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Curso de Iniciação Cristã

Aula 2 – Creio em Deus Pai, Criador do Céu e da Terra

2022
Sumário
Aula 02 - Creio em Deus Pai, Criador do Céu e da Terra ............................................................. 2
Um só Deus, Pai Todo-Poderoso............................................................................................ 3
A Santíssima Trindade e o Todo Poderoso ............................................................................. 4
Os relatos da criação ............................................................................................................. 5
A questão do ‘princípio’ ........................................................................................................ 5
O primeiro relato da Criação ................................................................................................. 6
O segundo relato da Criação: o Pecado Original .................................................................... 7
As criaturas invisíveis ............................................................................................................ 7
Perguntas para reflexão ........................................................................................................ 9
1 - Símbolo Atanasiano ou Quicumque ................................................................................ 10
2 - Os relatos da Criação no livro do Gênesis (Gn 1-3) .......................................................... 11
Primeiro relato da Criação................................................................................................... 11
Segundo relato da Criação................................................................................................... 12
Aula 02 - Creio em Deus Pai, Criador do Céu e da Terra

Nosso estudo da Doutrina Católica começa pelo Credo. Iremos analisar cada um dos artigos de
nossa fé, aprofundando-nos no seu significado.

O Credo não é uma oração, mas uma profissão de fé. Sua formação se deu ao longo de muitos
anos e envolveu a discussão de eminentes teólogos da Igreja. Professamos nossa fé hoje
utilizando duas formulações do Credo: o Símbolo dos Apóstolos e o Credo Niceno-
Constantinopolitano). Abaixo apresentamos os dois símbolos:

Credo Niceno-Constantinopolitano Símbolo dos Apóstolos


Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador Creio em Deus Pai Todo Poderoso,
do Céu e da Terra, De todas as coisas visíveis e Criador do Céu e da Terra
invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo Filho e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos
os séculos, Deus de Deus, luz da luz, Deus
verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não
criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as
coisas foram feitas. E por nós, homens, e para
nossa salvação desceu dos Céus
E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
Maria e se fez homem. nasceu da virgem Maria;
Também por nós foi crucificado sob Pôncio padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto
Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao e sepultado; desceu à mansão dos mortos;
terceiro dia, conforme as Escrituras; ressuscitou ao terceiro dia;
e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai
Pai. De novo há-de vir em sua glória para julgar os Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos
vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim. e os mortos
Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e Creio no Espírito Santo
procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é
adorado e glorificado: Ele que falou pelos
Profetas.
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. na Santa Igreja católica, na comunhão dos Santos,
Professo um só batismo para a remissão dos na remissão dos pecados, na ressurreição da
pecados. E espero a ressurreição dos mortos e carne, na vida eterna.
vida do mundo que há-de vir .
Amém Amém

O Símbolo dos Apóstolos tem esse nome pois remonta aos Doze Apóstolos escolhidos por
Cristo. Sua redação tal como hoje a professamos evoluiu gradualmente, muito ligada à
catequese preparatória para o batismo e ao combate de heresias, dentre elas o gnosticismo.
Existe uma tradição que afirma que esse Símbolo é o resultado de nada menos que um comum
acordo, alcançado pelos Apóstolos, acerca dos fundamentos da doutrina cristã, apaziguado
antes de eles partirem para as primeiras pregações.

O Credo Niceno-Constantinopolitano, por sua vez, é o resultado de um longo processo de


amadurecimento da fé da Igreja, o qual durou cerca de quatro séculos. Foi definido nos Concílios
de Nicéia (ano 325 d. C.) e de Constantinopla (381 d. C.) e tinha como um dos objetivos defender
a fé contra o arianismo (uma heresia que tinha como principal ponto a negação da divindade de
Cristo).
Um trabalho prévio a esses Concílios, que teve enorme influência na formulação do Credo, é o
livro ‘Os Princípios’, de Orígenes, escrito por volta do ano 250. Orígenes viveu numa época em
que ainda havia gente que lembrava que seu bisavô conheceu alguém que conheceu os
Apóstolos. Ou seja, a vinda de Jesus e dos apóstolos não era algo tão longínquo no tempo. E
Orígenes percebeu que nas várias Igrejas de então (de Nicéia, de Atenas, de Corinto, de
Antioquia, de Alexandria, etc.), falavam-se muitas coisas sobre o cristianismo, muitas delas
inventadas, às vezes até por motivos piedosos. Na tentativa de entender o que era comum a
todas as Igrejas, ele fez uma peregrinação em que prestou o louvável trabalho de buscar o que
era e o que não era próprio do fundamento da verdadeira doutrina cristã, fazendo, de certo
modo, a pesquisa básica que posteriormente foi utilizada nos Concílios de Nicéia e
Constantinopla.

O católico deve saber de cor esses símbolos, pois reúnem os artigos centrais da sua fé. Mas não
basta memorizar, o desafio é incorporar cada uma das verdades que o Credo explicita na própria
vida. Precisamos saber explicar o sentido de cada um dos artigos do Credo e saber refutar as
objeções que comumente se levantam contra eles. Apesar de ser o ponto final de uma série de
discussões teológicas que aconteceram nos primeiros séculos do cristianismo, não podemos cair
na ilusão de que o trabalho teológico, ou seja, o trabalho de reflexão, está finalizado. Temos de
fazer nossa parte; como diz São Pedro em sua primeira epístola: “estejam sempre preparados
para responder a qualquer pessoa que vos questionar quanto à esperança que há em vós”. 1Pe
3, 15. Para cada um de nós que se defronta com o Credo pela primeira vez, ele é o ponto de
partida. Devemos ser muito gratos a todos aqueles que tanto estudaram e rezaram para que o
Credo fosse formulado e chegasse até nós hoje. Mas tanto mais os honraremos, se mais
intensamente trilharmos o caminho que eles trilharam e procurarmos compreender
profundamente tudo o que faz parte da nossa fé.

A própria palavra ‘Credo’, quem em latim significa ‘Creio’, nos compromete. Declarar que se crê
significa que aquele conteúdo revelado foi assumido por nós como verdade. O ato de fé,
segundo Santo Tomás de Aquino, é um “pensar com assentimento”, ou seja, é um ato do nosso
pensamento que capta uma verdade não pela evidência imediata do objeto conhecido, mas
porque a vontade se inclina a aceitar o conteúdo apreendido como verdade. Portanto, para crer
é preciso querer e quando dizemos: ‘Creio’, estamos expressando nossa voluntariedade livre,
que adere à verdade revelada.

Um só Deus, Pai Todo-Poderoso


O primeiro artigo, seguindo o Credo Niceno-Constantinopolitano, reza o seguinte: “Creio em um
só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”.

Na Carta aos Romanos, São Paulo escreve: “As perfeições invisíveis de Deus — não somente seu
poder eterno, mas também a sua eterna divindade — são claramente conhecidas, através de
suas obras, desde a criação do mundo” (Rm 1, 20). Isto significa que podemos conhecer muitas
coisas de Deus através de sua criação. De fato, mesmo antes da revelação judaico-cristã, os
homens chegaram a um profundo conhecimento sobre Deus, como nos atesta a filosofia grega,
por exemplo, ao dizer que Deus é a forma suprema do ente ou o Motor-Imóvel do Universo.

No entanto, o homem por si mesmo encarou a divindade de formas contraditórias ao longo de


sua história. Não foram poucos os povos que creram em diversos deuses (politeísmo), ou que
identificaram a Deus com elementos da natureza (panteísmo), ou simplesmente negaram a
existência de Deus (ateísmo). Como falávamos na aula anterior, o diferencial da tradição judaico-
cristã é esse movimento de Deus em direção ao homem, revelando-se e ajudando a debilidade
humana a conseguir um conhecimento mais profundo do próprio Deus.

O Deus que se revela é próximo ao homem, interessado pela sua vida. Na filosofia grega Deus
é o ser supremo, mas distante do homem, visto por muitos inclusive como alheio à vida humana
(agnosticismo). A revelação nos aproxima de Deus até culminar com o próprio Cristo Jesus nos
apresentando Deus como Pai: “pois o próprio Pai vos ama”, nos disse Jesus no Evangelho de São
João.

Nosso Senhor também nos revelou que Deus é um em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
O CIC 261 diz o seguinte: “O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida
cristã. Só Deus pode dar-nos o seu conhecimento, revelando-Se como Pai, Filho e Espírito Santo”.
Como compreender a Trindade em Deus?

A Santíssima Trindade e o Todo Poderoso


O conhecimento de como Deus é em si mesmo é inacessível à investigação da razão por suas
próprias forças. Somente a revelação pode nos mostrar algo desse mistério e, mesmo assim,
será sempre limitado, pois estará condicionada à nossa capacidade de entendimento que jamais
vai esgotar o que Deus é em si mesmo. Mas Deus tomou a iniciativa e se deu a conhecer,
revelando ser a Santíssima Trindade, um só Deus em Três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.

A revelação que Jesus Cristo fez do mistério da Trindade está recolhido em diversos pontos dos
Evangelhos. É interessante notar que a primeira frase de Jesus, ainda uma criança, e a última,
antes de morrer na Cruz, fazem referência a Deus Pai. Quando Jesus aos doze anos é achado no
Templo por Maria e José, ele exclama: “Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu
Pai?” Lc 2,49. E depois, logo antes de morrer, exclama: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito” Lc 23, 46. Após sua Ressurreição e antes de subir aos Céus, as suas últimas palavras são
uma referência explícita à Trindade: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois,
fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Mt 28, 19.

Neste último pedido aos discípulos, Jesus coloca as três Pessoas da Trindade no mesmo nível,
mostrando terem as três a mesma dignidade. São inúmeros os episódios que poderíamos citar
além desses. Um dos mais significativos é o momento do batismo de Cristo, quando o Pai o
chama de Filho Amado e o Espírito Santo vem sobre Ele (cf. Mt 3, 13-17). Enfim, toda a vida de
Cristo é uma revelação da Trindade.

Estas passagens das Escrituras são o ponto de partida da reflexão teológica que a Igreja fez (e
continua fazendo) ao longo dos séculos. No começo do cristianismo, a compreensão da Trindade
foi crescendo na medida em que a reflexão filosófica-teológica se aprofundava, culminando na
monumental obra de Santo Agostinho (354-430), o De Trinitate, onde encontramos ainda hoje
um dos cumes da reflexão trinitária. Por volta do século V ou VI, foi elaborado um ‘símbolo
trinitário’, uma profissão de fé na Trindade, que é atribuída a Santo Atanásio, ainda que se
especule hoje que não é de sua autoria (não obstante, entrou para a história como Símbolo
Atanasiano). Essa profissão de fé desde o séc. IX era rezada na festa na festa da Santíssima
Trindade e nos exorcismos1. O Símbolo Atanasiano enuncia diversas verdades sobre a Trindade,
mas não procura compreender por que isto é assim. Compreender a profundidade do mistério
é uma tarefa árdua, que exige muita profundidade teológica e muita oração. Santo Agostinho

1
O texto do Símbolo Atanasiano está na leitura complementar.
chegou a dizer, falando sobre a Trindade: “em nenhum assunto mais perigosamente se erra, em
nenhum a busca pela verdade é mais laboriosa e a descoberta mais frutuosa” (De Trinitate I, 3).
Além da obra de Santo Agostinho, outro livro que é um marco na reflexão trinitária é o ‘Tratado
sobre a Santíssima Trindade’ de Ricardo de São Vítor (1110-1173). Em Santo Tomás de Aquino
que vemos a reflexão trinitária chegar ao cume. Ele dedica, na Primeira Parte da Suma Teológica,
16 questões que se desdobram em 74 artigos inteiramente para explicar a Trindade . Sua
reflexão é sistemática e profunda, se apoia em toda reflexão anterior a Ele.

Quando proclamamos que Deus é ‘Todo Poderoso’, nos referimos à sua onipotência. O Salmo
115 diz de Deus: “Faz tudo quanto lhe apraz”. Deus exerce seu poder em conjunto com sua
paternidade: “Serei para vos um Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas, diz o Senhor todo
poderoso” 2 Cor 6,18. Tudo dispõe para nosso bem, perdoa nossos pecados e se permite o mal
é para dele tirar um bem.

Os relatos da criação
A criação é o fundamento de todos os desígnios de Deus e o princípio da revelação que culmina
com Cristo (cfr. CIC 279). Deus criou o mundo para compartilhar sua vida íntima de amor e
comunhão entre as Pessoas da Trindade.

“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1, 1). Assim começam as Sagradas Escrituras, no
livro do Gênesis. Muitas pessoas se indispõem com o relato da criação tal como apresentado
nesse primeiro livro da Bíblia, argumentando que a ciência já desbancou tal visão do mundo.
Invocam as teorias científicas do Big-Bang, da Evolução, como ‘provas’ que desqualificariam a
visão cristã da criação.

Quem, no entanto, faz tal objeção, prova apenas sua própria ignorância. O relato da Criação no
livro do Gênesis não tem a pretensão de ser um relato científico. Possui antes uma “linguagem
de imagens”, que por meio de diversos ‘simbolismos’ evidenciam realidades muito além do que
um relato literal o poderia fazer (cfr. CIC 390).

Existem dois relatos da criação no começo do Gênesis, o primeiro é o relato da criação em sete
dias (Gen 1 a Gen 2, 3) e o segundo o relato de Adão e Eva e do pecado original (Gen 2,4 a Gen
4). Um complementa o outro e ambos dão testemunho de verdades fundamentais sobre o
mundo criado e sobre o ser humano.

A questão do ‘princípio’
“No princípio Deus criou o Céu e a Terra”. Esse primeiro verso da Bíblia se articula de modo
impressionante com o primeiro verso do Evangelho de São João, em que lemos: “No princípio
era o Verbo...”. Estas frases nos ensinam que o mundo não é fruto do acaso, mas foi criado por
Deus do nada. Antes de existir na realidade, o mundo existia, digamos assim, na ‘mente’ de
Deus. Um outro modo de colocar isso é dizer que o mundo era uma possibilidade em Deus antes
de ser criado. Vamos elaborar mais o raciocínio.

Supondo que a teoria do Big-Bang esteja correta, ou seja, que o mundo tenha surgido de uma
‘explosão’ inicial de energia condensada, seu desenrolar a partir do momento inicial até hoje
supõe a validade universal das leis da física durante todo o processo. No entanto essas leis
precisam preexistir ao próprio fenômeno físico, pois são sua razão da inteligibilidade, do
contrário, não ocorreriam.

Assim, mesmo antes da matéria e da evolução física dela, devem existir as leis que regem seu
comportamento, ou dito de forma mais rigorosa, deve haver uma inteligibilidade prévia que
explique o processo. Por exemplo, sabemos que se juntarmos H₂ + ½ O₂, temos H₂O. A validade
da lei que rege a interação dessas duas substâncias, tal como expressa na fórmula apresentada,
deve preexistir às próprias substâncias particulares, do contrário, quando elas se encontrassem,
não ocorreria a reação tal como observamos. A observação da realidade consegue chegar a leis
que regem seu comportamento, leis mais ou menos exatas, dependendo do fenômeno.
Supondo que são totalmente exatas, elas apenas colocam em evidência o racional prévio à
própria matéria. Temos que, portanto, uma visão completamente materialista do universo
simplesmente não faz sentido. A razão de ser do mundo criado, seu logos, subsiste a todas as
coisas, remontando ao próprio Deus.

O mais incrível dessa explicação é perceber que no começo do Evangelho de São João, o
evangelista utiliza-se de expressões similares ao início do Gênesis, mas completa o relato da
criação fazendo referência a esse logos divino. Assim lemos em Jo 1,1-3: “No princípio era o
Verbo [logos no grego original], e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava
no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que
existe”. O Verbo é o logos divino, a razão de todas as coisas e o princípio de existência de tudo.

São João nos ensina que o “Verbo era Deus, (...) e se fez carne”, referindo-se a Jesus Cristo.
Concluímos que Deus fez tudo por meio do Filho. São Paulo testemunha a mesma coisa ao dizer
na Carta aos Colossenses: “Nele [seu Filho muito amado, imagem de Deus invisível] foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis (...): tudo foi criado
por ele e para ele” Col 1, 16.

O primeiro relato da Criação


O primeiro relato2 foi redigido por volta do século V a.C., quando o povo judeu voltara do exílio
da Babilônia e se organizavam como comunidade e, por isso, constituíam suas tradições. Muitos
escritos do Antigo Testamento foram redigidos nesta época. O povo judeu já tinha vivido
momentos de grandeza e penúria, glória e escravidão. Conheciam as histórias de Abraão e
demais patriarcas, a libertação do Egito pelos feitos de Moisés, já tinha vivido a grandiosidade
dos reinados do Rei Davi e de Salomão e depois visto a dissolução destes reinos e a força
conquistadora de outros povos que os subjugou. A moral do povo eleito estava em baixa, sua
grandiosidade era coisa do passado, viviam circundados por diversos povos de diversas tradições
religiosas que ameaçavam a fidelidade daquele povo à sua tradição.

O relato das origens tem, para aquele povo, um sentido de nostalgia do passado e do paraíso,
mas também apontavam para o futuro, para uma esperança. Naquela situação de exílio,
circundados por povos politeístas, o Gênesis afirma a fé num Deus Único e Todo-Poderoso. As
religiões da época confundiam a divindade com fenômenos naturais ou com animais e o Gênesis
afirma que o Deus dos patriarcas é maior que tudo isso, pois os criou simplesmente com o poder
de sua palavra. No relato repete-se com frequência: ‘então Deus disse... e assim se fez’. Deus
simplesmente fala, ordena e, com isso, manifesta seu poder criador.

Neste relato vemos como se explica a criação de todo o mundo, até culminar com a criação do
homem. Deus prepara o cenário, digamos assim, para sua obra-prima. Quando faz o ser humano,
não apenas o traz à existência, mas o faz semelhante a Si mesmo e lhe dá o domínio de tudo:
“Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que domine sobre
os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os
animais que se movem pelo chão. Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o

2
Cf. Leitura complementar 2
criou. Homem e mulher ele os criou” Gn 1, 26-27. A centralidade do ser humano mostra sua
dignidade e a bondade de Deus. O faz ‘capaz de Deus’, pois é semelhante a Ele em sua própria
natureza.

A criação termina no primeiro relato dizendo que Deus descansou no sétimo dia. É um descanso
contemplativo, uma admiração da própria criação. O autor do texto sagrado queria fazer
referência ao Sábado judaico, dia dedicado ao serviço divino e à oração. Veremos mais adiante
que a tradição cristã transfere o dia santo para o Domingo, dia da Ressurreição de Jesus,
rememorando tanto o primeiro dia da criação, como a nova criação operada por Cristo ao nos
redimir.

O segundo relato da Criação: o Pecado Original


No segundo relato da criação, temos a introdução de personagens específicos: Adão e Eva, a
serpente, além do relato do pecado original. Esse relato fala de uma humanidade inicial criada
por Deus, feita à sua semelhança, que inserida no mundo tinha domínio sobre todas as coisas.
Eram seres livres, podiam se autodeterminar para um fim específico e sabiam que o único fim
legítimo, o único bem em última instância, era o próprio Deus. A serpente personifica o mal, o
demônio tentador, que busca convencer Adão e Eva e serem eles próprios fundamentos de si
mesmos e conhecedores do bem e do mal, não precisando de Deus para isso. A árvore do bem
do mal simboliza esta distância entre o Deus criador, fundamento do bem e do mal, e sua
criatura, que proibida de comer do fruto dessa árvore, deve respeitar essa ordem.

Seduzidos pela serpente, eles comem do fruto proibido e rompem a aliança com Deus. Sofrem,
então, as penas do seu pecado. Com o pecado original, o homem cai na desgraça da separação
em relação a Deus, ficando sujeito às leis da natureza (sofrimento, suor pelo trabalho, morte).
Entra no mundo a realidade do pecado, que assalta toda natureza humana, que cada um de nós
é testemunha por conhecimento próprio. Deixado por si mesmo, o homem já não tem acesso a
Deus, ainda que encontra em si um ‘desejo de Deus’ que o levou, ao longo da história, a
diferentes manifestações de religiosidade (como vimos na primeira aula). É como se a partir
daquele momento um novo ser humano nascesse, com a culpa do pecado, ainda que não seja
uma culpa moral, mas de natureza. Nós somos descendentes dessa humanidade ‘caída’.
Experimentamos em nós mesmos e no mundo a desordem da natureza humana e ansiamos pela
libertação desse estado.

Se Deus tivesse simplesmente nos esquecido, a história terminaria aqui. Mas não. Depois do
pecado, começou a “obra da restauração humana”, expressão de Hugo de São Vítor, um grande
teólogo medieval. Essa obra Deus o fez através das diversas alianças que constituem a tradição
judaica e prepararam a vinda de Cristo, próprio Deus feito homem, único capaz de reconciliar o
homem, a humanidade, com Deus. A centralidade da doutrina do pecado original está que sem
ela não se compreende a doutrina da redenção.

As criaturas invisíveis
Parte da revelação das escrituras é a existência de criaturas espirituais chamadas de anjos. No
Credo fazemos referências a essas ‘criaturas invisíveis’. O nome ‘anjo’ significa mensageiro. São
espíritos por natureza e, portanto, possuem inteligência e vontade. Mais do que os homens, os
anjos são imagem e semelhança de Deus. São criaturas pessoais e imortais e vivem em profunda
comunhão com Deus, como nos revelou o próprio Cristo: “Eu vos digo que os seus anjos, no céu,
contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus”. Mt 18,12.
Os anjos estão presentes em diversos episódios marcantes da História da Salvação, por exemplo,
quando impedem Abraão de oferecer seu filho Isaac em sacrifício (cf. Gen 22,11) ou quando
revelam a Lei (cf. At 7, 53), ou no anúncio do nascimento de João Batista e do próprio Cristo (cf.
Lc 1, 11.26), ou ainda no anúncio da Ressurreição de Cristo (cf. Mc 16, 5-7).

Nosso conhecimento sobre os anjos se baseia no que as Escrituras revelaram e os teólogos


posteriormente deduziram pelo estudo, considerando a natureza totalmente espiritual dos
anjos. Sabemos que Deus os criou livres e eles tiveram seu momento de exercício da liberdade,
onde alguns, vislumbrados consigo mesmos, quiseram tomar o lugar de Deus, sendo eles
mesmos o fundamento da própria perfeição. Temos uma alusão a esse episódio no último livro
da Bíblia, o Apocalipse: “Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam
contra o Dragão. O Dragão lutou, juntamente com os seus anjos, mas foi derrotado; e eles
perderam seu lugar no céu. Assim foi expulso o grande Dragão, a antiga Serpente, que é
chamado Diabo e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Ele foi expulso para a terra, e os seus
anjos foram expulsos com ele” Ap 12, 7-9. Vemos aqui a revolta de Satanás e outros anjos que
negaram a Deus (que são chamados de anjos caídos ou demônios). Os anjos que se decidiram
por Deus, formam sua corte, são enviados por Deus em missões específicas e cuidam dos
homens (anjos da guarda). No relato do Apocalipse, a corte dos anjos é liderada pelo Arcanjo
Miguel. Nas Escrituras vemos outros dois arcanjos que são nomeados: Rafael e Gabriel.

Por serem espirituais, os únicos pecados que os anjos podem cometer são os de soberba e inveja
(as fraquezas da carne, como preguiça, gula e luxúria, não afetam os anjos). Foi justamente o
pecado de soberba que alguns deles cometeram e, em consequência desse pecado, perderam a
comunhão com Deus. Agora, fixados nesse estado de afastamento de Deus, tem inveja dos
outros anjos e dos homens e, por isso, procuram perder as almas através da mentira, da
sedução, desviando da graça de Deus.

Esta explicação que acabamos de dar, bastante condensada e resumida, não entra no detalhe
da natureza dos anjos e da ação demoníaca no mundo. Livros especializados podem ser
consultados para entender melhor este assunto3. O que precisamos ter em conta é o seguinte:
existem criaturas espirituais criadas por Deus chamadas anjos e, aqueles que se revoltaram
contra Deus, são chamados demônios. Estes últimos não têm acesso a Deus e, por isso, vivem
em estado de revolta e procuram afastar os homens, que ainda estão vivendo seu momento de
prova nesta vida, da comunhão com Deus. Os demônios são criaturas, não tem poder ilimitado.
Mas por serem puros espíritos, são poderosos.

Vivemos num momento da história em que a iniquidade (o mal) tem raízes profundas na
sociedade, em estruturas sociais e econômicas e através de ideologias complexas. O século XX
foi marcado por sistemas totalitários assassinos, genocídios e conflitos que mataram mais
pessoas que em todos os séculos anteriores juntos. É impossível explicar todo este mal sem fazer
referência à ação demoníaca. Existem evidencias documentais que mostram a aliança de
sociedades secretas, líderes eminentes e pensadores com o mundo demoníaco 4.

É um mistério porque Deus permite a ação dos demônios no mundo. Mas, como ensina o
Catecismo citando São Agostinho: “Deus Todo-Poderoso, sendo soberanamente bom, nunca
permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e
bom para do próprio mal, fazer surgir o bem” CIC 311.

3
Cf. ‘Os Anjos’ de São Tomás de Aquino, Editora Edipro.
4
Cf. ‘Brotherhood of Darkness’, de Dr. Stanley Monteith, Official Disclosure.
Perguntas para reflexão
1. Como são chamadas as duas fórmulas do Credo? Por que se diz que o Credo não é
propriamente uma oração?
2. O Credo foi dado aos Apóstolos por Jesus Cristo? Como se deu sua formulação?
3. Se existem provas da existência de Deus, por que Deus mesmo assim quis revelar a sua
própria existência?
4. O que é a doutrina da Santíssima Trindade? Pai, Filho e Espírito Santo: são três deuses
ou um único Deus?
5. O mundo foi criado por Deus ou, como Deus, sempre existiu?
6. Faz sentido nos dias atuais ainda dar algum crédito ao relato da criação do mundo no
livro do Gênesis? Se a ciência diz que o universo tem bilhões de anos, como pode Deus
ter criado o mundo em sete dias?
7. O relato de Adão e Eva é uma mitologia? O que aquele episódio nos releva sobre os
primeiros humanos criados por Deus?
8. Quem é a serpente do pecado original e qual foi a promessa feita à Adão e Eva?
9. Por que é relevante estudar o pecado original, qual sua importância para a doutrina
cristã?
10. Os anjos existem ou fazem parte da mitologia cristã? Qual a diferença entre anjo e
demônio?
Leituras Complementares

1 - Símbolo Atanasiano ou Quicumque


Quem quer salvar-se, deve antes de tudo, professor a fé católica: Pois se alguém a não professar;
integral e inviolavelmente, é certo que se perderá por toda a eternidade.

I. A fé católica consiste, porém, em venerar um só Deus na Trindade, e a Trindade na


unidade, sem confundir as pessoas, nem separar a substância; Pois uma é a pessoa
do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma é a divindade, igual a
glória, co-eterna a majestade do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Qual o Pai, tal o
Filho, tal o Espírito Santo; incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo;
imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo; Eterno é o Pai, eterno o
Filho, eterno o Espírito Santo. E, no entanto, não há três eternos, mas um só eterno;
Como não há três incriados, nem três imensos, mas um só incriado, e um só imenso;
Assim também o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é
onipotente; E, no entanto, não há três onipotentes, mas um só onipotente. Como o
Pai é Deus, assim o Filho é Deus, [e] o Espírito Santo é Deus; E, no entanto não há
três deuses, mas um só Deus. Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito
Santo é Senhor; E, no entanto não há três senhores, mas um só Senhor. Porquanto,
assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada pessoa, tomada
separadamente, é Deus e Senhor; assim também nos proíbe a religião católica dizer
que são três deuses ou três senhores.
II. O Pai não foi feito por ninguém, nem criado, nem gerado. O Filho é só do Pai; não
feito, não criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, não
criado, não gerado, mas procedente. Há, pois, um só Pai, não três Pais; um só Filho,
não três Filhos; um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade
nada existe de anterior ou posterior, nada de maior ou menor; mas todas as três
pessoas são co-eternas e iguais, umas às outras; De sorte que, em tudo, como acima
ficou dite, deve ser venerada a unidade na Trindade, e a Trindade na unidade. Quem
quer, portanto, salvar-se, assim deve crer a respeito da Santíssima Trindade.
III. Mas ainda é necessário, para a eterna salvação, crer fielmente na Encarnação de
Nosso Senhor Jesus Cristo. A retidão da fé consiste, pois, em crermos e
confessarmos que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É
Deus, porquanto gerado da substância do Pai antes dos séculos; homem, porquanto
no tempo nasceu da substância de sua Mãe. É Deus perfeito, e perfeito homem, por
subsistir de alma racional e de carne humana; É igual ao Pai segundo a divindade, e
menor que o Pai, segundo a humanidade. Ainda que seja Deus e homem, todavia
não há dois, mas um só Cristo; É um, não porque a Divindade se converta em carne,
mas porque a humanidade foi recebida em Deus; É totalmente um, não por se
confundir a substância, mas pela unidade de pessoa. Assim como a alma racional e
o corpo formam um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo. O qual sofreu
pela nossa salvação, desceu aos infernos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos, E
à cuja chegada todos os homens devem ressuscitar com seus corpos, para dar
contas de suas próprias ações; E aqueles que tiverem praticado o bem, irão para a
vida eterna; mas os que tiverem feito o mal, irão para o fogo eterno. Esta é a fé
católica, e todo aquele que a não professar, com fidelidade e firmeza, não poderá
salvar-se.
2 - Os relatos da Criação no livro do Gênesis (Gn 1-3)

Primeiro relato da Criação


“No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava deserta e vazia, as trevas cobriam o
abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz”! E a luz se fez.
Deus viu que a luz era boa. Deus separou a luz das trevas. À luz Deus chamou “dia” e às trevas
chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: o primeiro dia. ! Deus disse: “Faça-se um
firmamento entre as águas, separando umas das outras”. E Deus fez o firmamento. Separou as
águas debaixo do firmamento, das águas acima do firmamento. E assim se fez. Ao firmamento
Deus chamou “céu”. Houve uma tarde e uma manhã: o segundo dia. ! Deus disse: “Juntem-se
num único lugar as águas que estão debaixo do céu, para que apareça o solo firme”. E assim se
fez. Ao solo firme Deus chamou “terra” e ao ajuntamento das águas, “mar”. E Deus viu que era
bom. Deus disse: “A terra faça brotar vegetação: plantas, que deem semente, e árvores
frutíferas, que deem fruto sobre a terra, tendo em si a semente de sua espécie”. E assim se fez.
A terra produziu vegetação: plantas, que dão a semente de sua espécie, e árvores, que dão seu
fruto com a semente de sua espécie. E Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã:
o terceiro dia.

Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu, para separar o dia da noite. Que sirvam
de sinais para marcar as festas, os dias e os anos. E, como luzeiros no firmamento do céu, sirvam
para iluminar a terra”. E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros, o luzeiro maior para
presidir ao dia e o luzeiro menor para presidir à noite, e também as estrelas. Deus colocou-os
no firmamento do céu para iluminar a terra, presidir ao dia e à noite e separar a luz das trevas.
E Deus viu que era bom. Houve uma tarde e uma manhã: o quarto dia.

Deus disse: “Fervilhem as águas de seres vivos e voem pássaros sobre a terra, debaixo do
firmamento do céu”. Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os seres vivos que
nadam fervilhando nas águas, segundo suas espécies, e todas as aves segundo suas espécies. E
Deus viu que era bom. Deus os abençoou, dizendo: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as
águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra”. Houve uma tarde e uma manhã: o
quinto dia.

Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo suas espécies, animais domésticos, animais
pequenos e animais selvagens, segundo suas espécies”. E assim se fez. Deus fez os animais
selvagens segundo suas espécies, os animais domésticos segundo suas espécies e todos os
animais pequenos do chão segundo suas espécies. E Deus viu que era bom.

Deus disse: “Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança, para que
domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais
selvagens e todos os animais que se movem pelo chão”. Deus criou o ser humano à sua imagem,
à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: “Sede
fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves
do céu e todos os animais que se movem pelo chão”. Deus disse: “Eis que vos dou, sobre toda a
terra, todas as plantas que dão semente e todas as árvores que produzem seu fruto com sua
semente, para vos servirem de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e
a todos os animais que se movem pelo chão, eu lhes dou todos os vegetais para alimento”. E
assim se fez. E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom. Houve uma tarde
e uma manhã: o sexto dia.
Assim foram concluídos o céu e a terra com todos os seus elementos. No sétimo dia, Deus
concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera. Deus
abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nesse dia Deus repousou de toda a obra da criação.
Essa é a história da criação do céu e da terra.

Segundo relato da Criação


Quando o SENHOR Deus fez a terra e o céu, ainda não havia nenhum arbusto do campo sobre a
terra e ainda não tinha brotado a vegetação, porque o SENHOR Deus ainda não tinha enviado
chuva sobre a terra, e não havia ninguém para cultivar o solo. Mas brotava da terra uma fonte,
que lhe regava toda a superfície. Então o SENHOR Deus formou o ser humano com o pó do solo,
soprou-lhe nas narinas o sopro da vida, e ele tornou-se um ser vivente. Depois, o SENHOR Deus
plantou um jardim em Éden, a oriente, e pôs ali o homem que havia formado. E o SENHOR Deus
fez brotar do solo toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso, e, no meio do
jardim, a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal (...).

O SENHOR Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden, para o cultivar e guardar. O
SENHOR Deus deu-lhe uma ordem, dizendo: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas
da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque, no dia em que dele
comeres, com certeza morrerás”. E o SENHOR Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só.
Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda”.

Então o SENHOR Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e
apresentou-os ao homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem
lhe desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos
os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe correspondesse.

Então o SENHOR Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe
uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois, da costela tirada do homem, o SENHOR
Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: “Desta vez sim, é osso
dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘humana’ porque do homem foi
tirada”. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só
carne. O homem e sua mulher estavam nus, mas não se envergonhavam.

A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR Deus tinha feito. Ela
disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comais de nenhuma das árvores do jardim?
’”

A mulher respondeu à serpente: “Nós podemos comer do fruto das árvores do jardim.Mas do
fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o
toqueis, do contrário morrereis’”. Mas a serpente respondeu à mulher: “De modo algum
morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se
abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”.

A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para
obter conhecimento. Colheu o fruto, comeu dele e o deu ao marido a seu lado, que também
comeu.! Então os olhos de ambos se abriram, e, como reparassem que estavam nus, teceram
para si tangas com folhas de figueira. Quando ouviram o ruído do SENHOR Deus, que passeava
pelo jardim à brisa da tarde, o homem e a mulher esconderam-se do SENHOR Deus no meio das
árvores do jardim. Mas o SENHOR Deus chamou o homem e perguntou: “Onde estás?” Ele
respondeu: “Ouvi teu ruído no jardim. Fiquei com medo, porque estava nu, e escondi-me”. Deus
perguntou: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi
comer?” O homem respondeu: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez
provar do fruto da árvore, e eu comi”. Então o SENHOR Deus perguntou à mulher: “Por que
fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me, e eu comi”.

E o SENHOR Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais
domésticos e entre todos os animais selvagens. Rastejarás sobre teu ventre e comerás pó todos
os dias de tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta
te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. À mulher ele disse: “Multiplicarei os sofrimentos
de tua gravidez. Entre dores darás à luz os filhos. Teus desejos te arrastarão para teu marido, e
ele te dominará”. Ao homem ele disse: “Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste da árvore,
de cujo fruto te proibi comer, amaldiçoado será o solo por tua causa. Com sofrimento tirarás
dele o alimento todos os dias de tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e ervas daninhas, e tu
comerás das ervas do campo. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até voltares ao solo, do
qual foste tirado. Porque tu és pó e ao pó hás de voltar”.

O homem chamou à sua mulher “Eva”, porque ela se tornou a mãe de todos os viventes. E o
SENHOR Deus fez para o homem e sua mulher roupas de pele com as quais os vestiu. Então o
SENHOR Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, capaz de conhecer o bem e
o mal. Não ponha ele agora a mão na árvore da vida, para dela comer e viver para sempre”.

E o SENHOR Deus o expulsou do jardim de Éden, para que cultivasse o solo do qual fora tirado.
Tendo expulsado o ser humano, postou a oriente do jardim de Éden os querubins, com a espada
fulgurante a cintilar, para guardarem o caminho da árvore da vida”.

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