A Ordem Hermética da Aurora Dourada foi fundada na Inglaterra em 1888 e reunia diferentes vertentes do ocultismo ocidental. A ordem ressurgiu no século XIX como uma reação ao cientificismo da época e sintetizou vários sistemas ocultistas em um todo coerente.
Descrição original:
Título original
Golden Dawn Ordem ou a Ordem Hermética da Aurora Dourada - OPO
A Ordem Hermética da Aurora Dourada foi fundada na Inglaterra em 1888 e reunia diferentes vertentes do ocultismo ocidental. A ordem ressurgiu no século XIX como uma reação ao cientificismo da época e sintetizou vários sistemas ocultistas em um todo coerente.
A Ordem Hermética da Aurora Dourada foi fundada na Inglaterra em 1888 e reunia diferentes vertentes do ocultismo ocidental. A ordem ressurgiu no século XIX como uma reação ao cientificismo da época e sintetizou vários sistemas ocultistas em um todo coerente.
Dourada ou Ordem Hermética do Áureo Alvorecer (do inglês Hermetic Order of the Golden Dawn) foi uma sociedade secreta surgida na Inglaterra em 1888, que reunia várias vertentes do esoterismo, e cujas ramificações encontram-se ativas até os dias de hoje. Nas palavras de Gerald Yorke, a Aurora Dourada foi "o ápice da glória do renascer ocultista do século XIX, que sintetizou um vasto corpo de material desconexo e disperso em um todo coerente, prático e eficiente, coisa que não pode ser dita de qualquer outra ordem ocultista de que tenhamos conhecimento naquele tempo ou a partir de então". Antes da fundação da Aurora Dourada, o ocultismo ocidental era composto de diversas tradições separadas, por vezes divergentes. A alquimia, a astrologia, a magia cerimonial eram secundados por diversos métodos divinatórios e influenciados por diversas crenças, como o pitagorismo, o neo- platonismo, o catarismo, o maniqueísmo, o gnosticismo, o judaísmo e o hermetismo, que transitavam por diversas culturas de desde a greco-romana até a árabe.
À época da Aurora Dourada (século
XIX), pode-se dizer que a tradição mágica ocidental havia se perdido, abrindo espaço para movimentos ocultistas de inspiração oriental (como a teosofia). Nesse sentido, é possível interpretar o advento da nova Ordem como uma reação a essa tendência orientalizante.
No resgate da tradição mágica
ocidental, a Golden Dawn aprofundou ao máximo as ligações com a cabala e com a antiga magia cerimonial, às quais ela agregou o esquema de correspondência universal proposto por Éliphas Lévi, devidamente ampliado, desenvolvido e codificado para que cada fator no Universo passasse a ter correspondência no Ser Individual.
a magia tornou-se uma disciplina
prática e dinâmica, aonde, do incentivo aos experimentos pessoais (como, por exemplo, à viagem astral), se mesclaram três sistemas operativos principais: a magia cerimonial, adaptada a um novo códice de signos, a magia enoquiana e a magia sacra de Abramélin, o Mago (ambas também chamadas de magia angélica).
O seu sucesso deveu-se à ênfase
no erudito, à qualidade de seu núcleo fundador, à sua organização esmerada, ao seu incentivo à pesquisa, e à admissão de filiados sem restrições de sexo, religião ou raça; mas sua importância fundamental para o renascimento do Ocultismo resultou, principalmente, de sua original capacidade de recriar e reinterpretar os vários e antigos sistemas de sabedoria oculta, cultivados no mundo ocidental. Desde o século XVII, na Inglaterra, tanto a magia quanto a astrologia, que eram pedras angulares do Ocultismo e haviam desempenhado, nos séculos anteriores, um importante papel no campo da compreensão do Universo, deixaram de ser intelectualmente aceitáveis, por força de processos históricos que culminaram no advento da Reforma e no posterior triunfo da filosofia mecânica. ciência e magia se dissociaram, enquanto a astrologia tornou-se um conhecimento estagnado e tratado como superstição.
Mas no século XIX, esse cenário se
alterou. A Inglaterra encontrava-se no auge de sua expansão imperialista, projetando-se e interagindo com os mais distantes recantos do planeta, o que tornava Londres uma metrópole cult uralmente cosmopolita, receptiva a novas ideias e doutrinas. Será nesse cenário de efervescência cultural que o Ocultismo se reerguerá, até como um contra-ponto ao cientificismo (que o positivismo consagraria como filosofia), com sua certeza no progresso da Humanidade guiada pelo racionalismo materialista da Ciê ncia.
O ponto de partida para o
ressurgimento do ocultismo na Inglaterra foi a publicação do compêndio The Magus (1801), de Francis Barrett, que é basicamente uma coletânea de escritos ocultistas medievais e renascentista s. A esse livro seguiram-se os escritos do francês, Eliphas Lévi, e de Kenneth Mackenzie, cuja grande aceitação em círculos intelectuais pode ser entendido como uma reação (notadamente no final do século) ao positivismo e ao cientificismo, que haviam transformado o agnosticismo em palavra de ordem, exigível a quem pretendesse ser tido como pessoa culta e sintonizada com os valores "superiores" de seu tempo.
É nesse cenário que a Europa verá
despontar o espiritismo, codificado pelo francês Allan Kardec; e que a russa Helena Blavatsky difundirá sua teosofia, impregnada de budismo tibetano e outros matizes da religiosidade oriental. É ainda nesse cenário que a maçonaria multiplicará a quantidade de Lojas, atraindo artistas e intelectuais, e que a lenda rosacrucianista renascerá das cinzas, atestando que, mesmo quando confiante de resolver os problemas da vida nesta Terra, através da ciência, o ser humano busca respostas para questões transcendentes, que se situam na esfera de sua vida espiritual, além do alcance científico.
Mas no século XIX, esse cenário se
alterou. A Inglaterra encontrava-se no auge de sua expansão imperialista, projetando-se e interagindo com os mais distantes recantos do planeta, o que tornava Londres uma metrópole cult uralmente cosmopolita, receptiva a novas ideias e doutrinas. Será nesse cenário de efervescência cultural que o Ocultismo se reerguerá, até como um contra-ponto ao cientificismo (que o positivismo consagraria como filosofia), com sua certeza no progresso da Humanidade guiada pelo racionalismo materialista da Ciê ncia.
O ponto de partida para o
ressurgimento do ocultismo na Inglaterra foi a publicação do compêndio The Magus (1801), de Francis Barrett, que é basicamente uma coletânea de escritos ocultistas medievais e renascentista s. A esse livro seguiram-se os escritos do francês, Eliphas Lévi, e de Kenneth Mackenzie, cuja grande aceitação em círculos intelectuais pode ser entendido como uma reação (notadamente no final do século) ao positivismo e ao cientificismo, que haviam transformado o agnosticismo em palavra de ordem, exigível a quem pretendesse ser tido como pessoa culta e sintonizada com os valores "superiores" de seu tempo. É nesse cenário que a Europa verá despontar o espiritismo, codificado pelo francês Allan Kardec; e que a russa Helena Blavatsky difundirá sua teosofia, impregnada de budismo tibetano e outros matizes da religiosidade oriental. É ainda nesse cenário que a maçonaria multiplicará a quantidade de Lojas, atraindo artistas e intelectuais, e que a lenda rosacrucianista renascerá das cinzas, atestando que, mesmo quando confiante de resolver os problemas da vida nesta Terra, através da ciência, o ser humano busca respostas para questões transcendentes, que se situam na esfera de sua vida espiritual, além do alcance científico. O rosacrucianismo maçônico
É desconhecida a época em que
graus rosacrucianistas começaram a ser usados na Maçonaria, mas é certo que pelo menos um grau rosacruz foi introduzido no Antigo e Aceito Rito (i.e. Rito Escocês) da maçonaria britânica.
Na segunda metade do século XIX, o
crescente interesse por temas rosacrucianistas levou um grupo de mestres maçons a criarem uma sociedade, especificamente dedicada ao seu estudo. Foi a Societas Rosacruciana in Anglia (chamada, abreviadamente, de Soc. Ros ou S.R.I.A), fundada em 1866 por Robert Wentworth Little, com a ajuda de Kenneth Mackenzie. Dois filiados destacados dessa Ordem (que só admitia mestres maçons em suas fileiras) viriam a ser os principais arquitetos da Aurora Dourada:
Dr. William Wynn Westcott, médico
legista e Juiz de Instrução do distrito noroeste de Londres, que ingressou na SRIA em 1880 e viria a se tornar "Magus Supremus" (a função mais elevada), em 1891. Seus biógrafos relatam que ele passou dois anos em um retiro, em Hendon, estudando cabala, hermetismo e ros acrucianismo.
Samuel Liddell MacGregor Mathers,
um ocultista apaixonado pela cultura celta, autor de Kabbala Unveiled - que na verdade é uma tradução do livro de Christian Knorr von Rosenroth.
O terceiro nome ligado à fundação da
Aurora Dourada é o do médico e maçom, Dr. William Robert Woodman.
O manuscrito cifrado
A Ordem Hermética da Aurora
Dourada nasceu então em 1888, reivindicando ser a verdadeira herdeira dos princípios de Christian Rosenkreuz (pai do rosacrucianismo), e supostamente amparada na autoridade que lhe teria sido concedida por uma antiga sociedade rosa-cruz alemã, a Die Goldene Dammerung, através de uma misteriosa adepta, chamada "fräulein Anna Sprengel", cujo nome secreto (iniciático) seria Sapiens dominabitur astris (latim para "O sábio governa os astros").
Segundo a história contada por
Westcott (e sustentada por Mathers), o Reverendo A. F. A. Woodford, um velho pároco muito conhecido nos círculos maçônicos, ter-lhe-ia entregue, em agosto de 1887, sessenta páginas de um manuscrito cifrado, cuja tinta marron desbotada lhes conferia uma aparência de antiguidade, escritas num código secreto inventado no Século XVI. Algumas folhas do manuscrito traziam uma marca d’água datada de 1809.
Westcott, que conhecia bem a
literatura hermética, teria descoberto a chave para o alfabeto artificial e, ao traduzi-lo, descobriu tratar-se de esboços fragmentários de uma série de cinco rituais e a estrutura hierárquica básica de uma organização iniciática. Em meio ao manuscrito, havia também uma carta de fräulein Anna Sprengel, conferindo-lhe um posto elevado na Die Goldene Dammerung e autorizando-o a instalar uma sucursal da Ordem alemã, na Inglaterra.
Pouco tempo depois, Westcott
passaria a receber várias cartas de um secretário de Anna Sprengel, que se assinava Frater In Utroque Fidelis, fornecendo orientações adicionais para a abertura da primeira Loja (ou Templo) da Aurora Dourada inglesa, o Templo de Ísis-Urânia, cuja Carta de Autorização, assinada pela própria Anna, chegou por volta de março de 1888 Finalmente, uma carta, datada de 23 de agosto de 1890 e assinada por Frater ex Uno disce omnes, anunciava a morte de fräulein Sprengel, e informava que Westcott não mais receberia qualquer outra comunicação da Alemanha. Os rituais usados na Aurora Dourada foram elaborados, principalmente, por Mathers, que recorreu a várias fontes e conseguiu fundi-las de um modo tão harmonioso e eficaz que o sistema por ele criado sobreviveu à própria Ordem, tornando-se a matriz onde outras sociedades iniciáticas viriam a se inspirar. Os seus ingredientes misturavam cabala, tarô, alquimia, astrologia e outras tradições.
Além dos rituais que eram
executados no Templo, Mathers compôs sete rituais curtos, que o iniciado podia realizar na privacidade de seu lar, para fins mágicos pessoais. Eles eram bem construídos graças ao profundo conhecimento que Mathers tinha do ocultismo, sendo impregnados de poesia e filosofia, produzindo efeitos profundos sobre o espírito humano.
O mais impressionante ritual
concebido por Mathers foi o de acesso ao Círculo Interno (5°, Adeptus Minor), baseado na célebre lenda de Christian Rosenkreuz, conforme descrita no manifesto rosa-cruz Fama Fraternitatis.
No interior do Templo, onde se
realizava a Iniciação, as paredes eram decoradas com símbolos alquímicos, cabalísticos e astrológicos. No forro branco, via-se uma rosa com vinte e duas pétalas. No piso, havia uma cruz dourada unida a uma rosa vermelha de quarenta e duas pétalas. No altar, uma cruz preta com uma rosa de vinte e cinco pétalas. No centro do Templo, destacava-se uma cripta representando o túmulo de Christian Rosenkreuz. A cerimônia era executada por três autoridades: um Adepto-Chefe e dois auxiliares.
No início da cerimônia, o aspirante
ouvia um breve discurso sobre as virtudes da humildade. Em seguida, ele era amarrado a uma grande cruz de madeira e, nessa situação, devia fazer o juramento de levar uma vida pura e altruística, guardar segredo sobre a Ordem, sustentar a autoridade de seus mestres e dedicar-se ao Grande Trabalho. Já solto da cruz, era-lhe feito um relato sobre a vida e a obra de Christian Rosenkreuz. Em seguida, ouvia de um dos adeptos auxiliares: "Você agora deixará o Portal por pouco tempo e, após seu regresso, será realizada a cerimônia de Abertura da Tumba".
Então, eram-lhe entregues um bastão
e uma cruz ansata ,que lhe permitiriam reingressar no Templo.
Ao retornar, o aspirante percebia que
o Adepto-Chefe desaparecera. Então, colocado diante da cripta, ele ouvia explicações sobre o significado dos símbolos gravados na tampa da cripta. E após ter feito vários outros votos, a tampa da cripta era aberta, revelando, em seu interior, o Adepto- Chefe que, deitado e de olhos fechados, falava sobre morte e ressurreição místicas, concluindo com uma exortação: "No alambique de teu coração, através da fornalha de aflição, procura a verdadeira pedra do Mago".
A cerimônia se encerrava com o
Aspirante recebendo explicações adicionais sobre o simbolismo usado no ritual. Em fins de 1891 mais de oitenta pessoas haviam ingressado no templo Ísis-Urânia de Londres, entre elas quarenta e duas mulheres. A Aurora Dourada, que era, essencialmente, uma criação de Westcott, desabrochava mornamente, seguindo uma existência quase monótona. Tendo Mathers, Westcott e Woodman (que morreria em dezembro daquele ano) como professores, eles seguiam um currículo elementar que incluía o estudo de assuntos como a Árvore da Vida cabalística, com seus Sephiroth e vinte e dois caminhos, simbólicas alquímicas, astrologia, geomancia, e o simbolismo dos vinte e dois trunfos do tarô. Mas isso tudo não passava de um jardim de infância para candidatos ao ocultismo. A situação se modificou radicalmente no início de 1892, quando Mathers efetuou uma reorganização de longo alcance e conseguiu, em grande parte, suplantar Westcott, na condução da Ordem. Nessa época, ele apresentou um impressionante ritual 5°�, para o primeiro dos graus da Segunda Ordem, e concedera à Segunda Ordem um status inteiramente novo. Agora, ela passava a ser a Ordo Rosæ Rubeæ et Aureæ Crucis (abreviada para R.R. et A.C.), tendo Mathers como seu único Chefe, e dirigida de Paris, onde ele se instalou, definitivamente, na primavera de 1892, enquanto Westcott se contentava em agir como Chefe Adepto, em Londres.
Daí em diante, a admissão à nova
Segunda Ordem seria feita por meio de provas e de convites. A R.R. et A.C. era altamente secreta, não se permitindo aos filiados da Ordem Exterior saber da sua existência, quem a ela pertencia, nem os endereços de suas sedes. E enquanto o currículo da Ordem Exterior era simplesmente teórico, os filiados da Segunda Ordem recebiam instrução sobre a teoria e prática do cerimonial ou ritual mágico.
Além de elaborar o ritual, Mathers
produziu um fantástico currículo para uma série de oito provas destinadas ao 5°. Quem passasse nesse teste podia afirmar que recebera uma instrução básica completa em quase todos os aspectos da tradição ocultista ocidental. A esse respeito, a Segunda Ordem representava o equivalente de uma universidade hermética. Era a única de seu tempo. Entre a primavera de 1892 e o final de 1896, a Ordem Hermética da Aurora Dourada estava nos dias de glória.