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Como José Saramago encontrou Ricardo Reis e o levou para um

romance

José Saramago, na primeira pessoa conta-nos como levou Ricardo Reis


para um romance. Aos dezoito anos leu uma série de odes de Ricardo
Reis, julgando que havia, de facto, um poeta detentor deste nome. E assim
esta crença durou alguns meses. A descoberta de que Ricardo Reis não
passava de um heterónimo de Fernando Pessoa fora marcante para
Saramago.
O ano da morte de Ricardo Reis fora publicado em 1984 e conta a história
do regresso de Ricardo Reis a Portugal vindo do Brasil, onde esteve
dezasseis anos, observando-se o testemunho do trágico ano através do
qual o leitor é levado a sentir o clima sombrio em que o fascismo se afirma
na sociedade. Então, Saramago, aproveita o facto de Fernando Pessoa não
ter determinado a data da morte do protagonista do romance para Reis
morrer no mesmo período em que começaria a longa agonia de Portugal.
(“Esfuziam gritos patrióticos, Portugal Portugal Portugal, Salazar Salazar
Salazar, este não veio, só aparece quando lhe convém, nos locais e às
horas que escolhe, aquele não admira que aqui esteja porque está em
toda a parte”).
Surge um movimento inverso, logo a começar: «Aqui onde o mar se acaba
e a terra principia»; o virar ao contrário do verso de Camões: «Onde a
terra acaba e o mar começa.» Em Camões, o movimento é da terra para o
mar; no livro de Saramago temos Ricardo Reis a regressar a Portugal por
mar. É substituído o movimento épico da partida.
A história começa com a chegada de Reis a Portugal, ficando alojado no
Hotel Bragança, na rua do Alecrim, sem data estabelecida. Esta
personagem é solitária e vai observando e aprendendo a realidade da
cidade, do país e do mundo. No entanto, o cemitério dos Prazeres onde
está sepultado Fernando Pessoa falecido em 30 de Novembro de 1935, é o
primeiro local que Ricardo Reis visita mal chega a Lisboa.
No primeiro dia do ano de 1936, quando a euforia do novo ano é vivida lá
fora, Ricardo Reis já se recolheu no seu quarto, e desta forma, Fernando
Pessoa (ou o seu fantasma) visita-o pela primeira vez e avisa-o de que só
poderão ter mais nove meses para se encontrarem e explica que tal como
quando estamos no ventre das nossas mães não somos ainda vistos, mas
todos os dias elas pensam em nós, após a morte cada dia vamos sendo
esquecidos um pouco “salvo casos excecionais nove meses é quando
basta para o total olvido”.
É nos primeiros capítulos que são dadas a conhecer Lídia e Marcenda, a
primeira, empregada do hotel onde se encontra instalado a segunda, uma
hóspede. Com Lídia, Reis tem um relacionamento muito próximo
passando a noite juntos, motivo este que é criticado por Fernando Pessoa
devido ao preconceito existente relativo às classes sociais.
Neste romance, é relatado o “mau tempo” como metáfora do terrível
tempo histórico tanto a nível nacional, como europeu. Estando
implementada a ditadura nacional onde impera a autoridade, a
propaganda, a censura, a vigilância (PVDE), Ricardo Reis é interrogado por
ser suspeito de ligações revolucionárias.
Mais tarde, muda-se do hotel para um apartamento no Alto de Santa
Catarina, onde Lídia o visita todas as sextas-feiras. Marcenda envolve-se
com Ricardo e este escreve-lhe uma carta a relatar a sua situação
nomeadamente que está a trabalhar na clinica, no entanto esta salienta a
incompatibilidade amorosa entre os dois.
Fernando Pessoa volta a encontrar-se com o protagonista, junto à estátua
do Adamastor, estátua essa que o escritor pretende salientar como a luta
contra os perigos e o sofrimento amoroso. Na conversa entre os dois
amigos falam sobre o amor, a vida e a morte, o estado do país. Fernando
Pessoa evidencia sinais de cansaço das alterações relativas aos últimos
meses.
Reis propõe Marcenda em casamento mas a mesma recusa a proposta. Há
um adeus definitivo entre eles.
Lídia informa o seu amante da possibilidade de gravidez contudo Ricardo
Reis sente-se perdido, e escreve um poema a Marcenda, com o intuito de
imortalizar o fugaz relacionamento.
Com toda a agitação política no país e na Europa, e no meio deste
labirinto de acontecimentos, Reis sente-se perdido e sozinho. Fernando
Pessoa despede-se dele, e este decide acompanhá-lo.
Na minha opinião, trata-se de uma obra com uma narrativa cativante,
onde são mencionadas inúmeras caraterísticas com muita imaginação que
demonstram o prodigioso autor. É um livro com uma história muito
descritiva, com uma multiplicidade de personagens que contudo é
necessário estar-se atento para seguir os raciocínios labirínticos do autor.
Considero esta obra uma ótima sugestão de leitura e uma brilhante
escolha para o programa da disciplina de Português.

Referências bibliográficas:
- Saramago, José, Fevereiro de 2019, O ano da morte de Ricardo Reis,
Lisboa, Porto Editora
https://www.esquerda.net/artigo/o-ano-da-morte-de-ricardo-reis-jose-saramago-
1984/44089
https://ensina.rtp.pt/artigo/como-jose-saramago-encontrou-ricardo-reis-e-o-levou-para-
um-romance/

Trabalho realizado por:


Ana Areias

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