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Instruções sobre o grau de Aprendiz | M.

Vilas

Primeira instrução:
A Maçonaria, ser Maçon

A vossa primeira instrução como maçon foi a que mais define o que é a

Maçonaria. Foi a instrução dos sinais que vos colocam em ordem, dos toques que vos
permitem reconhecer irmãos, da palavra que é o vosso nome de aprendiz e a chave
de acesso ao grau, da marcha, da bateria, da aclamação – foi a instrução de uma
prática iniciática, não de uma doutrina simpática.

O sinal, que é uma posição que vai dos pés à cabeça, feita de três esquadros, nível e
prumo, coloca-vos em ordem convosco próprio, com geometria da loja e com a do
universo. Ele, como todo o conjunto dos actos rituais, obriga-nos concentrar a
atenção no que estamos a fazer, criando consciência de nós próprios, unindo-nos a
nós próprios.

O facto de vos terem sido transmitidas formas de acção pessoais (sinais, toques e
palavras rituais) e não formas de justificação grupais (slogans, teorias, doutrinas)
indica-vos que a vossa primeira reflexão enquanto Maçons é sobre as vossas acções,
sejam elas actos, palavras, pensamentos ou omissões, para vos conhecerdes a vós
próprio.

Indica-vos também que a instrução maçónica se faz através do rito, o conjunto de


palavras e actos de abertura e encerramento de uma sessão maçónica ou de
iniciação de um candidato, que é a essência da Maçonaria.

As cerimónias rituais por que passaste na vossa iniciação aludem ao cego a quem é
dada a luz, isto é, a um recomeço da vossa vida. Para que esse recomeço seja efetivo,
tendes de abandonar tudo o que vos deformou ao longo da vida, regressando ao
vosso início.

O trabalho da Maçonaria permite-vos demolir o velho edifício que ereis antes, para
que possais construir-vos como templo. Fazê-lo, depende do vosso esforço, do vosso
interesse, da vossa sensibilidade, da vossa vontade de vos conhecerdes a vós próprio
– e da vossa coragem para o fazerdes –, da vossa capacidade para estardes presentes
de corpo e mente nos trabalhos.

A experiência sensível da execução da geometria das posições (sentado, marcha e


ordem) e sinais e da reflexão sobre os símbolos, permite-nos vivê-los em nós e
receber a sua acção transformadora.

O método próprio da Maçonaria traduz-se na forma de transmitir a palavra sagrada,


uma representação do método simbólico que abrirá ao aprendiz a compreensão da
linguagem através da qual são transmitidos os ensinamentos maçónicos: a
linguagem dos símbolos, diferente da linguagem dos conceitos.
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A Maçonaria tem duas componentes essenciais: a das regras de conduta, que se pode
resumir na regra de ouro – fazei aos outros o que gostaríeis que vos fizessem a vós
–, e a da procura da sabedoria através do desenvolvimento da consciência. E só se
procura o que se sabe que está perdido.

Foste recebido na Maçonaria porque foste considerado livre e de bons costumes.


Livre significa capaz de dispor de si próprio, tanto quando isso é possível numa
sociedade humana em que todos necessitamos dos outros, e mais numa sociedade
como aquela em que vivemos presentemente.

A publicação inglesa «Três Pancadas Distintas», de 1760, refere que o maçon é «um
homem nascido de uma mulher livre», e o catecismo «Toda a Instituição da
Maçonaria», de 1724, refere especificamente o episódio bíblico (Génese 16 e 21,
comentado por São Paulo na Epístola aos Gálatas 4, 21-31) dos dois filhos de Abraão:
o primeiro, Ismael, gerado da serva Agar segundo a carne, e o segundo, Isaac, gerado
da mulher Sara (que sempre fora estéril) por determinação divina, ou seja, segundo
o espírito. Ismael ameaça o irmão e Abraão bane-o, fazendo do filho segundo o
espírito o seu herdeiro, pelo que livre significa também o que nasceu para a vida do
espírito libertando-se da servidão das paixões da carne.

No catecismo inglês Dumfries, de 1710, pergunta-se ao aprendiz por que razão


entrou na loja com uma corda à volta do pescoço, sendo a resposta «para me
enforcar se traísse a confiança em mim depositada», remetendo a resposta quer
para a traição e suicídio de Judas, quer para a libertação da servidão das paixões, no
momento em que a corda é tirada.

Livre, remete ainda para a alegoria bíblica de que a generalidade dos israelitas
nascidos na servidão do Egipto morreu na travessia do deserto, só tendo entrado na
Terra Prometida os que não tinham nascido servos ou os que tinham passado com
sucesso pela purificação do deserto, ou seja, os que se tinham libertado dessa sua
condição.

De bons costumes significa que foste considerado um homem honrado e probo


enquanto profano. A Maçonaria impõe uma mais exigente regra de conduta ética e
uma maior disciplina moral ao maçon que a que a sociedade exige ao cidadão. A
doutrina maçónica sobre a moral decorre dos Dez Mandamentos, mas funda-se na
reflexão ética pessoal e na disciplina moral.

A Maçonaria não aceita a ideia de que somos apenas homens com as falhas inerentes
a qualquer humano; se isso já não é aceitável no profano, no Maçon, homem que
procura transmutar-se, é intolerável.

Estamos aqui porque desejamos corrigir as nossas falhas – um processo que pode
levar muitos anos e sofrer recuos, mas do qual não queremos desistir – aplicando a
medida, o equilíbrio e a proporção às nossas vidas.

Estamos também aqui para nos conhecermos a nós próprios e a Maçonaria ajuda-
nos a fazê-lo, ao por a nú as verdadeiras motivações. Por isto, quando virdes dois
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irmãos zangarem-se por um ofício da loja, que não lhes dá qualquer sabedoria,
poder ou dinheiro, tereis visível a verdadeira origem da zanga: o ego de cada um.

A Maçonaria é uma instituição humana, talvez demasiado sujeita às paixões e às


vaidades mundanas para os que procuram a Verdade, mas permitindo, por isso
mesmo, compreender e conhecer melhor a natureza humana, que é também a vossa
natureza, aproximando-vos da Verdade.

Verdade vem do latim veritas que significa realidade, exactidão, rigor, conformidade
entre o pensamento e o seu objecto. No grego, aletheia significa sem véu, isto é,
visível ou compreensível, sendo lethe o esquecimento.

Parménides escreveu que a verdade é o oposto da opinião. Procurar a verdade é,


portanto, levantar os véus da opinião, ou da ilusão, e do esquecimento, ou da perda.
A Verdade é só uma porque é a relação directa e não conceptual entre o homem e a
totalidade, ou seja, entre o homem e a unidade. «Conhecereis a verdade e a verdade
libertar-vos-á», escreveu São João (8, 32).

Sois aprendiz, e ser aprendiz é estar disponível para aprender.

A primeira coisa que deveis aprender é que nada sabeis sobre a Maçonaria, e estais
aqui para aprender sobre ela, praticando, estudando, discutindo e formando a vossa
própria ideia. Deixai à porta qualquer ideia que acerca dela fazeis, pois é um metal
cujo falso brilho vos impede de aprender. Confrontai o que ouvirdes em Loja com os
textos tradicionais, para não seguirdes erros de irmãos mais antigos.

O vosso trabalho implica desenvolver a vossa atenção e exame à vossa alma ou


mente, que cobre o vosso ego (usamos ego não no sentido freudiano, mas no
tradicional: o que esconde de nós próprios o que somos verdadeiramente, ou a
representação que temos de nós próprios e de como os outros nos veem).

É no ego que residem os vícios (desejos, frustrações, representações, etc.) que


queremos transformar em virtudes. A virtude foi definida por Cícero, em «Sobre o
Orador», como uma disposição do espírito em harmonia com a razão e a Ordem do
mundo.

Para que isso possa acontecer temos de nos conhecer (para o que temos os
instrumentos de medida e as pedras que são padrões simbólicos), de nos
compreender cada vez mais profundamente (como nos assinala o prumo do
Segundo Vigilante), de nos corrigir (para o que temos os instrumentos de desbaste
da pedra e os instrumentos pelos quais se fazem os sinais) e de nos equilibrar na
régua entre os extremos do mais e do menos. O sinal de ordem e os passos que
aprendestes correspondem à aplicação dos instrumentos ao nosso comportamento
mental e físico.

É na loja que somos iniciados – mais ninguém tem o poder de conferir a iniciação, a
não ser a loja – e é na loja que aprendemos a trabalhar. Sem esta prática regular do
trabalho ritual, não nos tornamos realmente Maçons, ficando uma espécie de
maçons não praticantes. Temos, por isto, deveres para com a loja.
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Já os Estatutos dos canteiros de Bolonha, actual Itália, de 1248, determinam que se


algum canteiro é convocado pelos oficiais para uma reunião «está obrigado a ir de
cada vez e sempre que se lhe peça», a menos, naturalmente, que tenha uma escusa
válida.

A Maçonaria é uma instituição com regras claras e definidas de funcionamento, com


um método de aperfeiçoamento espiritual do homem que usa os símbolos da
construção, filiada nas corporações profissionais que exerciam a arte da construção,
e tendo como principal símbolo o templo que Salomão construiu a Deus.

O manuscrito inglês Grand Lodge, de 1583, determina que o canteiro «será um


verdadeiro homem de Deus», «sábio e discreto», que será verdadeiro com os outros,
e que fará «aos outros o que gostariam que lhe fizessem a ele».

Deus, o Princípio, a Consciência Primeira e Universal, só pode ser entendido


pessoalmente, mas São Paulo, na Epístola de São Paulo aos Efésios 4, 6, dá-lhe uma
interessante definição: «um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, no meio
de todos e em todos» – em cada um de nós.

O catecismo inglês Wilkinson, de 1724, refere que o maçon, como profissional


aprendeu «a talhar a pedra e a elevar perpendiculares», e como cavalheiro aprendeu
«o segredo, a moralidade e a camaradagem» (ou fraternidade).

Um catecismo irlandês do início do século XVIII pergunta, ao desconhecido que se


quer fazer reconhecer como irmão, «que tipo de homem sois?», sendo a resposta
«um Maçon». Ou seja, o Maçon é um tipo específico de homem, identificável pela sua
forma de agir sempre equitativa e franca, pela sua linguagem sempre sincera e leal,
e pela solicitude fraternal para com todos, como dizem alguns rituais.

É também «igualmente amigo do príncipe e do pastor, conquanto sejam virtuosos»,


como refere um catecismo francês de meados do século XVIII. Ou seja, as distinções
que faz entre os homens são éticas e espirituais e não sociais.

Estas e outras regras de conduta têm origem nos Antigos Deveres medievais e
renascentistas quase todos ingleses, de que se conhecem 150 documentos. Estes
manuscritos contêm relatos míticos, em linguagem simbólica, portanto, da criação
da arte da construção e da outorga das instruções e deveres por personagens
fundadores como Jabal, um dos filhos de Noé, Pitágoras, Euclides, Salomão... todas
personagens bíblicas ou ligadas à Geometria ou ambas.

São esses deveres: os canteiros (maçons) devem ser fiéis a Deus, ao rei, e ao senhor
que servem (fidelidade); devem amar-se mutuamente (fraternidade), e ser
verdadeiros uns com os outros (verdade); devem chamar-se uns aos outros de
companheiro ou irmão, e não nenhum nome desagradável (afabilidade); devem
realmente merecer o seu salário (trabalho); devem designar o mais sábio para
Mestre da Obra, e não o designar por amizade, linhagem, riqueza, ou favor (mérito);
devem chamar o chefe do trabalho de Mestre enquanto trabalharem com ele
(respeito).
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Estes deveres por se seguirem à história da Geometria, decorrem, portanto, dela e


das suas leis, e a sua prática é tão verificável como a da geometria, não havendo
espaço para o relativismo moral ou para o julgamento de intenções. O testemunho
que dais de vós são as vossas acções, sejam elas palavras, actos ou omissões.

Os deveres e o ritual garantem também a universalidade da ordem no tempo e no


espaço: este princípio encontra-se já no manuscrito inglês Watson, de 1535, que
relata uma assembleia de construtores da Inglaterra, na qual o filho do rei ordenou
que todos apresentassem os escritos que tivessem acerca da Arte da construção;
quando foram apresentados, havia escritos em várias línguas mas «o seu conteúdo
e significado era uniforme».

A prática das regras de conduta tem ainda um aspecto iniciático, pois educa-nos na
observação da disciplina, o que é muito necessário ao processo de aperfeiçoamento
espiritual.

As «Constituições» de 1723 estabelecem que o Maçon deve obedecer à lei moral, isto
é, «ser um homem bom e verdadeiro, um homem de honra e honestidade». Contudo,
não basta ser homem de bem para se ser maçon, é preciso ter-se sido regularmente
iniciado na Maçonaria.

A Maçonaria atual descende diretamente da maçonaria profissional escocesa,


irlandesa e inglesa anteriores aos séculos XVII-XVIII, quando deixou de ser
sobretudo uma organização profissional e assumiu o carácter que tem hoje.

Contudo, se a forma como viveis e o que pensais vos separam profundamente de


qualquer irmão maçon do século XVII, sois ambos maçons porque fostes ambos
iniciados segundo um rito semelhante numa loja no essencial idêntica.

Embora haja documentos escritos ou gráficos de ou sobre fraternidades de


construtores em vários países europeus ao longo de muitos séculos, a filiação da
Maçonaria na maçonaria profissional está provada nas Ilhas Britânicas (Irlanda,
Escócia, Inglaterra e Gales) entre o final do século XVI e o início do século XVIII.

Na Inglaterra há o conjunto de documentos chamados Antigos Deveres, que eram


encimados por um texto bíblico e continham a lenda simbólica da profissão e arte
da construção e deveres morais, sendo o mais antigo de finais do século XIV. O
candidato jurava ritualmente sobre eles, que eram seguidamente lidos na loja, para
instrução.

Na Escócia que tem referências a lojas profissionais desde o século XIV, foi criado,
no final do século XVI, um modelo de organização das lojas, centrado em torno de
lojas-mães regionais, que regulavam a profissão da construção em cantaria, em
conjunto com as guildas. E que procediam a iniciações baseadas num ensinamento
esotérico sobre as colunas do Templo de Salomão, o que é conhecido por
documentos do século XVII. Da Irlanda, quase não há documentação escrita, porque
os irmãos a destruíam para manter o segredo.
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A partir de 1600, há registos de que lojas escocesas admitiam pessoas que não eram
profissionais da construção interessados nos mistérios maçónicos e de lojas
constituídas maioritariamente por não-profissionais, como a loja de Aberdeen, na
qual, em 1670, apenas um quinto dos membros trabalhava na construção. Algumas
delas deixaram de ser apenas reguladoras locais da profissão com os seus ritos
esotéricos (lojas profissionais – maçonaria), passando a ser sobretudo organizações
de prática de ritos esotéricos (lojas simbólicas – Maçonaria), desligadas da regulação
da profissão, mesmo quando constituídas por profissionais.

Na Inglaterra, parece haver um conjunto de lojas que, à medida que a construção de


grandes edifícios passou a empregar o tijolo, perderam a sua função de regulação
profissional. Algumas receberam não profissionais, havendo provas documentais
pelo menos a partir do século XVII.

Em Iorque, a loja da catedral, referida desde o século XIV, terá continuado até hoje,
havendo documentação significativa dos finais do século XVII e princípios do XVIII.
Esta loja, que recebia também não profissionais, era a loja-mãe da Antiga e
Respeitável Sociedade e Fraternidade dos Francomaçons, que deu origem à Grande
Loja de Toda a Inglaterra, existente entre 1725 e 1792.

Em Londres, a Fraternidade, depois Companhia dos Maçons da cidade, existente


desde o século XIV, tinha uma loja, documentada desde 1619, que recebia
profissionais e não profissionais, como maçons aceitos (accepted). Esta loja, e
deveria haver outras, poderá estar na origem de uma das futuras fundadoras da
primeira Grande Loja.

A reforma protestante e os conflitos religiosos, que duraram décadas ou séculos,


afectaram e dividiram as sociedades britânicas, como a generalidade da Europa. No
caso da Inglaterra, a reforma começou em 1534 e só se impôs definitivamente com
a vitória dos protestantes em 1745.

Devido a estes conflitos religiosos, a maçonaria terá sofrido alterações que são mal
conhecidas, notando-se, por exemplo, que alguns Antigos Deveres deixaram de ter
referências expressamente católicas ou, pelo contrário, passaram a condenar
expressamente a heresia.

Uma das características mais importantes do protestantismo moderado é a ideia de


que Deus se revela a cada homem de maneira diferente (sendo a relação com Deus
pessoal e sendo impossível ditar a fé dos outros), que é a base da tolerância religiosa
e da liberdade de pensamento. A primeira prova documental que temos da
tolerância religiosa na maçonaria é da última década do século XVII, quando a loja
de Aberdeen, na Escócia, incluía entre os seus irmãos membros de várias confissões
cristãs.

Um dos textos fundadores da Maçonaria actual, «As Constituições dos Franco-


Maçons», de 1723, consagra este princípio ao escrever que o maçon – que não pode
ser nem ateu nem irreligioso (imoral) –, é obrigado «apenas àquela Religião na qual
todos os homens concordam, deixando a cada um a sua opinião particular». Esta
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religião comum é «serem homens bons e verdadeiros ou homens de honra e


honestidade», implicando isto, na época, a respeito dos Dez Mandamentos.

Em 1717 ou 1721, em Londres, uma assembleia de maçons da cidade mudou o


carácter da maçonaria ao estabelecer uma primeira Grande Loja permanente, em
vez das anteriores assembleias anuais de maçons. Como resposta, os maçons das
lojas antigas publicaram, em 1722, um texto de Antigos Deveres, «As Antigas
Constituições pertencentes à Antiga Sociedade dos Maçons Livres e Aceites»
(conhecidas como Constituições Roberts), e classificaram os inovadores de
modernos.

Esta primeira Grande Loja publicou «As Constituições dos Franco-Maçons» em 1723
(um texto de Antigos Deveres refundido e recortado ao gosto dos intelectuais
protestantes da Royal Society que a dominavam), atraindo as elites científicas,
culturais e sociais da capital inglesa, mas provocando uma reacção de repúdio dos
maçons mais antigos, que acusaram os «doutores» de ignorarem o essencial da
Maçonaria.

Rapidamente o modelo de organização Maçónica em Grandes Lojas se expandiu: as


lojas da Irlanda criaram uma Grande Loja antes de 1725; as de França, na década de
1730; e na Escócia, em 1736. Em 1751, surgiu na Inglaterra a Grande Loja segundo
as Antigas Instituições, com práticas próximas das lojas que tinham recusado a
primeira Grande Loja, das lojas irlandesas, dando corpo à corrente ritual que ficou
conhecida como Antigos, por oposição ao rito dos chamados Modernos da primeira
Grande Loja.

Estes modernos seguiam uma visão iluminista de fé na ciência, e eram quase todos
protestantes empenhados. Os Antigos, que recusavam as alterações e amputações
feitas pela primeira Grande Loja inglesa, mantinham uma visão mais tradicional da
Maçonaria e dos seus ritos, e eram geralmente católicos e protestantes moderados.

A notícia da primeira loja em Portugal é de 1728 e passou à história pelo nome que
a Inquisição lhe deu – Loja dos Hereges Mercadores – denotando a sua composição
de mercadores protestantes ingleses e escoceses.

A segunda loja, esta bem documentada devido à devassa da Inquisição, surgiu em


1733 e era composta por uma maioria de católicos e de irlandeses. Chamava-se Casa
Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia. Terminou de livre vontade quando o papado
publicou a bula «In Eminenti», na qual condenava a nova forma de Maçonaria criada
pela Grande Loja de Londres, condenação que já não está em vigor.

A terceira loja portuguesa, filiada na Grande Loja de Londres, foi formada sobretudo
por mercadores franceses católicos. Foi também destruída pela inquisição.

Outras lojas foram existindo em Portugal, compostas essencialmente de


estrangeiros, muitos deles mercadores. A contratação de especialistas militares
estrangeiros e a sua dispersão pelas guarnições levou à criação de lojas em vários
pontos do País, muitas delas esporádicas, e muitas delas sem relação com as
organizações maçónicas que, entretanto, se tinham constituído em vários países. Na
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Madeira, a sua posição estratégica no comércio mundial, manteve uma presença


constante da Maçonaria.

Não autorizadas, alvo de perseguições pontuais, as lojas foram existindo e crescendo


lentamente, constituídas pelas elites militares, administrativas e económicas e por
muitos religiosos, num Portugal quase totalmente analfabeto.

A Maçonaria criada pelos comerciantes ingleses manteve-se bastante fechada nos


seus compatriotas, mas a chegada de numerosos franceses fugidos da revolução de
1789 – entre os quais altos dignitários da Maçonaria e da sociedade francesa – levou
a uma abertura maior aos portugueses, que foi emulada pelas lojas das unidades
militares irlandesas e britânicas colocadas em Portugal durante as invasões
napoleónicas.

Em 1802 foi fundado o Grande Oriente Lusitano, reconhecido pela Grande Loja de
Inglaterra. Houve ainda perseguições pontuais no final do século XVIII e no começo
do século XIX, ao sabor da política da época, até que a implantação da monarquia
constitucional permitiu aos maçons trabalharem sem percalços.

Desde então, e até hoje, nunca mais houve qualquer perseguição à Maçonaria por
parte dos poderes públicos, embora maçons tenham sido perseguidos por razões
políticas que nada têm a ver com a Maçonaria.

No início do Estado Novo, Salazar tentou obter a colaboração da maçonaria, mas a


direcção do Grande Oriente recusou essa colaboração. Contudo, muitos maçons
aderiram ao Estado Novo – um dos presidentes da república, vários ministros e
numerosos deputados.

Um maçon renegado propôs a proibição da Maçonaria em 1935 e a Assembleia


Nacional aprovou esta proposta – a proibição durou até ao golpe militar de 25 de
Abril. Todavia, o regime não perseguiu nem o Grande Oriente Lusitano Unido, nem
a obediência do Rito Escocês Antigo e Aceito, nem as lojas que subsistiram, nem
maçons individuais por o serem.

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