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14/08/2021pedra bruta
PREFÁCIO
A pedra bruta é a pedra de cantaria, que é uma pedra própria para ser esquadrejada e
usada nas construções, já que só a pedra esquadrejada cúbica, ou em forma de
paralelepípedo – é que encaixa perfeitamente nas construções, sem deixar vãos. Os
homens que nela trabalhavam eram os canteiros, ou esquadrejadores da pedra, os
quais a transformavam na pedra cúbica. Daí os dos símbolos em Loja, já que
praticamente tudo o que fazemos, hoje, tem a sua origem nas organizações dos franco-
maçons de ofício, ou operativos, como a dos canteiros. (José Castellani)
INTRODUÇÃO
Para os iniciados nos Augustos Mistérios da Maçonaria, a apresentação do seu primeiro
trabalho é um passo de valor imensurável, por tratar da importância de pesquisar,
comparar obras de mais de um autor, tirar conclusões próprias, externar o que pôde
aprender e o que progrediu com os ensinamentos prestados pelos irmãos de Loja.
O tema escolhido é palpitante haja vista a sua aplicabilidade tanto no meio profano
como na Maçonaria simbólica, de vez que podemos verificar desde as mais antigas
civilizações já se faziam menções sobre as pedras, que ao longo do tempo foram
utilizadas das mais diversas formas para expor o pensamento humano, seja ele religioso
como filosófico. Não obstante a Maçonaria especulativa muito sabiamente aproveita
estes conceitos retirados das pedras a expressão marcante e lança ensinamentos para
todos os seus membros, desde a sua iniciação.
DESENVOLVIMENTO
A história da humanidade desde o seu início tem um vínculo forte com as pedras. O
homem das cavernas descobriu-as como grandes aliadas. A pedra foi utilizada para
vários fins seja como arma ou outra ferramenta qualquer que facilitara a vida dos nossos
ancestrais.
O tempo foi passando e o homem evoluía cada vez mais, as suas aprendizagens foram-
se aprofundando, até que adquiriu o domínio de várias técnicas, as quais eram vitais
para a sua sobrevivência. Estas técnicas deram origem a ciência, produto do intelecto
humano, como somatório dos conhecimentos adquiridos. Ainda na sua primitividade o
homem, pelos seus caracteres que diferem dos outros animais (corpo, alma e mente),
sentia a necessidade de comunicar com o ser superior, pois percebia na sua
espiritualidade que foi criado, logo, desse sentimento nasceu a religião que era
manifestada de forma muito variada conforme cada região onde habitava.
As pedras dentro da religiosidade têm um valor sem par, elas eram erigidas para
representar os seus deuses. E vemos que de simples pedras não-talhadas,
gradativamente os homens foram utilizando pilares lavrados e depois para colunas
talhadas esculturalmente segundo a semelhança de animais ou homens destinados a
tornarem objectos de reverência e culto como representação de deuses, que pela sua
solidez e durabilidade servia para sugerir o poder e a estabilidade de uma divindade.
O culto utilizando pedras tem sido rastreado em quase todas as regiões da terra e entre
quase todos os povos bárbaros. A Bíblia Cristã, desde o livro do Génese até o
Apocalipse, faz alusões às pedras, vejam alguns exemplos:
Em Génese, capítulo vinte e oito, versículo dezoito, lemos: “No dia seguinte pela manhã,
tomou Jacó A PEDRA sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em Estela derramando
óleo sobre ela;
As tábuas onde foram escritos os dez mandamentos eram de PEDRA (Êxodo, capítulo
trinta, versículo dezoito);
Há referências bem conhecidas tanto no Velho como no Novo Testamento sobre as pedras-
símbolos. No Livro dos Salmos, capítulo cento e dezoito, lemos: “A PEDRA que os
construtores rejeitaram, tornou-se PEDRA ANGULAR”. Considera-se isto uma profecia
dirigida a Jesus, como o Cristo, que foi rejeitado pelos judeus, mas tornou-se a PEDRA
fundamental da igreja.
Jesus cita estas palavras em Mateus, capítulo vinte e um, acrescentando: “Aquele que
tropeçar nesta PEDRA, far-se-á em pedaços, e aquele sobre quem cair será esmagado”.
Pedro denomina Jesus na sua segunda epístola, capítulo quatro, como PEDRA PRECIOSA;
Ao passo que Pedro foi chamado CEPHAS, quer dizer PEDRA, pelo próprio Jesus em
Mateus, capítulo vinte e seis, versículo dezoito.
Já no judaísmo vê-se a velha lenda sobre o maravilhoso depósito de PEDRA DE
FUNDAÇÃO, É encontrada no livro Talmúdio-yoma, que afirma, ela tinha sobre si o
nome sagrado de DEUS gravado na síntese da sigla G.A.O.T.U. Alguns rabinos
hebraicos dos tempos antigos adeptos à doutrina metempsicose acreditavam que uma
alma humana podia após a morte não só renascer num corpo humano, mas também, por
culpa dos seus pecados, num corpo de animal e até mesmo aprisionado numa PEDRA.
No fólio hebraico número cento e cinquenta e três, podemos ler: “A alma de um
caluniador pode ser forçada a habitar uma PEDRA SILENCIOSA.
Os antigos gregos costumavam erguer colunas de pedras consagradas diante dos seus
templos e ginásios e até mesmo as habitações dos seus cidadãos insignes. No mundo
árabe em Meca (cidade de peregrinação islâmica), acha-se a PEDRA mais notável do
mundo, é uma PEDRA PRETA, que está preservada na “kaaba” ou casa cúbica que fica
no átrio da mesquita sagrada. Acredita-se que seja um aerólito ou pedra meteórica. Esta
PEDRA PRETA tem sete polegadas de comprimento aproximadamente, e é oval,
segundo diz, ela foi quebrada durante o assédio de Meca em 683 DC, foi recomposta
com cimento e encerrada numa cinta de prata. Está embutida na parede do ângulo
nordeste da kaaba a uma altura que permite que os devotos a beijem em acto de
adoração.
Estes são apenas alguns dos inúmeros exemplos da correlação homem e pedra, presente
na cultura religiosa que é a mais antiga manifestação circundada na vida humana. Assim
também para a Maçonaria as pedras têm um valor imensurável, posto que a própria
origem desta instituição tenha muito a ver com elas, uma vez que é herdeira o
conhecimento de várias associações de construtores, principalmente daquelas
manifestada durante a Idade Média. A representação simbólica das pedras está
intimamente ligada com a vida de um Maçom, desde a sua iniciação, o seu primeiro
trabalho realizado à frente do irmão primeiro vigilante, onde ele ainda não percebe a
riqueza existente nesse gesto.
Como a perfeição é infinita e o seu absoluto é inacessível, o que nos resta fazer é tão
somente aproximar da perfeição ideal, por etapas de progresso, desenvolvendo-as
através de sucessivos graus de perfeição relativa. O próprio reconhecimento da nossa
imperfeição por um lado e de outro um ideal desejado são as primeiras condições
indispensáveis para que possa existir o trabalho de desbaste. Se o Aprendiz souber
relevar, quando algum irmão o aborrecer, estará retirando uma aresta, se ele usar o
exercício da tolerância contra as agressões, mais arestas caem. O construir, o participar,
o contribuir e o atender são atributos que também retiram arestas.
Este trabalho deve ser uma contínua rotina nas nossas vidas, uma vez que a necessidade
de aprimoramento seja ele intelectual; espiritual ou psíquico faz parte da natureza
humana para atingir novos paradigmas do verdadeiro progresso, a serviço da própria
humanidade que vai adentrando por séculos e séculos cumprindo o seu destino. Pois
somos degraus na cadeia da divindade, e cada degrau sustenta um e é sustentado por
outro, o ser evolucionado além de limpar e polir o seu degrau tem também o dever de
contribuir para a limpeza dos outros, para que nada de feio se veja, assim estaremos
evoluindo e colaborando para a evolução do todo, pois “o todo é muito maior que a
simples soma das partes”.
CONCLUSÃO
O valor alegórico inspirado nas pedras, desde os primórdios tempos, é reflectido para
toda a existência, que o homem moderno precisa obter os ensinamentos que elas – as
pedras proporcionam, a fim de melhorar a sua própria vida, para contribuir na
construção de uma sociedade centrada nos bons costumes. Desta forma, faz-se
necessário buscar incessantemente o aprimoramento individual e colectivo, quer nos
trabalhos das oficinas, nos encontros fraternos, na aplicação da doutrina, no
ensinamento geral a que todos abrangem, nas ocupações do mundo profano, que o
Maçom cumpre integralmente a sua finalidade na sociedade humana.
BIBLIOGRAFIA
Constituição do Grande Oriente do Brasil
Ritual (REAA) 1º Grau – Aprendiz
Enciclopédia Barsa
“A simbólica Maçónica” – Jules Boucher
“Caderno de Estudos Maçónico” – José Castellani
Manual do Aprendiz-Maçom
Bíblia Sagrada
https://www.dicionariodesimbolos.com.br/pedra-bruta/
Pedra Bruta
https://www.ippb.org.br/textos/especiais/mythos-editora/o-bem-o-mal-e-a-licao-da-pedra-
bruta
O BEM, O MAL E A LIÇÃO DA PEDRA BRUTA
Postado em Mythos Editora
Uma análise dos símbolos maçônicos que têm como objetivo a edificação e aprimoramento do ser
humano, e a necessidade de se lapidar e trabalhar o espírito.
(Carlos Raposo)
Ao entrar para a Ordem, a primeira imagem com a qual o Aprendiz Maçom toma contato, sob um
ponto de vista sintetiza boa parte (senão todos) dos símbolos pertinentes a seu presente estágio e,
sob outro aspecto, ela traz em si a indicação do trabalho que começou a ser realizado por aquele que
iniciou o seu longo aprendizado.
Para podermos iniciar nossas rápida exposição – tanto sobre esses elementos quanto sobre o
conjunto que a imagem em si representa, como um todo – é necessário que voltemos um pouco no
tempo para nos lembrar da época em que assim chamada Maçonaria, hoje especulativa, era
considerada operativa.
Naquele tempo, com a evolução da arte de se construir, o material utilizado nas edificações aos
poucos passaria de madeira para pedra e, depois, da pedra para a pedra trabalhada. Assim, as
construções iam se tornando mais sólidas e belas. O trabalho na pedra bruta visava, principalmente, a
preparar um conjunto de peças para que essas se moldassem e se encaixassem em um todo maior de
pedras, e que todo as estivessem em conformidade com o projeto dos “construtores”. No campo
operativo, boa parte do trabalho de lapidação executado pelo novos Pedreiros era feito com o suo de,
entre tantos outros materiais, três elementos básicos : a Pedra em si, o Martelo (ou Malho) e o Prego
(ou Cinzel).
Talvez como efeito do avanço industrial, quando a máquina começava a substituir a mão-de-obra
humana, por volta da segunda década do século 18, a Maçonaria passaria a ser considerada de ordem
especulativa. Assim, boa parte dos componentes materiais até então utilizados no ofício e na arte da
construção passaria a compor símbolos, cuja natureza, ainda associada às edificações, agora também
estariam relacionados a aspectos internos do ser humano, sejam esses aspectos de ordem moral,
sejam de ordem espiritual.
Dessa forma, o que antes era visto como a preparação para se produzir peças perfeitas, agora
ganhava os contornos de símbolos que visavam à edificação do verdadeiro homem. Para tal, assim
como acontecia com os blocos de pedra bruta, o próprio homem necessitaria ser trabalhado, ou
lapidado, para que sua perfeição enfim se mostrasse.
Na já citada imagem do Grau de Aprendiz, vemos o jovem pedreiro trabalhando a pedra bruta. Para a
realização desse trabalho, ele emprega o Cinzel e o Malho. O Malho se encontra em sua mão direita,
enquanto o Cinzel está na esquerda. Comparando a pedra com o homem, é mostrado que ela, em seu
estado bruto, se encontra disforme, distante de um possível estado de perfeição que, mais tarde, será
representado pela Pedra Cúbica; igualmente, esse trabalho de lapidação poderá ocorrer com o próprio
ser humano.
Ora se identificando com a Pedra, ora com o Pedreiro, o Aprendiz terá todos os elementos necessários
para trabalhar a si próprio. Esses elementos estão representados pelos já mencionados Malho e
Cinzel.
Superficialmente, alguns autores relacionam o Malho ao elemento ativo da obra de desbaste da Pedra
Bruta, enquanto que o Cinzel seria o elemento passivo. O primeiro estaria associado à força e ao
intelecto, enquanto que o segundo diria respeito à arte de esculpir propriamente dita. Em uma análise
um pouco mais criteriosa, o Malho seguro pela mão direita, é entendido como sendo um símbolo da
ação pura da vontade o Aprendiz, atuando com perseverança e continuidade sobre a Pedra, enquanto
o Cinzel é visto como a capacidade de orientação e observação, a capacidade de saber discernir o que
deve ou não ser retirado do bloco em trabalho. Sob o ponto de vista iniciático, Malho e Cinzel podem
ser percebidos, respectivamente, como a Tradição, que prepara, e como a Tradição, que prepara, e
como a Revelação, que cria. Um é inútil sem o outro, e eles atuam em conformidade com o Princípio
Hermético da Polaridade, que diz que “tudo é duplo”.
Se uma forma de assimilação do símbolo do Grau de Aprendiz o mostra trabalhando a Pedra Bruta, um
outro entendimento, de ordem ainda superior, nos fala que o Aprendiz, sendo a própria Pedra a ser
desbastada, “sofrerá” a ação do Grande Escultor, que fará uso dos elementos necessário à realização
da Obra final.
Mas qual seria a relação direta do Bem e do Mal com a lição Pedra Bruta? Estes dois conceitos, Bem e
Mal, ocuparam e certamente continuarão ocupando a mente de todos e quaisquer estudantes das
Ciências Antigas. Genericamente tomados como conceitos absolutos – nos quais primeiramente
poderíamos simplesmente optar por um (normalmente o Bem) e esquecer o outro – tais aspectos da
criação são de tamanha relatividade que defini-los satisfatoriamente pode parecer tarefa assaz dura,
senão francamente impossível. Assim, iremos nos limitar a dissertar de modo livre e sucinto sobre os
mesmos sempre tendo em mente o símbolo da Pedra Bruta, bem como nossa fé e confiança no
Grande Artesão.
Somente como ilustração para este equívoco, citamos um trecho, extraído dos códigos de uma das
crenças mais populares de nosso país. Este trecho afirma, de modo claro, taxativo, lapidar e final ser
“[....] Deus, soberanamente justo e bom...”. A suposição de que algo seja “justo e bom”, mesmo muito
antes de poder ser considerada primária, deve ser vista como realmente é, ou seja, ilógica, até mesma
contraditória.
O Segundo Princípio elaborado por aquele Três Vezes Grande, o Princípio de Correspondência nos diz
que “o que está em cima é como o que está em baixo...”. Segundo a lógica hermética, sabemos que,
em tese, um juiz, quando emite uma sentença ou julga uma causa humana, intenta nada mais ser
senão justo. Ele não deseja ser nem bom e nem mau, mas apenas justo. As demais partes envolvidas
são as que, segundo a conveniência de cada uma, entendem ter sido o seu veredicto, a sentença, boa
ou má.
Da mesma forma, seguindo o Princípio Hermético das Correspondências, podemos supor o mesmo a
respeito do Grande Juiz, o Criador. Se Ele é justo, como o crêem todos, é apenas justo. Nós, suas
criaturas, é que, dentro de nossa limitada compreensão, entendemos serem as Sua ações mera
conseqüência de um possível Bem o Mal. E exatamente nisto, em Sua Justiça, está a Sua Perfeição.
Não é à toa que os maçons se utilizam do mote “Justo e Perfeito”, e nunca “Justo e Bom”.
Seguindo o raciocínio sobre o Bem e o Mal, no trabalho de lapidação da Pedra Bruta duas vontades
parecem agir de modo concomitante : a primeira vontade seguirá os desígnios do Criador, que é
soberana. A vontade secundária partiria da própria Pedra, ou do indivíduo a ser trabalhado, no caso, o
Aprendiz. Em ambas possibilidades, intenta-se obter o produto final na forma de uma pedra Justa e
Perfeita. Ela é Justa, pois está adequada à Sua Obra, e é Perfeita, pois também está em conformidade
com a Perfeição de Seu Plano Maior.
O livre-arbítrio que, em princípio, parece dirigir a vontade de Aprendiz, nada mais é do que a faculdade
que lhe dá a chance de estar em harmonia com a vontade Maior que o criou. Nesse caso, as duas
vontades, sendo harmônicas, passam a ser uma única Vontade. Então, poderíamos entender o Bem
como sendo a capacidade do Aprendiz de pôr a própria vontade em sintonia com a vontade Superior,
enquanto o Mal simplesmente representaria a opção contrária a esta.
Um outro aspecto do símbolo, presente no processo de tornar desbastada a pedra bruta, também
muito teria a acrescentar. Sob um certo ponto de vista, a Pedra Bruta é entendida como um estado
original de liberdade, enquanto que a pedra trabalhada é vista como sendo nade mais do que o
produto da submissão de uma individualidade pela força. Mas por hora, devido á densidade deste
particular modo de entendimento da lição da Pedra Bruta, não gostaria de me aprofundar.
Para encerrar, diria apenas que cabe a cada um de nós descobrir a sutil diferença entre a perfeição da
pedra trabalhada e a submissão que o desbastar da pedra por vezes representa. Não reconhecer tal
diferença pode nos levar a ser, simplesmente, um mero produto de nosso meio, mais uma peça
moldada à revelia de nossa própria vontade, de nosso próprio querer.
Enfim, talvez a diferença possa estar no fato de que, enquanto uma traz em si mesma o objetivo de
toda Iniciação, ou seja, a fiel expressão da vontade do conjunto Criador e Criatura, constituindo uma
verdadeira jóia unia – a outra não passara de um mero capricho da manipulação profana, apenas mais
um tijolo na parede, fadado a nada mais senão o esquecimento.
Carlos Raposo é maçom, pesquisador da história de ordens secretas, filosofia oculta e ciências
herméticas, e também responsável pelo site Arte Magicka (www.artemagicka.com).
https://colunasdepiratininga.org.br/paciencia-no-desbaste-da-pedra-bruta/
A PEDRA BRUTA
https://focoartereal.blogspot.com/2015/05/a-pedra-bruta.html
É tudo o que diz o Ritual a respeito do tema. Não obstante, entendo que ele não
diz tudo, porque a partir de agora devo começar a pensar e procurar desenvolver
o traçado para chegar à compreensão deste valiosíssimo símbolo maçônico.
Quem és tu? E assim, com esta intenção me dirijo ao templo, nele penetro e
contemplo essa maça informe, inerte no chão, ao lado da mesa do irmão 1º
Vigilante e com ela mantenho o seguinte diálogo:
Ora, acho que não devo preocupar-me com você Pedra Bruta, tão tosca e
abandonada, tanto que muito pouco ou quase nenhuma vez te vi ao passar pela
Coluna do Norte.
Pode ser que alguém diga que eu seja você, uma vez que tu representas os
Aprendizes e eu sou um eterno Aprendiz...
Assim é, contestou ela. Que pensas? Nós os símbolos também falamos e eu sou
um deles. Porém, falamos somente àqueles que querem nos escutar, àqueles
que procuram nos compreender.
Tu és mais um que passou ao meu lado, muitos sequer me olha e alguns poucos
se interessaram por mim, procurando desbastar-me, porém fracassaram.
Poucos me têm transformado e me carregam consigo...
Transformaram-me em uma formosa pedra cúbica, forte e sábia, que pode servir
de base para qualquer construção e, mesmo que se surpreenda não me
carregam nos braços ou em bolsos, senão dentro de cada um, incorporada ao
próprio ser, por isso, não me vês...
Vamos, disse-me ela com paciência. Façamos uma pequena recordação. Dir-te-ei
primeiro quem sou. Represento o mundo dos vícios, os erros, a ignorância, o
sofrimento, a arrogância, a prepotência e o egoísmo.
Sabes tu, por exemplo, que quando te vi, tinhas os olhos vendados e estavas em
pé entre colunas?
Orgulhosa dizia para mim mesma: mais um, uma nova possibilidade. Porém, tive
dúvidas. Tenho também as minhas fraquezas e por isso, posso duvidar, já que
pensei: para onde foram tantos outros que aqui juraram lealdade e amor à nossa
Instituição? Não souberem compreender-me... Não serás mais um desses?
Dá-me pena assim pensar, não por mim, mas por ti, pelos que crêem que a
Maçonaria não é útil, que é somente um mercado de vaidades e, ao não
encontrarem-na assim, a abandonam sem ter visto a luz, sem deixar vestígio das
suas passagens por aqui.
Certamente muito outros ficam e progridem. Por isso ainda tenho esperanças.
Na pedreira há sempre um homem disposto ao trabalho, a eliminar as asperezas
da pedra, procurando dar-lhe a forma de um cubo perfeito, que não é mais do
que a decantação do seu próprio ser, o reflexo de suas possibilidades e da
perfectibilidade que aflora graças ao trabalho do seu maço e do seu cinzel,
instrumentos que o Grande Arquiteto do Universo lhe deu.
Venha, não tenhas medo de sujar o teu Avental, esse avental branco que lhe
entregaram no dia da sua iniciação. O branco dele é lindo, e o é para as noivas
virgens como também, para as almas puras poderás dizer, e assim
resplandecerá a Grande Pedra quando com o teu trabalho, o maço e o cinzel,
golpe a golpe, pedaço a pedaço for desbastando e os seus restos desprezando.
Assim, algum dia algo acontecerá contigo e começarás a ser um homem que,
junto a outros homens que já tenham feito os seus trabalhos, homens comuns
do dia-a-dia, operários, doutores, professores, comerciantes, todos
trabalhadores simples e fraternos, verás a luz despojado de teus egoísmos,
vícios e erros e abrirás tua
compreensão ao amor e à sabedoria.
Assim, a cada dia, a cada semana, mês a mês, ano a ano virás a esta Oficina e eu
te direi: missão cumprida! Porém, a missão nunca terminará, pois, o caminho é
longo, penoso e muitas serão as tentações; algumas portas se fecharão, mas
muitas outras se abrirão, com certeza...
Há que se seguir burilando a pedra, lutando para que não haja um retrocesso.
Por isso te digo: não me abandones, leva-me contigo, não permitas que me
deformem e em mim apareçam novas arestas. Tenha sempre ao teu lado o Maço
e o Cinzel, para que possas usá-los em mim quando eu precisar.
Fiz uma pausa e aproveitei para dizer a ela. Agora sim, entendo-te Pedra Bruta. E
ela replicou: siga prestando sempre a tua atenção em mim, porque o trabalho
não termina aqui.
Recém está começando, entregaste cada dia mais, observe o que acontece em
torno de ti, conheça-te a ti mesmo porque a Pedra Bruta ÉS TU. Sobressaltado
com essa afirmação, pareceu-me estar despertando de um longo sonho, com a
sensação do prazer que enche a alma quando sentimos haver descoberto algo
muito importante e assim, o meu espírito, se alegrou...
Observo hoje a Pedra Bruta que está ainda ao lado da mesa do 1º Vigilante, ali
na Coluna do Norte, coluna da Força, a coluna onde em seu topo, ficam todos os
Aprendizes-maçons de todo o mundo e olhando-a com carinho digo-lhe:
obrigado Pedra Bruta.
Agora, vejo-te mais formosa e perfeita em teu simbolismo e reconheço que sou
eu o homem grosseiro, o imperfeito e não tu.