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Os 5 Teólogos Mais Importantes Do Cristianismo

Quem são os teólogos mais importantes e influentes da história do cristianismo?

Depois de ter discutido o assunto com vários alunos, professores e


teólogos do seminário, escolhi cinco teólogos que influenciaram de forma
mais duradoura a teologia e a prática cristãs.

ATANÁSIO DE ALEXANDRIA

Viveu de 298 a 373.

Obras mais importantes:

 Sobre a Encarnação do Verbo (317)


 Credo de Niceia (325)
Maiores contribuições:

Defensor incansável da teologia da Trindade contra o arianismo. Na


verdade, grande parte de nossa maneira de pensar a Trindade vem do
trabalho de Atanásio.

Sua biografia de Antônio, o Grande, inspirou o movimento monástico.

Foi o primeiro a identificar os 27 livros que compõem atualmente o Novo


Testamento.

Principal autor do Credo de Niceia, indiscutivelmente o credo mais


importante da história do cristianismo.
Citações favoritas:

“O Jesus que conheço como meu Redentor não pode ser inferior a Deus.”

“O Filho de Deus tornou-se homem para que os homens pudessem se


tornar filhos de Deus.”

“Você não pode endireitar no outro o que está deformado em você


mesmo.”

“[Cremos] em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigênito do


Pai, isto é, da substância do Pai; Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai; por quem foram
feitas todas as coisas que estão no céu ou na terra.

O qual por nós homens e para nossa salvação, desceu, se encarnou e se fez
homem. Padeceu e ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus. Ele virá para
julgar os vivos e os mortos…” — extraído da versão do ano 325 do Credo de
Niceia.

AGOSTINHO DE HIPONA

Viveu de 354 a 430.

Obras mais importantes:

 Confissões (398)
 Sobre a Trindade (416)
 Sobre a Doutrina Cristã (426)
 Cidade de Deus (426)
Maiores contribuições:
Articulou a doutrina do pecado original e da graça de Deus por meio da
predestinação divina contra a ênfase de Pelágio no livre arbítrio do
homem e sua bondade inata.

Propôs uma distinção entre a “igreja visível” e a “igreja invisível”.

Popularizou a visão amilenista do fim dos tempos, que se tornou a mais


dominante em toda a história da igreja.

Escreveu sobre a relação entre igreja e Estado; ele foi o primeiro a defender a
ideia de uma “guerra justa”.

Desenvolveu uma teologia sobre os sacramentos que formaria a base das


práticas da Igreja Católica Romana.

Citações favoritas:

“Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não
descansar em ti.” (Confissões I, i, 1).

“Dá-me aquilo que ordenas, ordena-me aquilo que queres.” (Confissões X, xxix,
40).

“O criador do homem foi feito homem para que ele, Soberano das estrelas,
amamentasse no seio de sua mãe; para que o Pão tivesse fome; a Fonte,
sede; a Luz, sono; o Caminho, cansaço em sua jornada; para que a Verdade
fosse acusada de falso testemunho; para que o Mestre fosse açoitado com
chicotes; para que o Fundamento fosse pendurado no madeiro; para que a
Força enfraquecesse; para que Aquele que cura fosse ferido; para que a Vida
morresse” (Sermões 191.1).

“O excesso é inimigo de Deus.”

“Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não
gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo.”

“Cantar uma vez é orar duas vezes.”

“Ame a Deus e faze o que queres.” (Homilias 7 e 8 em 1João).

“Obras não enraizadas em Deus são pecados esplêndidos.”

TOMÁS DE AQUINO
Viveu de 1225 a 1274

Obras mais importantes:

 Suma teológica (1274)


 Suma contra os gentios (1264)
Maiores contribuições:

Creu que uma combinação de fé e razão leva ao verdadeiro conhecimento


de Deus.

Buscou provas racionais para a existência de Deus.

Influenciou grandemente as noções católicas de pecado mortal e pecado


venial.

Popularizou a visão em voga da Ceia do Senhor conhecida como


“transubstanciação”.

Foi apologista do cristianismo numa época em que o islamismo crescia


rapidamente.

Citações favoritas:

“Todos os esforços da mente humana não podem esgotar a essência de


uma única mosca.”

“A única maneira de vencer um adversário da verdade divina é com a


autoridade das Escrituras.”
“A razão possui certas semelhanças com o que pertence à fé, e certos
preâmbulos a isto, como a natureza é um preâmbulo para a graça.”

“Em Deus está a pura verdade, com a qual não pode se misturar qualquer
falsidade ou engano.”

“Se a razão fosse o único caminho disponível para conhecermos a Deus,


a raça humana permaneceria nas mais escuras sombras da ignorância.”

“O conhecimento deve ser pela fé.”

“Todo o bem que está em um homem deve-se a Deus.”

JOĀO CALVINO
Viveu de 1509 a 1564.

Obra mais importante:

 As Institutas (1560)
Maiores contribuições:

Enfatizou a visão substitutiva penal da expiação.

Assumiu um compromisso central com a noção agostiniana da soberania


de Deus na salvação.

Ensinou que a Escritura deve interpretar a Escritura.

Usou o conceito da Aliança como princípio organizador da teologia cristã.


Citações favoritas:

“Quase toda a sabedoria que possuímos, isto é, sabedoria verdadeira e clara,


consiste em duas partes: o conhecimento de Deus e de nós mesmos.”

“Cada um de nós é, desde o ventre materno, especiaista em gerar ídolos.”

“É melhor que eu deixe intocado o que não consigo explicar.”

“Quando o evangelho é pregado em nome de Deus, é como se o próprio Deus


falasse em pessoa.”

Deus tolera até mesmo nossa gagueira e perdoa nossa ignorância sempre que
algo nos escapa inadvertidamente ― já que, aliás, sem esta misericórdia não
haveria liberdade para orar.

Sem o evangelho tudo é inútil e vão; sem o evangelho não somos cristãos;
sem o evangelho toda riqueza é pobreza; toda sabedoria, loucura diante de
Deus; toda força, fraqueza; e toda a justiça humana jaz sob a condenação de
Deus. Mas pelo conhecimento do evangelho somos feitos filhos de Deus,
irmãos de Jesus Cristo, concidadāos dos santos, cidadãos do Reino dos Céus,
herdeiros de Deus com Jesus Cristo, por meio de quem os pobres são
enriquecidos; os fracos, fortalecidos; os néscios, feitos sábios; os pecadores,
justificados; os solitários, confortados; os duvidosos, assegurados; e os
escravos, libertados. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o
que crê. Assim, tudo o que poderíamos pensar ou desejar deve ser achado
somente neste mesmo Jesus Cristo. Pois ele foi vendido para nos comprar de
volta; preso para nos libertar; condenado para nos absolver. Ele foi feito
maldição para nossa bênção; ofertado pelo pecado para nossa justificação;
desfigurado para nos tornar belos; ele morreu pela nossa vida para que, por
seu intermédio, o furor converta-se em mansidão; a ira seja apaziguada; as
trevas tornem-se luz; o temor, reafirmação; o desprezo seja desprezado; o
débito, cancelado; o labor, aliviado; a tristeza convertida em júbilo; a desdita,
em felicidade; as emboscadas sejam reveladas; os ataques, atacados; a
violência, rechaçada; o combate, combatido; a guerra, guerreada; a vingança,
vingada; o tormento, atormentado; o abismo, tragado pelo abismo; o inferno,
trespassado; a morte, assassinada; a mortalidade convertida em imortalidade.

KARL BARTH
Viveu de 1886 a 1968.

Obras mais importantes:

 Carta aos Romanos (1922)


 Dogmática Eclesiástica (1968)
Maiores contribuições:

Procurou recuperar a doutrina da Trindade, que havia sido praticamente


abandonada pelo liberalismo radical.

Acreditava que a Bíblia era uma testemunha do Verbo de Deus (Jesus).

Entendeu a doutrina da eleição e da predestinação como centradas em Cristo

Sublinhou a natureza paradoxal da verdade divina.

Citações favoritas:

“Deus não é uma categoria abstrata pela qual até mesmo a compreensão cristã
da palavra pode ser medida, mas aquele que é chamado de Deus é o Deus
uno, o Deus único, o Deus singular.”

“O unir das mãos em oração é o começo de um levante contra a desordem do


mundo.”

“A crença não pode discutir com a incredulidade, pode apenas pregar a ela.”

“A melhor teologia não precisa de defensores: ela prova a si mesma.”

“Ninguém pode ser salvo ― em virtude do que pode fazer. Todos podem ser
salvos ― em virtude de que Deus pode fazer.”
“Jesus não dá receitas que mostram o caminho a Deus como outros mestres
da religião fazem. Ele próprio é o caminho.”

Uma vez, um jovem aluno perguntou a Barth se ele poderia resumir em


algumas palavras o que era mais importante no trabalho e na teologia de sua
vida. Barth pensou por um momento e depois sorriu:

“Sim, com as palavras de uma canção que minha mãe costumava cantar para
mim: ‘Jesus me ama, isso eu sei, pois a Bíblia assim me diz.’”

“Se fiz qualquer coisa nessa minha vida, fiz como parente do jumento que
seguiu seu caminho transportando uma carga importante. Os discípulos
disseram a seu dono: ‘O Mestre precisa dele’. E assim, parece que aprouve a
Deus ter me usado neste momento. […] Permitiu que eu fosse o jumento que
carregasse essa boa teologia durante parte do caminho, ou que tentasse levá-
la da melhor maneira possível”.

Menções Honrosas
O que se segue é uma lista de menções honrosas: teólogos que impactaram a
teologia cristã em aspectos importantes, mas os quais (geralmente por
algumas boas razões) não chegaram ao meu Top 5.

Irineu: defendeu apologeticamente o cristianismo histórico em face ao


gnosticismo. Ele também popularizou a teoria da recapitulação da expiação.

Anselmo da Cantuária: fundador da escolástica. Formulou o argumento


ontológico da existência de Deus.

Martinho Lutero: teve um papel instrumental na Reforma. Ele foi


definitivamente um teólogo por mérito próprio, apesar de eu vê-lo mais como
um revolucionário do que um teólogo. Calvino foi quem tomou as ideias da
Reforma e as sistematizou, portanto, tornou-se mais influente como teólogo.

Friedrich Schleiermacher e Adolf von Harnack: Schleiermacher fez da


experiência subjetiva do crente (especificamente o sentimento de dependência
total) o centro da teologia e, assim, tornou-se o “Pai do liberalismo”.
Juntamente com o trabalho posterior de Adolf von Harnack, ambos causaram
um grande efeito. As reverberações continuam a ecoar em toda a teologia
cristã.

John Wesley: importante líder de um movimento de renovação dentro do


anglicanismo que, ao fim, originou o Metodismo e o Movimento de Santidade
(Igreja Evangélica Holiness). Embora provavelmente mereça um lugar no Top
10 ou 15, não acredito que as contribuições teológicas de Wesley lhe rendam
uma posição no Top 5.
Jonathan Edwards: eu fosse fazer um Top 5 dos teólogos norte-americanos
mais importantes, então Edwards seria provavelmente o primeiro. Um grande
pregador e intérprete de teologia puritana, o legado de Edwards projetou uma
longa sombra sobre o evangelicalismo norte-americano.

C. S. Lewis: não o considero essencialmente um teólogo. Ele foi um apologista


ótimo, e articulou habilmente os fundamentos da fé cristã. Mas dificilmente se
pode falar de uma escola teológica “lewisana” que se desenvolveu por causa
de suas contribuições.

Em quem mais você pensa? Você acha que eu acertei ou errei?

Traduzido por Daila Fanny.

Quem foi o primeiro teólogo do mundo?

Platão foi o primeiro filósofo a fazer uso da palavra teologia. Somente a partir do
século IV a palavra teologia é usada no universo literário cristão. Foram os Padres da
Igreja que começaram a chamar a reflexão sobre Deus de teologia.

TEÓLOGOS IMPORTANTES DA
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

A Teologia, às vezes chamada de Ciência Sagrada, é o estudo de


Deus e de tudo aquilo que diz respeito a Deus.

No prólogo à Summa Teológica, S. Tomás de Aquino afirma que a


Teologia consiste no estudo de Deus considerado em si mesmo, do
homem na medida em que se ordena a Deus, e do caminho pelo qual o
homem pode alcançar a Deus, que é Cristo.

Também Hugo de S. Vitor, em Os Mistérios da Fé Cristã, diz que a


Teologia é um estudo ordenado dos ensinamentos contidos nas
Sagradas Escrituras, que consistem essencialmente na obra da
restauração humana realizada por Cristo.

O estudo da Teologia, suposta sempre a humildade, sem a qual,


segundo Hugo de S. Vitor, nenhum verdadeiro aprendizado é possível,
quando acompanhado por uma vida de virtude, se realizado sobre as
obras daqueles cujas vidas foram marcadas por uma santidade
eminente e em cujos escritos nota-se, dentre os dons do Espírito
Santo, uma clara influência do dom de entendimento, é um instrumento
para uma compreensão mais profunda do Evangelho e para o
crescimento das virtudes da fé, da esperança e da caridade, as
chamadas virtudes teologais, através das quais a graça opera a
santificação dos homens.

A Igreja, em seus dois mil anos de existência, foi riquíssima pelo


número de teólogos que despontaram em seu meio, eminentes em
santidade e sabedoria. Fazer uma lista de todos seria uma
extensíssima tarefa, pelo que, a seguir, citaremos apenas alguns
dentre os principais, os quais, pelo exemplo de suas vidas e pela
pureza de seus ensinamentos merecem que nos sejam particularmente
queridos, pois a familiaridade com os seus escritos nos permite
compreender mais facilmente a profundidade dos ensinamentos de
Jesus.

O estudo das obras dos teólogos aqui enumerados pressupõe, além da


prática da vida cristã, um conhecimento razoável das Sagradas
Escrituras e uma noção da História da Igreja. O das obras de Santo
Tomás de Aquino, em particular, além destes requisitos, pressupõe
também uma noção da História da Filosofia e o conhecimento dos seus
Comentários a Aristóteles.

1. Santo Antão.
Santo Antão nasceu em uma pequena aldeia no interior do
Egito, no ano 250 da era cristã. Aos vinte anos de idade,
após a morte repentina de seus pais, vendeu a fazenda de
que era herdeiro, distribuíu o dinheiro aos pobres e retirou-
se durante algum tempo junto à cabana de um ancião que o
ensinou como conduzir uma vida dedicada à oração. Mais
tarde internou-se no deserto egípcio onde, em uma solidão
praticamente ininterrompida, durante cerca de 35 anos
seguidos viveu somente para orar. Depois disto, por volta
dos seus 55 anos de idade, embora habitasse no deserto e
em locais de difícil acesso, Antão começou a ser procurado
por pessoas que a ele se dirigiam vindos de todas as partes
do Império Romano; muitos que o procuravam depois que o
encontravam não mais queriam retornar aos seus lugares
de origem, e passaram a formar pequenas comunidades no
deserto dedicadas à oração, as quais deram origem, na
Igreja, à vida monástica. Não obstante a vida rigorosa que
levava, S. Antão morreu no deserto do Egito em idade
avançada aos 105 anos. Embora não tenha sido alguém que
tenha se dedicado sistematicamente ao estudo, à escrita ou
ao ensino, e não seja geralmente considerado, por isto
mesmo, como um teólogo no sentido estrito do termo,
deixou entretanto uma coleção de cartas que,
aparentemente simples quando de uma primeira leitura,
estão na realidade entre os escritos da tradição cristã em
que mais profundamente transparece o conhecimento das
coisas divinas.

2. Santo Agostinho.
Nasceu em 354 DC no norte da África e ainda jovem mudou-
se para o norte da Itália, onde estudou a arte retórica e
tornou-se professor da mesma. Graças à intervenção de
Santo Ambrósio, bispo de Milão, converteu-se à vida cristã
que, embora educado nela, há tanto tempo tinha
abandonado. Voltou então para a sua terra natal onde
tornou-se sacerdote e depois bispo, morrendo no ano 430
DC. Embora Santo Agostinho seja mais conhecido por ter
escritoAs Confissões e A Cidade de Deus, entre seus livros
merecem ser citados também o Comentário ao Evangelho
de São João, escrito sob a forma de uma seqüência de
sermões, as Enarrationes in Psalmos, nas quais ele
comenta todos os salmos da Bíblia e, principalmente, a sua
obra mais profunda, que é, sem dúvida alguma, o Tratado
sobre a Santíssima Trindade.

3. Hugo de São Vítor.


Hugo de S. Vítor nasceu no ano de 1096 na Alemanha, que
na época chamava-se Sacro Império Romano Germânico.
Ainda jovem, sentindo-se chamado para a vida religiosa, foi
aconselhado por seu tio que era bispo a mudar-se para
Paris e ingressar no Mosteiro de São Vitor, pertencente à
congregação recentemente fundada dos Cônegos Regulares
de São Vitor, que hoje não existe mais.

Junto ao mosteiro de São Vítor havia uma escola de


Teologia. Com o tempo, Hugo de S. Vítor tornou-se
professor nesta escola e mais tarde também o seu diretor e
principal organizador. Ali veio a falecer no ano de 1141. Em
suas obras Hugo de S. Vitor mostrou como o estudo da
ciência sagrada pode ser utilizado como instrumento para o
desenvolvimento das virtudes e da vida espiritual. Deixou
uma obra conhecida como Os Mistérios da Fé Cristã que foi
o primeiro texto da Igreja Latina em que se tentou fazer uma
síntese abrangente de toda a doutrina cristã; Os Mistérios
da Fé Cristã foi, de fato, a primeira de todas as Summas
Teológicas que começaram a aparecer em seguida, desta
maneira preparando o caminho para o surgimento da
importantíssima Summa Teologica de Santo Tomás de
Aquino duzentos anos mais tarde. Hugo de São Vítor tinha
um amor imenso pelo estudo das Sagradas Escrituras,
tendo deixado de alguns dos livros da Bíblia comentários de
raríssima beleza. Em um opúsculo intitulado Sobre o modo
de Aprender e de Meditar Hugo de S. Vitor deixou definições
notáveis sobre a contemplação, as quais desenvolveu,
estendendo as concepções fundamentais do Tratado sobre
a Santíssima Trindade de Santo Agostinho, no Sétimo Livro
do Didascalicon, também conhecido como o Tratado dos
Três Dias, do qual existe uma tradução portuguesa. A obra
de Hugo de S. Vitor é bastante extensa, o que torna
impossível comentá-la toda no pequeno espaço destas
páginas.

4. Ricardo de São Vítor.


Ricardo de São Vítor nasceu na Escócia e, atraído pela fama
do Mosteiro de São Vitor, em que na época ensinava Hugo,
ainda jovem mudou-se para Paris onde foi admitido entre os
vitorinos. Foi, assim, aluno de Hugo de S. Vitor, a quem
admirava profundamente. Anos mais tarde, quando Hugo
faleceu, Ricardo continuou sua obra com tanta fidelidade
que o conjunto de ambas, a de Hugo e a de Ricardo,
constituem na verdade como que uma só obra. Na Divina
Comédia, quando descreve o Céu, Dante Alighieri cita
Ricardo de S. Vitor e diz que, quando falou sobre a
contemplação, Ricardo de S. Vitor foi "mais do que humano,
verdadeiramente sobre humano".

A obra de Ricardo de São Vítor é, em extensão,


aproximadamente um terço da de Hugo, mas é tão notável
em perfeição quanto a do mestre. Entre seus livros cita-se
um tratado de uma beleza indescritível Sobre a Santíssima
Trindade, que é, de certa forma, um aprofundamento
do Tratado dos Três Dias de Hugo. Ricardo escreveu
também um livro, conhecido como Benjamim Menor, em que
faz um comentário alegórico à vida dos filhos de Jacó tal
como é narrada pelas Sagradas Escrituras no livro de
Gênesis, no qual descreve o crescimento das virtudes como
preparação à vida contemplativa, e sua continuação,
o Benjamim Maior, outro comentário alegórico à descrição
contida no livro de Êxodo sobre o modo como deveria ser
construída a Arca da Aliança, em que nos mostra seis
estágios no desenvolvimento da vida contemplativa.
Ricardo de S. Vitor deixou também aquele que talvez seja o
mais belo comentário ao Apocalipse escrito pela tradição
cristã.
5. Santo Tomás de Aquino.
S. Tomás de Aquino nasceu na Itália, perto de Nápoles, em
1225, e morreu durante uma viagem, também na Itália, em
1275, depois de ter sido durante muitos anos professor na
Universidade de Paris. Tomás foi padre da Ordem
Dominicana, na época recém fundada por São Domingos,
uma ordem nascida para se dedicar à oração, ao estudo e
ao ensino da mensagem do Evangelho. Santo Tomás de
Aquino foi, indiscutivelmente, e na opinião de toda a Igreja,
o principal de todos os teólogos. Suas obras são tão
sublimes que, poucos meses antes de morrer, estando em
oração, o próprio crucifixo teria se movido e lhe perguntado:

-"Tomás, escreveste muito bem


a meu respeito.
Dize-me, o que queres
em recompensa?"

Ao que Tomás respondeu:

-"Nada, Senhor, senão o teu amor".

Santo Tomás de Aquino escreveu sobre praticamente todos


os assuntos da Filosofia e Teologia. Tinha uma capacidade
de concentração fora do comum, dormia pouquíssimo e
passava praticamente todo o tempo orando, estudando,
escrevendo ou ensinando. Muitas vezes, para ganhar tempo,
em vez dele mesmo escrever, ditava a quatro pessoas
diferentes quatro livros diversos ao mesmo tempo. Entre as
suas obras mais notáveis de Filosofia estão o opúsculo
intitulado De Ente et Essentia e uma série de extensos
comentários a quase todos os livros de Aristóteles, o
principal filósofo grego; entre as de Teologia estão
a Summa contra Gentiles, obra verdadeiramente
extraordinária que lhe serviu como preparação para poder
escrever posteriormente seu trabalho mais importante,
a Summa Teologica, uma síntese de toda a doutrina cristã
que representa a culminância de um longo trabalho
desenvolvido durante aproximadamente duzentos anos por
uma série de sábios que teve como ponto de partida Os
Mistérios da Fé Cristã de Hugo de São Vitor.

6. Santa Teresa de Ávila.


Santa Teresa nasceu na Espanha, em 1515, e morreu
também na Espanha em 1538. Durante a sua juventude
ingressou na Ordem Carmelita, mas seguiu as regras da
comunidade de modo bastante displicente. Certo dia foi
presenteada com um livro chamado "Terceiro Abecedário
Espiritual", escrito por um sacerdote franciscano falecido
então há pouco tempo. Neste livro, em 23 capítulos
dispostos como as letras de um alfabeto, Teresa encontrou
fartamente documentada a necessidade da oração e uma
orientação concreta sobre como vivê-la. Decidiu-se então a
seguir os conselhos do livro ainda que fosse a última coisa
que fizesse em sua vida. Vinte anos mais tarde estava
completamente transformada, e após si reformou a Ordem
Carmelitana, iniciando o Carmelo Descalço. Santa Teresa
deixou-nos meia dúzia de obras que tratam principalmente
sobre o desenvolvimento da vida espiritual através da
oração. Entre estas as principais são a sua autobiografia,
em que descreve a transformação que ocorre na alma
humana através da vida de oração, e o Castelo Interior,
escrito poucos anos antes de sua morte e cerca de duas
décadas depois de sua autobiografia. No Castelo
Interior Teresa compara a alma humana a um castelo em
que há uma seqüência de sete moradas, uma interior à
outra; a maioria dos homens encontra-se do lado de fora
deste castelo, mas na sétima e mais interior morada Deus
espera o homem que, com o auxílio da graça, se dispuser a
percorrê-las através da oração.

7. São João da Cruz.


São João da Cruz foi amigo e colega de Santa Teresa de
Ávila na fundação do Carmelo Descalço. Como ela, nasceu
também na Espanha, filho de pais muito pobres. Ainda
jovem, e já órfão, para poder estudar teve que trabalhar
como voluntário em um hospital. Ingressou depois na
Ordem Carmelita e, ao estudar Teologia, começou a
interessar-se por iniciativa própria pelo questão da natureza
da contemplação. Já estava para abandonar o Carmelo e
passar para a ordem mais austera dos cartuxos quando
encontrou Santa Teresa que o convidou a participar da
reforma carmelita. Depois da morte de Teresa, João da Cruz
escreveu quatro livros notáveis para complementar a obra
deixada por Santa Teresa, em que trata do processo da
santificação do homem. Na primeira metade do século XX o
P. Crisógono de Jesus Sacramentado escreveu uma
excelente biografia sobre S. João da Cruz, quase tão
importante quanto os próprios escritos de São João da Cruz
para uma compreensão mais profunda de suas obras.

8. Santo Afonso de Ligório.


Santo Afonso nasceu em Nápoles, no sul da Itália, em 1696,
vindo a falecer em 1787. Jovem de muita piedade e
inteligência, aos dezesseis anos já era advogado famoso
das cortes italianas. Aos 27 anos, percebendo que, devido a
uma inadvertência, quase havia cometido uma injustiça ao
defender uma causa, abandonou definitivamente o exercício
da advocacia e se tornou sacerdote. Fundou alguns anos
depois a Congregação do Santíssimo Redentor e, sentindo a
responsabilidade implicada no ensino da Teologia Moral aos
futuros sacerdotes de sua congregação, passou a ensinar
pessoalmente esta matéria aos seus seminaristas. Foi deste
magistério que nasceram as suas obras mais importantes,
os tratados de Teologia Moral, fundamentados em princípios
de validade perene para todas as épocas. Escreveu também
numerosas obras de piedade, a primeira das quais um livro
sobre as Glórias de Maria, que lhe custou aproximadamente
20 anos de pesquisa, e um notável livro sobre a oração.

9. Pio XII.
Pio XII foi um dos mais importantes pontífices que a Igreja
teve em sua história. Eleito pouco antes do início da
Segunda Guerra Mundial, governou a Igreja durante esta
guerra e após o seu término, até 1958. Para os observadores
pouco atentos sua vida parecia consistir apenas em uma
carreira dedicada à diplomacia e à política do Vaticano. Foi,
de fato, diplomata da Santa Sé e depois Secretário de
Estado do Vaticano antes de ser elevado ao pontificado.
Mas, depois de eleito, escreveu várias encíclicas que são na
realidade notabilíssimos trabalhos de Teologia. Entre elas
as mais importantes são a encíclica Mediator Dei sobre a
liturgia e a natureza do sacrifício da missa e a
encíclica Mystici Corpori Christi, sobre o mistério da Igreja,
esta última sendo um aprofundamento de uma outra
encíclica mais antiga, a Satis Cognitum, escrita em 1896 por
Leão XIII, sobre o mesmo assunto. Não foi uma simples
coincidência o fato de que, depois do término do pontificado
de Pio XII, quando os papas João XXIII e Paulo VI, entre os
anos de 1962 e 1965, convocaram e conduziram o Concílio
Vaticano II, a liturgia, a missa e o mistério da Igreja
estiveram entre os assuntos mais importantes de seus
documentos.

Pio XII é uma personalidade recente. Antes de ser papa,


visitou o Brasil e esteve no Rio de Janeiro, no alto do
Corcovado. Ainda hoje, na sacristia da Basílica do Carmo,
no bairro da Bela Vista, em São Paulo, conservam-se em
uma vitrine os trajes que ele usou durante o seu pontificado.

10. São João Crisóstomo.


Na ordem cronológica, S. João Crisóstomo deveria ter sido
colocado nesta apresentação depois de Santo Agostinho. De fato,
ele nasceu na Síria por volta do ano 350 DC e morreu no ano 407
DC, exilado em uma longínqua cidade da margem oriental do Mar
Negro, embora fosse o bispo legítimo da cidade de Constantinopla,
então a capital do Império Romano.

Antes de ter sido bispo, João Crisóstomo foi padre, diácono e


monge. Provavelmente João foi o escritor mais prolífico do
primeiro milênio do Cristianismo, a maioria de seus escritos sendo
cópias taquigrafadas dos muitíssimos sermões que ele fazia, nos
quais ele comenta a maioria dos livros das Sagradas Escrituras.
Dentre estes sermões suas obras mais famosas são a série de
90 Sermões sobre o Evangelho de São Mateus e a série dos
32 Sermões sobre a Epístola aos Romanos.

Mas ele merece ser citado nesta lista por ter sido uma das pessoas
que mais profundamente entenderam a importância do preceito que
Jesus deixou à Igreja de ensinar. No livro que São João Crisóstomo
nos deixou intitulado Sobre o Sacerdócio, ele nos mostra
claramente que para Jesus ensinar é a maior prova de amor, e no
livro Contra os Adversários da Vida Monástica ele nos fala de modo
especial sobre as conseqüências benéficas que adviriam se
aqueles que ensinam tivessem consciência que mais do que a
quaisquer outros é necessário ensinar às crianças.

"Se nós adotássemos este ponto de vista",

diz S. João Crisóstomo,

"e tratássemos antes de tudo o mais


de conduzir as crianças à virtude,
bem persuadidos de que isto é o importante
e que tudo o mais é acessório,
seriam tantos os bens que daí resultariam que,
se eu os tentasse descrever,
meus leitores pensariam
que eu não poderia estar falando sério;
mas eu tenho que lhes dizer que então
o gênero humano tocaria as próprias fronteiras
da natureza angélica".

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