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III Dimensões da Ação Humana


e dos Valores
3.1 A dimensão religiosa: análise
e compreensão da dimensão
III Dimensões da Acção Humana
e dos Valores
A dimensão religiosa

A Religião e o sentido da existência

SUMÁRIO
Situação-problema
Análise da situação-problema
Aproximação ao conceito de religião
Transcendência e imanência de Deus
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Problema

Que se entende por religião?


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Situação-problema

Torquemada (en)contra Cristo

“Em Sevilha, nos tempos mais terríveis da Inquisição (século XV), quando
fogueiras queimavam hereges em autos-de-fé, Cristo surge em silêncio
no meio da multidão; o sol do amor arde n’Ele e comove os corações.

Faz alguns milagres, e a multidão reconhece-o, mas trai-o, quando


o Grande Inquisidor (Torquemada) o manda prender.

No calabouço onde Jesus está preso, começa um longo monólogo:

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Situação-problema
Torquemada (en)contra Cristo
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És Tu? Por que vieste inquietar-nos?, pergunta
Torquemada.
É que vieste inquietar-nos e Tu sabe-lo bem.
Amanhã condeno-Te e queimo-te na fogueira como
o pior dos hereges, e o mesmo povo que hoje
Te beijava os pés amanhã correrá para atear com
brasas a Tua fogueira.
A liberdade deles era para Ti a coisa mais preciosa,
já naqueles tempos, mil e quinhentos anos atrás.
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Situação-problema
Torquemada (en)contra Cristo
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Durante quinze séculos atormentámo-nos com


a liberdade, mas está tudo resolvido.
Fica sabendo que hoje estas pessoas estão
convencidas de que são absolutamente livres.
Por que vieste, então, incomodar-nos?
E por que me olhas penetrante e silencioso com
os Teus olhos meigos?
Repito-Te: amanhã queimar-te-ei.

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Situação-problema
Torquemada (en)contra Cristo
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O Inquisidor calou-se esperando pela resposta do prisioneiro,
que o ouvira sempre com atenção e serenidade, olhando-o
nos olhos. Mas o prisioneiro, em vez de falar, aproxima-se
e beija-o. O velho estremece e diz-lhe:

Vai-Te embora e nunca mais voltes...nunca, nunca!”

Fiódor Dostoiévski, Os irmãos Karamazov


Manual, pp. 222-224
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Guião de exploração da situação-problema

Quem são os protagonistas desta ficção?

Quais os argumentos utilizados pelo Grande Inquisidor?

O Grande Inquisidor conhecia o coração dos Homens?

Os humanos preferem a segurança à liberdade?

Os humanos preferem o pão terrestre ao pão celestial?

Cristo errou, oferecendo liberdade aos humanos?

Por que é que o Grande Inquisidor não queimou Cristo?

Qual o maior poder: ódio (Torquemada) ou amor (Cristo)?


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A Religião no nosso quotidiano

A ficção de Dostoiévksy coloca-nos perante um


drama humano: a luta entre o amor, que prega a
liberdade, e o ódio que se alimenta do medo
Na ficção, Cristo vence. E na realidade?
Como se desenrola hoje, perante os nossos
olhos, o conflito entre o amor e o ódio?
Qual o contributo que as religiões
podem dar para esta contenda?
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Tribunal do Santo Ofício Carl Orff, Carmina Burana,


“Ave Formosissima”
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O fundamentalismo
Os fundamentalismos religiosos (formas de ódio e de intolerância
nas relações entre os povos) encontram-se entre praticantes de
todas as religiões. Exemplos:

Fundamentalismo cristão Fundamentalismo muçulmano


Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) Bombistas suicidas que se fazem
explodir (Israel, Iraque, Indonésia)

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O fundamentalismo
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Os fundamentalismos religiosos (formas de ódio e de intolerância
nas relações entre os povos) encontram-se entre praticantes de
todas as religiões. Exemplos:

Fundamentalismo judaico Fundamentalismo muçulmano e hindu


Massacres de palestinianos nos campos de refugiados de Massacres mútuos entre Indianos e
Sabra e Chatila (Líbano), sob os auspícios de Israel
Paquistaneses
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Os textos sagrados falam de amor e tolerância

:
Eis a essência do dever: não faças aos outros nada que te
Hinduísmo pudesse causar dor se feito a ti próprio. Mahabharata, 5:1517

Faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti, pois esta é
Cristianismo a lei dos profetas. Mateus, 7, 12

Não faças aos outros aquilo que te magoasse se fosse feito a ti


Budismo próprio. Udana – Varga, 5:18

Nenhum de vós é verdadeiramente crente até desejar para os


Islamismo outros aquilo que deseja para si mesmo. Maomé, Hadith

Não faças ao teu vizinho aquilo que te é odioso. Esta é a


Judaísmo essência da Tora; o resto é comentário. Talmud, Sabbat, 31 a
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Hinduísmo

“Eis a essência
do dever:
não faças aos outros
nada que te pudesse
causar dor se feito
a ti próprio.”
Mahabharata, 5:1517

Ravi Shankar, Raga Kaushi Kanhara


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Cristianismo
“Faz aos outros
o que gostarias
que te fizessem a ti,
pois esta é a lei dos
profetas.”
Mateus, 7, 12

Vivaldi, Gloria
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Budismo

“Não faças aos outros


aquilo que te magoaria
se feito a ti próprio.”
Usana - Varga, 5:18

(Tibetano), Om Padme Hum


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Islamismo
“Nenhum de vós
é verdadeiramente
crente até desejar
para os outros
aquilo que deseja
para si mesmo.”
Maomé, Hadith

Ensemble Resonance, Derviches Persas


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Judaísmo

“Não faças ao teu


vizinho aquilo que
te é odioso.
Esta é a essência
da Tora; o resto
é comentário.”
Talmud, Sabbat, 31a
John Williams, A Lista de Schindler
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Que se entende por Religião?


A religião pode ser abordada de vários
modos. Duas definições:
“A Religião é o respeito que o indivíduo sente, no mais
profundo de si, perante o divino, ou sagrado. Este respeito
manifesta-se nos ritos e outros gestos tradicionais.”
Cícero (político, orador e filósofo romano século I a. C.)

“A Religião é constituída por um conjunto de crenças,


acções e experiências, tanto individuais como colectivas,
organizadas em torno de um conceito de realidade última.”
Michael Petterson (professor no Asbury College, EUA, séculos XX-XXI)
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A comunicação com o Sagrado

Cícero, convencido da existência


de uma realidade transcendente
(a que Petterson chama
realidade última), entendia
a Religião como uma relação
pessoal com o divino ou
sagrado, estabelecida através
de cultos e ritos.
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Rito pagão Rito cristão

árvore presépio
do Solstício
J S Bach, Oratório de Natal
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A realidade última
Para alguns autores, Para outros, o sagrado engloba
o plano do sagrado está o próprio quotidiano e Deus,
absolutamente separado em vez de se situar para além
da realidade humana. do plano sensível, imana ou
Defendem a brota dele. São os defensores
transcendência da imanência
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Conceitos estruturantes da Religião


TRANSCENDÊNCIA IMANÊNCIA
Concepção segundo a qual Concepção segundo a qual
a existência de um ser a existência de um ser
supremo e divino está supremo e divino não é
completamente além exterior ao mundo natural,
dos limites do mundo mas está contida nele
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Conceitos estruturantes da Religião


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RITOS CULTOS
Conjunto de práticas Cerimoniais de adoração
que visam estabelecer a uma divindade
um canal de comunicação
com o divino
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Três modos de conceber


a Religião
segundo Albert Einstein
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RELIGIÃO-TEMOR RELIGIÃO-MORAL RELIGIOSIDADE CÓSMICA

Responde à Existe Expressa


necessidade para reforçar o sentimento
de compensar os mecanismos de maravilha
a fragilidade humana de controle social perante a Natureza
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Três modos de conceber


a Religião
segundo Albert Einstein
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RELIGIÃO-TEMOR

Responde à necessidade de compensar a fragilidade humana:


representa Deus como um ser poderoso, capaz de modificar as leis
da Natureza e os acontecimentos

Procura satisfazer os desejos do crente através dos favores de Deus,


solicitados por meio da oração. É o que Kant designa por religião
do simples culto (Kant, A Religião nos Limites da Simples Razão)

Arte sacra, Mértola


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Três modos de conceber


a Religião
segundo Albert Einstein
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RELIGIÃO-MORAL

Responde à necessidade de direcção e apoio; conduz ao conceito social e moral


de Deus concebido como Pai, Legislador e Juiz supremo da moralidade,
reforçando os mecanismos de controle social

Expressa-se através do respeito pelos mandamentos


(caso dos Dez Mandamentos da tradição judaico-cristã)
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Três modos de conceber


a Religião
segundo Albert Einstein
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RELIGIOSIDADE CÓSMICA

Expressa o sentimento de admiração perante a Natureza e o poder


superior que a perfeição do seu funcionamento revela

Consiste na humilde admiração que um espírito iluminado e finito


sente ao confrontar-se com o mistério e a grandiosidade do Universo

Corresponde às exigências de personalidades de grande sensibilidade e de grande exigência


racional: encontra-se em filósofos e em cientistas
Que se entende por Religião?
O sagrado pode definir-se pela negativa (opõe-se a profano), ou pela
positiva (uma força que dimana do mundo sobrenatural)

SAGRADO PROFANO
Designa uma outra dimensão da Designa a dimensão de realidade
realidade, a que chamamos a que acedemos através
sobrenatural (diferente da que nos da experiência da vida quotidiana
é dada pela experiência sensível)
Características do sagrado
Aponta para a aceitação de um outro plano de realidade

É uma força ou uma potência de natureza espiritual

Manifesta-se no mundo quotidiano – o mundo do profano

É do domínio da experiência, não da reflexão

Transcende a experiência comum

Não é acessível à experiência sensível

É acessível, apenas, através de uma experiência religiosa

É uma experiência ambivalente (fascínio e terror)

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