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DIÁLOGO MAÇÔNICO – Nº 041

O MESTRE INSTALADO

No DIÁLOGO MAÇÔNICO (DM) anterior, o de Nº 040, escrevemos sobre a


Instalação de um Mestre Maçom no Trono de Salomão após ter sido eleito pela
assembleia da Loja para presidi-la por determinado período (biênio ou anuênio –
neste último caso, se forem Lojas com mandato anual), representando-a maçônica
e civilmente (perante o mundo profano).

Após passar pelo Cerimonial de Instalação, como vimos, o Mestre Maçom passa a
integrar a categoria especial honorífica dos Mestres Instalados. Durante o
mandato, ou seja, durante o período em que está na direção da Loja, que é o
detentor do Primeiro Malhete, ele exerce o Veneralato e é, portanto, o Venerável
Mestre (VM)1. Nesta condição tem uma amplitude de atribuições e
responsabilidades que foram, a nosso ver, exaustivamente abordadas nos
DIÁLOGOS MAÇÔNICOS de Nºs 025 a 030.

Após terminar o Veneralato, o ex-Venerável Mestre continua sendo um Mestre


Instalado (MI), ele não perde esta condição, mas não tem função executiva na Loja
por ser um MI, podendo, no entanto, na ausência do VM ser convocado para
conduzir Sessões de Iniciação ou de Colação nos Graus de Companheiro ou de
Mestre.

É oportuno mencionar que Mestre Instalado não é grau, mas um título honorífico
dado àquele que foi um dia VM de uma Loja, ressaltando, ainda, que um ex-Grão-
Mestre ou um ex-Grão-Mestre Adjunto que nunca exerceu o cargo de VM também
integrará a categoria de Mestres Instalados.

Algumas questões surgem sobre o Mestre Instalado e de quando em vez


recebemos consultas com esta abordagem. Entre elas, podemos citar: (a) qual é
a representatividade de um MI em nossa Ordem? (b) Quando um MI visita uma
Loja como saber se ele é um VM em exercício ou se é um ex-VM?

Antes de dar seguimento, apresentando as respostas que entendemos pertinentes,


consideramos ser relevante ressaltarmos, uma vez mais, o que foi expresso em
DIÁLOGOS MAÇÔNICOS (DDMM) anteriores e especialmente quando
apresentamos o projeto e o objetivo da criação dessas “peças de arquitetura”,
antes de iniciarmos os DDMM, propriamente ditos:
“Mesmo na condição de Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente do Distrito
Federal/Grande Oriente do Brasil (GODF/GOB), portanto, sendo Membro Ativo de
todas as Lojas da Jurisdição, de acordo com o que consta na Constituição do GODF,
e tendo a honra de conhecer e admirar de forma indistinta todos os Ritos, nos
sentimos com mais segurança para falar do Rito Escocês Antigo e Aceito e de
utilizarmos a legislação gobiana, mas os Irmãos podem fazer os devidos ajustes no
Rito da Loja em que trabalham, bem como para a legislação da Obediência Maçônica

1
Para tornar a leitura mais prazerosa vamos adotar neste DM a seguinte nomenclatura: VM –
significa o Venerável Mestre que está exercendo o Veneralato e MI – o Mestre Instalado que é um
ex-Venerável Mestre, não está, dessa maneira, mais exercendo o cargo.
a que pertençam, pois como nossa Ordem é universal e tem por base os mesmos
princípios, as divergências ocorrerão em níveis de operacionalidade.”

Dessa forma, vamos trazer à colação dos Irmãos algumas informações sobre o
Mestre Instalado, mais especificamente referente ao Rito Escocês Antigo e Aceito
(REAA), por ser, conforme dissemos, o Rito que conhecemos melhor e com mais
profundidade.

Todavia, entendemos ser pertinente reproduzirmos algumas explicações que


constam no DM 026 sobre a distinção do avental do Venerável e do ex-Venerável
no que concerne ao Craft, ou seja, em relação à Maçonaria Inglesa, onde a
instalação é original, na qual o avental de um Mestre Instalado em exercício no
Veneralato é diferente de um Mestre Instalado que terminou o mandato, sendo,
portanto, um ex-VM, conhecido na Inglaterra e utilizado no Ritual de Emulação
como “Past Master”.2

Para tanto, com a devida vênia do Irmão Pedro Juk, atual Secretário Geral de
Orientação Ritualística do Grande Oriente do Brasil, vamos reproduzir o que foi por
ele expresso em seu blog (Pedro-juk.blogspot.com.br), em 4 de julho de 2018:
“Um VM no Craft traz disposto no seu avental o conjunto prateado de três
níveis/prumos sem nenhuma cobertura, enquanto um Past Master traz os mesmos
símbolos, porém envolvidos por bordado na cor azul, tal qual o matiz da orla do
avental.
É essa a justificativa para a envoltura bordada em azul dos três símbolos no avental
do Past Master.
Cabe aqui mencionar que esses símbolos que vão ao avental não são “taus invertidos”
como costumeiramente ainda alguns os mencionam, sobretudo se baseados em
instruções de há muito já superadas (anacrônicas). O símbolo verdadeiramente
representa o nível-prumo maçônico que é facilmente encontrado no relicário
simbólico da Ordem – um segmento horizontal (nível), tendo sobre a sua porção
mediana um segmento perpendicular (prumo).
A propósito, numa Instituição que é ancestral das corporações de ofício da Idade
Média, onde os construtores se dedicavam a edificar catedrais, abadias, mosteiros,
obras públicas etc., faz muito mais sentido especulativamente o símbolo
corresponder a ferramentas do ofício do que a uma letra grega que, ainda por cima
aparece invertida.”

O saudoso Irmão José Castellani, em sua obra Manual do Mestre Instalado, afirmou
em relação ao REAA que a joia do Mestre Instalado do REAA que deixou o exercício
do Veneralato (que no rito de York é chamado de “Past Master Imediato”, se for o
mais recente) é um esquadro de ramos desiguais3, com a abertura voltada para
baixo4.

2
Vide o DIÁLOGO MAÇÔNICO Nº 026, de 18 de abril de 2021, titulado “O Venerável Mestre – Parte
II”.
3
CASTELLANI, José. Manual do Mestre Instalado. 1a. Edição. Londrina. Editora Maçônica “A Trolha”
Ltda, 1999. Pg. 113.
4
Assis Carvalho (Xico Trolha) na obra Cargos em Loja - Cadernos de Estudos Maçônicos vol. nº 1,
Editora Maçônica “A Trolha” Ltda., pg. 23 diz que “o ESQUADRO é formado pela junção da Horizontal
com a Vertical formando um ângulo de 90º”.
A joia teria esta configuração porque o esquadro de ramos desiguais, assim como
na Maçonaria Inglesa, representaria que o VM, simbolicamente, deveria segurar o
esquadro pelo ramo maior, como forma de demonstrar, esotericamente, que
exerce o cargo com retidão, caracterizando a ação do homem sobre a matéria e
da ação do homem sobre si mesmo, vez que o Esquadro representa a Justa Medida.

Contudo, o Ritual do REAA do 3º Grau – Mestre Maçom – do Grande Oriente do


Brasil em vigor (Ritual de 2009) estabelece que a joia pendente no colar do VM
tem um esquadro de ramos iguais.

Não obstante, entendemos ser importante salientar que a joia de um VM tanto na


vertente inglesa, quanto na francesa, originalmente era representada por um
esquadro de ramos desiguais. A diferença entre as vertentes e os Ritos e Rituais
utilizados era o tamanho dos ramos e em alguns casos a cor da joia, mas todos
tinham o mesmo significado: o emblema operativo adequado ao dirigente do
canteiro de obras. Na vertente inglesa a joia sempre foi prateada e um pouco maior
do que a utilizada na vertente francesa, sendo que nesta, conforme o Rito, a joia
era prateada ou dourada.

Sabemos que o VM que termina o seu mandato e passa o malhete ao seu sucessor
continua a deter o título honorífico de MI, significando que ele é um Ex-Venerável,
podendo ser o mais recente ou não, mas mesmo anos depois de ter sido VM
continua a ostentar esse título honorífico, o que representa que no passado
exerceu o cargo de VM. Do mesmo modo, o ritual mencionado acima especifica
qual é a joia de um MI.

Assim, de acordo com o citado Ritual do REAA (vertente francesa) o colar de um


MI traz pendente, em sua extremidade, a joia com a seguinte representação: um
Compasso, com escala, sobre o Esquadro, tendo no centro um olho, entre o
Compasso e o Esquadro. Esse olho é o Olho Onividente que representa a
onisciência e a onipresença da Divindade conforme concebida por cada iniciado.

A primeira questão que apresentamos, no início deste DM, foi a seguinte: qual é a
representatividade de um MI em nossa Ordem?

Podemos deduzir que o MI, no REAA, ao trazer na joia pendente no colar o Olho
Onividente, em tese ele traz um cabedal de conhecimento, de sabedoria e, ainda,
teria, em teoria, a representatividade da espiritualidade, tão importante em nossa
Ordem, que é espiritualista. Daí também a razão de os Mestres Instalados terem
assento no Oriente, porque um verdadeiro MI deve o tempo todo de uma Sessão
estar vibrando e auxiliando, esotericamente, a condução dos trabalhos pelo VM,
de maneira que eles ocorram de forma Justa e Perfeita.

Assim, um MI deve refletir em nossa Ordem, de um modo geral, e em uma Sessão


Ritualística, em particular, a constante busca da evolução espiritual e da mantença
da egrégora, respectivamente.
Como de conhecimento, as joias trazem alegorias esotéricas verossímeis às
interpretações doutrinárias dos Ritos e vertentes, representando um conjunto ou
os símbolos que constituem o emblema. Por isso, o colar que serve para suportar
a joia distintiva, também pode ser adornado com motivos maçônicos, como é o
caso dos Mestres Instalados, que traz insígnias relacionadas à Acácia, assim como
ao Delta Radiante, este comumente na vertente francesa.

Os paramentos de um MI são praticamente os mesmos aos de um VM. A exceção


é que a joia foi substituída pela pertinente à do MI, conforme citação acima, e que
aquele não utiliza os punhos, que é o emblema do poder, mas também há uma
pequena diferença no avental de um e de outro, conforme prescrito na legislação
do GOB.

No Ritual do REAA do 3º Grau – Mestre Maçom – do GOB, que se encontra em


vigor, a distinção entre o avental de um Mestre Instalado que está exercendo o
Veneralato e de um que deixou o cargo é tão somente na joia. A do VM é um
esquadro dourado de braços iguais, circundado por dois ramos de acácia, enquanto
a joia presente no avental de um MI é representada por um conjunto dourado,
formado pelo compasso com escala, com as hastes separadas, e pelo esquadro,
contendo no centro o Olho Místico (Olho Onividente). É de bem salientar que em
ambos os aventais (do VM e do MI) existem os níveis-prumos (indevidamente
denominados de “taus invertidos”).

Com estas informações temos condições de responder a segunda questão: quando


um MI visita uma Loja como saber se ele é um VM ou se é um ex-VM?

A resposta é simples, basta verificar as joias que trazem os colares e os aventais,


pois, como vimos, é a única diferença entre os paramentos de um MI e de um VM.
Não é demais repisar que, seja nos Ritos de origem francesa, seja nos Ritos de
origem inglesa, o Venerável traz apenso do colar a joia distintiva que é um
Esquadro Operativo, sendo que neste último o formato é um pouco maior.

Caminhando para o encerramento deste DM, acreditamos ser pertinente ressaltar,


fora do que está prescrito no Ritual do GOB, que quanto à joia do Ex-Venerável
existem diferenças entre as duas vertentes. A inglesa traz consigo na parte interna
do Esquadro a representação pictográfica da 47ª Proposição de Euclides (aplicação
do Teorema de Pitágoras), enquanto a vertente francesa traz como joia um
Compasso aberto em 45º sobre um quarto de círculo graduado tendo um pequeno
Sol ou Olho Onividente ao centro.

Por fim, não é demais recordar que na vertente francesa as joias e galões são
dourados no REAA e prateadas (como a inglesa) no Rito Moderno ou Francês e no
Rito Adonhiramita e por esse ângulo, devem ser observadas as diferenças entre os
paramentos de um VM, ou seja, daquele que está no exercício do mandato, e de
Ex-Veneráveis, que já passaram o Primeiro Malhete, distinções presentes nas duas
vertentes maçônicas.

Brasília, 29 de agosto de 2021.

Autor: Irm∴ Marcos A. P. Noronha – Mestre Instalado.

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