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Teste Formativo 3

Grupo I

A. Lê o seguinte texto.

− Quê! Pois realmente?... É gracejo isso, ou realmente há ali uma mulher, bonita,
bonita, e?...
− Ali não há ninguém − ninguém que se nomeie hoje, mas houve... oh! houve um
anjo, um anjo que deve estar no céu.
− Bem dizia eu que aquela janela...
− É a janela dos rouxinóis...
− Que lá estão a cantar.
− Estão, esses lá estão ainda como há dez anos − os mesmos ou outros, mas a
menina dos rouxinóis foi-se e não voltou.
− A menina dos rouxinóis! Que história é essa? Pois deveras tem uma história
aquela janela?
− É um romance todo inteiro, todo feito como dizem os franceses, e conta-se em
duas palavras.
− Vamos a ele. A menina dos rouxinóis, menina com os olhos verdes! Deve ser
interessantíssimo. Vamos à história já.
− Pois vamos. Apeemo-nos e descansemos um bocado.
Já se vê que este diálogo passava entre mim e outro dos nossos companheiros de
viagem. Apeamo-nos com efeito, sentamo-nos, e eis aqui a história da menina dos
rouxinóis, como ela se contou.
É o primeiro episódio da minha Odisseia: estou com medo de entrar nele, porque
dizem as damas e os elegantes da nossa terra que o português não é bom para isto, que
em francês que há outro não-sei-quê...
Eu creio que as damas que estão mal informadas, e sei que os elegantes que são uns
tolos; mas sempre tenho meu receio, porque enfim, enfim, deles me rio eu: mas poesia
ou romance, música ou drama de que as mulheres não gostem, é porque não presta.
Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamo-nos; o que eu vou contar não é um
romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros; é uma
história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão.
Acabemos aqui o capítulo em forma de prólogo; e a matéria do meu conto para o
seguinte.
Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra [cap. X], Lisboa: IN-CM, 2010, p. 161.
Educação literária
1. Identifica os dois momentos estruturantes da obra que se cruzam neste excerto.
2. Apoiando-te em elementos do texto, demonstra como a história da Menina dos
Rouxinóis se anuncia como uma novela romântica.
3. Explicita a relação que se estabelece entre o penúltimo parágrafo e os que o
antecedem.
4. Indica duas características da linguagem que revelam a “modernidade” da prosa
do autor.

B. Lê o seguinte excerto.

“Este é o único privilégio dos poetas: que até morrer podem estar namorados
(…) o que não ama apaixonadamente (…) Deus me livre dele.”
Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra

5. A partir da afirmação transcrita, redige uma exposição (130 a 170 palavras)


em que justifiques em que medida Carlos exemplifica a conceção romântica
do amor em Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett.

Grupo II
Os imprevistos em viagem

Os imprevistos são parte integrante de qualquer viagem e devem ser encarados


com naturalidade. Podem ser incómodos e desesperantes, é verdade, por vezes até
frustrantes ou revoltantes. Mas, não raras vezes, as melhores histórias de viagem
resultam precisamente de… imprevistos.
Não sou dos viajantes mais azarados, mas já tive a minha dose de autocarros
perdidos, reservas não honradas, vistos recusados e outros “acidentes de percurso”. (…)
Mas também me recordo de imprevistos felizes, daqueles que ficam marcados
para sempre no baú de recordações de um viajante. Um deles ocorreu na passagem de
ferryboat entre o Egito e a Jordânia.
“Volte amanhã”, foram as exatas palavras proferidas por um homem mal-
encarado do outro lado do guichet, assim que o inquiri sobre os bilhetes para o barco
que liga diariamente Nuweiba, no Egito, a Aqaba, na Jordânia. “Volte amanhã”. Sem
mais. O ferry estaria cheio. Eram onze e trinta da manhã. O dia estava aparentemente
perdido.
Sem alternativas credíveis (não podia optar por entrar em Israel por questões
relacionadas com vistos), resignei-me a ficar em Nuweiba. Um taxista viu-me sentado
no passeio e perguntou para onde ia. Disse que não sabia, que ainda estava a pensar. Foi
quando ele mencionou uma tal Tarabin, “muito bonita”. Nunca tinha ouvido falar, mas
aceitei a sugestão e instalei-me num bungalow primitivo da praia Tarabin, quase uma
dezena de quilómetros a norte do porto marítimo de Nuweiba, sem outra expectativa
que não a de esperar pelo dia seguinte. Foi a melhor coisa que podia ter acontecido.
Tarabin era uma daquelas aldeias à beira-mar com apenas três ou quatro ruas de
terra batida, quase deserta, com pousadinhas simples mas acolhedoras junto à praia, as
convenientes redes mosquiteiras, almofadas no chão e velas a servir de iluminação
noturna. Havia uma fileira de montanhas pelas costas, que entalavam Nuweiba contra a
faixa litoral e dramatizava a paisagem.
Do outro lado do golfo de Aqaba, a Arábia Saudita era visível a olho nu. Os
menus dos poucos restaurantes abertos incluíam peixe fresco, as pessoas eram de uma
amabilidade extrema, os camelos passeavam no areal de uma praia literalmente
despovoada, sossegada, encantadora. Enquanto mergulhava nas águas tépidas do golfo,
com o sol prestes a esconder-se atrás das montanhas, só me ocorria pensar na sorte de
ter perdido o ferryboat.
Filipe Morato Gomes in http://www.fmgomes.com/os-imprevistos-em-viagem-diario-
de-noticias/ (consultado em 6 de janeiro de 2016).

Leitura / Gramática
1.Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a única opção que
permite obter uma afirmação correta.
1.1. O texto apresenta características específicas do género
A. exposição.
B. artigo de divulgação científica.
C. artigo de opinião.
D. relato de viagem.

1.2. A expressão ”reservas não honradas” (l. 6) significa que


A. o viajante não comparece no local reservado.
B. as reservas do viajante não são cumpridas.
C. as reservas são falsas.
D. as reservas são pouco dignas.

1.3. Este viajante considera que ter perdido o ferryboat foi uma sorte
A. porque, assim, descansou mais tempo em Tarabin.
B. porque, de outro modo, não teria conhecido uma maravilhosa aldeia à beira-
-mar.
C. porque o taxista o levou mais depressa a Tarabin.
D. porque Tarabin era lindíssima e ele precisava de tempo para a conhecer
melhor.

1.4. A expressão “não raras vezes” (l. 3) significa


A. sempre.
B. poucas vezes.
C. vezes excessivas.
D. frequentemente.
1.5. A palavra sublinhada em “resignei-me a ficar em Nuweiba” (l. 15) contribui para
A. a coesão lexical.
B. a coesão interfrásica.
C. a coesão referencial.
D. a coesão frásica.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.


2.1. Indica o processo de formação da palavra “ferryboat” (l. 9).
2.2. Indica a função sintática da expressão sublinhada em “Havia uma fileira de
montanhas pelas costas” (l. 24)
2. 3. Divide e classifica as orações presentes na frase “Os menus dos poucos
restaurantes abertos incluíam peixe fresco, as pessoas eram de uma amabilidade
extrema, os camelos passeavam no areal de uma praia literalmente despovoada,
sossegada, encantadora” (l. 26-29).

Grupo III
Escrita

O escritor Mark Twain, a propósito da importância de abrir a mente, escreveu que


“Viajar é letal para o preconceito, intolerância e mentes fechadas”.

Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião sobre a viagem


enquanto melhor escola da vida, com 180 a 220 palavras, no qual fundamentes o teu
ponto de vista com dois argumentos e com, pelo menos, um exemplo concreto e
significativo para cada um.
CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE CLASSIFICAÇÃO

GRUPO I……………………………………………………………………………………………………….……… 100 pontos


EDUCAÇÃO LITERÁRIA
A
1. ……………………………………………………………………………………………………………….……… 15 pontos
Cenário de resposta

Neste excerto, cruzam-se dois momentos estruturantes da obra. Até este capítulo, o narrador
centra-se na viagem entre o Terreiro do Paço e o Vale de Santarém. O aparecimento da Casa do
Vale vai dar origem à novela que é contada nos capítulos seguintes (“A menina dos rouxinóis,
menina com os olhos verdes! Deve ser interessantíssimo. Vamos à história já. ”).

2. …………………………………………………………………………………………………………………………... 20 pontos
Cenário de resposta

A novela da Menina dos Rouxinóis inicia-se neste capítulo e são várias as expressões do
texto que nos remetem para o Romantismo: “um anjo que deve estar no céu” (l.xx); “ Pois
deveras tem uma história aquela janela? “; “A menina dos rouxinóis, menina com os olhos
verdes!” (l.xx).
3. ……………………………………………………………………………………………………………….……… 15 pontos
Cenário de resposta

No penúltimo parágrafo o narrador dirige-se às “belas e amáveis leitoras”, evitando


comprometer-se com o que o Romantismo da sua época apresentava de exagerado. Este
parágrafo, ao apresentar uma posição de antirromantismo, estabelece uma relação de oposição
com os parágrafos anteriores que apresentam uma novela de traços românticos.

4. ……………………………………………………………………………………………………………………………………… 20 pontos
Cenário de resposta

A linguagem desta obra é considerada muito inovadora e moderna. Concorre para este
facto a variedade de registos de língua apresentada, os apelos aos narratários, o estilo oralizante
adotado pelo narrador: “Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamo-nos” (l.xx).

B
5. ……………………………………………………………………………………………………………………………………… 30 pontos
Cenário de resposta

Sugestões:
 Carlos:
 percurso sucessivo de desenganos amorosos;
 desequilíbrio emocional;
 pensamentos poéticos;
 busca do absoluto resolvida em frustração e desencanto.
 (…)

GRUPO II …………………………………………………………………………………………………………………. 50 pontos


LEITURA / GRAMÁTICA
Chave
Item Versão 1 Versão 2 Pontuação

1.1 D 5

1.2 B 5

1.3 B 5

1.4 D 5

1.5 D 5

2.1 Empréstimo. 7

2.2 Complemento Direto. 8

2.3 Oração coordenada – “Os menus dos poucos restaurantes abertos incluíam 10
peixe fresco,”;
oração coordenada assindética – “ as pessoas eram de uma amabilidade
extrema,”;
oração coordenada assindética – os camelos passeavam no areal de uma praia
literalmente despovoada, sossegada, encantadora”.

Grupo III ……………………………………………………………………………………………………………………. 50 pontos

Tópicos sugeridos:

 a viagem permite observar o mundo;


 estimula a curiosidade e a perspicácia;
 proporciona um mundo de descobertas e de aprendizagem;
 desenvolve o gosto por aspetos culturais (museus, música…);
 ensina a viver sem preconceitos, a ser tolerante, a respeitar as diferenças;
 ensina a dar valor aos pequenos bens materiais;
 revela povos e culturas;
 (…)

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