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Aula 02
Texto é qualquer forma de interagir com o outro que tenha sentido. Pode ser por
palavras escritas ou faladas denominadas de verbal, podem ser não verbal, isto
é, sem o uso de palavras, por desenhos, imagens, gestos, sons...
Que tal trazer o tema da aula para o nosso dia a dia? Analise as seguintes
situações:
Imagine que você está caminhando por uma rua tranquila e, de repente,
passa por você um senhor muito bem vestido, que, com um cigarro na mão, diz:
— Fogo!
— Fogo!
Neste mesmo cinema, no meio do filme de ação, um bombeiro entra
correndo gritando:
– Fogo!
Viu que mesmo o autor tendo exposto suas ideias usando somente
substantivos1, trata-se de um texto. Portanto, este texto não é uma simples uma
série de palavras soltas, uma vez que lendo-o percebemos que conta o cotidiano
de um homem, que trabalha, fuma, dorme e acorda, nos fazendo refletir sobre a
vida. A textualidade é a característica fundamental dos textos, tanto orais quanto
escritos. É ela que faz com que um texto seja visto como texto.
Sobres estas reflexões, assista ao vídeo, disponível no material on-line.
PESQUISE
Conceitos e aspectos da textualidade
Textualidade é um substantivo feminino que significa qualidade, condição
ou caráter do que é textual oral ou escrito. É interessante perceber que a
textualidade não é própria ao texto, pois um mesmo conjunto linguístico pode ser
considerado como texto para uns e para outros, não. O exemplo do termo fogo
no início desta aula é um bom exemplo disso. Portanto, textualidade seria um
termo que envolve o conjunto de recursos que fazem palavras e frases virarem
texto.
1
É a classe de palavras que utilizamos para dar nome às coisas, aos seres em
geral (VALLE, 2013, p. 248)
A textualidade ou textura é a premissa utilizada pelo autor que conhece
elementos, estrutura e função de texto para que seja entendido pelo outro
interlocutor; pois a leitura e compreensão dependem da produção de sentido no
texto. Ela vai além da decodificação; do que está escrito ou dito.
Veja o esquema a seguir:
Coesão e Coerência
Vamos começar nossos estudos verificando o significado do termo
Coerência:
s.f. Ligação de um conjunto de ideias ou de fatos cujo resultado é lógico.
Característica daquilo que tem lógica e coesão; nexo.
Gramática. Colocação dos elementos textuais que, embora
possuindo significados diferentes, são interligados de modo a fazer com
que um texto possua sentido completo, tornando-se claro e compreensível:
coerência textual.
Descrição harmônica de ações, fatos ou ideias; conexão.
Comportamento constante; modo de pensar uniforme ou estável.
(Etm. do latim: cohaerentia.ae)
Fonte: <http://www.dicio.com.br/coerencia/>.
Coerência
sintática
Coerência Coerência
genérica semântica
Coerência Coerência
estilística temática
Coerência
pragmática
Coerência sintática
Estrutura da língua: ordem das palavras, seleção dos termos.
Coerência semântica
Sentido: texto sem contradição (princípio da não contradição).
Coerência temática
Tema: coerente e relevante.
Coerência pragmática
Sequência: organização.
Coerência estilística
Variedade linguística: sem mistura de linguagem.
Coerência genérica
Gênero textual: escolha adequada de gênero.
Fonte: <http://www.satirinhas.com/wp-content/uploads/2014/08/coer%C3%AAncia.jpg>.
Aqui o Garfield mostra como o Jon não está sendo coerente em suas
reflexões.
Fonte: <http://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios-sobre-tipos-
coerencia-textual.htm>.
Coesão
Como já vimos, o texto é como um tecido, uma ideia está ligada a outra,
que se liga a outra, e assim vai sendo “costurados” os pensamentos. Este
encadeamento de ideias é chamado de coesão, isto é, a amarração, conexão,
ligação, consensual entre os elementos de um texto. A coesão se dá por meio
de termos, palavras ou expressões que criam uma relação, uma lógica textual.
Lembre-se que um texto não é um aglomerado de palavras, elas se ligam para
garantir fluxo de ideias e sequência ao texto. Há certos mecanismos que ajudam
a criar a unidade, a coesão textual, isto é, que fazem a ligação e organizam as
palavras, frases e parágrafos. Várias são as formas de coesão, gramaticais ou
não.
As mais significativas são coesão referencial, coesão recorrencial e
coesão sequencial. Vamos ver cada uma delas em detalhes, a seguir.
Acompanhe.
Coesão referencial
a) Substituição de termo por outro
Para evitar repetição de termos na frase
“Esta”, nas duas primeiras frases antecipa a que se referem. Mesma coisa
acontece na terceira frase, o “o” antecipa quem foi acompanhado: o velho.
Coesão recorrencial
a) Recorrência de termos
Teresa lia, lia, lia sem parar.
Observe que o termo lia repete três vezes dando mais ênfase à frase.
b) Paralelismo
Ela organizava sua mesa, arrumava sua sala e limpava seu ambiente.
Observe as relações de semelhança entre palavras e expressões: quando as
palavras pertencem a uma mesma classe gramatical ou quando as construções
das frases ou orações são semelhantes ou quando há correspondência de
sentido.
c) Paráfrase
Eles compareceram à reunião, sou seja, estavam todos lá.
Veja que há reescrita da mesma ideia.
Recorrência semântica.
d) Recursos fonológicos
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpia dos violões, vozes veladas, Vagam dos velhos vórtices
velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas”,
A poesia de Cruz de Souza traz uma sonoridade indiscutível.
Coesão sequencial
Veja que cada frase está ligada por uma conjunção, e esta expressa seu
sentido.
a) Consicionalidade
Se você me ama você me abraça.
b) Causalidade
Eu te abraçarei porque te amo.
c) Mediação
Amou muito para que eu te abraçasse.
d) Disjunção
Ou eu te amo ou te odeio.
e) Temporalidade
Assim que eu te encontrar, abraçar-te-ei.
f) Conformidade
Conforme combinamos, vou te abraçar sempre.
g) Modo
Abraçarei você sem que ninguém veja.
A coesão também ocorre por:
Elipse: omissão de um termo facilmente identificado
É necessário alimentar-se, não apenas comer.
(é necessário)
A professora entrou em sala de aula. Lá ensinou aos alunos como ler um
texto.
(ela)
Veja que os termos omitidos nas segundas frases são facilmente entendidos,
não há necessidade de repetição.
Intencionalidade e Informatividade
Intencionalidade
Veja a tira a seguir:
Fonte: <http://joaosejoanas.com/440-texto-escrito-x-dialogo/>.
O humor da tira mostra um exemplo de falta de coesão. Ela assinala que
o primeiro besouro fala que convencer alguém é ir além do texto escrito, é
necessário diálogo, embate de ideias... e o segundo besouro questiona se eles
estão conversando ou sendo um texto escrito. A contradição e a falta de fluxo
de ideias não facilitam o diálogo entre os insetos.
O autor da tira teve uma intenção ao fazê-la. Assim, como a maioria dos
produtores de texto, sempre há uma necessidade, um objetivo, um propósito
para se escrever um texto. Estes podem ser simplesmente para manter contato,
fazer rir, até compartilhar opiniões, hipóteses ou ideias. Lembrando que não há
textos “neutros”, isto é, texto que não tenham intenção nenhuma. Quando se
conhece as intenções claras de um texto, ele se torna mais fácil de ser escrito.
Quando se tem clareza da intenção do texto, tem-se caminhos a serem seguidos.
Por exemplo, a escolha da linguagem a ser usada: será um texto formal
ou informal? Veja a diferença na forma de comunicação com cada uma delas:
Também saberemos qual tipologia e gênero textual escolher, veja alguns
deles:
Fonte: <http://www.legal.adv.br/20110909/o-poder-da-argumentacao/>.
Fonte: <http://filosofiavo2.blogspot.com.br/2011/04/argumento-falacias.html>.
Temos que ficar atentos com argumentos baseados em senso comum.
Eles são baseados em crenças e proposições construídas no quotidiano.
Informatividade
Como o nome mesmo diz, informatividade está relacionada com a
informação. Neste caso, são textos que trazem informações que ampliem os
conhecimentos de seus receptores (leitores, ouvintes). O grau de informatividade
depende da finalidade da escrita, do objetivo do texto. Um texto infantil vai
abordar um assunto com informações diferenciadas de um texto para adultos,
por exemplo. Seria aborrecido para um leitor ler um texto cuja informação ele já
conheça ou que sejam de senso comum, do consenso geral.
Portanto, os conhecimentos de mundo do emissor e do receptor do texto
vão validar a qualidade deste. Para que a comunicação se efetive plenamente,
é necessário que a informatividade do texto seja apropriada aos seus
interlocutores.
Veja na charge a seguir a quantidade de informações exigidas:
Fonte: <http://informatividadeinteligente.blogspot.com.br/2009_01_01_archive.html>.
A informatividade não está associada somente à quantidade de
informações, como visto na charge, mas também à novidade que ela traz. Isso
vai depender do grau de conhecimento do interlocutor e do que ele espera do
texto. É importante ressaltar que sempre quando vamos ler um texto, temos uma
expectativa, esperamos alguma coisa – e, preferencialmente, algo novo.
Intertextualidade
Veja as imagens que a seguir:
Fonte: <http://escolakids.uol.com.br/intertextualidade.htm>.
A persistência da Memória. Muitos podem até não saber o título da obra,
mas logo identificam os relógios derretidos, metáfora para a liquidez do tempo.
A obra é um ícone da escola surrealista, que tem Dalí como um de seus
principais representantes.
Fonte: <http://pt.slideshare.net/literatura_prefederal/01-intertextualidade-pre>.
Fonte: <http://letrasliteris.blogspot.com.br/2012/07/intertextualidade-e-seus-
dialogos-i.html>.
Moça com Brinco de Pérola, pintado por Johannes Vermeer, em 1665 e
que, durante a reforma do Mauritshuis, atraiu mais de 2,2 milhões de pessoas
em exposições pelo mundo.
Fonte: <http://pt.slideshare.net/crisbiagio/literatura-intertextualidade-leitura>.
Fonte: <http://desconversa.com.br/portugues/4-tipos-de-intertextualidade-que-voce-encontra-
para-a-cancao-do-exilio-e-1-exemplo-de-como-isso-pode-ser-cobrado-no-enem/>.
Fonte: MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 7 ed. São Paulo: Cultrix.
Alusão
É toda referência, direta ou indireta, propositada ou casual, a certa obra,
personagem, situação, etc., pertencente ao mundo literário, artístico, mitológico,
etc. No geral, a alusão insere a obra que a contém numa tradição comum julgada
digna de preservar-se. Camões, por exemplo, ao dizer, em Os Lusíadas,
"cessem do sábio Grego e do Troiano / As navegações grandes que fizeram",
alude a Ulisses (herói da Odisseia) e Eneias (herói da Eneida).
Epígrafe
É um fragmento de texto que serve de lema ou divisa de uma obra,
capítulo ou poema. Costuma existir um vínculo entre a epígrafe e o texto que
vem abaixo dela. Nesses casos, a epígrafe dá apoio temático ao texto, ou
resume o sentido, a motivação dele. Massaud Moisés observa que o exame
atento das epígrafes pode "nos fornecer uma ideia da doutrina básica de um
poeta ou romancista, o seu nível intelectual, etc.".
Fonte: <http://www.mundograduado.com/epigrafe-para-monografia/>.
Paródia
Trata-se de uma composição literária que imita, cômica ou satiricamente,
o tema ou/e a forma de uma obra séria. Consiste em ridicularizar uma tendência
ou um estilo que, por qualquer motivo, se torna conhecido ou dominante. Como
exemplo, o poema "Canto de Regresso à Pátria", de Oswald de Andrade, que
parodia a "Canção do Exílio".
Paráfrase
É a interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto (ou parte
dele) para torná-lo mais inteligível ou sugerir um novo enfoque para o seu
sentido. Veja, por exemplo, o poema de Carlos Drummond de Andrade, no qual
o poeta parafraseia o poema "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias.
Citação
É a frase ou passagem de certa obra que um autor reproduz (com
indicação do autor original) como complementação, exemplo, ilustração, reforço
ou abonação daquilo que ele pretende dizer ou demonstrar.
Como você deve ter observado, a intertextualidade está presente no
nosso dia a dia, basta prestar atenção para recolhê-la e usar deste recurso para
aprimorar a escrita.
Assista no vídeo, disponível no material on-line, a professora Margarete tratando
deste tema que estamos estudando.
Aceitabilidade e Situacionalidade
Aceitabilidade
Aceitar é permitir em receber algo dado ou oferecido, é estar de acordo
ou concordar em aceitar. Em nossos estudos, como tratamos dos fatores da
comunicação, aceitar seria o estado de receber a mensagem que está sendo
passada. Isso parece simples, mas não é sempre que se está aberto para novas
ideias ou opiniões.
Você já deve ter vivenciado uma situação em que duas pessoas, ao
conversar, não se entendem mesmo tendo a mesma opinião, na realidade uma
não ouve a outra. Chamamos de aceitabilidade, quando duas ou mais pessoas
estão conversando e uma procura compreender a outra. Um bom exemplo de
aceitabilidade é quando um adulto busca entender o que uma criança está
falando. Há um esforço em compreender, de colocar-se no lugar da criança, de
traduzir termos e ideias que não estão conexas.
Quando o texto é escrito se dá uma relação entre o escritor e o leitor.
Normalmente, nós, leitores, apreciamos textos dos autores de que gostamos e
rejeitamos os autores de que não gostamos. Também reagimos negativamente,
até mesmo antes da leitura, com autores que tenham linhas filosóficas ou
políticas diferentes das nossas, pois não concordamos com as ideias deles, com
a intenção que expressam. A aceitabilidade se opõe à intencionalidade,
estando ligada com o autor, e a aceitabilidade com o leitor. Quando estes dois
elementos se enquadram, a comunicação efetiva-se de forma mais estruturada.
Qual a sua reação frente a esta imagem? Você se sentiu bem? Gostou?
Achou bonito no sentido afetivo? Imagino que não. A imagem não tem
aceitabilidade – isso acontece com textos que tratam de assuntos polêmicos.
Lembrando que a intencionalidade está diretamente relacionada com o
sentimento que o escritor deseja despertar no leitor. Há um elemento
interessante, o ponto de vista. Veja a imagem que segue:
Qual dos dois está correto? Claro que os dois. Eles simplesmente estão
em posições diferentes. Isso é muito comum, se eles trocarem de lugar ou
ficarem no mesmo, as opiniões mudariam.
Situacionalidade
Como o próprio nome diz, situacionalidade tem relação com a situação, o
contexto. Diferentes situações caracterizam o sentido dos discursos, tanto na
produção como na interpretação. Os textos são elaborados em certo momento
e para um fim, em um determinado contexto e situação.
a) Situação Texto
O que é adequado para aquela situação
Formalidade, variedade dialetal: o dialeto ou linguagem da
localidade
Em que medida a situação comunicativa interfere na produção e
recepção do texto
b) Texto Situação
O produtor cria o mundo de acordo com seus pontos de vistas, seus
objetivos, propósitos, etc.
O texto não é uma cópia fiel do mundo real, mas do mundo tal como
ele é visto pelo produtor
NA PRÁTICA
Vamos testar nossos conhecimentos rapidamente? Responda à pergunta
a seguir!
O professor e o aluno são muito amigos e religiosos. Este é católico
e aquele é evangélico. O período apresenta:
a) Coesão recorrencial
b) Coesão referencial
Feedback:
a) Resposta incorreta.
Usa-se este tipo de coesão quando se quer recorrer com um sinônimo,
por exemplo, a um termo já usado na oração.
b) Resposta correta.
Para evitar repetição de “o professor” e “o aluno”, usou-se, este para “o
aluno” e aquele para “o professor”.
SÍNTESE
Nesta aula aprendemos mais sobre produção textual e expressão oral,
vimos a importância dos aspectos da textualidade como a coerência que faz com
que o texto tenha nexo e consistência. Estudamos a coesão, que harmoniza o
texto com ligações lógicas; tratamos da intencionalidade, que é a matriz de todo
texto; a informatividade como bagagem de informações; a intertextualidade, que
relaciona textos; a aceitabilidade, na qual o texto é recebido pelo leitor e, por fim,
a situacionalidade, o contexto no qual o texto acontece.
Com o domínio destes elementos, você melhorará sua atuação como
produtor e receptor de textos variados. Continue estudando!
Referências
CEREJA, William R.; MAGALHÃES, Thereza C. Texto e interação. São
Paulo: Atual, 2000.
FÁVERO, Leonor L. Coesão e coerência textuais. 11 ed. São Paulo:
Ática, 2009.
KOCH, Ingedore G. V. Introdução à linguística textual: trajetória e
grandes temas. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
KOCH, Ingedore G. V.; TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e Coerência. 5 ed.
São Paulo: Cortez, 1997.
KOCH, Ingedore G. V.; TRAVAGLIA, Luiz C. Texto e Coerência. 6. ed.
São Paulo: Cortez, 1999.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz C. A Coerência Textual. 6
ed. São Paulo: Contexto. 1995.
TRAVAGLIA, L. C.; KOCK, I. G.; Intencionalide X Aceitabilidade.
Disponível em: <https://sites.google.com/site/producaodetextoediscurso/aula-2-
intencionalidade-x-aceitabilidade>. Acesso em: 3 ago. 2013.
VAL, Maria da Graça C. Redação e Textualidade. 1 ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1991.