Bom dia a todos! Estou cá para vos falar da primeira
obra dramática de José Saramago, A Noite. O escritor José Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922 em Azinhaga de Ribatejo, na Golegã e acabou por falecer em 2010. Ficou conhecido por ser um escritor romancista, poeta, teatrólogo e contista. Também recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, sendo ele o Prêmio Camões. A Noite é a primeira obra dramática escrita por José Saramago. A ação passa-se na redação de um jornal, em Lisboa, na noite de 24 para 25 de abril de 1974. No fundo o que o escritor tenta retratar é o que de facto se passou nessa noite. De certa forma mostra a reação de medo de alguns e de esperança de outros. Os temas que serão abordados ao longo desta obra serão a corrupção, a liberdade de expressão, a ditadura imposta aos meios de comunicação e a hipocrisia. O que a peça de teatro conta é quando se dá a Revolução dos Cravos, como assim é conhecida. Na redação ouvem-se rumores de que está a decorrer uma revolução, mas sem ninguém saber quem a comanda. Torres, o redator da província e Jerónimo, o chefe da tipografia querem publicar a notícia, alterando a que estava destinada para primeira página. Valadares, os administradores e o diretor, opõem-se e até querem cancelar a publicação do jornal. Esta atitude é tomada pois eram apoiantes de Salazar. Mas o que os redatores decidiram foi que iria haver a publicação do jornal, mas dividido em duas edições, a primeira seria sobre o golpe de estado e na segunda falariam das suas suspeitas da Revolução. Entretanto o diretor é acusado de Fascismo pelo facto de estar a proteger a PIDE. No final da peça a revolução é confirmada e administradores e redatores discutem a defender que a máquina continuaria a trabalhar e outros a quererem impedir tal acontecimento. Uma personagem com grande destaque é Valadares, o chefe da redação que assume o papel de uma pessoa autoritária com os outros membros envolvidos. Com o desenrolar da história contada, entende-se que Valadares meio que está “sufocado”, sente-se pressionado por parte dos seus colegas de trabalho que não concordam com os seus incumprimentos. Este também é intimidado pelo diretor do jornal. Outra personagem com grande destaque é o Torres, redator da província, um idealista que defende a verdade e liberdade jornalística e não suporta que o jornal esteja na mão de terceiros, ou seja, do governo. Este também decidiu e preferiu estar num cargo inferior ao que merecia do que compactuar com o regime vivido. Tem como sua aliada Claúdia, a estagiária da redação. Parte filosófica Com a ditadura imposta aos meios de comunicação, será que as notícias que saiam daquela redação eram verdadeiras? Como será que se sentiam ao exercer a sua profissão sem a liberdade de escolha para escrever as suas notícias, sem a sua liberdade de expressão? De que maneira poderá um jornalista fazer o seu trabalho com toda esta censura imposta sobre si? Que direito tem o Estado de interferir nas notícias que são publicadas? A verdade é que realmente todos estes problemas, a ditadura nos meios de comunicação, a liberdade de expressão, as corrupções, efetivamente aconteceram neste regime ditatorial governado por Salazar. Um jornalista é um analista da realidade. Um jornalista deve escrever noticias para que todos nós estejamos informados da nossa realidade. Sendo assim que adianta ser jornalista se não tem a sua liberdade de expressão para escrever para nós? O que realmente acontece neste mundo? Ao longo desta obra aparecem várias partes em que enuncia a censura nos meios de comunicação, e eu escolhi um excerto para ler, de uma conversa do Torres para o Valadares. “Quem tem o poder, tem a informação que defenderá os interesses do dinheiro que esse poder serve. A informação que nós atiramos para cima do leitor desorientado é aquela que, em cada momento, melhor convém aos donos do dinheiro. Para quê? Para que lhes dêmos mais dinheiro a ganhar. Servem-se de nós, e nós servimo- nos a eles. Mas, que faço eu, a pregar-lhe sermões? Você sabe isto tão bem como eu, você não é parvo, faço-lhe essa justiça. Mas finge que não sabe, fecha os olhos, assina o recibo e diz que cumpriu o seu dever. E eu não sou daqueles que tiveram a coragem de voltar as costas ao sistema. A quem tudo isto deveria ser explicado, não era a você, era a toda essa gente que anda na rua, que compra o jornal e o lê, e acaba por acreditar mais no que ele diz do que naquilo que os seus próprios olhos veem. Abrir as janelas e gritar lá para fora esta verdade tão clara e tão bem escondida! Com certeza, seria a primeira vez que a verdade sairia deste edifício. A única verdade possível.” Com isto temos um exemplo em que o Torres diz a Valadares a corrupção, a censura e a falta de liberdade jornalística e de expressão que os rodeia naquela redação. Para argumentar este problema um filósofo que se pode usar como referência para este assunto é Karl Marx, mais conhecido por ser filósofo, economista, historiador, mas raramente é relembrado como jornalista. O seu primeiro artigo foi sobre esta questão, a censura na imprensa. Num dos seus textos escreveu: “A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o indivíduo ao Estado e ao mundo… A imprensa livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê, e a visão de si mesmo é a primeira condição da sabedoria” na realidade o que nos tenta transmitir com este excerto é, que o papel do Estado é refletir os interesses da população que integra e não abafar a suas vozes coletivas. Para concluir, dado todos estes argumentos e suas devidas explicações, no meu ponto de vista, um jornalista efetivamente quando está sobre um regime político ditatorial em uma censura jornalista não poderá fazer o seu trabalho corretamente. Tecnicamente eram “escravos” do governo, no que toca a jornalismo. As pessoas eram informadas de uma ilusão, uma realidade que na verdade não existe e durante este regime muitos foram os jornalistas que compactuaram com estes termos. Deveriam de o ter feito? Certamente que não. Mas de certa forma, talvez o que os tenha levado a aceitar estas condições foi o medo que era imposto à população, as perseguições aos que se opunham ao governo, tudo isto penso que sejam fatores influenciadores. Com isto, quero dizer que a meu ver o objetivo do Estado Novo era criar uma opinião pública que lhe fosse bastante favorável, mas com o tempo acabou por se criar jornais em que escreviam noticias a seu favor e que os avantajasse.