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Ficha de Avaliação – Módulo 9.2.

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José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o texto.

Sai Ricardo Reis para a rua, esta do Alecrim, invariável, depois qualquer outra, para
cima, para baixo, para os lados, Ferragial, Remolares, Arsenal, Vinte e Quatro de Julho, são as
primeiras dobações do novelo, da teia, Boavista, Crucifixo, às tantas cansam-se as pernas, um
homem não pode andar por aí à toa, nem só os cegos precisam de bengala que vá tenteando
um palmo adiante ou de cão que fareje os perigos, um homem mesmo com os seus dois olhos
intactos precisa duma luz que o preceda, aquilo em que acredita ou a que aspira, as próprias
dúvidas servem, à falta de melhor. Ora, Ricardo Reis é um espetador do espetáculo do mundo,
sábio se isso for sabedoria, alheio e indiferente por educação e atitude, mas trémulo porque
uma simples nuvem passou, afinal é tão fácil compreender os antigos gregos e romanos quando
acreditavam que se moviam entre deuses, que eles os assistiam em todos os momentos e
lugares, à sombra duma árvore, ao pé duma fonte, no interior denso e rumoroso duma floresta,
na beira do mar ou sobre as vagas, na cama com quem se queria, mulher humana, ou deusa, se
o queria ela. Falta a Ricardo Reis um cãozito de cego, uma bengalita, uma luz adiante, que este
mundo e esta Lisboa são uma névoa escura onde se perde o sul e o norte, o leste e o oeste,
onde o único caminho aberto é para baixo, se um homem se abandona cai a fundo, manequim
sem pernas nem cabeça. Não é verdade que tenha regressado do Rio de Janeiro por cobardia,
ou por medo, que é mais clara maneira de dizer e ficar explicado. Não é verdade que tivesse
regressado porque morreu Fernando Pessoa, considerando que nada é possível pôr no sítio do
espaço e no sítio do tempo de onde algo ou alguém foi tirado, Fernando fosse ou Alberto, cada
um de nós é único e insubstituível, lugar mais do que todos comum é dizê-lo, mas quando o
dizemos não sabemos até que ponto, Ainda que me aparecesse agora mesmo, aqui, enquanto
vou descendo a Avenida da Liberdade, Fernando Pessoa já não é Fernando Pessoa, e não
porque esteja morto, a grave e decisiva questão é que não poderá acrescentar mais nada ao
que foi e ao que fez, ao que viveu e escreveu, se falou verdade no outro dia, já nem sequer é
capaz de ler, coitado.

Cap. IV (pp. 119-120)

1. Relacione a caracterização de Lisboa com a época política vigente em Portugal em 1936.

2. Demonstre como este excerto ilustra a intertextualidade com Fernando Pessoa.

3. Retire do excerto, explicitando-as, três marcas do tom oralizante de José Saramago.

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Ficha de Avaliação – Módulo 9.2.1
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis

GRUPO II

Responda às questões.
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

Leia o texto.

Ricardo Reis revisitado

A reconstrução da identidade imaginária de um dos heterónimos do poeta Fernando


Pessoa constitui o mote do livro O ano da morte de Ricardo Reis (1984), um dos melhores
romances de José Saramago, dois anos depois da publicação de Memorial do convento. Ricardo
Reis, tal como o título o deixa prever, é a personagem central do livro, mas também Fernando
Pessoa, o seu criador, ocupa um lugar preponderante na ação, a qual se situa historicamente
nos anos 1930, época de plena consolidação da ditadura salazarista.
Partindo das pistas biográficas de Ricardo Reis registadas pelo próprio Pessoa − um mé-
dico que se expatriara desde 1919 no Brasil, por motivos políticos −, Saramago imagina a
personagem no seu regresso a Portugal em dezembro de 1935, descrevendo o seu quotidiano
nos nove meses anteriores à sua morte. Ricardo Reis chega a Lisboa, aluga um quarto de hotel
e depois um apartamento, envolve-se com duas mulheres, Lídia e Marcenda, é seguido pela
polícia, além de receber sucessivas visitas do falecido Fernando Pessoa, o que contribui para
acentuar o ambiente de irrealidade da ação.
Em O ano da morte de Ricardo Reis, a escrita de Saramago possui uma forte marca de
intertextualidade, sendo que os nomes de Marcenda e Lídia derivam ambos das “Odes de
Ricardo Reis” de Pessoa, além do facto de o romance de Saramago se construir em torno da
personagem inventada pelo poeta, reconstruída através do diálogo com o seu criador. Também
as referências a Luís de Camões são constantes ao longo da obra bem como a presença do
escritor argentino de ascendência portuguesa Jorge Luís Borges. Toda esta multirreferen-
cialidade que perpassa pelo livro transforma O ano da morte de Ricardo Reis num romance que
se transcende a si próprio, posicionando-o numa tradição literária simultaneamente clássica e
moderna, portuguesa e internacional.

Marisa Torres da Silva, in Público – Coleção Mil Folhas, edição online (consultado em agosto de 2016).

1. Quanto ao género, este texto constitui-se como

[A] uma exposição sobre a publicação de uma obra de Saramago.


[B] uma apreciação crítica de uma obra de Saramago.
[C] um artigo de opinião sobre o heterónimo Ricardo Reis.
[D] um relato de viagem centrado no regresso de Ricardo Reis a Portugal.

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Ficha de Avaliação – Módulo 9.2.1
José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis

2. A obra O ano da morte de Ricardo Reis

[A] constitui-se como o primeiro êxito de Saramago antes da publicação de Memorial do convento.
[B] narra as peripécias de Ricardo Reis desde o seu expatriamento, em 1919.
[C] assenta no conhecimento de Saramago sobre a criação heteronímica de Pessoa.
[D] debruça-se sobre a criação artística de Ricardo Reis e de Fernando Pessoa.

3. Esta obra de Saramago

[A] revela um pendor clássico, dado a sua personagem principal ser Ricardo Reis.
[B] reveste-se de um enorme realismo no que diz respeito à ação.
[C] acaba por ser um decalque de obras de Luís de Camões e de Jorge Luís Borges.
[D] tem como pano de fundo factos verídicos ocorridos em 1936.

4. Na expressão “um dos melhores romances de José Saramago” (ll. 2-3), estamos perante a
modalidade

[A] epistémica (valor de probabilidade).


[B] epistémica (valor de certeza).
[C] deôntica (valor de permissão).
[D] apreciativa.

5. Os processos fonológicos ocorridos na passagem de PERSONA - para pessoa são

[A] a dissimilação e a prótese.


[B] a crase e a apócope.
[C] a assimilação e a síncope.
[D] a sonorização e a metátese.

6. Na expressão “Ricardo Reis chega a Lisboa” (l. 11), o segmento sublinhado desempenha a
função sintática de

[A] complemento oblíquo.


[B] predicativo do sujeito.
[C] complemento indireto.
[D] modificador.

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José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis

7. As expressões “O ano da morte de Ricardo Reis” (l. 2) e “o romance de Saramago” (l. 17)
constituem-se como um exemplo de coesão

[A] lexical (por repetição).


[B] lexical (por substituição).
[C] gramatical (referencial).
[D] gramatical (interfrásica).

8. Retire do excerto que se segue os segmentos com valor temporal.

“A reconstrução da identidade imaginária de um dos heterónimos do poeta Fernando Pessoa


constitui o mote do livro O ano da morte de Ricardo Reis (1984), um dos melhores romances de
José Saramago, dois anos depois da publicação de Memorial do convento.” (ll. 1-4)

9. Identifique o antecedente retomado pelo segmento “a qual”. (ll. 5-6)

10. Classifique as palavras “plena” (l. 6) e cheia, tendo em conta que ambas derivam do mesmo
étimo latino (PLENA-).

GRUPO III

Faça uma apreciação crítica, entre 150 a 200 palavras, da imagem apresentada, atendendo aos
seguintes aspetos:

 descrição sucinta da imagem;

 simbologia da imagem representada e das


cores usadas;

 possível relação da imagem com O ano da


morte de Ricardo Reis;

 comentário valorativo.

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