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1434 - 1527
ENEM
e VESTIBULARES
Teoria e Exercícios
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Henrique Landim
Humanismo
no ENEM
HUMANISMO (1434-1527)
O Humanismo português é um movimento cultural, literário e intelectual que representa a
transição entre a Idade Média e o Renascimento, situando-se aproximadamente entre o final do
século XIV e o início do século XVI. Este período é marcado pelo redescobrimento dos valores
clássicos greco-romanos, enfatizando o antropocentrismo associado ao teocentrismo medieval,
e valorizando a natureza humana, suas capacidades e realizações.
Esse movimento preparou o terreno para o Renascimento, um período de florescimento
artístico e literário que se seguiria. Contribuiu para a valorização da cultura e língua portuguesa,
influenciando decisivamente os rumos da literatura portuguesa posterior, com destaque para o
período do Renascimento e, mais tarde, para o Barroco.
CONTEXTO HISTÓRICO
O Humanismo em Portugal surge num momento de grande efervescência cultural e ex-
pansão territorial, coincidindo com os Descobrimentos Marítimos. A busca por novas terras e
rotas comerciais acabou por incentivar um espírito de curiosidade e aprendizado, o que se re-
fletiu nas artes e nas letras.O menestrel era um artista medieval itinerante que se dedicava prin-
cipalmente à música, mas também poderia estar envolvido em outras formas de entretenimento,
como contar histórias, recitar cantigas e realizar acrobacias. Os menestréis desempenhavam um
papel importante na sociedade medieval, pois viajavam de lugar em lugar, frequentando festas,
feiras, cortes e castelos, onde eram contratados para entreter nobres e plebeus.
FERNÃO LOPES
Fernão Lopes é uma figura central no Humanis-
mo português, especialmente considerado por seu pa-
pel pioneiro na historiografia e na literatura nacional.
Nomeado cronista-mor pelo rei Dom Duarte em 1418,
Lopes é frequentemente celebrado como o “pai da his-
toriografia portuguesa”. Em 1434, ele foi nomeado cro-
nista mor da Torre do Tombo. Essa nomeação é vista
como o marco de início do Humanismo. São inúmeras
as contribuições de Fernão Lopes: Fernão Lopes
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Durante a Idade Média, a poesia frequentemente era composta para ser acompanhada por
música, sendo os gêneros poético e musical profundamente interligados. Lembre-se, por exem-
plo, das cantigas do Trovadorismo. No entanto, com o advento do Humanismo, observa-se
uma progressiva separação entre a música e a literatura, por várias razões:
a) Valorização do texto escrito: O Humanismo enfatizou o retorno aos textos clássicos
gregos e romanos, promovendo o estudo crítico e a imitação dessas obras. Isso fortale-
ceu o papel do texto escrito como um veículo de expressão intelectual e artística, inde-
pendentemente da música.
b) Desenvolvimento da imprensa: A invenção da imprensa por Gutenberg no século XV
revolucionou a disseminação do conhecimento, facilitando a produção e distribuição
de livros. Isso contribuiu para uma maior difusão da literatura escrita, permitindo que
a poesia alcançasse um público mais amplo sem depender da performance musical.
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Humanismo
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POESIA PALACIANA
A poesia palaciana, característica do período do Humanismo português, reflete uma fase
de transição na literatura portuguesa, marcando o fim da era medieval e o início dos tempos
modernos. Desenvolvida no contexto da corte, especialmente durante o reinado de Dom João
II (1481-1495), essa poesia é essencialmente cortês e erudita, representando um movimento
em direção a temas mais refinados e a uma estilística mais elaborada, diferenciando-se das
formas mais populares e tradicionais do trovadorismo medieval. Vejamos algumas caracterís-
ticas principais da poesia palaciana:
a) Contexto cortês: A poesia palaciana floresce no ambiente da corte, um espaço de po-
der, luxo e refinamento, onde poetas e escritores muitas vezes atuavam como cortesãos.
Essa poesia era frequentemente dedicada a membros da nobreza ou do alto clero, refle-
tindo os interesses e valores dessa elite social.
b) Temas e estilo: Os temas da poesia palaciana incluem o amor cortês, a moralidade, a
reflexão filosófica e a exaltação de valores humanistas. O estilo tende a ser mais polido
e artificial do que o da poesia trovadoresca, com uso frequente de antíteses, metáforas,
alusões mitológicas e um vocabulário selecionado para impressionar tanto pela erudi-
ção quanto pela beleza.
c) Função social e política: Além do entretenimento e da expressão artística, a poesia pa-
laciana frequentemente servia a propósitos sociais e políticos. Poemas podiam ser usa-
dos para elogiar um mecenas, comentar sobre questões políticas ou sociais da época, ou
servir como instrumento de crítica velada, embora sempre dentro dos limites aceitáveis
na corte.
d) Exemplos notáveis: Figuras como Garcia de Resende, que compilou o “Cancioneiro
Geral” (1516), uma coleção de poesia palaciana que inclui obras de diversos autores da
época, são exemplos notáveis deste período. A obra de Resende oferece um panorama
da produção literária cortesã do final do século XV e início do XVI em Portugal, ilus-
trando a diversidade e a riqueza da poesia palaciana.
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GIL VICENTE
Gil Vicente é considerado uma figura central na história do teatro português e frequen-
temente é chamado de “pai do teatro português”. Embora não tenha sido o único a contribuir
para o desenvolvimento do teatro em Portugal, sua obra é fundamental para entendermos a
evolução dessa forma de arte no país.
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Gil Vicente é autor de uma vasta gama de peças que incluem autos e farsas, entre outros
gêneros. Ele é amplamente reconhecido por sua contribuição inovadora ao teatro português,
trazendo para o palco uma diversidade de formas dramáticas que capturam a essência da vida,
da sociedade e da religiosidade de seu tempo. Vamos olhar mais de perto esses dois gêneros
dentro de sua obra:
a) Autos: O termo “auto” refere-se a uma peça de teatro de natureza principalmente reli-
giosa, embora Gil Vicente também tenha escrito autos com temáticas morais e sociais.
Estas peças são caracterizadas por sua estrutura alegórica e pelo uso de personagens
simbólicos que representam virtudes, vícios, estados sociais, ou até mesmo conceitos
abstratos. Gil Vicente utilizou o auto para explorar temas da condição humana, mo-
ralidade cristã e crítica social, muitas vezes de maneira satírica e sempre com grande
habilidade dramática.
b) Farsas: As farsas de Gil Vicente são peças de caráter cômico que satirizam os costumes
da época, focando-se mais intensamente nas fraquezas humanas e nas peculiaridades
da vida cotidiana. Menos alegóricas e didáticas que os autos, as farsas tendem a ser mais
diretas em seu humor e crítica social, apresentando situações do dia a dia, muitas vezes
com personagens tipificados que representam diferentes segmentos da sociedade por-
tuguesa do século XVI.
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Auto da Barca do Inferno aborda temas como a moralidade, a justiça divina, e a crítica so-
cial. Gil Vicente utiliza a alegoria das barcas para satirizar a corrupção, a ganância, o abuso de
poder e a hipocrisia moral de diversas classes sociais, incluindo a nobreza, o clero e o povo. A
peça é uma representação alegórica do julgamento das almas, usando o humor e a sátira para
refletir sobre a ética e a conduta humana.
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EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
01| Durante o Humanismo em Portugal, a poesia palaciana floresceu nas cortes
reais, refletindo os ideais e valores da nobreza e da aristocracia. Esta forma
poética frequentemente retratava temas como o amor cortês, a natureza, e os
ideais de beleza e virtude. Um dos principais poetas palacianos do século XVI
foi um cortesão português que se destacou por suas composições líricas, ca-
racterizadas pela delicadeza dos temas e pela elegância da expressão. Sua obra
mais conhecida, “Cancioneiro Geral”, reúne uma variedade de composições
poéticas que refletem a sensibilidade e os valores da corte. Qual é o nome deste
poeta palaciano, cuja obra foi fundamental para o desenvolvimento da poesia
lírica em Portugal durante o Humanismo?
a) Gil Vicente, dramaturgo e poeta conhecido por suas peças de teatro satíri-
cas e religiosas, que influenciaram a cultura portuguesa do século XVI.
b) Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas, uma epopeia que celebra as
conquistas portuguesas e é considerada uma das maiores obras da litera-
tura portuguesa.
c) Sá de Miranda, poeta e humanista que introduziu o soneto em Portugal e é
conhecido por suas obras que refletem a influência renascentista italiana.
d) Bernardim Ribeiro, autor de “Menina e Moça”, uma obra emblemática da
prosa pastoril portuguesa que influenciou a literatura europeia do Renasci-
mento.
e) Cristóvão Falcão, humanista e poeta que serviu como secretário de estado
em Portugal e é conhecido por suas traduções de autores clássicos latinos
e gregos.
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04| O Humanismo nas artes e na filosofia foi marcado por diversas características
que refletiam uma nova abordagem em relação ao homem e ao conhecimento.
Qual dos seguintes conceitos filosóficos, associado ao Humanismo, ressalta a
importância do homem como um ser agente dotado de inteligência e de capa-
cidade crítica, em contraposição ao teocentrismo?
a) Relativismo
b) Antropocentrismo
c) Teocentrismo
d) Dualismo
e) Existencialismo
05| Qual evento marcou o início do Humanismo literário em Portugal, dando início
a um período que se estendeu até a chegada do poeta Sá de Miranda da Itália,
em 1527, quando então se inicia o Classicismo?
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06| Leia o trecho a seguir retirado do Humanismo para fazer o que se pede:
Com base no trecho do poema de Aires Teles, qual das seguintes afirmativas
melhor expressa o dilema do eu lírico em relação ao seu amor?
a) Desespero
b) Resignação
c) Afeição
d) Consolo
e) Reconciliação
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08| Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como um todo, indique a alter-
nativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino.
a) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consci-
ência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar.
Ó Cavaleiros de Deus,
A vós estou esperando,
Que morrestes pelejando
Por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo o mal,
Mártires da Madre Igreja,
Que quem morre em tal peleja
Merece paz eternal.
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10| Leia o texto abaixo, um trecho do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, para
assinalar a alternativa correta no que se refere à obra desse autor e ao Huma-
nismo em Portugal.
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um broquel1 e uma espada na ou-
tra, e um casco debaixo do capelo2; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de
dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: tã-tã;
ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Sou cortesão.
DIABO Sabes também o tordião?
FRADE Por que não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha a tenho eu,
e sempre a tive de meu
DIABO Fizestes bem, que é formosa!
E não vos punham lá grosa3
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que não temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que não te entendo!
E este hábito não me vale?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Belzebu vos encomendo!
1 broquel e casco – respectivamente, escudo e armadura para cabeça – são elementos por meio dos quais o
autor descreve o frade.
2 capelo – chapéu ou capuz usado pelos religiosos.
3 pôr grosa – censurar.
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GABARITOS E RESOLUÇÕES
01| A alternativa correta é C. Sá de Miranda foi um poeta palaciano do século XVI
cuja obra contribuiu significativamente para o desenvolvimento da poesia líri-
ca em Portugal durante o Humanismo.
07| A alternativa correta é A. O eu lírico expressa um intenso desejo pelo seu amor,
mesmo sabendo que é irracional, o que sugere um estado de desespero diante
da situação.
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10| A resposta é a alternativa C. A obra de Gil Vicente faz crítica a algumas práti-
cas corruptas da sociedade, ao mesmo tempo em que se aproxima de valores
religiosos. Assim, ao criar uma personagem de um frade corrompido pelos pe-
cados da luxúria, mas que a princípio deveria seguir as regras morais, o autor
faz uma crítica social. É interessante notar que a crítica é feita de forma cô-
mica, a partir do perfil do Frade: nota-se que ele chega à barca acompanhado
de uma mulher, o que por si só já é cômico, tratando-se de um frade. Dessa
forma, a partir do riso, Gil Vicente constrói uma obra de caráter moralista e
correcional dos costumes.
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