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Humanismo

1434 - 1527

ENEM
e VESTIBULARES

Teoria e Exercícios
@profhenriquelandim
Henrique Landim
Humanismo
no ENEM

HUMANISMO (1434-1527)
O Humanismo português é um movimento cultural, literário e intelectual que representa a
transição entre a Idade Média e o Renascimento, situando-se aproximadamente entre o final do
século XIV e o início do século XVI. Este período é marcado pelo redescobrimento dos valores
clássicos greco-romanos, enfatizando o antropocentrismo associado ao teocentrismo medieval,
e valorizando a natureza humana, suas capacidades e realizações.
Esse movimento preparou o terreno para o Renascimento, um período de florescimento
artístico e literário que se seguiria. Contribuiu para a valorização da cultura e língua portuguesa,
influenciando decisivamente os rumos da literatura portuguesa posterior, com destaque para o
período do Renascimento e, mais tarde, para o Barroco.

CONTEXTO HISTÓRICO
O Humanismo em Portugal surge num momento de grande efervescência cultural e ex-
pansão territorial, coincidindo com os Descobrimentos Marítimos. A busca por novas terras e
rotas comerciais acabou por incentivar um espírito de curiosidade e aprendizado, o que se re-
fletiu nas artes e nas letras.O menestrel era um artista medieval itinerante que se dedicava prin-
cipalmente à música, mas também poderia estar envolvido em outras formas de entretenimento,
como contar histórias, recitar cantigas e realizar acrobacias. Os menestréis desempenhavam um
papel importante na sociedade medieval, pois viajavam de lugar em lugar, frequentando festas,
feiras, cortes e castelos, onde eram contratados para entreter nobres e plebeus.

FERNÃO LOPES
Fernão Lopes é uma figura central no Humanis-
mo português, especialmente considerado por seu pa-
pel pioneiro na historiografia e na literatura nacional.
Nomeado cronista-mor pelo rei Dom Duarte em 1418,
Lopes é frequentemente celebrado como o “pai da his-
toriografia portuguesa”. Em 1434, ele foi nomeado cro-
nista mor da Torre do Tombo. Essa nomeação é vista
como o marco de início do Humanismo. São inúmeras
as contribuições de Fernão Lopes: Fernão Lopes

a) Abordagem Humanista na História: Fernão Lopes adotou uma abordagem humanista


à historiografia, enfatizando o papel dos indivíduos e suas motivações, em contraste
com as crônicas medievais, que frequentemente se concentravam em eventos sob uma
perspectiva mais providencialista e menos humana. Ele se preocupava em entender os
personagens históricos, suas personalidades, dilemas internos e decisões, trazendo uma
dimensão psicológica e moral à narração dos fatos.

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b) Crítica Documental e Metodologia Histórica: Uma das contribuições mais notáveis


de Fernão Lopes para a historiografia foi sua metodologia. Ele não se limitava a compi-
lar informações de fontes existentes; buscava colaborar com os dados, comparando do-
cumentos e testemunhos para construir uma narrativa histórica coerente e fiável. Esse
rigor metodológico era inovador para a época e demonstra a influência do pensamento
humanista, com seu valor na investigação empírica e crítica das fontes.
c) Estilo Literário e Uso da Língua Portuguesa: Fernão Lopes também se destaca pelo
seu estilo literário. Ele escrevia em português numa época em que o latim era a língua
dominante para os textos eruditos e oficiais. Seu uso do vernáculo contribuiu significa-
tivamente para a valorização e desenvolvimento da língua portuguesa. Além disso, seu
estilo é marcado pela clareza, fluidez e pela habilidade narrativa, aproximando o texto
histórico do leitor comum e conferindo uma dimensão literária à sua obra.
Fernão Lopes, com sua abordagem inovadora à historiografia, não apenas documentou a
história de Portugal de maneira detalhada e crítica, mas também influenciou a maneira como
as gerações futuras entenderiam seu passado. Sua obra reflete os ideais humanistas de investiga-
ção, crítica e valorização do indivíduo, enquanto contribui para a afirmação da língua e cultura
portuguesas.

SEPARAÇÃO ENTRE MÚSICA E LITERATURA


Durante o Humanismo, assistimos à emergência e consolidação da figura do poeta no
sentido moderno do termo, marcando uma distinção mais clara entre a música e a literatura
do que era comum em períodos anteriores, como o da Idade Média. Esta transformação está
intrinsecamente ligada às mudanças culturais, sociais e intelectuais que caracterizaram o Hu-
manismo, refletindo o crescente valor atribuído ao texto escrito, à individualidade do autor e
ao desenvolvimento da língua e literatura vernáculas.

Durante a Idade Média, a poesia frequentemente era composta para ser acompanhada por
música, sendo os gêneros poético e musical profundamente interligados. Lembre-se, por exem-
plo, das cantigas do Trovadorismo. No entanto, com o advento do Humanismo, observa-se
uma progressiva separação entre a música e a literatura, por várias razões:
a) Valorização do texto escrito: O Humanismo enfatizou o retorno aos textos clássicos
gregos e romanos, promovendo o estudo crítico e a imitação dessas obras. Isso fortale-
ceu o papel do texto escrito como um veículo de expressão intelectual e artística, inde-
pendentemente da música.
b) Desenvolvimento da imprensa: A invenção da imprensa por Gutenberg no século XV
revolucionou a disseminação do conhecimento, facilitando a produção e distribuição
de livros. Isso contribuiu para uma maior difusão da literatura escrita, permitindo que
a poesia alcançasse um público mais amplo sem depender da performance musical.

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c) Emergência do autor: No Humanismo, surge uma noção mais moderna de autoria,


com o poeta buscando expressar sua individualidade, emoções e visões de mundo atra-
vés de seus textos. A poesia começa a ser valorizada por suas qualidades intrínsecas,
literárias e estilísticas, não apenas como um complemento à música.

Embora a música e a poesia continuem a se entrelaçar de muitas maneiras, o Humanismo


marca um ponto de inflexão na história da cultura ocidental, onde a literatura começa a tri-
lhar um caminho mais autônomo, refletindo a valorização da linguagem, da individualidade
do autor e do texto escrito como expressões de beleza, conhecimento e humanidade. Este
processo de separação não eliminou as interações entre música e literatura, mas abriu espaço
para que ambas as artes se desenvolvessem de forma mais independente, enriquecendo o pa-
norama cultural com uma diversidade maior de formas e expressões.

POESIA PALACIANA
A poesia palaciana, característica do período do Humanismo português, reflete uma fase
de transição na literatura portuguesa, marcando o fim da era medieval e o início dos tempos
modernos. Desenvolvida no contexto da corte, especialmente durante o reinado de Dom João
II (1481-1495), essa poesia é essencialmente cortês e erudita, representando um movimento
em direção a temas mais refinados e a uma estilística mais elaborada, diferenciando-se das
formas mais populares e tradicionais do trovadorismo medieval. Vejamos algumas caracterís-
ticas principais da poesia palaciana:
a) Contexto cortês: A poesia palaciana floresce no ambiente da corte, um espaço de po-
der, luxo e refinamento, onde poetas e escritores muitas vezes atuavam como cortesãos.
Essa poesia era frequentemente dedicada a membros da nobreza ou do alto clero, refle-
tindo os interesses e valores dessa elite social.
b) Temas e estilo: Os temas da poesia palaciana incluem o amor cortês, a moralidade, a
reflexão filosófica e a exaltação de valores humanistas. O estilo tende a ser mais polido
e artificial do que o da poesia trovadoresca, com uso frequente de antíteses, metáforas,
alusões mitológicas e um vocabulário selecionado para impressionar tanto pela erudi-
ção quanto pela beleza.
c) Função social e política: Além do entretenimento e da expressão artística, a poesia pa-
laciana frequentemente servia a propósitos sociais e políticos. Poemas podiam ser usa-
dos para elogiar um mecenas, comentar sobre questões políticas ou sociais da época, ou
servir como instrumento de crítica velada, embora sempre dentro dos limites aceitáveis
na corte.
d) Exemplos notáveis: Figuras como Garcia de Resende, que compilou o “Cancioneiro
Geral” (1516), uma coleção de poesia palaciana que inclui obras de diversos autores da
época, são exemplos notáveis deste período. A obra de Resende oferece um panorama
da produção literária cortesã do final do século XV e início do XVI em Portugal, ilus-
trando a diversidade e a riqueza da poesia palaciana.

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GIL VICENTE
Gil Vicente é considerado uma figura central na história do teatro português e frequen-
temente é chamado de “pai do teatro português”. Embora não tenha sido o único a contribuir
para o desenvolvimento do teatro em Portugal, sua obra é fundamental para entendermos a
evolução dessa forma de arte no país.

O legado de Gil Vicente é


imenso. Sua obra influenciou
não apenas o teatro português,
mas também contribuiu para
a formação da identidade cul-
tural e linguística do país. Ele
pavimentou o caminho para o
desenvolvimento do teatro es-
crito em Portugal, estabelecen-
do uma tradição dramática rica
e diversificada que influenciaria
gerações futuras de dramaturgos
portugueses.
Embora não tenha sido o
único responsável pelo surgimen-
to do teatro escrito em Portugal,
Gil Vicente certamente desempe-
nhou um papel crucial nesse pro-
cesso e é reverenciado como uma
das figuras mais importantes na
Gil Vicente história do teatro português.
Gil Vicente viveu entre aproximadamente 1465 e 1536. Pouco se sabe sobre sua vida pesso-
al, mas acredita-se que tenha nascido em Guimarães, no norte de Portugal. Ele era um homem
multifacetado, atuando como dramaturgo, poeta, músico e também funcionário da corte. Ele é
conhecido por ter escrito peças que abrangem uma variedade de gêneros, incluindo comédias,
farsas, autos religiosos e tragicomédias. Sua obra reflete a diversidade cultural e social de Portu-
gal na época, bem como suas preocupações religiosas, políticas e morais.
As peças de Gil Vicente frequentemente retratam a vida cotidiana do povo português, suas
tradições, crenças e problemas sociais. Ele satirizava os costumes da época, incluindo as classes
dominantes, a Igreja e a burocracia estatal, expondo suas hipocrisias e injustiças.
Suas peças abordam uma ampla gama de temas, desde questões sociais e políticas até assun-
tos religiosos e filosóficos. Ele combinava elementos de comédia popular, tradições medievais e
influências clássicas, criando uma obra multifacetada e original.

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Gil Vicente é autor de uma vasta gama de peças que incluem autos e farsas, entre outros
gêneros. Ele é amplamente reconhecido por sua contribuição inovadora ao teatro português,
trazendo para o palco uma diversidade de formas dramáticas que capturam a essência da vida,
da sociedade e da religiosidade de seu tempo. Vamos olhar mais de perto esses dois gêneros
dentro de sua obra:
a) Autos: O termo “auto” refere-se a uma peça de teatro de natureza principalmente reli-
giosa, embora Gil Vicente também tenha escrito autos com temáticas morais e sociais.
Estas peças são caracterizadas por sua estrutura alegórica e pelo uso de personagens
simbólicos que representam virtudes, vícios, estados sociais, ou até mesmo conceitos
abstratos. Gil Vicente utilizou o auto para explorar temas da condição humana, mo-
ralidade cristã e crítica social, muitas vezes de maneira satírica e sempre com grande
habilidade dramática.
b) Farsas: As farsas de Gil Vicente são peças de caráter cômico que satirizam os costumes
da época, focando-se mais intensamente nas fraquezas humanas e nas peculiaridades
da vida cotidiana. Menos alegóricas e didáticas que os autos, as farsas tendem a ser mais
diretas em seu humor e crítica social, apresentando situações do dia a dia, muitas vezes
com personagens tipificados que representam diferentes segmentos da sociedade por-
tuguesa do século XVI.

AUTO DA BARCA DO INFERNO


A peça mais conhecida de Gil Vicente é provavelmente Auto da Barca do Inferno, também
conhecida como Barca do Inferno. Escrita em 1517, esta obra é a primeira parte de uma trilo-
gia que inclui ainda Auto da Barca do Purgatório e Auto da Barca da Glória. Auto da Barca do
Inferno destaca-se não apenas pela qualidade literária, mas também pelo seu conteúdo crítico
e pela maneira como retrata a sociedade portuguesa do início do século XVI.

A peça Auto da Barca do Inferno se desen-


rola no cenário do Juízo Final, onde as almas
dos mortos chegam à beira de um cais e en-
contram duas barcas: uma que leva ao Paraí-
so, comandada por um anjo, e outra que leva
ao Inferno, comandada pelo Diabo. As almas,
representando diferentes estamentos sociais
e tipos humanos da época (como um fidalgo,
um agiota, um parvo, um frade, entre outros),
são julgadas de acordo com seus atos em vida e
direcionadas à barca correspondente. O Diabo
e o Anjo interagem com cada alma, revelando
seus pecados ou virtudes, em uma crítica mor-
daz às hipocrisias da sociedade. Teatro medieval

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Auto da Barca do Inferno aborda temas como a moralidade, a justiça divina, e a crítica so-
cial. Gil Vicente utiliza a alegoria das barcas para satirizar a corrupção, a ganância, o abuso de
poder e a hipocrisia moral de diversas classes sociais, incluindo a nobreza, o clero e o povo. A
peça é uma representação alegórica do julgamento das almas, usando o humor e a sátira para
refletir sobre a ética e a conduta humana.

Esta obra é considerada um marco na literatura portuguesa e no teatro europeu do Renas-


cimento devido à sua originalidade, ao seu caráter crítico e à forma como articula questões
universais através do retrato específico de uma sociedade. “Auto da Barca do Inferno” é fre-
quentemente estudada em escolas e universidades, e continua a ser encenada, demonstrando
sua relevância contínua e seu apelo atemporal.

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EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
01| Durante o Humanismo em Portugal, a poesia palaciana floresceu nas cortes
reais, refletindo os ideais e valores da nobreza e da aristocracia. Esta forma
poética frequentemente retratava temas como o amor cortês, a natureza, e os
ideais de beleza e virtude. Um dos principais poetas palacianos do século XVI
foi um cortesão português que se destacou por suas composições líricas, ca-
racterizadas pela delicadeza dos temas e pela elegância da expressão. Sua obra
mais conhecida, “Cancioneiro Geral”, reúne uma variedade de composições
poéticas que refletem a sensibilidade e os valores da corte. Qual é o nome deste
poeta palaciano, cuja obra foi fundamental para o desenvolvimento da poesia
lírica em Portugal durante o Humanismo?

a) Gil Vicente, dramaturgo e poeta conhecido por suas peças de teatro satíri-
cas e religiosas, que influenciaram a cultura portuguesa do século XVI.
b) Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas, uma epopeia que celebra as
conquistas portuguesas e é considerada uma das maiores obras da litera-
tura portuguesa.
c) Sá de Miranda, poeta e humanista que introduziu o soneto em Portugal e é
conhecido por suas obras que refletem a influência renascentista italiana.
d) Bernardim Ribeiro, autor de “Menina e Moça”, uma obra emblemática da
prosa pastoril portuguesa que influenciou a literatura europeia do Renasci-
mento.
e) Cristóvão Falcão, humanista e poeta que serviu como secretário de estado
em Portugal e é conhecido por suas traduções de autores clássicos latinos
e gregos.

02| O Humanismo, como movimento literário, é caracterizado por sua transição


entre o Trovadorismo e o Classicismo, marcando o fim da Idade Média e o
início da Idade Moderna na Europa. Focado na valorização do ser humano,
destacou-se por suas produções em prosa, como crônicas históricas e teatro,
e em poesia, como a poesia palaciana, durante os séculos XV e XVI. Qual das
seguintes afirmativas está relacionada ao Humanismo?

a) Valorização do homem como centro do universo literário e cultural.


b) Ênfase na transmissão de conhecimentos humanistas através da poesia
trovadoresca.
c) Produção de crônicas históricas que buscavam registrar eventos e figuras
importantes.
d) Desenvolvimento de uma poesia palaciana, centrada em temas amorosos e
corteses.
e) Contribuição para a transição do pensamento medieval para o pensamento
moderno, influenciando diversas áreas do conhecimento.

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03| O Humanismo foi um movimento literário e cultural que marcou a transição


entre o Trovadorismo e o Classicismo, ocorrendo entre os séculos XV e XVI na
Europa. Uma de suas características marcantes foi a valorização do ser huma-
no e a busca pelo conhecimento, refletidas em diversas expressões artísticas
da época. Qual das seguintes opções está relacionada às manifestações literá-
rias do Humanismo?

a) A exaltação das façanhas heroicas dos cavaleiros em poemas épicos.

b) O desenvolvimento de uma poesia lírica que explorava temas amorosos e


corteses.

c) A promoção da fé cristã através da literatura de cunho religioso e morali-


zante.

d) A criação de romances de cavalaria que narravam aventuras fantásticas e


lendárias.

e) A valorização da mitologia greco-romana em peças teatrais e obras literá-


rias.

04| O Humanismo nas artes e na filosofia foi marcado por diversas características
que refletiam uma nova abordagem em relação ao homem e ao conhecimento.
Qual dos seguintes conceitos filosóficos, associado ao Humanismo, ressalta a
importância do homem como um ser agente dotado de inteligência e de capa-
cidade crítica, em contraposição ao teocentrismo?

a) Relativismo

b) Antropocentrismo

c) Teocentrismo

d) Dualismo

e) Existencialismo

05| Qual evento marcou o início do Humanismo literário em Portugal, dando início
a um período que se estendeu até a chegada do poeta Sá de Miranda da Itália,
em 1527, quando então se inicia o Classicismo?

a) A publicação de Os Lusíadas por Luís de Camões.

b) A nomeação de Fernão Lopes como cronista mor do reino em 1434.

c) A fundação da Universidade de Coimbra em 1290.

d) A coroação de Dom João III como rei de Portugal em 1521.

e) A construção do Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa no século XVI.

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06| Leia o trecho a seguir retirado do Humanismo para fazer o que se pede:

Meu amor tanto vos quero,


que deseja o coração
mil cousas contra a razão.
Porque, se vos não quisesse,
como poderia ter
desejo que me viesse
do que nunca pode ser?
Mas conquanto desespero,
e em mim tanta afeição,
que deseja o coração.
(Aires Teles)

Com base no trecho do poema de Aires Teles, qual das seguintes afirmativas
melhor expressa o dilema do eu lírico em relação ao seu amor?

a) O eu lírico deseja intensamente seu amor, mesmo contra a razão, o que


demonstra a força dos sentimentos sobre a lógica.

b) O eu lírico aceita resignadamente seu destino e busca encontrar consolo na


razão, apesar do desejo de seu coração.

c) O eu lírico lamenta a falta de amor correspondido e questiona a própria


capacidade de desejar algo que sabe ser impossível.

d) O eu lírico se entrega completamente à paixão, ignorando qualquer consi-


deração racional ou lógica sobre seu amor.

e) O eu lírico reflete sobre a transitoriedade dos sentimentos e a impermanên-


cia do desejo, buscando reconciliar emoção e razão.

07| No trecho do poema de Aires Teles, o eu lírico expressa um conflito interno


entre emoção e racionalidade. Qual é o sentimento predominante descrito pelo
eu lírico?

a) Desespero

b) Resignação

c) Afeição

d) Consolo

e) Reconciliação

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08| Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como um todo, indique a alter-
nativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino.

a) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consci-
ência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar.

b) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a di-


visão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal.

c) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que


apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os ins-
trumentos de sua culpa.

d) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, po-


rém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza.

e) Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se


o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico.

09| O teatro de Gil Vicente caracteriza-se por ser fundamentalmente popular. E


essa característica manifesta-se, particularmente, em sua linguagem poética,
como ocorre no trecho a seguir, de O Auto da Barca do Inferno:

Ó Cavaleiros de Deus,
A vós estou esperando,
Que morrestes pelejando
Por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo o mal,
Mártires da Madre Igreja,
Que quem morre em tal peleja
Merece paz eternal.

No texto, fala final do Anjo, temos no conjunto dos versos

a) variação de ritmo e quebra de rimas.

b) ausência de ritmo e igualdade de rimas.

c) alternância de redondilha maior e menor e simetria de rimas.

d) redondilha menor e rimas opostas e emparelhadas.

e) igualdade de métrica e de esquemas das palavras que rimam.

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10| Leia o texto abaixo, um trecho do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, para
assinalar a alternativa correta no que se refere à obra desse autor e ao Huma-
nismo em Portugal.

Nota: foram feitas pequenas alterações no trecho para facilitar a leitura.

Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um broquel1 e uma espada na ou-
tra, e um casco debaixo do capelo2; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de
dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: tã-tã;
ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Sou cortesão.
DIABO Sabes também o tordião?
FRADE Por que não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha a tenho eu,
e sempre a tive de meu
DIABO Fizestes bem, que é formosa!
E não vos punham lá grosa3
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que não te entendo!
E este hábito não me vale?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Belzebu vos encomendo!

1 broquel e casco – respectivamente, escudo e armadura para cabeça – são elementos por meio dos quais o
autor descreve o frade.
2 capelo – chapéu ou capuz usado pelos religiosos.
3 pôr grosa – censurar.

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a) O destino do frade é exemplar no que se refere à principal característica da


obra de Gil Vicente: a crítica severa, de sabor renascentista, à Igreja Católi-
ca, de cuja moral se distancia a obra do dramaturgo.
b) A proposta do teatro vicentino alegórico – especialmente a Trilogia das Bar-
cas – era a montagem de peças complexas, de linguagem rebuscada, distan-
te do falar popular, para criticar, nos termos da moral medieval, os homens
do povo.
c) A imagem cômica, mas condenável, de um frade que canta, dança e namo-
ra, trazendo consigo uma dama, é exemplo cabal do pressuposto das peças
de Gil Vicente de que, rindo, é possível corrigir os costumes.
d) O frade terá como destino o inferno porque é homem “mundanal”, ligado
aos gozos do mundo material, em cujo pano de fundo percebe-se o sistema
de valores do homem medieval, para o qual não há salvação após a morte.
e) O sistema de valores que pode ser entrevisto nas peças de Gil Vicente, e
especialmente no Auto da Barca do Inferno, revela uma mentalidade avessa
aos valores da Idade Média.

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GABARITOS E RESOLUÇÕES
01| A alternativa correta é C. Sá de Miranda foi um poeta palaciano do século XVI
cuja obra contribuiu significativamente para o desenvolvimento da poesia líri-
ca em Portugal durante o Humanismo.

02| A alternativa correta é A. Valorização do homem como centro do universo li-


terário e cultural**. O Humanismo destacou-se por colocar o ser humano no
centro de suas produções literárias e culturais, valorizando sua capacidade de
raciocínio, criatividade e busca pelo conhecimento.

03| A alternativa correta é B. O desenvolvimento de uma poesia lírica que explora-


va temas amorosos e corteses. Durante o Humanismo, houve uma proliferação
de poesia lírica, especialmente a poesia palaciana, que abordava temas como o
amor cortês, a natureza e a exaltação da mulher amada, refletindo a valoriza-
ção do indivíduo e suas emoções.

04| A alternativa correta é B. Esta característica do Humanismo destaca a centra-


lidade do ser humano no mundo e no universo, enfatizando sua capacidade de
pensar, raciocinar e agir de forma independente.

05| A alternativa correta é B. Esse evento é considerado o marco inicial do Humanis-


mo literário em Portugal, pois Fernão Lopes é reconhecido como um dos primei-
ros autores a adotar uma abordagem humanista em suas crônicas históricas,
inaugurando um período de renovação e valorização das letras portuguesas.

06| A alternativa correta é A. O trecho expressa o conflito entre o desejo apaixona-


do do coração e a racionalidade da mente, sugerindo uma batalha entre emo-
ção e razão.

07| A alternativa correta é A. O eu lírico expressa um intenso desejo pelo seu amor,
mesmo sabendo que é irracional, o que sugere um estado de desespero diante
da situação.

08| A alternativa correta é o item A. Esta alternativa é a correta porque captura


essencialmente o propósito moral e didático subjacente ao Auto da Barca do
Inferno, de Gil Vicente. O teatro vicentino, particularmente nesta obra, serve
como um espelho da condição humana e um lembrete da importância da sal-
vação da alma, reflexo dos ensinamentos cristãos da época.

09| A resposta correta é E. Este trecho de O Auto da Barca do Inferno exemplifica


como Gil Vicente utilizou a linguagem poética de forma a tornar seu teatro
acessível e atraente para o público da época, característica marcante de seu
trabalho. A escolha de uma métrica igual e esquemas de rima consistentes
contribui para a musicalidade do texto, facilitando a memorização e a decla-
mação, aspectos importantes no teatro popular.

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10| A resposta é a alternativa C. A obra de Gil Vicente faz crítica a algumas práti-
cas corruptas da sociedade, ao mesmo tempo em que se aproxima de valores
religiosos. Assim, ao criar uma personagem de um frade corrompido pelos pe-
cados da luxúria, mas que a princípio deveria seguir as regras morais, o autor
faz uma crítica social. É interessante notar que a crítica é feita de forma cô-
mica, a partir do perfil do Frade: nota-se que ele chega à barca acompanhado
de uma mulher, o que por si só já é cômico, tratando-se de um frade. Dessa
forma, a partir do riso, Gil Vicente constrói uma obra de caráter moralista e
correcional dos costumes.

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