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Embora, na minha opinião, não seja esta uma discussão tão importante, é, de fato, uma

questão interna de Loja que sempre causa alguns transtornos nas Sessões Maçônicas,
entre aqueles que condenam o uso do balandrau e aqueles que o defendem. Para alguns
Irmãos, o traje maçônico correto é o terno escuro, de preferência preto ou azul-marinho,
especialmente em sessões magnas, sendo tolerado o uso do balandrau.

Outros sustentam a ideia de que tanto em Sessões Magnas, quanto Ordinárias, pode-se
usar apenas o balandrau. Discussões à parte, para mim o mais importante é o Maçom
participar da Sessão com todo o seu coração, imbuído da seriedade que o momento
exige. É como diz o ditado “o hábito não faz o monge”.

Lendo alguns artigos de autores maçônicos da atualidade, percebi que há até entre eles
algumas ideias que, se não chegam a se contradizerem, mostram algumas diferenças de
pensamento, principalmente em relação ao uso do balandrau em Loja.

Este trabalho visa trazer algum esclarecimento sobre o tema aos meus irmãos da Loja
Maçônica Asilo da Virtude, Loja essa que me proporcionou enxergar a luz maçônica e
da qual tanto me orgulho. Tentarei ir por partes e peço um pouco de paciência, caso
venha extrapolar um pouco o tempo, que eu sei ser de 15 minutos.

1) A vestimenta maçônica (traje maçônico)

Quando se fala em traje maçônico, logo se pensa em paletó, gravata, sapato preto.
Entretanto, temos de levar em consideração que o traje maçônico mesmo é o Avental,
sem o qual o obreiro é considerado nu, na acepção de Castellani. Temos de concordar
com isto, pois embora a cor da vestimenta (calça, gravata, etc) possa ser diferente para
cada Rito ou mesmo dependendo de cada país, o Avental, como diz Jaime Pusch, é a
insígnia obrigatória do maçom em loja, não podendo sem ele participar dos trabalhos.

Não há muito o que discutir sobre traje maçônico, pois como diz Castellani: “discutir
traje em loja é o mesmo que discutir o sexo dos anjos”, devido às variações sofridas nos
trajes masculinos através dos tempos, inclusive de povo para povo; em algumas partes
do mundo, principalmente em regiões quentes dos estados unidos, os maçons vão às
sessões até em mangas de camisa, mas não se esquecem do avental; no Brasil, o traje,
antigamente, era previsto nos Rituais (Séc. XIX e início do Séc. XX)como indicação e
não imposição, devido à diversidade de ritos. Posteriormente é que a exigência do traje
foi colocada na legislação das obediências, padronizando conforme o rito majoritário no
Brasil (REAA); a palavra “terno”, gramaticalmente falando, quer dizer um traje que se
compõe tradicionalmente de um trio de peças de roupa: calça, colete e paletó. Os mais
antigos talvez se lembrem que era assim que os homens algumas décadas atrás se
vestiam, completando este trio com o uso do chapéu e da bengala. Posteriormente, o
colete foi abolido, talvez devido ao clima tropical do brasil. o terno tornou-se, então, um
parelho, ou seja, um par, constituído da calça e do paletó, equivocadamente chamado
atualmente de terno.

Grande é a controvérsia do uso ou não de terno ou na ausência deste, o balandrau. No


Brasil, e só no Brasil, convencionou-se o uso deste, e de acordo com os estatutos de
várias obediências o balandrau é “tolerado” em Sessões Ordinárias;

2. Traje maçônico segundo o RGF-GOB

O RGF do GOB traz em seu Art. 110 que “Os Maçons presentes às sessões magnas
estarão trajados de acordo com o seu Rito, com gravata na cor por ele estabelecida,
terno preto ou azul marinho, camisa branca, sapatos e meias pretos, podendo portar
somente suas insígnias e condecorações relativas aos graus simbólicos”.

“§ 1º – Nas demais sessões, se o rito permitir, admite-se o uso do balandrau preto, com
gola fechada, comprimento até o tornozelo e mangas compridas, sem qualquer símbolo
ou insígnia estampados”.

O traje maçônico no RGF é definido em relação às sessões magnas, admitindo-se o


balandrau nas outras sessões, de forma eventual. Faço aqui os seguintes
questionamentos: Por que se exigiu de forma mais clara somente em relação às Sessões
Magnas? A palavra terno diz respeito ao trio paletó, colete e calça, como sempre foi
tradicionalmente e gramaticalmente, ou somente ao paletó e calça, já que a palavra terno
quer dizer ternário, trio? A palavra eventual significa um acontecimento incerto, casual,
fortuito; o verbete eventualmente no RGF tem o mesmo significado? Se tiver, o
balandrau pode ser admitido casualmente, em quantidade incerta? Não deveria conter o
RGF uma exclusão de proibição do balandrau em sessão magna, já que é usado pelo
experto nas iniciações?

Antes de concluir, quero falar um pouco do que é o balandrau, motivo maior deste
trabalho.

3. Definição, origem e uso do balandrau na Maçonaria

Balandrau – do latim medieval balandrana, designa a antiga vestimenta com capuz e


mangas largas, abotoada na frente; e designa também, certo tipo de roupa usada por
membros de confrarias, geralmente em cerimônias religiosas. Assim, o balandrau não é
exclusividade maçônica.

Embora alguns autores insistam em afirmar que o balandrau não é veste maçônica, o seu
uso, na realidade remonta a primeira das associações de ofício organizadas (Maçonaria
Operativa), a dos “Collegia Fabrorum”, criada no século VI a.C., em Roma. Quando as
legiões romanas saiam para as suas conquistas bélicas, os Collegiati acompanhavam os
legionários para reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando nesses
deslocamentos uma túnica negra.

Da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos Franco-Maçons


medievais (Séc XIV e XV), quando viajavam pela Europa Ocidental, usavam o
balandrau negro. Segundo outros autores, o uso do balandrau teve início nas funções do
Primeiro Experto, durante os trabalhos de iniciação em que atendia o profano na
Câmara de Reflexões. Para outros, como Jaime Pusch e Rizzardo Da Camino, o
balandrau foi inicialmente restritivo à Câmara do Meio, no Grau de Mestre de alguns
ritos, mas que depois foi aceito nos outros graus.

Percebemos, através deste pequeno relato, que o balandrau está presente na história da
Maçonaria desde o princípio, pois era uma forma de igualar os participantes e proteger
suas identidades através do capuz, principalmente da perseguição da inquisição. Hoje, a
vestimenta é tolerada pelas altas autoridades das potências maçônicas e muitas lojas
adotam o balandrau como vestimenta oficial para as Sessões Ordinárias, deixando o
terno somente para as Sessões Magnas. Isto acontece muito nas cidades grandes,
principalmente em função da distância casa-trabalho-loja maçônica. Outras lojas
admitem o uso do balandrau somente para visitantes, desde que seja do mesmo rito da
loja visitada.

4. Algumas conclusões sobre o tema em questão

Diante do que foi exposto cheguei a algumas conclusões que, de antemão, afirmo serem
bem pessoais. Não peço a ninguém que concorde comigo, mas que respeite a minha
forma de pensar como pretendo respeitar o pensamento alheio. Vamos a elas:

o A verdadeira veste maçônica é o Avental. Sem ele o Obreiro é considerado nu, não
podendo participar dos Trabalhos;· Sob o Avental deve haver, porém uma roupa sóbria
e decente, sendo o balandrau uma forma de igualar e uniformizar o traje. O uso do
balandrau iguala e nivela os maçons em loja. Nada de exigência de ternos, cores de
gravata etc. A igualdade na vestimenta demonstra um desapego a toda e qualquer
vaidade humana – tão combatida pela Maçonaria – e nivela os IIr.’. em Loja, por uma
única veste.
o Em um ponto, os IIr.’. têm opiniões coincidentes: o balandrau é veste talar, deve ir até
os calcanhares, e pode ser considerado um dos primeiros trajes maçônicos, sendo
plenamente justificado o seu uso em Loja;
o Terno quer dizer um traje que se compõe de calça, colete e paletó. Assim, a maioria dos
maçons atuais está irregular em loja, já que usamos somente calça e paletó, duas peças,
a que se dá o nome de parelho (par);
o deve haver um equívoco no RGF do GOB no que diz respeito ao terno, usando este
termo no sentido do já citado parelho;
o Se observarmos nosso padrão climático e o tecido mais leve, me parece ser o balandrau
uma boa ou, talvez, a melhor e mais justificada alternativa. O balandrau tira de nós a
aparência de riqueza, do saber, da ambição, da vaidade; nos iguala e nos mostra que,
independentemente de qualquer posição profana, somos todos iguais, todos IIr.’. em
todos os momentos;
o concluindo este trabalho, quero dizer que, de acordo com a vontade da Loja, ou talvez
de sua diretoria, e também de acordo com o RGF, procurarei ao máximo comparecer às
sessões em nossa Loja de parelho ou, como nós mesmos denominamos o conjunto calça
e paletó, de terno, para que assim possa haver mais harmonia nos trabalhos, já que o
meu balandrau parece incomodar sobremaneira a Diretoria de nossa Loja;
o O mais importante em uma Sessão Maçônica é o clima fraternal criado a partir de
emanações de energia dos IIr.’.; – em nossas reuniões, dentro do Templo, muitas são as
vibrações emanadas de todos os nossos IIr.’., sejam eles Offic.’. ou não. Principalmente
durante a abertura do Templo, temos a formação da Egrégora. Este é um momento em
que todos nós emitimos radiações, e ao usarmos a veste preta, estaremos absorvendo
todas essas energias, reativando os nossos Chacras, ou nossos centros de forças, de
emissão e recebimento de energia;
o Quando usamos terno preto ou o balandrau, permanecem descobertos nossos Chacras:
frontal, laríngeo e coronário. Assim poderemos emitir, receber e refletir vibrações
diretamente em nossos centros de força, pois estes estarão descobertos. Em
contrapartida, nosso Chacras mais sensíveis estarão protegidos de enviar vibrações
negativas durante os trabalhos.
o e a questão maior que deixo hoje para todos nós é justamente esta: Estamos, de fato,
emanando bons fluidos? Estamos de fato vivenciando o amor fraternal? Cada um
responda por si e a si mesmo somente, que é o mais importante.

Bibliografia

o Pusch, Jaime – ABC do Aprendiz, ed. do autor, Tubarão-SC, ano 1982;


o Castellani, José – Dicionário Etimológico Maçônico – vol. i, Ed. A Trolha, ano 1997
(2a ed.);
o Revista A Trolha ed. 11/2004;
o Da Camino, Rizzardo-Dicionário Maçônico; ed. Madras; 2001;
o Regulamento Geral da Federação-GOB; 1999;
o Castellani, José – Consultório Maçônico IX; Ed. A Trolha; 2004;
o Site das Lojas Maçônicas.

Adendo: Chacras

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