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DIÁLOGO MAÇÔNICO – Nº 040

A INSTALAÇÃO DE UM MESTRE

O cargo de Venerável Mestre é de tal importância que dedicamos uma série de


DIÁLOGOS MAÇÔNICOS, os de Nºs 025 a 030, intitulados O VENERÁVEL MESTRE –
Parte I até a Parte VI, sendo que o primeiro foi publicado no dia 11 de abril e o último
no dia 16 de maio de 2021.

Não por acaso os publicamos naquele período, pois ocorre que no âmbito do Grande
Oriente do Brasil (GOB), Obediência à qual estamos filiados, a maioria das Lojas1 nos
anos ímpares realizam em maio eleições para as Administrações e para Orador,
ocorrendo a posse dos Veneráveis Mestres em junho, sejam Veneráveis que já eram
Mestres Instalados, que neste caso passam pela cerimônia de Reassunção e Posse,
sejam aqueles Mestres que ainda não tinham sido instalados, que passam pelo
cerimonial de Instalação e Posse.

Neste DIÁLOGO MAÇÔNICO (DM) vamos tratar, especificamente, sobre a Instalação


de um Mestre Maçom no Trono de Salomão após ter sido eleito pela assembleia da
Loja para presidi-la no biênio seguinte (ou por um ano, vide a nota de rodapé Nº 1),
representando-a maçônica e civilmente (perante o mundo profano). O objetivo de
escrevermos este DM neste momento, também não é uma casualidade, haja vista
que as Sessões de Instalação e Posse de novos Veneráveis Mestres ocorrem, na nossa
Obediência, no mês de junho, somente em casos excepcionais são realizadas
posteriormente.

Temos conhecimento de que este tema – Instalação de um Mestre – tem vários


trabalhos e artigos escritos, portanto, cremos que não é novidade para os Maçons,
em especial para aqueles que chegaram ao Grau 3, mas ainda assim, somos com
certa frequência consultados sobre o assunto o que nos motivou a escrevermos estas
singelas linhas.

Antes de adentramos no tema, propriamente dito, entendemos que devem ser


tecidas algumas considerações preliminares.

Primeiramente, há que ser dito que a cerimônia de Instalação tem origem na


Maçonaria anglo-saxônica, sendo, portanto, um procedimento desta e não da
francesa. Dessa forma, o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), que é um Rito de
origem latina, não tinha, em sua gênese, o Cerimonial de Instalação. Assim, na
França, berço do nascimento do REAA, o Venerável que deixava o cargo era
denominado ex-Venerável e havia somente a "posse" do novo Venerável.

Na Maçonaria Brasileira, a Instalação surgiu a partir da grande cisão ocorrida no GOB


em 1927, a partir da qual surgiram as Grandes Lojas Estaduais Brasileiras (hoje

1
As Lojas que praticam o Rito de York (ou trabalho de Emulação) realizam eleições anualmente.
Existem Lojas de outros Ritos que também adotam o período anual para as administrações, o que
geralmente consta no Estatuto da Loja.
reunidas em regime confederativo na CMSB2), cuja nova Obediência, de então,
buscou reconhecimento na Maçonaria dos Estados Unidos da América do Norte,
mesmo sendo esta também de origem anglo-saxônica e baseada nos
autodenominados "Antigos" ingleses de 1751 (para aqueles que se interessarem
sugerimos ler a história das duas Grandes Lojas na Inglaterra, que em determinada
época eram rivais).

Foi dessa maneira que surgiu na Maçonaria Brasileira, em princípio nas Grandes Lojas
Estaduais, cerimônias que não eram do REAA, dentre elas a de se instalar o Mestre
Maçom eleito para exercer o cargo de Venerável Mestre no trono ou cadeira de
Salomão. Após a instalação este Mestre passou a ter a condição de Mestre Instalado,
denominação que foi adotada para o ex-Venerável Mestre ao encerrar o seu
Veneralato.

No âmbito do GOB até 1968 não existia a prática de se instalar o Mestre eleito. Mas,
nesse ano, o então Grão-Mestre Geral do GOB, Irmão Moacyr Arbex Dinamarco,
solicitou ao Irmão Nicola Aslan, que era egresso das Grandes Lojas e havia sido
regularizado no GOB, a elaboração de um Ritual de Instalação. O Irmão Nicola Aslan
cumpriu a missão que recebera, compilando um texto que se transformou no citado
Ritual, dando início a uma nova cerimônia no GOB e, consequentemente, o
surgimento da figura do Mestre Instalado, até então, existente somente nas Grandes
Lojas.

Dessa forma, a partir daquele ano (e antes da cisão de 1973) a Instalação passou a
ser comum às duas Obediências, consideradas regulares, existentes no Brasil.
Contudo, não é demais salientar, uma vez mais, que historicamente no REAA não
existia a figura do Mestre Instalado, assim como a expressão inglesa “Past Master”
utilizada para os ex-Veneráveis, sendo que para o último ex-Venerável Mestre, no
Rito de York (ou trabalho de Emulação) é utilizada a sigla PMI, que significa “Past
Master Imediato”.

Com a segunda grande cisão no GOB, em 1973, ocorreu a criação dos denominados
Grandes Orientes Estaduais Independentes, reunidos em Confederação na COMAB3,
que é a sucessora do Colégio de Grão-Mestres, que adotou, desde a fundação, a
cerimônia de Instalação e a figura do Mestre Instalado.

Assim, a partir daquela época, as três Obediências consideradas regulares no Brasil


adotaram de forma geral, ou seja, para todos os Ritos, o cerimonial de Instalação,
levado a efeito em Sessão Magna de Instalação e Posse e o título honorífico de Mestre
Instalado, conforme consideração de alguns maçonólogos e incorporado ao texto do
Regulamento Geral da Federação (RGF), no âmbito do GOB, em 2011.

2 A Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (CMSB) é uma associação de Grandes


Lojas Maçônicas sendo uma das Obediências Maçônicas do Brasil. A CMSB é uma entidade civil de
direito privado, sem fins lucrativos, cuja função é coordenar ações conjuntas, que possam interessar
às suas confederadas, sem que estas percam a sua autonomia. (fonte: Wikipédia)
3
COMAB – Confederação Maçônica do Brasil – sucessora do Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria
Brasileira, fundado em 04/08/1973 (fonte: site da COMAB: comab.org.br)
Após estas breves considerações, entendemos oportuno, didaticamente, apresentar
a definição da palavra “instalação”, tanto com base em referências profanas como
maçônicas.

Segundo o site “origemdapalavra” o verbo “instalar” é uma palavra de origem latina


(INSTALLARE) que significa “colocar em seu cargo, em seu lugar”, em referência a
um cargo eclesiástico, de IN-, “em”, mais STARE, “estar, ficar de pé”.

O Dicio – Dicionário Online de Português – define “instalação”, em síntese:


“substantivo feminino - Ação de instalar, de estabelecer algo ou alguém em determinado
lugar.
...
Etimologia (origem da palavra instalação). Instalar + ção.”

Joaquim Gervásio de Figueiredo4:


“Cerimônia de fundação ou inauguração de uma nova Oficina, devidamente autorizada e
com a respectiva administração regularmente constituída, ou de posse de um novo
Venerável em alguns Ritos anglo-saxônicos.”

Rizzardo da Camino5:
“Instalação – Origina-se do latim: “in” e “stallum”, significando colocar na cadeira; a
Instalação pode ser em um cargo (instalar o Venerável Mestre em seu Trono) ou
sacramentar a escolha de uma Administração.
A Instalação é uma prática antiga maçônica que perdura até os nossos dias; existem
Rituais de Instalação, designando o Grão-Mestre um “mestre instalador” que preside as
cerimônias.
Nas Lojas, ano após ano, os Veneráveis Mestres eleitos e que deixam o cargo após o
período estatutário, formam um Conselho.
Esse Conselho de Mestres Instalados, pela experiência de seus membros, dá orientação
aos novos dirigentes e em caso de “crise” administrativa, são chamados para ocupar todos
os cargos da Administração. É a garantia de que a Loja não abaterá Colunas.
A Maçonaria Moderna compôs um Ritual específico de Instalação.”

Gilberto Lyra Stuckert Filho6:


“Instalação – Palavra originária da língua francesa. Maçonicamente corresponde à
inauguração ou a fundação de uma nova Loja, bem a colocação no “Trono de Salomão”
do seu dirigente maior. O Venerável Mestre, antes de assumir as suas funções, passa por
uma ritualística apropriada de Instalação, contando com a participação de Maçons
possuidores da dignidade de Mestre Instalado, por já haver exercido àquele cargo.”

4
Dicionário de Maçonaria. 2ª Edição (revista e ampliada. São Paulo. Editora Pensamento, 1974.
Veja que este maçonólogo escreve o que foi dito, ou seja, que a Instalação de um Venerável Mestre
ocorria nos Ritos anglo-saxônicos.
5
Dicionário Maçônico. 2ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Aurora, 1991.
É de bem ressaltar que no âmbito do GOB não existe a prática, citada pelo Irmão Rizzardo da Camino,
de os ex-Veneráveis Mestres formarem um Conselho que orienta os novos dirigentes, Conselho este
que poderia intervir na Loja em casos de “crise” administrativa e ocupar os cargos da Administração.
6
Dicionário Maçônico Cristão. 1ª Edição. João Pessoa. Ideia Editora Ltda., 2011.
O cerimonial de consagração, ou seja, a cerimônia de Instalação de um Mestre
Maçom, processa-se na presença do Conselho de Mestres Instalados, com base num
Ritual específico, o qual somente Mestres Instalados podem ter acesso, e a
solenidade se desenvolve em Sessão Magna de Instalação e Posse de Venerável. Este
citado Conselho é constituído de três ou mais Mestres Instalados, nomeados
conforme a jurisdição da Loja, pelo Grão-Mestre Geral ou Grão-Mestre Estadual ou
do Distrito Federal.

De acordo com o Art. 42 do Regulamento Geral da Federação (RGF) do Grande


Oriente do Brasil (GOB), o Mestre Maçom que passar pelo Cerimonial de Instalação
integrará a categoria especial honorífica dos “Mestres Instalados”. Para receber esta
condição, passando pelo cerimonial de consagração, é necessário que o Mestre
Maçom tenha sido eleito Grão-Mestre ou Grão-Mestre Adjunto ou Venerável da Loja.

É de bem ressaltar que no caso de Instalação e Posse a Loja deve encaminhar


correspondência (que no jargão maçônico denominamos prancha) ao Grão-Mestre a
que estiver jurisdicionada, solicitando a designação de uma Comissão Especial,
sugerindo a indicação de, pelo menos, três Irmãos para a compor, devendo, sempre
que possível, a indicação privilegiar Mestres Instalados da própria Loja, mas pode ser
indicado Irmão de outra Loja, mesmo de outra jurisdição por diversos motivos,
inclusive ligação pessoal, cabendo ao respectivo Grão-Mestre a designação de quem
a presidirá, podendo a escolha recair sobre um Irmão não proposto pela Loja ou
ocorrer a autodesignação.

A Cerimônia de Instalação e Posse de um Venerável reveste-se de tal relevância e


magnitude que deve ser realizada individualmente, ou seja, uma Sessão destinada a
um só Mestre a ser Instalado, buscando-se, assim, oferecer ao Mestre Maçom que
será Instalado no Trono de Salomão, a exclusividade de tratamento, vez que se trata
de momento ímpar em sua vida maçônica, ocasião em que se efetivará a maior
honraria que uma Loja concede a um de seus membros, outorgando-lhe o Poder
máximo em seu âmbito e dele fazendo um Mestre Instalado.

Entendemos ser oportuno ressaltar que a Sessão Magna de Instalação e Posse de


Venerável deve ser conduzida com muita concentração e requer uma preparação
prévia dos Mestres Instalados que a compõem, mesmo que tenham ampla
experiência, tendo participado de outras Comissões Especiais com este desiderato.
Por parte do Mestre que será Instalado requer também muita atenção, para que sinta
despertar em seu íntimo a importância, a relevância e o real significado da cerimônia,
que propicia conhecimentos de profunda significação simbólica, exigindo dedicação
cada vez maior, em busca do aprimoramento espiritual, portanto, moral e intelectual.

Finalizando este DIÁLOGO MAÇÔNICO, para que seja efetuado o registro da condição
de Mestre Instalado e expedido o Diploma, Medalha e Ritual por parte do Grande
Oriente do Brasil, o Presidente da Comissão Especial de Instalação e Posse deve
comunicar à Grande Secretaria-Geral da Guarda dos Selos, por intermédio do Grande
Oriente Estadual ou do Distrito Federal (nos referimos à estrutura organizacional do
GOB), a realização da cerimônia, o que deve ser devidamente consignado em Ata
específica.

Brasília, 25 de julho de 2021.

Autor: Irm∴ Marcos A. P. Noronha – Mestre Instalado.

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