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“Ler é comparar”
O exercício da comparação não define literatura comparada.
O ato da comparação envolve a criação (escritor) e reação (leitor)
Comparar diversos autores ou diversas obras é uma atividade secular
A definição de literatura comparada tem vindo a mudar desde o século 19 até aos dias
de hoje
A palavra “Literatura” nasceu no final do séc 18
Estudava-se “Ars liberalis” (Lógica, Gramática, Retórica- trivium). Mais tarde surgiu
“belles letras” (um corpus de modelos da antiguidade, ou seja, estudava-se textos,
gregos e latinos
Literatura- surgiu no sentido de o saber de quem leu muito e reteve muito
conhecimento de todas as áreas
Literatura séc 18- falava-se de literatura para especificar obras de valor estético
Literatura nacional séc 19- ligação entre literatura e nação.
Friedrich Schlegel:
Para ele a Europa tinha a obrigação de ser a luz para o resto do mundo
Para ele romântico era aquele que estava ligado à sua terra, mas que ao mesmo
tempo tinha um ideal cosmopolita (cidadão do mundo).
Achou importante “frequentar” o espírito de outras nações e de outras épocas que
não as nossas para dar opiniões divergentes, retirar o “puramente humano” uma
“verdade eterna”
Para nós modernos, para a Europa, a fonte está na Grécia
Para Schelegel, a Europa é o mundo em miniatura, “romântico” e sinónimo de “nova
europa”
Defende que a literatura nacional deve dialogar com a literatura mundial, a fim de não
se manter estática. Utilizou a palavra “Weltliteratur” que significa literatura mundial.
Frases de J.W.V.G:
“Não existe arte patriótica, tal como não existe ciência patriótica. A arte e a ciência,
como todos os bens verdadeiramente elevados, pertencem ao mundo na sua
globalidade e só podem ser promovidas por meio da ação recíproca geral e livre de
todos os que vivem numa mesma época, em permanente consideração daquilo que
nos ficou e nos é conhecido das épocas passadas”
“A poesia é propriedade comum de toda a humanidade”
“Quem não conhece outras línguas não sabe nada sobre a sua”
“O poder de uma língua não está em recusar o que é alheio, mas sim na capacidade de
o absorver”
Para J.W. Goethe não conhece outras línguas num sentido aditivo, mas sim para
conhecer melhor a sua.
1+1=3—Significa que o especialista reúne textos e vai potenciar uma leitura heurística
(leitura que descobre algo novo)
Porquê comparar? Os autores acabam por dialogar uns com os outros e para
entendermos a literatura comparada temos de analisar os diálogos que os autores
estabelecem entre si.
Porque nenhuma arte é autossuficiente.
Para quê comparar? Para multiplicar, exponenciar os sentidos de uma obra artística
Sempre que queiramos usar uma citação num texto devemos colocar o apelido do
autor, ano de publicação e a página em que o autor disse.
“Close Reading” – Ler os textos atentamente e com interpretação cuidadosa e
sustentada de uma breve passagem de um texto. Uma leitura atenta dá ênfase ao
único e ao particular em detrimento do geral, através de uma atenção especial às
palavras individuais, à sintaxe, à ordem em que as frases desenvolvem as ideias, bem
como as estruturas formais.
As transferências para os livros profanos das práticas da leitura dos livros religiosos/
obras com centralidade- circulam pela Europa (ex. Os Sofrimentos de Joven Werther-
goethe; A Nova heloíse-Rousseau/ estes livros tornaram-se os primeiros “best-sellers”)
Os leitores liam com afinco/ liam repetidamente. O personagem Werther suicida-se e
leitores que liam de forma intensiva e se projetavam no personagem também se
mataram.
Com a revolução industrial foi possível a circulação de livros e de pessoas através dos
comboios. Criou-se a literatura de aeroporto
O “Grand Tour” era uma prática aristocrática do séc 17 ao 19, onde jovens nobres europeus
viajavam pela Europa para adquirir cultura e conhecimento. Era uma forma de educação
privilegiada. Por outro lado, migrações e exílios, muitas vezes são motivados por circunstâncias
adversas, como conflitos, perseguições ou busca por melhores oportunidades econômicas.
Essas experiências envolvem deslocamentos forçados e adaptação a novos ambientes e
culturas.
As imagens sobre uma realidade estrangeira não são estudadas como verdadeiras ou
falsas, mas como sintoma de uma relação.
Imagologia Literária- “Um conjunto de ideias sobre o estrangeiro incluídas num processo de
literarização e também de socialização”
Editores
Tradutores
Livreiros
Críticos
Professores
Fatores políticos:
1- Censura/Pressões ideológicas: Os governos podem proibir a tradução
ou distribuição de obras que contenham ideias ou informações que
considerem ameaçadoras ou inaceitáveis—Forma de controlar o povo,
de modo a que pensem todos da mesma maneira.
2- Apoios estatais: Bolsas e subsídios governamentais podem ser
disponibilizados para tradutores, encorajando-os a trabalhar em
projetos de tradução que promovam a língua do país em questão, a
cultura e aspetos nacionais que o estado quer que sejam mostrados
para o exterior.
Fatores económicos:
Imitação
A poesia e a imitação em sentido platônico (a imitação da imitação)
Sentido que Platão vai dar vai ser negativo, pois Platão afirma que a poesia é
uma imitação da imitação. Esta ideia de Platão vem do mito da caverna onde
se conclui que o que vemos é o reflexo= sombra das coisas então a poesia é
uma imitação da imitação.
“mimesis aristotélica”- Na poética de Aristóteles ele vai considerar que a
poesia tem a faculdade de representar algo que é externo. A “ mimesis” não
quer dizer uma duplicação igual, mas a capacidade de expor de novo
Epístola a Pisões ou “Arte poética de Horácio”. Fala-se sobre o papel do poeta
na sociedade e a necessidade de entreter ou instruir os leitores.
A imitação de modelos:
1- Surge a imitação de textos
2- Surge como a imitação de textos que tem carácter instrutivo para os
poetas
A imitação dos livros é um caso particular da imitação do mundo. Aquele que imita as
outras obras está a imitar o mundo.
Mito—Narrativa fundacional, anónima e coletiva. História sagrada tipo como uma
verdadeira, com uma eficácia mágica, recitada em circunstâncias precisas. Tem uma
função socio-religiosa. É ao mesmo tempo uma história e uma teoria do conhecimento
Mito literário—Não é fundacional, não é anónimo
Intertextualidade (…) todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção
e transformação de um outro texto”. Todos os textos literários acabam por ter aspetos
implícitos de obras antigas.- Julia Kristeva
Arquitextualidade: géneros, formas. Relação que uma obra estabelece com o seu género.
Exemplo: Relação dos romances de hoje com os do século passado
Hípertextualidade: relação com hipotexto (s). Designa a relação de qualquer autor com outros
textos que funciona como substrato, um hipotexto.
Daniel Foe- Este livro é considerado o primeiro romance da literatura inglesa. Espera-
se uma narrativa ficcional. Esta obra está no estatuto de parecer que vamos ler a de
alguém. Este livro foi inspirado na vida de um marinheiro. Robinson Crusoe é um mito
de um homem perdido na ilha que se conseguiu superar a estranheza dessa aventura,
cuja a origem (Daniel de Foe) é conhecida.
A obra de De Foe deu origem a outras obras que têm como aspetos da história dele.
Estas obras surgem do espírito de que o artista deve imitar os modelos antigos. A
escrita de obras surge como uma resposta, de modo a dar alternativas de pensamento
para as obras originais.
Exemplos:
Jean-Jacques Rousseau, Discours sur l origine et les fondements de l inégalité parmi les
hommes,1755- «O mito do bom selvagem» e Émile, 1762
Karl Marx, in O Capital (1867)
Marguerite Daubenton, Zélie dans le désert, 1786
Wiliam Golding, Lord of Lies, 1956
Muriel Spark, Robinson, 1958
Paul Theroux, The Mosquito Coast, 1981
Operações de reescrita:
Eliminação: Eliminação de aspetos de nas obras originais
Acrescento: Acrescento de aspetos às obras originais
Deslocação: Movimentação de aspetos relativamente às obras originais
Substituição: Substituição de aspetos relativamente às obras originais
Porquê é que os escritores partem de outros textos? Uma grande parte da literatura é
uma reescrita das obras passadas. As obras futuras vão resultar das obras antigas. É a
partir de da memória individual, coletiva e cultural que surgem outros obras. É preciso
conhecer e depois dirigi-lo ou transforma-lo
Para quê que os escritores partem de outros textos? Os escritores partem de outros
textos para valorizarem a sua obra, dar uma resposta diferente à obra original,
baseada num contexto atual e dando outros sentidos à obra. É uma forma de o autor
se valorizar, na medida em que se confronta com os melhores autores. É uma forma
de manter as obras originais vivas. Significação fazem com que a obra se emancipe do
tempo, pois outros autores atribuem significados temporais. O autor vai reescrever no
sentido de prolongar outros sentidos que não tinham sido explorados.
Para quê que os leitores comparam textos? Para irmos ao encontro de uma amplitude
de conhecimento sobre a obra. É este aspeto que vai dar ao leitor uma autonomia
no campo da virtualidade artística, na medida em que, as relações que estabelece
podem ser inovadoras. É um leitor que vai fazer leituras criativas.
Nota: Metaficcção historiográfica —É quando a história inclui uma reflexão sobre a própria
história.
Muitas vezes os textos surgem de uma desconstrução de uma história inicial o que
leva o leitor a refletir. Por exemplo, a obras As naus é uma paródia dos Lusíadas e leva
o leitor a pensar sobre os descobrimentos.
Coetzee coloca no texto uma reflexão sobre escrever um texto e a forma de escrevê-
lo.
Susan fala a Foe (escritor original) dizendo que ele tem condições para escrever. Este
pormenor é um elemento de metaficção, pois reflete sobre a construção da ficção
Todo o texto é uma reflexão sobre as condições da escrita.
A necessidade humana de ouvir e contar histórias—O que nos distingue dos animais é
a nossa capacidade e necessidade de contar histórias, a necessidade de contar o que
vemos, sentimos aos outros.
A existência de narrativas é tão antiga como a humanidade.
Vladimir Propp apoiou-se nos contos que conhecia e viu que havia funções dos contos
em comum, como por exemplo, o final feliz (casamento). Viu também que há sempre
personagens típicas. É nas personagens-tipo que vemos a base de outros textos.
Para quê se contar histórias? Alimentar determinados valores que se quer que
passem de geração em geração.
Folclore—significa histórias do povo
Irmãos Grimm
A história inicia-se a mostrar uma ligação muito forte à mãe que está doente e que chama a
sua filha e pede-lhe para se manter bem educada. Acaba por falecer, e no inverno seguinte, o
seu pai casa de novo com a madrasta da gata borralheira. Ela tem uma ligação com o túmulo
da mãe que na versão dos irmãos o pai vai de viagem e questiona a filha e enteadas o que
queriam que ele trouxesse. As enteadas pedem jóias, e a filha pede um ramo, o qual depois irá
colocar no túmulo da mãe. Nesse túmulo vai nascer uma arvore que vai ser habitat de pombas.
Estas pombas vão vingar-se da maldade das meias-irmãs (moralidade aplicada por elementos
da natureza)