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TITULO
Emanuelle Amaral Almeida Marçal
Ricardo Reis, uma das mais de setenta faces de Pessoa, médico, monárquico que busca
exílio no Brasil afim de fugir dos movimentos revolucionários que eclodiam na
Europa, discípulo de Alberto Caeiro, como todos nós, Reis é autor de uma poesia que
busca o equilíbrio do espirito clássico, conciliando o epicurismos com o estoicismo,
sua poesia cerebral pautada nos ideias Carpe Diem busca pela tranquilidade da alma e
aceitação dos fatos e das regras tais como são, construído em cima desses princípios o
heterônimo de Pessoa assume um posicionamento quase que ausente em relação ao
mundo.
O ano da morte de Ricardo Reis tem sua primeira publicação em 1984, o tempo
ficcional da obra é 1936, período referente ao governo totalitarista de Salazar em
Portugal, fato esse que não passa despercebido aos olhos de Saramago e durante o
desenvolver da narrativa a influência da ditadura na vida dos personagens revela-se
abundantemente.
“(...) Houve ainda uma outra razão para este meu regresso, essa mais egoísta,
é que em Novembro rebentou no Brasil uma revolução, muitas mortes, muita
gente presa, temi que a situação viesse a piorar, estava indeciso, parto, não
parto, mas depois chegou o telegrama, aí decidi-me, pronunciei-me, como
disse o outro, Você, Reis, tem sina de andar a fugir das revoluções, em mil
novecentos e dezanove foi para o Brasil por causa de uma que falhou, agora
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA
Essa revelação de Reis constata outro aspecto de sua personalidade que Saramago
destaca mais adiante, o médico poeta é um “espectador do espetáculo do mundo”. Ao
desembarcar em Lisboa, Reis não reconhece sua própria pátria e busca compreender a
situação política e social de seu país por meio dos jornais que articulam sobre um
Portugal irreal e idealizada e tenta transformar fake news em verdades. O perfil niilista
de Ricardo Reis o torna alheio aos acontecimentos do mundo e o constante estado de
fuga é seu destino ser para sempre o exilado do mundo como ele almeja em diversos de
seus poemas, como este:
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos. Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
(PESSOA, 1946, p142)
PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Lisboa, Ática, 1946 (imp. 1994).
SILVA, Teresa Cristina Cerdeira da. José Saramago. Entre a história e a ficção: uma
saga de portugueses, Lisboa: Dom Quixote, 1989.