguaretê. Agora é tarde. Todos os que eu conhecia na tribo já devem estar mortos e eu
seria um estranho. É preciso que eu cumpra meu exílio. Além disso, estou habituado com este lugar, que me sinto
parte dele. E não estou sozinho, tenho o mate para alegrar minhas horas de solidão.

Os índios voltaram e contaram aos outros o tinham ouvido. O mate foi plantado e
multiplicou-se.
Outras tribos aprenderam o seu uso e ele é, até hoje, muito conhecido por todo mundo.
https://www.augustopessoa.com/contos-indgenas
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Referências:

Augusto Pessoa. Contos Indígenas. Disponível em: https://www.augustopessoa.com/contos-indgenas . Acesso em:


22 de set. 2020.

Escritos e Oralidades Blogpost. Contos Afros-Brasileiros, Indígenas e africanos. Disponível em:


https://escritoseoralidades.blogspot.com/ . Acesso em: 22 de set. 2020.

Toda Matéria. 10 Contos brasileiros que você tem que conhecer. Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/contos-brasileiros/ . Acesso em: 22 de set. 2020.

Toda Matéria. Gêneros literários. Disponível em: www.todamateria.com.br/generos-literarios/ . Acesso em: 22 de


set. 2020.

Toda Matéria. Humanismo. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/humanismo/ . Acesso em: 22 de set.


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Agenda da turma/Informações sobre prazos e datas das atividades:
Encontro virtual na plataforma Google Meet - 29/07/2021 (será enviado o link no grupo da sala)
Entregar as atividades às 14h, data: 29/07/2021.
Meu e-mail: rainise.lima@ifac.edu.br

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