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como narrador. Evidencia-se a ficção de Saramago sobre Ricardo Reis, um ser de ficção
construído por Pessoa. Um labirinto de palavras, imagens e representações que
espelham Portugal entre a primeira e a segunda guerras mundiais, bem como a visão
de José Saramago sobre Ricardo Reis, um dos quatro heterónimos mais conhecidos de
Fernando Pessoa, num contexto de amizade e de especulação intelectual entre Ricardo
Reis e Fernando Pessoa, sem deixar de lado a ficção e as profecias para o futuro de
Portugal.
O romance situa-se num ano historicamente crítico: 1936 “estava-se em Junho de mil
novecentos e dezasseis”, ano decisivo para o desencadear dos acontecimentos fatais
que conduziriam à Segunda Guerra Mundial.
Lídia apesar de ser simples, humilde e pouco letrada, é uma mulher ativa, perspicaz, e
questionadora, preocupada com os acontecimentos mundiais e nacionais “foi neste
momento que Lídia apareceu à porta do quarto, de mangas arregaçadas, a querer
saber…”, onde revela ter um espírito crítico. Esta demostra ter um carácter pouco
convencional para a época, já que está disposta a manter um relacionamento não
oficial, uma vez que deseja levar a gravidez até ao fim. Esta ao ir fazer limpeza ao
quarto de Ricardo Reis, acabada deitada na sua cama, com o objetivo de se atualizar
das notícias do Mundo. Contudo
Este vagueia por vários lugares como a estátua do Adamastor no Alto de Santa Catarina
“andar a passear à noite no Alto de Santa Catarina”, – “quando o vê sentado, de costas,
no banco mais próximo do Adamastor “- figura monstruosa imaginada por Camões e
descrita n´Os Lusíadas, símbolo do Cabo das Tormentas, que vociferava ameaças aos
navegadores, sendo uma representação datada de 1927. Perto do local de onde habita,
este constituí um dos seus locais de eleição de Ricardo Reis, simbolizando os
obstáculos do passado, opositor à marcha dos portugueses, representando no
romance o princípio de uma sociedade nova. No romance, a estátua do Adamastor um
marco norteador dentro do labirinto da cidade de Lisboa. Geograficamente, o
Adamastor encontra-se num ponto de cruzamento de caminhos. O Adamastor torna-se
no presente a rosa-dos-ventos, que anuncia o novo roteiro do povo., sendo visto como
um marco norteador do caminho do povo. Por outro lado, a ação decorre no
apartamento de Ricardo Reis, virado para o rio, onde está presente um traço da
filosofia de vida de Ricardo Reis pessoano, onde o rio está presente no poema “Vem
sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”, onde conversa com Fernando Pessoa, na Rua do
Alecrim onde “…agora Marcenda atravessa o largo na direção da Rua do Alecrim, volta-
se para ver se o pombo ainda está pousado no braço de Camões,…”, acabando a ação
no seu consultório onde recebe Marcenda “Foi três dias depois que Marcenda
apareceu no consultório.”. “Aquele rosto nu, sem óculos, com o bigode ligeiramente
crescido, pêlo e cabelo têm vida mais longa, exprimia uma grande tristeza, daquelas sem
emenda, como as da infância, que, por da infância serem, julgamos terem remédio fácil,
esse é o nosso engano.
A intertextualidade será, porém, o ponto forte e central da construção narrativa do
romance. Ao longo deste capítulo estão presentes intertextualidades como uma
referência ao poema Iniciação de Fernando Pessoa “Neófito, não há morte”, onde, por
meio de uma imitação criativa, dado esta mensagem ser rejeita, Pessoa afirma
“Neófito, há morte”, onde o poeta reflete acerca da memória e do esquecimento,
afirmando que “O mundo esquece tanto que nem sequer dá pela falta do que esqueceu,
concluindo que após a morte paira o esquecimento, referenciando a decadência dos
valores sociais da época. Por outro lado, numa analepse referente a junho de 1916,
Ricardo Reis cita “…a mais extensa das suas odes, passadas e futuras…”: “Ouvi contar
que outrora, quando a Pérsia”.