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José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis
GRUPO I
Leia o texto.
Sai Ricardo Reis para a rua, esta do Alecrim, invariável, depois qualquer outra, para
cima, para baixo, para os lados, Ferragial, Remolares, Arsenal, Vinte e Quatro de Julho, são as
primeiras dobações do novelo, da teia, Boavista, Crucifixo, às tantas cansam-se as pernas, um
homem não pode andar por aí à toa, nem só os cegos precisam de bengala que vá tenteando
um palmo adiante ou de cão que fareje os perigos, um homem mesmo com os seus dois olhos
intactos precisa duma luz que o preceda, aquilo em que acredita ou a que aspira, as próprias
dúvidas servem, à falta de melhor. Ora, Ricardo Reis é um espetador do espetáculo do mundo,
sábio se isso for sabedoria, alheio e indiferente por educação e atitude, mas trémulo porque
uma simples nuvem passou, afinal é tão fácil compreender os antigos gregos e romanos quando
acreditavam que se moviam entre deuses, que eles os assistiam em todos os momentos e
lugares, à sombra duma árvore, ao pé duma fonte, no interior denso e rumoroso duma floresta,
na beira do mar ou sobre as vagas, na cama com quem se queria, mulher humana, ou deusa, se
o queria ela. Falta a Ricardo Reis um cãozito de cego, uma bengalita, uma luz adiante, que este
mundo e esta Lisboa são uma névoa escura onde se perde o sul e o norte, o leste e o oeste,
onde o único caminho aberto é para baixo, se um homem se abandona cai a fundo, manequim
sem pernas nem cabeça. Não é verdade que tenha regressado do Rio de Janeiro por cobardia,
ou por medo, que é mais clara maneira de dizer e ficar explicado. Não é verdade que tivesse
regressado porque morreu Fernando Pessoa, considerando que nada é possível pôr no sítio do
espaço e no sítio do tempo de onde algo ou alguém foi tirado, Fernando fosse ou Alberto, cada
um de nós é único e insubstituível, lugar mais do que todos comum é dizê-lo, mas quando o
dizemos não sabemos até que ponto, Ainda que me aparecesse agora mesmo, aqui, enquanto
vou descendo a Avenida da Liberdade, Fernando Pessoa já não é Fernando Pessoa, e não
porque esteja morto, a grave e decisiva questão é que não poderá acrescentar mais nada ao
que foi e ao que fez, ao que viveu e escreveu, se falou verdade no outro dia, já nem sequer é
capaz de ler, coitado.
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.2.1
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis
GRUPO II
Responda às questões.
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Leia o texto.
Marisa Torres da Silva, in Público – Coleção Mil Folhas, edição online (consultado em agosto de 2016).
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.2.1
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis
[A] constitui-se como o primeiro êxito de Saramago antes da publicação de Memorial do convento.
[B] narra as peripécias de Ricardo Reis desde o seu expatriamento, em 1919.
[C] assenta no conhecimento de Saramago sobre a criação heteronímica de Pessoa.
[D] debruça-se sobre a criação artística de Ricardo Reis e de Fernando Pessoa.
[A] revela um pendor clássico, dado a sua personagem principal ser Ricardo Reis.
[B] reveste-se de um enorme realismo no que diz respeito à ação.
[C] acaba por ser um decalque de obras de Luís de Camões e de Jorge Luís Borges.
[D] tem como pano de fundo factos verídicos ocorridos em 1936.
4. Na expressão “um dos melhores romances de José Saramago” (ll. 2-3), estamos perante a
modalidade
6. Na expressão “Ricardo Reis chega a Lisboa” (l. 11), o segmento sublinhado desempenha a
função sintática de
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.2.1
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis
7. As expressões “O ano da morte de Ricardo Reis” (l. 2) e “o romance de Saramago” (l. 17)
constituem-se como um exemplo de coesão
10. Classifique as palavras “plena” (l. 6) e cheia, tendo em conta que ambas derivam do mesmo
étimo latino (PLENA-).
GRUPO III
Faça uma apreciação crítica, entre 150 a 200 palavras, da imagem apresentada, atendendo aos
seguintes aspetos:
comentário valorativo.